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RELATÓRIO
Trata-se de Apelação Cível interposta por Irani Gonzaga da Costa , em face
de sentença proferida pelo Juízo de Direito da 2ª Vara de Palmeira dos Índios, a qual
julgou totalmente improcedentes os pleitos autorais, condenando a parte autora ao
pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, estes arbitrados em 10%
(dez por cento) sobre o valor da causa, com exigibilidade suspensa, tendo em vista a
concessão dos benefícios da justiça gratuita.
É o relatório.
VOTO
1
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro - vol. 2 - Teoria Geral das Obrigações. 15. Ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
Como dito anteriormente, a relação que envolve as partes diz respeito à relação
de consumo e isso implica dizer que a responsabilidade civil a ser aplicada ao caso em
testilha é a objetiva, por ser a regra estabelecida pelo art. 14 da Lei n.º 8.078/1990, que,
como visto, é a norma de regência a ser aplicada no presente feito, in verbis: "O
fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos".
alega que o contrato efetuado é nulo, por apresentar dinâmica abusiva e, de outro lado, a
instituição financeira ré sustenta que a parte autora tinha ciência dos termos do negócio
jurídico realizado.
In casu, a parte autora aderiu a uma espécie contratual que vem sendo objeto
de diversas demandas junto ao Judiciário, em decorrência da qual a instituição bancária
fornece um cartão de crédito, cujos valores são, apenas em parte, adimplidos mediante
consignação em folha de pagamento.
A par disso, não resta dúvida de que essa espécie contratual revela uma
modalidade costumeiramente denominada "venda casada", prática reprimida pelo art.
39, inciso I do Código de Defesa do Consumidor, de acordo com o qual "É vedado ao
fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: I - condicionar o
fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço,
Além disso, as diversas demandas que vêm sendo ajuizadas com base nessa
espécie de "contrato de cartão de crédito consignado" evidenciam um fato comum que
não pode ser ignorado, qual seja, o de que, muitas vezes, são firmados por pessoas
idosas, o que significa dizer que as avenças vêm atingindo grupo social hiper-
vulnerável, cuja vulnerabilidade se apresenta em dois aspectos principais: "a) a
diminuição ou perda de determinadas aptidões físicas ou intelectuais que o torna ainda
mais suscetível e débil em relação à atuação negocial dos fornecedores; b) a necessidade
e catividade em relação a determinados produtos ou serviços no mercado de consumo,
que o coloca em situação de dependência em relação aos seus fornecedores".2
Dessa forma, fica clara a violação, por parte do Banco, da boa-fé objetiva que
deve pautar as relações consumeristas. Nesse sentido, é o escólio de Bruno Miragem,
quando assevera que "o princípio da boa-fé objetiva implica a exigência nas relações
jurídicas do respeito e da lealdade com o outro sujeito da relação, impondo um dever de
correção e fidelidade, assim como o respeito às expectativas legítimas geradas no
outro". 3
2
MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor 5ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p.
128.
3 MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor 5ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p.
134.
Entendo que este julgamento não é extra petita/ultra petita por ter convertido
o contrato em empréstimo consignado comum. Ora, se a sentença considera ilegal a
contratação como feita pela instituição financeira, não haveria como julgar
improcedente a demanda e deixar o quanto pactuado. De outra parte, não haveria como
declarar a inexistência da dívida e determinar a devolução de valores porque há prova
da utilização do cartão para saques e compras e ainda alegação de que a parte autora
pretendia obter empréstimo consignado comum, de modo que acolher o pedido de
inexistência de toda a dívida implicaria em enriquecimento sem causa.
5
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 4. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 387.
Assim, comprovado que houve conduta ilícita perpetrada pelo réu, em virtude
da imposição à parte autora de uma forma de cobrança evidentemente abusiva e em
descompasso com o CDC, porque presentes todos os requisitos do dever de indenizar,
entendo que a indenização por dano moral é devida.
Além disso, sobre o valor que será ressarcido à parte autora (dano moral)
deverá incidir juros de mora à taxa de 1% a.m. (um por cento ao mês), a contar da data
de vencimento da fatura mais antiga não atingida pela prescrição (art. 397 do Código
Civil c/c art. 161, §1º do CTN), até a data em que passa a incidir a correção monetária, a
partir do arbitramento da indenização pela sentença, consoante disposto pela súmula
362 do STJ, passando a ser aplicado unicamente o índice Selic, que compreende tanto
os juros quanto a correção monetária, até o efetivo pagamento. Nesses termos:
Código Civil
Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no
seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante
interpelação judicial ou extrajudicial.
atuado de forma escorreita, bem como, que atentou-se à natureza da causa, uma vez que
se está diante de direito constitucionalmente previsto e por se tratar de verba
alimentícia.
Dispositivo
É como voto.
Desembargadora Elisabeth Carvalho Nascimento
Relatora