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EXPEDIENTE
CESA
Anuário 2023
Comissão Editorial
Gustavo Brigagão
Cristiane Romano Farhat Ferraz
Luiz Roberto de Andrade Novaes
Carlos José Santos da Silva, Celso Cintra Mori, Clemencia Beatriz Wolthers,
Cristiane Romano, Antonio Corrêa Meyer, Gustavo Brigagão e José Luis de Salles Freire
SUMÁRIO
DEPOIMENTOS
COMITÊS
CESA JOVEM
40 anos do CESA: Contribuições do Comitê Jovem para o futuro do CESA ... 93
João Paulo Ferraz, José Victor Pallis da Silva e Vivian Joory
LIDERANÇA FEMININA
Igualdade de Gênero no Exercício da Advocacia: um Esforço
Conjunto Necessário ... 123
Cristiane Romano, Janaina Castro e Maia Martinovich
PENAL
O CESA diante da inovação no Direito e na Advocacia ... 131
Fernanda Haddad de Almeida Carneiro
SOCIETÁRIO
Panorama Geral do Papel do CESA e das Recentes Alterações do Direito Societário no
Futuro da Advocacia ... 135
André Maruch
TRIBUTÁRIO
O Contencioso Tributário Brasileiro do Diagnóstico à Reforma do Sistema Processual:
Relações Institucionais Tributárias e Compliance ... 139
Valter de Souza Lobato, Daniella Zagari Gonçalves, Douglas Mota e Priscila Faricelli
SECCIONAIS
BAHIA
Advogado – Será que você está Preparado para o Futuro ... 147
Paula Pereira Pires
DISTRITO FEDERAL
Propostas para o Futuro da Advocacia e do CESA ... 151
Antonio Carlos Guimarães Gonçalves
ESPÍRITO SANTO
Inovação Tecnológica na Advocacia Moderna: CESA 40 anos ... 155
Giulio Cesare Imbroisi, Francisco Antônio Cardoso Ferreira
MARANHÃO
Adaptando-se à Crise do Poder Judiciário: A Era da Justiça Multiportas e das novas
tecnologias ... 167
Ulisses César Martins de Sousa
MATO GROSSO
Advogado, Juiz e Processo na Era Digital ... 171
João Celestino Corrêa da Costa Neto
MINAS GERAIS
Advocacia do Futuro: O Papel dos Meios Adequados de Solução de Conflitos e a
Formação dos Profissionais do Direito ... 177
Nilson Reis Júnior
NORTE
Propostas para o Futuro da Advocacia e do CESA: uma Adaptação às mudanças ... 183
Afonso Marcius Vaz Lobato
PARAÍBA
Revisitando os Predicados “do Passado” para Garantir uma Advocacia “de Futuro” ... 187
Daniel Sebadelhe Aranha
PARANÁ
Ousadia do CESA para Liderar e Moldar o Futuro da Advocacia ... 193
Tarcísio Araújo Kroetz
PERNAMBUCO
Propostas para o Futuro da Advocacia e do CESA ... 199
Ivo Tinô do Amaral Junior
PIAUÍ
Os Desafios do Futuro são Inspiradores: uma análise sobre o futuro da advocacia e o
uso da inteligência artificial ... 203
Álvaro Fernando da Rocha Mota
RIO DE JANEIRO
O Futuro da Advocacia e o Papel do CESA no seu Desenvolvimento ... 209
Francisco Antunes Maciel Müssnich e Marcella Campinho Vaz
SANTA CATARINA
CESA, o futuro sem perder o essencial ... 219
Giancarlo Castelan
PREFÁCIO
Gustavo Brigagão1
Anuário 2023
1 Coordenador da Comissão Editorial do Anuário e sócio de Novaes, Plantulli e Manzoli – Sociedade de Advo-
gados.
zontalidade e por um espírito de colaboração na defesa dos interesses comuns.
Assim, o CESA adquiriu a feição que tem hoje e a representatividade que atual-
mente ostenta, junto aos órgãos de classe, às autoridades de todos os poderes da repú-
blica, assim como perante a sociedade em geral.
Mas os tempos passam rápido e o modelo de negócio das sociedades de advoga-
dos vem sendo sacudido pela tecnologia e toda a organização dos escritórios vai sofrer
transformações profundas que precisam ser examinadas com cuidado e enfrentadas por
todos. Por isto, a função do CESA vai demandar um esforço conjunto para fazer face a tão
difícil tarefa, para a qual temos condições de contribuir com todos. Isto de forma melhor
do que individualmente.
De qualquer forma, como já falei antes, a régua do CESA é alta e este o maior le-
gado que recebemos.
O desafio de minha geração é passar o bastão para as novas gerações e confiar que
eles têm capacidade de manter intacto nosso projeto.
Eu completo este ano 50 anos de exercício profissional e espero sinceramente con-
tinuar colaborando no CESA até quando for possível.
Viva o CESA!!
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DEPOIMENTOS
ASSISTA À ENTREVISTA
ANTONIO CORRÊA MEYER
CESA 40 anos
O início
CESA 40 anos
“Eu comecei no CESA ainda como um jovem advogado a convite do Antonio Correa
Meyer. Logo na primeira reunião fui apresentado aos nossos ícones da advocacia, que
me receberam de braços abertos. A receptividade do Orlando, Clemência, José Luiz e Ho-
rácio está marcado em minha memória. Comecei participando nos Comitês Temáticos,
mais especificamente no Comitê de Administração e Ética. Os Comitês do CESA são a
porta de entrada por onde vamos desenvolvendo aquele amor e interesse pela entidade.
As discussões nos Comitês são sempre muito ricas e nos oportunizam ter contato com
grandes temas e nomes da advocacia. É importante destacar que o CESA sempre esteve
aberto para as novas gerações, pensando no futuro, no CESA de amanhã.”
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“O CESA é apaixonante. Quando você começa a participar das reuniões você vai
querendo cada vez mais. Quando as datas das reuniões se aproximam, você fica ansioso
para que chegue rápido. As reuniões do CESA são muito ricas, pois você tem a oportu-
nidade de se reunir com pessoas de todo país, fazendo um enorme networking, além de
discutir os temas atuais de interesse das sociedades de advogados. O CESA tem uma ca-
racterística especial, sempre se antecipando nos temas. Não tenho dúvida que estamos
sempre na vanguarda dos grandes temas.”
“Minha trajetória no CESA, como já disse, começou pelo Comitê de Administração
e Ética. Passado um tempo fomos convidados (Moira, Mateucci e eu) para um almoço
com fundadores do CESA. Nesse almoço eles nos “convocaram” para uma missão: cons-
truir a sucessão no CESA. Nesse almoço nos convidaram para compor a nova diretoria
do CESA que se formava.”
“Primeiro fui diretor de relações institucionais. Na gestão seguinte fui vice-presi-
dente do Matteucci e depois presidente. Como presidente nacional estive em duas ges-
tões. Sempre vivi intensamente a vida associativa e muitas pessoas me perguntavam se
eu tinha a intenção de ser presidente da OAB. Eu sempre respondia que não, pois meu
sonho era ser presidente do CESA. Realizei esse sonho. O CESA é diferenciado, onde a
única política é da amizade.”
“Desde sua criação o CESA sempre participou ativamente das discussões de in-
teresse das sociedades de advogados. Nas grandes questões tributárias o CESA sempre
esteve à frente dessas lutas. Em todas as tentativas de alteração do regime do ISS, por
exemplo, o CESA sempre teve uma atuação com grande destaque.
Nos mais diversos municípios, assim como no Congresso Nacional, não foram
poucas as vezes que atuamos direta e incansavelmente. Numa dessas tentativas ficamos
semanas na Câmara Municipal de São Paulo, indo diariamente naquela casa para parti-
cipar de audiências públicas, audiências com vereadores e membros do executivo. Mui-
tas falavam que era uma batalha perdida, mas não foi isso que ocorreu. Vencemos. Em
outra ocasião, no Munícipio do Rio de Janeiro descobrimos, no apagar das luzes de um
ano, mais uma tentativa de mudança do regime de ISS. Já tinha ocorrido uma votação,
mas conseguimos reverter.
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Outras conquistas que vale destacar foram as participações do CESA nas grandes
discussões da OAB com relação a normatização das sociedades de advogados, advoca-
cia pro bono, novo código de ética, regulamentação da publicidade na advocacia, assim
como a criação das sociedades unipessoais e inclusão das sociedades no supersimples.
Os Comitês do CESA trabalharam intensamente em cada um desses temas elaborando
propostas.
“A vanguarda do CESA é uma realidade. Há 12 anos fizemos a primeira reunião em
que o conceito de inteligência artificial foi abordado.”
O futuro
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“Temos que aproximar mais os jovens do CESA para que o conheçam, para que
não achem que o CESA é aquela entidade que está lá só com os grandes, com aquelas
pessoas que deram nome aos escritórios. Não! É preciso que sintam que o CESA somos
todos nós! É preciso incentivar a participação efetiva desses jovens desde cedo para que
tomem parte não só do Comitê da Jovem Advocacia, mas de todos os nossos comitês.”
ASSISTA À ENTREVISTA
CELSO AZZI
CESA 40 anos
O primeiro Comitê
“O grande trabalho nosso começou com o novo Código Civil, que estava em trami-
tação à época, no Congresso. Mas como essa tramitação se estendia há mais de 25 anos,
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não tínhamos muita expectativa de que fosse ser aprovado, ninguém tinha mais muito
interesse, já estava meio ultrapassado. No entanto, em certo momento, o deputado fe-
deral Ricardo Fiúza, como relator, começou a levar a sério, a tocar o projeto adiante, e o
CESA tinha interesse em acompanhar alguns temas ali dispostos, e de repente o texto
foi aprovado! Começamos a trabalhar em regime de urgência para mudar, antes que a lei
entrasse em vigor, os pontos que entendíamos necessários, a base do nosso trabalho. A
lei de responsabilidade limitada, até então, uma lei de 1919, tinha trinta artigos; o Có-
digo, por sua vez, dedicava ao tema um caderno! Eram então muitos artigos tratando de
sociedade comercial, sociedade civil (que depois veio a ser o simples empresário); acabei
tendo um contato com um advogado lá em Brasília, que era assessor do Ricardo Fiúza,
um advogado jovem, uns 30 anos, Mário Delgado, que começou a vir para São Paulo –
conversei com a Clemencia, que era presidente do CESA na época, e o CESA começou a
pagar a viagem dele para São Paulo para a gente discutir todas as enormes mudanças
que ocorreram. Veja bem, a lei de 1919 era sucinta, então as sociedades foram criando
seu próprio funcionamento; de repente, é aprovado o Código Civil que passa a regular
tudo minuciosamente, quóruns especiais para reuniões, imagine o impacto para socie-
dades de duas ou três pessoas; nós já tínhamos a lei das sociedades anônimas, de 1976,
uma lei excelente, muito clara, em vigor até hoje, com algumas modificações, e de repen-
te chega essa parte do Código para regular as outras sociedades empresárias com uma
redação da década de 1960, que estava inclusive ultrapassada, que não previa a cisão,
que todo mundo já fazia, enfim, era preciso ao menos introduzir algumas modificações
pontuais. A gente se reunia lá no Pinheiro Neto, em uma sala enorme, com um telão em
que era projetado o texto aprovado, que era examinado e comentado por nós, cerca de
15 ou 20 advogados. Fomos ajustando o que dava, conseguimos alterar alguns pontos, o
que era possível, naquela altura de texto aprovado.”
CESA 40 anos
O pontapé inicial
“Posso afirmar que o CESA nasceu da maneira mais natural que se pode imaginar:
O Orlando Di Giacomo, que era uma pessoa extraordinária, uma figura humana extrema-
mente rica em conteúdo, em sensibilidade, era muito amigo do Pinheiro e da família do
Pinheiro; na realidade ele era amicíssimo da filha do Pinheiro, a Ana Cecília, e por essa
razão se frequentavam; o Pinheiro tinha no Jockey Club uma mesa cativa em um canto
do restaurante, no 9° andar da rua Boa Vista, onde uma ou duas vezes por semana ele
almoçava e sempre com algum convidado; e o Orlando Di Giacomo era um frequentador
assíduo dessa mesa pelas relações de amizade que tinha com a família do Pinheiro e tam-
bém pela afinidade, pois o Orlando era já um dos principais sócios do escritório Demarest.
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Nessas conversas de almoço frequentemente eram tratadas questões relacionadas à so-
ciedade de advogados; nós estávamos em um momento de uma certa efervescência no sis-
tema jurídico brasileiro, eram os anos 1981, 1982, período de abertura do regime político,
o fim da ditadura militar; eu me lembro, por exemplo, que havia uma relação tensa entre
as sociedades de advogados e os advogados que prestavam serviços nessas sociedades em
torno da existência ou inexistência de relação de emprego; mas havia também o próprio
reconhecimento e aceitação da sociedade de advogados pela Ordem, que não era uma coi-
sa assim tão tranquila; se em 1981, 1982, o tema já estava se pacificando, uns anos antes
grandes juristas, como Sobral Pinto, por exemplo, questionavam a existência da sociedade
de advogados em face dos estatutos da Ordem que proibiam quaisquer organizações de
advogados que tivessem características ou aparências mercantis; as sociedades eram con-
sideradas empresas e a palavra empresa era um anátema quando se referia a organizações
de advogados, então essas eram preocupações que nós discutimos na época. Graças ao
dinamismo e ao espírito organizativo e empreendedor do Orlando, decidiu-se então que
aqueles encontros deveriam ser ampliados e institucionalizados, e assim o CESA foi fun-
dado. O Orlando foi o seu primeiro presidente e eu, salvo erro de memória, fui o segundo
presidente. Eu me lembro que nessa época nós tínhamos pelo menos três grandes frentes
com as quais nos preocuparmos: uma era esse relacionamento com a Ordem, o reconhe-
cimento da existência das sociedades de advogados como um grupo de profissionais com
identidade própria; as outras duas estavam relacionadas ao quadro de associados, e trata-
vam da existência ou inexistência de relação de emprego em primeiro lugar e em segundo
lugar, da duração da jornada de trabalho do associado dentro da sociedade de advogados.
Quando eu fui presidente do CESA, o presidente da Ordem na seção de São Paulo
era o queridíssimo amigo – que se tornou mais amigo depois – Márcio Thomaz Bastos,
que com sua vocação democrática, estava querendo restaurar instituições que tinham
sido eliminadas pela ditadura militar, dentre elas o sindicato dos advogados. Eu me lem-
bro de ter tido uma conversa muito franca, muito aberta, muito cordial com o Márcio
em que eu advoguei a tese de que não se deveria falar em sindicato de advogados, o que
obrigaria a formação de um sindicato dos advogados empregados e outro dos advogados
empregadores; eu entendia que as relações entre os advogados empregados e os advoga-
dos empregadores deveriam ser resolvidas no âmbito da própria Ordem, em razão de sua
natureza institucional; o Márcio, com toda a franqueza que lhe era peculiar, disse que
as minhas ideias não prosperariam, que ele já tinha compromissos para o restabeleci-
mento do sindicato dos advogados; a partir dessa situação, nós começamos a pensar por
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meio do CESA nessa questão. Na ocasião, a discussão foi muito intensificada em razão
de um forte movimento sindical liderado por advogados do Banco do Brasil, por meio
do qual surgiu um projeto de lei de autoria de José Frejat no Congresso que limitava a
prestação de trabalho por advogados em relação de emprego a quatro horas diárias; o
interesse, aqui, era que os advogados do Banco do Brasil queriam a limitação da jornada
de quatro horas no banco para ter disponibilidade para seus próprios escritórios, como
acabaram conseguindo. Mas nós também conseguimos fazer um grande movimento, e
demonstrando as peculiaridades da sociedade dos advogados, as peculiaridades das re-
lações entre os sócios e aqueles outros advogados que trabalhavam nas sociedades nós
conseguimos abrir uma exceção e então essa jornada de quatro horas não se aplicava aos
advogados que trabalhassem mediante qualquer tipo de relação em sociedades de advo-
gados. Então, como se pode ver, essas discussões que no começo ocorriam em âmbito re-
lativamente restrito, em conversas do Orlando com o Pinheiro Neto, foram se amplian-
do, e por iniciativa do Orlando fundou-se o CESA, com talvez uns 10 ou 11 escritórios
fazendo parte do núcleo inicial. Sendo assim, eu diria que os momentos iniciais do CESA
foram devotados à criação de uma identidade institucional da sociedade de advogados,
que na década anterior não eram sequer bem vistas aqui no Brasil.”
A expansão territorial do CESA
“Na minha gestão o CESA ainda estava um pouco acanhado geograficamente, es-
távamos restritos a escritórios de São Paulo, muitos dos quais tinham conexões com o
Rio de Janeiro, tinham unidades tanto em São Paulo quanto no Rio. Mas logo depois o
CESA começou sua expansão, e hoje tem relevância nacional.”
O futuro
“Eu não consigo pensar no futuro do CESA sem colocar isso dentro de um contex-
to. Na realidade, a pergunta que eu me faço é o que será do país como Estado de Direito,
quer dizer, qual é o papel que o direito exerce na estrutura e na dinâmica de vida do país.
O futuro do direito será mais ou menos brilhante conforme consiga ou não cumprir os
compromissos com a democracia e o Estado de Direito, conforme consiga angariar a
credibilidade e o respeito institucional da sociedade; nós estamos passando por uma
fase de crise que não é restrita ao mundo do direito, é uma crise da sociedade humana,
uma crise da informação, em que há as informações distorcidas, as informações volun-
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tariamente falsas, e até um questionamento da verdade como sendo um valor perene.
Penso que tudo isso repercute no CESA porque repercute no direito, que é fundamen-
talmente credibilidade, segurança; as pessoas aderem ao direito em busca de segurança
jurídica, mas diante da crise de informação comprometendo o desenvolvimento de uma
sociedade do conhecimento, as instituições que trabalham com o conhecimento e com
a informação – caso da profissão de advogado e da atividade jurisdicional – entram em
crise também. Nesse contexto nós vemos hoje o questionamento, por exemplo, das ativi-
dades do Supremo Tribunal Federal de uma maneira que nós nunca tivemos antes. Tudo
isso para dizer que eu não tenho preocupações com o futuro do CESA, que vai seguir se
desenvolvendo com fidelidade às suas origens, a análise profunda das angústias e das
oportunidades das sociedades de advogados; eu tenho, isso sim, alguma preocupação
com a ordem institucional no que se refere ao Estado de Direito, porque acho que a su-
peração dos conflitos de interesses que nós estamos vivendo hoje tem que causar uma
mudança de patamar em que os interesses individuais cedam lugar aos interesses coleti-
vos mais relevantes, inclusive para garantir a sobrevivência dos interesses individuais.”
ASSISTA À ENTREVISTA
CLEMENCIA WOLTHERS
CESA 40 anos
O futuro
Avó do CESA
CESA 40 anos
“Cheguei ao CESA pelas mãos do dr. Antônio Meyer, eu era uma advogada nova,
e o dr. Antônio Meyer me levou a um almoço do CESA em que estavam, simplesmente,
os advogados mais famosos, mais proeminentes de São Paulo, aqueles de quem a gente
sempre ouvia falar; me lembro que fiquei bem quietinha, ouvindo as pessoas, extrema-
mente envaidecida e grata por estar ali, naquele momento. Foi o inicio de um encanta-
mento. Com as pessoas, as oportunidades e as trocas que o Cesa proporciona a todos que
frequentam as reuniões e eventos. Não perdia uma reunião, m envolvia com os temas
procurava contribuir e aprender, até que eu me tornei a vice-presidente – na época cha-
mava vice-presidente, não presidente – da seccional de Brasília. Durante o meu exercí-
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cio da vice-presidência em Brasília nós fizemos uma aproximação muito grande com a
OAB, da qual surgiu o convênio CESA-OAB para que as reuniões do CESA pudessem ser
realizadas na sede do Conselho Federal da OAB, permitindo uma maior aproximação das
entidades. O presidente do CESA à época era o José Luiz Salles Freire. Aí surgiu a opor-
tunidade de fazer outra parceria, desta vez com o IDP, recém inaugurado curso de Direito
em Brasília. Foram várias iniciativas prestigiando o fato de Brasília ser a capital do país
e o centro do poder. Então foi assim que eu comecei no CESA, eu tive duas gestões como
vice-presidente e depois quem me substituiu foi meu querido amigo Camário, que fez
uma gestão brilhante no CESA Brasília; sou fã do CESA pelos amigos que ganhei, pelas
discussões e temas que tratamos e muito orgulhosa do papel que nossa entidade tem,
hoje, no cenário nacional.”
“Eu acho que já deve ter sido falado aqui, a atual gestão entende que o Cesa precisa
atrair os jovens. Nessa linha, nós revitalizamos o Comitê de Jovens Advogados, estamos
dando espaço a eles. Nós temos muito o que aprender com eles e eles têm muito que
aprender conosco. Ainda uma vez, a troca é fundamental e nós precisamos ser atrativos
para esses jovens advogados, porque são eles que vão daqui a pouco assumir o CESA,
como lá atrás, eu fui levada àquela reunião dos “todo-poderosos do Direito”, da qual eu
nunca me esqueço.
