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JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO
Trata-se de recursos ordinários interpostos pelos litigantes em face da Sentença Id. fea90a3,
complementada pela decisão de embargos declaratórios Id. b6aeaec, a qual julgou parcialmente procedentes os pedidos
formulados na inicial. A reclamada insurge-se quanto ao reconhecimento da incompetência desta Especializada para
apreciar questão do pagamento do contrato de mútuo e no tocante ao adicional de periculosidade e PPP, horas extras,
adicional noturno, intervalos intrajornada e interjornadas, dobra de férias, correção monetária e juros. O reclamante busca
acrescer à condenação pagamento de horas de sobreaviso, indenização pelo uso de veículo próprio, indenização por
danos morais e multa de litigância de má-fé.
Eis meu V O T O:
RECURSO DA RECLAMADA
INCOMPETÊNCIA MATERIAL
JUSTIÇA COMUM.
DECISÃO...
In casu, nos termos da petição inicial, verifica-se que o autor pretende a concessão do provimento liminar inaudita
altera pars para efeito de sustar o protesto e, ao final, seja a demanda julgada procedente, declarando-se
inexigível o título objeto da lide.
Intimado pelo 4º Tabelionato de Protesto e Letras e Títulos para pagar o valor referente a um cheque emitido em
05.03.2007 no valor de R$ 900,00 (novecentos reais), o autor emitiu-o em favor de Edvan Felipe Barbosa (2º
reclamado), para pagamento de verbas trabalhistas, em função de contrato de trabalho mantido entre as partes.
Na seqüência, o favorecido não deu quitação dos valores e transferiu o título ao 1º réu, que apresentou o cheque,
ocasionando o protesto, sendo que o autor nunca teve qualquer relação de trabalho com o 1º réu.
O pedido da ação é de sustação de protesto de título de crédito, referente a eventual dívida a ser
examinada como uma obrigação contratual de direito civil, ainda que o título tenha sido emitido em razão
do anterior vínculo empregatício havido entre as partes, porque os títulos de crédito são autônomos e
abstratos. Portanto, a competência para o julgamento da ação é da Justiça comum. Vejam-se, a propósito,
os seguintes precedentes:
I - Compete à justiça estadual julgar ação objetivando declaração judicial de inexistência de relação cambiária
entre o autor e o banco com quem celebrou contrato de mútuo, pois que o título cambial emitido como garantia da
obrigação, teve origem no pagamento de 'luvas' a gerente contratado para trabalhar em outra instituição financeira,
a qual, sendo seu verdadeiro empregador, não foi chamada para integrar a lide.
Assim, com fundamento no parágrafo único do art. 120 do CPC, conhece-se do conflito e declara-se competente o
JUÍZO DE DIREITO DA 5ª VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL II DE SANTO AMARO - SÃO PAULO - SP...
O Perito, especialista na matéria periciada, no minudente laudo encartado sob Id. a7971a0,
concluiu que o reclamante o estava exposto à periculosidade na realização das atividades exercidas na reclamada,
constatando que "no local foi encontrado um reservatório para armazenamento de 2.000L de Sederprot 347, o qual é
inflamável, informado no dia da diligência. Que foi utilizado até dezembro de 2015. O reclamante se desligou da Reclamada
em 07/11/2014".
A divergência da recorrente em relação às conclusões periciais não pode ser acatada na
medida em que o critério de avaliação da condição de periculosidade exige conhecimento específico na matéria periciada e
não empírico, baseado em meras alegações desprovidas de conteúdo científico.
A lei faculta à parte a indicação de assistente técnico para que possa, em parecer da mesma
estatura do laudo oficial, fundamentar sua discordância, a qual não se admite de outra forma.
Portanto, se há laudo, fundamentado e não infirmado por outra prova de igual estatura, laudo
de assistente técnico, considerando que a alínea "s", do Anexo 2, da NR 16/MTE claramente considera perigosa toda área
interna do recinto que contém armazenamento de vasilhames, fato sequer analisado pelo assistente técnico da reclamada,
não há sequer lógica em decisão que se firme apenas nas alegações da parte e elaboradas por especialista em outra área,
a do Direito.
Vale dizer, a limitação da jornada diária e semanal de trabalho tem fundamentos de ordem
social e econômica, e objetiva propiciar ao trabalhador o convívio familiar, bem assim lhe preservar a saúde física e mental.
O ônus da prova relativo ao exercício do cargo de gestão cabe ao empregador, nos termos do Artigo 818, da CLT, pois a
exceção ao controle de jornada prevista no inciso II, do Artigo 62, da CLT trata-se de fato impeditivo do direito.
A exceção do Artigo 62, da CLT não é aquela usada e abusada pelos empregadores que
sistematicamente rotulam seus empregados como gerentes/chefes para fraudar e impedir direitos elementares,
constitucionais, inexcusáveis: remuneração condigna e cumprimento de jornada razoável de trabalho (Artigo 7º, incisos V,
XIII e XVI, da Constituição), ela se encontra centrada na pessoa que efetivamente gerencia o estabelecimento, livre de
ingerências superiores ou de subordinação às normas de organização própria da atividade econômica, o que cabalmente
não se verificou nos presentes autos.
Destarte, mantido o não enquadramento na exceção prevista no Artigo 62, inciso II, da CLT,
rechaço as genéricas elucubrações relativas à jornada reconhecida na Sentença, adicional noturno, intervalos intrajornada
e interjornadas, nos termos do enunciado da Súmula 338/TST, além de fundado solidamente na prova oral.
