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PECADORES
FRACOS E CEGOS

Ao FIMEAO CABO, ORESULTADo emocional de dar ouvidos


a0 charmado de Cristo para segui-lo éa compreensão de que
tomar nossa cruz não éuma alternativa à alegria. Carregar a
ruz não émasoquismo. A lúgubre autonegação àqual Jesus
nos chama em Marcos 8 não reprime, mas vivifica as chamas
da felicidade irreprimível àqual fomos levados. Não somos
charmados para ficarmos tristes ou regozijantes, mas ambos
(2Coríntios 6.10); não bnegados ou alegres, mas ambos.

Iraqueza trlunfante
Uma forma como vemos cristãos caindo para um lado ou
Para outro dessa tensão está no encorajamento de alguns,
dizendo que os crentes devem estarperpetuamente"fracos",
PM um lado, e no chamado para a vida crist "triunfante"
ou"vi torio por outro. Ambos levam a um reducionismo
sa",
unilateral de uma vida formada pelo evangelho.
Criståos devem ser fracos? Bem, depende do que isso
quer dizer. Se "fraco" referir-se a abatido, triste, perpetu
amente desanimado, sofrido, abjeto, até mesrno enlutado
"fraco" referir-S
referir-se a estar
por pecados,entäo não. Se contrito,
prostrado diante do Senhor, intensamente consciente da fra-
queza pessoal, despojado de si, ser capaz de rir de si mesrme
ter julgamento sóbrio, ser sensível às profundezas do pecado
dentro de si, então, sim.
Cristãos devem ser triunfantes? Se "triunfante" refe.
rir-se aser por demais autoconfiante, superficial, obtuso a
fraquezas pessoais, incorrigível, autoconfiante, rápido para
diagnosticar fraquezas alheias e pontos fortes próprios, exi
bido, triunfalista, então, não. Se "triunfante" referir-se a ser
confiante nos propósitos invencíveis de Deus no mundo
através de discípulos vacilantes, ser audacioso com ousadia
condizentecom as promessas chocantes da Bíblia, abrir mão
silenciosamente de si mesmo para Deus àluz davitória ir
repreensível de Cristo, ser implacável em relembrar ao ini
migoque Cristoesvaziou o poder das acusações de Satanás,
estar preparado para assumir riscos não para buscar reputa
ção, mas impelido por uma fé firmada em Deus, então, sim.
Fraqueza sem triunfo éuma melancolia deprimida como
ado amigodo Ursinho Puff, Ió, que enfatiza a Queda e ne
gligencia a redenção, enfatiza a crucificação e negligencia a
ressurreição, enfatiza Marcos916 e negligencia Marcos
1-8. E uma escatologia pessoal subrealizada. Triunfo sem
traqueza éumaingenuidade comoa do Buzz Lightyear, qu
enfatiza a redenção e negligenciaa Queda,enfatiza a ressu
reição e negligencia a crucificaço, enfatiza Marcos1-8 e
I00
negligencia Marcos 9-16.! É
uma
errealizada,"Cruz ecoroa,
morte e
cscatologia pessoal bi-
ressurreição, humilha
exaltação estão na mesma linha",
holandês Herman Bavinck.? Nossas duas
escreveu o teóogo
ecm uma coroa, ou nenhumn dos dois; opções são: uma
fraqueza
com triunto supremo, ou nenhum dos dois contrita
não um 0u
utro. Pois, no evangelho, Somos
libertados para passar pela
Oueda epela redenção, pela crucificaço e
nela fraqueza e pelotriunfo, por Marcos pela ressurreição,
9-16. Isso acontece porque a única
18e por Marcos
fante sem fraqueza trocou de
pessoa que jáfoi triun
lugar com quem era somente
fraco e sem triunto, para que agora o
maior triunfo seja li
Vremente nosso, ainda que a fraqueza continue.
Emboraa fraqueza não seja a última palavra para cris
täos (não hánenhuma
fraqueza
los da Bíblia, tampouco nos dois
nos dois primeiros capítu
últimos), qualquer santo
experiente pode atestar que a estranha maneira
nos traz para esse triunfo é
como Deus
através, e não ao redor, da fra
queza presente. Por essa razão,
longo dos quatro encontramos espalhados ao
de Jesus que Evangelhos
numerosos aforismos da boca
incisivamente cristalizam a verdade descon-
certante de que carregar a fraqueza da cruz e o triunfo da
1

