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Sumário

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3
1 DA CONQUISTA À REFORMA DOS DIREITOS TRABALHISTAS ............... 4

1.1 Breve Histórico do Trabalho e do Direito do Trabalho .................................. 4

2 O MARCO CONSTITUCIONAL DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL 7

2.1 Hierarquia de Normas no Ordenamento Jurídico ....................................... 11

3 A PRINCIPIOLOGIA TRABALHISTA E A PROTEÇÃO DO


TRABALHADOR...............................................................................................15

3.1 Princípio da Proteção ................................................................................. 16


3.2 Princípio da Norma mais Favorável ............................................................ 17
3.3 Princípio da Indisponibilidade dos Direitos Trabalhistas ............................. 18
3.4 Princípio da Continuidade da Relação de Emprego ................................... 19
3.5 Princípio da Primazia da Realidade ............................................................ 20

4 DIREITO AO TRABALHO ............................................................................. 21

4.1 Diferença entre o Direito ao Trabalho e Direito do Trabalho ...................... 21


4.2 Direitos Fundamentais ................................................................................ 25
4.3 Direitos Fundamentais Sociais ................................................................... 25
4.4 Direito Fundamental ao Trabalho e o Princípio da Dignidade Humana na
CF/88................................................................................................................. 27

5 CONTRATO DE TRABALHO ....................................................................... 35

5.1 Contrato por Prazo Indeterminado e Determinado ..................................... 38


5.2 Direito Individual e Coletivo do Trabalho .................................................... 39
INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é


semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao
professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o
tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos
ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não
hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de
atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!
1 DA CONQUISTA À REFORMA DOS DIREITOS TRABALHISTAS

Para uma abordagem adequada requer uma análise das origens históricas do
direito do trabalho, mostrando como os direitos dos trabalhadores foram cumpridos e
como essas garantias evoluíram até o nível constitucional.
Somente analisando o desenvolvimento dinâmico ao longo do tempo, a partir
do seu surgimento, pelas mudanças nos meios de produção e nas condições de
trabalho dos trabalhadores, é possível compreender a construção e as mudanças que
estão ocorrendo na concepção do direito do trabalho hoje.

1.1 Breve Histórico do Trabalho e do Direito do Trabalho

Antes que existisse um conjunto de normas que regulamentassem as relações


de trabalho hoje conhecidas como direito do trabalho, só havia apenas o trabalho
como forma de punição e exploração do o homem, e é nesse contexto que se inicia
este estudo.
No início, o trabalho era considerado uma espécie de punição, segundo o texto
bíblico de Gênesis, depois que Adão havia comido o fruto proibido, como punição era
dado o peso de ter que trabalhar para comer.
Historicamente, a primeira forma de trabalho era a escravidão, na qual o
escravo era visto como mera mercadoria de seu dono, sem quaisquer direitos. Este
"regime" de trabalho foi usado pelas sociedades gregas e romanas por décadas, com
os escravos sendo a mão-de-obra bruta da sociedade, mas sem direitos garantidos.
Como resultado, a humanidade começou a se organizar em feudos e surgiu
uma nova forma de trabalho conhecida como servidão. Nessa época os senhores
feudais concederam proteção política e militar aos seus servidores, que, embora não
fossem mais tratados como mercadorias, eram subordinados, não tinham liberdade e
ainda deviam entregar grande parte da produção rural aos seus senhores, restando
apenas isso para sua sobrevivência.

4
Com o desenvolvimento da sociedade, as corporações de ofício começaram a
existir já na Idade Média, uma forma de trabalho mais complexa e em que os
trabalhadores tinham maior liberdade.
As corporações de ofício buscavam agrupar trabalhadores do mesmo setor e
local para criar um estatuto com algumas regras que disciplinassem as relações de
trabalho. Havia três personagens nesta organização, os professores, os
companheiros e os aprendizes.
Nas palavras de Martins, verbis:

“Os mestres eram os proprietários das oficinas, que já tinham passado


pela prova da obra-mestra. Os companheiros eram trabalhadores que
percebiam salários dos mestres. Os aprendizes eram os menores que
recebiam dos mestres o ensino metódico do ofício ou profissão”
(MARTINS, 2012, p. 5)
(Grifado)

Nesse contexto, pode-se dizer que os trabalhadores tinham maiores liberdades,


mas que tais corporações existiam para proteger os interesses das próprias
corporações e não para oferecer proteção aos trabalhadores.
No final do século XVIII, as ideologias da Revolução Francesa dissolveram o
comércio de ofício e o tornaram realidade por meio da Lei Le Chantelier (1781), que
foi instituída pela primeira vez em seu artigo: “A destruição de todos os tipos de
corporações pertencentes a cidadãos do mesmo estado ou profissão, é um dos
fundamentos da Constituição francesa, e não pode ser restaurada sob qualquer
pretexto ou forma”. Essas medidas basearam-se na afirmação de que “a liberdade
individual repele a existência de órgãos intermediários entre o indivíduo e o Estado”.1
Com os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, a Revolução Francesa
permitiu ao homem exercer livremente qualquer profissão, desde que respeitasse o
pagamento das taxas e as normas em vigor.
Nesse cenário, a Revolução Industrial surgiu por volta de 1820, que trouxe
inúmeras mudanças extremamente significativas em todas as áreas da sociedade,
principalmente na esfera do trabalho.
A Revolução Industrial mecanizou o trabalho que os humanos faziam. No
campo, os agricultores foram trocados por máquinas e tiveram que fugir para a cidade
em busca de novas oportunidades, enquanto nas cidades aconteceu o mesmo, os

1
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
5
motores a vapor já geravam milhares de desempregados que começaram a viver à
margem da sociedade.
Com o aumento do número de desempregados, havia uma grande procura de
empregos, o que fazia com que os empregadores pudessem expor seus trabalhadores
a condições extremamente humilhantes, obrigando-os a trabalhar em condições
insalubres, em casos de incêndios, explosão, intoxicação por gás, inundações,
deslizamentos de terra, prestação de serviços com baixos salários e com uso de várias
horas.
Foi um período sombrio para os trabalhadores que enfrentaram uma miríade
de riscos no desempenho das suas funções, pois não tinham um nível mínimo de
saúde, higiene e segurança no local de trabalho, estavam sujeitos a doenças ou
sofreram um acidente de trabalho. Em todo caso, se eles ficassem incapacitados, logo
seriam substituídos por outra pessoa que trabalharia até a exaustão sob os mesmos
riscos.
As cidades daquela época descreviam os problemas dos operários nas
fábricas. Enquanto um grupo de desempregados vivia à margem da sociedade, sem
oportunidade de buscar uma vida melhor, aqueles que tinham trabalho viviam em
condições terríveis, dadas as condições muitas vezes desumanas que lhes eram
impostas. Eles permaneciam enfornados durante horas em fábricas úmidas e sujas.
Nesse ponto, tornou-se evidente a necessidade de intervenção governamental,
capaz de regular as relações industriais e coibir abusos cometidos por empregadores.
Naquela época, ainda estimulados pelas ideias iluministas repetidas desde a
Revolução Francesa, surgiram movimentos da classe trabalhadora convocando o
Estado a intervir nas relações industriais e em busca do bem-estar social. Essa
pressão dos trabalhadores forçava o Estado a expandir as funções tradicionalmente
atribuídas a ele pela doutrina liberal: além de proporcionar segurança, justiça e
construção de obras públicas, distribuir a renda e melhorar a qualidade de vida dos
desfavorecidos”.
Com a crescente mobilização dos movimentos proletariados, o Estado
começou a interferir ainda que provisoriamente nas relações de trabalho, e leis
dispersas foram criadas em vários países para suprir a hiporregulamentação.
Levantar a proibição do trabalho infantil noturno e por mais de 12 horas e o “conseils

6
de prud'hommes”, um conselho estabelecido na França em 1806 para administrar
organizações de trabalhadores e resolver disputas industriais.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, surgiu pela força um movimento de
constitucionalismo social que pretendia elevar vários direitos sociais ao nível das
normas constitucionais.
Nesse contexto, foi criada em 1917 a Constituição do México, a primeira
constituição a conter diversos direitos trabalhistas, que estabelecia, verbis:

Jornada de oito horas, proibição de trabalho de menores de 12 anos,


limitação da jornada dos menores de 16 anos a seis horas, jornada máxima
noturna de sete horas, descanso semanal, proteção à maternidade, salário-
mínimo, direito de sindicalização e de greve, indenização de dispensa, seguro
social e proteção contra acidentes do trabalho. (MARTINS, 2012, p. 9)

Dois anos depois, entrou em vigor na Alemanha a Constituição de Weimar, a


segunda, que tratava da questão dos direitos sociais e disciplinava diversos direitos
dos trabalhadores em termos de conteúdo representando um grande marco histórico.
No mesmo ano, 1919, é assinado o Tratado de Versalhes, que cria a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), que se responsabiliza pela proteção das relações
laborais internacionais e formula recomendações sobre o assunto.
O Direito do Trabalho começou a ganhar importância nas discussões
internacionais e nos países emergentes por ser um ponto importante para o
desenvolvimento econômico saudável.