É claro que os jovens de hoje, a chamada geração Z, têm outros desafios, outras
características, nós passamos pela pandemia, por questões de saúde mental, as mídias
sociais que têm um papel transformador na sociedade. Essas são questões que a gente
precisa endereçar, entender e precisa ajudar esses jovens a atravessar para que tenham
um futuro brilhante pela frente. Temos aqui uma grande responsabilidade em nossas
mãos. Eu penso que a gente tem que olhar para o futuro sem se esquecer do passado,
é preciso manter aquele espírito de cordialidade, de colaboração, de troca que sempre
houve no CESA – que sempre foi uma entidade em que são todos concorrentes, mas ami-
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gos, em que as pessoas conseguem transitar, conseguem discordar com elegância, con-
seguem discutir e debater com civilidade, e no fim só há ganho para todo mundo. Então
eu acho que esse espírito de cordialidade, de conversa, de troca que sempre houve com
muito respeito é o legado que temos que transmitir ao caminhar olhando para o futuro.”
ASSISTA À ENTREVISTA
FERNANDA MARTORELLI
CESA 40 anos
Liderança feminina
“Recentemente foi criado o Comitê de Liderança Feminina, que foi gestado dentro
CADEP e agora é um comitê à parte; eu fico feliz também de poder fazer parte desse
comitê, de ter realmente mostrado a importância e a relevância das mulheres dentro da
advocacia, que sempre foi um meio muito masculino. Embora nos últimos anos a gente
tenha visto um crescimento do número das mulheres advogadas, ainda existe uma gran-
de dificuldade para essas mulheres crescerem na carreira e ocuparem cargos de lideran-
ça; sendo assim, impulsionadas por várias mulheres dentro do CESA que fazem esse pa-
pel nos seus escritórios respectivos, a gente entendeu que seria muito importante ajudar
de alguma maneira essas mulheres para mudarmos a realidade. Assim, o mais recente
programa lançado nesse comitê foi o de mentoria, um trabalho para que as mulheres se
sintam competitivas e à vontade para realmente ocuparem os espaços que são delas, que
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não são necessariamente espaços masculinos, para que elas possam realmente assumir
posições de gestão e liderança dentro dos escritórios de advocacia. Eu também faço esse
papel dentro do meu escritório, estimulando e incentivando as estagiárias e as advoga-
das iniciantes a crescerem, mas nessa seara o exemplo é muito importante, por isso a
mentoria.”
O futuro
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ASSISTA À ENTREVISTA
FERNANDO SALVIA
CESA 40 anos
Nós temos que pensar realmente na continuidade do trabalho que foi iniciado
pelos fundadores do CESA, com essa visão muito objetiva de trazer educação e pro-
porcionar troca de experiência entre as sociedades de advogados – é impressionante a
abertura que os sócios dos escritórios têm para trocar experiência, para dizer quais são
os problemas, para discuti-los e levar para as diretorias para podermos enfrentá-los, seja
no Poder Judiciário, como amicus curie em alguma ação, seja juntando várias entidades
de prestadores de serviços regulamentados que sofrem do mesmo problema, seja indivi-
dualmente. O CESA é muito cauteloso para não entrar em qualquer discussão, mas aque-
las discussões que realmente atingem as sociedades de advogados e a comunidade ju-
rídica como um todo tornam-se temas extremamente bem estudados, enfrentados com
qualificação. Aos 40 anos, o CESA está no momento de passar por uma transformação,
momento de trazer novos advogados – lá em 1983 os advogados que fundaram o CESA
tinham 35, 40 anos, então a turma nova com essa idade que está dentro das sociedades
tem que começar a se mexer. Tem tanta coisa nova vindo pela frente, de inteligência
artificial à parte penal internacional, a questão das empresas brasileiras que querem ir
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para o exterior, a transmissão das informações via tik tok, linkedin, instagram, e tudo
isso daí faz parte da nova advocacia, então os jovens têm que vir, os filhos dos sócios têm
que vir, e cabe a nós, os jovens há mais tempo, ajudar esses jovens a virem participar do
CESA como nós participamos lá no passado. É preciso abrir novas frentes para defender
os interesses da nossa querida instituição.”
GISELA DA SILVA FREIRE
CESA 40 anos
O começo
Meu primeiro contato com o CESA, aconteceu quando eu ainda era uma jovem
advogada da área trabalhista do Pinheiro Neto. Naquele tempo, a Clemência era a sócia
gestora do escritório e o CESA ainda era uma entidade em desenvolvimento, que estava
sendo moldada para se tornar o que é hoje. Não eram muitos os grandes escritórios
naquela época, mas já havia a compreensão de que o CESA não poderia descuidar das
relações entre as sociedades de advogados e seus profissionais. Com essa visão, meu
então chefe, Antonio Peres Picolomini, liderou, juntamente com o Dr. Alaor Haddad, a
concretização de um braço trabalhista do CESA, corporificado no Sindicato das Socie-
dades de Advogados dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro (SINSA). Quando deixei
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Pinheiro Neto, eu ainda não participava das reuniões do CESA, as quais eram mais
restritas aos sócios dos escritórios de advocacia. Poucos anos após a minha saída do
escritório, recebi um convite para assumir o cargo de Delegada Sindical do SINSA. E foi
por essa porta que ingressei no Comitê Trabalhista do CESA, à época coordenado pelo
Sólon Cunha.
Com o passar dos anos, participei cada vez mais das reuniões do Comitê e me en-
volvi mais profundamente com os assuntos de ambas as entidades. Sempre encarei essa
atividade institucional como algo muito especial, onde desenvolvi muitas das minhas
competências e solidifiquei grandes amizades. O reconhecimento pelo meu trabalho no
SINSA veio de meus pares, que generosamente me deram a oportunidade de assumir vá-
rios papeis no sindicato. Passei por cargos de Delegada Sindical, Suplente de Conselho,
Conselheira, Diretora, Vice-Presidente e hoje ocupo Presidência do Sindicato. Esse reco-
nhecimento veio também por parte do CESA, que me deu a oportunidade de coordenar o
Comitê Trabalhista, juntamente com Antonio Carlos Aguiar e Luis Guilherme Migliora,
atuais Vice-Presidentes do SINSA.
O presente
Olhando pelo retrovisor, não é difícil, para mim, afirmar, que o CESA e o SINSA
foram dois grandes presentes que a vida institucional me proporcionou.
E com esses presentes vieram também grandes desafios. Trabalhamos, por exemplo,
no aprimoramento de modelos de configurações profissionais que fizessem sentido para
as sociedades de advogados. Fomos ao Congresso Nacional e participamos de audiências
públicas para explicar a realidade dos escritórios de advocacia, escrevemos artigos, mi-
nistramos palestras, enfim, percorremos um longo e difícil caminho que certamente não
teria chegado aos bons resultados que chegaram, se não fosse pela atuação do CESA e do
SINSA. Com o advento da Reforma Trabalhista, que inicialmente se esperava que alterasse
não mais do que dez artigos, fomos surpreendidos com uma mudança substancial da CLT.
O Comitê Trabalhista realizou diversas reuniões com estudiosos do Direito do Trabalho,
advogados, membros do Ministério Público e do Judiciário, sempre com o intuito de pro-
porcionar oportunidades de discussão de temas atuais e de aprendizado. Durante os anos
de pandemia, nos esforçamos para compreender as necessidades das sociedades de ad-
vogados e buscar soluções negociadas com os sindicatos de trabalhadores. Participamos
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também de reuniões com os chefes do executivo estadual e municipal para, juntamente
com outras entidades da advocacia, estabelecer protocolos sanitários a serem seguidos
pelos escritórios. Sem dúvida alguma, a liderança do CESA foi essencial para o enfrenta-
mento esse período desafiador, que alterou significativamente o modo de trabalhar.
O futuro
O CESA é uma potência associativa, com diversos braços temáticos, sempre atento
às mudanças que podem impactar as sociedades de advogados. Portanto, não faltará
capacidade e criatividade para enfrentar os desafios que o futuro trará. Em especial na
área do trabalho, penso que os escritórios de advocacia devem investir em diversidade,
e capacitar tanto jovens advogados quanto profissionais experientes para lidar com as
novas tecnologias e com a inteligência artificial. Nesse cenário, o CESA terá um papel
importantíssimo para promover iniciativas que estimulem a atualização e capacitação
dos profissionais, além de incentivar a discussão e implementação de políticas que for-
taleçam a inclusão e a inovação no campo jurídico, contribuindo assim para o fortaleci-
mento e desenvolvimento contínuo da advocacia no país.
ASSISTA À ENTREVISTA
GUSTAVO BRIGAGÃO
CESA 40 anos
“Desde as priscas eras, sempre admirei o CESA, a forma como a entidade se por-
tava em relação aos grandes problemas que a advocacia, mais especificamente, que as
sociedades de advogados enfrentavam.
Por volta do ano 2000, houve uma questão tributária que envolvia o ISS das socie-
dades de advogados, cujo regime especial a que elas faziam jus seria revogado. O assunto
foi comentado no escritório do qual eu era sócio na ocasião, e, de imediato, me interessei
em participar de alguma iniciativa no sentido de evitar o retrocesso.
O caminho natural seria ir ao Congresso Nacional e tentar convencer os nossos
parlamentares do equívoco que seria a revogação desse regime especial. Examinando o
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leque de opções relativo às instituições que poderiam ter representatividade suficiente
para esse fim, cheguei a ingressar nos quadros de algumas delas, mas vi que o CESA se-
ria o melhor caminho. Foi por meio dele que, lá por volta dos anos 2001, 2002, nós nos
debruçamos sobre o projeto do qual resultou a Lei Complementar 116/03, a lei geral de
incidência do ISS. Esse projeto, na sua redação original, revogava expressamente os dis-
positivos que tratavam do regime especial de ISS fixo para as sociedades profissionais.
Formamos um grupo de nove Conselhos Federais, que representavam várias pro-
fissões regulamentadas, tendo em vista que a nova tributação não atingia somente a
sociedade de advogados, mas também a sociedade de médicos, dentistas, arquitetos, en-
genheiros entre outros.
Naquela ocasião, não havia, como hoje, tecnologia que permitisse reuniões com
parlamentares de forma remota. Então, tínhamos que ir fisicamente a Brasília e fazer
essas reuniões pessoalmente. E foram várias, com deputados e senadores, e, ao final,
conseguimos, com total apoio do CESA, com toda a infraestrutura de que ele disponibi-
lizava, com o Comitê Tributário, que reunia pessoas do mais alto nível, mais alto gaba-
rito, conseguimos convencer os parlamentares de que o projeto não deveria ir naquela
direção, que o artigo 9º, parágrafos primeiro e terceiro do Decreto-Lei 406/1968, que dis-
punha sobre o regime especial das sociedades de advogados, não deveria ser revogado,
como se propunha. Obtivemos êxito. Esse dispositivo acabou sendo o único – repito, o
único – de todos os do D.L. 406/68, que não foi revogado expressamente. Ali eu me apai-
xonei pelo CESA, ali eu vi que havia força nesse grupo, uma força de agregação. Naquela
época, a instituição tinha aproximadamente 20 anos, metade da idade que tem hoje.”
“O CESA era muito voltado para questões relativas à gestão de escritórios, mas não
só isso. Ele foi se expandido e, com essa expansão, foram sendo criados comitês dos mais
diversos ramos do Direito: Comitê Tributário, Comitê Societário, Penal, Trabalhista, en-
fim, comitês que tratavam de todas as questões que poderiam, de alguma forma, ser de
interesse dos escritórios de advocacia. O CESA é um Centro de Estudos. Os comitês são
o cérebro do CESA, onde todos estudam cada uma dessas matérias [que dão nome aos
comitês]. Há também as seccionais do CESA, que foram sendo constituídas pelo Brasil
afora à medida que ele ia se expandindo – hoje em dia são 16 seccionais. São os braços
do CESA.
58
Assim, a partir de todo esse exame profundo que fazemos sobre os mais diversos
assuntos, tanto no que diz respeito à gestão dos escritórios, como dos temas tratados
pelos Comitês, fazemos com que esse conhecimento seja transmitido às seccionais e,
com isso, atendemos às associadas em todos os quatro cantos do país.”
“À medida em que fui convivendo com o CESA, fui me apegando cada vez mais à
instituição. Depois de certo tempo, eu me tornei presidente da seccional Rio de Janeiro,
pude ver como funcionava uma seccional, como aqueles princípios trazidos do CESA
nacional poderiam ser implementados localmente num grupo de sociedades que não
compartilhava do convívio do CESA central, mas que, de alguma forma, se beneficiava
de todas aquelas atividades exercidas no seu âmbito. Começaram a surgir, também, os
comitês locais, que conversavam com os nacionais.
O meu envolvimento com a instituição foi crescendo, passei a integrar a sua di-
retoria executiva, onde pude enxergar, ainda mais, qual era o seu espírito, os princípios
que a regiam. Foram várias as questões tratadas. Cito, como exemplo, as invasões da Po-
lícia Federal em escritórios de advocacia, que geraram absoluta perplexidade em todos
nós. A reação foi imediata, sempre em absoluta sintonia com a OAB, que é a instituição
que regula a nossa atividade. As notas que emitimos na época foram muito profícuas no
sentido de demonstrar o absurdo que ocorria ali.
60
ASSISTA À ENTREVISTA
HORACIO BERNARDES NETO
CESA 40 anos
“Eu posso dizer que os velhos amigos do CESA estão na lista dos meus melhores
amigos.”
“Eu primeiro preciso falar um pouco da minha sensação com relação ao CESA. Não
sou fundador do CESA no sentido de que não assinei aquela ata de fundação famosa, que
é a ata do Orlando, aquela carta que o Orlando mandou para todo mundo, mas na época
eu era sócio do escritório Castro e Barros, que foi convidado para a fundação e cujo sócio
principal esteve presente naquela data, mas depois pediu a mim que fizesse a represen-
tação do escritório. Então eu tenho representado o meu escritório – o escritório no qual
eu estou presentemente, os escritórios em que eu estive anteriormente – no CESA desde
a fundação.”
63
CESA, experiência única
“O CESA é uma oportunidade imensa que foi dada a nós advogados brasileiros de
podermos viver numa harmonia que não é comum; quando você conta sobre o CESA em
outros lugares do mundo as pessoas ficam completamente boquiabertas diante do fato
de que os advogados, os grandes concorrentes entre si, as pessoas que legitimamente
lutam pelo mesmo serviço, lutam pelo mesmo cliente, disputam o mercado, têm um
grau de amizade, de entendimento tão grande, que é o que permite, inclusive, uma fa-
cilitação do negócio, porque se você conhece o seu ex adverso, se você conhece a pessoa
com quem você está fazendo negócio, se essa pessoa tem obrigação de te ver depois
daquele dia da reunião porque ela também está no CESA, ou o escritório dela está no
CESA, isso gera um clima de confiança, de respeito mútuo, que é muito importante, e
o CESA conseguiu gerar isso. Nesse sentido o CESA é uma experiência quase única no
mundo, eu tive outras experiências em organizações internacionais, fui presidente da
AIJA, fui presidente da IBA, mas não conheço em nenhuma outra jurisdição no mundo –
eu não conheço, pode até haver, mas não conheço – nada que se compare ao CESA, uma
reunião fraternal de advogados que discutem os seus assuntos e que por outro lado,
sem nenhuma espécie de rusga, sem nenhuma espécie de desentendimento, disputam
o mercado.”
“Eu fiz parte de uma época vibrante do CESA, que foi quando a entidade começou a
lançar suas raízes, quando o Orlando era presidente, o grande deus ex machina do CESA,
o homem que concebeu e que dedicou a sua vida, a sua energia, que era imensa, a fazer
o CESA chegar aonde chegou. O Orlando foi presidente por muitos anos, passou para a
Clemencia, e depois finalmente eu fui o primeiro presidente que não estava lá na ata da
fundação. Da minha gestão eu me lembro muito e gosto muito de mencionar o CESA
Day, que a gente fazia lá no Hotel Mercure. Era uma reunião geral, um dia estabelecido
para as reuniões de todas as comissões, ou seja, a gente passava o dia lá, almoçava, pas-
sava a tarde inteira e depois fazíamos a reunião geral. As reuniões das comissões esta-
vam sempre cheias, sempre animadas, e eu gostava muito. Um dos grandes prazeres que
eu tinha naquela ocasião era passar a tarde indo de uma comissão a outra, vendo o que
eles estavam falando, me atualizando dos assuntos que eles estavam tratando. Obvia-
64
mente, ainda acontecem as reuniões das comissões, mas não existe mais esse conceito
de que tudo acontece no mesmo dia.”
“Eu também tive grande prazer de ter podido participar do grupo de advogados
que na época tinha ligação muito forte com o Poder Legislativo e que ajudou a criar a
Frente Parlamentar dos Advogados, na época coordenada pelo Luís Piauhylino, ex-sena-
dor, então deputado federal. Foi uma época de muita modificação estrutural, houve vá-
rios assuntos éticos, a entrada dos [advogados/escritórios] estrangeiros, a permissão da
manutenção da denominação da sociedade mesmo com o falecimento do sócio que lhe
desse nome – que aliás era um problema que existia para mim na época, porque o nosso
escritório tinha um nome de um sócio morto e a Ordem queria que nós tirássemos. Mas
como eu ia dizendo, o Provimento dos estrangeiros foi feito na nossa época, eu trabalhei
muito para tal Provimento, e acho que foi um marco na história da advocacia corporativa
no Brasil; nós dissemos, querem vir, venham, mas serão fiscalizados pela Ordem, serão
registrados na Ordem, a gente vai saber quem são vocês, vai saber o que vocês estão fa-
zendo. Isso está funcionando até hoje.”
Pro bono
“Também muito importante na minha época foi o assunto que se referiu ao pro
bono. Havia resistência da Ordem dos Advogados de permitir que os advogados fizessem
pro bono porque consideravam-no uma forma de propaganda desleal, digamos assim. Se
você pensar seriamente não é tanta bobagem, se você advogar de graça para quem pode
lhe mandar serviços magníficos. Eu fui da comissão instituída então pelo presidente da
Ordem, que era o Carlos Miguel, e que percorreu toda aquele caminho que acabou con-
duzindo à regulamentação da atividade pro bono, que hoje é um dos grandes cartões de
visita das sociedades de advogados.”
O futuro
“O CESA não pode ser uma reunião de advogados consagrados, conhecidos, ami-
65
gos. O CESA precisa motivar a juventude, precisa motivar novos talentos, novos interes-
ses. Isso está sendo feito e com muita propriedade, com muita proficiência, mas eu acho
que é nisso que a gente tem que se fixar. Hoje em dia há um software que permite uma
administração melhor do que aquela que a gente tinha na nossa época, permite ter mais
membros, e a capilaridade do CESA é completamente extraordinária, o CESA está em
todos os estados da Federação muito bem representado, uma representação efetiva dos
grandes escritórios de advocacia em todas as unidades da Federação, isso gera uma pos-
sibilidade de futuro imensa, porque esses escritórios continuarão, terão novas lideranças,
terão novos interesses e esses interesses serão então trazidos para o CESA. A advocacia
vai mudar, não tem dúvida, a inteligência artificial não vai substituir ninguém, mas cria
uma possibilidade de pesquisa, por exemplo, que faz com que menos advogados sejam
necessários para algumas funções dentro do escritório. O momento é muito desafiante
para os jovens advogados, e eu gostaria muito que eles usassem esse momento para mo-
dificar o direito e aproveitar e incluir nessa modificação da forma de advogar uma atenção
muito especial para os direitos humanos, para o direito de defesa, para o rule of law; seria
muito bom se todas essas modificações que a inteligência artificial e a tecnologia estão
trazendo melhorassem ainda mais a nossa atuação como agentes do bem na sociedade.”
ASSISTA À ENTREVISTA
JOSÉ LUIS DE SALLES FREIRE
CESA 40 anos
Minha presidência
CESA 40 anos
Nascido da amizade
“Nessa época em que eu comecei no CESA acho que a única mulher era a Cle-
mencia, essa figura espetacular, que é uma representação total do CESA e que sempre
contribuiu e continua contribuindo até hoje para o desenvolvimento do CESA. Quando
eu cheguei, além de mim passou a ter também uma outra advogada chamada Perla; en-
tão éramos as três, e da mesma forma nas sociedades de advogados também não tinha
muitas mulheres, mesmo associadas. Começar a incluir mulheres nas sociedades foi uma
luta! É preciso registrar que o Syllas é uma pessoa que sempre quis a presença feminina
nas sociedades de advogados, que sempre me provocou para esse tema. É nítido que hoje
as sociedades estão em um patamar muito melhor a esse respeito, estão muito melhores
que no passado, mas ainda não estão em um ponto que eu diria ‘adequado’. Por tudo isso
nós nos preocupamos com esse tema no CESA: temos o grupo de liderança feminina, na
minha gestão na vice-presidência inauguramos um curso de mentoria, que agora está
sendo repetido, tudo isso tem ajudado a incrementar a participação da presença femini-
na nas sociedades de advogados como um todo.”