oasno
Milne. Buzz melancólico e misantrópico em Ursinbo Puff, de A. A.
otimista noszLightyearéo
filmes Toy Story.explorador espacial ingênuo eexcessivamente
o Herman
inglês porJohnBavinVriend
ck, Reformed dogmatics, org. por John Bolt; trad. para
Volume :k (Grand
usarMaremOs 4,ap.4roa" (Grand Rapids: nãoBaker, 4 volumes, 2003-2008)
23.J.(J.C. RylC.eRyle,escreveu:"Se carregarmos a cruz, jamaS
169. thougbts on the Gospels:
Ryle's expository
Rapids: Zondervan), p. 169.
SURPRINDDO po ||GUS

glória nåo são mutuamente excludentes. A cruz e a


ria estão amarradas uma à outra. Aglória vem, gló-
tanto
nós quanto para nosso Senhor, através da cruz. E para
nossa vida que a encontraremos (Mateus perdendo
re com Lucas 17.33).
Humilhar-se como uma
10.39;crianca
compa-é a
verdadeira grandeza (Mateus 13.1-4; compare com Lucas
9.23,24,48). Os últimos serão os primeiros e os primeiros
serãoos últimos(Mateus 19.30; 20.16; compare com Mar
cos 10.31; Lucas 13.30). Quem busca ser grande
deve servir
aos outros (Mateus 20.26-28; compare com
Marcos 9.35:
10,43-45). O reino de Deus é como um grão de mostarda,
uma semente diminuta que, apesar disso, cria os maiores
galhos, com mais sombra (4.30-32). O humilde seráexalta
do e o autoexaltado será
humilhado (Lucas
com Lucas 16.15;18.14). E o grão de trigo 14.11; compare
que cai no solo
e morre que produz muito fruto (João
12.24,25).
O impulso feroz borbulhando dentro de
cada um de
nós quando saímos da cama de
manh é buscar a glória
(triunfo) e
evitar a cruz (fraqueza). Em
Marcos 8, Jesus
nos apresenta uma escolha: glória
agora e uma cruz para
Sempre, ou uma cruz agora e glória para sempre. Porem,
Jesus foià cruz para que, quandovocêe eu
3
deliberadamente
Francis Schaeffer escreveu: "Cristo
nãodeveriam ser chamados de ensinou aos seus discípulos que eles
o maior entre eles seria servo deRabind' ou Mestre (Mateus 23.8,10) e qut
tende areverter isso, todos (Marcos 10.44), Cada um de nos t
seguindo nossas inclinações naturais como homens
caídos, enquanto ignoramos a Palavra de Deus? Não gostamos do lugar de
destaque?
ou seremos
[..] As Escrituras são claras que devemos nos humilhar agor
humilhados
nesta vida, então ele será
no futuro ...] Se um cristo] não se humilhou
humilhado. Não há maneira". Francis
Schaeffer, No little people (Wheaton: uma terceira
Crossway, 2003), p. 68-70.
I02
Pecodores (I0COS OCoQ0S

tomarmos nossa cruz, cla setorncuma fontede vida:"quem


nerder avida [...] irá preservá-la". E isso épossível porque
Jesus toi para a cruz sem que a merecesse.
Na primeira metade do Evangelho de Marcos, então,
vemos Jesus comoo rei. Na segunda metade, vemo-lo se
preparando e depois passando pelo sofrimento e morte de
um criminoso. Na primeira metade, Jesus ganha nossa sub
missão; na segunda metade, ele ganha nosso coração.
Na primeira metade de Marcos, aprendemos que Deus
veio a nós; na segunda metade, aprendemos que podemos
ir até Deus.

