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PU8L~ADO EM SESSlo

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

ACÓRDÃO N° 20.018
(17.9.2002)

RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N° 20.018 - CLASSE 22a - RIO


GRANDE DO NORTE (Natal).

Relator: Ministro Fernando Neves.


Recorrente: Ailton Carlos Fagundes.
Advogado: Dr. Armando Roberto Holanda Leite.
Recorrente: Fernando Luiz Gonçalves Bezerra.
Advogado: Dr. Emmanoel Pereira e outros.
Recorrido: Ailton Carlos Fagundes.
Advogado: Dr. Armando Roberto Holanda Leite.
Recorrido: Fernando Luiz Gonçalves Bezerra.
Advogado: Dr. Emmanoel Pereira e outros.

Registro de candidato - Prazo de desincompatibilização _


Presidente de entidade representativa de classe _
Incidência do art. 1Q, 11, g, da Lei Complementar nQ 64/90 _
Precedentes da Corte - Recurso examinado como
ordinário.
Impugnação ao registro - Autuação como processo
autônomo - Resolução nQ 20.993, art. 35 - Desobediência.
1. Incide o prazo previsto no art. 1Q, 11, g, da Lei
Complementar nQ 64/90 para desincompatibilização de
presidente de entidade representativa de classe, que, por
força do cargo, represente ainda órgãos vinculados que
possuem interesse na arrecadação e fiscalização de
contribuições compulsórias arrecadadas e repassadas pela
Previdência Social. Recurso não provido.
2. Recurso adesivo - Pedido de encaminhamento de cópias
ao Ministério Público - Apuração do crime previsto no
art. 25 da Lei Complementar nQ 64/90 - Lide proposta de
forma temerária e com má-fé - Inocorrência - Recurso não
provido.
3. As impugnações ao pedido de registro de candidatura
devem ser processadas e decididas no próprios autos dos
processos individuais dos candidatos, nos termos do art. 34
da Resolução nQ 20.993.

Vistos, etc.,
Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por
REspe nQ 20.018 - RN. 2

unanimidade, em negar provimento ao recurso, nos termos das notas


taquigráficas, que ficam fazendo parte integrante desta decisão.
Sala de Sessões do Tribunal Superior Eleitoral.
Brasília, 17 de setembro de 2002.

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~rFERNANDO NEVES,

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REspe n2 20.018 - RN. 3

RELATÓRIO

o SENHOR MINISTRO FERNANDO NEVES: Sr.


Presidente, Ai/ton Carlos Fagundes, candidato ao cargo de segundo
suplente de senador pelo Partido Geral dos Trabalhadores - PGT,
impugnou o registro de candidatura de Fernando Luiz Gonçalves Bezerra
ao cargo de governador.

Aduziu o impugnante que, como o impugnado exercia os


cargos de Presidente da Confederação Nacional da Indústria - CNI, diretor
do Departamento Nacional do Serviço Social da Indústria - SESI,
presidente do Conselho Nacional do Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial - SENAI, o prazo para desincompatibilização seria de seis meses.

O egrégio Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do


Norte julgou improcedente a impugnação ao entendimento de que o prazo
para desincompatibilização de presidente de entidade patronal nacional
representativa de classe é de quatro meses, nos termos do art. 12, 11,g, da
Lei Complementar n2 64/90.

Contra essa decisão foi interposto recurso especial, no qual


se alega, preliminarmente, cerceamento de defesa e inobservância do
devido processo legal, com violação ao art. 52, L1V e LV, da Constituição
Federal, ao argumento de que não houve decisão acerca do pedido do
impugnante de produção de provas, realizado na inicial.

Quanto ao mérito, sustenta-se que incide no caso o prazo


de seis meses para desincompatibilização previsto na alínea d, do inciso 11
do art. 12 da Lei Complementar n2 64/90, dada a natureza jurídica das
entidades Sesi e Senai, apesar de não ter tido a oportunidade de realizar
prova neste sentido.

