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AULA 1 – 02/08/2021
G1 – 27/09
G2 – 06/12
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial. 10. Ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: Método, 2020. Plataforma Minha Biblioteca.
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 11.
ed. São Paulo: Atlas, 2020. v. 1. Plataforma Minha Biblioteca
z
ESTRATÉGIAS DE ENSINO
DATA C ONTEÚDO OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
APRENDIZAGEM
Apresentação da disciplina.
Direito Civil e Direito Será estimulada a participação
Empresarial (comercial, Apontar quais as soluções que
o Direito Empresarial oferece ativa do acadêmico em sala de
mercantil): Empresário;
para a mercancia, como aula, em sistemática expositivo-
Primórdios da mercancia. dialogada. Igualmente em relação
Capacidade para escolha das sociedades
a simulação de problemas, a
empresariar: Impedimento. empresariais que melhor se serem resolvidos em aula,
Regime jurídico da livre adaptem aos objetivos de individualmente ou em grupo,
iniciativa. Proteção da quem deseja exercer vida bem assim trabalhos serem
02/08 ordem econômica e da livre empresarial; desenvolvidos em caso.
concorrência:
Lucro
CONTEÚDO
1. Direito Civil e Direito Empresarial (comercial , mercantil):
1.1 Empresário;
1.2 Primórdios da mercancia.
2. Capacidade para empresariar:
2.1 Impedimento.
3. Regime Jurídico de livre iniciativa.
Comentamos inicialmente que a disciplina pode ser chamada de Direito Empresarial em uma
linguagem mais atual, mas também pode ser chamada de Direito Comercial ou de Direito
Mercantil. Essas expressões correspondem à própria evolução do Direito Empresarial, primeiro se
usava a expressão. Inicialmente se usava a expressão Direito Mercantil, depois se passou a usar
Direito Comercial.
Vimos que o objeto da disciplina é o estudo das relações atinentes ao empresário. É o direito do
Empresário e vamos trabalhar com essa lógica de que vamos fazer a análise do empresário,
quem ele é, limites para ser empresário e das relações que envolvem o empresário, seus atos,
negócios, contratos empresariais, títulos de crédito, as situações de crise econômica-financeira,
situação de crise econômica mais leve, ensejando a recuperação judicial, crise mais intenção
ensejando a falência. É o direito do empresário, com o estudo de tudo aquilo que de alguma
maneira tem essa incidência sobre a atuação do empresário.
Como comentamos, alguns autores atuais preferem ver a matéria, a discplina do Direito
Empresarial como uma disciplina de mercado, entendendo que o Direito Empresarial regula as
relações de mercado, o que mostra um cenário futuro a ser consolidado. Mas, por enquanto
usamos a ideia mais comum de que o Direito Empresarial é o direito que regula as relações que
envolvem o empresário.
Falamos da divisão da matéria, em 5 partes. No empresarial I estudamos a Teoria Geral do
Direito Empresarial e as Sociedades Empresárias. No próximo semestre, estudamos as questões
pertinentes aos contratos empresariais modernos, atuais; títulos de crédito e a recuperação
econômica da empresa.
No final da última aula, nós demonstramos a existência de uma vinculação natural entre o Direito
Empresarial e os demais ramos que temos, falamos sobre a integração do empresarial com o
Direito do Trabalho, tributário, consumidor, ambiental. É uma matéria que se faz presente em
vários setores do Direito, tangencia vários ramos, é uma matéria transversal.
Falamos das principais características e princípios que marcam o Direito Empresarial. Falamos
em 6, mas que não são as únicas, mas são as mais marcantes. Direito Empresarial é globalizado,
com figuras globalizadas, reconhecidas no mundo inteiro.
1.3 Formação e Evolução do Direito Empresarial
O comércio aos poucos ia se difundindo na sociedade e, consequentemente, neces‐
sitava de um tratamento jurídico. Intuitivamente poder‐se‐ia afirmar que o direito co‐mercial é o
direito do comércio, o que não corresponde à realidade. Com efeito, o adje‐tivo comercial demonstra
que esse ramo do direito surgiu em virtude das exigências especiais do fenômeno comercial7 .
Todavia, houve uma grande extensão do âmbito do direito comercial, abrangendo fatos que não se
enquadram no conceito econômico de comércio. Além disso, não se pode dizer que o direito
comercial regule todo o comércio8
Precisamos fazer abordagem histórica para ver como surgiu e como está o Direito
Empresarial. Material mais teórico, encontrada de forma mais completa nos livros da bibliografia.
Em aula, vamos ver algumas linhas gerais para auxiliar no estudo desse tópico, bem como
desenhar algumas linhas gerais sobre o que vai ser importante para nós na nossa disciplina
atualmente para podermos entender como hoje se dá esse contexto do Direito Empresarial.
1.3.1 Evolução Mundial
Fases: 1) DIREITO ROMANO: ausência do Ramo Jurídico “Direito
Comercial”.
No Direito Romano haviam várias normas dentro do ius civile, sem
autonomia, que disciplinavam o comércio, mas não era um Direito Comercial propriamente dito
em razão da base rural da economia romana.
Existe entre alguns autores de Direito Empresarial uma longa discussão
sobre a existência ou não de um Direito Empresarial no sistema romano. Prepondera o
entendimento que no Direito Romano não tivemos a disciplina, o ramo jurídico do Direito
Empresarial, mas apenas o direito comum, do cidadão romano, que é o nosso Direito Civil atual.