2 O MARCO CONSTITUCIONAL DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL

Com o tempo, os direitos sociais, que incluem os direitos trabalhistas, passaram


a fazer parte do conteúdo das constituições e deixaram de ser tratados
exclusivamente nas leis ordinárias devido a uma tendência global da qual o Brasil
começou a fazer parte a partir de 1934.
O doutrinador Mauricio Godinho Delgado afirmou: “Embora a Lei Áurea
obviamente não tenha um caráter jurídico, em certo sentido pode ser vista como o
primeiro quadro de referência na história do direito do trabalho brasileiro. Tal
declaração é baseada no fato de que a lei, verbis:

Constituiu diploma que tanto eliminou da ordem sociojurídica relação de


produção incompatível com o ramo justrabalhista (a escravidão), como, em
7
consequência, estimulou a incorporação pela pratica social da formula então
revolucionaria de utilização da força de trabalho: a relação de emprego.
(DELGADO, 2016, p. 114-115)

Com a abolição da escravatura, o Brasil passou a receber um grande fluxo de


imigrantes, o que aumentou a massa de empregados e aumentou o número de
desempregados, o que levou ao fortalecimento dos movimentos proletários por
melhores condições de trabalho. A história mostra que no final do século XIX o que
aconteceu anos antes na Europa aconteceu no Brasil.
Além disso, o Brasil assinou o Tratado de Versalhes em 1919, ano da fundação
da OIT, e enfrentou pressões não apenas internas, mas também externas para
interferir nas relações de trabalho que existiam aqui.
Desta forma, inúmeras leis dispersas foram elaboradas para regulamentar
situações específicas do Direito do Trabalho. Os principais avanços incluem a criação,
em 1930, do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que editou portarias sobre
as relações laborais, orientando sobre diversos assuntos até então não contemplados
na legislação brasileira e proporcionando maior proteção a parte hipossuficiente da
relação.
Refira-se que, com as portarias deste ministério, foi regulamentado o trabalho
feminino, instituído o salário mínimo e criado um judiciário especializado para a
resolução de conflitos neste ramo do direito, a Justiça do Trabalho.
Após inúmeros avanços, o Brasil teve sua primeira constituição em 1934, sob
o comando do presidente Getúlio Vargas, com dispositivos específicos do Direito do
Trabalho, que constavam do “Capítulo da Ordem Económica e Social”, seguindo
orientações que, paradoxalmente, rejeitam o corporativismo por um lado e o
pluralismo sindical por outro”.2
Desse texto legal, destacam-se os dispositivos do direito coletivo do trabalho,
que visam “garantir a diversidade sindical e a autonomia irrestrita dos sindicatos
(art.120, parágrafo único), o reconhecimento das convenções coletivas (art.121, j);
omitindo-se no entanto, a greve ”. No que diz respeito às normas trabalhistas
individuais, o texto referiu, verbis:

A isonomia salarial, o salário mínimo, a jornada diária de oito horas, a


proibição do trabalho noturno para menores de dezesseis anos, a proibição

2
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito do Trabalho na Constituição de 1988. São Paulo:
Saraiva, 1989.
8
do trabalho insalubre para menores de dezoito anos e para as mulheres, o
repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos, as férias, a
indenização e o princípio da regulamentação do exercício de todas as
profissões. (NASCIMENTO, 1989, p. 8)

Com este texto constitucional, a Justiça do Trabalho também foi introduzida,


pela primeira vez, como o órgão competente para a resolução de litígios entre
empregadores e empregados. Por fim, os efeitos do constitucionalismo social
atingiram o Brasil de forma mais eficaz.
Três anos depois, em 1937, após o golpe do mesmo presidente, surgiu no Brasil
uma nova Carta Constitucional, desta vez de caráter intervencionista e corporativista,
"inspirada na Carta del Lavoro de Mussolini de 1927 e na constituição polonesa”3, que
fundou o sindicato unificado associado ao Estado, que exerceu funções delegadas de
poder público e possibilitou ao Estado intervir diretamente em seus poderes.
Paralelamente, foi introduzido o imposto sindical obrigatório e proibidas as
greves por serem consideradas incompatíveis com os interesses nacionais,
ao mesmo tempo que o Estado impunha normativamente as condições mínimas
aceitáveis para o desenvolvimento do trabalho no país.
Naquela época, o Brasil apresentava um cenário com inúmeras
regulamentações com conteúdo trabalhista, que, no entanto, estavam dispersas pela
legislação nacional. Por isso, em 1º de maio de 1943, o então presidente Getúlio
Vargas editou o Decreto Legislativo nº 5.452 autorizando a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT).4
Em meio ao importante desenvolvimento do Direito do Trabalho no cenário
nacional, o Brasil conquistou uma nova constituição em 1946, que até então era
considerada a mais democrática por conter questões como "Participação dos
empregados nos lucros" (Art. 157, IV ), descanso semanal remunerado (art. 157, VI),
estabilidade (art. 157, XII), direito à greve (art. 158) e demais direitos constantes da
norma constitucional anterior.“ (MARTINS, 2012, p.12) bem como retirou a Justiça do
Trabalho do Executivo e a incluiu no Judiciário.
Nos anos que se seguiram, o Brasil continuou a ver o reconhecimento de uma
série de direitos dos trabalhadores por meio de leis ordinárias quando ocorreu o Golpe
Militar de 1964 que causou os efeitos dessa produção normativa.

3
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
4
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm
9
Sabe-se que o regime militar privou os cidadãos brasileiros de inúmeros direitos
políticos e civis, mas em termos de legislação trabalhista, apesar das mudanças,
muitos deles tinham o poder de proteger os trabalhadores.
Os primeiros passos do regime no campo do trabalho referiram-se à
regulamentação do direito à greve pela Lei nº 4.330 de 1 de junho de 19645 e à
criação da Lei nº 4.589 de 1 de dezembro de 19646, que apagou as autoridades fiscais
dos sindicatos e criou os Departamentos Nacionais de Emprego e Salário, de
Segurança e Higiene no Trabalho.
Com isso, o regime representou uma de suas principais influências no moderno
Direito do Trabalho, a saber, a introdução do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) pelo Decreto nº 59.820, de 20 de dezembro de 19667, que possibilitou ao
trabalhador optar pela adesão ao novo fundo ou continuação do antigo regime.
Logo após a fiscalização do FGTS, o novo regimento de 1967 foi aprovado e
alterado, vejamos:

Na composição do Tribunal Superior do Trabalho, dos Tribunais Regionais e


na forma de nomeação criando a carreira de magistrados do trabalho. Além
disso, houve restrição ao recurso extraordinário ao supremo, proibição de
greve nos serviços públicos e atividades essenciais, salário família aos
dependentes do trabalhador, proibição das diferenças salariais,
aposentadoria da mulher aos trinta anos de contribuição, contribuição sindical
e voto sindical secreto. (SILVA, 2010, p. 62).

Todas essas mudanças na segunda metade da década de 1960 mudaram


significativamente o cotidiano dos trabalhadores brasileiros, que tiveram que se
atualizar antes que tais mudanças ocorressem no sistema jurídico do trabalho.
Assim, "durante o regime militar, a cidadania parece ter sido suprimida, com os
direitos civis e políticos sendo severamente sufocados. Ao mesmo tempo, o direito
básico ao trabalho consagrado na constituição de 1946 foi mantido".8
Após o regime militar, o Brasil voltou ao processo de democratização, e em
1988 foi adotada a atual Constituição do país, conhecida como Constituição dos
Cidadãos, baseada nos princípios políticos, econômicos e sociais da Nova República.

5
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l4330.htm
6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4589.htm
7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D59820.htm
8
PEDROSO, Márcia Naiar Cerdote. Revista Latino-Americana de História: Edição Especial -
Lugares da História do Trabalho. Rio Grande do Sul: Unisinos, v. 1, n. 3, mar. 2012. Semestral.
10
Nesse ponto, vale destacar a grande conquista da CLT, que passou a ser vista
pela Lei Maior como um direito essencial para o bom funcionamento do Estado, que
é elevado a direito fundamental.
A respeito dessa conquista alcançada pelos direitos trabalhistas, salienta
Maurício Godinho Delgado, in verbis:

São eminentemente constitucionais, não apenas porque reiteradamente


enfatizados no corpo normativo da Carta Magna de 1988, mas sobretudo, por
fazerem parte do próprio núcleo filosófico, cultural e normativo da
Constituição. São princípios que acentuam a marca diferenciadora da Carta
de 1988 em toda História do País e de todo constitucionalismo brasileiro [...]
(DELGADO, 2016, p.15)

Portanto, percebe-se que na redação da atual Carta Magna brasileira, a devida


importância foi atribuída aos direitos dos trabalhadores, mantendo a categoria de
norma constitucional conquistada em constituições anteriores e avançando para a
norma de um texto mais coerente e com uma base ideológica mais sólida que
corresponda aos ideais de trabalho.
No texto Constitucional de 1988, os direitos dos trabalhadores estão
expressamente expressos nos artigos 7º a 11º, de modo que o artigo 7º, que trata dos
direitos do indivíduo, protege o nível civilizacional mínimo da situação social dos
trabalhadores de forma a impedir qualquer regulamentação legal viole seus limites.
Os direitos trabalhistas, devidamente identificados como normas fundamentais
no texto Constitucional, ocupam o topo da pirâmide normativa e são respeitados na
elaboração, interpretação e aplicação das demais normas do ordenamento jurídico
brasileiro sem nunca se desviar dos princípios básicos de todo o texto constitucional.

2.1 Hierarquia de Normas no Ordenamento Jurídico

A compreensão da hierarquia normativa no sistema jurídico é indissociável do


conceito de Estado constitucional democrático. Nele, o povo é o portador do poder
político e por isso participa regularmente e por livre convicção do seu exercício. Além
de proteger os direitos individuais, também garante a participação dos destinatários
no seu exercício.
O autor Carlos Ari Sundfled define sinteticamente o estado constitucional
democrático como “a soma e a interdependência de: constitucionalismo, república,

11
participação popular direta, separação de poderes, legalidade e direitos (individuais e
políticos)". Como eu disse, para obedecer aos direitos fundamentais dos cidadãos é
necessária uma lei maior que deve ser respeitada pelos subordinados, conhecida
como Constituição.9
Isso garante a participação direta e indireta da população no processo decisório
e garante que esse direito não seja prejudicado pelas atuais maiorias que chegam ao
poder. Ou seja, a existência da Constituição garante maior segurança jurídica,
sabendo-se que as regras continuarão a ser observadas independentemente de quem
estiver no poder.
Dito isso, conforme conclui o jurista italiano Pietro Costa, verbis:

O ordenamento, porém, não é uma soma indiferenciada de normas gerais,


mas é uma Stufenbau, um edifício em degraus, no qual a
‘norma individual’, a sentença, é aplicação de uma norma superior, a lei, e
esta, por sua vez, remete a um nível superior, a constituição. É possível,
assim, controlar, através de um adequado órgão jurisdicional, não somente a
correspondência da sentença (ou do ato administrativo) a lei, mas também a
congruência da lei com a norma constitucional. (COSTA, 2010. p,84)

No contexto da construção gradual de um sistema jurídico complexo, é


necessário compreender a ideia de hierarquia normativa, que tenta explicar como o
sistema jurídico complexo consegue manter a coesão estudando suas fontes.
Diferentes tipos de especificações e sua posição na hierarquia normativa.
A fonte da lei é geralmente definida como "fatos ou comportamentos nos quais
o sistema jurídico depende do desenvolvimento de normas jurídicas". Portanto, é
óbvio que a fonte é responsável por moldar o sistema jurídico, e o sistema jurídico tem
a função de regular o comportamento das pessoas e regular a forma como suas regras
são formuladas.
Nesse sentido, a fonte pode criar dois tipos de normas, normas
comportamentais e normas estruturais, destinadas a regular a geração de normas
jurídicas, ou seja, definir a ordem e a autoridade de formação de outras normas.
Enquanto as normas de comportamento determinam diretamente como o
comportamento da sociedade deve ser regulado.