Aduz-se que, apesar da CNI ser facilmente enquadrada


como entidade representativa de classe, o Sesi e o Senai não têm caráter
REspe nQ 20.018 - RN. 4

sindical, associativo ou classista, devendo ser classificados como entes de


cooperação com o poder público, impondo-se a desincompatibilização de
seis meses.

Para demonstrar divergência, traz julgados do Tribunal


Regional Eleitoral de Santa Catarina e desta Corte.

Por fim, alega-se que a resposta formulada na Consulta


Q
n 745 desta Corte não socorre o impugnado, pois não examina o caso de
dirigente de serviço social autônomo, possibilidade em que se enquadram o
Sesi e o Senai.

o impugnado interpõe recurso especial adesivo, no qual


insiste na remessa de cópia dos autos para o Ministério Público, a fim de se
apurar possível litigância de má-fé. Alega que o indeferimento de seu
pedido pelo acórdão regional viola o art. 25 da Lei Complementar nQ 64/90.

Foram apresentadas contra-razões (fls. 219-231).

Nesta instância a Procuradoria-Geral Eleitoral manifestou-


se pelo não-conhecimento dos dois recursos interpostos.

É o relatório.
REspe nº 20.018 - RN. 5

VOTO

o SENHOR MINISTRO FERNANDO NEVES (relator):


Sr. Presidente, o recurso versa sobre inelegibilidade decorrente de suposta
desincompatibilização fora do prazo, razão pela qual o examino como
ordinário.

Reclama o primeiro recorrente que o Tribunal Regional ficou


silente quanto ao pedido de produção de provas constante da f/. 13,
impedindo que se comprovasse, mediante documento proveniente do
Tribunal de Contas da União, o recebimento de verbas públicas pelo Sesi e
pelo Senai.

A preliminar de cerceamento de defesa não merece ser


conhecida, porque a prova pretendida pelo impugnante destinava-se a
esclarecer a natureza das entidades em que o impugnado exercia suas
funções, assim como verificar a data em que delas se afastou.

Entretanto, não há dúvida quanto a essas questões, não


demonstrando o recorrente o eventual prejuízo que sofreu.

A questão é unicamente de direito, como, aliás, o próprio


recorrente admite em suas razões.

Quanto ao mérito, o recurso não merece melhor sorte.

Esta Corte, já com sua composição atual, respondeu à


Consulta nº 745, de 21.3.2002, que teve como relator o Ministro Barros
Monteiro, no sentido de que incide a alínea g , do inciso 11, do art. 1º, da Lei
Complementar nº 64/90 nos casos de dirigente ou representante de
associação sindical que, por força do cargo, possua interesse na
arrecadação e fiscalização de contribuições compulsórias arrecadadas e
repassadas pela Previdência Social, sendo de quatro meses o prazo para
desincompatibilização.
REspe nº 20.018 - RN. 6

No mesmo sentido, ainda, a Consulta nº 417, de 26.3.98,


relator o Ministro Eduardo Alckmin, que tratou do prazo para
desincompatibilização de candidato ocupante de cargo de presidente de
entidade patronal nacional representativa que, por força de lei, também é
presidente de entidades de assistência social e treinamento ao trabalhador,
beneficiárias de recursos oriundos da Previdência Social.

As decisões referidas acima foram assim ementadas:

"CONSULTA. DIRIGENTE OU REPRESENTANTE DE


ASSOCIAÇÃO SINDICAL. DIRIGENTE NATO. INTERESSE
NA ARRECADAÇÃO E FISCALIZAÇÃO DE
CONTRIBUiÇÕES COMPULSÓRIAS ARRECADADAS E
REPASSADAS PELA PREVIDÊNCIA SOCIAL.
DESINCOMPATIBILlZAÇÃO. PRAZO DO ART. 1º, 11, g, DA
LC Nº 64/90 (QUATRO MESES).
1- A teor do art. 1º, 11, g, da LC nº 64/90, é de quatro meses
o prazo de desincompatibilização de dirigente ou
representante sindical, ainda que, por força desse cargo,
sendo dirigente ou representante nato, possua interesse na
arrecadação e fiscalização de contribuições compulsórias
arrecadadas e repassadas pela Previdência Social.
II - Prevalência dessa regra quando não se tratar de agente
que, por força de lei, tenha competência para fiscalização,
lançamento e arrecadação de receitas." (Resolução
nº 21.041, reI. Min. Barros Monteiro, em 21.3.2002)