No modelo romano, a lógica geral era de que o cidadão romano vivia da sua
atividade de renda, da sua profissão e o comércio não era visto como uma profissão. Cada
romano tinha bens, renda e a atividade era basicamente de subsistência e tinha alguma profissão
específica, não se vendo a existência de um sistema econômico a ponto de se identificar um
Direito Comercial.
Entretanto, havia comércio, o que era relegado apátridas, que não tinham o
status de cidadão romano. Escravos exerciam o comércio como uma longa manus do seu dono,
senhor, porque o cidadão romano não tinha atuação no comércio e na atividade mercantil.
A atividade mercantil não ganhou um status de importância no Direito
Romano a ponto de formar uma disciplina jurídica. Haviam algumas normas de direito civil que
acabavam sendo estendidas a quem não era cidadão romano, valendo para algumas atividades
mercantis. Mas, o cidadão romano em si não era destinado à atuação mercantil, que era muito
insipiente, rudimentar e exercida basicamente por apátridas e escravos com longa manus do seu
senhor sem a existência de uma disciplina, um ramo jurídico voltado ao Direito Comercial.
Era feio exercer o comércio, não dignificava o cidadão romano, não recebeu o
status de ramo jurídico.
Existiam algumas normas que alguns autores indicam de autores romanos
que faziam referência ao comércio, mas não há como dizer que havia a existência de um Direito
Empresarial no sistema romano.
Mas, então quando passou a surgir o Direito Empresarial? Existia o comércio
em Roma, mas não a disciplina, apesar do comércio ser a figura mais emblemática no Direito
Empresarial. O comércio é anterior à essa disciplina jurídica, ele é uma realidade social, é prática
mercantil, mas que por si só não indica a existência de um ramo jurídico voltada a ela.
Não tivemos o Direito Empresarial.
2) DIREITO MEDIEVAL: início da formação do Direito Empresarial no
final da Idade Média?
Começamos a ter as primeiras ideias de existência de uma disciplina de
Direito Mercantil, Comercial na Idade Média, mais pontualmente no seu final. Primeiras
manifestações do Direito Empresarial no final da Idade Média, surgindo o empresarial como ramo
do Direito efetivo.
A Idade Média foi marcada muito pela presença do cristianismo e pelo
sistema econômico feudal. Tanto um como outro não se mostravam simpáticos ao comércio e às
práticas mercantis. O sistema feudal é um sistema de servidão no qual o Feudo produzia tudo o
que consumia ou consumia apenas o que produzia e, portanto, o comércio era muito insipiente e
rudimentar.
Os mercadores eram pessoas que iam de feudo em feudo, de aldeia em
aldeia, fazendo trocas e algumas negociações, mas nada que justificasse a existência de um
ramo jurídico. Muitas vezes eram pessoas sem pátria que eram nômades e iam migrando fazendo
essas transações negociais. Não havia um sistema jurídico empresarial, mercantil ou comercial
nesse período.
Feudalismo era incompatível com o crescimento empresarial, o que teve seu
predomínio durante muito tempo na idade média, ofuscando qualquer relevância no exercício da
atividade mercantil, empresarial.
Durante boa parte da Idade Média tivemos a presença muito forte da Igreja
Católica, com uma série de dogmas e postulados que ofuscavam a importância da atuação
empresarial. Se tinha uma noção de que cada pessoa precisava ganhar o seu sustento com o
suor do seu trabalho, não se via o comércio como um trabalho, não tinha a dignidade de um
trabalho na visão cristã. Portanto, não se referendava pelos valores cristãos na época.
Da mesma forma, se tinha a ideia de que a cobrança de juros era vista como
pecado. Livro “Mercador de Veneza”, ainda que no final da Idade Média, que mostra claramente
esse cenário que se tinha na Idade Média, na qual os mercadores, apesar de estar no final
daquela época ainda haver um preconceito em relação aos mercadores, que ainda nessa época
já representavam uma maior importância econômica. No livro, mostra um perfil em relação à
situação do comércio e dos mercadores, onde é indicada a existência de uma classe aristocrática,
nobre já em decadência economicamente que dependia muitas vezes das relações negociais e
buscava empréstimo junto a mercadores, que eram estrangeiros, apátridas que não eram
vinculados ao cristianismo e não tinham destaque social.
As influências dos valores católicos desestimularam o reconhecimento da
importância jurídica do Direito Empresarial, muito embora com certo viés econômico, sem
importância jurídica.
Esse cenário demonstrou que o Direito Empresarial não tinha espaço durante
boa parte do período feudal, que durou vários séculos.
Mas, no final da Idade Média, passamos a ter um ambiente que vai se
modificando e abrindo espaço para receber e reconhecer de atuações negociais e econômicas,
com pelo menos 3 fatores que se destacam e que vão mostrando um cenário mais simpático para
o surgimento e crescimento da atividade empresarial o que cria espaço para a criação e formação
inicial de um Direito Empresarial, embora ainda não organizado e sistematizado. Mas são os
primeiros passos para a sua formação no momento final da Idade Média, motivada por esses 3
fatores.
Fatores: decadência do feudalismo; crescimento do poder das
corporações de ofício; cruzadas.