Projetos sociais marcantes
O futuro
CESA 40 anos
“A gente costuma dizer que o CESA cresceu rápido, mas estamos vendo que foi ao
longo de 40 anos, então olhando pelos bastidores, é possível perceber que foi muito tra-
balho executado. É que realmente foi muito produtivo, uma associação nascida a partir
da cooperação entre os escritórios que ganhou essa dimensão.
Quando eu entrei no CESA, era um grupo pequeno, era muito fácil a gente saber
quem era quem, tratar todos pelo nome, identificar facilmente cada um e os próprios
escritórios, sabendo a área de atuação de cada um. Hoje isso tudo fica um pouco mais
difícil pela grandeza que tomou; de uma lista fácil de manusear, passamos a um banco
de dados para tratar tudo isso, para coordenar a parte de escritórios associados, os con-
75
tatos. À medida que o CESA foi crescendo, a gente foi aprimorando o controle, os instru-
mentos de governança foram tomando corpo, assim como os escritórios também foram
crescendo, se profissionalizando; o CESA acompanhou essa evolução.
Muitos escritórios associados talvez não tenham a visão do trabalho que há por
trás de uma entidade como o CESA. Quando o tema é tratado em um dos comitês, por
exemplo, ele já foi muito debatido, muito detalhado internamente para saber qual cami-
nho tomar, qual proposta apresentar; é um trabalho muito intenso que não é fácil de ser
identificado por quem está de fora. O trabalho não é só da diretoria, mas de todo o gru-
po que colabora; muitos escritórios associados, mesmo não tendo um cargo efetivo na
diretoria do CESA ou nos comitês participam, contribuem de uma forma bastante rica.
Eu acho que eu contribuí para esse controle, de alguma maneira ajudei a adminis-
trar tudo isso, mas sem dúvida o crescimento se deu mesmo em razão da importância
das discussões que foram travadas ali, dessa cooperação que foi a base de tudo.”
O futuro
“O futuro é bastante desafiador, não só para o CESA, mas para todos os escritó-
rios. Tem a questão da inteligência artificial, isso é um fato, e vai impactar em todas as
áreas. E como foi bastante falado aqui também, é bastante importante a participação dos
jovens, a quem deve ser apresentada a visão de que o CESA teve em sua criação e desen-
volvimento uma união por parte de todos os escritórios fundadores. É preciso perceber
que de fato essa união é que vai fazer o CESA crescer. Precisamos atrair esses jovens
advogados para que eles possam dar continuidade ao CESA e trazer também aquilo que
eles entendem que é importante para o nosso universo jurídico, para estar sendo discu-
tido, trabalhado, enfim.”
ASSISTA À ENTREVISTA
STANLEY MARTINS FRASÃO
CESA 40 anos
O futuro
“Eu vejo o CESA outros 40 anos, ou outros 80, chegando a 120, e assim seguindo!
A sociedade de advogados da qual faço parte completou este ano 105 anos de existência,
e pela construção que vem sendo feita no CESA, pelo interesse em sua continuidade, em
razão das pautas que constrói e defende para o universo das sociedades de advogados,
creio que será assim! E tudo isso tem origem no CADEP; se o CADEP não existisse, talvez
o CESA não fosse essa potência que é hoje!”
81
ASSISTA À ENTREVISTA
WOLNEI TADEU FERREIRA
CESA 40 anos
Comitê Trabalhista
O futuro
85
COMITÊS
ADMINISTRAÇÃO E ÉTICA PROFISSIONAL – CADEP
91
CESA JOVEM
Coordenadores:
Pedro Paulo Salles Cristofaro1
Ricardo Lara Gaillard2
Sonia Marques Döbler3
Vivian Fraga do Nascimento Arruda4
Há quarenta anos, quando o CESA foi criado, os temas objeto de seu Comitê de
Concorrência e Relações de Consumo não tinham, nem de longe, a relevância de hoje
em dia.
A bem da verdade, embora desde 1962 o Brasil tivesse uma lei de repressão ao
abuso do poder econômico e uma autoridade de “defesa econômica”, o CADE, pode-se
dizer que somente a partir de 1994, com a Lei no 8.884, o direito concorrencial se desen-
97
volveu no Brasil, passando não apenas a ser aplicado, mas a fazer parte do cotidiano das
empresas e dos advogados.
Não foi diferente com o tema das “relações de consumo”, termo que somente se
integrou ao sistema jurídico brasileiro em 1990, com a edição do Código de Defesa do
Consumidor.
Assim, o CESA, honrando seu protagonismo, e antes mesmo de ter um Comitê
voltado para essas matérias, acompanhou pari passu o desenvolvimento do direito con-
correncial e do direito do consumidor no Brasil, servindo como uma arena na qual os
profissionais da advocacia puderam trocar ideias, experiências e conhecimentos sobre
os novos ramos que floresciam.
Guilherme Mota
Marina Maciel
A Política Nacional do Meio Ambiente, estabelecida pela Lei nº. 6.938/1981, trouxe
um olhar inovador para o conceito de poluidor, sendo este “a pessoa física ou jurídica, de
direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de
degradação ambiental” (art. 3, IV). A norma, contudo, não trouxe uma definição exata do
que seria o poluidor indireto, sendo um conceito jurídico abstrato.
Neste contexto, a doutrina e a jurisprudência vêm há anos evoluindo na concei-
tuação ampla de poluidor indireto. Os Tribunais têm casuisticamente aplicado a solida-
riedade entre os agentes poluidores, diretos e indiretos, inclusive vinculados por mera
101
relação comercial, cujas atividades concorreram para o dano, bastando para tanto a exis-
tência de nexo de causalidade1. Em alguns casos, percebe-se um alargamento do con-
ceito de poluidor indireto de forma direcionada a outras pessoas jurídicas (numa mes-
ma cadeia produtiva, por exemplo) que possam ser de alguma forma entendidas como
responsáveis, de modo a assegurar financeiramente a reparação do dano (deep pocket
doctrine).2
A necessidade de diferenciação das condutas entre “poluidor direto” e “poluidor
indireto” tem inclinado a doutrina a atribuir como critério de responsabilização do in-
1 “Para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano ambiental, equiparam-se quem faz, quem não faz
quando deveria fazer, quem deixa fazer, quem não se importa que façam, quem financia para que façam, e quem
se beneficia quando outros fazem” (STJ, REsp nº 650.728/SC, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 23/10/2007, publicado em 02/12/2019).
2 STJ, AgInt no AREsp nº 1250031/SP, 1ª Turma, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 28/09/2020, publicado
em 30/09/2020; STJ, REsp nº 467212/RJ, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/10/2003, publicado em
15/12/2003.
direto o rompimento de um dever de cuidado, bem como a relevância da sua ação para
o dano.3 Note-se, contudo, que o conceito de poluidor indireto só se estende àqueles
indivíduos cujas ações ou omissões tenham sido (efetiva e comprovadamente) uma das
causas do dano ambiental.4-5
Assim, entender as premissas legais que norteiam a configuração do nexo causal é
de suma importância. Vigora, no direito brasileiro, o princípio de causalidade adequada
(ou do dano direto e imediato)6 e por esta razão, conforme já definiu o Superior Tribunal
de Justiça (“STJ”), é imprescindível a demonstração da existência de nexo de causalidade
apto a vincular o resultado lesivo efetivamente verificado ao comportamento (comissivo
ou omissivo) daquele a quem se repute a condição de agente causador.
A título exemplificativo, o STJ decidiu pela inexistência de nexo de causalidade en-
tre os danos ambientais (e morais a eles correlatos) resultantes da explosão de um navio
e a conduta das empresas adquirentes da carga transportada pela referida embarcação.
Neste caso, entendeu-se que não houve comportamento omissivo dos adquirentes da
carga, pois não havia risco de explosão ínsito ao transporte marítimo, não foram eles
que contrataram o transporte da carga que lhes seria destinada, e a explosão foi causada
102
3 “Em direito ambiental (entre outras áreas de inerente complexidade), quando diversos fatores ou agentes con-
tribuem de forma substancial para o resultado danoso, o conceito tradicional de nexo causal exige releitura.
A impossibilidade de prova (positiva ou negativa, com inversão do ônus probatório) da influência específica
do ato (omissivo ou comissivo) para o dano não pode inviabilizar a tutela protetiva do meio ambiente. Nessa
circunstância, deve-se verificar a relação entre a conduta (ativa, negligente ou omissiva) verificada e o dever do
imputado em evitá-la, bem como sua relevância para o resultado, e não exatamente a causalidade (conceito ele
próprio impreciso e variável conforme as concepções epistemológicas adotadas) concreta e determinada entre a
ação/omissão e o dano ambiental”. (STJ, AREsp 1945714/SC, 2ª Turma, julgado em 24/05/2022, publicado em
20/06/2022).
4 TJSP, AI nº 990.10.212623-4, Rel. Des. Renato Nalini, Câmara Reservada ao Meio Ambiente, julgado em
19/08/2010, publicado em 19/08/2010.
5 TJRS, AC nº 70014126130, Rel. Des. Matilde Chabar Maia, Terceira Câmara Cível, julgado em 19/10/2006.
6 STJ, REsp nº 1198829/MS, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 05/10/2010, publicado em
25/11/2010.
pelo combustível do navio, e não pela carga transportada.7
Na mesma toada, há alguns anos se discute a linha do que consistiria na ação ou
omissão de instituições financeiras a atrair a responsabilidade dessas por danos cau-
sados em decorrência de atividades financiadas. Apesar de extensa discussão, ainda há
grande indefinição sobre o tema, restando certo apenas que o nexo de causalidade deve
ser avaliado com cautela. O puro e simples ato de financiar uma empresa, de forma geral,
mormente seguindo as diretrizes aplicáveis às instituições financeiras, não deve atrair
a responsabilidade de financiadores8. As especificidades do caso e do financiamento, o
disclosure de informações, a expertise necessária para a apuração dessas e outros tantos
7 STJ, REsp nº 1596081/PR, 2ª Seção, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgamento em 25/10/2017, publi-
cado em 22/11/2017; STJ, AgInt na AR nº 7070/DF, 2ª Seção, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 28/09/2022,
publicado em 13/10/2022.
Alexandre Atheniense1
1. O que os advogados precisam saber para defender seus clientes na era digital
A era digital trouxe mudanças significativas para o campo jurídico, expondo ad-
vogados a desafios multifacetados. A ascensão dos crimes e fraudes online, exacerbada
pela pandemia, evidenciou a vulnerabilidade dos sistemas e a necessidade de profissio-
nais do direito aprofundarem seu conhecimento em segurança cibernética e manejo de
evidências digitais.
A coleta e análise de provas digitais, como metadados, tornaram-se essenciais
para a autenticação e validação de evidências. A capacidade de interpretar e apresentar
107
adequadamente essas provas é crucial no cenário legal atual.
A proficiência em aspectos técnicos e legais associados às provas digitais é uma
necessidade para garantir a integridade do processo legal, evitar erros judiciais e maxi-
mizar as chances de sucesso nos casos.
A incidência crescente de golpes digitais, fraudes cibernéticas e crimes online in-
tensificou a importância do exame das provas digitais nos tribunais.
A advocacia moderna demanda que os advogados que desejam ter sucesso em seus
casos saibam como coletar, preservar, analisar e apresentar provas digitais de forma eficaz.
As provas digitais podem aumentar as chances de vitória, evitar erros judiciais e
acelerar o processo judicial.
A incidência crescente de golpes digitais, fraudes cibernéticas e crimes online,
acentuada durante e após a pandemia, intensificou a importância do exame das provas
digitais nos tribunais.
1 Coordenador da Comissão de Direito Digital do CESA, sócio fundador de Alexandre Atheniense Advogados
com atuação na área de Direito Digital e consultoria sobre provas e golpes digitais.
Um estudo de jurimetria que coordenei desde o ano passado, focado na identifica-
ção do aumento de golpes digitais, julgados no Tribunal de Justiça de São Paulo, entre o
segundo semestre de 2020 e o primeiro semestre de 2023 revelou que já foram decididos
38 modalidades diferentes de golpes nesse período.
Esse aumento é resultado de uma série de fatores, incluindo a mudança do foco
dos ataques hackers do ambiente corporativo para o home office, onde as vítimas são
mais vulneráveis.
Como resultado, o judiciário enfrenta um novo cenário de incidentes marcados
pela complexidade e pela necessidade de perícias técnicas especializadas em provas di-
gitais.
A advocacia moderna praticada com o suporte de provas digitais e demandante
quanto ao enfrentamento de golpes digitais, é uma realidade emergente que exige que os
advogados se adaptem a essa nova realidade. A proficiência em aspectos técnicos e legais
associados às provas digitais é uma necessidade para garantir o sucesso profissional.
Cada plataforma digital tem metadados que são referências que podem variar em
cada caso. Quanto mais metadados uma plataforma dispuser, mais robusta a prova. Uma
simples mensagem de whatsapp por exemplo pode gerar até 10 metadados diferentes.
• A análise dos metadados também serão relevantes para as seguintes situações:
• Computadores e celulares: Rastrear atividades, acessos e modificações; ofere-
cer insights contextuais sobre a origem, autenticidade e integridade das evi-
dências.
• Banco de dados e redes sociais: Detectar e revelar tentativas de manipulação
ou fraude; revelar dados ocultos imperceptíveis pelo leigo.
• Imagens forenses e multimídia: Validar a autenticidade, data, hora e local de
criação; iluminar aspectos subjacentes que são imperativos para a solidez pro-
batória.
• Rastreamento de torres de celular e GPS: Reconstituir padrões de localização e
movimentação com precisão; conferir validade e confiabilidade às conclusões
derivadas.
• Transações em blockchain e criptomoedas
• Decisões automatizadas realizadas por algoritmos que podem descriminalizar
pessoas
A preservação da cadeia de custódia das provas, nos anos mais recentes, tem se
consolidado, como um tema de grande relevância na jurisprudência brasileira.
As recentes decisões do STF enfatizaram sua importância, exigindo rigor técnico e
ético na admissão e avaliação de provas digitais em processos judiciais.
Um exemplo é a decisão do Ministro Dias Toffoli no processo STF Pet 11446, onde
anulou provas do acordo de leniência da Odebrecht, destacando a responsabilidade do
Estado e do Ministério Público na obtenção e manuseio das provas.
O Ministro Lewandowski também apontou falhas na cadeia de custódia e a inu-
tilidade de provas contra Geraldo Alckmin, reforçando a necessidade de integridade e
confiabilidade das evidências em juízo.
Essas decisões firmam dois aspectos cruciais na jurisprudência: o reconhecimento
da inutilidade de provas contaminadas e a necessidade de perícia técnica adequada. O
STF busca identificar a origem da contaminação probatória, ressaltando o dever do Es-
tado na preservação da cadeia de custódia.
O impacto dessas decisões é claro, pois provas ilegais ou contaminadas não têm
lugar em nenhum processo, garantindo os princípios do contraditório, ampla defesa e
devido processo legal.
Outro caso importante envolveu a relatoria do Ministro Gilmar Mendes, que or-
denou o desentranhamento de uma prova digital por falta de perícia técnica adequada e
disponibilidade integral do vídeo. Isso enfatiza a importância de uma cadeia de custódia
sólida.
As decisões recentes do STF têm demonstrado a necessidade imperativa da preser-
vação da cadeia de custódia íntegra e confiável, sob pena de desconsideração da prova
e comprometimento da ação penal. É importante ressaltar que a responsabilidade do
Estado e do Ministério Público sobre este tema é absoluta.
A anulação de provas nesses casos ressalta a importância da integridade e validade
das provas, garantindo os direitos fundamentais e o devido processo legal. A preservação
da cadeia de custódia é essencial para a realização da justiça e a garantia dos princípios
constitucionais na instrução processual brasileira.
Em síntese, as decisões do STF solidificam a compreensão de que a integridade da
cadeia de custódia é fundamental para a justiça e o cumprimento dos princípios consti-
tucionais na instrução processual brasileira.
111
7. Conclusão
112
DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES
Afirmar que a advocacia contemporânea não é mais a mesma que se via há algu-
mas décadas é quase uma frase clichê. A constatação de que aquele profissional que
atuava quase que exclusivamente na esfera judicial e contenciosa foi substituído por um
outro, de necessárias habilidades multifacetadas e de atuação consultiva, salta aos olhos
daqueles que atuam no mercado jurídico.
De fato, a evolução cultural e social impulsionou alterações em todos os campos
113
1 Sócia do Silvia Felipe e Eleonora Mattos Advogados. Advogada graduada pela USP. Especializada em Direi-
to de Família e das Sucessões e em Direito Processual Civil. Membro da Comissão Especial da Advocacia
de Família e Sucessões da OAB/SP – triênio 2022-2024. Associada do Instituto Brasileiro de Direito de
Família – IBDFAM. Integrante da Comissão de Estudos de Direito de Família e Sucessões do Instituto dos
Advogados de São Paulo – IASP. Coordenadora do Comitê de Direito de Família e Sucessões do CESA.
2 Sócia do MLD Advogados. Advogada graduada pela PUC/SP. Mestre em Direito Civil Comparado. Conse-
lheira Estadual e Secretária da Comissão da Mulher Advogada da OAB/SP – triênio 2022-2024. Associada
do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM e do Instituto dos Advogados de São Paulo – IASP.
Conselheira e Coordenadora do Comitê de Direito de Família e Sucessões do CESA.
3 Sócia do escritório Hesketh Advogados. Advogada graduada pela USP. Membro da Comissão Especial de
Direito Civil da OAB/SP – triênio 2016/2018, da Comissão Especial da Advocacia de Família e Sucessões da
OAB/SP – triênio 2022-2024 e da Federação de Advogados de Língua Portuguesa – FALP. Associada do Ins-
tituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM. Integrante da Comissão de Estudos de Direito de Família e
Sucessões do Instituto dos Advogados de São Paulo – IASP. Coordenadoras do Comitê de Direito de Família
e Sucessões do CESA.
do direito e no Direito das Famílias e Sucessões, como não poderia deixar de ser, as mo-
vimentações foram ainda mais evidentes. E, sem dúvidas, isso aconteceu pelo simples
fato de que as famílias não são mais as mesmas de outrora, marcadas inclusive pela nova
leitura do conceito de entidade familiar trazida pelo marco emblemático da Constituição
Federal de 1988.
Com efeito, após o advento da Constituição cidadã, não só ao direito privado se
incorporou contornos e princípios constitucionais, como também deslocou-se o enfoque
da primazia da família como instituição para a desejável promoção e tutela da dignidade
de seus membros4.
Um dos maiores exemplos dessa mudança de paradigma, sem dúvida, foi a pro-
mulgação do Estatuto da Criança e dos Adolescentes, a tutelar o superior interesse dos
sujeitos de direito em inegável vulnerabilidade e formação. Pela doutrina de proteção
integral, os filhos, no ambiente da família democrática – e não mais centrada apenas no
antigo poder familiar ou na figura do pater – são sujeito de direitos dignos de máxima
atenção do Estado e da Família.
Houve, outrossim, o reconhecimento constitucional de novas configurações fami-
liares, as quais deixam de ser centradas no casamento para ter distintas conformações.
114
A maleabilidade das relações familiares também revolucionou a atuação do profissional
que atua na área, já que a família contemporânea não é mais aquela de outrora: institu-
cional, engessada, imutável. É família em constante movimentação, que exige da socie-
dade e de seus atores – aqui, os advogados – que se desnudem de seus preconceitos e se
valham de novas habilidades profissionais.
De fato, os casamentos – antes realizados para perdurar “até que a morte os sepa-
re” – já são menos duradouros e indissolúveis. Segundo a última pesquisa “Estatísticas
do Registro Civil do IBGE”, foram celebrados 386,8 mil divórcios em 2021 no Brasil, nú-
mero 16,8% maior em relação ao ano anterior. O tempo médio de duração das relações
matrimoniais sofreu diminuição: de 15,9 anos em 2010, para 13,6 anos em 2021. Não
obstante, os números de celebrações voltaram a crescer: foram registrados 932,5 mil
casamentos em 2021, com alta de 23,2% ante 2020.
O Censo do IBGE realizado no ano de 2010 já apontava que 36,4% dos casais não
possuíam relações formalmente regulamentadas e que 16,3% das famílias existentes
4 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios Fundamentais Norteadores do Direito de Família. 3 ed. São Paulo:
Saraiva, 2016.
eram resultados de recasamentos (números ainda não atualizados pela última pesquisa).
Já o Censo Escolar realizado pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ em 2013 apontou
5,5 milhões de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento, enquanto haviam
2,5 milhões de enteados que moravam com seus padrastos e madrastas.