"CONSULTA - PRESIDENTE DE ENTIDADE PATRONAL


NACIONAL REPRESENTATIVA E AGREGADORA DE
CLASSE - PRAZO DE DESINCOMPATIBILlZAÇÃO
PREVISTO NO ART. 1º, 11, g DA LC 64/90. Consulta
respondida afirmativamente." (Resolução nº 20.140, reI.
Min. Eduardo Alckmin, em 26.3.98)

Como se vê, a Corte já consignou, sem divergência, que o


prazo para desincompatibilização, na mesma situação descrita nos
presentes autos, é de quatro meses, nos moldes do art. 1º, 11, g, da Lei
Complementar nº 64/90.

E penso que, de outro modo, não poderia ser, pois o artigo


1º, 11, d, trata de outra situação, como se vê em seu texto:
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"Art. 1º (...)
"- ( ...)
d) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tiverem
competência ou interesse, direta, indireta ou eventual, no
lançamento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas
e contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais,
ou para aplicar multas relacionadas com essas atividades;
( ...)".

Desse modo e adotando os fundamentos dos precedentes


citados, nego provimento ao recurso interposto por Ailton Carlos Fagundes,
mantendo o indeferimento da impugnação.

Quanto ao recurso adesivo interposto pelo impugnado, este


não merece provimento.

A matéria trazida na impugnação é relevante, não se


pOdendo dizer que a lide proposta é temerária, ou que o impugnante é
litigante de má-fé, não sendo caso de se aplicar o art. 25 da Lei
Complementar nº 64/90.

Por fim, observo que a impugnação ao registro foi autuada


como processo autônomo, distinto do pedido individual de registro de
candidatura, em desobediência ao que dispõe o art. 34 da Resolução
nº 20.993, que estabelece:

"Art. 34. As impugnações ao pedido de registro de


candidatura e as questões referentes a homonímias serão
processadas e decididas no próprios autos dos processos
individuais dos candidatos".

Pelo que fui informado por telefone pela Secretária


Judiciária daquela Corte, Ora. Clineide, o registro do candidato foi deferido
nos autos do processo individual do candidato, e contra essa decisão não
houve recurso.

Deixo de enfrentar essa questão porque entendo que a


decisão regional deve ser mantida. Entretanto, diversa seria a situação se
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fosse dado provimento ao presente recurso, julgando procedente a


impugnação e indeferindo o registro do candidato.

Em suma, nego provimento a ambos os recursos.

EXTRATO DA ATA

Q
REspe n 20.018 - RN. Relator: Ministro Fernando Neves.
Recorrente: Ailton Carlos Fagündes (Adv.: Dr. Armando Roberto Holanda
Leite). Recorrente: Fernando Luiz Gonçalves Bezerra (Adv.: Dr. Emmanoel
Pereira e outros). Recorrido: Ailton Carlos Fagundes (Adv.: Dr. Armando
Roberto Holanda Leite). Recorrido: Fernando Luiz Gonçalves Bezerra
(Adv.: Dr. Emmanoel Pereira e outros).

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou provimento


aos recursos, nos termos do voto do relator.

Presidência do Exmo. Sr. Ministro Nelson Jobim. Presentes


os Srs. Ministros Carlos Velloso, Moreira Alves, Sálvio de Figueiredo, Barros
Monteiro, Fernando Neves, Luiz Carlos Madeira e o Dr. Geraldo Brindeiro,
procurador-geral eleitoral.

SESSÃO DE 17.9.2002.

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