9
SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de Direito Público. 4. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2009.
12
Um sistema jurídico complexo é caracterizado por uma infinidade de fontes que
estabelecem regras de conduta. Isso se deve à necessidade de normas para manter
o bom funcionamento da sociedade.
Portanto, além de sua fonte direta, também chamada de fonte original, todo
pedido possui fontes indiretas ou inferidas que podem ser divididas em duas
categorias: fontes reconhecidas e fontes delegadas. As primeiras são aquelas
resultantes do reconhecimento de padrões já estabelecidos por outros regulamentos
anteriores, enquanto as fontes delegadas são baseadas quando a
autoridade para desenvolver padrões legais é delegada a órgãos inferiores. Desse
modo, fica claro que as regras também surgem dos mais diversos pontos e, assim,
uma ordem complexa se configura.
Em relação ao conceito e às diferenças entre fontes delegadas e fontes
reconhecidas, é necessário compreender o conceito geral sobre a formação e
estrutura do sistema jurídico.
Se todas as regras vêm do poder primitivo, enfrentaremos uma ordem simples,
mas na ordem real, as regras são realizadas por meio de múltiplos canais, que são
causados principalmente por dois fatores.
O primeiro está relacionado ao fato de que qualquer sociedade civil que forma
um sistema jurídico foi protegida por várias regras, incluindo moralidade, religião,
sociedade e tradição. Portanto, a nova ordem formada não pode apagar
completamente as raízes das normas anteriores, de modo que as normas existentes
passam a fazer parte da nova ordem, e esta nova ordem é restringida pela ordem
anterior. O poder básico aqui é mais legal do que histórico, porque o poder soberano
está sujeito a restrições externas.
O segundo ponto diz respeito à necessidade da instituição original manter
padrões constantemente atualizados para atender ao desejo do país de definir e
regulamentar padrões. Ao contrário da primeira situação, quando a restrição vem de
fora, é executada pelo poder originário e, por fim, termina com a autocontenção,
transferindo o poder normativo para o sistema que dele depende e criando um número
ilimitado de fontes.
Devido às diversas fontes do direito moderno, é necessário um elemento que
sustente a harmonia normativa e unifique todo o sistema jurídico.

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As normas que existem em uma ordem não estão todas no mesmo nível. A
norma superior é a base da existência da norma inferior, ou seja, as primeiras dirigem
as últimas.
Em síntese, Kelsen explica:

A ordem jurídica não é um sistema de normas jurídicas ordenadas no mesmo


plano, situadas umas ao lado das outras, mas é uma construção escalonada
de diferentes camadas ou níveis de normas jurídicas. A sua unidade é
produto da conexão de dependência que resulta do fato de a validade de uma
norma, que foi produzida de acordo com outra norma, se apoiar sobre essa
outra norma, cuja produção, por sua vez, é determinada por outra; e assim
por diante, até abicar finalmente na norma fundamental - pressuposta. A
norma fundamental - hipotética, nestes termos - é, portanto, o fundamento de
validade último que constitui a unidade desta interconexão criadora.
(KELSEN, 1987, p.240)

Segundo o autor, cada regra criada possui uma regra superior que lhe dá uma
base efetiva (até a base final, que é uma regra básica), mas também impõe restrições
à sua implementação. Na maioria das vezes, as normas básicas superiores
determinam limites materiais e formais que delimitam o conteúdo que a norma inferior
pode regular e a forma como é transmitido.
Esses limites ficam claros quando analisamos os poderes que as normas
constitucionais conferem às leis ordinárias. O limite formal é explicado pelas várias
regras da Constituição, que descrevem em pormenor o funcionamento dos órgãos
legislativos na produção de normas. Os limites materiais, por outro lado, residem na
impossibilidade de a norma ordinária contrariar a norma constitucional, de modo que
nenhuma matéria promulgada pela lei ordinária pode violar a lei superior.
Para ilustrar a ideia de Kelsen, costuma-se exemplificar a escala normativa de
sua teoria em uma pirâmide onde as normas superiores apoiam as normas inferiores.
No entanto, em todo o processo de desenvolvimento da teoria da escala normativa, o
autor enfrentou o problema de que um padrão deveria se tornar uma pirâmide, sem
exigir um padrão superior ao conceito.
Este padrão supremo tem sido chamado de Padrão Básico e se refere à ideia
hipotética de um padrão que é hipotetizado que pode unificar as normas da mesma
ordem, mas ao mesmo tempo dar à constituição o poder de criar e regular outras
regras A principal função da norma fundamental “é dar unidade a todas as outras
normas, ou seja, faz com que as normas, que estão dispersas e provêm de diferentes
fontes, formem um conjunto unificado que pode ser chamado de "ordem".

14
Abaixo da norma básica, no topo da pirâmide está a Constituição, que é o
instituto o qual confere validade e todos os poderes do Estado são legítimos na medida
em que os reconhece e na medida em que os distribui. Afinal, é lei constitucional
suprema, pois contém a estrutura do Estado e a organização de seus órgãos; este
contém as normas básicas do estado, e só nisso se estabelece sua superioridade
sobre as normas jurídicas.
A Constituição tem o papel de principal norma não transcendental da teoria de
Kelsen, ou seja, está apenas subordinada à norma básica para que nenhuma outra
norma a possa violar.
Seguindo a estrutura hierárquica da pirâmide de Kelsen, na Constituição temos
as regras gerais oriundas dos Poderes Legislativo e Judiciário, enquanto a segunda
cria as regras gerais aplicando as regras existentes com a formação do judiciário.
Na base da pirâmide de Kelsen estão as normas individualizantes, que se
dividem em decisões judiciais isoladas e transações jurídicas. Quando diversos casos
semelhantes surgem em diferentes tribunais e o Judiciário tem necessidade de
unificar a decisão, ele efetua essa unificação criando a jurisprudência mencionada e
convertendo a norma individualizante em norma geral.
Por fim, há a figura do negócio jurídico em que o sistema jurídico confere às
partes o poder de regular seus desejos, geralmente por meio de um contrato. A forma
e o alcance deste contrato são exigidos por lei, mas dentro desses limites as partes
têm liberdade de negociação e estabelecem regras entre as partes que devem ser
cumpridas.
É, portanto, claro que a intenção de Kelsen ao desenvolver esse mecanismo
de hierarquia de normas visava criar uma unidade no sistema jurídico e evitar que ele
entre em contradição. Portanto, se houver antinomia entre os padrões inferiores e
superiores, ela pode ser facilmente resolvida, desde que os primeiros sejam
considerados inválidos, ou seja, se uma lei simples viola o direito constitucional, deve
ser considerada inconstitucional

3 A PRINCIPIOLOGIA TRABALHISTA E A PROTEÇÃO DO TRABALHADOR

O fundamento básico ou princípio fundamental, ou seja, o respeito ao ambiente


de trabalho e à dignidade humana, bem como os valores sociais do trabalho, o

15
fundamento da República Federativa do Brasil e o Estado de Direito, são todas as leis
e interesses públicos da perspectiva do propósito social, portanto, todas as normas e
todos os institutos do sistema jurídico nacional devem ser entendidos e interpretados
à luz desses princípios, e a interpretação deve mostrar a harmonia dos sistemas
jurídicos e ser baseada nos princípios básicos.
O ilustre Celso Antônio Bandeira Mello define o princípio da seguinte forma:

o mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição


que se irradia sobre diferentes normas, compondo- lhes o espírito e servindo
de critério para a sua exata compreensão e inteligência, exatamente por
definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a
tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que
preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que
dá por nome sistema jurídico positivo. (MELLO, 2004. p, 230)

Atendendo aos objetivos sociais e políticos do Direito do Trabalho, é da maior


importância estudar os princípios inspiradores desta área do direito, na medida em
que revelam o seu conteúdo ético, social e político, é o ensinamento magistral de
Jorge Miranda, in verbis:

o Direito não é mero somatório de regras avulsas, produto de atos de vontade,


ou mera concatenação de fórmulas verbais articuladas entre si, o Direito é
ordenamento ou conjunto significativo e não conjunção resultada de vigência
simultânea; é coerência ou, talvez mais rigorosamente, consistência; é
unidade de sentido, é valor incorporado em regra. E esse ordenamento, esse
conjunto, essa unidade, esse valor, projeta-se ou traduz-se em princípios,
logicamente anteriores aos preceitos. (MIRANDA, 1990. p,197-198)

Neste sentido, é necessário manter a função social da lei e aplicar os direitos


protegidos pela Constituição como garantias básicas do Direito do Trabalho,
nomeadamente: vida, liberdade, igualdade e segurança no trabalho.