As significativas mudanças acima indicadas fizeram com que o profissional da área
tivesse que se reinventar. Temas como divórcio direto (sem discussão de culpa, prazo
mínimo de casamento ou requisitos outros), a guarda compartilhada (em consonância
com o novo entendimento sobre o exercício das figuras patentais), a multiparentalida-
de e o reconhecimento das uniões homoafetivas5 (fundamentadas na afetividade como
princípio norteador das relações familiares), por exemplo, exigiram da advocacia dos
últimos anos um olhar mais sensível e atento, inclusive, às interdisciplinariedades.
Além disso, é fato público e notório que a população brasileira está envelhecendo.
No Brasil, a população idosa que, em 2012, representava 11,3% da população, passou
para 15,1% em 2022, segundo dados do último Censo do IBGE.
De todos os desafios que o envelhecimento populacional traz ao país, talvez o
maior deles, seja conseguir que a autonomia do idoso seja salvaguardada e sopesada em
consideração à sua vulnerabilidade, questão que está no cerne do julgamento da cons-
115
titucionalidade do regime da separação obrigatória de bens no casamento de pessoas
maiores de 70 anos de idade, cuja repercussão geral foi reconhecida pelo Plenário do
Superior Tribunal de Justiça e deve ser julgada em breve.
O fato é que, sem respaldo estatal, cabe às famílias originais gerenciar o indivíduo
idoso, em suas necessidades e particularidades. E é no seio desse gerenciamento fami-
liar que, muitas vezes, nos deparamos com questões ligadas às dificuldades práticas na
administração e transmissão patrimonial, realidade que exige da advocacia atenção e
respaldo.
No âmbito do Direito das Sucessões as mudanças igualmente foram perceptíveis.
A pandemia de Covid-19 trouxe luz e urgência para o planejamento sucessório e seus
instrumentos, enaltecendo prática consultiva das mais em voga no momento. Se antes
a atuação do advogado da área limitava-se ao assessoramento da família após o óbito
de um de seus membros, atualmente sua prática volta-se ao entendimento e adoção de
medidas que garantam a efetivação da vontade do planejador ainda não falecido, em
5 Legitimada e reconhecida em nosso sistema por meio do julgamento da Ação Direta de Inscontitucionali-
dade (ADI 4.277) pelo Supremo Tribunal Federal.
absoluta modificação de foco e perspectiva.
Dentre os instrumentos possíveis para tal, mostra-se inquestionável que as direti-
vas antecipadas de vontade e os testamentos – sobretudo, públicos – seguirão crescendo
em número, relevância e inovação em relação ao seu conteúdo e à sua lavratura6.
Nesse sentido, ganhará cada vez mais importância o tratamento sobre a herança
digital, ou seja, a transmissibilidade dos bens digitais do falecido por herança, composta
desde bitcoins até perfis em redes sociais. Sobre os últimos, mostra-se relevante subli-
nhar que talvez não possuam necessariamente viés patrimonial, mas certamente podem
deter valor sentimental para os familiares vivos, a conflitar, ao menos em teoria, com o
direito à intimidade e à privacidade do falecido.
Em relação aos meios de lavratura, insta destacar a inovação trazida pelo Provi-
mento 100 do Conselho Nacional de Justiça ainda quando vigente a pandemia do Coro-
navírus, o qual permitiu a lavratura de testamentos por meio remoto, sem a necessidade
de comparecimento físico do testador e das testemunhas ao cartório, via videoconferên-
cias realizadas dentro do Sistema de Atos Notariais Eletrônicos (o E-Notariado – art. 3º).
Para o futuro, já se conclama a legitimação da possibilidade de feitura de testa-
mentos exclusivamente gravados, por meio de captura de imagem e som do testador e
116
testemunhas7. Além da aposta na popularização da sucessão testamentária no país dian-
te da massiva utilização de smartphones que contam com câmeras acopladas (mais de 1
por habitante)8, há a inequívoca vantagem de se ter registrada a manifestação do próprio
testador na externalização de suas intenções, desejos e motivações, o que atualmente é
6 Mesmo no contexto atual do país, em que grande parte da população não deixará herança passível de
transmissão e que a ordem vocacional da sucessão legítima já possa atender a vontade daqueles que têm
bens.
7 De fato, como ensina lembra Priscila M. P. Corrêa da Fonseca: “Diante das evoluções tecnológicas verifica-
das nas últimas décadas, trata-se de modalidade que já deveria ter sido contemplada pelo legislador, em
razão das inúmeras vantagens que apresenta: praticidade, baixo custo, facilidade de armazenamento, etc”
(Manual do Planejamento Patrimonial das Relações Afetivas e Sucessórias. São Paulo: Thompson Reuterus.
2018. p. 360).
8 https://portal.fgv.br/noticias/brasil-tem-424-milhoes-dispositivos-digitais-uso-revela-31a-pesquisa-anual-
-fgvcia (acesso em 06/10/2023).
objeto de inúmeros questionamentos9.
2. Conclusão
3. Referências
FONSECA, Priscila Corrêa da. Manual do Planejamento Patrimonial das Relações Afetivas e Suces-
sórias. São Paulo: Thompson Reuterus. 2018.
GUILHERMINO, Everilda Brandão. Para novos bens, um novo direito sucessório. In Arquitetura
9 MUCILO, Daniela de Carvalho e TEIXEIRA, Daniele Chaves. COVID-19 e planejamento sucessório: não há
mais momento para postergar in Coronavírus: impactos no Direito de Família e Sucessões. Coord: NEVARES,
Ana Luiza Maia, XAVIER, Marília Pedroso Xavier, MARZAGÃO, Silvia Felipe. Indaiatuba: Foco, 2020, p. 346.
do Planejamento Sucessório Tomo II. Coordenação TEIXEIRA, Daniele Chaves. Belo Horizonte:
2020.
LEAL, Lívia. Internet e a morte do usuário: propostas para o tratamento jurídico post mortem do
conteúdo inserido na rede. 2ª ed. Rio de Janeiro: GZ, 2020.
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios Fundamentais Norteadores do Direito de Família. 3 ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
MUCILO, Daniela de Carvalho e TEIXEIRA, Daniele Chaves. COVID-19 e planejamento sucessó-
rio: não há mais momento para postergar in Coronavírus: impactos no Direito de Família e Su-
cessões. Coord: NEVARES, Ana Luiza Maia, XAVIER, Marília Pedroso Xavier, MARZAGÃO, Silvia
Felipe. Indaiatuba: Foco, 2020.
NEVARES, Ana Luiza Maia, XAVIER, Marília Pedroso Xavier, MARZAGÃO, Silvia Felipe. Conrona-
vírus: impactos no direito de família e sucessões. Indaiatuba: Foco, 2020
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios Fundamentais Norteadores do Direito de Família. 3 ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
118
DIVERSIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL
Alberto Mori
Flavia Regina de Souza Oliveira
Grazielly Rocha de Arruda
Introdução
A advocacia pro bono, ou advocacia para o bem, pode ser definida como espécie de
prática jurídica, de caráter voluntário, que desafia diretamente as barreiras socialmente
postas ao acesso à justiça, por meio do oferecimento de serviços jurídicos gratuitos para
pessoas físicas ou entidades sem fins lucrativos que não dispuserem de recursos finan-
ceiros para tanto. No contexto brasileiro, em especial, essa prática desempenha papel
119
crucial ao exercício da cidadania, ao complementar os esforços do Estado para a garantia
de assistência jurídica àqueles que precisam e auxiliando diretamente na redução de
desigualdades, em diálogo direto, por exemplo, com os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, da Organização das Nações Unidas (“ONU”).
Ocorre que, embora a matéria tenha centralizado debates no país desde a década
de 1990 e, já em 2015, tenha sido formalmente disciplinada pela Ordem do Advogados
do Brasil (“OAB”) a nível nacional, por meio do Código de Ética da Advocacia, a imple-
mentação eficaz da advocacia pro bono segue enfrentando desafios, sendo de extrema
relevância delinear estratégias para superação de obstáculos e para a promoção de um
acesso mais amplo e igualitário à justiça no Brasil, reafirmando a função social da advo-
cacia e de seus profissionais.
De acordo com pesquisa de 2019, realizada pela Latin Lawyer e pelo Cyrus R. Vance
Center for International Justice1 sobre a prática pro bono por escritórios da América Lati-
na, mesmo após mais de 10 anos do surgimento da Declaração Pro Bono das Américas,
diversas sociedades de advogados ainda não conseguiram cumprir a meta sugerida de
dedicação de 20 horas anuais a serviços pro bono por advogado.
Nesse mesmo sentido, segundo pesquisa coordenada pela 16ª edição do anuário
Análise Advocacia2, da Análise Editorial, que recebeu insumos de cerca de 774 socieda-
des de advogados, no ano de 2021, embora diversas sociedades participantes desenvol-
vessem alguma forma de trabalho pro bono, 52% dessas não dispunham de um método
formal para realização de suas atividades.
Contudo, conforme se verá adiante, a adoção de uma política institucional voltada
a realização de trabalhos pro bono pode ser definida de maneira estratégica, adequando-
-se a realidade de cada uma das sociedades de advogados e apurando, de modo estrutu-
ral, o que de melhor pode ser oferecido aos clientes desse nicho, maximizando direitos
e o impacto social positivo, sem, no entanto, se distanciar da regulamentação existente,
que fixa os pilares da voluntariedade, gratuidade e eventualidade – os dois últimos serão
melhor abordados ao longo desse artigo.
120
Oportunidades e principais estratégias
Por vezes, na advocacia pro bono, o conceito de gratuidade tem sido interpretado
como a ausência de pagamento direto ao profissional pelo serviço jurídico que tenha
sido prestado em favor de uma pessoa física ou de uma entidade sem fins lucrativos, o
que pode refletir baixos índices de engajamento com a causa. Contudo, essa perspectiva
tem se expandido para além da visão tradicional, podendo proporcionar benefícios mú-
tuos à sociedade e aos seus advogados.
Conforme tem se observado, em muitas sociedades de advogados é prática comum
se oferecer incentivos aos profissionais engajados na advocacia pro bono, seja no plano
de remuneração direta ou na inclusão dessas atividades nos planos de progressão de
122
LIDERANÇA FEMININA
Cristiane Romano1
Janaina Castro2
Maia Martinovich3
1 Sócia do escritório Machado Meyer, formada na faculdade de direito da PUC/SP, associada do International
Bar Association (IBA), Vice-presidente do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (Cesa), Membro
da Comissão da Mulher Advogada do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Consultora da
Comissão Especial de Direito Tributário do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Membro da
Comissão de Integração com os Tribunais Superiores do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.
2 Advogada do escritório Machado Meyer, bacharel em direito pelo Instituto de Educação Superior de Brasília
(IESB) em 2014, pós-graduada em direito tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET)
em 2018, pós graduada em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) em 2022, mestranda pela Universidade de Brasília
(UnB), membra da Comissão de Advocacia nos Tribunais Superiores e da Comissão de Assuntos Tributários,
ambos na OAB/DF.
3 Advogada do escritório Machado Meyer, bacharel em direito pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub)
em 2014, pós-graduada em direito processual civil pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) em
2018, mestranda pelo IDP em direito constitucional, membra da Comissão de Processo Civil e da comissão
Especial de Energia, ambos na OAB/DF.
sentadas nas esferas de alto escalão das corporações e, embora tenha havido tímida evo-
lução, no mercado jurídico, o cenário não é muito diferente.
Neste ano, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil divulgou pes-
quisa4, apontando que, em um total de 1.319.357 inscritos, mais de 51% são compostos
por advogadas e quase 49% de advogados. Quando examinamos esses dados de acordo
com a faixa etária, há uma inversão do cenário: entre os advogados e advogadas de 41 e
59 anos, 52,4% são homens; e a partir dos 60 anos, 66,3% dos inscritos são advogados.
Isso mostra que pouco mudou desde a pesquisa5 realizada em 2021, pela Consul-
toria TREE, com o apoio do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (“CESA”),
que indicava que, em 92% dos escritórios, as mulheres ocupavam majoritariamente os
cargos de estagiárias e advogadas.
Embora as mulheres sejam maioria em números totais, essa presença está limitada
aos estágios iniciais da carreira, inalterado, portanto, o cenário em que os homens conti-
nuam ocupando as posições mais sêniores, a sociedade e/ou cargos de poder e liderança.
Tem-se que: (i) apenas 5 das 27 seccionais da OAB são presididas por mulheres, o
equivalente a 18,5%6; (ii) 35% das posições societárias nos escritórios de advocacia ocu-
padas por mulheres7; (iii) mulheres sócias são maioria em 1/3 dos grandes escritórios de
124
advocacia, sendo que, em 1/4 sequer percentual superior a 30% do quadro de sócios8; (iv)
nos escritórios de médio porte, 36,5% têm maioria de sócias e em escritórios de pequeno
porte, apenas 27% têm mulheres sócias como maioria9.
4
Disponível em <https://www.oab.org.br/institucionalconselhofederal/quadroadvogados>. Acesso em
01.11.2023.
6
Disponível em <https://www.oab.org.br/institucionalconselhofederal/quadroadvogados> Acesso em
01.11.2023.
11
Disponível em < https://www.oab.org.br/noticia/60107/juristas-que-marcaram-a-historia-do-pais-myr-
thes-gomes-de-campos> Acesso em 01.11.2023.
13 Disponível em <https://www.wsj.com/articles/the-phrase-glass-ceiling-stretches-back-decades-1428089
010>. Acesso em 01.11.2023 – Hymowitz, C. & Schellhardt, T.D. (1986). The glass ceiling: why women cant seem
to break the invisible barrier that blocks them from the top jobs. Wall Street Journal Section, 4(1), 4-5.
14 Beltramini, L. de M., Cepellos, V. M., & Pereira, J. J.. (2022). MULHERES JOVENS, “TETO DE VIDRO” E ESTRATÉ-
GIAS PARA O ENFRENTAMENTO DE PAREDES DE CRISTAL. Revista De Administração De Empresas, 62(6),
e2021–0073. Disponível em <https://doi.org/10.1590/S0034-759020220608>. Acesso em 01.11.2023.
15 Disponível em <https://www.mckinsey.com/featured-insights/diversity-and-inclusion/women-in-the-work
place>. Acesso em 01.11.2023.
principal causa para esse cenário, mas sim, os desafios impostos pela chamada síndrome
do degrau quebrado.
Segundo Margareth Goldenberg16, o fenômeno do degrau quebrado pode ser expli-
cado por uma metáfora simples: você sobe aquela escada enorme e quando está chegando
no topo dela, tem um degrau oco ou perigoso ser pisado. Você tem três alternativas: parar
onde está, voltar para trás ou fazer um esforço e pular o obstáculo, o que dificulta a ascen-
são das mulheres aos postos de alto comando.
A mencionada pesquisa da McKinsey & Company afirma que pelo nono ano con-
secutivo, as mulheres enfrentam o seu maior obstáculo no primeiro estágio até chega-
rem aos cargos de gestão. Este ano, para cada 100 homens promovidos de nível inicial a
gerente, 87 mulheres foram promovidas. A lacuna é maior para as mulheres negras: este
ano, 73 mulheres negras foram promovidas a gerentes. Como resultado deste degrau
quebrado, as mulheres ficam para trás e têm maior dificuldade ou não conseguem alcan-
çar os cargos de alta liderança.
Ressalvando divergências conceituais, as dificuldades enfrentadas pelas mulheres
são objeto de discussão há muito tempo sejam elas visíveis ou invisíveis, e decorrem da
construção de uma sociedade patriarcal e de inferiorização da mulher, não tendo qual-
127
quer relação com sua capacidade, competência ou qualificação jurídico-profissional.
Diferentemente do que muitos pensam e de acordo com a mencionada pesquisa,
os obstáculos não estão apenas no topo, mas, sim, ao longo de toda a trajetória da car-
reira feminina, de modo que as microagressões têm um grande impacto nas mulheres e
inibem a sua progressão na carreira.
Desse modo, em que pese o aumento da presença feminina no âmbito jurídico,
ainda se nota um afunilamento hierárquico no qual são encontradas menores propor-
ções de mulheres nos cargos de liderança e nos obriga a refletir sobre os vieses incons-
cientes e/ou possíveis barreiras – sociológicas – existentes que impeçam as mulheres de
alcançarem posições de liderança nas sociedades de advogados e/ou empresas.
Não se trata apenas de discriminação ou preconceito de forma individualizada,
mas, sim, de estruturas extremamente densas e complexas envolvendo cultura, política,
prática e atitudes sutis – ou nem tanto – dentro do mercado de trabalho e fora dele.
Para as mulheres, quebrar estas barreiras, ao longo de toda a carreira, é desafiador,
16
Disponível em <https://mitsloanreview.com.br/post/a-sindrome-do-degrau-quebrado>. Acesso em
01.11.2023.
carregado de culpa, nas quais uma escolha, dentro da estrutura em desconstrução, não
deveria significar uma renúncia. E, para isso, é preciso, a partir de um olhar atento e cui-
dadoso, identificar as crenças limitantes e as tensões culturais que assombram o gênero
feminino, obviamente com recorte racial, uma vez que as mulheres negras encontram
desafios ainda maiores.
Compreender os impactos decorrentes do teto de vidro, do degrau quebrado, dos
vieses inconscientes, e de tantas outras barreiras – ainda não conceituadas –, é útil e
necessário, não só para a quebra deste ciclo, como também para acabar ou reduzir a
desigualdade de gênero, permitindo a ascensão igualitária de homens e mulheres nos
cargos de liderança.
Algumas políticas podem ser implementadas visando a equidade de gênero, sendo
que várias empresas já estão nesse caminho. Alguns exemplos devem ser mencionados:
a mentoria, o chamado sponsorship, a promoção de eventos e networking feminino, pro-
gramas para licença maternidade e paternidade, grupo de afinidades e, sobretudo, criar
a cultura de que a equidade de gênero é um valor/objetivo inegociável da empresa.
Essencial que mais homens sejam chamados para o debate, dando espaço para que
se tornem aliados da causa, bem como para que, nesse processo de (des)construção da
128
cultura patriarcal, percebam que o machismo, a misógina, a masculinidade tóxica, entre
outros fatores, não afetam apenas as mulheres, mas também sua saúde física e mental.
Importante, ainda, conscientizá-los a respeito da paternidade plena e responsável
com gozo de licença paternidade estendida. A paternidade consciente, a um só tempo,
possibilita às mães tempo de qualidade para seus afazeres pessoais e profissionais, bem
como permite a criação de vínculos com os filhos, tornando mais igualitário o tempo
destinado ao cuidado. É o clássico ganha/ganha.
De acordo com a Oxfam Brasil17, as mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam
12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado – uma con-
tribuição de pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia global – mais de três vezes o
valor da indústria de tecnologia do mundo.
A despeito de os afazeres diários – cuidar de outras pessoas, cozinhar, limpar, bus-
car água, etc. – serem essenciais para o bem-estar da sociedade e funcionamento da
economia, a responsabilidade por esse trabalho é imputada, quase exclusivamente, às
17
Disponível em <https://www.oxfam.org.br/forum-economico-de-davos/tempo-de-cuidar/> Acesso em
01.11.2023.
mulheres/meninas, o que perpetua as desigualdades de gênero em todos os aspectos.
E, por fim, se não for por amor é pela dor. Ou seja, as empresas mais e mais estão
exigindo dos seus contratantes – prestadores de serviços ou fornecedores – a existência
de políticas que visem a promoção da equidade de gênero, como critério de contratação.
Quem possuir tais políticas, portanto, sairá na frente das demais empresas.
A McKinsey & Company18, em sua pesquisa mais recente, reforçou a existência de
vínculo entre a diversidade e a performance financeira das empresas. Sob a perspectiva
de gênero, afirma que, em 2017, as empresas com mais mulheres em suas equipes execu-
tivas eram 21% mais propensas a ter lucratividade acima da média do que as empresas
no quartil inferior. É um percentual muito significativo para qualquer setor da economia.
Tendo todos esses aspectos como norte, o CESA vem contribuindo para conscien-
tização dos escritórios de advocacia, apoiando a implementação de políticas para pro-
mover a equidade de gênero. Dentre elas, cita-se a criação de grupo de liderança femini-
na e o Selo CESA de equidade de Gênero, que, além de premiar e promover a equidade de
gênero, se presta a conscientizar as sociedades de advogados sobre o tema.
Outro instrumento importante é o programa de mentoria capitaneado pelo CESA,
no qual as profissionais mais experientes, integrantes das sociedades associadas, dis-
129
ponibilizam seu tempo para mentorar advogadas mais jovens, visando fomentar novas
lideranças.
Diante de um sistema inegavelmente construído para promover lideranças mascu-
linas, levar mulheres ao topo das organizações exige um esforço conjunto da sociedade –
empresas, organizações, governo, dos homens e, também, das mulheres –, identificando
desafios e compartilhando experiências que ressaltam a figura feminina em postos de
comando.
