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Direito empresarial

SUMÁRIO

DIREITO EMPRESARIAL ........................................................................................... 3


OBJETO DO DIREITO EMPRESARIAL ...................................................................... 3
DEFINIÇÕES DO DIREITO EMPRESARIAL .............................................................. 4
DIFERENÇA ENTRE DIREITO EMPRESARIAL E DIREITO COMERCIAL ................ 5
DO DIREITO EMPRESARIAL ..................................................................................... 6
SÍNTESE HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL ................................................ 8
DIREITO EMPRESARIAL NA CONTEMPORANEIDADE ......................................... 13
INSTITUTOS BÁSICOS DO DIREITO EMPRESARIAL ............................................ 14
EMPRESÁRIO E EMPRESA..................................................................................... 14
NOME EMPRESARIAL ............................................................................................. 18
ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL ..................................................................... 19
REGISTROS PÚBLICOS DE INTERESSE DOS EMPRESÁRIOS ........................... 21
NOÇÕES GERAIS DE REGISTROS PÚBLICOS ..................................................... 21
JUNTA COMERCIAL ................................................................................................ 24
ESCRITURAÇÃO ...................................................................................................... 25
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 26

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DIREITO EMPRESARIAL

OBJETO DO DIREITO EMPRESARIAL


O grupo social, em forma de “tribo”, foi a primeira grande instituição social
de toda a história da civilização humana sobre a face da Terra. Em seguida, as
famílias se formaram, como uma espécie de especialização das tribos. As
religiões nasceram no âmbito da família, bem como toda a organização social
desde as comunidades mais primitivas, há mais de 10.000 (dez mil anos).
Em seguida, quando as tribos e famílias começaram a se relacionar
economicamente, surgiram as trocas de coisas (objetos, valores) entre elas.
Surge, então, a quarta grande instituição social da história das civilizações
humanas: o comércio (ALMEIDA, 2010, p. 15).

Figura 1. Instituições sociais da história das civilizações humanas

A história do Direito Comercial e do Direito Empresarial nós veremos, mas


essa explicação que demos aqui foi para mostrar o objeto da nossa matéria.
Quando estudamos o objeto de alguma coisa, estamos estudando na
verdade o seu assunto. Objeto é o mesmo assunto, tema, matéria, ponto
principal.

Então, qual é o objeto do Direito Empresarial?

A expressão “Direito Comercial” é mais antiga. Na modernidade,


usamos a expressão Direito Empresarial. Mas, quando queremos generalizar o
termo, podemos usar Direito Mercantil.

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Durante o nosso curso, vamos utilizar a expressão “Direito Empresarial”


para focarmos seus modernos institutos. Vamos falar em “Direito Comercial”
quando quisermos tratar apenas de dados históricos, antigos e, por fim, “Direito
Mercantil” quando quisermos usar uma expressão genérica, que pode abranger
as outras duas.
Em resumo, o objeto do Direito Empresarial hoje em dia consiste na
atividade econômica organizada para a prestação de serviços em massa. Trata-
se empresa, na qual se da concentram os negócios do empresário.

DEFINIÇÕES DO DIREITO EMPRESARIAL

Os autores mais antigos definem o Direito Comercial como sendo a


disciplina jurídica reguladora dos atos de comércio e, ao mesmo tempo, dos
direitos e obrigações das pessoas que os exercem profissionalmente e dos seus
auxiliares (FAZZIO JÚNIOR, 2014, p. 9).
No século XX, os autores tinham a perspectiva de um Direito Empresarial
focado no complexo de normas jurídicas que regulam as relações derivadas das
indústrias e atividades que a lei considera mercantis, assim como os direitos e
obrigações das pessoas que profissionalmente as exercem (FAZZIO JÚNIOR,
2014, p. 9).
Mais atualmente e genericamente, o Direito Mercantil é concebido como
um conjunto de regras jurídicas que regulam as atividades das empresas e dos
empresários comerciais, bem como dos atos considerados comerciais, mesmo
que esses atos não se relacionem exatamente com as atividades das empresas
(FAZZIO JÚNIOR, 2014, p. 9).
É importante a lição de Fazzio Júnior (2014) no seguinte trecho de sua
obra: O Direito Comercial apropriou-se do conceito econômico de empresa
[transformando-se no Direito Empresarial] e, com o Código Civil de 2002, passa
a regular a empresa por meio do empresário, a exemplo do Código Civil italiano
de 1942. A organização dos fatores de produção é realizada pelo empresário ou

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pela sociedade empresária, na direção de uma atividade empreendedora, com


o escopo de lucro e a assunção dos riscos.
Aqui, é importante que tenhamos em mente algumas diretrizes básicas
para a definição do Direito Empresarial hoje:
• A organização da atividade empresarial implica a distinção entre
empresa (a própria atividade), o empresário ou sociedade
empresária (sujeito de direito) e o estabelecimento empresarial
(universalidade de fato instrumental do exercício da empresa);
• A profissionalidade do exercício da empresa, ou seja, sua
habitualidade e sistematização da empresa;
• A condição produtiva ou circulatória de bens e/ou serviços; e O
intuito de lucro. (FAZZIO JÚNIOR, 2014, p. 10)

