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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO

Processo: 0000851-91.2018.8.06.0090 - Apelação Cível


Apelante: Raimundo Fialho da Silva. Apelado: Banco Santander (Brasil) S/A

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. EMPRÉSTIMO


CONSIGNADO. APRESENTAÇÃO DA CÓPIA DO
CONTRATO PELO BANCO RÉU. JUNTADA DE
COMPROVANTE DE DEPÓSITO DOS VALORES
PACTUADOS. CONTRATAÇÃO LÍCITA. ASSINATURA NÃO
IMPUGNADA TEMPESTIVAMENTE. PERÍCIA
GRAFOTÉCNICA. PRECLUSÃO. CERCEAMENTO DE
DEFESA NÃO CONFIGURADO. DANOS MORAIS E
MATERIAIS NÃO CONFIGURADOS. CONDENAÇÃO EM
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ COM FULCRO NO ART. 80 DO
CPC. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros da Primeira


Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, à unanimidade de
votos, em CONHECER do recurso para NEGAR-LHE PROVIMENTO, nos termos do voto
do Relator.
Fortaleza, data e hora indicadas no sistema.

DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO


Presidente do Órgão Julgador/Relator

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PODER JUDICIÁRIO
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GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO

RELATÓRIO

Trata-se de Recurso de Apelação Cível interposto por RAIMUNDO FIALHO DA


SILVA, impugnando a sentença prolatada pelo Juízo da 1ª Vara Cível da comarca de Icó/CE
que, nos autos da AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE NEGÓCIO JURÍDICO
C/C DANOS MATERIAIS E MORAIS ajuizada contra BANCO SANTANDER (BRASIL)
S/A, julgou improcedente o pleito autoral, nos termos do artigo 487, inciso I, do CPC (fls.
106/108).
Eis o dispositivo da sentença (fl. 108):

"JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO. Além disso, CONDENO a parte autora,


com fundamento no art. 81 do Código de Processo Civil, em multa no valor de 5%
(cinco por cento) do valor corrigido de cada causa, em benefício da parte contrária,
por sua litigância de má-fé.
Custas processuais e honorários advocatícios com exigibilidade suspensa (art. 98, §
2º, CPC/15).
Após o trânsito em julgado, intime-se a parte vencedora para promoção da
execução, caso queira. Não havendo requerimento executivo no prazo de 15
(quinze) dias, arquivem-se os autos".

Na inicial (fls. 37/42), a parte autora aduz ter sido surpreendida ao perceber uma
redução considerável em seus proventos mensais. Com isso, consultou a situação de seu
benefício previdenciário e verificou que tal situação resultava do contrato de empréstimo
consignado nº 106416310, celebrado com a instituição bancária promovida. No entanto, a
parte autora afirma que este contrato foi formulado sem a sua manifestação de vontade.
Considerando a situação acima explanada, requer a declaração da nulidade do
contrato, a restituição, em dobro, de todas as parcelas indevidamente descontadas, bem como
a indenização pelos danos morais sofridos, sendo esta no importe de R$ 15.000,00 (quinze mil
reais).
Na Contestação (fls. 54/59), o banco réu sustenta a natureza lícita da contratação

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em testilha, a qual havia sido celebrada mediante a livre manifestação de vontade da parte
autora, e, consequentemente, das cobranças efetuadas em virtude desta.
Para comprovar suas alegações, realizou a juntada da cópia do contrato (fls.
64/65), dos documentos pessoais da parte autora (fls. 66/67) e do comprovante de repasse (fl.
62).
inconformada com a decisão proferida na sentença, a parte requerente interpôs o
presente recurso de apelação às fls. 112/122, alegando que a contratação em debate é ilícita,
uma vez que a escrita contida em seus documentos pessoais diverge completamente da
assinatura aposta no contrato juntado pelo banco réu.
Posto isso, pugna pelo provimento do presente recurso com a finalidade de anular
a sentença vergastada, determinando o retorno dos autos à origem, mediante a designação de
perícia grafotécnica.
Em eventual caso de não reconhecimento do cerceamento de seu direito de defesa,
requer o afastamento da sua condenação ao pagamento de multa por litigância de má-fé.
Contrarrazões às fls. 124/132.
É o relatório.