As mulheres sempre foram – e continuam – altamente ambiciosas, assim como
Myrthes, e são igualmente comprometidas com suas carreiras como os homens. A única
distinção é que as mulheres são contratadas pelo que fizeram e, dentro da estrutura pos-
ta, os homens são contratados pelo que podem se tornar.
É, portanto, papel de entidades como CESA contribuir ativamente para mudarmos
esse quadro.
Desde sua fundação, mais de 40 anos atrás, o CESA sempre esteve atento às ques-
tões dinâmicas que envolvem o Direito, como ciência em constante desenvolvimento e
prática de alta relevância social, e as sociedades de advogados.
Em função deste papel de protagonismo assumido, o CESA sempre participou e se-
gue participando ativamente dos mais importantes capítulos da advocacia nacional, em
suas mais diversas áreas de atuação, cada uma com a sua importância que lhe é peculiar.
Ao se debruçar sobre o futuro da nossa profissão, o CESA continuamente aponta
tendências, identifica desafios, promove discussões e apresenta propostas capazes de
gerar resultados efetivos e relevantes para impulsionar o Direito e a advocacia a trilhar
os melhores caminhos, o que colabora para a construção de uma sociedade mais justa.
131
Desde o início da revolução tecnológica, que trouxe profundas mudanças na forma
em que vivemos, trabalhamos e nos relacionamos nos diferentes aspectos de nossas vi-
das, o CESA vem debatendo com afinco o impacto da inteligência artificial na Advocacia
– vale lembrar o anuário temático publicado em 2017, inteiramente dedicado às novas
tecnologias e sua relação com o exercício do Direito.
Como tudo relacionado à inovação, desde então muita coisa já mudou. Naquela
época, dávamos os primeiros passos na digitalização de processos, peticionamento ele-
trônico e intimação das partes em aparelhos celulares. Ainda engatinhavam os softwa-
res de aplicação ao meio jurídico, os chamados “advogados virtuais” – que conseguiam
analisar milhares de documentos em frações de segundos, postular hipóteses quando
questionado, pesquisar e gerar respostas com referências e citações, fundamento suas
conclusões.
Foram lançados diversos sistemas informáticos que se destinam a otimizar as ta-
refas de advogados e advogadas no seu cotidiano profissional, tirando dos departamen-
tos jurídicos empresariais e dos setores operacionais dos escritórios as funções mais
burocráticas e manuais, como o próprio acompanhamento de processos, a elaboração de
relatórios, a pesquisa e o mapeamento de dados, dentre outras.
No final de 2022, houve um enorme salto com o lançamento do ChatGPT – um
modelo de linguagem de última geração, treinado por inteligência artificial, que fornece
respostas muito mais complexas, ainda que com uma linguagem fluída e natural, seme-
lhante à humana.
Atingindo a marca de um milhão de usuários em apenas uma semana de lança-
mento, em pouco tempo estava sendo utilizada pelos mais diversos agentes do Poder
Judiciário. Em janeiro de 2023, um juiz da Colômbia incluiu comentários elaborados por
ChatGPT em uma sentença, gerando enorme debate sobre as controvérsias da utilização
da inteligência artificial para automatizar o Direito e todas as suas nuances.
Surgiram questões como: um robô pode ter a sensibilidade de definir o que é jus-
to em casos concretos? A tecnologia, por si só, pode alcançar aquele tato sensível para
definir estratégias diferentes em cada caso? Poderia, até mesmo, suprir a necessidade da
relação interpessoal no campo jurídico, em que é tão cara a boa oratória e comunicação?
Sobre a possibilidade de “robôs juízes” servirem à Magistratura, o Ministro Luís
Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, já chegou a afirmar o seguinte: “no atual
estágio da condição humana e da condição tecnológica, o juiz vai ser inevitável. Agora, se
vier uma boa minuta pelo ChatGPT e você puder apenas revisá-la, essa é uma possibilidade
132
que eu não descartaria”, o que foi publicado na Revista Migalhas em 2 de maio de 20231
e intensificou a polêmica.
Uma boa peça pode ser escrita pelo ChatGPT e similares? Possivelmente, mas isso
basta? Há inúmeras outras controvérsias e o assunto segue e seguirá por muito tempo
em discussão.
Na Advocacia, por outro lado, assistentes jurídicos baseados em inteligência arti-
ficial são amplamente utilizados, prometendo ganhos de produtividade de até 90%. Os
robôs analisam processos, localizam precedentes legais relevantes e elaboram as peti-
ções necessárias.
A antiga pergunta, então, voltou à baila. Seria o ChatGPT e outras tecnologias
congêneres – que não sofrem nossa limitação de processamento e armazenamento de
informações – capazes de substituir o Advogado?
A resposta – se é que ela existe – inquieta, por um lado, e acalma, por outro.
Pode-se considerar que o Advogado que se limita a realizar tarefas repetitivas e
134
SOCIETÁRIO
André Maruch1
Centrado em seu papel de fomentar o debate contínuo e atual dos temas funda-
mentais ao aprimoramento da prática jurídica, o Comitê Societário do CESA tem tido a
oportunidade e o privilégio de, ao longo do tempo, servir como foro para a apresentação
e discussão, por brilhantes profissionais integrantes dos mais renomados e vanguardis-
tas escritórios de advocacia, dos assuntos mais relevantes e úteis à prática societária.
Neste cenário, nós advogados temos nos deparado, nos negócios e disputas que
surgem, com assuntos que demandam o entendimento e o acompanhamento próximo
de segmentos de mercado que têm seu próprio racional de funcionamento. As exigên-
cias, ao não se restringirem aos institutos tradicionais do direito societário e às práticas
135
usuais de fusões e aquisições, espraiam-se para endereçar novas estruturas, novos racio-
nais e novos vieses, na velocidade do ambiente de negócios.
Em função da dinamicidade e flexibilidade ínsitas à indústria de Private Equity e
Venture Capital – sujeita agora ao Marco Legal das Startups (Lei Complementar 182/21)
e futuramente ao Marco Legal do Stock Option, ainda em discussão legislativa ao tempo
deste texto –, questões jurídicas específicas têm constantemente surgido e demandado
a atenção dos operadores do direito. O crescente volume de negócios do setor, que alia
o espírito empreendedor de executivos predominantemente jovens, debruçados sobre
demandas emergentes e soluções tecnológicas, ao apetite e interesse de investidores de
variados matizes, tem perenizado o surgimento de operações desta natureza e robuste-
cido a discussão de questões costumeiramente envolvidas neste tipo de negócio.
Assim, passam a ser enfrentadas discussões envolvendo o ingresso de investidores
no cap table, tais como as condições para conversão do crédito em capital, a formatação
das sucessivas rodadas de investimento, os direitos garantidos ao investidor em função
de seu perfil e do aporte, o alinhamento deste ingresso perante os fundadores e demais
1. INTRODUÇÃO
5 BRASIL, Conselho Nacional de Justiça. Contencioso tributário no Brasil: Relatório 2020 – Ano de Referência
2019. Brasília: CNJ, 2020.
nósticos do (I) BID/RFB6 e do (II) INSPER/CNJ7, apresentando propostas que possam
subsidiar os debates em torno de uma reforma eficaz do sistema.
6 BRASIL, Conselho Nacional de Justiça. Diagnóstico do contencioso judicial tributário brasileiro: relatório
final de pesquisa. Brasília: CNJ, 2022.
8 Idem.
pelo Simples (64,85%), seguido do IRPJ (9,37%) e da COFINS (8,58%).”9
Nesse sentido, acena para a necessidade de implementação de programas de Coo-
perative Compliance, especialmente voltados para as empresas do Simples Nacional, em
regra em menor condição de litigar e com menos estrutura contábil e tributária. Neste
ponto, também o aprimoramento das consultas fiscais serviria a um só tempo à redução
da litigiosidade, à melhor eficiência na defesa do erário e ao atendimento do manda-
mento constitucional do tratamento diferenciado às micro e pequenas empresas. Mais
do que isso, voltando ao alerta inicial, tais procedimentos aproximam administração
fiscal dos contribuintes, restabelecendo a necessária confiança sistêmica, tao propagada
e festejada pela doutrina nacional.
De mais a mais, não é desarrazoado afirmar que as consultas fiscais podem ser, elas
próprias, instrumento de cooperative compliance. O compliance cooperativo é medida
de prevenção do litígio que beneficia tanto o contribuinte quanto o erário – e os re-
ceios quase dogmáticos que “rondam” a indisponibilidade do crédito tributário não tem
o condão de afastar a sua pertinência. É importante, entretanto, que as balizas gerais dos
programas estejam definidas em lei, de modo a homenagear a legalidade e segurança
jurídica e modular a isonomia no tratamento dos contribuintes.
141
Já no âmbito judicial, o “Diagnóstico do Contencioso Judicial Tributário Brasi-
leiro – 5ª Edição”10, produzido pelo INSPER, busca-se responder 74 (setenta e quatro)
perguntas, agrupadas em 12 (doze) hipóteses. Convém o destaque de alguns dados – so-
bejamente desassossegadores.
Constatou-se a baixa efetividade do instituto da penhora de bens nas execuções
fiscais, aclarando que apenas 0,5% das inscrições em dívida ativa da União está integral-
mente garantidas e, se considerado o valor exigido, apenas 12% do valor foi integralmente
garantido.
A análise qualitativa acerca da elaboração, interpretação e aplicação da legislação
tributária, traz também dados temerários aptos a gerar contencioso tributário desneces-
sário, inepto e em desperdício.
10 BRASIL, Conselho Nacional de Justiça. Diagnóstico do contencioso judicial tributário brasileiro: relatório
final de pesquisa. Brasília: CNJ, 2022.
Em se insistindo nesta perspectiva de relações institucionais entre fisco e contri-
buinte, sobreleva consignar a notada ineficiência da administração tributária na preven-
ção de litígio e no contato cidadão com os contribuintes. É que a pesquisa identificou
número elevado (variável de tribunal a tribunal) de ações que indicam deficiências por
parte das administrações tributárias para solucionar administrativamente questões que não
envolvem diretamente o crédito tributário. Sob a ótica dos precedentes judiciais, o enqua-
dramento também preocupa: constatou-se que apenas nove estados possuem normas
que vinculam à administração tributária à precedentes judiciais.
3. DAS CONCLUSÕES
12 Em boa hora, por exemplo, viria inspiração do legislador para a regulamentação do parágrafo único do art.
116 do CTN, nos moldes determinados pelo STF na ADI nº 2.446/DF. Cf. LOBATO, Valter de Souza; FONSECA,
Pedro Henrique Esteves. A ADI nº 2.446/DF: impactos potenciais no processo administrativo tributário e
na norma geral antielisiva mineiros. In: FEITAL, Thiago Alvares; PAIXÂO, Luciana Mundim de Mattos; DINIZ,
Erika Morreale. (Org.). Direito e indústria: contribuições ao I Congresso de Direito Empresarial da FIEMG.
1 ed. Belo Horizonte: Casa do Direito, 2022, v., p. 101-116.
Alguns caminhos sugeridos podem ser facilmente perseguidos (sem risco de exau-
rir): (I) racionalização do escopo e obrigatoriedade dos recursos voluntários, considera-
da a baixa taxa de reversão das decisões por este meio; (II) aprimoramento do contato
fisco-contribuinte pré-lançamento tributário; (III) avanço no sistema de precedentes
administrativos, considerando a viabilidade de processamento de recursos repetitivos
administrativos, nos moldes do CPC; (IV) aprimoramento do processamento de recur-
sos em rito sumário e ordinário consignando o valor dos créditos em discussão; e (V)
admissão de instrução probatória para além da fase da impugnação.
Quanto à necessidade de racionalização do processo judicial tributário. Ora,
essa racionalização passa necessariamente por atualização legislativa da Lei de Exe-
cuções Fiscais (LEF – Lei Federal nº 6.830/80), especificamente para aprimorar o feito
executivo fiscal – que hoje padece de total ineficiência como demonstrado no relatório
do INSPER.
Assim, dentre as propostas, destacam-se (também sem exaurimento): (I) criação e
ampliação de varas especializadas para julgar unicamente feitos tributários; (II) avalia-
ção da possibilidade admissão de embargos à execução fiscal independente de garantia;
(III) limitação da liquidação de garantias somente após o trânsito em julgado; (IV) per-
143
missão da compensação tributária em sede de embargos executivos; (V) obrigatoriedade
de que o crédito tributário constituído seja encaminhado para inscrição em dívida ativa,
pelo órgão competente, em prazo determinado; (VI) obrigatoriedade de que a Fazenda
priorize o uso de métodos de autocomposição e consensualidade, sob pena de indefe-
rimento da inicial; e (VII) dispensa de ajuizar o feito executivo quando o crédito tiver
fundado em matéria decidida pelos tribunais superiores no rito repetitivo ou de controle
de constitucionalidade;
Quanto à necessidade de reforço do sistema de precedentes tributários. Pela
via judicial, faz-se imperiosa a investigação das razões pelas quais o processamento e
julgamento definitivo de temas repetitivos pelos tribunais superiores não têm espelha-
do a redução dos acervos dos processos sobrestados nos tribunais de segunda instância
– em que pese ser este o objetivo lógico almejado13.
Pela via administrativa, o problema é de fácil solução, tamanha a irracionalida-
de do arranjo atual. Conforme se sabe, no âmbito do CARF, as decisões definitivas de
13 BECHO, Renato Lopes. A aplicação dos precedentes judiciais como caminho para a redução dos processos
tributários; Revista da Faculdade de Direito da UFMG, n. 71, p. 499-530, 2017.
mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça
em matéria infraconstitucional na sistemática de repetitivos são obrigatoriamente re-
produzidas pelos conselheiros (artigo 62, § 2º, do Anexo II do Regimento Interno do
Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – Portaria 343/2015 e alterações). No âm-
bito estadual, afigura-se imperativo o acréscimo de dispositivo ao CTN para determinar
vinculação semelhante.
Quanto à necessidade de prestígio da consensualidade tributária na resolução
de conflitos. Ao lado da transação, deve estar a arbitragem e mediação – que podem e
devem estar inseridas na competência legislativa complementar e geral do legislador
federal, de modo a balizar o sistema a nível nacional e evitar que “a emenda torne o so-
neto ainda mais complexo”. Ainda, ao lado dos institutos referidos, as consultas fiscais
também se inserem no contexto de construção de uma consensualidade tributária.
Por conseguinte, entendemos que o legislador complementar pode reformar o
CTN para (I) determinar que a administração priorize método preventivos para pos-
sibilitar a autorregularização do contribuinte, com eventual redução de penalidades;
(II) determinar que os entes instituam e regulamentem os institutos da consulta fiscal,
programas de conformidade tributária, audiências dialogais, mediação, transação e ar-
144
bitragem; (III) balizar normas gerais para a padronização dos mecanismos de consulta
fiscal, versando sobre a possibilidade de recurso e necessidade motivação e publiciza-
ção ampla das respostas; (IV) estabelecer efeitos erga omnes das consultas fiscais para
contribuintes situação fática e jurídica idêntica à do consulente, (V) indicar a sentença
arbitral como causa extintiva do crédito tributário; (VI) estabelecer normas gerais para
a transação, mediação e arbitragem tributária.
Por fim, sobre a necessidade de prestígio dos mecanismos de compliance nas
relações institucionais tributárias. A partir da adoção de mecanismos que animem a
consensualidade tributária, inaugura-se vertente na prática tributária que extrapola o
contencioso clássico – até então formatado em processo rígido de heterocomposição.
A possibilidade de autocomposição diretamente com o fisco, antes e depois da consti-
tuição do crédito e da conformação do conflito tributário, significa a possibilidade de
influenciar a autoridade administrativa (nos termos da lei) a adotar determinada inter-
pretação ou expediente. Se instituído um paradigma em que as consultas fiscais deixam
de ser meras respostas protocolares da autoridade fiscal e passam a servir de mecanismo
cooperativo e dialogado na construção de aplicação e interpretação das normas, estamos
a tratar de campo autônomo a ser estudado: o das relações institucionais tributárias.
SECCIONAIS
BAHIA
O futuro está aí, batendo na porta e os advogados precisam estar preparados para
ele, sejam de que especialidade forem, porque tanto os advogados serão atingidos quan-
to todas as sociedades de advogados.
É que o avanço da tecnologia, a IA inteligência artificial, a globalização, os equi-
pamentos tecnológicos cada vez mais poderosos, as novas formas de comunicação do
mundo contemporâneo, incluindo nesse campo as redes sociais, WhatsApp, Twitter, Te-
legram, Instagram, Facebook; a inclusão social, o respeito a diversidade, estão transfor-
mando o mundo jurídico, que tem o dever de adaptar-se sob pena de se descontinuar, de
se tornar ineficaz e não existir.
Não é mais uma previsão. É uma realidade que está modificando o mundo numa
147
velocidade absurda.
A tecnologia está impactando diretamente as mudanças que estão vindo e os ad-
vogados que estiverem antenados com essas novas tecnologias sairão na frente e terão
uma maior força na competição agressiva desse mercado jurídico.
É verdade que essa revolução tecnológica irá transformar a forma de como nos
relacionamos, vivemos, trabalhamos, objetivando o equilíbrio entre as relações.
Acredita-se que tudo isso veio para somar, para que o futuro da advocacia evolua
de maneira positiva, podendo ser uma forma de aprimorar a prática jurídica.
Acontece que muito se tem perguntado se os advogados serão substituídos pela
inteligência artificial. Dificilmente isso irá ocorrer. A inteligência artificial tem um mo-
delo de linguagem que não foi projetado para substituir os humanos. A IA não tem como
fornecer consultorias jurídicas, pode sim responder perguntas; não tem como participar
de sustentações nos Tribunais, audiências, nem garantir a aplicação das leis, tarefas que
1 PIRES, Paula Pereira. Mestra em Direito das Relações Socias e Trabalhistas pelo Centro Universitário do
Distrito Federal – UDF. Pós Graduada em Processo Civil, Direito do Trabalho e Metodologia de Ensino pela
UFBA. Presidente do CESA de 2022 a 2024. Advogada Trabalhista.
apenas o advogado qualificado pode realizar, entre tantas outras.
A IA pode auxiliar os advogados em algumas tarefas mas, nunca substitui-los. O
advogado pode, se beneficiar com o uso da tecnologia porque minimiza as ações repeti-
tivas; classifica publicações, atua na análise de resultados, prevê resultado de casos com
probabilidade de perdas e ganhos, elabora peças judiciais, faz pesquisas, roteiros de per-
guntas para as partes e testemunhas, e várias outras solicitações são atendidas pela IA.
A presença física do advogado nunca vai deixar de existir.
Esse medo não se deve ter!
É bem verdade que a Inteligência Artificial deve ser usada de maneira segura, den-
tro da ética e dos princípios legais.
Sabe-se que a IA veio à tona pelo ChatGPT em novembro de 2022, através da cria-
ção automática de conteúdo mas, antes disso havia a Alexa que é um dispositivo inteli-
gente com muitas habilidades, o Victor utilizado pelo STF que busca reduzir a quantida-
de de processos aguardando julgamento, a análise de precedentes que é feita com base
na IA – jurimetria, entre outros. Nota-se que a IA realmente ajuda e muito o andamento
do Judiciário de uma forma geral e das pessoas em particular.
Repita-se, a IA deve ser usada dentro da ética e do direito. Hoje já é possível si-
148
mular a voz de uma pessoa pela IA; processar a imagem de uma pessoa, falecida ou não,
pela inteligência, e muitas vezes, dessa forma, surgem os golpes, que cada dia mais estão
assumindo uma perfeição tão grande que dificilmente um ser humano não cai neles e
se prejudica. Esse é um ponto que precisa ser melhorado, não para temer a inteligência
artificial mas sim a burrice ou esperteza humana.
As novas tecnologias vieram para ficar.
Os advogados ou escritórios que as utilizarem irão reduzir custos e ter resultados
mais favoráveis. Se resistirem a elas, possivelmente, irão perder clientes, dificuldades
em mantê-los e atraí-los.
Isso tudo terá um custo porque vai exigir treinamento, além de exigir que seja
escolhida com cuidado a ferramenta certa para a utilização do que o advogado precisa.
É inevitável.
Nos últimos anos as gerações tem se encantado com os avanços tecnológicos e vi-
vido experiências que nunca imaginaram. As novas gerações já se acostumaram com es-
ses avanços e não sabem viver sem eles. Muitas preocupações em relação a essas tecno-
logias ainda estão por vir e são de difícil avaliação. Vão mexer no mercado de trabalho,
vão acabar algumas profissões mas, farão surgir outras, impactar no sistema educacional
e mexer no emocional de muitos.
Não podemos nos furtar a essa evolução. É arregaçar as mangas e seguir em frente.
