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SOMOS TODOS IGUAIS - Ec 9.

2 Pessoas que frequentam a igreja podem relutar com o fato de Eclesiastes


soar tão estranho quando comparado a Jeremias ou Paulo. Mas o não
“Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao cristão atencioso muitas vezes fica chocado e atraído por esta maneira de
bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não falar sobre a vida e Deus. Um pregador que tem a honestidade de dizer: “A
sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o vida não tem sentido” ou “Eu odeio a vida”, permite que o ouvinte se sinta
juramento” reconhecido e ouvido por aqueles que falam em nome de Deus. O pregador
dá voz ao modo como as coisas são ao invés de como desejamos que elas
VERDADE PRÁTICA – Embora debaixo do sol o fim para justos e sejam. A esperança oferecida tem valor. O Deus que fala não soa como um
injustos pareça o mesmo, as Escrituras deixam claro que, na eternidade, os homem velho que precisa de ajuda para usar um iPad. Ele soa como o Deus
seus destinos serão bem diferentes. que criou tudo isso e vê a ruína, sente a perda, a experimenta conosco e
nos leva para casa.
Por que os justos sofrem? Por que os ímpios prosperam? Por que o mal
existe? Estas perguntas são feitas há muito por filósofos, cientistas e, por Se não fazemos isso, somos como aquelas pessoas que leram o título do
que não, cristãos sinceros. O problema é que a teologia da prosperidade — livro “Os Três Mosqueteiros” e mergulharam de cabeça no meio da
história. O fato de que “Os Três Mosqueteiros” conta uma história sobre
que afirma: o crente não sofre — propagada nas últimas décadas no
quatro mosqueteiros nos confundirá, a menos que voltemos, leiamos do
universo evangélico, tem prestado um grande desserviço para a Igreja de começo e fiquemos atentos até o fim.
Cristo. Precisamos entender que enquanto estamos presentes neste mundo,
e embora justificados por Cristo, fazemos parte de uma criação não 1-) Avaliar os paradoxos da vida.
regenerada, anelando por sua transformação no devido tempo (Rm 8.18-
23). Mas por intermédio do Espírito Santo temos a graciosa promessa de 2-) Conscientizar-se da imprevisibilidade da vida.
que Jesus Cristo estará conosco até a consumação dos séculos (Mt 28.20). 3-) Viver por um ideal legítimo.