Visdo cegae cegueira qUe vê


Dando um passo atrás e vendo o capítulo 8 no fluxo do
Evangelho de Marcos como um todo, percebemos que os
discípulos viam o estado de rei de Jesus em Marcos 1-8,
mas ainda não viam que tipo de rei ele seria. Essa ênfase em
"ver" ocorre não apenas na cura do homem cego, nas está
difundida ao longo de Marcos &10.
Por exemplo, Jesus pergunta aos discípulos em 8.18:
"Tendes olhos e não vedes?,pouco depois de realizar a cura
do homem cego em duas etapas, com um foco explícito e
Constante na visão. Em 9.1, Jesus fala à multidão ao redor
que: "dentreos que estão aqui, háalguns que de modo algum
provarão amorte até que vejam o reino de Deus chegando
com poder" Referências àvisão se multiplicam ao longo do
Eprovável que essa declaração misteriosa se refira à transfiguração,
a qual écontada imediatamente em seguida (Marcos 9.2-13). Perceba
ZPedro 1.16-18, gue, ao descrever a transfiguração do ponto de vista de
I03
SURPRIENDIDO por J[ SOS

capítulo 99e no capítulo 10,5 O


tema visão/cegueira culmi-
finalmente na cura de outro cego, Bartimeu (10.46- -52), a
na
provavelmente se junta àcuraem duas etapas de Marcos
qual
declarações de
8para formar o outro limite ao redor das três
Marcos 8-10.
Jesus sobre seu sofrimento e morte em
Estamos abordando otema visão/cegueira aqui porque,
no fm do capítulo 10, Marcos justapõe duas histórias que
nos dãouma imagem do que Jesus está falando no capítulo
8 quando ele fala que "quem quiser preservar vida, irá
perdê-la; mas quem perder a vida por causa de mim e do
evangelho, irápreservá-la" (8.35). Então, antes de terminar
mos nosso estudo em Marcos, vamos refletir brevemente
em Marcos 10.
Tiago e João, os filhos de Zebedeu, mostram-nos o
que significa querer preservar a própria vida. Bartimeu nos
mostra como éperder a vida. Ambos os relatos são retrata
dos em termos de visão e cegueira.

Três homens cegos


Marcos 10 fecha com dois relatos. O primeiro é de Tiago e
João indo até Jesus para pedirem os lugares de honra àdireita
eà esquerda de Cristo quando ele estiver reinando em glória
comoo rei entronizado (10.35-45). O segundo é do cego Bar
timeu, que insistentemente clama por misericórdia e, indife-
rente às tentativas do povo de silenciá-lo, é curado
(10.46-52).
Pedro, fala sobre isso em termos de "vinda" e
em Marcos 9.1. "poder" (v. 16), assim co
5
Marcos 9.8,14,15,20,38,47; 10.14,21,23,27,33.
I04
Poc0dote OCOS O COQO