Referências Bibliográficas
149
DISTRITO FEDERAL
1 Presidente da Seccional do Centro de Estudos dos Advogados (CESA) no Distrito Federal. Sócio em Gon-
çalves, Arruda & Gonçalves – Sociedade de Advogados (GABS), com 26 anos de experiência nas práticas
de corporate tax, regulatory e civil litigation – ênfase em Tribunais Superiores e em matérias deliberadas,
em Brasília, nas 03 (três) esferas da Federação. Ex-Consultor da Rádio Justiça (administrada pelo Supremo
Tribunal Federal – STF).
tivemos a honra de pela primeira vez reunir todos os Ex-Presidentes do CESA em um
momento memorável em que foi possível a transmissão ao elevado público integrante
do auditório dos princípios cultivados ao longo de anos que criaram uma árvore com raí-
zes vigorosas e que tem totais condições de render bons e contínuos frutos não só para
o CESA, mas para a própria advocacia e para a sociedade civil.
E quais as propostas que podem e devem ser adotadas para o futuro do CESA e da
advocacia? Dúvidas não existem de que os avanços das plataformas tecnológicas e da
inteligência artificial devem ser aproveitados, por propiciarem a modernização, a orga-
nização e o foco das entidades, com a célere propagação (também chamada de impulsio-
namento) e a coleta de dados atrelados a conteúdos jurídicos que se interconectam e que
são de interesse dos operadores do direito e da coletividade, os quais são amplamente
debatidos nos Comitês Temáticos, nas Seccionais do CESA e nas Seccionais da OAB.
Apesar de o emprego da internet chegar a ser intuitivo e mandatório, por inques-
tionavelmente influenciar as relações humanas, principalmente no que se refere à co-
municação, vale recordar que esse fenômeno já foi gestado há bastante tempo, ainda
que de maneira precária, com a invenção, em 1892, do telefone fixo e posteriormente
das videoconferências.
152
O desafio a vencer aqui para a exitosa perpetuação das entidades em apreço reside,
a nosso ver, em conciliar a impessoalidade e o certo distanciamento que permeiam o
universo computacional com o contato humano que propicia uma atmosfera que garan-
te a presença física dos emissores e dos receptores das ideias trocadas relativamente aos
temas no campo do direito que são estudados.
O networking, por exemplo, no ambiente eletrônico, pode ser prejudicado pela fal-
ta de privacidade, por não permitir as trocas de ideias mais sinceras, o engajamento,
os feedbacks e a completa noção do comportamento social de parceiros que podem ser
agregados aos serviços advocatícios de alto nível prestados a clientes.
O que se quer dizer com isso é que, não obstante as plataformas tecnológicas e a
inteligência artificial facilitem o dia a dia dos operadores do direito, inclusive a custos
menores, quer nos parecer que o sucesso para um horizonte ainda mais vigoroso para o
CESA e para a advocacia reside na cautela em não tirar do horizonte a tradição da cele-
bração periódica de reuniões pessoais, espalhadas pelo Brasil (que é um País de grande
dimensão), com coffee breaks e coquetéis que facilitam a descontração e criam sinergias
imprescindíveis para o bom desenvolvimento de negócios.
Afinal de contas, foi assim que o CESA surgiu em uma reunião presencial realizada
com sócios das maiores e mais prestigiadas sociedades de advocacia no Brasil e enten-
demos que essa é a missão, a visão e os valores que, evidentemente aliados à progressão
da tecnologia e ao envolvimento do público jovem, não podem ser perdidos para a per-
petuação da instituição.
153
ESPÍRITO SANTO
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo geral analisar a relevância da inovação tec-
nológica na advocacia 4.0 e sua relação com a visão do CESA em ser uma instituição
referência na apresentação das sociedades de advogados, reconhecida por sua credibi-
lidade, excelência técnica e vanguarda na discussão de temas que moldarão o futuro do
Direito e da sociedade. Justifica-se a realização dessa pesquisa diante da necessidade de
compreender as mudanças trazidas pela inovação tecnológica no campo jurídico, bem
como seus impactos nos profissionais da área e no acesso à justiça. Além disso, o estudo
155
busca contribuir para o debate sobre a ética na tecnologia e na advocacia, promovendo
uma reflexão sobre os dilemas éticos que emergem nesse contexto. Em relação à meto-
dologia adotada como instrumento de análise e síntese do estudo, utilizou-se a pesqui-
sa bibliográfica, com consulta a revistas, livros, textos, artigos, e teses entre outros, o que
permitirá traçar o referencial teórico relacionado ao tema em questão. As conclusões
mostraram que para o CESA, que muito embora o uso da IA no judiciário seja promissor,
é importante analisar questões relacionadas a essa tecnologia antes de virtualizar todas
as atividades judiciais. Os desenvolvedores enfrentam desafios em compreender total-
mente as etapas de processamento dos sistemas de IA, devido à natureza dos algoritmos
de aprendizado de máquina, o que pode levar a comportamentos imprevisíveis.
O Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (CESA) foi fundado com o in-
tuito de fomentar o progresso das sociedades de advogados no Brasil, servindo como
um espaço de diálogo e intercâmbio de ideias. Ao longo das últimas quatro décadas, o
CESA reuniu gestores de escritórios de todo o país em um esforço conjunto para discu-
tir assuntos de interesse comum, incluindo a regulamentação da profissão, modelos de
gestão, formação de sócios, questões fiscais e trabalhistas (CESA, 2023).
O propósito do CESA é estabelecer padrões que promovam o desempenho das ati-
157
vidades dos escritórios de advocacia em um ambiente de negócios cada vez mais dinâ-
mico e contemporâneo no Brasil. Durante sua trajetória, marcos significativos marcaram
sua história. Em 1983, no dia 30 de junho, as associadas de São Paulo se uniram para
criar o CESA.
Desde o início, colaborou estreitamente com a Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) para regular o exercício da profissão nas sociedades de advogados. Essa colabora-
ção resultou na criação da Comissão das Sociedades de Advogados da OAB (CESA, 2023).
Em 1987, o CESA começou a expandir sua presença em organizações internacio-
nais, passando a fazer parte da International Bar Association (IBA), da qual é membro
do conselho atualmente. Posteriormente, também se tornou parte da American Bar As-
sociation (ABA), da Association Internationale des Jeunes Avocats (AIJA) e da Inter-
national Law Association (ILA). Em 1994, a Lei 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia) foi
promulgada, incluindo um capítulo dedicado às sociedades de advogados. Esse texto
estabeleceu a figura do advogado associado, resolvendo um problema trabalhista das
sociedades. A redação desse capítulo foi discutida por membros do CESA que também
faziam parte da Comissão das Sociedades de Advogados da OAB-Seção São Paulo. No
ano seguinte, o CESA contribuiu de forma significativa para o novo Código de Ética e
Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (CESA, 2023).
Em 30 de novembro de 1999, o CESA aprovou seu novo Estatuto Social, prevendo
a criação de seções regionais em um ou mais estados da federação, a criação de uma
secretaria executiva permanente e a nomeação de comitês de estudos. A partir do ano
2000, o CESA passou a contribuir ativamente para a formulação do Provimento 91 da
OAB, que regulamenta a atuação do advogado estrangeiro no Brasil, e do Provimento 94,
que regula a publicidade e a propaganda na advocacia (CESA, 2023).
No ano de 2006, o CESA teve um papel importante na formulação do Provimento
112 da OAB, que, ao reconhecer e regular as sociedades de advogados, permitiu que elas
mantivessem o nome do escritório mesmo após a morte do sócio-titular.
Com base em discussões realizadas por suas associadas, o CESA contribuiu para a
redação do artigo 4° do Provimento 166/2015, oferecendo uma solução para a preocupa-
ção da OAB de que a advocacia pro bono se tornasse um instrumento de marketing ou
captação de clientes. Também atuou no âmbito legislativo para incluir as sociedades de
advocacia no rol das figuras jurídicas enquadradas no Simples Nacional, evitando assim
uma tributação excessiva, como parte de um projeto de lei proposto pelo Sebrae (CESA,
2023).
158
A Instituição atuou fortemente na criação do Provimento 170/2016, que regula-
menta as sociedades unipessoais de advocacia. Já em 2018, contribuiu para o Projeto de
Lei 1.202/2007, que busca regulamentar a prática do lobby no país.
Em 2019, o CESA esteve envolvido nas discussões que levaram o STF a declarar a
inconstitucionalidade de impedimentos à submissão de sociedades profissionais de ad-
vogados ao regime de tributação fixa ou per capita com bases anuais, conforme estabe-
lecido no DL 406/68 (recepcionado pela Constituição Federal da República de 1988 com
status de lei complementar nacional). Assim, o CESA apresentou propostas societárias e
trabalhistas para a elaboração do texto da Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019),
que entrou em vigor em 20 de setembro, com o principal objetivo de reduzir a burocracia
nas atividades econômicas (CESA, 2023).
A partir de 2020, foi elaborado um plano em parceria com o Sinsa, contendo reco-
mendações às sociedades de advogados para a retomada das atividades pós-pandemia
de covid-19.
Durante suas quatro décadas de existência, o CESA se consolidou como uma ins-
tituição atenta às pessoas, inclusiva, moderna e proativa, antecipando mudanças e pro-
movendo discussões que resultam em iniciativas transformadoras na sociedade. A ex-
celência técnica de seus membros posiciona o CESA como uma instituição altamente
respeitada, capaz de fomentar debates de elevado nível técnico que geram resultados
eficazes.
O CESA possui uma visão inovadora, sempre atenta às transformações sociais. Por
isso, lidera debates sobre assuntos relacionados às sociedades de advogados, ao Direito e
à sociedade como um todo. É uma instituição moderna, inclusiva e plural que incentiva a
participação das sociedades de advogados em discussões relevantes no setor, que englo-
bam valores como diversidade, sustentabilidade e equidade (CESA, 2023).
Portanto, traz inovação à nossa maneira de conceber o Direito, na sinergia, união e
colaboração de nossos membros e em nossa habilidade de articular e influenciar o futuro
do Direito, como será explorado a seguir.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ficou evidente para o CESA, a partir do que foi apresentado, que apesar das pers-
pectivas promissoras da aplicação de Inteligência Artificial no âmbito judiciário, é fun-
damental abordar e examinar as questões associadas a essa tecnologia antes de adotar
uma virtualização completa das atividades judiciais. Os desenvolvedores enfrentam de-
safios para compreender plenamente as etapas de processamento dos sistemas de IA,
devido à natureza dos algoritmos de aprendizado de máquina, o que pode resultar em
comportamentos imprevisíveis.
Ademais, a falta de transparência no funcionamento dessas tecnologias, muitas
vezes desenvolvidas por entidades privadas, suscita preocupações. A opacidade na di-
vulgação de informações pode dificultar a compreensão dos critérios utilizados pela IA
na tomada de decisões, aspecto crucial para assegurar a justiça e a equidade.
Outro ponto relevante é o potencial agravamento de questões sociais decorrente
da aplicação da IA. Se os dados utilizados para treinar os sistemas refletirem discri-
minação ou desigualdade, por exemplo, a IA pode reproduzir tais preconceitos, perpe-
tuando as injustiças existentes na sociedade. A Advocacia 4.0 representa uma evolução
da prática jurídica que incorpora tecnologias inovadoras para oferecer um serviço mais
eficiente, acessível e transparente aos clientes, ao mesmo tempo em que permite que os
advogados se concentrem em atividades mais estratégicas e de maior valor agregado.
Assim, de acordo com as diretrizes do CESA, a Advocacia 5.0 emerge como uma
tendência para os advogados, alinhando-se à nova sociedade “super inteligente” im-
pulsionada pelas tecnologias digitais. Esse conceito surgiu a partir do lançamento do 5º
Plano Básico de Ciência e Tecnologia pelo governo japonês em 2016, buscando empregar
as tecnologias da Indústria 4.0 para atender às necessidades humanas e resolver proble-
mas sociais. A Advocacia 5.0 se destaca por sua centralidade no ser humano e em suas
necessidades, considerando a mentalidade do mundo digital e suas formas de geração
de valor e resolução de problemas. Ao contrário da abordagem jurídica conservadora e
164
tradicional, a Advocacia 5.0 se fundamenta na descentralização, diversidade, horizonta-
lidade e sustentabilidade.
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VILHENA, Oscar. Prefácio: A revolução no mundo de Cícero, in: O futuro do Direito, JOTA; Cia
do e-Book, 2017.
MARANHÃO
170
MATO GROSSO
Primórdios e legislação
Em seu célebre livro “Eles, os juízes, vistos por um advogado”, Calamandrei já di-
zia: “Acredita-se comumente que a missão específica do advogado seja fazer-se ouvir
pelos juízes; na realidade, o ofício mais humano dos advogados é ouvir os clientes”.2
O reconhecimento social da importância e do papel do advogado em nosso orde-
namento jurídico começa na própria Constituição Federal, pelo que dispõe o famoso
artigo 133: “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por
seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.”
Com o advento do Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados, Lei nº
171
8.906/1994, a expressão foi reiterada, no seu art. 2º: “O advogado é indispensável à ad-
ministração da justiça.” No mesmo diploma legal, no parágrafo único do art. 2º, dispõe:
“No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função social.”
Ninguém duvida da horizontalidade da linha entre o advogado e o juiz. A dura
realidade é fazer tornar efetiva esta premissa. Autonomia e independência – advogado
e juiz – são essenciais à administração da Justiça, não há hierarquia, e se espera sim,
harmonia entre a magistratura e a advocacia.
A sociedade necessita de uma magistratura consciente de sua missão, de uma jus-
tiça produtiva, de qualidade, que dê efetividade à prestação jurisdicional com brevidade.
De um advogado se espera a postura de urbanidade, cortesia e conhecimento téc-
nico, buscar com probidade, diligência a boa administração da justiça em harmonia com
magistrado.
1 Advogado, sócio de Corrêa da Costa Advogados, escritório com sede em Cuiabá-MT, e Presidente da Seccio-
nal CESA de Mato Grosso.
2 CALAMANDREI, Pierro. Eles, os Juízes, visto por um advogado. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
Princípio da Cooperação – CPC
Não por outra razão a doutrina brasileira abraçou o princípio da cooperação (ou
da colaboração), segundo o qual o processo seria o produto da atividade cooperativa
triangular (entre o juiz e as partes). A moderna concepção processual (no sentido de que
o processo é um meio de interesse público na busca da justa aplicação do ordenamento
jurídico no caso concreto) exige um juiz ativo no centro da controvérsia, e a participação
das partes, por meio da efetivação do caráter isonômico entre os sujeitos do processo.
Trata-se de uma evolução do princípio do contraditório.
O dever de cooperação estaria voltado eminentemente para o magistrado, de modo
a orientar sua atuação como agente colaborador do processo, inclusive como participan-
te ativo do contraditório, não mais se limitando a mero fiscal de regras. Não pode existir
mais o juiz “apático”, que aguarda manifestações das partes para atuar.
Nesse sentido o art. 6º do CPC estabelece que “todos os sujeitos do processo de-
vem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa
e efetiva.”
A doutrina processual, então, estabeleceu alguns deveres, que são recíprocos, mas,
172
até mesmo em caráter exemplar, devem ser efetivamente implementados pelo juiz na
prática forense:
3 STF – ADI: 4330 DF 0009590-97.2009.1.00.0000, Relator: GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 08/2020,
Data de Publicação: 26/08/2020.
4 PASSI, CLARA. OABRJ. Rio de Janeiro. 26/08/2020. STF julga ADI e assegura à advocacia direito de ser rece-
bida por juízes. Pleito era bandeira constante da Comissão de Prerrogativas da OABRJ.
Concluindo
Mesmo com toda tecnologia a disposição das partes, ainda assim se torna justo e
necessário que determinadas audiências sejam realizadas na forma presencial.
Há uma certa aversão de alguns magistrados que procuram evitar receber as partes
e advogados em seu gabinete, criando certa animosidade entre as classes. São exceções.
Alguns até questionam a efetividade de tal aproximação do causídico em seus gabinetes,
preferindo apenas a entrega de memoriais através dos meios eletrônicos.
Porém, a frieza das letras estampadas nas petições não são suficientes para ressal-
tar as nuances que envolvem uma causa complexa ou urgente. Por essas, dentre outras,
justifica-se a aproximação permanente da magistratura e advocacia. Através da coope-
ração mútua e de forma efetiva aplicar-se-á a justiça de forma célere atingindo os obje-
tivos der cada uma das profissões, ainda que as facilidades da modernização da justiça
tragam a possibilidade de realização de tudo pelo meio virtual, o contato presencial
ainda se faz necessário e salutar para todos os personagens da JUSTIÇA.
176
MINAS GERAIS
A prática da advocacia, uma das profissões mais antigas do mundo, está passando
por uma transformação profunda e inegável em resposta às mudanças sociais, tecnoló-
gicas e econômicas do século XXI. Hoje, mais do que nunca, o exercício do direito requer
uma adaptação constante para atender às demandas de uma sociedade em constante
evolução.
À medida que nos deparamos com um futuro onde a tecnologia desempenha um
papel relevante em quase todos os aspectos de nossas vidas, a advocacia não é exceção. A
177
automatização, a inteligência artificial e a análise de dados estão remodelando a forma
como os advogados realizam pesquisas jurídicas, gerenciam documentos e até mesmo
preveem resultados de litígios. Os avanços tecnológicos permitem uma maior eficiência
e precisão, mas também desafiam os advogados a adaptarem-se a novas habilidades e
conhecimentos para atender às expectativas de seus clientes.
Juntamente com a revolução tecnológica, as demandas dos clientes também estão
evoluindo. Os clientes não estão mais satisfeitos apenas com uma representação legal
habilidosa; eles exigem soluções rápidas, acessíveis e inovadoras. Empresas e indivíduos
estão buscando alternativas ao processo judiciário demorado e dispendioso, o que co-
loca a resolução de conflitos como um dos pilares da advocacia do futuro. A capacidade
de oferecer alternativas eficazes ao litígio tradicional, como a mediação e a arbitragem,
tornou-se uma vantagem competitiva significativa.
A globalização também desempenha um papel central na redefinição da advoca-
cia. Os advogados enfrentam transações internacionais cada vez mais complexas e dis-
putas transfronteiriças que desafiam as estruturas tradicionais do direito. A advocacia
1 Presidente CESA/MG.
do futuro exige a capacidade de adaptar-se a essas mudanças e entender a dinâmica
legal em contextos globais.
Além disso, a formação dos profissionais do direito nas faculdades deve evoluir
para preparar os futuros advogados para o mundo em rápida transformação. A grade
curricular deve ser atualizada para integrar as tecnologias emergentes, LGPD e com-
pliance, resolução de conflitos e negociação, além de enfatizar o desenvolvimento de
habilidades socioemocionais, como empatia, escuta ativa e comunicação eficaz, além
de fomentar o estudo da ética. A advocacia do futuro requer um novo tipo de advogado,
com habilidades multidisciplinares e uma compreensão profunda das complexidades do
mundo jurídico moderno.
Nesse cenário, o papel do CESA (Centro de Estudos das Sociedades de Advoga-
dos) se torna ainda mais vital. O CESA, como entidade representativa dos escritórios
de advocacia, tem a responsabilidade de apoiar os profissionais do direito à medida que
enfrentam esses desafios em constante evolução.
3. A necessidade de formação dos profissionais do Direito para lidar com meios adequados
de solução de disputas
2 DIEZ-PICAZO, Luis. Fundamentos del derecho civil patrimonial. 6ª ed. Madri: Civitas, 2007, p. 45.
o que se exigirá mudanças na formação dos profissionais do Direito, a fim de que eles
sejam capazes de enfrentar a nova realidade da advocacia.
Assim é que as Faculdades de Direito devem ampliar suas abordagens educacionais
para incluir uma ênfase significativa nos métodos de soluções alternativas aos conflitos,
notadamente a mediação e a arbitragem. Isso envolve a alteração da grade curricular
que forneça aos estudantes uma compreensão profunda desses métodos de resolução
de disputas, bem como oportunidades para aplicar essas habilidades em situações reais.
A formação prática é fundamental. Através de simulações de casos reais, os estu-
dantes têm a oportunidade de atuar como mediadores e árbitros, ganhando experiência
em facilitar a comunicação entre partes em conflito e emitir, conforme o método utili-
zado, decisões justas e equitativas. Essas simulações promovem o desenvolvimento de
habilidades essenciais para o ADR.
O treinamento em tecnologia também se afigura essencial para lidar com ADR no
ambiente atual. As faculdades de direito devem integrar ferramentas e recursos de tec-
nologia relacionados ao ADR, ensinando como usar plataformas online para facilitar a
resolução de disputas e incorporar a análise de dados na tomada de decisões.
Além de mediação e arbitragem, a formação deve se concentrar nas habilidades
180
de negociação e comunicação. A capacidade de representar eficazmente os interesses
dos clientes, entender suas necessidades e alcançar acordos mutuamente satisfatórios é
fundamental na advocacia do futuro.
A advocacia do futuro muitas vezes exige colaboração com profissionais de outras
disciplinas, como psicólogos, terapeutas e especialistas em resolução de disputas. A for-
mação dos profissionais do direito deve enfatizar a importância da interdisciplinaridade
e a capacidade de trabalhar em equipes multidisciplinares.
Destarte, a ênfase na mediação, arbitragem, tecnologia e habilidades interpessoais
é essencial para garantir que os advogados estejam bem preparados para atender às de-
mandas de um mundo jurídico em constante evolução.