DIFERENÇA ENTRE DIREITO EMPRESARIAL E DIREITO


COMERCIAL

Os povos antigos já faziam comércio há uns 10.000 anos, tinham suas


regras, mas não usavam a nomenclatura “Direito Comercial”.
Como será visto, na parte histórica do curso, na Idade Média, há uns 1.000
(mil) anos, as Corporações de Ofício começaram a sistematizar (vale dizer, a
organizar) os usos e costumes dos comerciantes, criando um Direito Comercial,
mas focado na pessoa do comerciante, criando regras para proteger o
comerciante, a fim de tornar sua atividade mais segura e com mais garantias.
Com o passar do tempo, foi necessário dar atenção na conduta do
empresário e na sua própria atividade, pois tal dinâmica foi ficando cada vez
mais profissional e impessoal. Aí surge o chamado Direito Empresarial. Observe
o quadro a seguir em que se encontram as diferenças entre os Direitos Comercial
e Empresarial.
• Expressão mais antiga;
• A base do direito é o comerciante;
Direito
Comercial • Pessoalidade;
• Os fundamentos do direito são os usos e costumes;
• Abordagem mais restrita das atividades de trocas lucrativas.

• Expressão mais moderna;


Direito
• A base do direito é a empresa;
Empresarial
• Impessoalidade

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• O fundamento do direito são as leis e os


códigos jurídicos
• Abordagem mais ampla das atividades de
trocas lucrativas.

Quadro 1. Diferença entre os Direitos Comercial e Empresarial

DO DIREITO EMPRESARIAL
Princípios dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (art.
1º, IV);
Princípio da liberdade de ofício, trabalho ou profissão (art. 5º,
XIII);
Princípio da reserva legal para legislar em matéria comercial (art.
22, I);
Constituição da República
(BRASIL, 1988) Princípios gerais da atividade econômica (art. 170);

Princípio da vedação do abuso do poder econômico (art. 173,


§4º);

Princípio do tratamento diferenciado favorável às microempresas


e empresas de pequeno porte (art. 179).

Lei nº 556/1850 (BRASIL, Código Comercial (do art. 457 a 576). O Código Comercial só
1850) está em vigor atualmente na parte do comércio marítimo.

Código Civil. Muito embora o Direito Empresarial, desde a


Revolução Francesa, no século XVIII, seja considerado um ramo
Lei nº 10.406/2002 (BRASIL,
autônomo em relação ao Direito Civil, há, no nosso 966 ao
2002)
1.195.Código Civil, um trecho dedicado ao Direito Empresarial,
que vai do art.

Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência;


dispõe sobre a prevenção e repressão às infrações contra a
ordem econômica; altera a Lei no 8.137, de 27 de Processo no
Lei nº 12.529/2011 (BRASIL,
8.884, de 11 de junho de 1994, e a Lei no 9.781, de 19 de janeiro
2011)
de 1999; e dá Penal, e a Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985;
revoga dispositivos da Lei dezembro de 1990, o Decreto-Lei no
3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de outras providências.

Lei nº 8.078/1990 (BRASIL, Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras


1990) providências.
Lei nº 5.474/1968 (BRASIL,
Dispõe sobre as Duplicatas, e dá outras providências.
1968)
Lei nº 7.357/1985 (BRASIL,
Lei do Cheque. Dispõe sobre o cheque e dá outras providências.
1985)
Lei Complementar nº Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de
123/2006 (BRASIL, 2006) Pequeno Porte, [...]
Lei nº 6.404/1976 (BRASIL,
Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
1976)

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Lei nº 11.101/2005 (BRASIL, Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do


2005) empresário e da sociedade empresária.
Lei nº 8.934/1994 (BRASIL, Dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e
1994) Atividades Afins e dá outras providências.
Lei nº 9.279/1996 (BRASIL,
Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial.
1996)
Quadro 2. Fontes do Direito Empresarial

Código Comercial (do art. 457 a 576). O Código Comercial só está em


vigor atualmente na parte do comércio marítimo.
Código Civil. Muito embora o Direito Empresarial, desde a Revolução
Francesa, no século XVIII, seja considerado um ramo autônomo em relação ao
Direito Civil, há, no nosso Código Civil, um trecho dedicado ao Direito
Empresarial, que vai do art. 966 ao 1.195.
Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência; dispõe sobre
a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica; altera a Lei no
8.137, de 27 de dezembro de 1990, o Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de
1941 - Código de Processo Penal, e a Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985;
revoga dispositivos da Lei no 8.884, de 11 de junho de 1994, e a Lei no 9.781,
de 19 de janeiro de 1999; e dá outras providências.
Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.
Dispõe sobre as Duplicatas, e dá outras providências.
Lei do Cheque. Dispõe sobre o cheque e dá outras providências.
Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno
Porte, [...].
Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Lei nº 11.101/2005 Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a
falência do empresário e da (BRASIL, 2005) sociedade empresária.
Lei nº 8.934/1994 Dispõe sobre o Registro Público de Empresas
Mercantis e Atividades Afins e dá (BRASIL, 1994) outras providências.
Lei nº 9.279/1996 Regula direitos e obrigações relativos à propriedade
industrial. (BRASIL, 1996)

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SÍNTESE HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL


O estudo da atividade empresarial é diferente do estudo do Direito
Empresarial. Na verdade, a atividade empresarial é muito antiga. O comércio é
exercido pelos grupos sociais de todos os povos há 8.000 anos. Nas relações
comerciais da história da humanidade sempre houve algum tipo de regra, ou
seja, algum tipo de direito, estabelecido por algum tipo de norma. Mas, o Direito
Empresarial sistemático, mais organizado, mais eficiente, mais reconhecido e
utilizado veio com a ascensão da classe burguesa, na Idade Média (ANDRADE
JÚNIOR, 1999, p. 17).
Tratando-se desse tema pelo viés histórico, sabe o que é interessante?
Quando estudamos a História do Brasil, lemos que o motivo pelo qual Pedro
Álvares Cabral veio para as Américas foi o
comércio. Os portugueses partiram do seu
continente com a missão de encontrar um
caminho novo para as Índias, com o objetivo de
aumentar o comércio com esse país. Ainda que
haja controvérsias sobre isso, a questão é que
foi um motivo comercial que gerou o
investimento necessário para que as
embarcações saíssem da Europa em busca de
novas rotas comerciais (ANDRADE JÚNIOR, 1999, p.
Representação de vendedor de óleo na Grécia

18). Antiga. Fonte: http://tinyurl.com/ha86h8j


Assim, os comerciantes da Idade Média criaram um Direito Comercial,
com base, primeiramente, nos usos e costumes da época. Aliás, até hoje, os
usos e costumes constituem uma importante fonte do Direito Empresarial.
Na Idade Média os comerciantes se reuniam nas chamadas “corporações
de ofício”, uma espécie de organização empresarial primitiva, mas eficiente para
sua época. O problema é que as corporações de ofício eram muito fechadas e
nem todos os comerciantes existentes faziam parte dessa associação.
Alguns ficavam de fora e não se beneficiavam do corporativismo. Foi em
meio a essas “corporações de ofício” da Idade Média que surgiu o Direito
Comercial sistematizado, ou seja, com regras específicas, claras, escritas, de
observância obrigatória, com base nos usos e costumes, fazendo que esses
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usos e costumes não fossem mais mera opção de proceder, mas de


cumprimento obrigatório (ANDRADE JÚNIOR, 1999, p. 19).
Há uns 2.500 anos, entre os povos fenícios e os gregos, o Direito Civil
tratava também das relações de comércio. O grande império romano também
adotou essa mesma linha, ou seja, as relações de comércio eram
regulamentadas pelo Direito Civil. Entre os povos gregos, fenícios e romanos
antigos, da Era Clássica, não existia a expressão “Direito Comercial”, muito
embora houvesse uma atividade comercial bem desenvolvida (ANDRADE
JÚNIOR, 1999, p. 20).
Como dito, foi na Idade Média, há cerca de 1.000 anos atrás, que o então
“Direito Comercial” começou a se separar do Direito Civil, não perdendo,
entretanto, seu caráter privado, mas ganhando autonomia. Nessa época (século
XV), vale dizer que o foco de todo o Direito Comercial era a figura do
comerciante: assim sendo, dizemos que o Direito Comercial da Idade Média é
subjetivista, ou seja, focado no sujeito do comerciante. As regras sistematizadas
na Idade Média centravam-se na figura do comerciante, não se falava em
empresa ou estabelecimento empresarial (ANDRADE JÚNIOR, 1999, p. 21).
Entre os séculos XV e XVIII, a Europa viveu uma época de grave escassez
de metais (ouro e prata). Não havia dinheiro suficiente para atender ao volume
crescente do comércio da época. Os Estados nacionais começaram, então, uma
política econômica favorável à acumulação de metais, por meio de ações na
balança comercial, pacto colonial e protecionismo dos mercados nacionais. Essa
época é chamada de mercantilismo ANDRADE JÚNIOR, 1999, p. 22).

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Desse modo, no início do século


XVII, com o fortalecimento do Estado e a
expansão do mercantilismo, as
corporações de ofício perderam seu
prestígio. Essas corporações não mais
sistematizavam as regras jurídicas para os
comerciantes, pois o Estado começou a
fazer isso, criando-se, assim, os primeiros
juízes para decidir conflitos de natureza
comercial (ANDRADE JÚNIOR, 1999, p.
24).
As primeiras codificações (leis) das normas comerciais surgiram na
França, com as Ordenações Francesas. A primeira Ordenação, de 1673, tratava
do comércio terrestre e ficou conhecida como Código Savary. Em 1681 surgiu a
Ordenação da Marinha, que disciplinava o comércio marítimo. Curiosamente, o
nosso Código Comercial, no Brasil, trata apenas do comércio marítimo, ficando
para as demais leis, principalmente o Código Civil, as demais regras das
relações jurídicas-comerciais (ANDRADE JÚNIOR, 1999, p. 25).
Desse modo, as antigas Ordenações Francesas tiveram vigência por um
longo tempo, tanto que o Código Savary foi a base para a elaboração do Código
de Comércio Napoleônico de 1807, responsável pela objetivação do Direito
Comercial, afastando-o do aspecto subjetivo da figura do comerciante
matriculado na corporação. Assim, o foco sai da figura do comerciante e passa
a ser a própria empresa (MENDONÇA, 2000, p. 32).

As normas comerciais são focadas na pessoa do comerciante (há pessoalidade);

Teoria que fundamentou as primeiras normas, prevalecente na Idade Média;


Teoria
O início desta Teoria foi marcado pelas grandes navegações do século XVI;
Subjetivista
A proteção legal era aplicada somente aos comerciantes matriculados nas
corporações de ofício;
Foco no comerciante.