O primeiro fator, e talvez o de maior destaque, é a decadência do Feudalismo
como sistema econômico e de vida social, o qual entra em colapso no final da Idade Média,
quando ocorre uma visão mais crítica em relação a esse sistema de Feudo. Passamos a ter um
cenário um pouco diferente ao passo em que os feudos começam a se esvaziar e a perderem
força.
Passam a ter menor proteção e se buscam alternativas de sobrevivência
daqueles que abandonam os feudos e saem desse sistema econômico, o que faz com que
comecem a surgir as primeiras cidades, os primeiros burgos, que vão mudando o cenário
econômico da Europa nesse período. Com isso, começam a surgir as primeiras corporações de
ofício, muitos dos que abandonavam os feudos acabavam se associando e formando
corporações de ofício, que são uma espécie de semente que deu origem depois às Sociedades
Anônimas, deu origem ao Direito do Trabalho.
Eram associações, corporações de profissionais que desempenhavam uma
atividade específica e com isso foram ganhando importância. As corporações passaram a ter um
poder econômico tão grande quanto tinham os senhores feudais, começando a bater de frente
com os senhores feudais e a enfrentar essa oligarquia dos senhores feudais desse período.
As corporações passaram a ganhar destaque no cenário econômico e
passaram a se rascunhar as primeiras ideias de um Direito Empresarial.
Cada corporação de ofício tinha o seu estatuto, os seus costumes e regras, o
que foi dando origem às primeiras normas sobre Direito Empresarial.
Essas corporações eram bastante fechadas, algumas corporações tinham
inclusive pacto de sangue que forçavam quem ingressasse a ficar pelo resto da vida vinculado a
essa corporação.
Características: direito de uma classe profissional, fruto de costumes
mercantis e com jurisdição própria.
Surge de fato somente na Idade Média como direito autônomo o Direito
Comercial.
Uma corporação bastante conhecida historicamente que é a de Murano,
fabricou os famosos cristais Di Murano, que fica em uma ilha próxima de Veneza, onde a história
conta que ela tinha esse pacto de sangue e quem ingressava na corporação de Murano era
obrigado a ficar preso na ilha fabricando os cristais, justamente para não permitir que o segredo
de fabricação dos cristais viesse a ser passado a terceiros.
Aprendiam a arte de fabricação e ficavam proibidos de divulgar essas
técnicas para terceiros. Não podiam sair da ilha e abandonar a corporação. Ali mantiam o
“segredo industrial” dessa corporação.
Já era um contexto mais próximo do nosso com um rascunho das regras de
segredos industriais e técnicas industriais, de Sociedade Anônima. Começa a ter um primeiro
momento da formação do Direito Empresarial.
As corporações passaram também a incorporarem princípios que as
orientavam e viraram costumes empresariais, mercantis que cada vez mais se consolidavam.
A queda do Império Romano e, consequentemente, a ausência de um poder
estatal . No centralizado fizeram surgir pequenas cidades, que não eram autossuficientes para
atender suas necessidades, as quais se mantiveram fechadas durante toda a Idade Média13 fim da
Idade Média, por volta dos séculos XI e XII, com a reabertura das vias comerciais do norte e do sul
da Europa, se desenvolve uma mudança radical na configuração da sociedade: há uma grande
migração do campo, formando‐se cidades como centros de consumo, de troca e de produção
industrial.
Essa mudança foi provocada pela crise do sistema feudal, resultado da
subutilização dos recursos do solo, da baixa produtividade do trabalho servil, aliadas ao aumento da
pressão exercida pelos senhores feudais sobre a população. Em função da citada crise, houve uma
grande migração que envolveu, dentre outros, os mercadores ambulantes, que viajavam em grupos e
conseguiram um capital inicial, que permitiu a estabilização de uma segunda geração de
mercadores nas cidades, desenvolvendo um novo modo de produção14. As condições para o
exercício da atividade dos mercadores não eram tão boas e, por isso, eles foram levados a um forte
movimento de união15 .
Também no final da Idade Média tivemos um outro ponto importante histórico
que influenciou a formação do Direito Empresarial, que foram as cruzadas.
As cruzadas representaram uma guerra santa que foi patrocinada pela Igreja
Católica, feita para proteger Constantinopla, capital do Império Romano que caiu nas mãos dos
Turcos Otomanos, e ficou nas mãos de quem não era cristão, o que gerou essa preocupação da
Igreja Católica em proteger a Terra Santa e de alguma maneira retomar Constantinopla, que
desencadeou as Cruzadas, uma guerra de cerca de 50 anos que aos poucos foi mudando o
cenário econômico da Europa.
As cruzadas acabaram implicando no estágio de formação de batalhões para
lutarem nas batalhas e esses batalhões eles buscavam as gerações mais jovens, que foram
saindo dos feudos para formarem os batalhões das cruzadas, isso acabou enfraquecendo ainda
mais ainda os Feudos, pois a sua mão de obra foi retirada, e em um período de guerra, os feudos
tornaram-se mais fragilizados, eram saqueados.