4. Conclusão
DESAFIOS
ROTINA
185
PARAÍBA
1 Sócio do Sebadelhe Aranha & Vasconcelos Advocacia. Fundador e Ex-Presidente da AATRAPB – Associação
dos Advogados Trabalhistas da Paraíba, sendo atual representante da entidade junto a ABRAT – Associação
Brasileira de Advogados Trabalhistas. Presidente de CESA/PB – Centro de Estudos das Sociedades de Advo-
gados, Seccional Paraíba.
na advocacia e pode ser fundamental para o sucesso do advogado. Desde a construção da
reputação até a atração ética de clientes, passando pela formação e estabelecimento de
autoridade sobre determinada área e/ou assunto, a própria autopromoção em redes so-
ciais, nada disso pode ser minimizado. A máxima de que “advogados que não aparecem,
não são vistos pelo mercado” tornou-se ainda mais genuína e atual.
Ademais, o direito não existe em um vácuo, já que ele interage com outras disci-
plinas em nossa sociedade complexa. Advogados que adotam uma abordagem interdis-
ciplinar podem oferecer soluções mais abrangentes, com um pensamento mais amplo
e holístico. A interseção entre o direito, a tecnologia, a ciência e o meio ambiente, por
exemplo, está se tornando cada vez mais relevante. Advogados que compreendem essas
interações e podem colaborar com especialistas de outras áreas têm uma vantagem na
busca por soluções eficazes.
Eis acima um panorama rápido de um futuro que já chegou, que é realidade e que
tende a se tornar ainda mais complexo nos anos vindouros.
Todavia, investe-se, discute-se e trabalha-se muito o futuro da advocacia, mas tal-
vez, e fica aqui a reflexão, seja o momento de também olhar para trás e resgatar valores
e boas práticas do passado. E essa afirmação não é à toa!
188
Como bem se sabe, toda essa advocacia moderna nasceu em meio a uma avalanche
de cursos de direito abertos de forma indiscriminada, sem concreta fiscalização dos ór-
gãos estatais de controle. O direito e aqueles que se lançam nos cursos jurídicos passam
por um estelionato educacional sem precedentes.
Segundo matéria veiculada no sitio eletrônico do Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil2, uma das razões para o enorme número de advogados no País é a
abertura indiscriminada de cursos de direito. De acordo com a matéria, se o número de
inscritos na OAB é surpreendentemente grande, aquele referente aos estudantes de di-
reito é estarrecedor. Em agosto de 2022 existiam cerca de 1,8 mil cursos jurídicos no País
e, segundo dados do próprio órgão, são mais de 700 mil alunos matriculados.
O referido artigo ainda relata que a Ordem, por meio do Exame de Ordem Unifica-
do (EOU), funcionando como uma espécie de funil educacional, peneirando os bacharéis
aptos a trabalhar como advogados, retém cerca de 80% dos inscritos. A taxa de aprova-
ção no Exame de Ordem não passa de 20%, em regra.
2 https://www.oab.org.br/noticia/59992/brasil-tem-1-advogado-a-cada-164-habitantes-cfoab-se-preocupa
-com-qualidade-dos-cursos-juridicos. Acesso em 06/10/2023.
Será isso normal e aceitável? Como garantir uma boa e mínima formação técnica a
todos esses estudantes? Como fazer com que esses estudantes venham para o mercado
de trabalho da advocacia não apenas com todos os “predicados modernos” de um advo-
gado, mas, igualmente, com os “predicados antigos”, a exemplo de um escorreito portu-
guês, domínio da gramatica, formação sólida em direito material e processual?
O desafio é enorme. A despeito de nos grandes centros urbanos e nos Estados mais
desenvolvidos o número de bons profissionais que adentram ao mercado da advocacia
seja até expressivo, não é essa a realidade que se percebe Brasil afora. E isso é por deve-
ras preocupante, na medida em que uma advocacia forte, bem preparada é sinônimo de
uma sociedade segura, bem protegida em relação as suas garantias, direitos e liberdades.
O estado democrático de direito clama por uma advocacia robusta, bem formada.
E não se está aqui a defender ideias retrógradas, um apego ao tradicionalismo e ao
formalismo de tempos antigos, ou mesmo a rigidez dos tradicionais cursos jurídicos de
outrora, nos quais se buscava uma formação conservadora e as vezes até endurecida do
advogado. Nada disso!
O que se chama a atenção é para o excesso de valorização dessas tão importantes
novas competências e habilidades em detrimento do básico, do conhecimento sólido
189
que deve permear a formação de qualquer bom advogado. Sem essa base, se afigura pra-
ticamente impossível fazer o advogado gozar de um tirocínio jurídico diferenciado que
o permita funcionar como o agente de transformação social que deve ser em essência,
se valendo de todas as facilidades, competências e novidades que a modernidade pro-
porciona.
SÉRGIO ANTUNES LIMA JÚNIOR, advogado e mestre em Direito, em destacado
artigo publicado no MIGALHAS3 aponta alguns caminhos para a problemática ora abor-
dada e que se mostram interessantes, reforçando que a advocacia precisa ser valorizada
e revistos, urgentemente, os métodos de formação do advogado:
3 https://www.migalhas.com.br/depeso/320609/necessaria-implementacao-de-um-novo-modelo-de-forma-
cao-do-advogado-em-prol-da-valorizacao-da-profissao-e-da-efetiva-qualificacao-do-profissional-no-bra-
sil--novas-atribuicoes-da-ena-e-esa-s.
de formação que deverão ser estruturadas com esta finalidade.
Se pensar em um modelo em que se privilegie a ESCOLA NACIONAL
DA ADVOCACIA, com a possível delegação docente e de formação para
as ESAs das Seccionais e Subseções (com determinado número míni-
mo de inscritos) poderia ser um avanço considerável. Ou ainda, e de
forma alternativa, aproximando-se do modelo francês, estabelecer um
determinado número de Escolas de Advocacia Regionais e compatíveis
com o número de advogados que se pretende formar por semestre, sob
a tutela da ENA.
A implementação deste novo sistema importaria, sem qualquer dúvi-
da, em uma melhor qualificação do advogado e exigiria um maior com-
prometimento dos estudantes de Direito em sua trajetória acadêmica
quando na busca do bacharelado, uma vez que o ingresso nas Escolas
levaria em consideração as notas do pretenso aluno, além do exame de
ingresso”.
191
PARANÁ
Internet das coisas, Inteligência Artificial e integração digital são algumas das
ferramentas que muito se desenvolveram e auxiliam a criação de negócios disruptivos,
nos últimos anos. Com os avanços da tecnologia, vem os desafios que acompanham as
mudanças Estes novos modelos transformaram os originais, tidos como mercado tradi-
cional, e consequentemente provocaram a regulamentação de novos ambientes de inte-
resses e urgiram os agentes dos mercados a se posicionarem de novas formas.
Com a advocacia a situação não é diferente. As tendências da sociedade sempre
foram facilmente apreendidas no cotidiano e, tendo em vista que o Direito se volta para
sociedade, referidas tendências acabam repercutindo na sua própria dimensão. Com ve-
locidade maior do que a esperada e resultados nem sempre previsíveis, as novas realida-
193
des trazem alterações no perfil dos protagonistas da comunidade jurídica.
Há quem hesite sobre futuro dos advogados após o lançamento do ChatGPT, que
funciona através da aquisição de conhecimento a partir de informações captadas, sendo,
previsivelmente, capaz de redigir peças jurídicas de qualidade e, portanto, em tese, de
substituir o trabalho do jurista.
Diz-se necessário, portanto, que o operador do Direito mude, revitalize, digitalize,
revolucione para não perder seu protagonismo dentro da sociedade, para continuar indis-
pensável para as relações nela celebradas e, assim, aperfeiçoar o exercício da advocacia.
Mas não é só a mudança comportamental. O treinamento de novas ferramentas é apenas
um pequeno complemento do que se espera da advocacia e do seu múnus na sociedade.
Advocacia institucional, como percepção de crítica social, recentemente vem tendo sua
credibilidade questionada, sua imparcialidade debatida e seu papel enquanto defensor
das causas democráticas enfraquecido, dizem alguns, por ter ora aderido ideologicamen-
te ao establishment ora por ter condescendido com ideologias político partidárias.
Nessa breve contribuição pretendemos explorar o trabalho do Centro de Estudos
das Sociedades de Advogados (CESA) em seus quarenta anos de vida e debater o que os
espera, no mínimo, pelos próximos quarenta. Vida longa ao CESA!
O JOVEM CESA COM QUARENTA ANOS
CESA DO FUTURO
1 VIEIRA, Oscar Vilhena. A Batalha dos Poderes: da transição ao mal-estar constitucional. 1. ed. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2018.
Mas atualmente precisamos evitar as polarizações. O Direito, por meio dos advogados
que militam a favor do desenvolvimento econômico e social, é o principal instrumento
de inclusão e de elemento de agregação para construção de soluções e consensos.
Por esta razão que se faz tão importante quanto identificar a crise, marcar as afini-
dades, para indicarmos as convergências como guardiões aglutinantes de nossos valores
comuns.
E é por isso que temos que construir alternativas que prescindam da atuação do
Estado e outras que coloquem o Judiciário mais próximo das necessidades da Nação.
Cabe aos advogados organizados no CESA encontrar mecanismos que propiciem uma
sociedade justa e menos litigante.
Este talvez seja o maior desafio do CESA do Futuro. Não se olvida que os maiores
empreendedores e líderes empresariais do País são atualmente assistidos pelos
associados do CESA que recebem como um termômetro o calor dos anseios sociais. O
CESA não pode calar ou assistir passivamente a corrosão dos anseios sociais omitindo-
-se perante esta grave crise institucional. Neste instante tem a missão de protagonizar
as soluções para o aprimoramento das relações entre os três poderes, com uma postura
responsiva e corajosa, para proteger o exercício da advocacia e da liberdade de expressão
196
no que há de mais sagrado: a salvaguarda do Estado Democrático de Direito.
2 Nesse sentido, conforme explanado por João Carlos Pietropaolo, a finalidade primária do direito não é aten-
der a demandas econômicas, mas, antes àquilo que é justo: “Em terceiro lugar, o sentido final do direito será́
o justo, um tipo de condição de compreensão racional do direito em razão de seu fim. Sem se reportar ao justo,
a interpretação será sempre provisória, no aguardo de argumentos que lhe deem”. PIETROPAOLO, Joao Carlos.
Limites de critérios econômicos na aplicação do direito: hermenêutica e análise econômica do direito. 2009.
Tese (Doutorado. Área de Concentração: Filosofia do Direito) – Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo, p. 240.
O CESA PROTAGONISTA DO FUTURO
Colocamos dois objetivos desafiadores para o CESA nas últimas linhas: o de ser
protetor do Estado Democrático de Direito através de seu papel de prestígio na socieda-
de brasileira e o de ser interlocutor das novidades trazidas pela revolução tecnológica no
mercado para as sociedades de advogados com intuito de que elas possam melhor satis-
fazer o interesse de seus clientes e estarem calçadas para salvaguardar os parâmetros da
ética que devem balizar a prática da advocacia.
E como materializar essas tarefas? Há caminhos fundamentalmente desafiadores
e outros de cunho eminentemente prático. Por exemplo, nos próximos anos almejamos
melhor comunicação por meio das redes sociais de nossa instituição para aprimorarmos
o diálogo, por meio da via digital, entre os membros dos valiosos Comitês temáticos do
CESA e a sociedade civil. Esta medida irá incentivar maior clareza nos objetivos do CESA
e o engajamento com os advogados mais jovens. Quiçá teremos espaço para publicações
técnicas de periódicos digitais voltados para os interesses dos associados, bem como
acervo com os vídeos das conferências as quais são mensalmente tão bem organizadas
pelos comitês e as seccionais. Também poderia se mostrar como plataforma de divul-
198
gação da lista de fornecedores de serviços para assessoria dos escritórios, ainda que em
forma de convênio com publicações especializadas nacionais e estrangeiras.
Vê-se também valor na elaboração de eventos itinerantes periódicos, de forma a
prestigiar as seccionais estaduais do CESA. Aliás, percebemos como veemente rica a me-
dida que é a marca registrada da atual gestão do CESA, capitaneada pelo presidente Gus-
tavo Brigagão, manifesta pelo reflorescer da descentralização das atividades do Centro
de Estudos. Esperamos que nos próximos anos algumas plenárias já possam ser organi-
zadas nas mais diversas secionais do país, inclusive para sensibilizar as associadas que
tem menor número de advogados para as causas pro-bono e de responsabilidade social.
O presente está conectado com o futuro. Muito há ser feito, mas os primeiros pas-
sos já foram colocados em marcha com os concursos e reconhecimentos promovidos
pelo CESA.
A tarefa institucional do CESA, enquanto comunidade de advogados não é pe-
quena, mas enquanto partícipe de nossa associação, nunca foi tão necessária, para de-
fendermos nosso valor comum que, em última análise, se resume na defesa do Estado
Democrático de Direito. Não bastam palavras, precisamos de transformações.
PERNAMBUCO
Para se ter um vislumbre do que será o futuro da advocacia e do CESA, nada mais
justo e necessário do que se olhar o retrovisor, o passado e a importância e relevância
da instituição no cenário nacional e os movimentos pelo qual a advocacia participou e
ultrapassou. Independente de para onde se caminhará e quais os desafios que surgirão,
uma coisa é certa: o que se deixa para trás é relevante e foi um aprendizado constante
nesse turbilhão de mudanças vividas pela advocacia, pela instituição e pelo mundo
jurídico.
Para contextualizar melhor a implicação e a influência dos fatos ocorridos, mere-
ce destaque o nascimento do centro de estudos de advogados, advindo da intenção da
advocacia em confraternizar nos encontros com os colegas e ao mesmo tempo trocar
199
ideias e experiências de forma leal e visando o fortalecimento das sociedades, bem como
as experiências, formatos, alcance territorial e direções que foram tomadas pelas bancas
de advocacia ao longo dos anos.
Logicamente o nascedouro do CESA com a sua formalização foi um marco tempo-
ral importantíssimo, contudo, a simbiose e a vontade de crescer juntos, gerir de forma
profissional, evoluir e aprender já vinha de antes, servindo esse momento como pontapé
documental para o que hoje representa grande parte da advocacia nacional, seus inte-
resses e seu desenvolvimento e perpetuação.
Com o passar dos anos, cada direção contribuiu para a robustez e crescimento
paulatino do CESA, ampliando em números de filiados, em expansão territorial, em re-
presentatividade e respeitabilidade, culminando no que hoje é a instituição. É evidente
que em cada momento vivido advieram desafios – cada época com seus percalços – mas
todos eles auxiliaram na evolução das sociedades.
Viu-se e ouviu-se falar em reengenharia de métodos gerenciais, advocacia 2.0, 3.0,
4.0, metodologias, reconstrução, revolução – e isso só para falar sobre gestão; mas não
202
PIAUÍ
1 Advogado. Membro da Sociedade de Advogados Álvaro Fernando Mota Advogados e Consultores. Presiden-
te do CESA Piauí.
judiciais. A velocidade dos avanços tecnológicos supera a capacidade de absorção desses
conhecimentos em AI na formação inicial dos cursos de Direito – o pode levar a se pro-
jetar a substituição de profissionais por robôs em diversas tarefas repetitivas, derivando
disso maior produtividade dos escritórios.
Dessa forma, o futuro aponta para mudanças significativas no trabalho dos advo-
gados devido aos avanços tecnológicos. Contudo, é crucial lembrar que nenhuma má-
quina ou sistema de inteligência artificial pode replicar a capacidade humana de pensar
de maneira diversa e única – sobretudo considerando que a cognição humana se faz
acompanhar de valores éticos e morais, da capacidade de agir com empatia e de medir
subjetivamente os impactos de certas ações a decisões. Diante das transformações so-
ciais resultantes do avanço tecnológico, Eric Hobsbawm alertaria para a possibilidade
de vivermos tempos sombrios de uma revolução das máquinas – a qual será tanto mais
positiva quanto maior for o controle humano sobre a automação.
Neste sentido, mesmo com essas mudanças, o olhar humano sobre as questões
jurídicas não pode ser transferido integralmente para sistemas tecnológicos baseados
em algoritmos, pois cada caso possui particularidades e está sujeito a conjunturas que
escapam à percepção não humana. Isso significa que o papel do profissional de Direito
204
continuará a fazer diferença, o que faz das transformações tecnológicas e das revoluções
das máquinas um aspecto processual, não a essencialidade da atividade jurídica.
Convém sempre lembrar que o Direito é uma ciência voltada para o homem em sua
essência, constituindo-se em um sistema normativo que rege as relações entre os indiví-
duos em uma sociedade, sendo sua origem intrinsecamente ligada ao desenvolvimento
humano ao longo da história. Sua evolução é um reflexo da complexidade das interações
sociais e das necessidades de organização e controle – e nesse ponto, para além dos usos
tecnológicos, será necessário enxergar novos campos de atuação decorrentes de deman-
das emergentes no futuro para o Direito.
Devemos lembrar que em seus primórdios o Direito surge menos como mecanis-
mo para garantias individuais e mais como regulador social nas primeiras comunidades
humanas, mas desde as codificações das leis na antiga Mesopotâmia, por volta de 2100
a.C., com o Código de Ur-Nammu e, posteriormente, o famoso Código de Hamurabi, sua
função foi a de garantir construções sociais sólidas, mais ainda quando a diversidade e a
complexidade das civilizações se firmaram.
As bases filosóficas do Direito, que herdamos de Aristóteles e Platão, bem como
conceitos pétreos surgidos no Direito Romano nos mostram que o avanço tecnológico
no exercício profissional deve ser incapaz de alterar as percepções humanas decorrentes
dessas construções jurídicas milenares.
Justiça e equidade, respeito à propriedade, a percepção de sinais do bom direito,
onde quer que ele esteja, a ampla defesa e o contraditório, a dúvida favorecendo ao réu,
o bom senso como guia de nossas ações, e equidade como princípio fundamental para
não desfavorecer uma parte são temas imutáveis. A tecnologia os recepciona e pode até
fazer com que seu uso, na técnica, seja mais bem feito em favor da Justiça. Produtivida-
de em razão de avanço tecnológico não é prescindir do elemento humano, mas fazê-lo
mais eficiente, proativo, capaz de executar mais tarefas sem perder de vista sua condição
humana.
Sabemos que os avanços tecnológicos podem, de fato, alterar substancialmente
o trabalho dos advogados, mas é evidente que não poderão jamais ser suficientes para
dispensar a presença humana na Advocacia. A máquina pode funcionar perfeitamente,
mas sua eficácia depende da subjetividade humana – na qual está a nossa infinita capa-
cidade para o exercício da ética. Portanto, é mais sensato agir no Direito impulsionado
por pessoas do que por sistemas de informação baseados apenas em números, mantendo
uma razão humana capaz de reconhecer a possibilidade de injustiça e erro.
205
A sociedade contemporânea enfrenta uma revolução tecnológica abrangente, in-
cluindo o setor jurídico. A inteligência artificial pode automatizar tarefas rotineiras, ge-
rando debates sobre o papel futuro dos advogados. No entanto, a natureza humana do
Direito, intrinsecamente ligada à ciência social moldada por cultura, valores e nuances
humanas, permanece inabalável. Não há máquinas, softwares, bots ou sistemas de in-
formação baseados em inteligência artificial que possam reproduzir essas competências
cornificavas humanas.
Compreendemos, assim, que a interpretação de leis, a administração da justiça
e a resolução de conflitos requerem uma compreensão profunda da natureza humana,
algo que as tecnologias, por mais avançadas que se tornem, não conseguem replicar
totalmente – embora possam fazê-lo não por princípio ou iniciativa próprias, mas como
replicadoras da ação humana. A prática do Direito exige empatia e um julgamento ético
apurado, habilidades cruciais para lidar com situações complexas e nuances emocionais
e éticas que as máquinas não podem compreender plenamente. E é possível que mesmo
sendo mais ágeis seguirão como incapazes de ter o mesmo nível de habilidade cognitiva
humana.
Nesse contexto, o papel do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados torna-
-se vital na preparação dos profissionais do Direito para os desafios do futuro – fazen-
do-se repositório e replicador de saberes decorrentes desses avanços tecnológicos. O
CESA, como um espaço de relações corporativas baseadas na amizade, guiar-se por uma
cultura de cooperação, algo realmente positivo num mundo em que se valoriza mais a
competição – sobretudo em nossa contemporaneidade eivada por avanços tecnológicos
que aprimoram produtividade pela rapidez da automação, ao tempo em que se enxer-
gam esforços mitigadores da necessidade do advogado como elemento essencial no fa-
zer jurídico-forense. Assim, atua o CESA para crescimento de todos os que dele fazem
parte, fazendo-se instituição humana, possibilitando o contato humano – sem embargo
dos usos tecnológicos como ferramenta de gestão e aumento de rendimento.