DOBRA DE FÉRIAS
O recurso fundado na alegação genérica de regular usufruto e recebimento das férias não
rebate os termos da Sentença, mantendo-se incólume seus sólidos e irrefutáveis fundamentos:
"A reclamada não juntou aos autos qualquer documentação relativa a férias, ônus que lhe incumbia. Em
consonância com a tese do reclamante, a 1ª testemunha ouvida confirmou o fracionamento das férias, assim como
a permanência em sobreaviso (fl. 1219, itens nº 25 e 26).
Dessa forma, defiro ao reclamante o recebimento em dobro das férias relativas aos períodos 2010/2011,
2011/2012 e 2012/2013, como requerido. Entretanto, apenas a dobra é devida, considerando que não foi alegada
ausência de pagamento no tempo oportuno"
RECURSO DO RECLAMANTE
SOBREAVISO
O uso de rádio, bip ou telefone celular não caracteriza, por si só, tempo à disposição do
empregador, pois o empregado que o carrega não tem necessariamente sua locomoção limitada dentro do campo de
funcionamento do aparelho, não se configurando situação de restrição, conforme ditado pelo enunciado da Súmula
428/TST.
No caso sub examine, não restou provada impossibilidade de o autor gozar livremente de seus
horários de descanso e restrição da plena liberdade pessoal de locomoção, em função da expectativa de ser convocado a
trabalhar a qualquer momento, as testemunhas nada esclareceram nesse sentido, sequer afirmaram impossibilidade de
locomoção ou submissão a escalas de sobreaviso, não sendo preenchido requisito indispensável para concessão das
horas de sobreaviso, conforme disposto no enunciado da Súmula 428/TST.
Para que se configure o dano moral passível de reparação, são necessários os seguintes
requisitos: a lesão, nexo de causalidade e a ocorrência de ofensa ao patrimônio moral do ofendido, de modo a lhe causar
sofrimento atroz, de sorte que o seu equilíbrio emocional seja abalado e o indivíduo se sinta intimamente ferido.
Apesar de extensa a jornada reconhecida na Sentença, qual seja, de segunda a sexta; das 7h
às 18h30 (duas vezes por semana) ou das 7 às 21h30 (duas vezes por semana); uma quinta por mês, em regime de dobra
de turno, retornava às 22h, permanecendo até às 6h; um sábado e um domingo por mês, das 7 às 13h; sempre com 25
minutos de intervalo intrajornada, não era tão exaustiva a ponto de gerar dano moral, mormente considerando que usufruía
de descanso aos sábados e domingos, exceto uma vez por mês, não se configurando ocorrência de conduta ilícita da
reclamada ou óbice ao exercício da vida privada a justificar condenação ao pagamento de indenização, como decide a
Corte Trabalhista:
Recurso de revista a que se dá provimento. DANO EXISTENCIAL. EXCESSO DE JORNADA. PREJUÍZO NÃO
COMPROVADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N° 126 DO TST. 1 - Esta Corte superior segue no sentido de que,
para que ocorra o dano existencial (espécie de dano imaterial) nas relações trabalhistas, não basta a mera
caracterização de jornada excessiva de trabalho, mas, sim, que dessa jornada sobrevenha a supressão ou
limitação de atividades de cunho familiar, cultural, social, recreativas, esportivas, afetivas, ou quaisquer outras
desenvolvidas pelo empregado fora do ambiente laboral. 2 - No caso dos autos, o Tribunal Regional consignou
que não restou comprovado que o sobrelabor ocasionou qualquer prejuízo à saúde ou ao convívio familiar e social
da reclamante. Diante desse contexto, é inviável de reforma a decisão, porque demandaria o reexame de fatos e
provas, o que é vedado pela Súmula nº 126 do TST. A incidência dessa súmula afasta a viabilidade do
processamento do recurso de revista com base na fundamentação jurídica invocada pela reclamante. 3 - Recurso
de revista de que não se conhece. (...)" (RR - 1433-23.2010.5.12.0004, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda,
Data de Julgamento: 17/08/2016, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 14/10/2016)
DIANTE DO EXPOSTO, decido conhecer dos recursos ordinários interpostos pelos litigantes e
os prover em parte, o de GERDAU AÇOS LONGOS S.A. para postergar a definição à liquidação, devendo ser aplicado o
índice que prevalecer em decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal na ADC 58 para a correção de créditos
trabalhistas,e o de ROBERTO DONIZETTI NERI DOS SANTOS para delir multa de litigância de má-fé aplicada na
Sentença ao reclamante.
Em 17/08/2020, a 4ª Câmara (Segunda Turma) do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região julgou o presente processo em
sessão por videoconferência, conforme disposto na Portaria Conjunta GP-VPA-VPJ-CR nº 04/2020 deste E. TRT, e no art. 6º, da
Resolução 13/2020, do CNJ.
Presidiu o julgamento a Exma. Sra. Desembargadora do Trabalho ELEONORA BORDINI COCA
Tomaram parte no julgamento os Exmos. Srs. Magistrados
Relator: Desembargador do Trabalho DAGOBERTO NISHINA DE AZEVEDO
Desembargadora do Trabalho ELEONORA BORDINI COCA
Juiz do Trabalho RONALDO OLIVEIRA SIANDELA
Convocado para compor "quorum", consoante Ato Regulamentar GP nº 009/2019, o Exmo. Sr. Juiz Ronaldo Oliveira Siandela.