Com isso, passaram a usar os mosteiros, que eram protegidos por cavaleiros
cruzados, para depósito das riquezas, ouro e etc. o que fez com que os Templários passassem a
ser vistos, historicamente, como os primeiros banqueiros na história. Passaram a receber valores
e bens e a guardar eles. Depósito nos mosteiros que eram lugares seguros e não alvo de saques,
pois protegidos pelos templários. Mais adianta passaram a usar esses bens para pagar juros e
remunerações para os senhores feudais. Passaram a ser uma espécie de banco.
https://www.bbc.com/portuguese/geral-38804987
Com o passar do tempo, a Igreja precisou manter as despesas das Cruzadas
e passou a usar essas riquezas depositadas em troca de títulos, de pagamento de Juros, em
troca de algum tipo de benefício, rompendo com aquela lógica da Igreja de refutar juros, a
atividade negocial, da exploração do lucro, que abriu espaço para uma nova forma de
pensamento do modelo europeu.
As cruzadas criaram também certas rotas que eram percorridas pelos
cavaleiros das cruzadas, essas rotas que passaram a ser rotas seguras das Cruzadas, gerou
rotas de comércio, rotas negociais entre Ocidente e Oriente. O contato com a cultural oriental fez
com que alguns cavaleiros das cruzadas tivessem uma reflexão e revisão sobre os dogmas
cristãos voltados a rechaçar a atividade negocial, haja visto que os turcos, em especial, que são
eram muito religiosos, mas tinham a questão negocial muito forte também, mostrando a
possibilidade de convívio dessas duas situações: religião e comércio (atividade negocial).
Mostrando que não são inimigos.
Uns acabavam abandonando as cruzadas e passaram a ter hospedarias, a
ter algum tipo de atividade comercial, fazer o comércio de produtos orientais para o ocidente e
acabaram criando os primeiros burgos, pontos de comércio em cada local descanso dos
primeiros cruzados. Ali se constituía um ambiente de comércio, hospedaria, restaurante, oficinas.
Aos poucos se consolidando a atividade mercantil, mudando o cenário.
Esse cenário envolvendo a decadência do feudalismo, o crescimento das
corporações de ofício e os efeitos das cruzadas foi o que acabou dando espaço no fi nal da Idade
Média para começarmos a termos as primeiras manifestações de um Direito Empresarial .
Comércio e mercancia passaram a ganhar importância econômica, sendo necessária a
normatização o que deu início ao Direito Empresarial, inicialmente todo costu meiro, afastado do
Estado, era um Direito Privado, começaram a surgir tribunais que julgavam as questões entre
mercadores, mas tribunais formados por membros de corporações de ofício, portanto, tribunais
não estatais que buscavam julgar e regular essas questões que envolviam empresários na época.
Esse desenvolvimento da atividade comercial evidenciou a insuficiência do
Direito Civil para disciplinar os novos fatos jurídicos. A lei estatal era muito estática, focada na
propriedade imobiliária, estática e com muitos obstáculos à circulação.
Assim, se desenvolve um Direito Comercial baseado em costumes com a
formação das Corporações de Mercadores (Gênova, Florança, Veneza) para superar as
condições avessas ao desenvolvimento do comércio.
A desorganização do Estado medieval fez com que os comerciantes se unissem
para exer‐citarem mais eficazmente a autodefesa18. Era preciso se unir para ter “alguma força” (o
poder econômico e militar de tais corporações era tão grande que foi capaz de operar a transição do
regime feudal para o regime das monarquias absolutas). “Os (grandes) comerciantes, organiza‐dos
em corporações, passam a constituir a classe econômica e politicamente dominante.”19
Nesse primeiro momento, DIREITO COMERCIAL = DIREITO DOS
COMERCIANTES. Disciplinava relações entre os comerciantes. Aplicação por um juiz eleito pelas
Corporações (Cônsul). Essas normas costumeiras valiam apenas dentro da própria corporação.
Posteriormente surgem normas escritas que somadas aos costumes formaram os estatutos das
corporações, a fonte primordial do direito comercial em sua origem.
Portanto, se tinha a especialidade das normas, bem como jurisdição especial.
Diferenciou-se do direito comum, era “um direito criado pelos mercadores para regular as suas
atividades profissionais e por eles aplicado”. Lex Mercatoria.
SISTEMA SUBJETIVO: aplicação do critério corporativo (se o sujeito fosse
membro de determinada corporação de ofício, o direito a ser aplicado era o da corporação. A
matrícula na corporação atraía o direito costumeiro e a jurisdição consular) + matéria ligada ao
exercício do comércio. Direito eminentemente profissional.
O poder econômico da burguesia comercial aumentou, e estes difundiram
suas relações com não comerciantes. Assim, a jurisdição corporativa passou a valer também para
demandas entre comerciantes e não comerciantes. CORPORAÇÃO MERCANTIL EXERCE
PAPEL DE GOVERNO NA SOCIEDADE URBANA.
Posteriormente, esse Direito passa a ser estatal (primeiramente aplicado por
Tribunais especiais e depois por tribunais comuns), deixando de ser corporativo.
A extensão da aplicação das normas editadas pelas corporações não muda a
natu‐reza do direito comercial, que continua a ser um direito de classe. A aplicação das normas
corporativas a quem não pertencia à corporação representa apenas a prevalência de uma classe
sobre outras30. O ius mercatorum representa um direito imposto em nome de uma classe e não em
nome da comunidade, como um todo31.
No Brasil, tal sistema predominou durante o século XVIII e a primeira metade do
século XIX, na medida em que as normas editadas em tais períodos se referiam aos ho‐mens de
negócios, seus privilégios e sua falência. Tal como em sua origem, o direito comercial no Brasil,
inicialmente, não passava de um direito de classe.