O CESA prima por alinhar o Direito aos avanços tecnológicos e, neste sentido, tem
se guiado pelo estímulo ao uso da tecnologia da informação e mais recentemente o da
inteligência artificial, como ferramentas de trabalho nas sociedades de advogados.
Esse trabalho do CESA não se circunscreve à entidade e seus associados, pois con-
forme a sua cultura colaborativa, há que se estabelecer interfaces com outras organi-
zações, sendo a Ordem dos Advogados do Brasil a primeira nessa perspectiva de coo-
peração – que foca ainda em segurança jurídica e desenvolvimento econômico, fatores
206
preponderantes para mais e melhor atuação das sociedades de advogados. Esse desenho
institucional que privilegia a ação cooperativa e solidária afasta do CESA a condição de
uma entidade focada em interesses pontuais, de modo que uma solução construída no
âmbito da instituição se prestará a atender a todos os que dela fazem parte. Ademais,
a referida instituição visa à formação como elemento que deve transcender o conheci-
mento técnico, incorporando aspectos éticos, sociais e emocionais na prática jurídica.
O desenvolvimento de habilidades não facilmente replicáveis por máquinas torna-se
imperativo.
Assim, sendo a automação um passo sem volta e que concorre para agilizar pro-
cessos e facilitar tarefas rotineiras, é fundamental que os advogados abracem as opor-
tunidades oferecidas pela tecnologia para aprimorar seu trabalho. Ferramentas de inte-
ligência artificial podem ser aliadas na pesquisa jurídica, análise de dados e previsão de
resultados, permitindo que os advogados se concentrem em aspectos mais complexos e
humanos da prática jurídica.
O futuro da advocacia e os desafios iminentes são temas de grande interesse para
nós. O ato de advogar não é meramente um fazer profissional, a rotina das formalidades
tão comuns e muitas vezes inalcançáveis ou da lida com as leis. É, principalmente, uma
atividade humana que requer dedicação, respeito às pessoas, conduta ética irreparável e
compromisso com o próximo. Traduz-se a advocacia também em ação solidária, em que
a tecnologia é parte da rotina e necessidade recorrente.
Tem sido comum em nosso país enxergar no advogado um profissional que age
apenas com a frieza técnica jurídica ou, em olhar estereotipado, como profissional que
se move por interesses comezinhos. Nunca se enxerga a real importância do seu mister
para a vida das pessoas, seja na preservação dos direitos individuais e coletivos, seja
na obtenção de sentenças condenatórias àqueles que atentaram contra as prerrogativas
alheias.
Neste aspecto, para além dos usos tecnológicos, teremos que perceber o trabalho
futuro do advogado através de multidisciplinaridade. Há que se estabelecer um diálogo
com outras áreas do conhecimento humano, a começar pela inteligência artificial, a qual
se impregna de um fluxo gigantesco de informações. Especializar-se ou ter uma postura
propedêutica tende a ser essencial para os novos tempos, em que os desafios exigirão
sempre novos saberes e novas competências.
É, assim, adequado que se olhe para o futuro não como uma ocorrência em um
horizonte longo demais para não ser percebido. O futuro se constrói de modo cotidiano
207
e agora. Neste cenário, quem antecipa-se o futuro com estudo recorrente e obsessivo, o
que pode dar aos que assim agem a capacidade para antecipar tendências, compreender
os avanços tecnológicos, perceber que as mutações sociais, econômicas e culturais farão
surgir novas demandas jurídicas.
Em meio a esses processos evolutivos que tanto tempos que compreender quanto
acompanhar e incorporar como técnica e demandas profissionais novas e desafiadoras,
cabe lembrar que seguiremos sempre, pela natureza de nossa atuação profissional, como
advogados. Nossa natureza, com efeito, segue o padrão de defesa da sociedade, dos di-
reitos da pessoa humana, que se estendem desde questões mais simples até demandas
jurídicas que podem se transformar em paradigmas para o futuro.
Neste sentido, é que o advogado age não apenas para si, mas para a coletividade.
Mesmo uma ação individual ou especialíssima pode redundar em benefício de todos,
porque não se trata de defender uma pessoa em si, mas o direito comum a todos, so-
bretudo o que chamamos de direitos fundamentais ou, mais simplesmente de direitos
humanos.
Os advogados são pessoas humanas defendendo gente e seus direitos. Não é ape-
nas profissão, mas compromisso. Não é apenas um ato de trabalho para uma contrapar-
tida financeira, mas uma ação de quem acredita na democracia, no Estado de direito, na
possibilidade de se fazer Justiça e de se atingir sempre o bom senso. Advogado, enfim, é
um ato humano e humanista.
Certamente, vivemos tempos de transformação necessária, impulsionados por no-
vos profissionais e avanços tecnológicos, mas o advogado deve estar atento ao ambiente
que o cerca, pois a legislação não muda com a mesma rapidez que os usos e costumes. Ao
olhar além da fria letra da lei, o advogado contribui para estabelecer novos paradigmas
judiciais e torna-se protagonista de mudanças essenciais para a melhoria da sociedade.
Portanto, o futuro da advocacia deve equilibrar a incorporação de tecnologias ino-
vadoras com a preservação dos elementos humanos inerentes ao Direito. A máquina
pode ser uma auxiliar valiosa, mas a empatia, a ética e a compreensão profunda da na-
tureza humana continuarão a posicionar o advogado como uma figura insubstituível no
cenário jurídico.
208
RIO DE JANEIRO
Ao longo dos últimos quarenta anos, o Centro de Estudos das Sociedades de Ad-
vogados (“CESA”) deixou de ser um simples fórum de troca de ideias, e se transformou
numa instituição de referência no desenvolvimento das sociedades de advogados no
Brasil. Com a reunião de gestores de escritórios em todo o Brasil, existe no CESA um
esforço conjunto para debater temas de interesse comum, como regulamentação da pro-
fissão, modelos de inclusão/diversidade, modelos de gestão e de formação de sócios,
questões fiscais e trabalhistas.
Com o objetivo maior de estabelecer padrões que favoreçam a atuação dos escri-
tórios de advocacia em um ambiente de negócios cada vez mais dinâmico, moderno e
209
inclusivo, o CESA hoje assume um importante papel nas iniciativas de transformação
da sociedade, liderando a discussão de temas que envolvem os escritórios de advocacia,
o Direito e a sociedade como um todo. Por meio dessas iniciativas e discussões, o CESA
assume atualmente relevante capacidade de desenvolver e influenciar o futuro da advo-
cacia.
Para a análise desse futuro, é impossível não falar sobre tecnologia. Fica cada vez
mais claro que as novas tendências da área jurídica se baseiam na tecnologia e na in-
teligência artificial. Por meio dessas ferramentas, é possível alcançar a automatização
de procedimentos, gerando alternativas essenciais para a atividade advocatícia. Investi-
mentos em softwares jurídicos e outras estratégias tecnológicas são essenciais na orga-
nização dos processos e no ganho de agilidade na gestão interna dos escritórios. Essas
soluções tecnológicas possibilitam, por exemplo, a gestão e a assinatura digital de do-
cumentos; a redação de petições e procurações padronizadas; a pesquisa de precedentes
1 Sócio fundador do escritório Barbosa Müssnich Aragão. Presidente do CESA – Rio de Janeiro.
A dificuldade não deve servir de empecilho para a evolução, muito pelo contrá-
rio. E dentro desse cenário, o CESA tem um grande potencial de influenciar e expandir
ideias inovadoras para que a inclusão seja realizada de forma mais efetiva. Em 2017,
por exemplo, o Comitê de Diversidade e Responsabilidade Social apoiou ativamente o
CESA no lançamento do “Projeto Incluir Direito”, uma iniciativa inovadora, que qualifi-
ca estudantes de Direito, autodeclarados negros, para inserção no mercado jurídico. Por
meio desse projeto, que meu escritório tem a honra de participar, busca-se um ambiente
jurídico mais diverso e acolhedor, que desenvolva uma atuação jurídica coerente e afir-
mativa.
Cabe aos advogados e seus respectivos escritórios estarem atentos a essas novas
211
perspectivas, aproveitando-se da tecnologia de forma inteligente, mantendo um nível
de conhecimento e criatividade sempre elevado e adotando um olhar mais cuidadoso
para toda a questão social que envolve nossa sociedade. O CESA tem uma grande im-
portância nesse caminho, que vai além de uma mera representação de seus associados,
abrangendo a promoção de estudos e debates, inclusive no âmbito social, o que se revela
essencial para o futuro de nossa advocacia.
( I ) O primeiro desses desafios que deverão ser enfrentados como soluções para
o futuro está no JUDICIÁRIO. O Judiciário como um todo e de uma forma muito especial
o Supremo Tribunal Federal. E isso porque o STF vem adotando e provavelmente conti-
nuará adotando uma posição inovatória, razão pela qual a atitude do CESA deverá ser,
entre aspas, combater e fomentar o combate a essa postura do Supremo. Trata-se de um
ativismo judicial pelo qual o STF acaba propositadamente governando. Não porque o
Supremo seja “mauzinho”, mas sim porque a incompetência, a inação, os corporativismo
e clientelismo escancarados dos outros poderes fizeram e fazem com que o Supremo se
encoraje a tomar uma atitude proativa, muitas vezes de ofício. Atitude de muitas vezes
tomar à frente de problemas por ele supostos e decidir, com questionável legitimidade
constitucional para atuar de ofício. A nossa corte suprema está em verdade governando
através de suas decisões, como já fazia no governo anterior e agora está alguma vezes
emparedando o governo atual, o qual ensaia, em esforço apressado mas inequívoco, mo-
vimentos para obter uma maioria parlamentar e, quem sabe, aprovar normas que possam
travar ou limitar essa proatividade do Supremo, u até invalidar alguma decisão da corte.
Por isso que esse nosso DNA, inovatório e de vanguarda, do nos oferece ânimo, pendor
e capacidade para colocar a experiência processual e judicial de nós advogados para
segurar e conter esse excesso de protagonismo judicial, que o Supremo vem cometendo.
E esse é o grande desafio junto ao Supremo, para o futuro, que o CESA deve e certa-
mente irá enfrentar, quando reagir ao excesso de atividade judicial. E esse enfrentamen-
to na essência é o exercício da defesa da Democracia e da Cidadania. Temos que o fazer
enfrentando a questão de forma específica, caso a caso, processo a processo, porque isso,
além de eficiente, é o que advogados sabem fazer. E não deixar passar uma oportunidade
em um processo, em uma sustentação oral, em um recurso em que deva ser questionada
a constitucionalidade e a legitimidade de o judiciário julgar o que, por determinação
214
constitucional, o legislativo tem que votar ou o executivo tem que fazer!
Mas enfrentamentos e ações a serem feitos de forma uniforme, em que cada advo-
gado, cada escritório, cada sociedade digam mais ou menos a mesma coisa. Temos que
invocar nosso argumento de inconstitucionalidade em todas as vezes e todas oportuni-
dades do mesmo jeito, porque obviamente as chances de sucesso aumentam. Tem que
ser dito “Vossas Excelências não podem governar, Vossas Excelências não podem decidir
temas que não lhes são de competência constitucional”, daquela mesma Constituição que
sempre é invocada nos julgamento do Supremo. Assim, será garantida a constitucional
cláusula pétrea da separação dos poderes. Por exemplo, que a feitura da lei ordinária é
de competência exclusiva do Poder Legislativo.
Claro que poderíamos cair em outro problema – qual o do Legislativo ou o Executi-
vo agirem de forma inadequada e de forma corporativa – mas não há outro jeito, porque
só nós podemos agir e por termos o direito e o dever de defender e de contra-atacar
direitos agredidos, por quem quer que seja, inclusive pelo Supremo. Nós advogados e
o CESA é que temos o poder ; ninguém tem mais poder que nós e mesmo credibilidade
para dizermos ao STF: calma, basta. Há que tenha, mas tanto não dizem.
E esse ora preconizado movimento inovatório do CESA vigora no mundo todo.
Transita pelos meios de comunicação e por redes sociais, em admirável e arriscada ve-
locidade. Mas são tão rápidas as pautas judiciais em série, em padrão, em standard, que
fazem com que as decisões sejam aceleradamente proferidas, os recursos rapidamente
julgados e retornando celeremente à primeira instância, já para execução.
Entendo que essa tarefa de se irresignar frente à Suprema Corte deva ser o pri-
meiro objetivo para o futuro do CESA e da Advocacia. E através dessa sugerida investida
frene ao Supremo. Com jeito e com respeito, mas com firmeza para não perdemos o
nosso respeito.
( III ) Nesse tópico final do que escrevo, tento me debruçar sobre as ferramentas
que possam existir para que o futuro da Advocacia e do CESA possa ter um enfrentamen-
to exitoso dos Itens I e II supra, quais o ativismo judicial e a inteligência artificial.
Na verdade trata-se de tríplice ferramenta e, resumidamente, elas podem ser no-
minadas como Talentos, Formação de Lideranças e Gestão, gestão desses talentos
e lideranças. Com o que estaremos crescendo e nos habilitando nessa “santa e jurídica
guerra”.
Os três pontos desse olhar para o futuro misturam-se e até se confundem em al-
guma medida. Mas não estão em ordem hierarquia. Somente os separei, como fiz com os
Itens I e II supra. Para facilitar para mim, que escrevo, e quem sabe ficar mais didático
para os que tiverem a paciência de me ler.
Relativamente aos talentos, nosso futuro na batalha residirá em uma criteriosa
e profissional seleção e recrutamento de talentos. Na praça não faltam talentos. Temos
que encontrar advogados ainda melhores para o empreendimento contra o ativismo. E
também precisamos de advogados com conhecimento técnico especializado para o en-
frentamento da tecnologia inteligência artificial.
Uma vez recrutados, o escritório deverá ter a inteligente visão de os bem treinar,
oferecer cursos, bancando de alguma forma a formação/evolução de tais talentos, para o
futuro deles e do próprio escritório. Eles muito poderão auxiliar no enfrentar do ativis-
mo e a artificialidade tecnológica.
Quanto à formação de lideranças, ela é quase um corolário do bom recrutamento
de talentos, porque os talentos que vão ingressar e se formar na parte de baixo da pirâ-
mide de cada escritório deverão tocar à frente, com sucesso, todo esse processo inovador
e de duplo alvo.
E quanto à gestão, por óbvio ela tem por escopo administrar de forma eficiente
e moderna os talentos recrutados e os líderes a serem formados. Talentos e líderes que
muito poderão auxiliar na revisão e modernização das internas rotinas operacionais dos
escritórios, em seus processos operacionais, processos esses responsáveis pelo ingresso
de uma ação judicial, pelo andamento do processo, desde sua chegada no escritório, seu
desenvolvimento e término.
217
Naturalmente essa gestão facilitará em muito as soluções de inovação a serem
protagonizadas pelos talentos e líderes que, bem geridos, por certo saberão adotar todas
as ações para o enfrentamento acima vislumbrado do ATIVISMO JUDICIAL e da INTE-
LIGÊNCIA ARTIFICIAL.
SANTA CATARINA
Giancarlo Castelan1
1 Presidente CESA/SC.
O CESA também enfrentou ao longo deste tempo desafios de aprimoramento da
administração dos escritórios, preocupando-se com a implementação de técnicas mo-
dernas de gestão de pessoas e financeira, introdução de novas tecnologias associadas ao
uso da informática, organização funcional dos escritórios, formação de sócios, questões
referentes a relações trabalhistas bem como aspectos ficais relevantes aos interesses
das sociedades de advogados. Tudo visando impulsionar o desenvolvimento e aprimo-
ramento do exercício da profissão e das sociedades, mostrando-se uma entidade conec-
tada com o dia a dia dos assuntos e interesses comuns das associadas, comprometida
permanentemente em trazer benefícios por meio de ações coletivas que vão ao encontro
dos princípios do associativismo.
De outro plano, o exercício da advocacia ao longo deste tempo de existência do
CESA mudou, várias foram as transformações, passou-se do uso da máquina de escrever
para o uso maciço e integral dos computadores, dos processos físicos para os eletrônicos,
da realização de audiências e sessões de julgamento da forma presencial para o modelo
virtual. Enfim, acontecimentos, novos hábitos e novas ferramentas que foram mudando
e revolucionando a prática do direito e o exercício da profissão, imprimindo mais veloci-
dade, mais economia de tempo e trazendo mais aplicabilidade.
220
Diante de sua realidade e dos novos padrões, o CESA com força motriz calcada na
sua atuação associativa, colaborativa e apoiadora, sempre esteve ao lado de suas asso-
ciadas, e não será diferente no atual momento. A advocacia passa por mudanças signifi-
cativas no seu exercício, com a chegada de novas técnicas de comunicação e novas ferra-
mentas tecnológicas, entre as primeiras o legal desing e o visual law, e entre as segundas
podemos citar a utilização da inteligência artificial, novos marcos transformadores que
redefinem a forma como os advogados operam e que exigirão do profissional da advoca-
cia, adaptação, habilidades, qualidades e caraterísticas para uma nova forma de advogar.
A combinação inovadora de princípios de design gráfico no ambiente jurídico, para
tornar os documentos mais simples de compreensão, transformando a informação em
algo mais acessível, estará em coexistência com o binômio tecnologia e trabalho huma-
no, advindo do uso da inteligência artificial.
A uso da inteligência artificial, aliás, representará, como já está representando,
uma ruptura com o modelo artesanal de advogar. Com a inserção da tecnologia haverá
simplificação no acesso a informações jurídicas com ferramentas de pesquisa e métodos
de automação de processos. Bases de dados substituíram a análise detida da demanda
jurídica pelo advogado, petições, ainda que complexas, serão elaboradas em segundos,
minutos, representando este estado de coisas uma seletividade para os profissionais ad-
vogados, para se adaptarem a esta forma de advocacia que já está se fazendo presente e
mira o futuro próximo.
Para tanto, estes novos profissionais que o mercado de trabalho passa a exigir, de-
verão ser dotados de expertises e características muito próprias para o momento. Além
de uma formação jurídica sólida, o advogado terá que aliar conhecimentos multidisci-
plinares e de tecnologia no exercício de suas atividades, para que possa aproveitar bem
e corretamente as vantagens do uso da inteligência artificial. A tradicional posição que
o advogado se coloca diante do problema jurídico levado a seu conhecimento será mo-
dificada, pois ao invés de responder indagações sobre ele, deverá saber o que perguntar
para a Inteligência Artificial (AI) a seu respeito, sendo assertivo nos questionamentos,
buscando obter as melhores respostas e, a partir daí, encaminhar providências para a
solução da demanda. Isto requer de sua parte, como dito, domínio jurídico, somado,
também, a uma dose de criatividade e curiosidade, além de uma boa comunicação.
O CESA, mais uma vez, é chamado a apoiar as sociedades de advogados, que tam-
bém necessitam se adaptar a esta nova realidade para abrigar e selecionar em seus qua-
dros este novo perfil de advogado. Os escritórios passarão por modificações em suas es-
221
truturas, com o uso das novas ferramentas tecnológicas e da IA, que por certo implicarão
em uma seleção natural daqueles profissionais aptos a estes novos tempos.
Sem dúvida, inúmeras serão as tarefas a serem cumpridas pela entidade, pois com
o seu poder de penetração nas sociedades de advogados a ela associadas, visto sua capi-
laridade através de suas Seccionais e Comitês, o CESA deverá dar contribuições inesti-
máveis neste novo momento.
Realça, de sua característica associativa, o traço da humanidade, congraçamen-
to de pessoas e profissionais, elemento essencial a ser considerado no momento que
a máquina começa a ganhar espaço no cenário do exercício da advocacia, implicando
em que o CESA reafirme perante suas associadas a necessidade de valorização da ap-
tidão dos profissionais, pois nada substitui o ser humano, sua inteligência, capacidade
de julgamento e empatia. Cabe ao CESA impulsionar o novo, mas valorizando sempre a
indispensabilidade de profissionais advogados nas estruturas das sociedades, angaria-
dos dentro dos critérios exigidos pela nova realidade que se avizinha. É o conhecimento
humano no centro da advocacia mesmo diante da crescente influência das máquinas.
Demais disso, justamente por se fazer presente na extensão do território nacio-
nal por suas Seccionais e fazendo uso da tecnologia hoje tão difundida de transmissões
on-line, o CESA deve buscar interiorizar suas ações, não só para suas associadas, mas
também captando novas sociedades de advogados para o seu ambiente associativo, ca-
pitaneando com o seu poder de representatividade e prestígio, reuniões abertas e fóruns
de discussões sobre este novo padrão da advocacia do futuro, capacitando profissionais
para prosperar neste novo modelo.
Assim, o CESA, que é farol de orientação para a advocacia brasileira e para as so-
ciedades de advogados, estará dando, com estas e outras ações, contribuição inestimável
ao cenário jurídico nacional nestes tempos de mudança, se preparando também para
novas décadas de existência, mantendo-se fiel ao seu compromisso de impulsionar o
novo enquanto preserva o essencial.
Outubro de 2023.
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