Nisso aproximaram-se dele


dele Tiago e João, filhos de Ze
bedeu, dizendo--lhe: Mestre, queremos que nos faças o
que te pedirmos. E ele lhes perguntou: Que quereis que
cu vos faca? Eles lhe responderam: Concede-nos que
que na
tua glória nos sentemos, um àtua direita e outro à tua
esquerda. Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis.
Podeis beber o cálice que eu bebo, ou ser batizados com o
batismocom que sou batizado? Eles responderam: Pode
mos Mas Jesus lhes disse: Bebereis o cálice que eu bebo
e sereis batizados como batismo com que sou batizado;
mas o sentar-se à minha direita, ou à minha esquerda,
não cabe a mim conced-lo; isso é para aqueles a quem
estáreservado. Ouvindo isso, os dez começaram a indig
nar-se contra Tiagoe João. Então Jesus chamou-0s para
junto de si e lhes disse: Sabeis que os que são reconhe
cidos comno governantes dos gentios têm domínio sobre
eles, e os seus poderosos exercem autoridade sobre eles.
Mas entre vós não seráassim. Antes, quem entre vós qui
ser tornar-se grande, seráesse oque vos servirá; e quem
entre vÓs quiser ser o primeiro, seráservo de todos. Pois
o próprio Filhodo homem não veio para ser servido, mas
para servir e para dar a vidaem resgate de muitos.
E foram para Jericó. Quando ele, seus discípulos e
uma grande multidão saíam de Jericó, junto do caminho
estava sentado um mendigo cego chamado Bartimeu, fi
Ihode Timeu.Quando ouviu que era Jesus Nazareno, ele
começou a gritar: Jesus, Filho de Davi, tem compaixäo de
nim! Muitos orepreendian para que se calasse, mas ele
kritava ainda mais: Filho de Davi, tem compaixäo de mim!
Jesus parou edisse: Chamai-o. Chamaram o cegO, dizen
do-lhe: Coragem! ILevanta-te, ele está te chamando! Lan-
Sando de si a sua caDa,levantou-se de um salto e dirigiu-se
aJesus. EJesus lhe perguntou: Que queres que te taça? O
cego renpondeu: Mestre, que eu volte a ver. Jesuslhe disse:
SURPRIINDIDO potF GUS

Vai, atua fé te salvou. Imediatamente ele


recuperou a visã,
cfoi seguindo Jesus pelo caminho(10.35-52)

Perceba os paralelos entre os dois relatos: Tiago eJoão


de um lado, Bartimeu do outro. Em ambos os casos: Dri
meiro, Jesus é confrontado com um pedido (10.35,47,48);
segundo, Jesus inicialmente responde perguntando "Que
quereis que eu vos faça?" (10.36,51); e terceiro, as pesso
as fazendo os pedidos claramente entendem quem Jesus .
levando-os a colocarem seus autênticos desejosdo coração
diante dele (10.37,47,48).
Existe um quarto paralelo mais sutil sob a superficie
da narrativa: em ambos os casos, a pessoa fazendo o pedido
estásofrendo de cegueira.
Isso aparece quando vemos as diferenças entre os dois
registros. Jesus pergunta aosfilhos de Zebedeue também
a Bartimeu: "Qåe quereis que eu vos vos faça?". Mas Tiago
e Joãopedem glória, e Bartimeupede misericórdia. Tiago e
João achavam que mereciam honra e receberam um "não
de Jesus. Bartimeu sabia que não merecia nada e recebeu
um "sim" de Jesus. Tiago eJoão vieram achando que tinham
direito a algo; Bartimeu, cujo nome significava "hlho da
impureza" ou "ilhoda sujeira', veio com um sentimento d
desmerecimento.6
Tiago e João,embora vissem fisicamente, estavam c
caminho
gos espiritualmente. Eles não percebiam que o
Para serem grandes era serem servos de todos. Bartimeu
6 the eyesof
Kenneth E. Bailey, Tbe cross and the prodigal: Luke 15 througb.
2005), p. 55.
middle eastern peasants(Downers Grove: InterVarsity, ed. rev.,

I06
Poroutro
lado,emborafosse cego fisicamente, estava vendo
espiritualmente.O
O desejo mais profundodele não erarm as
honras glamorosas que Jesus poderia dar no reino vindouro,
Jesus.
mas sim o próprio
Todos os três homens eram cegos. Somente Bartimeu
sabia que era.
A tabelaa seguir esclarece a diferenca.

TiagoeJoão (10.35-45) Bartimeu (10.46-52)


Visão fsicamentesaudável Fisicamente cego
Pedem glória. Pede misericórdia.