3.1 Princípio da Proteção

O princípio da proteção visa amenizar a desigualdade entre empregados e


empregadores causada pela falta de equilíbrio material quando os empregadores são
economicamente vantajosos.
Os trabalhadores são a parte mais frágil da relação de trabalho e, pelas suas
lacunas, o princípio da proteção tende a orientar, regular, legalizar e fazer cumprir as

16
normas para que os empregadores possam assumir a responsabilidade civil pelos
danos causados aos trabalhadores no trabalho. Arnaldo Susseckind assegura, verbis:

O princípio protetor do trabalhador resulta das normas imperativas e,


portanto, de ordem pública, que caracterizam a intervenção básica do Estado
nas relações de trabalho, visando a opor obstáculos à autonomia da vontade.
Essas regras cogentes forma a base do contrato de trabalho. (SUSSECKIND,
2010. p, 117)

Da mesma forma, Arnaldo Sussekind define o princípio da proteção como “o


princípio subjacente ao Direito do Trabalho, que reconhece a desigualdade de fato
entre os sujeitos das relações jurídicas de trabalho e as desvantagens econômicas,
hierárquicas e intelectuais dos trabalhadores”.10
Em decorrência dessa hipossuficiência econômica e social, é necessário
atribuir um nível jurídico mais forte ao empregado.

3.2 Princípio da Norma mais Favorável

O princípio da norma mais favorável é uma extensão do princípio da proteção,


uma vez que a lei garante ao trabalhador as garantias sociais mínimas.
O autor Maurício Godinho Delgado descreve isso como “o nível mínimo de
civilização, sujeito a um tratamento mais favorável pela vontade das partes ou por
outra fonte legal”.11 A relevância da hierarquia de fontes no Direito do Trabalho reside
na dinâmica em que a norma extrai seu fundamento válido.
O predomínio da regulamentação mais favorável decorre do princípio da
proteção que rege todo direito do trabalho (artigo 7º da Constituição da República
Federativa do Brasil e artigos 444 e 468 da Consolidação das Leis do Trabalho).
Vejamos:

Art. 444 - As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre


estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às
disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam
aplicáveis e às decisões das autoridades competentes. (BRASIL, 1943)
Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das
respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que

10
SUSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 3ª ed. Revista e atualizada. Rio de
Janeiro: Renovar, 2010, p. 109.
11
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 19°.ed. São Paulo: LTr, 2020.
p,180
17
não resultem, direta ou 17 indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena
de nulidade da cláusula infringente desta garantia. (BRASIL, 1943)

Assim, aplica-se o princípio da regra mais favorável, que entre duas ou mais
regras que se apliquem simultaneamente e que sejam igualmente aplicáveis ao caso
concreto, se aplique a mais favorável para o trabalhador.

3.3 Princípio da Indisponibilidade dos Direitos Trabalhistas

O princípio da indisponibilidade refere-se à impossibilidade geral de renúncia


aos Direitos Trabalhistas do trabalhador. Ato segundo a qual o trabalhador, por
simples vontade, renuncia aos direitos garantidos por lei.
O artigo 9º da CLT afirma que “serão nulos de pleno direito os atos praticados
com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos
trabalhistas”.12
Gustavo Filipe Barbosa García afirma que o Direito do Trabalho tem como um
de seus princípios fundamentais o princípio da indispensabilidade, no sentido
de que o trabalhador não pode dispor dos direitos garantidos pelas normas
obrigatórias e pela ordem pública.13
A Constituição Federal consagrou o direito à saúde como princípio
constitucional, que, aliás, está intrinsecamente vinculado a dois outros princípios
também constitucionais: a dignidade humana e a garantia de um ambiente de trabalho
equilibrado. Nesse contexto, é interessante citar os seguintes artigos da Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988, a saber:

Artigo 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,


a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.
Artigo 1º. A República Federativa do Brasil formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
democrático de direito e tem como um dos fundamentos “a dignidade da
pessoa humana”. (BRASIL, 1988)
Artigo 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao poder 18 público e à coletividade o dever de defendê-lo para as

12
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm
13
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2016. p. 98.
18
presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988)

O artigo 225, parágrafo 1, inciso V estipula que “a fabricação, a comercialização


e o uso de técnicas, métodos e substâncias que representem risco à vida, à qualidade
de vida e ao meio ambiente” devem ser controlados.

Artigo 200. Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições,


nos termos da lei, “colaborar na proteção do meio ambiente, nele
compreendido o do trabalho”. (BRASIL, 1988)

O princípio da indisponibilidade da saúde dos trabalhadores fundamenta-se na


constatação de que os padrões de medicina e segurança do trabalho são
magnetizados por uma proteção do interesse público, com uma matriz constitucional
que não pode ser degradada de forma alguma por uma sociedade democrática no
âmbito econômico, segmento profissional, sob ameaça de violação da dignidade da
pessoa humana e do valor mínimo deferível de trabalho.
Nesse contexto, são citados os seguintes artigos da Constituição da República
Federativa do Brasil, a saber:

Artigo 1º. A República Federativa do Brasil formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
democrático de direito e tem como um dos fundamentos “a dignidade da
pessoa humana”. (BRASIL, 1988)
Artigo170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano
e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme
os ditames da justiça social. (BRASIL, 1988)

Os direitos adquiridos pelo trabalhador foram transferidos para o princípio da


indisponibilidade. A Constituição Federal de 1988 não permite a renúncia, a
menos que esteja expressamente prevista a possibilidade de convenção coletiva que
confirme a segurança do princípio de proteção ao trabalhador.

3.4 Princípio da Continuidade da Relação de Emprego

O princípio da continuidade do contrato de trabalho baseia-se na manutenção


do contrato de trabalho entre empregado e empregador. Esta é uma suposição
conveniente que deve fornecer segurança econômica ao trabalhador. Na percepção
de Sérgio Pinto Martins que:

19
A exceção à regra são os contratos por prazo determinado, inclusive o
contrato de trabalho temporário. A ideia geral é a de que se deve preservar o
contrato de trabalho do trabalhador com a empresa, proibindo-se, como
exemplo, uma sucessão de contratos de trabalho por prazo determinado. O
Enunciado 212 do TST adota essa ideia ao
dizer que “o ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando
negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o
princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção
favorável ao empregado”. (MARTINS, 2012. p, 77)

A base do princípio da continuidade da relação de trabalho é o caráter


nutricional do salário, sendo razoável que a legislação trabalhista proteja a relação de
trabalho.

3.5 Princípio da Primazia da Realidade

O princípio da Primazia da Realidade no Direito do Trabalho mostra que, na


ausência de harmonia e desacordo entre o que se passa na realidade dos fatos e o
que emerge dos documentos, deve-se dar privilégio a verdade real.
No Direito do Trabalho, o que acontece na prática é mais importante do que o
que está expresso em documentos, instrumentos e formulários formalmente
pactuados. Os fatos são o que conta. Uma vez comprovados os fatos, os documentos
ou a papelada não podem descartá-los.
Carlos Zangrando também explicou a importância da aplicação do princípio da
verdade no Direito do Trabalho:

Em todo negócio jurídico deve-se buscar a vontade das partes, devendo o


contrato traduzir os fins objetivados e o próprio comportamento repetido das
partes, extraindo daí o real negócio firmado. No Direito laboral, interessa a
verdade dos fatos, sobrepondo a qualquer formalidade, documento ou pacto
convencionado entre as partes. (ZANGRANDO, 2011. p,219)

De forma a contextualizar a aplicação do princípio do primado da realidade no


caso dos acidentes de trabalho, o não fornecimento da Comunicação do Acidente do
Trabalho (CAT) Previdência Social por parte do empregador não obsta ao ato laboral
na reclamação do trabalhador para compensação, como um
documento formal. O princípio em questão torna predominante a ocorrência do
acidente, que é a verdade real.
O Princípio da Proteção é uma característica fundamental da Justiça do
Trabalho para restabelecer o equilíbrio na relação jurídica de trabalho entre as partes.
20
Assim, o "in dubio pro operário" pode ser usado para interpretar a norma e os
princípios, bem como o princípio do primado da realidade.

4 DIREITO AO TRABALHO

A maioria dos sistemas de valores do mundo moderno é baseada em atividades


humanas. A idealização de um estado constitucional democrático baseado no
princípio da dignidade humana é essencial para as atividades que estabelecem essa
dignidade. Os valores da liberdade e da igualdade, tão valiosos para a humanidade,
só foram estabelecidos através da realização dos direitos sociais fundamentais,
incluindo em particular o direito fundamental ao trabalho, que é considerado a base
dos direitos sociais fundamentais.
A redução drástica da atividade laboral nas relações humanas face ao
fenômeno da globalização e, em particular, da quarta revolução industrial acende uma
luz vermelha de grande perigo, visto que assistimos a um ataque sem precedentes à
principal base de apoio às constituições ocidentais, que é a estima social do trabalho.
Um sistema de valores baseado no valor do trabalho humano está em perigo,
o que poderia entrar em colapso como um "efeito dominó" e colocar em risco o próprio
estado constitucional democrático. Sinais desse perigo já podem ser vistos na
presença cada vez maior de discursos populistas, ditatoriais e armamentistas dentro
e entre os países, mas também no aumento da xenofobia, do nacionalismo excessivo
e da arbitrariedade protecionista.
Diante desse caos político, social e econômico que se avoluma, é
imprescindível que voltemos ao valor do trabalho perante o ordenamento jurídico e
busquemos soluções que garantam sua eficácia.