3) CÓDIGO COMERCIAL FRANCÊS DE 1807 (teoria dos atos de
comércio).
Bem depois do período de práticas negociais fundadas em costumes, com
julgamento por corporações. Passamos à fase do Código Comercial Francês de 1807. Inseriu a
expressão “Direito Comercial”
Foi o primeiro grande código comercial que existiu em termos mundiais e pelo
poder e importância da França já passou a ser um código globalizado, vários países passaram a
adotá-lo como Código Nacional, legislação interna. Aqui na América Latina vários países
passaram a ter o Código Comercial Francês como legislação interna, demonstrando, novamente,
a tendência do Direito Empresarial à globalização.
O Brasil não chegou nesse ponto, pois não tinha muita simpatia à Napoleão.
A Corte Portuguesa não tinha muita simpatia à Napoleão, haja vista a vinda da Coroa Portuguesa
para o Brasil em 1808 fugindo de Napoleão, de modo que jamais teria uma lei francesa
nacionalizada. Não gostaria de ter uma lei francesa.
O Código Comercial Francês foi decisivo na evolução do Direito Comercial,
até então só se falava em mercadores, e em Direito Mercantil e passou -se a falar,a partir de
então, a falar-se em Direito Comercial também em função do Código Comercial Francês de 1807.
Esse Código teve a grade vantagem de tentar sistematizar e organizar essa matéria até então
fundada em costumes, princípios e não tinha caráter estatal. Trouxe a normatização e passou a
oficializar a existência da disciplina autônoma do Direito Comercial, com um código voltado a
regular as relações comerciais. Inaugurou a figura dos atos de comércio, indicando que o Direito
Comercial seria o Direito dos Atos de Comércio, criando um critério mais objetivo em relação ao
Direito Empresarial, estabelecendo que esse seria aplicado quando estivessem presentes os atos
de comércio, os quais eram listados no Código Francês.
Quais seriam esses atos? Os atos de comércio propriamente ditos, de
lojistas; os atos de indústria, seguradoras, transporte de mercadorias; e também os atos de
comércio por conexão, atos que não são comerciais em si, mas que por conexão, vinculação
passariam a ser comerciais, como a locação de um imóvel para fins empresariais, para instalar
uma indústria. Passaria a integrar o Direito Comercial. TEORIA OBJETIVA DOS ATOS DE
COMÉRCIO: ou seja, aplicaríamos o Direito Empresarial (Código Comercial Francês) quando
presente algum ato de comércio por natureza, por determinação da lei ou por conexão.
SISTEMA OBJETIVO: Na Idade Moderna, houve um movimento de
centralização monárquica, de modo que os comerciantes deixam de ser os responsáveis pela
elaboração do direito comer‐cial, tarefa esta que fica nas mãos do próprio Estado. Passa‐se à
estatização do direi‐to comercial33.
Com o passar do tempo, os comerciantes começaram a praticar atos
acessórios, que surgiram ligados à atividade comercial, mas logo se tornaram autônomos. O
melhor exemplo dessa evolução são os títulos cambiários – documentos que facilitavam a circu‐
lação de riquezas –, os quais, embora ligados inicialmente à atividade mercantil, poste‐riormente se
difundiram também para relações que não envolviam comerciantes.
Com isso = insuficiência do conceito de Direito Comercial como um Direito
dos Comerciantes. Necessidade de evolução por 2 motivos: superação da estrutura corporativa
do Direito Comercial; necessidade de aplicação das normas mercantis nas relações entre
comerciantes e não comerciantes.
Surgimento da atividade bancária pelo crédito (seja concedido pelo
comerciante, ou recebido por este). Este passa a ser documentado em títulos que simplificam a
circulação de riquezas. Esse tipo de ato não é típico apenas dos comerciantes, mas de boa parte
da população. Por isso, as normas precisavam ser objetivas, se aplicando a atos objetivamente
considerados e não mais a pessoas (ideia corporativa).
Quem marca essa nova fase é o Código Napoleônico de 1807. Passa a
disciplinar uma série de atos da vida econômica e jurídica que não eram exclusivos dos
comerciantes, mas que necessitavam das mesmas características do Direito Mercantil, como:
facilidade de prova; prescrição breve; rapidez processual e competência técnica dos juízes.
Não é apenas a disciplina desses atos que inaugura essa nova fase, mas
também a extensão da Jurisdição Comercial a quaisquer pessoas que praticassem tais atos,
independentemente de sua qualificação pessoal.
Verificar item seguinte sobre o Código Comercial de 1850 no Brasil. Ali
ocorreu o acolhimento da concepção objetiva, mas de forma tímida, disciplinando apenas a
atividade profissional dos comerciantes sem menção ou definição dos atos de comércio.
TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO. Segundo Vera Helena de Mello
Franco: “o ato de comércio é o ato jurídico, qualificado pelo fato particular de consubstanciar
aqueles destinados à circulação da riqueza mobiliária, e, como tal, conceitualmente voluntário e
dirigido a produzir efeitos no âmbito regulado pelo di‐reito comercial”.
Carvalho de Mendonça41 distinguiu três tipos de atos de comércio, quais sejam,
os atos de comércio por natureza ou subjetivos, os atos de comércio por dependência ou conexão e
os atos de comércio por força ou autoridade de lei.