Todo pregador tem que abrir as Escrituras e explicar o trajeto que fazemos Introduzir o Salmo 73. Este é revelador para o assunto em questão. Logo após,
quando partimos com “no princípio, Deus” (as palavras de abertura da apresente aos alunos os seguintes destaques: (1) O autor do salmo é Asafe,
Bíblia) e chegamos à “Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja levita respeitado, ministro de música da Casa de Deus; (2) Asafe revela um
sobre todos vocês” (suas palavras de encerramento). problema inquietante: Deus é soberano e justo, mas os ímpios prosperam (vv.3-
12) e quem serve a Deus parece sofrer mais (vv.13,14); (3) O salmista, um servo
1. Eclesiastes descreve a vida após o Éden e antes do céu.
2. Eclesiastes revela Deus para nós. fiel, ficou desanimado com as próprias aflições (vv.1,13), com a felicidade e a
3. Eclesiastes exalta a alegria das coisas comuns. prosperidade de muitos ímpios (vv.2,3); (4) Porém, Deus restaura a confiança do
4. Eclesiastes oferece as exceções às regras. salmista ao revelar o fim trágico dos ímpios e a verdadeira bênção dos justos
5. Eclesiastes nos ajuda no evangelismo e para a apologética em nossa geração. (vv.16-28). As Escrituras Afirmam que a prosperidade dos injustos é
ilusória e enganadora.
Palavra Chave – Prosperidade: Estado do que é ou se torna prospero; A régua da eternidade nos medirá tomando como critério a fidelidade a
fartura de alimentos e bens de consumo; fortuna, riqueza. Deus, e não a prosperidade dos homens. A prosperidade bíblica vem como
resultado de um relacionamento sadio com Deus (Sl 73.17,27,28) e
A aparente prosperidade dos maus é um tema recorrente em Eclesiastes. independe de alguém ter posses ou não. Os ímpios têm posses, mas a
Nos Salmos, Davi aborda essa questão fazendo a seguinte pergunta: Por verdadeira prosperidade só é possível encontrar em Cristo.
que os justos sofrem e os ímpios prosperam? (Sl 73). Nesse mesmo tom,
Salomão observa que, debaixo do sol, os injustos parecem levar vantagem Conclusão 1 – Os paradoxos da vida se manifestam, por exemplo, na
sobre os justos. Mas quando ambos são nivelados por Deus, na arena da injustiça imposta aos justos e na prosperidade usufruída pelos ímpios.
vida, constata-se que os justos e os injustos terão o mesmo fim. Mas como
o sábio de Eclesiastes, concluímos que a justiça é melhor que a injustiça. É II. A REALIDADE DO PRESENTE E A INCERTEZA DO FUTURO
preferível ser sábio do que agir como um tolo, pois seremos medidos pelos
padrões de Deus, não pelas circunstâncias da vida. A realidade da morte. Uma chave importantíssima para entendermos a
mensagem de Eclesiastes encontra-se na expressão: “Esta é a tua porção
I. OS PARADOXOS DA VIDA nesta vida debaixo do sol” (2.10; 3.22; 5.17-19; 9.9). É debaixo do sol que
expressamos a nossa existência e constatamos a nossa finitude! É no dia a
Os justos sofrem injustiça. Diferentemente dos perversos que parecem dia da vida que percebemos a verdade implacável da morte, tanto para
estar sempre seguros e cada vez mais prósperos (Sl 73.12), o sofrimento foi quem serve a Cristo quanto para quem não o serve!
uma das mais duras realidades experimentadas por Asafe (Sl 73.14). De
igual modo, Salomão lutou contra esse pessimismo ao contemplar o A sentença já foi decretada e é a mesma para todos (Hb 9.27; Ec 9.3). Com
paradoxo da vida na hora da morte. Os perversos tinham uma cerimônia a realidade da morte o futuro parece incerto (Ec 1.1-11). O apóstolo Paulo,
fúnebre digna de honra, mas “os que fizeram bem e saíam do lugar santo porém, diz que se a nossa esperança se limitar apenas a esta vida somos os
foram esquecidos na cidade” (Ec 8.10). mais infelizes dos homens (1Co 15.19). Em Cristo, temos a vida eterna.