4.1 Diferença entre o Direito ao Trabalho e Direito do Trabalho

Para analisar o fenômeno em discussão, é importante esclarecer as duas faces


distintas dos direitos em relação ao trabalho.
A face mais óbvia, a lei trabalhista, há muito tempo é questionada no mundo
moderno desde o início das revoluções industriais, da sociedade de consumo e dos
movimentos socialistas. O outro lado, o direito ao trabalho como direito social
21
fundamental, tornou-se uma questão importante no final do século XX, com o
fenômeno da globalização e das revoluções tecnológicas.
O direito ao trabalho é o direito social mais estruturado previsto na Constituição
Brasileira de 1988. Está listado no artigo 6º na seguinte ordem: saúde, trabalho,
moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância,
assistência aos desamparados. Esses direitos são correlatos, interdependentes e
dependentes do trabalho, visto que esta é a fonte dos recursos para a realização do
outro. O valor básico protegido constitucionalmente é o trabalho, seu desenvolvimento
e sua proteção.
Dada uma perspectiva realista de um mundo desempregado dominado pelas
forças produtivas capitalistas, globalmente integradas e carregadas
tecnologicamente, é necessário compreender as mudanças que a sociedade atual
está fazendo em termos de violações do direito ao trabalho e também nas condições
de eficácia, proteção trabalhista e encontrar formas de sobreviver a tal condição. Os
direitos sociais são o Direito ao Trabalho e o Direito do Trabalho de acordo com o
artigo 6° e o artigo 7° CF/88, respectivamente.
No âmbito dos direitos sociais previstos no artigo 6º CF/88, o direito ao trabalho
surge como uma resposta ao desemprego. Conforme determina o legislador
constitucional, o trabalho é o meio de subsistência por meio da atividade produtiva
remunerada, nesse sentido, é semelhante ao emprego.
O artigo 7º, CF/88, pela primeira vez justifica o trabalho como um direito social,
como uma atividade em si, ou seja, os regulamentos sobre as relações legais de
trabalho foram elencados pela primeira vez como direitos sociais básicos em uma
Constituição brasileira.
O artigo enumera os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, enfatizando a
proteção das relações trabalho gestão, indenizações, seguro-desemprego, tempo de
serviço, salário mínimo estadual, abono natal, descanso semanal remunerado,
feriados e outros direitos, regulamentadas através de leis infraconstitucionais.
Primeiro, os direitos individuais fundamentais, um produto das revoluções
liberais, formaram os motores de uma sociedade que pregava a liberdade individual e
a propriedade como direitos absolutos. Diante desse modelo social contraditório, a
superação das injustiças por meio da valorização do trabalho como fundamento dos
direitos sociais básicos consubstanciados na dimensão dos direitos humanos foi

22
promovida na busca por uma universalização igualitária da emancipação da
humanidade.
Os direitos sociais, especialmente o direito ao trabalho, tornaram-se o principal
padrão para alcançar a justiça social, ou seja, ao implementar os direitos sociais, só
se pode falar em direitos individuais ou transindividuais, caso contrário, é um discurso
vazio.
Desta forma, o direito ao trabalho como direito social fundamental constitui um
desses elementos essenciais da existência humana, de realização material e
espiritual. Por meio do trabalho, o homem interage com a natureza, transforma à sua
imagem e semelhança. Nesse diálogo, ele atinge as dimensões da possibilidade-
necessidade da ação ético-moral. Mas, dessa perspectiva, o trabalho deve ser
entendido como trabalho livre e criativo, em oposição ao trabalho forçado e de
emergência. Trabalho e lazer como dimensões complementares.
Por outro lado, o direito do trabalho pode ser entendido como específico.
Trabalho como gerador de riqueza, trabalho como regime de regra naturalizado. Neste
último há trabalho escravo, trabalho servil e trabalho assalariado.
Nesses sistemas, a lógica do trabalho é moldada de acordo com as nuances
da dominação, trabalho como finalidade, para manter vivo o mínimo existencial,
trabalho como um valor transcendental que é característico das religiões.
Com a superação do modo de produção feudal e a transição para o modo de
produção capitalista, a regra deixa de ser tradicionalmente patrimonial e passa para o
nível de regra legal. Todas as relações entre capital e trabalho são agora reguladas
por normas legais, fruto da autonomia da vontade e da liberdade individual formal.
Nessa perspectiva de promoção da liberdade individual, o pensamento liberal
ortodoxo entendeu que os indivíduos deixados à própria sorte acabariam encontrando
seu lugar na sociedade diante do mercado competitivo.
No final do século XIX, com confluência a esta ideologia, houve uma
confluência de ideias, a denúncia de mazelas sociais e a procura de soluções
específicas passou a ter grande impacto entre os trabalhadores, que começaram a
organizar-se e a reclamar.
No contexto destas transformações, surge a construção de um
constitucionalismo que vai absorver, mais a adiante, um novo conteúdo no campo dos
direitos fundamentais. Os direitos de proteção e emancipação sociais.

23
O rápido crescimento econômico dos países desenvolvidos e o forte aumento
no número de trabalhadores assalariados em vários campos das atividades humanas
estabeleceram a base material para o desenvolvimento do Estado de bem-estar.
O surgimento do Estado de bem-estar é o resultado de mudanças fundamentais
ocasionadas pela industrialização e é também uma resposta às demandas da
oposição à acumulação e à legalização do sistema capitalista. Sobretudo através da
expansão progressiva dos direitos civis, políticos e sociais, nesta ordem cronológica,
combinados com boas condições de enquadramento económico.
O Estado de bem-estar tem sido retratado como um longo processo de
desenvolvimento social por meio de uma série de políticas sociais desenvolvidas pelo
Estado para promover a cobertura de riscos de invalidez, velhice, doenças, acidentes
de trabalho, proteção e aconselhamento, além de buscar formas de diminuir o
desemprego.
Nos anos seguintes, após a Segunda Guerra Mundial, emergiu o espectro de
uma revolução socialista, especialmente sobre a Europa, acelerou a unificação entre
capital e trabalho e promoveu o nascimento do Estado de bem-estar. Uma estratégia
capitalista para contrariar os ideais revolucionários em dimensões universais.
A crença no direito absoluto à propriedade privada e a consequente exploração
ilimitada do trabalho humano empurrou o liberalismo econômico para além dos limites
do que é justificável e produziu uma ampla gama de queixas sociais.
O Direito do Trabalho nasceu neste contexto do Estado de bem-estar. Diante
desse cenário, surgiram várias correntes socialistas e comunistas para as quais o
Estado atuou com o dever de promover a regulação jurídica da vontade do indivíduo
por meio da adoção de atos normativos que organizariam a vida social desordenada
dos trabalhadores.
Antes da adoção dessa nomenclatura, o direito do trabalho era batizado com
várias denominações típicas de seu surgimento no início da revolução industrial, tais
como: direito do trabalho, direito do trabalho, direito do trabalho, direito das
sociedades ou sindicais, direito social e do trabalho; Esta nova lei surge como uma
série de normas jurídicas impostas pelo Estado para regular as relações industriais
gerais e a proteção do trabalhador em suas várias relações jurídicas com os
proprietários dos meios de produção.

24
Portanto, o Direito do Trabalho tornou-se uma disciplina normativa do trabalho
em uma sociedade do trabalho. Trabalho subordinado, ou seja, “uma pessoa usa sua
capacidade produtiva para trabalhar para outra pessoa, ou seja, o trabalho do
empregador que trabalha por conta dela”.
A legislação trabalhista só se aplica às relações de trabalho cujos contratos
tenham as características de ônus e filiação, que tenham a finalidade de produção e
lucro, e nada tenham a ver com caridade ou fins humanitários.

4.2 Direitos Fundamentais

Segundo as suas origens, os direitos fundamentais são o produto do


pensamento liberal-burguês do século XVIII, o resultado das revoluções burguesas,
com um caráter enfaticamente individualista, como o direito do indivíduo contra a
autoridade do Estado, ou seja, como um direito, surgiu e afirmado pela defesa. Por
isso são chamados de direitos "negativos", pois visam a abstenção do Estado e não
a conduta dos poderes públicos.
Principalmente por ser de grande inspiração do direito jusnaturalista, o direito à
vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei se destacam com maior
representatividade no rol de direitos. Esses direitos foram seguidos pela expansão da
liberdade de expressão, liberdade de imprensa, reunião, manifestação e associação.
Também o direito à participação política, como o direito de voto e a capacidade
eleitoral e liberdades que caracterizam a estreita relação entre direitos fundamentais
e democracia.
O direito à igualdade formal, ou seja, à igualdade perante a lei, garante o direito
às garantias processuais, como o direito ao devido processo, o habeas corpus e o
direito de petição, dimensão também conhecida como direitos civis e políticos.

4.3 Direitos Fundamentais Sociais

O advento da primeira revolução industrial deu origem a graves problemas


sociais e econômicos contra os quais se levantaram as doutrinas socialistas, e
também à constatação de que as garantias formais de liberdade e igualdade eram
inadequadas, uma vez que essas garantias não prejudicavam o gozo desses valores.
25
Nesse contexto, diversos movimentos de protesto promoveram o reconhecimento
progressivo de direitos, pelos quais o Estado passou a fazer campanha ativa pela
realização da justiça social.
Naquela época, era o nascimento de direitos básicos com uma dimensão
positiva, pois não se tratava mais de uma defesa contra a autoridade do Estado, mas
de um dever do Estado de garantir ao cidadão o direito de participar da assistência
social.
Esses direitos, que já estavam previstos na constituição francesa de 1793/1848
e na constituição alemã de 1849, tiveram e ainda têm a propriedade de garantir ao
Estado individual direitos e benefícios sociais. Como direito à educação, saúde,
assistência social, trabalho, etc.
Esta é uma forma de garantir a liberdade em formas abstratas, garantindo a
liberdade material concreta baseada no princípio da igualdade material. Foi somente
no século XX, após a Segunda Guerra Mundial, que esses pequenos direitos básicos
foram consagrados em um grande número de constituições.
É importante ressaltar que os direitos fundamentais de segunda dimensão têm
a peculiaridade de nascer no âmbito dos movimentos sociais da primeira revolução
industrial, de forma que abrangiam também direitos de significado negativo sobre a
posição do Estado na defesa dos direitos dos trabalhadores do poder do capital.
Neste contexto, as “liberdades sociais” como a liberdade de associação, o
direito à greve e em particular os direitos fundamentais dos trabalhadores, os direitos
laborais como o direito a férias, o direito ao descanso semanal remunerado, a garantia
do salário mínimo, a limitação do dia de trabalho, surgem do trabalho, etc.
É importante lembrar que, também neste contexto, esses direitos eram dirigidos
ao indivíduo e não à coletividade, de modo a não se confundir com direitos
fundamentais tridimensionais coletivos ou difusos.
Vale ressaltar que, dada a grande desigualdade entre trabalhadores e
empregadores, proprietários dos meios de produção e poder econômico, os direitos
fundamentais da segunda dimensão são a condensação da necessidade de justiça
social. Desigualdade, que infelizmente ainda prevalece e se expande, principalmente
com o fenômeno da quarta revolução industrial.