Atos de Comércio por Natureza/Subjetivos: negócios jurídicos relativos ao
exercício da indústria mercantil. Nesses atos, pelo menos uma das partes atua como
comerciante, no exercício da profissão. Características: habitualidade (faz daquilo sua profissão),
intuito de lucro e a intermediação (uma das partes não pode se encontrar em qualquer das
extremidades da cadeia de produção, nem no início, nem no final, não pode ser produtos nem
consumidor).
Atos de Comércio por Dependência/Conexão: em princípio são atos civis,
mas quando praticados no interesse do exercício da profissão mercantil assumem o caráter de
ato de comércio. Deve ser verificada a finalidade com que tal ato é praticado. Ex: compra de
máquina registradora; balcões; vitrines para loja. A entendimento contrário (Fran Martisn e
Rubens Requião).
Atos de Comércio por Força ou Autoridade de Lei: qualidade de ato de
comércio pela determinação legal. São aqueles enumerados pela lei, não admitindo prova em
contrário. Ex: construção civil e as atividades relacionadas às sociedades autônomas.
OBS: O CCom Francês vigora até hoje. Ele estabelece a existência três tipos
de atos de comércio: por natureza (comércio propriamente dito); por força de lei (atividade
bancária, seguros, transporte de mercadorias); e aqueles por conexão (atos de essência civil,
mas realizados com objetivos mercantis. Exemplo: locação de imóvel para fim mercantil).
CRÍTICA AO SISTEMA OBJETIVO.
Manuel Broseta Pont48 aponta dois problemas fundamentais do sistema
objetivo. Em primeiro lugar, é impossível do ponto de vista conceitual abarcar numa unidade os atos
ocasionais e aqueles que representam uma atividade profissional e, por isso, exigiriam o tratamento
específico. Ademais, o legislador incorreu no equívoco de continuar subme‐tendo ao direito
mercantil certas matérias que passaram a ser comuns e não mereciam mais um tratamento
especial. Essa segunda crítica também é sufragada por Joaquín Garrigues, que afirma que as
expressões ato de comércio e direito comercial passaram a ser arbitrárias, sem guardar qualquer
relação com o comércio.
Se compete à lei a definição de comerciante ou de ato de comércio e, por
conseguinte, da matéria de comércio, conclui-se que o Direito Mercantil é uma categoria
legislativa e não uma categoria lógica.
Tais críticas são extremamente procedentes e acabaram inspirando uma nova
con‐cepção do direito comercial no mundo. Países como a Itália, em 1942, já adotavam uma nova
concepção do direito mercantil, abandonando aquela dos atos de comércio. Mesmo antes do Código
italiano, a Alemanha, no Código Comercial de 1897, já modernizava o sistema subjetivo do direito
mercantil51 .
Tal tendência chegou ao Brasil e aos poucos se propagou pela nossa legislação,
como na edição do Código de Defesa do Consumidor e, mais recentemente, com a edição do Código
Civil.
4) CÓDIGO CIVIL UNIFICADO ITALIANO DE 1942 (teoria dos atos de
empresa).
Nós tivemos também em termos históricos, não como uma etapa seguinte,
mas até um pouco concomitante ao CCom Francês, o Código Civil Unificado Italiano de 1942.
Trouxe a Teoria dos Atos de Empresa, é uma espécie de rebeldia em relação
ao sistema dos atos de comércio e passou a entender como o conteúdo de Direito Empresarial
não mais os atos de comércio, mas os atos empresariais, objeto do Direito Empresarial passou a
ser os atos de empresa, desvinculando a noção de ato de comércio, trazendo a preferência sobre
a expressão “Direito Empresarial”.
Esse é o critério adotado no Brasil pelo Código Civil de 2002. Hoje orienta o
Direito Brasileiro, vamos tratar em tópico seguinte.
TEORIA DOS ATOS DE EMPRESA: NÃO temos uma lista de atos de
comércio, como tinha o Código Francês, tem uma visão mais abrangente, trazendo para a área
empresarial alguns atos que até então ficavam fora do Direito Comercial.
Essa evolução em relação ao Direito Empresarial é em nível mundial, vamos
ver como ocorreu no Brasil.
1.3.2 Evolução no Direito Brasileiro
Temos várias formas de organizar essa matéria no Brasil, mas podemos
dividir ela em 3 tópicos de maneira geral.
1) PERÍODO COLONIAL (1808): chegada da família Real e abertura dos
Portos.
Direito Comercial ainda um direito português, mas com algumas
características nacionais em função da abertura dos portos e algumas inovações trazidas pela
Família Real que veio ao Brasil.
Não existia ainda o Brasil como país autônomo, passamos a ter um pouco do
Direito Comercial Mercantil, o que ocorreu com a vinda da família imperial para cá, a qual realizou
a abertura dos portos, uma vez que o Brasil só podia comercializar com Portugal ou com alguém
autorizado por Portugal. A partir da vinda da família real para cá, foi permitida a abertura dos
portos a outras nações. Isso na época em que o Comércio era basicamente marítimo, isso foi
uma grande evolução no período. Fez com que começasse a se ter no Brasil os primeiros passos
em relação ao Direito Empresarial, embora ainda estivéssemos em um período de colônia, de
modo que o Brasil seguia as leis portuguesas e o modelo normativo português.