As normas comerciais são focadas na empresa (atos de comércio) –


Teoria impessoalidade;
Objetivista
Teoria que foi utilizada na época do mercantilismo (Idade Moderna);

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Esta teoria tomou corpo significativo na Revolução Francesa, no século XVIII;


A proteção da lei era aplicada a qualquer pessoa que exercesse a empresa
habitualmente;
Foco na empresa.

Quadro 3. Diferença entra as Teorias Subjetivista e Objetivista


A primeira teoria que surgiu para explicar o Direito Comercial foi a Teoria
Subjetiva (centrada no comerciante registrado nas Corporações de Ofício). A
segunda teoria que surgiu para explicar o Direito Empresarial foi a Teoria
Objetiva (centrada nos atos de comércio independentemente de registro nas
Corporações de Ofício). Hoje em dia, no século XXI, para o Direito Mercantil,
usamos a chamada Teoria da Empresa (centrada na atividade econômica
organizada profissionalmente fenômeno comercial e empresarial, como vimos
ao nosso estudo neste curso.
Voltado ao relato histórico, então, com o Código Comercial francês de
1807 o Direito Comercial passou a ser baseado na prática de atos de comércio
(Teoria Objetivista) enumerados na lei segundo critérios históricos, deixando de
ser aplicado somente aos comerciantes matriculados nas corporações (Teoria
Subjetivista).
Assim, para se qualificar como comerciante e submeter-se ao Direito
Comercial, deixou de ser necessário à pessoa que se dedica a exploração de
uma atividade econômica pertencer a uma corporação, bastando a prática
habitual de atos de comércio. Essa objetivação do Direito Comercial atendia aos
princípios difundidos pela Revolução Francesa, em 1789 (MENDONÇA, 2000, p.
32).
Na enumeração realizada nos artigos 632 e 633 do código francês, o
legislador considerou de natureza comercial os atos que eram tradicionalmente
realizados pelos comerciantes na sua atividade, não sendo possível identificar
nessa enumeração legal qualquer critério científico para definir quando um ato é
ou não de comércio. Ao enumerar os atos de comércio, o legislador baseou-se
em fatores históricos, sendo esse o grande problema da teoria francesa, que se
mostrou bastante limitada diante da rápida evolução das atividades econômicas,
tornando-se, rapidamente, uma teoria ultrapassada por não identificar com

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precisão a matéria comercial, já que não era possível a identificação de um


elemento de ligação entre os atos de comércio previstos na lei (MENDONÇA,
2000, p. 33).
Atividades econômicas que
tradicionalmente não eram
desenvolvidas pelos comerciantes,
como a atividade imobiliária, a
prestação de serviços em geral e a
atividade agrícola, foram afastadas
do regime jurídico comercial. A
ausência de um critério científico na separação das atividades econômicas em
civis e comerciais e a exclusão de importantes atividades do regime comercial
em razão do seu gênero, constituíram os principais fatores para o desprestígio
da teoria francesa, contribuindo para a sua superação (MENDONÇA, 2000, p.
34).
Em consonância com o desenvolvimento das atividades econômicas e de
acordo com a tendência de crescimento do Direito Comercial, surgiu na Itália
uma teoria que substituiu a teoria francesa, superou os seus defeitos e ampliou
o campo de abrangência do Direito Comercial. Essa teoria, denominada de teoria
jurídica da empresa, caracteriza-se por não dividir as atividades econômicas em
dois grandes regimes, como fazia a teoria francesa, e foi inserida no Código Civil
italiano de 1942, que ficou conhecido por ter realizado a unificação legislativa do
direito privado na Itália.
A teoria da empresa elaborada pelos italianos afasta o Direito Comercial
da prática de atos de comércio para incluir no seu núcleo a empresa, ou seja, a
atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de
serviços. Com a teoria da empresa, deixa de ser importante o gênero da
atividade econômica desenvolvida, não importando se esta corresponde a uma
atividade agrícola, imobiliária ou de prestação de serviços, mas que seja
desenvolvida de forma organizada, em que o empresário reúne capital, trabalho,
matéria-prima e tecnologia para a produção e circulação de riquezas
(MENDONÇA, 2000, p. 35).
De acordo com a teoria da empresa, o Direito Comercial tem o seu campo
de abrangência ampliado, alcançando atividades econômicas até então
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consideradas civis em razão do seu gênero. Como dito, a teoria da empresa, ao


contrário da teoria francesa, não divide as atividades econômicas em dois
grandes regimes (civil e comercial), prevê um regime amplo para as atividades
econômicas, excluindo desse regime apenas as atividades de menor
importância, que são, a princípio, as atividades intelectuais, de natureza literária,
artística ou científica. Segundo a teoria da empresa, a atividade agrícola também
pode estar afastada do Direito Comercial, já que cabe ao seu titular a opção pelo
regime comercial, que ocorre mediante o registro da atividade econômica no
Registro Público de Empresas, realizado no Brasil pelas Juntas Comerciais.
Considerando o núcleo que delimita a matéria comercial ao longo de sua
evolução histórica, pode-se dividir o desenvolvimento do Direito Comercial em
três períodos.
O primeiro período, do século XII ao século XVIII, denominado de período
subjetivo corporativista ou período subjetivo do comerciante, tem como núcleo
do Direito Comercial a figura do comerciante matriculado na corporação. O
segundo período, compreendido entre o século XVIII e o século XX, inicia-se
com o Código de Comércio Napoleônico de 1807 e tem como núcleo os atos de
comércio. O terceiro e atual período de evolução histórica do Direito Comercial
inicia-se com o Código Civil italiano de 1942 e tem como núcleo a empresa,
compreendendo o século XX até nossos dias (MENDONÇA, 2000, p. 38).