26
4.4 Direito Fundamental ao Trabalho e o Princípio da Dignidade Humana na
CF/88

Neste ponto, procurou-se abordar a circularidade entre o ser humano biológico,


que se transforma em ser social por meio da atividade laboral, do sentimento de
dignidade humana decorrente, da importância dos direitos fundamentais para a
garantia dessa dignidade e, por fim, trabalho como elemento fundamental dos direitos
sociais fundamentais.
Para tal pesquisa será necessário mostrar a importância do trabalho para a
formação da subjetividade humana e também mostrar como a "centralidade do
trabalho" confere ao trabalho uma dimensão antropológica. É importante também
decifrar o conceito de dignidade humana, o significado do princípio da dignidade
humana como estrutura da Constituição brasileira e, por fim, analisar o direito ao
trabalho como espinha dorsal dos direitos sociais fundamentais. A capacidade de
interferir conscientemente na natureza é uma particularidade e peculiaridade do ser
social, e quando o faz, o ser social é capaz de transformar a ele próprio, de diferentes
maneiras.
Essa capacidade criativa e diferenciada, reservada exclusivamente aos
homens, é a atividade prática que chamamos de trabalho. Indivíduos que produzem
em sociedade são, portanto, o ponto de partida claro da produção de indivíduos
socialmente determinados, a elaboração de uma ontologia do ser social que se baseia
em uma atividade essencial e fundamental do trabalho e que marca a transformação
de um ser puramente biológico em uma essência social.
Disto conclui-se essencialmente que o trabalho, como atividade produtiva e
criativa, cumpre a função elementar de constituição e desenvolvimento humano que
produz o ser social.
O trabalho é a base mais óbvia e provável para transformar o homem em um
ser social. É o trabalho, o núcleo central, que faz do homem um ser social que o
distingue dos outros animais, por isso é o papel central, a humanização do homem.
Antes que o homem possa mudar a natureza para alimentar, vestir, viver, etc.,
o homem deve satisfazer certas necessidades individuais e coletivas que mudam com
o tempo e desenvolver certos valores a partir delas. Esse processo se dá por meio da

27
atividade fundamental do trabalho, que primeiro transforma a pessoa em ser humano
e social.
Do que foi dito acima, outros elementos essenciais da troca material resultam
da relação entre o homem e a natureza, que é gerada pela atividade de trabalho: o
próprio trabalho, ou seja, a atividade orientada para um propósito, o objeto do trabalho
e os meios usado para realizar o trabalho.
Esses elementos essenciais trabalham juntos e formam um processo dialético
entre homem/homem e homem/natureza, uma vez que os humanos não apenas
influenciam a natureza em sua atividade produtiva, mas também interagem através
da troca de atividades e da cooperação entre eles. No processo de atividade produtiva,
as pessoas constroem relacionamentos mútuos e, dentro dessas relações sociais,
ocorre a ação do homem sobre a natureza.
A complexidade associada à atividade laboral é representada da seguinte
forma: 1) a relação entre a pessoa e o objeto, o produto, o resultado da objetivação
do seu trabalho; 2) a relação do homem com seu próprio trabalho, com sua própria
atividade produtiva; 3) relação do homem com sua vida genérica (seu ser genérico) e,
finalmente, 4) relação do homem com outras pessoas.
A dialética do trabalho como processo de desenvolvimento do ser biológico ao
social sempre se caracterizou por avanços e retrocessos, com inúmeros desafios que
exigiram ajustes e mudanças importantes.
Assim, entendemos que o trabalho em si é uma necessidade humana além de
outras necessidades humanas como alimentação e segurança. Para que o ser
humano não se realize sem ação, como sentido da ação, sempre intersubjetivo,
externalizando e transformando o mundo, humanizando a natureza e a si mesmo. É o
trabalho em si, um exercício da autonomia, da razão, um valor da capacidade humana
sem o qual não é possível uma vida digna.
Para apreciar esta dimensão do trabalho como uma necessidade humana em
si mesma e medir sua importância em relação à existência, é da maior importância
decifrar o conceito de dignidade da pessoa humana. Chama-se isso de valor do
elemento central, que prova e medeia o relacionamento de uma pessoa com os outros,
consigo mesmo e com a natureza.
A dignidade humana na compreensão moderna vem da religião, como diz a
Bíblia: "O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus". Ao contrário da

28
religião, o Iluminismo lidará com a centralidade dos seres humanos em relação ao
universo, trazendo a dignidade humana para o reino da filosofia, com base na razão,
a habilidade de fazer julgamentos morais e a habilidade de fazer autodeterminação
pessoal.
No século XX, a dignidade humana passou a ser um valor político
proporcionado pelo Estado e pela sociedade. Após a Segunda Guerra Mundial, com
a flexibilidade do positivismo jurídico, o conceito de dignidade humana se aprimorou,
e a fusão do direito, da filosofia moral e da filosofia política. A inclusão da dignidade
humana em vários documentos internacionais e nas constituições de países
democráticos fortalece o relacionamento.
Em vista desse significado jurídico, além do valor humano, a dignidade humana
também pode ser melhor decifrada por meio da filosofia. A filosofia lida com a filosofia
moral e jurídica, e seus elementos básicos são as ideias da razão e do dever, que se
desenvolvem na capacidade do indivíduo de controlar suas paixões e reconhecer em
si mesmo o comportamento correto.
Compreender o valor da dignidade humana implica definir os termos
"imperativo categórico" e autonomia. A ética é uma lei interna do homem, cujo objeto
é a vontade do mesmo. Assim como a física regula as leis da natureza, a ética
prescreve leis que regulam o comportamento diante dessa vontade, leis que
“deveriam” expressar um imperativo que determina o imperativo categórico ou
hipotético.
O imperativo categórico refere-se ao comportamento necessário e bom em si
mesmo, independentemente da finalidade, ou seja, independentemente do resultado
que produza. O imperativo categórico seria uma lei descrita da seguinte maneira: “Aja
de forma que a máxima de sua vontade se torne uma lei geral.
O imperativo hipotético que depende de seu objetivo seria um comportamento
necessário para atingir um objetivo específico, mesmo que só seja bom como um meio
para outra coisa. Em vez de listar o que é virtude e o que não é, uma lista de coisas
que devemos e não devemos fazer, o imperativo categórico exige, portanto, uma
autonomia do indivíduo, que identifica o sujeito passível de autodeterminação de
acordo com a representação de certas leis. Essas leis estão dentro do indivíduo, daí
a singularidade da filosofia, pois não é uma lei heterônoma de fora para dentro, mas
uma lei do próprio indivíduo, movida pela autonomia que expressa um livre arbítrio.

29
O indivíduo é um ser moral, o dever neste indivíduo moral tem precedência
sobre os impulsos e os interesses, ou seja, o indivíduo ético que age de acordo com
uma moral não pode se desviar do imperativo categórico. Atua orientando seu
comportamento de acordo com suas próprias leis elaboradas racionalmente, que
entende serem válidas para todos, isto é, de acordo com uma máxima de que quer
ser uma lei universal.
Partindo da autonomia, pré-requisito para o processamento do imperativo
categórico, é necessário também que essa autonomia se baseie no valor da dignidade
humana, portanto, em um mundo em que cada um categoriza seu próprio
comportamento a partir de um imperativo. Ninguém é usado como um objeto para
atingir certos fins da vontade dos outros. A dignidade é o valor de algo inestimável que
não pode ser substituído por mais nada, a condição de ser humano.
O que tem preço pode ser substituído por outro equivalente, mas quando algo
está acima do preço e não pode ser substituído, tem dignidade ”.
Com base no que foi dito acima a respeito da compreensão filosófica da
dignidade da pessoa humana, é necessário determinar como este termo é utilizado
no campo jurídico, uma vez que a dignidade da pessoa humana não é um termo que
possamos associar a uma visão abrangente e definição detalhada, como é habitual
na teoria jurídica. O conceito de dignidade humana é, por natureza, aberto e plural.
Apreciada no mundo do pós-guerra, a dignidade humana foi a arma legal e
social unificadora contra regimes totalitários como o Nazismo. Em pouco tempo, a
dignidade humana se tornou o grande alicerce da luta pelos direitos humanos e pela
igualdade para todos.
Difícil ou melhor, impossível construir um conceito transnacional de dignidade
humana, visto que, como já foi mencionado, é um conceito aberto e plural. Que se
configura em cada espaço e tempo de acordo com as realidades históricas, religiosas
e políticas dos diferentes países, o que dificulta a construção de um conceito unificado.
No entanto, face a esta dificuldade, sendo a dignidade da pessoa humana uma
categoria de direitos de grande importância, é necessário defini-la com o mínimo de
conteúdo que dê à sua interpretação e aplicação uniformidade e objetividade.
Forma que não permite o abuso da dignidade da pessoa humana, como recurso
retórico, aplicado a qualquer situação, inclusive sob o risco de legitimar posições
morais e autoritárias.