Na época foi criado o Banco do Brasil, voltado a representar a economia
nacional, começaram a se cogitar as primeiras faculdades de Direito. Se passou a ter a formação
de um país, um espaço mais voltado a um sistema econômico mais organizado dando início nos
nossos primeiros passos no Direito Empresarial, mas ainda vinculado ao sistema europeu
português.
A história do Direito Empresarial efetivamente começou a partir do Código
Comercial de 1850, mesmo depois da independência de 1822, o Brasil ainda continuava
dependendo das leis portuguesas e aos poucos foi criando uma malha legislativa nacional.
2) Código Comercial de 1850 (teoria dos atos de comércio) +
Regulamento 737/1850.
No que pese a independência, ainda dependia das leis portuguesas.
Bem antes de termos o nosso primeiro Código Civil (1916), já tínhamos um
Código Comercial, adotando a teoria dos atos de comércio francesa acompanhado do
Regulamento 737.
Como já dito, o Código Comercial promulgado pela Lei nº 556/1850 não
mencionou nem definiu os atos de comércio. Todavia: A ausência de um rol dos atos de comércio
não perdurou muito tempo. O Código Comercial dependia de regulamentação, sobretudo no que
tange ao aspecto processual. Essa regulamentação veio à tona no mesmo ano de 1850 com o
chamado Regulamento 737, de 25 de novembro de 1850, que definia o que era considerado matéria
mercantil para fins processuais, nos termos do seu art. 19. Mesmo com a revogação do Regulamen‐
to 737 e a extinção dos tribunais do comércio em 1875, a distinção da matéria comercial e civil
continuou a ser feita nos termos do Regulamento 737, de 1850.
Foi elaborado por práticos. O imperador Dom Pedro II nomeou uma comissão
para elaboração do Código Comercial Brasileiro, a qual não foi composta por juristas, mas p or
práticos, mercadores, empresários que se reuniram e passaram a redigir o Código sem um perfil
rebuscado, com linguagem jurídica, era mais um manual para quem atuasse e assumisse a
condição de comerciante ou mercador.
Foi um marco decisivo no nosso sistema, passou a consolidar, de vez, a
existência de um Direito Comercial Brasileiro.
Era dividido em 2 partes: comércio marítimo e comércio terrestre (interno).
Em especial para nós, na parte de comércio terrestre, a partir dele que se formatou o Direito
Comercial no Brasil. A evolução da matéria foi em torno da forma como evoluiu o assunto no
Código Comercial.
Era um Código simples, adotou a teoria dos atos de comércio, mas não
necessariamente igual ao modelo francês. Evitava referência ao Código Francês, dizendo que era
um código que regulava a prática da mercancia, da atividade, portan to, de mercador.
O Regulamento 737, que complementava o Código, dispunha o que ele
considerava como ato de comércio. E, nesse ponto, usava a mesma sistemática francesa, dos
atos de comércio por essência, por força de lei e por conexão. Até porque o objeti vo era ter um
Código Comercial que dialogasse com outros países, em especial da América Latina, que
adotaram o Código Comercial Francês. Serviu como nosso referencial, vigorou até 2002 quando
entrou em vigor o Código Civil.
Teve vida longa, mas foi muito modificado durante esses quase 150 anos de
existência, foi aos poucos sendo modificado, e sendo esvaziado. O comércio foi evoluindo e
passaram a ser criadas uma série de leis especiais, que foram esvaziando o texto do Código.
Então, quando entrou em vigor o Código Civil de 2002, já havia praticamente
sido abandonado o texto do Código Comercial de 1850, porque boa parte da matéria já tinha sido
regulada em leis especiais. Ex: o Código Comercial de 1850 trazia no último tópico regras sobre
quebras (falência), que na época era concordata (?). Matéria que evoluiu muito no nosso
contexto, da falência e concordata. Hoje a falência e recuperação de empresas evoluiu muito. Já
em 1890 tivemos uma lei de falência autônoma revogando parte do Código Comercial nesse
assunto. Depois tivemos várias reformas e novas leis de falência e hoje temos uma Lei de
Falências de 2005 que foi reformulada muito no ano passado. A SA também existia no texto do
CCom de 1850, mas passou por várias alterações, logo saiu do texto do código e passou a ser
regida por leis especiais, hoje temos leis especiais tratando do assunto, uma lei de 1976, Lei nº
6.404/76 que cuida das SAs com 300 artigos.
Vários assuntos foram sendo retirados do Código Comercial. Já quando foi
revogado em 2002, a parte do comércio terrestre, pouca coisa havia dele ainda viva. Existiam
textos obsoletos, então não foi sentida tanta mudança quando teve a sua revogação parcial em
2002, pois a parte de Comércio Marítimo não foi oficialmente revogada. Mas, sem utilidade
prática, uma vez que o Comércio Marítimo hoje é basicamente regulado por tratados
internacionais e depois por uma série de leis esparsas que tratam dos assuntos da matéria
empresarial junto com o Código Civil hoje.
3) Código Civil de 2002 (teoria dos atos de empresa).
Fase atual, trazendo a Teoria dos Atos de Empresa, rompendo com a
sistemática do Código Comercial de 1850.
O Código Civil de 2002, inspirado muito no Código Civil italiano de 1942
trouxe essa teoria, rompendo com a sistemática do Código Comercial de 1850. Inspirado no
Código Italiano. As empresas foram modeladas pelo Código Civil unificado de 1942. Influenciou
nosso sistema atual.