VOTO

Conheço do recurso, eis que presentes os pressupostos de admissibilidade.


De início, cumpre analisar a preliminar de cerceamento de defesa suscitada pela
parte autora.
In casu, insurge-se a parte autora quanto ao julgamento antecipado da lide, uma
vez que o juízo de primeiro grau declarou a regularidade do contrato de empréstimo
consignado em questão, sem antes designar a realização de perícia grafotécnica no referido
documento.
Pois bem.
Da detida análise das razões do presente recurso, infere-se que o tópico antes

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mencionado caracteriza, neste momento, inovação recursal, hipótese repudiada pelo


ordenamento pátrio, pois não deduzido anteriormente.
Ocorre que, após a apresentação dos documentos ora questionados, o que se deu
em sede de contestação, o juízo primevo intimou a parte requerente para manifestar-se dentro
do prazo de 15 dias (fl. 97). Entretanto, o promovente manteve-se inerte, deixando transcorrer
in albis o prazo para oferecer sua réplica à contestação (fl. 100).
Ato contínuo, o juízo a quo intimou ambas as partes para que demonstrassem
interesse na produção de novas provas (fl. 101), contudo nada foi apresentado ou requerido.
Nesse contexto, é cediço que, nos casos em que o consumidor questionar a
veracidade de assinaturas constantes em contratos bancários, é da instituição bancária o ônus
de comprovar a autenticidade destas, assim como decidido no julgamento do REsp.
Repetitivo nº 1846649/MA, que firmou o Tema 1.061 (ITEM I DA EMENTA), verbis:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. ACÓRDÃO PROFERIDO EM


IRDR. CONTRATOS BANCÁRIOS. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO.
DOCUMENTO PARTICULAR. IMPUGNAÇÃO DA AUTENTICIDADE DA
ASSINATURA. ÔNUS DA PROVA. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO, DESPROVIDO. 1. Para os fins do art.
1.036 do CPC/2015, a tese firmada é a seguinte: "Na hipótese em que o
consumidor/autor impugnar a autenticidade da assinatura constante em
contrato bancário juntado ao processo pela instituição financeira, caberá a
esta o ônus de provar a sua autenticidade ( CPC, arts. 6º, 368 e 429, II)."
(…).
(STJ - REsp: 1846649 MA 2019/0329419-2, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, Data de Julgamento: 24/11/2021, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de
Publicação: DJe 09/12/2021). (g.n).

Entretanto, nota-se que a parte autora somente se insurgiu a respeito da


autenticidade da sua assinatura no presente recurso de apelação, razão pela qual o juízo de
primeiro grau não poderia, de ofício, designar a produção de prova pericial.
Ora, com efeito, caberia à parte autora ter se insurgido em momento oportuno,

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uma vez que o texto do art. 507 do CPC dispõe que “é vedado à parte discutir no curso do
processo as questões já decididas a cujo respeito se operou a preclusão”.
Neste sentido, segue o entendimento deste Egrégio Tribunal de Justiça:

APELAÇÃO CÍVEL. DIALETICIDADE. OBSERVÂNCIA- PRELIMINAR


REJEITADA. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE NEGÓCIO
JURÍDICO. CONTRATO APRESENTADO. ASSINATURA NÃO
IMPUGNADA TEMPESTIVAMENTE. PERÍCIA GRAFOTÉCNICA.
PRECLUSÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA. AUSÊNCIA.
ESPECIFICAÇÃO DAS PROVAS. INÉRCIA. PRECLUSÃO. RECURSO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Sustenta o recorrido
que o autor não impugnou os fundamentos da sentença, trazendo alegações
genéricas, o que impõe o não conhecimento do recurso por não observância do
princípio da dialeticidade. O recurso, porém, traz as razões que indicam o suposto
desacerto da decisão recorrida. As alegativas apresentadas em sede recursal
contrapõem os fundamentos da sentença, sendo observado, portanto, o princípio da
dialeticidade. Preliminar rejeitada 2. A instituição financeira promovida
apresentou, com a contestação, o contrato e os documentos pessoais da parte
autora. A promovente, devidamente intimada para réplica, não apresentou
manifestação acerca dos documentos acostados pela promovida, o que a
impossibilita de arguir, somente em grau recursal, eventual falsidade na
assinatura constante no documento. 3. A autora não impugnou
tempestivamente a assinatura contida no documento, do que se conclui que o
pedido de perícia grafotécnica, realizado somente em sede de recurso, não pode
ser acolhido. Inexistindo impugnação específica acerca de eventual fraude na
assinatura, não há necessidade de perícia grafotécnica, principalmente quando
o requerimento deu-se somente em sede de apelação. Não realizado no
momento oportuno, opera-se a preclusão. 4. Não basta o pedido genérico de
produção de provas. Uma vez intimada para especificar a prova que pretende
produzir, deve a parte indicar expressamente a prova, sob pena de preclusão. No
caso, tendo em vista que a parte suplicante/ recorrente manteve-se inerte quando
intimada para apresentar a prova a ser produzida, não há que se falar em
cerceamento de defesa, ocorrendo a preclusão do direito à prova. 5. Apelação
conhecida e não provida. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos,