30
Como premissa fundamental, o conceito de dignidade humana em sua forma
jurídica exigirá um conteúdo mínimo que ofereça uma opção pelo laicismo e não
permitirá uma abordagem religiosa para a construção desse conteúdo, como a visão
judaica, cristã ou muçulmana, a não ser que são atos de valores que são
compartilhados por eles, que são naturalmente universais.
Deve também ser pensado com a máxima neutralidade política, com elementos
comuns a todas as formas de expressão, sejam liberais, conservadoras ou socialistas,
e por fim, que esses conteúdos sejam universais, multiculturais e compartilhados por
toda a humanidade.
Tendo esses limites na definição do conteúdo mínimo do conceito de dignidade
humana, ele tenta visualizar o valor desse conceito em sua forma jurídica. Conforme
já explicado, a dignidade humana e os direitos humanos são as duas faces da mesma
moeda. Um rosto voltado para a filosofia que expressa valores morais que tornam as
pessoas únicas e merecem igualdade.
Do outro lado está a lei, que traduz as posições jurídicas tomadas pelas
pessoas e amparadas pelo ordenamento jurídico com normas compulsórias e ações
judiciais.
Ao aplicar o conceito de dignidade humana, é muito útil analisar seus principais
conteúdos e estabelecer uma ponte entre a filosofia e o direito. Destes, três deles são
os conteúdos essenciais, a saber, o valor intrínseco da pessoa humana, a autonomia
do indivíduo e o valor social da pessoa humana.
O primeiro conteúdo mínimo trata do valor intrínseco da pessoa humana.
Elemento filosófico de dignidade que está intimamente relacionado com a natureza
do ser humano. Este valor é reconhecido em diversos documentos internacionais e
trata da posição especial do ser humano no mundo, que o difere de outros seres vivos
e coisas.
A racionalidade, a inteligência, a sensibilidade, a comunicação pela palavra e
pela arte, são justificativas únicas desta distinção. Desse valor intrínseco surge o
imperativo categórico já revelado acima, que é um determinante não utilitário e
também um determinante não autoritário, na ideia de que o Estado existe para o
indivíduo e não o indivíduo para o Estado.
O valor intrínseco da pessoa humana é o ser humano, independente de seu
dono, não pode ser tirado e nem perdido mesmo que o dono seja indigno de si mesmo.

31
É independente da própria razão, por isso estará sempre presente. em todas as
pessoas, independentemente de suas habilidades.
No plano jurídico, o valor intrínseco da pessoa protege a sua dignidade e é a
base dos direitos fundamentais. Por exemplo, temos o “direito à vida” em primeiro
lugar, é claro, que está no centro das decisões de grande complexidade moral e
jurídica sobre a pena de morte ou o direito a morrer com dignidade, ou a questão do
aborto.
Também temos o “direito à igualdade”, que prescreve o direito à igualdade de
tratamento, consideração e respeito para todas as pessoas, independentemente de
sua raça, religião ou nacionalidade. A lei não pode discriminar, assim como uma
pessoa não pode ser discriminada perante a lei, isso é igualdade formal. Para além
do valor intrínseco das pessoas, o respeito pela diversidade e identidade das minorias
sociais, a igualdade como condição de reconhecimento e dignidade pessoal.
Existem também "direitos à integridade física", como a proibição da tortura, da
escravidão e do castigo cruel. Existem também "direitos à integridade moral e
psicológica", como reconhecimento pessoal e direitos de nome, privacidade, honra e
imagem. Esse valor intrínseco da dignidade humana também protege as pessoas
contra si, evitando que elas se machuquem por causa de sua dignidade.
O segundo conteúdo, embutido no conceito de dignidade humana, envolve
autonomia individual, resultados racionais e livre exercício da vontade responsável,
que leva à autodeterminação individual.
É o direito de determinar o curriculum vitae, de desenvolver livremente a
própria personalidade, de elaborar os valores morais e de decidir sobre as próprias
decisões existenciais sem compulsões externas. Liberdade de escolher um trabalho,
de ser guiado pelas próprias ideologias. Qualquer obstrução a esses direitos é uma
violação da sua dignidade.
Como já foi dito, a autonomia é também o conteúdo mínimo da dignidade da
pessoa humana e na dimensão jurídica quando se trata das declarações jurídicas,
tanto nas declarações internacionais quanto internamente na Constituição brasileira,
princípio da ideia para apoiar tais declarações. Na declaração dos direitos individuais,
a dignidade e o direito à liberdade manifestam-se através da ideia de autonomia
privada, como direito à autodeterminação sem imposição externa ilegal.

32
Para tal escolha, é claro, a existência das condições necessárias para a
autodeterminação deve ser verificada, o que naturalmente combina o direito à
igualdade material. No nível político, a dignidade se expressa em termos de autonomia
pública, o direito de todas as pessoas de participar no processo democrático, de
participar no debate público, de se organizar socialmente e de influenciar as decisões
políticas.
O terceiro conteúdo mínimo ainda diz respeito ao valor comunitário presente no
conceito de dignidade humana, no campo jurídico trata do respeito ao indivíduo pelo
grupo. Esse elemento traduz uma expressão de dignidade associada a valores
comuns da comunidade, como a cultura, e seria um valor coletivo característico dos
padrões civilizacionais desse grupo.
O valor comum da dignidade moldará a liberdade de cada ser humano, por isso
as escolhas pessoais devem levar em conta os deveres e responsabilidades a eles
associados. Esta expressão de dignidade protege os indivíduos de decisões
egocêntricas que violam a dignidade de cada pessoa humana. Protege a dignidade
dos outros, os valores sociais e promove a solidariedade.
Deve-se notar que a dignidade não deve ser vista exclusivamente como
inerente à natureza humana, pois a dignidade também possui uma dimensão cultural
que é o resultado do desenvolvimento das diferentes gerações e de toda a
humanidade. Desse modo, dignidade é a interação e complementaridade entre a
dimensão natural e a dimensão cultural da dignidade da pessoa humana.
Nesse sentido, a dignidade da pessoa humana limita-se ao Estado e à tarefa
do Estado, e a dimensão cultural da dignidade humana é tarefa do poder público e da
comunidade, pois exige que o Estado oriente suas próprias ações, tanto no sentido
de preservar a dignidade existente quanto na ampliação das condições que
possibilitem o pleno exercício da dignidade humana e da liberdade.
Depois de esclarecidos os conteúdos essenciais do conceito de dignidade
humana, é possível compreender como esse conceito atinge seu nível jurídico-
normativo. A dignidade da pessoa humana ao nascer é um conceito filosófico de valor,
ligado à ideia do bom, do justo, do virtuoso, neste sentido a lei a toma como um valor
central, bem como os valores de segurança, justiça e solidariedade.

33
O desenvolvimento dos Estados em direção a Estados constitucionais
democráticos assumiu o conceito de dignidade humana como uma justificativa moral
para os direitos humanos e fundamentais, e uma decisão política fez desse valor a
base para a construção de documentos constitucionais e internacionais. com base no
princípio básico do Estado democrático.
A dignidade humana tornou-se um princípio jurídico com caráter constitucional,
tanto por ser positivamente identificada como norma expressa, quanto por ser base
de interpretação e mandato jurídico extraído do sistema. Portanto, serve tanto como
uma justificativa moral quanto como uma base normativa para os direitos
fundamentais.
É importante apontar a diferença entre princípios e regras neste ponto, sem
aprofundar a discussão de que os princípios são tarefas de otimização, ao contrário
das regras, eles não se aplicam na lógica do tudo ou nada. Os princípios são normas
jurídicas que ganham dimensão e peso em relação aos elementos do caso individual,
e a sua implementação deve realizar-se, tanto quanto possível, através de um sistema
de contrapesos com outros princípios, em que os factos sejam ponderados e
proporcionais de modo que sua intenção normativa pode dar lugar a elementos
opostos em determinadas circunstâncias.
A adoção da dignidade humana como valor jurídico na posição constitucional
leva à determinação do seu conteúdo, da sua estrutura normativa, da sua forma de
aplicação e da sua função no ordenamento jurídico. Os princípios constitucionais
devem estabelecer valores e orientar os objetivos do sistema constitucional.
Não definem quaisquer direitos específicos, quando determinadas regras são
extraídas de seu texto abstrato, são aplicadas por classificação, ou quando se opõem
a outros valores de igual peso e tamanho, são aplicadas por ponderação. São, claro,
ainda fontes de luz que brilham em todo o ordenamento jurídico, iluminam outras
disposições legais, condicionam o seu alcance e importância.
A eficácia dos princípios, em particular o princípio da dignidade humana, tem
três significados de eficácia, a saber, eficácia direta, interpretativa e negativa.
Por exemplo, o princípio da dignidade humana é uma regra específica e
objetiva em seu efeito imediato quando proíbe a tortura e o trabalho escravo ou
punição cruel. A eficácia interpretativa depende das normas jurídicas em geral através

34
dos valores protegidos por este princípio no que diz respeito às suas aplicações e
significados.
Em primeiro lugar, o princípio da dignidade humana faz parte do conteúdo dos
direitos materiais fundamentais, mas não deve ser confundido com eles.
Em segundo lugar, o princípio da dignidade da pessoa humana não é um direito
fundamental que se contraponha aos demais; pelo contrário, está acima deles e, em
relação a eles, desempenha um papel de parâmetro de ponderação em caso de
conflito entre eles.
Em terceiro lugar, o princípio da dignidade humana, como já o deciframos, é
um valor, mas não tem caráter absoluto, sempre assumirá diferentes expressões
desse valor, dependendo do caso individual, levando em consideração, entre outras
coisas, tempo, lugar e cultura.
A Constituição de 1988 foi a primeira na história do constitucionalismo brasileiro
a reservar um título próprio e uma posição superior em reconhecimento e homenagem
ao significado especial e à função desses princípios básicos.
Colocado no início do texto, o constitucionalista explicou clara e
inequivocamente a intenção de conferir aos princípios básicos a força das normas
básicas e orientadoras de todo o ordenamento constitucional, incluindo os direitos
básicos, que juntamente com os princípios constituem o essencial cerne da
constituição material.