DIREITO EMPRESARIAL NA CONTEMPORANEIDADE

Falar do Direito Empresarial na contemporaneidade


é falar desse ramo jurídico nos dias atuais. O grande
desafio consiste na sua atualização, pois novas formas de
fazer comércio surgem todos os dias, como, por exemplo,
o comércio eletrônico.
Vivemos em um mundo globalizado, digital, virtual,
eletrônico, cada vez mais complexo. Vivemos em um
planeta com desafios sociais, políticos, econômicos,
ambientais cada vez mais complexos.
O Direito Empresarial precisa acompanhar essas mudanças globais que
estão presentes no nosso dia a dia.
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INSTITUTOS BÁSICOS DO DIREITO EMPRESARIAL

EMPRESÁRIO E EMPRESA

Uma das diferenças básicas contidas nos elementos essenciais do Direito


Empresarial diz respeito à necessária distinção que deve ser feita entre
empresário, estabelecimento e empresa.
O empresário é sempre uma pessoa, física ou jurídica; é o sujeito do
Direito Empresarial. O estabelecimento é uma coisa; na verdade, um complexo
de bens, um patrimônio. O estabelecimento é um bem móvel, não é o local onde
os bens se encontram, pois o mesmo estabelecimento pode mudar de local de
funcionamento. A empresa é uma atividade, um fazer. A empresa é o
empreendimento (BERTOLDI, 2013, p. 47).
Existem 3 (três) frases cujos verbos demonstram claramente a distinção
apresentada acima. Observe:

Devemos tomar muito cuidado com essas noções apresentadas, pois a


maioria das pessoas confunde os conceitos. O empresário é o SER; o
estabelecimento é o TER do empresário e a empresa é o seu FAZER.
Algumas pessoas falam erroneamente: “Eu vou à empresa X, comprar um
produto...” ou “Eu vou à empresa do Seu João fazer compras” etc. Na verdade,
ninguém “vai à empresa”. As pessoas se dirigem ao estabelecimento (também
chamada às vezes de loja).

Empresário PESSOA

Conjunto de coisas, o patrimônio


Estabelecimento
pessoa.
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ATIVIDADE que a pessoa (empresário)


Empresa
exerce.

Quadro 5. Diferenças semânticas


Qual a definição técnica de empresário? O artigo 966 do Código Civil
Brasileiro (Lei 10.406/2002) dispõe ser considerado empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços. Não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com a
ajuda de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa (BRASIL, 2002).
Vamos agora fazer uma análise técnica da definição de empresário.
Repare bem que o empresário é um profissional. Antigamente, quando
chamávamos o empresário de comerciante, não havia essa noção ainda bem
definida. Hoje em dia, o empresário é um profissional, pois para ser empresário,
a pessoa tem que exercer sua empresa de forma habitual.
O empresário é um sujeito ativo. Ele vê uma oportunidade de mercado e
exerce um conjunto de atos para atingir uma finalidade importante: o lucro.
Assim sendo, a atividade do empresário é de natureza econômica. Podemos
dizer que a motivação do empresário é econômica, pois ele visa o lucro quando
exerce sua empresa (BULGARELLI, 2002, p. 57).
A atividade econômica do empresário tem que ser organizada, pois ele
deve pôr em ordem os chamados fatores de produção, ou seja, todas as coisas
e bens do seu estabelecimento, para que haja a prestação de serviços de forma
viável, inteligente.
Um dos efeitos da organização do estabelecimento converge para a ideia
de impessoalidade. Sim, a empresa é uma atividade impessoal. Uma vez
organizada, a empresa deve “caminhar” com racionalidade e eficiência, quase
que “sozinha”. O empresário cria sua empresa e ela “ganha” vida própria. O
empresário deve, então, ficar monitorando, cuidando, vigiando, para ver se sua

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empresa funciona bem (COELHO, 2008, p. 67). O mesmo não ocorre com as
demais profissões liberais.
O médico, por exemplo, quando atende diretamente seus pacientes, não
faz uma empresa, pois a atividade do médico é pessoal: depende dele agindo
diretamente sobre sua ação intelectual. Nesse sentido, o médico pode até
ganhar “salário”, mas não podemos dizer que ele visa ao lucro. Ausente o médico
“x”, a consulta dele não ocorre. Estão nessa mesma observação os advogados,
contadores, engenheiros, arquitetos, músicos etc.
Com os empresários é diferente. O empresário cria sua empresa e depois
fica só monitorando para ver se tudo está ocorrendo corretamente com sua
empresa, esperando que sua empresa lhe dê lucro.
Vamos revisar o seguinte: não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com a
ajuda de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa.
Assim, os profissionais liberais, por exemplo, não são empresários. Mas
o que significa “elemento de empresa”?
O elemento de empresa corresponde ao exercício da profissão com as
características de empresa, por exemplo, um médico que se torna dono de um
hospital ou um designer que passa a produzir seus próprios produtos ou
engenheiro que abre um estabelecimento para gerir construção civil. Nesse
sentido, o elemento de empresa pode ser visto como a atividade que é absorvida
pela estrutura organizacional.
O profissional liberal que começa a exercer elemento de empresa passa
a ser empresário, desde que, segundo Negrão (2013, p. 37):
• Sua atividade seja organizada;
• Sua atividade seja impessoal;
• Sua atividade venha a agregar outras atividades de gestão do seu
negócio, além das atividades meramente intelectuais.
Um dos efeitos da organização empresarial é que a empresa é atividade
impessoal. A impessoalidade é a marca da organização empresarial. As
atividades intelectuais, por sua vez, são consideradas pessoais.
Depende. É claro que empresário rural é uma coisa e trabalhador rural é
outra coisa. Mas, tecnicamente, uma pessoa que exerce profissionalmente uma
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atividade rural, sendo o dono do negócio, observadas as formalidades legais,