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acorda a 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará,


por unanimidade, em CONHECER DO RECURSO, PARA NEGAR-LHE
PROVIMENTO, nos termos do voto do Desembargador Relator. Fortaleza, 06 de
julho de 2021 DESEMBARGADOR RAIMUNDO NONATO SILVA SANTOS
Presidente do Órgão Julgador e Relator (TJ-CE - AC: 00502428420208060109 CE
0050242-84.2020.8.06.0109, Relator: RAIMUNDO NONATO SILVA SANTOS,
Data de Julgamento: 06/07/2021, 4ª Câmara Direito Privado, Data de Publicação:
06/07/2021). (g.n).

Portanto, rejeito a presente preliminar de cerceamento de defesa, uma vez que a


parte autora não se manifestou in tempore opportuno a respeito da veracidade de suas
assinaturas.
Dito isso, passo à análise do mérito do recurso.
Cinge-se o presente recurso apelatório na aferição da legalidade do contrato de
empréstimo consignado supostamente celebrado entre o banco e a parte promovente para,
diante do resultado obtido, verificar-se a verossimilhança do pleito autoral.
De início, destaca-se que, consoante entendimento consolidado no STJ, o Código
de Defesa do Consumidor aplica-se aos contratos firmados pelas Instituições Financeiras -
incidência da Súmula 297/STJ – pelo que é cabível a inversão do ônus probatório.
Ademais, impende salientar que o vínculo estabelecido no contrato de
empréstimo consignado é regido pelas normas do Código de Defesa do Consumidor,
por se tratar de relação de consumo previsto nos arts. 2º e 3º da Lei nº 8.078/90.
Vejamos:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto
ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,

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distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.


§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Assim, é direito da parte autora, a facilitação da defesa de seus interesses em juízo


com a inversão do ônus da prova (art. 6º, inciso VIII Nesse sentido, faz-se necessário elencar
os seguintes dispositivos do diploma legal em análise:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o


importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto,
fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente
se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade
ter sido colocado no mercado.
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será
responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
(...).

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de


culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.

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§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele


pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as
quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a
verificação de culpa.

Cumpre ressaltar que a aplicação do Código de Defesa do Consumidor não é


garantia exclusiva de procedência da ação, isso porque é importante uma interpretação lógico
sistemática entre a pretensão deduzida pela autora e o produzido nos autos.
Pois bem.
É cediço, na jurisprudência, que, em se tratando de relação jurídica entre
Instituição Financeira e consumidor de serviços bancários, presumem-se verídicos os fatos
alegados pela parte autora, desde que ausentes: a) prova do contrato; b) o comprovante de
transferência para conta do consumidor dos valores referentes ao negócio jurídico.
Na hipótese, o banco recorrido acostou aos autos a cópia do contrato de
empréstimo devidamente assinado (fls. 10/12 - 63/65), bem como comprovou o repasse dos
créditos contratados para a conta de titularidade da mesma (fls. 09 - 61).
Desse modo, da estrita análise dos elementos constantes dos autos, considero que
o contrato é regular.
Sob esse viés, colaciona-se entendimento firme deste Egrégio Tribunal de Justiça:

APELAÇÃO. SENTENÇA IMPROCEDENTE DO PEDIDO DE DECLARAÇÃO


DE NULIDADE CONTRATUAL, COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DANOS
MORAIS. PRIORIDADE LEGAL ( ESTATUTO DO IDOSO). SUBMISSÃO AO
PERMISSIVO DA PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO CONFORME

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PRECEPTIVO DO ART. 1048, I, CPC/15) CONDIMENTADO AINDA PELO


ESTATUTO DO IDOSO. CONTRATANTE IDOSO. TARIFA BANCÁRIA
CESTA EXPRESSO 4. EM ANÁLISE EXAURIENTE DOS DOCUMENTOS,
PARTE A PARTE, AGITADOS, NÃO FOI EVIDENCIADA QUALQUER
CONDUTA ILÍCITA PASSÍVEL DE REPARAÇÃO. ATESTADA A
VALIDADE CONTRATUAL E A PLENA APTIDÃO PARA SURTIR OS
EFEITOS JURÍDICOS QUE LHE SÃO INERENTES. A CASA BANCÁRIA
SE DESINCUMBIU DO ÔNUS DO ART. 373, II, CPC/15. PARADIGMAS DO
EGRÉGIO TJCE. EXEMPLARES DO STJ. DESPROVIMENTO. 1. Rememore-se
o caso. Nos autos, ação declaratória de inexistência de relação contratual c/c
restituição e indenização por danos morais. Nessa perspectiva, aduz a parte autora
que foi surpreendido por descontos em seus proventos de aposentadoria, decorrente
de prestação denominada "Tarifa Bancária Cesta Expresso 4", iniciado em 04/2018.
Destaca que não possui nenhuma cópia desse contrato, bem como desconhece
qualquer contratação, o que vem gerando danos de ordem material e moral. Assim,
requer a declaração de nulidade do negócio jurídico, a devolução, em dobro, do que
foi descontado, e indenização por danos morais. Eis a origem da celeuma. 2.
COTEJO ANALÍTICO DE TESE E ANTÍTESE: De um lado, a parte autora aduz a
existência de "Tarifa Bancária Cesta Expresso 4" cuja cobrança está totalmente
desautorizada. Doutra banda, o banco sustenta que celebrou contrato com o
Requerente acerca da tarifação em comento. 3. VALIDADE DA
CONTRATAÇÃO: É de se ver que o Requerido, em sede de Contestação,
apresentou toda a documentação que estava em seu poder, desincumbindo-se
do ônus probatório que lhe foi imposto. O Demandante, por outro lado, não
conseguiu afastar a legitimidade da contratação que na inicial alegou
inexistente. 4. Assim, o Demandado se desincumbiu do ônus de comprovar que
o contrato objeto da inicial, que a parte autora alega a inexistência, foi
regulamente firmado, não havendo indícios de fraude. 5. No aspecto, oportuna a
partícula do Decisório Primevo, verbi gratia: No presente caso, tenho que o extrato
bancário de fls. 17/37 trazido pela própria parte autora demonstra que a conta
corrente utilizada não se caracteriza como "conta salário", uma vez que a parte
promovente faz uso de diversos serviços adicionais, tais como diversos empréstimos
consignados e uso de cartão de crédito, o que demonstra a utilização de serviços
adicionais, sendo patente a incidência da tarifa relacionada à cesta de serviços. Nessa
toada, a despeito de o banco não ter acostado o contrato de abertura de conta

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corrente ou contrato congênere, os extratos acostados aos autos são suficientes no