O pastor, A. W. Tozer costumava dizer que o mundo está mais para o A certeza da vida eterna. Salomão escreveu Eclesiastes sob uma análise
campo de batalha que para o palco de diversão. Em outras palavras, os puramente existencial. Quem está do lado de lá da eternidade não participa
justos sofrem na arena da vida (Sl 73; Fp 1.29...-“...vcs receberam a graça do lado de cá da existência. Neste aspecto, “os mortos não sabem coisa
de sofrer por Cristo e não só de crer nele...”). Logo, o crente fiel deve estar nenhuma” (Ec 9.5). Isto não se dá porque eles estão inconscientes, mas
consciente de que os revezes não significam que ele esteja sob julgamento porque pertencem a outra dimensão (Ap 6.9; 2Co 5.8), onde nem mesmo o
divino ou que a sua fé seja fraca, mas que se encontra em constante sol é necessário (Ap 22.5).
aperfeiçoamento espiritual (2Co 2.4; Cl 1.24; 2Tm 1.8).
Em vez de negar a imortalidade da alma humana, o Eclesiastes apenas
Os maus prosperam. Enquanto os justos padeciam, Davi e Salomão descreve a nossa trajetória nesta vida. É o Novo Testamento que lançará
constataram a prosperidade dos ímpios (Sl 73.1-3; Ec 7.15). Aqui, mais luz sobre a imortalidade de nossa alma na eternidade (Lc 16.19-31;
aprendemos que a espiritualidade de uma pessoa não pode ser medida pelo 2Co 5.8; Fl 1.23; Ap 6.9).
que ela possui, e sim pelo o que ela é. Ser próspero não significa “ter”, mas
“ser”.
Conclusão 2 – Em vez de negar a imortalidade da alma humana, o Lembremo-nos de que uma das marcas de nossos dias é a
Eclesiastes apenas descreve a nossa trajetória nessa vida. relativização do absoluto, e cada pessoa vai buscar uma verdade para si
mesma. Isso tende a tornar as pessoas mais individualistas e narcisistas,
III. A IMPREVISIBILIDADE DA VIDA preocupadas apenas consigo mesmas e tremendamente desinteressadas
pelo próximo.
As circunstâncias da vida. Nenhum outro texto descreve tão bem a Vivendo por um ideal. Mesmo sabendo que as boas ações nem
imprevisibilidade da vida como o de Eclesiastes 9.11,12. Catástrofes sempre serão reconhecidas, Salomão acredita que devemos ter um ideal
naturais e vicissitudes sociais ocorrem em países habitados quer por elevado e firmado em Deus (Ec 9.16-18).
pecadores, quer por crentes piedosos, pois ambos habitam em um mundo Vivendo em uma sociedade relativista e vazia de idealismo, não há
decaído. Mas em todas as circunstâncias, o Senhor se faz presente (Sl 46.1; garantia de qualquer reconhecimento pelo fato de crermos e vivermos os
91.15). valores morais e espirituais prescritos pela Bíblia. Contudo, vale a pena
viver por um ideal. O cristão maduro sabe das causas pelas quais devemos
Aproveitando a vida. Cientes de que teremos dissabores na vida, o que lutar (At 20.24; Ef 3.14; 2Tm 4.7).
podemos fazer a respeito? Mergulhar em um sombrio pessimismo, ou
tornar-se indiferente aos problemas? É bem verdade que muitos se Conclusão 4 – O cristão maduro, através do Evangelho, sabe bem das
deprimem quando a calamidade chega. Ela assusta, amargura-nos. Faz com causas pelas quais devemos lutar nesta vida.
que nos isolemos. Mas o rei Salomão sabia que a vida “debaixo do sol”
não era fácil nem justa. Ele não negou esse fato e muito menos fugiu da CONCLUSÃO – A vida “debaixo do sol” mostra-se como ela realmente é.
sua realidade. Às vezes parece sem sentido e, em muitas outras, cheia de paradoxos. Mas
Contrariamente, o Pregador incentivou-nos a viver, em meio à a vida precisa ser vivida. Salomão não apenas observou essa dura
imprevisibilidade da vida, aquilo que nos foi dado como porção (Ec 9.7,9). realidade, mas também a experimentou. Para não cairmos num pessimismo
Em Cristo, somos chamados a viver a verdadeira vida, conscientes de sua impiedoso e, tampouco, num indiferentismo frio, devemos viver a vida a
finitude terrena, mas esperançosos quanto a sua eternidade celeste (1Co partir da perspectiva da eternidade. Então tomaremos a consciência de que,
15.19). “Se é só para esta vida que esperamos em Cristo, somos de todos na vida terrena, há ideais dignos pelos quais devemos lutar. Assim,
os homens os mais dignos de lástima...” evitaremos as armadilhas do pessimismo. Vivamos, pois, a nossa vida de
maneira a glorificar o Pai Celeste.
Conclusão 3-As circunstâncias da vida revelam a sua imprevisibilidade
e, por isso, devemos aproveitá-la da melhor maneira possível. Devemos, como crentes estar conscientes a respeito dos revezes da vida!
Pois estes. não determinam que estejamos sob julgamento divino ou que a
IV. VIVENDO POR UM IDEAL nossa fé seja fraca, mas que a fé se encontra em constante
aperfeiçoamento. O que dizer acerca da espiritualidade, senão que ela não
A morte dos ideais. Ec 9.14,15 narra a história de um povo que se esqueceu pode ser medida pelo que a pessoa possui, mas sim pelo que ela é. A
de um sábio idealista por ele ser pobre. Tal fato denota uma cultura onde os expressão “Esta é a tua porção nesta vida debaixo do sol” é Porque,
ideais não mais existem. Como é atual a leitura do Eclesiastes! A cultura debaixo do sol que expressamos a nossa existência e constatamos a nossa
contemporânea também perdeu os seus ideais. finitude.
Para você, por qual causa vale a pena lutar na vida?

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