pode sim ser considerado empresário.
O artigo 971 do Código Civil (BRASIL, 2002) nos diz que o empresário,
cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as
formalidades de que tratam a lei, requerer inscrição no Registro Público de
Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará
equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.
Confira os tipos de empresários:
• Empresário individual: pessoa física que exerce atividade econômica
organizada;
• Sociedade empresária: pessoa jurídica, criada, em equipe, por duas ou
mais pessoas físicas, salvo da EIRELI;
• EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada: pessoa
jurídica criada pela vontade de uma pessoa física (NEGRÃO, 2013, p. 53).
O empresário individual é pessoa física que exerce atividade econômica
organizada, não tem sócios, mas tem CNPJ. O empresário individual não é
pessoa jurídica. A responsabilidade patrimonial do empresário individual é
integral, ou seja, ele responde 100% pelas dívidas que contrair em face de sua
empresa ou estabelecimento empresarial. Não se aplica à Teoria da
Desconsideração da Personalidade Civil ao empresário individual.
O empresário é quem tem o seu nome inscrito como tal. Só o empresário
individual é pessoa física. Noutras palavras: uma pessoa física só será
empresária se for o empresário individual. Caso uma pessoa física ou várias se
configurem como algum tipo de sociedade, o empresário será a sociedade.

Quais são as hipóteses de exclusão do regime empresarial?


• Não são empresários os sujeitos que não exercem atividade
econômica organizada;
• Não são empresários os profissionais liberais que não exercem a
profissão como elemento de empresa;
• Sujeitos que exercem atividade rural, mas que não são registrados
no devido Registro Público;
• Cooperativas que não são registradas no Cartório de Pessoas
Jurídicas como sociedade simples.
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Direito empresarial

Logicamente, podemos pensar que se uma pessoa física exerce uma


atividade econômica organizada, de forma profissional e habitual, visando ao
lucro, é empresário. Por sua vez, se um profissional liberal exerce sua atividade
profissional como elemento de empresa, poderá ser considerado membro de
uma sociedade empresária (simples). Se uma pessoa exerce atividade rural e é
registrado no Registro Público de Empresas Mercantis, é considerado
empresário. Se uma cooperativa é registrada no Cartório de Pessoa Jurídica
como sociedade simples, essa cooperativa é considerada empresária.

NOME EMPRESARIAL
Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de
conformidade com a lei, para o exercício de empresa (BRASIL, 2002).
O empresário opera sob firma constituída por seu nome, completo ou
abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais precisa da sua pessoa ou
do gênero de atividade (BRASIL, 2002). O nome empresarial do empresário
individual é baseado no seu nome civil, sem a expressão “Ltda.”
(responsabilidade limitada) e sem “S/A” (Sociedade Anônima).
A sociedade em que houver sócios de responsabilidade ilimitada operará
sob firma, na qual somente os nomes daqueles poderão figurar, bastando para
formá-la aditar ao nome de um deles a expressão "e companhia" ou sua
abreviatura (Cia.). Então, nas sociedades de responsabilidade ilimitada, não se
usa a expressão Ltda. Ficam solidária e ilimitadamente responsáveis pelas
obrigações contraídas sob a firma social aqueles que, por seus nomes, figurarem
na firma da referida sociedade. (BRASIL, 2002).
Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela
palavra final "limitada" ou a sua abreviatura (Ltda.). A firma será composta com
o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas físicas, de modo indicativo da
relação social. A denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo
permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios. A omissão da palavra
"limitada" determina a responsabilidade solidária (de todos os sócios) e ilimitada
dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da
sociedade (BRASIL, 2002).

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Direito empresarial

Firma
É o nome de um ou de vários sócios. É o nome da pessoa
física para designar, por exemplo, uma sociedade empresarial.

Denominação é o nome do objeto social com ou sem o nome


Denominação
dos sócios.

Quadro 6. Firma e denominação

No caso das sociedades de responsabilidade limitada, o nome


empresarial pode ser composto de firma ou denominação adicionado da
expressão Ltda.
Se uma sociedade não tiver, no seu nome, a expressão Ltda., a
responsabilidade é ilimitada.
A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto
social, integrada pelas expressões "sociedade anônima" (S/A) ou "companhia"
(Cia.), por extenso ou abreviadamente (BRASIL, 2002).
Essa forma de organização social é também chamada de sociedade
unipessoal, cujo nome empresarial é formado pela inclusão da expressão
"EIRELI", após a firma ou a denominação social da empresa individual de
responsabilidade limitada (BRASIL, 2002).

ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
O estabelecimento integra o patrimônio do empresário. Mas é claro, o
patrimônio do empresário não está adstrito (restrito) tão somente ao seu
estabelecimento, pois o que ocorre é que existe o estabelecimento e o patrimônio
pessoal do empresário.
O estabelecimento é formado por bens materiais, corpóreos, tangíveis,
maquinários, instrumentos etc. Pode ser formado também por bens imateriais,
incorpóreos, intangíveis, tais como as patentes de invenção e desenho industrial.
Uma observação interessante: o imóvel de propriedade de uma sociedade
empresária onde está o seu estabelecimento integra-se entre os elementos do
estabelecimento? Não. Como vimos anteriormente, o estabelecimento é um bem
se integra entre os elementos do estabelecimento.
O artigo 1.142 do Código Civil afirma que se considera estabelecimento
todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário,

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ou por sociedade empresária. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de


direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam
compatíveis com a sua natureza (BRASIL, 2002).
O que é “contrato de trespasse”?
Esse tipo de contrato é um instrumento para alienação (venda) do
estabelecimento empresarial. O contrato de trespasse é uma operação pela qual
o empresário vende à outra pessoa o seu estabelecimento empresarial. É
alienação empresarial. Não muda o estabelecimento, mas muda o seu
proprietário. O artigo 1.144 do Código Civil (BRASIL, 2002) diz que o contrato
que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do
estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à
margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro
Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial.
Qual a diferença entre estabelecimento, fundo de comércio e ponto
empresarial?

Estabelecimento Complexo de bens organizado, para o exercício da empresa.

Fundo de
É a mesma coisa que estabelecimento, visto no seu conjunto.
comércio

O direito ao ponto é disciplinado pela Lei 8.245 (BRASIL, 1991). A noção de


Ponto
ponto está associada à locação empresarial (aluguel do imóvel onde o
empresarial
estabelecimento se encontra).

Quadro 7. Diferenças entre estabelecimento, fundo de comércio e ponto


empresarial

O imóvel não integra o estabelecimento, mas o local onde o


estabelecimento está inserido é condição fundamental para o sucesso da
atividade empresária. Para o empresário é interessante que haja estabilidade do
local onde ele exerce sua empresa. Essa é a ideia do ponto empresarial. Quando
o empresário ou a sociedade empresária é proprietária do imóvel, essa
estabilidade do ponto é adquirida mais facilmente. Mas, quando o empresário ou
a sociedade empresária não é dona do imóvel onde o estabelecimento esteja,
isso é mais difícil – não obstante a lei dar uma proteção interessante ao
empresário locatário (inquilino) de um imóvel.
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Confira quais são os requisitos a fim de se adquirir estabilidade do ponto


empresarial para o empresário que aluga o imóvel onde localiza o seu
estabelecimento.
• Contrato escrito e por prazo determinado (contrato renovação
compulsória do contrato de aluguel);
• Pelo menos 5 anos de relação locatícia;
• 3 anos explorando a mesma atividade (a mesma empresa

O que é direito de inerência?

O direito de inerência corresponde ao direito de renovação compulsória


(obrigatória) do contrato de locação (contrato de aluguel), por igual prazo,
independentemente da vontade do locador ou indenização (pagamento) pela
perda do ponto empresarial no caso de não renovação do contrato.

REGISTROS PÚBLICOS DE INTERESSE DOS EMPRESÁRIOS

NOÇÕES GERAIS DE REGISTROS PÚBLICOS


Nos termos do artigo 967 do Código Civil (BRASIL, 2002), é obrigatória a
inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da
respectiva sede, antes do início de sua atividade.
E quem não tem registro na Junta Comercial correspondente pode ser
empresário?
A resposta é sim, mas será considerado um empresário irregular.
Quais são as consequências disso?
Para o empresário irregular, há as seguintes consequências:
• Não tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas);
• Não assina CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social);
• Não recolhe tributos de forma correta;
• Não emite Nota Fiscal;
• Não pode participar de licitações e/ou fazer contratações com o
Governo;

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• Não tem direito aos benefícios da recuperação judicial em caso


de dificuldades financeiras graves ;
• Eventuais livros escriturados não têm eficácia de provar fatos
empresariais em face de problemas perante terceiros;
• O empresário irregular comete crime falimentar (se entrar em
processo de falência, comete crime previsto em lei);
• Automaticamente, caso haja uma sociedade empresária irregular,
sua responsabilidade será ilimitada, ou seja, atinge os bens pessoais dos sócios;
• Não pode ter conta bancária;
• Não pode se enquadrar como ME (Microempresa) ou EPP
(Empresa de Pequeno Porte). (NETO, 2014, p. 77)
Como visto, há muitas desvantagens e problemas para um empresário
irregular, mas mesmo que alguém seja irregular, isto é, não registrado na Junta
Comercial corretamente, tecnicamente pode ser considerado empresário.
Então, mesmo irregular, uma pessoa que exerce empresa é empresário.
O artigo 968 do Código Civil (BRASIL, 2002) disciplina que a inscrição do
empresário far-se-á mediante requerimento que contenha:
• O seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o
regime de bens;
• A firma, com a respectiva assinatura autógrafa;
• O capital;
• O objeto e a sede da empresa.
A inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro Público de
Empresas Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os
empresários inscritos. À margem da inscrição, e com as mesmas formalidades,
serão averbadas quaisquer modificações nela ocorrentes. Caso venha a admitir
sócios, o empresário individual poderá solicitar ao Registro Público de Empresas
Mercantis a transformação de seu registro de empresário para registro de
sociedade empresária (BRASIL, 2002).
Podem exercer a atividade de empresário somente os que estiverem em
pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos (BRASIL,
2002).
Quanto ao registro, o empresário e a sociedade empresária vinculam-se
ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a
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sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá


obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar
um dos tipos de sociedade empresária.
O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins,
subordinado às normas gerais prescritas na Lei 8.934/94 (BRASIL, 1994), será
exercido em todo o território nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais e
estaduais, com as seguintes finalidades:

I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos


atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei;
II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em
funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes;
III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem
como ao seu cancelamento. (BRASIL, 1994)

Os serviços do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades


Afins serão exercidos, em todo o território nacional, de maneira uniforme,
harmônica e interdependente, pelo Sistema Nacional de Registro de Empresas
Mercantis (Sinrem), composto pelos seguintes órgãos:
i. o Departamento Nacional de Registro do Comércio, órgão central
Sinrem, com funções supervisora, orientadora, coordenadora e normativa, no
plano técnico; e supletiva, no plano administrativo;
ii. as Juntas Comerciais, como órgãos locais, com funções executora
e administradora dos serviços de registro. (BRASIL, 1994).
O Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) é órgão
integrante do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, e tem por
finalidade:

I - supervisionar e coordenar, no plano técnico, os órgãos


incumbidos da execução dos serviços de Registro Público de Empresas
Mercantis e Atividades Afins;
II - estabelecer e consolidar, com exclusividade, as normas e
diretrizes gerais do Registro
Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins;
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III - solucionar dúvidas ocorrentes na interpretação das leis,


regulamentos e demais normas relacionadas com o registro de empresas
mercantis, baixando instruções para esse fim; IV - prestar orientação às Juntas
Comerciais, com vistas à solução de consultas e à observância das normas
legais e regulamentares do Registro Público de Empresas Mercantis e
Atividades Afins;
V - exercer ampla fiscalização jurídica sobre os órgãos incumbidos
do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, representando
para os devidos fins às autoridades administrativas contra abusos e infrações
das respectivas normas, e requerendo tudo o que se afigurar necessário ao
cumprimento dessas normas;
VI - estabelecer normas procedimentais de arquivamento de atos de
firmas mercantis individuais e sociedades mercantis de qualquer natureza;
VII - promover ou providenciar, supletivamente, as medidas tendentes
a suprir ou corrigir as ausências, falhas ou deficiências dos serviços de Registro
Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins;
VIII - prestar colaboração técnica e financeira às juntas comerciais para
a melhoria dos serviços pertinentes ao Registro Público de Empresas Mercantis
e Atividades Afins;
IX - organizar e manter atualizado o cadastro nacional das empresas
mercantis em funcionamento no País, com a cooperação das juntas comerciais;
X - instruir, examinar e encaminhar os processos e recursos a serem
decididos pelo Ministro de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo,
inclusive os pedidos de autorização para nacionalização ou instalação de filial,
agência, sucursal ou estabelecimento no País, por sociedade estrangeira, sem
prejuízo da competência de outros órgãos federais;
XI - promover e efetuar estudos, reuniões e publicações sobre
assuntos pertinentes ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades
Afins. (BRASIL, 1994)

JUNTA COMERCIAL
Como visto, a junta comercial é importantíssima para a caracterização do
empresário regular e da sociedade de natureza empresarial. Hoje em dia, a

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pessoa que não tem registro na junta comercial pode até ser considerado
empresário, mas será irregular.
As juntas comerciais subordinam-se administrativamente ao governo da
unidade federativa de sua jurisdição e, tecnicamente, ao DNRC (Departamento
Nacional de Registro do Comércio), nos termos da Lei 8.934/94 (BRASIL, 1994).
As juntas comerciais poderão desconcentrar os seus serviços, mediante
convênios com órgãos públicos e entidades privadas sem fins lucrativos,
preservada a competência das atuais delegacias. Haverá uma junta comercial
em cada unidade federativa, com sede na capital e jurisdição na área da
circunscrição territorial respectiva (BRASIL, 1994).
Às Juntas Comerciais incumbe:
• Executar os serviços previstos na lei;
• Elaborar a tabela de preços de seus serviços, observadas as
normas legais pertinentes;
• Processar a habilitação e a nomeação dos tradutores públicos
e intérpretes comerciais;
• Elaborar os respectivos Regimentos Internos e suas
alterações, bem como as resoluções de caráter administrativo
necessárias ao fiel cumprimento das normas legais, regulamentares e
regimentais;
• Expedir carteiras de exercício profissional de pessoas
legalmente inscritas no Registro Público de Empresas Mercantis e
Atividades Afins;
• O assentamento dos usos e práticas mercantis (BRASIL,
1994).

ESCRITURAÇÃO
O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um
sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração
uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e
a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico
(TOMAZETTE, 2011, p. 112).

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Direito empresarial

REFERÊNCIAS

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Saraiva, 2010.
ANDRADE JÚNIOR, Atilla de Souza. O novo direito societário brasileiro. Brasília:
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Direito Comercial. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
BRASIL. Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema
Brasileiro de Defesa da Concorrência; dispõe sobre a prevenção e repressão às
infrações contra a ordem econômica; [...] e dá outras providências. Brasília,
2011.
BRASIL. Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o
Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte,
[...].Brasília, 2006.
BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial,
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consumidor e dá outras providências. Brasília, 1990. Disponível em:
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