Espiritualmente cegos Visãoespiritual saudável


Pedido com base na força que Pedido com base na fraqueza que
percebiam (erroneamente): percebia (corretamente): "tem
"Somos capazes" (10.39). compaixo de mim!" (10.47).
Impelidos pelo orgulbo Impelido pela humildade
Agem sorrateiramente: no registro Ageabertamente:"Lançando de
de Mateus, a mãe dos irmãos fala sia sua capa, levantou-se de um
por eles (Mateus 20.20). salto e dirigiu-se aJesus" (10.50).
Evitam a observação dos outros, Ignora a opinião humana.
vindo sem os outros dez discípulos.
Opedido vem de alguém próximo. O pedido vem de alguém de fora.
Promovem conflito (10.41). Promove unidade (10.52).

A estranha forma pela qual seres humanos natural


te cegos como você e eu recebem visão ésimplesmen
Gpedindo por misericórdia, Esse impulso insistente que

emerge das profundezas para assegurar a glória, para ser


estabelecidocomo obraço direito de Jesus, é cegueira, pois
ele escuta à voz interior que nos tala
que a
enganosamente
107
SURPRTNDIDO por JE SUS

forma de salvarmos nossa vida ésalvando-a, queaaforma de


nos tornarmos grandes ébuscando a grandeza.
Nossos olhos se abrirão para a tolice dessa forma de
pensar quando reconhecermos nossa verdadeira necessid -d.
e não fizermos nada além de pedir misericórdia para Jesus
Tudoque énecessário éuma confissão de cegueira pessoal.
Isso fica claro em outra passagem que lida com cegueira, dessa
vez no Evangelho de João. Os fariseus estão incrédulos com
asugestão de Jesus de que eles estejam cegos. Jesus responde:
"Se föseis cegos,não teríeis pecado. Mas como agora dizeis:
Nósvemos, ovosso pecado permanece" (João 9.41)."A única
Disaque impede a misericórdia de Jesus de fluir sobre avida
de pecadores cegos éa teimosa negação da cegueira.
No início do século 20, o jornal londrino The Times
Convidou um pequeno número de autores nacionalmente
respeitados, incluindo G. K. Chesterton, para darem suas
opiniões COm espostas à pergunta: "O que háde errado
com omundo?". Oresultado foi uma série de dissertações
apontando para quem erao culpado para o estadodo mun
do àépoca. Acontribuição de Chesterton dizia:
Prezados senhores,
Eu.

Sinceramente,
G. K. Chesterton
7
Sobre o tema da cegueira/visão de Ioão 9.39-41, veja Lutero
Luther's Works. Volume 51, p. 37;veja também Andreas J.
Atheology of John's Gospel and Letters: Köstenber
Testament (Grand Biblical theology of t0e
Rapids: Zondervan,what,
2009)butp. 166,
who is224-25.
8
Citado em Marva J. Dawn,"Not the matter with
preaching?" in: Wbat's the matter with preaching today?, org Por Mike
Graves (Louisville: Westminster, John Knox,
2004), p. 75.
I08
CegopotDÓs
Chesterton entendia opoderoso reflexo natural de absol
ver asi mesmo ee indiciar outros. Oevangelho vira isso de
ponta-cabeça, libertando-nos para apontarmos o dedo do
indiciamento para nós mesmos, uma acusação própria que,
paradoxalmente, éa única forma de escaparmos da acusa-
ção que realmente importa. Pois a grande e maravilhosa
surpresa da missão de Jesus éque a única pessoa que jå
mereceu ser absolvida ao fim de sua vida se permitiu ser
indiciada para que vocêeeu pudéssemos ser absolvidos sem
nenhum custo para nós.
Mas será que isso não seria fácil demais? Como seria
justo e correto? Como pecadores amantes de glóriae cegos
como nós recebem avisão tão facilmente, com nada além
de um gritopor misericórdia?
A resposta éa razão principal pela qual Marcos escre
ve esse Evangelho e exatamente a coisa anunciada por Je
sus três vezes emn Marcos 8-10. Orei recebeu a punição
de um criminoso. O leão foi tratado como um cordeiro. Foi
maravilhoso que o Filho de Deus fosse acusado como um
criminoso"., escreveu Edwards. Um Messias agredido e en
sanguentado, tão fora de sincronia com oque judeus espe
1angosos esperavam de seu rei vindouro (e com o que você
eu esperamos de um Salvador) estábem no coração do
Evangelho de Marcos. Não foi exagero oque disse oestudio-
So alemão Martin Kähler, referindo-se a Marcos 8.279.13,
9