5 CONTRATO DE TRABALHO

O contrato de trabalho é específico de gênero e pode compreender o contrato


de emprego. O contrato de trabalho inclui qualquer tipo de emprego, como autônomo,
do eventual, do avulso, do empresário etc. O contrato de trabalho diz respeito à
relação entre as partes, quais sejam; empregado e empregador e não a qualquer outro
tipo de empregado. Daí por que se falar de um contrato de trabalho que fornece o
conceito exato do tipo de contrato a ser examinado, o contrato de trabalho seria o
gênero e o contrato de emprego, a espécie.
Como aponta Caldera, há quem veja o contrato de trabalho como o centro da
construção jurídica entre as partes. Para apoiar este pensamento, temos duas ideias
principais: a) O conceito que se tem sobre o tipo de contrato de trabalho depende se

35
justifica ou não a interferência do Estado nas relações entre empregados e
empregadores; b) para satisfazer a concepção jurídica tradicional que não admite
qualquer relação fora do quadro da admirável teoria das obrigações do direito romano
e emprestada do direito civil moderno, as leis sociais aparecem como simples
cláusulas jurídicas nos contratos de trabalho.14
Lima também esclarece o contrato de trabalho, in verbis:

Originariamente o contrato de trabalho foi disciplinado nos códigos


civis sob a denominação de locação de serviços. Propôs-se a denominação
de “locação de trabalho”, que não emplacou. Outras denominações foram
sugeridas: contrato de salário (cujo alcance é muito restrito), contrato de
salariado (que também enfoca um só ângulo do conteúdo) e contrato de
emprego, considerado por Orlando Gomes o mais elucidativo, posto que
apresentava vantagens, como a de eliminar ambigüidade que o termo
“trabalho” suscita.(LIMA, 2005. p,127)

Contrato de trabalho é o nome de um acordo entre um trabalhador e um


empregador baseado no direito privado e com o apoio do governo, através do qual
uma ou mais pessoas podem fornecer a outra, qualquer trabalho material ou
intelectual, a fim de obter uma remuneração predeterminada.
Assim, é celebrado um contrato entre trabalhador e empregador, caso se trate
de um contrato individual de trabalho, ou de associação entre o empregador e um
grupo de trabalhadores que emprega vários deles, denomina-se convenção coletiva.
No entanto, os contratos de trabalho e serviço podem ser específicos ou em aberto, e
suas definições podem ser claramente identificadas por meio da definição ou incerteza
dos termos, afetando assim as consequências do contrato. Quando o prazo estipulado
no contrato de trabalho atinge determinado período, o prazo estipulado expira e as
obrigações mútuas também expiram.
O indeterminado pode, salvo por mútuo acordo das partes contratantes, ser
anulado por justa causa, sem que seja concedida ao infrator a sua indenização ou
sanção inadimplente. A legislação trabalhista regula essa questão e indica se há
motivos legítimos para encerrar a relação de trabalho.

14
CALDERA, Rafael. Relação de trabalho. Trad. Carmen Dolores Correa Meyer Russomano.
São Paulo. Revista dos Tribunais, 1927
36
Nesse sentido, o artigo 442 da Consolidação das Leis Trabalhistas define o
contrato de trabalho: “O contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso
que corresponde à relação de trabalho”.15
Verifica-se também se a prestação do trabalho e não apenas o acordo de
vontade que forma o contrato é firmado para que o contrato seja negociado. Portanto,
como já mencionado, é necessário considerar o contrato de trabalho juntamente com
o contrato consensual, o contrato de realidade, expressão associada à ideia da
condição do ato extraída do direito administrativo; como se o mero acordo de vontade
snão fosse suficiente para dar realidade e efeito jurídico ao contrato, e como se isso
não deixasse por resolver o caso das relações de trabalho extracontratuais.
As relações de trabalho e os contratos de trabalho não fazem parte da
legislação trabalhista para todos os empregados, mas uma categoria especial de
empregados. Existem muitos tipos de trabalhadores que não estão incluídos nesta
aplicação. Apenas funcionários subordinados são protegidos por lei, uma CLT é
basicamente uma lei trabalhista.
A Justiça do Trabalho é a justiça do trabalhador, então esse esclarecimento é
necessário. O termo “contrato de trabalho” não contém uma definição precisa do
objeto, da mesma forma que o termo “relação de trabalho” deve ser objeto da mesma
crítica. A relação que pode ser estabelecida entre o contrato de trabalho e a relação
de trabalho deve ser explicada novamente. É mais do que um problema que o contrato
de trabalho e a relação de trabalho sejam expressões diferentes de uma mesma e
única realidade: o vínculo entre trabalhador e empregador.
A continuidade é muito importante para a execução do contrato de trabalho.
Deve haver continuidade para a existência do contrato, ou seja, deve haver um
procedimento unificado na relação. O prestador de serviço não é empregado, mas um
subordinado sujeito à responsabilidade do empregador.
Devido ao ónus, o trabalhador deve ser remunerado pelos serviços prestados
ao empregador, por isso a relação fica onerosa. Para uma pessoa, um contrato é um
intuitu personae, isto é, executado por uma determinada pessoa que está em uma
relação jurídica. O trabalhador é sempre uma pessoa singular, visto que o contrato é
a prestação de serviços, tratando-se de pessoa coletiva, caso contrário o próprio
trabalhador presta os serviços.

15
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm
37
5.1 Contrato por Prazo Indeterminado e Determinado

Quanto ao contrato de trabalho por tempo indeterminado, “é aquele que se


conclui sem a determinação prévia da sua duração, podendo ser prorrogado por
tempo indeterminado”.
O princípio da continuidade deve ser sempre analisado no que diz respeito à
garantia que é repassada ao trabalhador, “não há prova ou cláusula a este respeito,
presume-se que o reajuste foi feito indefinidamente pelo seu prazo de validade, ou
seja, por tempo indeterminado, denominado pela CLT como contrato por tempo
indeterminado.
Essa presunção se baseia no princípio da continuidade do emprego, que
pressupõe que o desejo de uma vida nômade e instável não é do interesse da pessoa
médiaprefere continuar na mesma relação de trabalho sem prazo certo, o que oferece
alguma previsibilidade de despesas e de vida social.
Em relação ao contrato de trabalho por tempo indeterminado, Martins destaca,
verbis:

Na prática, predomina o ajuste por prazo indeterminado. Quando as partes


nada mencionam quanto a prazo, presume-se que o contrato seja por prazo
indeterminado, que é o mais empregado. O contrato de trabalho de prazo
indeterminado não é, porém. Um contratoeterno, mas apenas que dura no
tempo. No direito do trabalho, a regra é a contratação por tempo
indeterminado. O contrato de trabalho é um
contrato de prestações sucessivas, de duração. Em razão do princípio da
continuidade do contrato de trabalho, presume-se que este perdura no tempo.
(MARTINS, 2012. p,122)

Quanto ao contrato de trabalho por prazo determinado, temos algo especial e


é o que se faz antes da sua conclusão.
Para o professor Lima, o contrato a termo será sempre aquele cujo prazo final
é determinado antecipadamente, é um tipo diferente que desafia a regra.16
Com isso em mente, é necessário analisar algumas condições como o caráter
temporário do serviço ou atividade empresarial nos termos do artigo 443 e parágrafos
de consolidação da legislação laboral.

16
LIMA, Francisco Meton Marques de. Elementos de direito do trabalho e processo
trabalhista. 11°. ed. São Paulo: Ltr, 2005.135 p.

38
Segundo referência do artigo 443 da Consolidação das leis trabalhistas faz-se
necessário citá-lo.

Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou


expressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou
indeterminado, ou para prestação de trabalho intermitente. (Redação dada
pela Lei nº 13.467, de 2017)
§ 1º - Considera-se como de prazo determinado o contrato de trabalho cuja
vigência dependa de termo prefixado ou da execução de serviços
especificados ou ainda da realização de certo acontecimento suscetível de
previsão aproximada. (Parágrafo único renumerado pelo Decreto-lei nº 229,
de 28.2.1967)
§ 2º - O contrato por prazo determinado só será válido em se tratando:
(Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)
a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação
do prazo; (Incluída pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)
b) de atividades empresariais de caráter transitório; (Incluída pelo Decreto-lei
nº 229, de 28.2.1967)
c) de contrato de experiência. (Incluída pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)
§ 3o Considera-se como intermitente o contrato de trabalho no qual a
prestação de serviços, com subordinação, não é contínua, ocorrendo com
alternância de períodos de prestação de serviços e de inatividade,
determinados em horas, dias ou meses, independentemente do tipo de
atividade do empregado e do empregador, exceto para os aeronautas,
regidos por legislação própria. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
(BRASIL, 1943)

O Cassar também nos traz algumas reflexões sobre o contrato a termo:

O contrato a termo deve ser expresso, podendo ser escrito ou verbal. Isto é,
deve ser comunicado ao empregado o tempo de duração, pois a finalidade é
que as partes contratantes tenham conhecimento, do prazo de vigência do
contrato para não serem surpreendidas com o sei término, sem qualquer
aviso prévio (princípio da transparência e da
boa-fé). Havendo prova da ciência do empregado, desde a admissão, de que
seu contrato teria duração igual a 30 dias, por exemplo. Implementado o
termo e rompido o contrato, não serão devidos os haveres pertinentes à
dispensa imotivada. (Cassar, 2009. p,249)

5.2 Direito Individual e Coletivo do Trabalho

Segundo Martins, “o contrato individual é o acordo tácito ou expresso que


corresponde à relação de trabalho, é o negócio jurídico entre o trabalhador e o
empregador sobre as condições de trabalho.”17
O mundo parlamentar parecia estar aprovando uma lei civil, enquanto o que ele
queria acima de tudo era uma legislação de classe para criar regras especiais em
favor dos trabalhadores.

17
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p,50
39
Seria melhor reconhecer que a legislação favorece aqueles que têm a condição
social de trabalhadores independentemente do contrato civil que tenham com seus
empregadores.
O conceito mencionado nesta categoria “direito individual do trabalho é a parte
do direito do trabalho que examina o contrato de trabalho individual e os regulamentos
legais ou oficiais que se aplicam a ele.
Da mesma forma, Delgado18 define os direitos pessoais de um funcionário
como "um contrato de trabalho que estipula os direitos, obrigações e obrigações de
ambas as partes. Em circunstâncias especiais, também se aplica a outras relações de
trabalho legalmente regulamentadas.
O direito coletivo do trabalho é o segmento do direito do trabalho responsável
por tratar da organização sindical, da negociação coletiva, dos acordos coletivos, da
representação dos empregados e das greves. O direito coletivo do trabalho é apenas
um ramo do Direito do Trabalho que não possui autonomia, pois não possui diferenças
específicas das demais áreas do Direito do Trabalho e, como as demais, está
amplamente incorporado à CLT.

18
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 19°.ed. São Paulo: LTr, 2020.
40
6 BIBLIOGRAFIA

BRASIL. (Consolidação das Leis do Trabalho). Decreto Lei nº 5.452, de 01 de maio


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