Os Atos de Empresa foram modelados pelo Código Civil Unificado da Itália de
1942, hoje temos um modelo semelhante ao modelo italiano que influenciou o nosso sistema
atual de normatização de Direito Empresarial. Isso decorrer de vários fatores.
Isso decorreu de vários fatores: o Direito de Empresa italiano parece mais
atual e contemporâneo era melhor e adequado para regular a matéria. Depois que o Brasil seguiu
o Código Italino, vários países da América Latina (Argentina, Chile, Paraguai) passaram a cogitar
esse modelo. Grande parte da América Latina adotou esse modelo. Nos vinculamos ao sistema
italiano dos atos de empresa.
Seguimos esse modelo por vários fatores. Dentre eles, durante o período da
Segunda Guerra Mundial, alguns juristas buscaram exílio no Brasil, como o Liebman na parte de
Processo Civil, que foi um grande processualista que influenciou muito. Na área empresarial,
Tulio Ascareli, foi grande jurista italiano na área do Direito Comercial, ao buscar exílio no Brasil,
foi recebido pela USP e criou uma escola de Direito Empresarial voltada a Teoria dos Atos de
Empresa lá. Acabou influenciando toda uma geração de juristas.
Em 2002, com o CC aprovado, se consolidou essa prática.
Nesse período, da década de 70 até 2002, passamos a ter todo um trabalho
direcionado à adequação do nosso sistema à teoria dos atos de empresa, apesar de ainda não
aprovado o projeto do Código Civil.
Passamos a ter o Estatuto da Microempresa, a empresa empregadora
(segundo CLT), a sucessão da empresa na CLT, normas de direito consumerista voltadas ao
fornecedor. Essa noção de Empresa foi criando força no Direito. Direito previdenciários passou a
adotar essa figura. O Código Comercial passou a ficar isolado em um contexto em que passava a
adoção do sistema italiano.
O CC Trouxe um longo livro tratando desse assunto, a partir do artigo 966 até
o artigo 1.195. Trouxe o assunto da teoria dos atos de empresa/atos empresariais.
Na sistemática dos atos de comércio, a atividade de prestação de serviços,
turismo, transporte de pessoas, locação de imóveis, ficavam fora do Direito Comercial, por não
serem atos de comércio por natureza, por conexão ou determinação legal. Era voltado apenas à
circulação e produção de mercadorias, basicamente. Não tinha incorporado as prestações de
serviço.
As prestações de serviço ficavam no Direito Civil, segundo critério histórico,
pois historicamente já existia no modelo romano regras sobre atos de prestação de serviços,
integrando o Direito Civil comum. O Direito Comercial surgiu na Idade Média em torno da
produção e circulação de bens, do comércio propriamente dito.
Então, havia essa bifurcação na atividade econômica exercida no mercado.
Atividade de produção e circulação de bem, que se compunha o Direito Comercial; e a atividade
de prestação de serviços que compunha o Direito Civil.
O Direito Empresarial representa o setor mais próximo da economia. A
prestação de serviços que no passado representava uma atividade de pouco impacto econômico,
passou a representar uma parcela da economia muito expressiva. E, sempre que uma questão
ganha importância econômica, ela passa a receber um cuidado maior pelo Direito. E o Direito
Empresarial é o mais direcionado a receber essas questões econômicas de maior importância.
A Teoria dos Atos de Empresa, em resumo, tem como grande vantagem
trazer para dentro do Direito Empresarial as atividades de prestação de serviços, que até então
ficavam no Direito Civil, tornando esse ramo do Direito mais amplo, acrescendo aos atos de
comércio também os atos de prestação de serviço. Isso é algo bem claro no nosso contexto em
termos de aumento de importância no contexto ecônomico em relação à prestação de serviço.
Hoje, há muitas cidades que vivem e dependem da prestação de serviços,
regiões hoteleiras, turismo tem como ponto mais importante a prestação de serviços (ex:
Gramado).
Da mesma forma, temos como grandes empregadores e polos econômicos
não apenas as Indústrias, como no passado. Uma grande universidade privada pode ter um
movimento econômico tão expressivo como uma indústria. Quantos funcionários e empregados
tem uma grande instituição de Ensino, uma grande rede de hotéis. Grande movimentação
financeira. Antigamente eram grandes polos econômicos apenas as localidades de grandes
indústrias. Assim, começou a se ter a preocupação de trazer para a área empresarial também as
prestações de serviços, tirando-as do Direito Civil, dando um viés mais técnico, profissional e
típico da área empresarial.
Essa foi a grande vantagem em relação à adoção da Teoria dos Atos de
Empresa em comparação à Teoria dos Atos de Comércio que tinha uma visão mais restrita
voltada apenas à produção e circulação de mercadorias. Hoje, os atos de empresa envolvem não
somente a produção e a circulação de mercadorias, mas também as prestações de serviços, o
que fica bem evidente quando olhamos para o artigo 966 do Código Civil.
Devemos nos lembrar que há dois projetos de lei que buscam regular o
Direito Comercial no nosso contexto e revogar essa parte do Código Civil que trata dos atos de
empresa. Os projetos mantêm essa lógica de ato empresarial, trazendo e mantendo no Direito
Empresarial os atos de prestação de serviços.
Passamos a analisar a Teoria Geral do Direito Empresarial.