Jonathan Edwards, "Annotations on passages of the Bible" in:


SelAleectxander
ions fromB. Grosart
the unpublished writings ofJonatban Edwards, org. por
(Edinburgh, 1865) p. 140.
I09
SURPRLLNDIDO por JESUS

ao chamar os Evangelhos de"narrativas da paixo comintro-


duções longas."0
Agrande glória do evangelho cristão é que o Evan-
gelho de Marcos não termina no capítulo 8. A cegueira
de Bartimeu, a cegueira dos discípulos e a cegueira en
nós não foi levada em contaporque Jesus morreu, e isso é
uma questão muito maior do que como estãoindo nossos
investimentos, ou quem está liderando a nação na qual
vivemos, ou o aquecimento global, ou empregos perdidos,
ou doenças que podemos contrair, ou casamentos dificeis.
Não importa o que aconteça econômica ou politicamente,
ou em nosso emprego, saúde ou relacionamentos, nos dias
vindouros, a realidade mais fundamental de nossa existên
cia persiste. Inalterada, imóvel, gloriosamente aberta, pe
dindo nada mais que um "sim". Pois Jesus, merecendo um
"sim",recebeu um "não' para que nós, merecendo um não",
pudéssemos receber um "sim'.
Talvez o melhor resumo em um versículo de Marcos
seja 10.35, aninhado entre os dois relatos de
de Marcos 10estudados acima, no fechamento
ochamado
qual Jesus fundamenta
para seus discípulos servirem uns aos outros:
"Pois opróprio Filho do homem não veio
para ser servido,
mas para servir e para dar a vida
em resgate de muitos
O evangelho da
graça não ésobre oque podemos fazer
para Deus, mas sobre o que
Cristo."Se você tem Deus fez por nós em Jesus
qualquer coisa, você deve deixar tudo
10
Martin
Christ, trad. Kähler.
para o
The so-called
historical
inglês por Carl E. BraatenJesus and the bistoric, biblical
1964) p. 80. (Philadelphia: FFortress,

IIO
PecOdotos OCOS Cog0S

nara trás antes de vir. Se houver qualquer coisa bo0a em


voce, você nåo pode confiar em Cristo", Spurgeon pre-
Tudo que trazemos é nossa necessidade. Tudo que
trazemos énossa cegucira.
Pois Jesus Cristo, o rei consumado, no sentido mais
profundo, "via". Ele foi a única pessoa a jamais ter sido
cegado moralmente pelo pecado. Mesmo assim, no sofri
mento predito ao longo da segunda metade de Marcos,
Jesus permitiu-se ficar "cego" para
para que você e eu, peca
dores cegos, pudéssemos ter a visão restaurada. A visão
perfeita de Jesus nos édada. Nossa visão é restaurada
ao reconhecermmos nossa cegueira moral ee pedindo por
misericórdia. Nada mais érequerido para que a conquista
dele, a visão dele, a vitória dele, a vida dele, inundem-nos
com um dilúvio de graça. Essa éa graça surpreendente.
Jesus perguntou aos filhos de Zebedeu: "Que quercis
queeu vos faça?",
Ele perguntou a Bartimeu: "Que queres que te faça?".
Contudo, maiscrucialmente, ele fez essa perguntauma
terceira vez ao próprio Pai (veja Mateus 26.39; Lucas 22.42;
João 5.19; 8.28).
Tiago e João pediram glória aJesus. Bartimeu pediu
misericórdia aJesus. Deus, oPai, pediu que Jesus entregas
Se a sua vida, assegurandotanto glória quanto misericórdia
Para quem admite sua cegueirae se apega a Cristo.

11
Charles Spurgeon, Faith (New Kensington: Whitaker House,
reimpresso em 1995), p.35.

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