sentido de que houve a contratação de serviços adicionais, sendo lícitas as cobranças
das tarifas questionadas pela parte autora. Por certo, a inversão do ônus da prova em
favor da parte autora não a exime de comprovar os fatos constitutivos de seu direito,
o que, no caso dos autos, não ocorreu, eis que o próprio conjunto da prova é em
sentido diverso do que é pleiteado na exordial. Assim sendo, não há qualquer
ilegalidade na consequente cobrança das tarifas bancárias em questão. (...) Nada a
reparar. 6. A CASA BANCÁRIA SE DESINCUMBIU DO ÔNUS DO ART. 373, II,
CPC/15: Desta forma, a instituição financeira se desincumbiu do seu ônus probante
de comprovar foto impeditivo do direito do Demandante. Realmente, o contrato está
perfeito e acabado, daí porque atestada a validade, de modo a ostentar plena aptidão
para surtir os efeitos jurídicos que lhe são inerentes. 7. Na vazante, paradigmas
emblemáticos do egrégio TJCE. 8. CONTRATANTE É IDOSO: Incremente-se
ainda que o fato do Promovente ser pessoa IDOSA não lhe retira a capacidade de
contratar e de honrar as obrigações assumidas. Idade avançada não é causa de
incapacidade civil, a menos que, por alguma circunstância especial, mediante provas
idôneas e o devido processo legal, lhe seja suprimido o predicado da capacidade.
Realmente, a tentativa de imputar ao Recorrente a incapacidade jurídica é vã. 9.
DESPROVIMENTO do Apelo para consagrar o Julgado Pioneiro, por
irrepreensível, assegurada a majoração os honorários advocatícios em 10% (dez por
cento) sobre o valor fixado na origem, observado o limite do percentual previsto no
art. 85, § 2º, CPC/15 cuja exigibilidade está suspensa diante da benesse da
Assistência Judiciária Gratuita deferida na Instância Primeva e conservada nesta
digna Corte Estadual. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda
a 2ª Câmara Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por
unanimidade, o Desprovimento do Apelo, nos termos do voto do Relator,
Desembargador Francisco Darival Beserra Primo. Fortaleza, 6 de abril de 2022.
DESEMBARGADOR FRANCISCO DARIVAL BESERRA PRIMO Relator(TJ-CE
- AC: 00503703820218060055 Canindé, Relator: FRANCISCO DARIVAL
BESERRA PRIMO, Data de Julgamento: 06/04/2022, 2ª Câmara Direito Privado,
Data de Publicação: 06/04/2022). (g.n).

Sendo assim, considero que os descontos efetuados no benefício previdenciário da


parte autora fundamentaram-se em contrato validamente firmado entre as partes, com

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autorização expressa para tanto, tratando-se, portanto, de exercício regular de direito da


Instituição Financeira.
Quanto ao dano moral, não se vislumbra ofensa a direitos de personalidade,
inexistindo, portanto, dever de reparação.
Dito isso, passo à análise do pedido subsidiário de afastamento da condenação em
litigância de má-fé.
Desse modo, cumpre destacar o que prescreve o art. 80 do CPC, vide:

Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:


I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.
(g.n.).

Extrai-se do teor dos autos que a parte autora sustenta a ilação de que nunca
chegou a realizar a pactuação em testilha, o que, portanto, levava à ilicitude dos descontos
feitos em seus rendimentos.
No entanto, conforme alhures demonstrado, observa-se a regularidade na
celebração do contrato uma vez que a parte requerida, ora apelada, colacionou aos presentes
autos o contrato objeto da controvérsia analisada, junto ao comprovante de repasse no valor
exato da referida avença, no importe de R$ 735,09 (setecentos e trinta e cinco reais e nove
centavos – fl. 61).
Outrossim, faz-se relevante destacar que, até o proferimento da sentença, a parte
autora não apresentou qualquer objeção à assinatura subscrita no instrumento contratual,
tampouco buscou refutar a titularidade da conta bancária em que o valor fora repassado.
Portanto, tona-se possível inferir a veracidade de tais dados.

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Dessa forma, resta caracterizado que a parte autora alterou a verdade dos fatos
quando afirmou, em sua inicial, jamais ter realizado o contrato ou ter recebido os referidos
créditos. Assim, imperioso se mostra a condenação em litigância de má-fé.
Ante o exposto, em consonância com a legislação regente, conheço do presente
recurso para NEGAR-LHE PROVIMENTO, mantendo incólume a sentença vergastada.
Diante do desprovimento deste apelo, majoro as verbas sucumbenciais fixadas na
origem para o importe de 15% (quinze por cento) sobre o valor atualizado da causa, com
esteio no artigo 85, §§ 2º e 11º, do CPC, suspensa a exigibilidade em razão do benefício da
gratuidade judiciária.
É como voto.
Fortaleza, data e hora indicadas no sistema.

DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO


Relator

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