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“O capitalismo não foi o produto do desenvolvimento evolutivo que deu à luz forçasque
estavam amadurecendo no ventre da antiga ordem. O capitalismo foi uma resposta dos
senhores feudais, dos mercadores patrícios, dos bispos, dos papas a um conflito social
centenário que chegou a fazer tremer seu poder e que realmente produziu uma ‘ grande
sacudida mundial’ “ p.44 -> capitalismo como contrarrevolução
espaços comunais: “eram tão importantes na economia política e nas lutas das
populações …” p.50
terra e a questão do gênero: passada pela linhagem masculina; mulheres excluídas dos
cargos de camponeses mais abastados
“No entanto, as servas eram menos dependentes de seus parentes do sexo masculino, se
diferenciavam menos deles física, social e psicologicamente e estavam menos
subordinadas às suas necessidades do que logo estariam as mulheres ‘livres; na
sociedade capitalista” p.51
posse dos senhores era maior que a posse dos maridos; senhor possuía também os
homens
não dependiam de seu marido para se manter, na medida em que a terra era entregue a
uma unidade familiar e, assim, a mulher não só poderia trabalhar nessa terra como
dispor do produto de seu trabalho
“Todavia, no final do século xv foi posta em marcha uma con - trarrevolução que atuava
em todos os níveis da vida social e política. Em primeiro lugar, as autoridades políticas
empreen - deram importantes esforços para cooptar os trabalhadores mais jovens e
rebeldes por meio de uma maliciosa política sexual, que lhes deu acesso a sexo gratuito
e transformou o antagonismo de classe em hostilidade contra as mulheres proletárias.
Como demonstrou Jacques Rossiaud em Medieval Prostitution (1988) [A prostituição
medieval], na França, as au - toridades municipais praticamente descriminalizaram o
estupro nos casos em que as vítimas eram mulheres de classe baixa. “ p 103
Para estas mulheres proletárias, tão arrogantemente sacrificadas por senhores e servos, o
preço a pagar foi incalcu - lável. Uma vez estupradas, não era fácil recuperar seu lugar
na sociedade. Com a reputação destruída, tinham que abandonar a cidade ou se dedicar
à prostituição (ibidem; Ruggiero, 1985, p. 99). Porém, elas não eram as únicas que
sofriam. A legali - zação do estupro criou um clima intensamente mis ógino que
degradou todas as mulheres, qualquer que fosse sua classe. Também insensibilizou a
população frente à violência contra as mulheres, preparando o terreno para a caça às
bruxas que começaria nesse mesmo período. Os primeiros julgamentos por bruxaria
ocorreram no final do século xiv; pela primeira vez, a Inquisição registrou a existência
de uma heresia e de uma seita de adoradores do demônio completamente feminina
institucionalização da prostituição: atração para os homens trabalhadores bancados pelo
Estado [Todavia, se a regulamentação da prostituição no século XV constituiu um
ataque às mulheres e homossexuais, sua criminalização no século seguinte teve feito
ainda mais devastador.]
Até mesmo a Igreja chegou a ver a prostituição como uma atividade legítima.
Acreditava-se que o bordel administrado pelo Estado provia um antídoto contra as
práticas sexuais orgiásticas das seitas hereges, e que era um remédio para a
sodomia, assim como também era visto como um meio para proteger a vida familiar. É
difícil discernir, de forma retrospectiva, até que ponto esse “recurso sexual” ajudou o
Estado a disciplinar e dividir o proletariado medieval. O que é certo é que esse new
deal foi parte de um processo mais amplo que, em resposta à intensificação do
conflito social, levou à centralização do Estado como o único agente capaz de
confrontar a generalização da luta e de preservar as relações de classe. Nesse
processo, como se verá mais adiante, o Estado tornou-se o gestor supremo das
relações de classe e o supervisor da reprodução da força de trabalho — uma função
que continua desempenhando até os dias de hoje
Se eles foram derrotados, foi porque todas as forças do poder feudal — a nobreza, a
Igreja e a burguesia —, apesar de suas divisões tradicionais, os enfrentaram de forma
unificada por medo de uma rebelião proletária.