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Direito Empresarial II - Augusto Tanger Jardim

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G1 - Verificar antes da prova se tem a LUG no Vade e demais leis indicadas no item "fontes"!
Apresentação seminário sobre outras espécies de títulos de crédito: título de crédito rural; industrial;
comercial; letra de crédito imobiliário; cédula de crédito imobiliário; cédula de crédito bancário.
G2 - 1 semana antes da prova. Jogo de perguntas e respostas. Elaborar 2 perguntas com base nas
matérias com o gabarito (o que está nos slides) e no dia da avaliação vem para aula, apresenta as
questões e sorteia questão e quem responde. Todo mundo tira 3, o melhor grupo ganha 0,5.
https://www.cursosonlinesp.com.br/item/Curso-An%E1lise-de-Demonstra%E7%F5es-Financeiras-
%7B47%7D-20-horas.html

Formalismo Valorativo - Segurança X Efetividade: CARLOS ALBERTO ALVARES DE


OLIVEIRA - Livro "Formalismo no Processo Civil". Ordenamento Jurídico cria requisitos para
trazer segurança, há um pressuposto dele de uma espécie de balança que há no Direito como um
todo, entre segurança e efetividade. Fica muito claro que o sistema foi construído em cima dessas 2
bases. De um lado, tenho que trazer efetividade ao Direito, mas também tenho que trazer segurança
para as relações jurídicas, senão toco execuções diretas sem qualquer base segura. Isso é chamado
de Formalismo Valorativo.
Como se traz segurança à uma operação? Com formalismo. Por outro lado, apenas o formalismo
assegura? Se pesar apenas o lado do formalismo, as relações jurídicas ficam engessadas e começa-
se a criar um sistema de nulidades muito grandes, tudo vai ser alegado que "não seguiu o rito
"questão da ritualística" - aqueles que identificam o Direito como um ritual (Oscar Xeires).
Nesse equilíbrio, o legislador reconhece que há situações que estão formalmente consolidadas,
existe um grau de formalismo valorativo que atende ao valor que é identificar a relação jurídica com
segurança de uma maneira elevada e ele estabelece em abstrato quais são essas situações (contrato
assinado por duas testemunhas, é uma confissão de dívida, mas não é um confissão que pura e
simplesmente foi feita uma confissão de dívida, havia duas testemunhas para dizerem que haviam
pessoas livres com sua vontade em celebrar essa dívida). É possível, assim, definir em abstrato que
essa confissão de dívida, é um confissão segura. Não iriam duas pessoas mentirem a respeito disso.
Não é apenas a confissão de dívida, é confissão de dívida em um ato formal (duas testemunhas), por
escrito. Estou criando formalismo (escritura + testemunha) para trazer segurança. Com isso, tento
equilibrar. Não vou apenas com a efetividade. Equilibro colocando um pouco de formalismo. Mas,
esse formalismo não pode ser qualquer formalismo ele deve atender a valores - por isso formalismo
valorativo - como igualdade e etc. que são valores do sistema, como ponto de equilíbrio entre
segurança e efetividade. A questão são escolhas legislativas para estabelecer as doses de cada
aspecto da balança.
Se colocar muito formalismo, ninguém usa a ferramenta tamanho o formalismo, apesar da grande
segurança. Seria um problema de dosagem ao invés de sistema ou o contrário, pela alta efetividade,
mas baixa segurança, não seja utilizada a ferramenta.

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Um bom olhar para essa lógica é analisar o processo de conhecimento junto com as tutelas
executivas de satisfação do direito e as medidas de natureza cautelar como de arresto, sequestro e
etc. Os problemas que daqui derivam geralmente estão ligados ao fator humano (juiz) que não usa
bem a técnica.
No ambiente empresarial, as coisas fluem, especialmente quando envolvem grandes quantias e
crédito de forma menos formal. São realizadas muitas relações jurídicas com habitualidade
(profissionalismo e habitualidade). Criar formalismo excessivo para essas coisas emperram.
Empresário quer vender seu produto de forma segura, rápida e eficiente. Contudo, quando
pensamos em crédito que vai ter que circular, passar na mão de estranhos, a noção é diferente. O
título de crédito também não é restrito apenas ao Direito Empresarial, logo preciso trazer segurança
a essa operação de crédito, pois senão no final da cadeia o fulano não vai comprar o crédito, se tiver
que ficar discutindo os requisitos do título e etc. Não quer ficar discutindo em juízo, quer ter
segurança de que aquele pedacinho de papel vale dinheiro e pode tocar a execução. Como trazer
essa segurança? Com formalismo. Por mais que as relações empresariais e as relações do dia a dia
sejam informais, no título de crédito, em certa medida, buscamos no formalismo a segurança. Como
que se garante a agilidade/efetividade. Através da simplicidade. Conjugar ser formal, mas ser
simples.
Formalismo é estabelecer previamente a forma de alguma coisa, mas ela não precisa ser complexa.
Quem vai estabelecer a forma de maneira clara é a lei, regulamentada pelo Direito Empresarial. Ela
traz a segurança, tudo que preciso saber está na lei. O fato é saber o que é e o que não, o que
significa o que. Se é justo ou injusto, não importa muito, pois se eu sei, tenho clareza, definição
formal do que é, sei como é e sei o que esperar. Isso para facilitar a circulação. Por respeitar o
formalismo, terá força de título executivo.

1 TÍTULOS DE CRÉDITO
1.1 TEORIA GERAL
1.1.1 Contexto Histórico e Finalidade1
1.1.1.1 Cidades (Séc. XII) - Desenvolvimento do comércio na Idade Média
1.1.1.1.1 Excedente de Produção
1.1.1.1.1.1 Paga parte do Senhor Feudal

1 Não tem matriz romana. A matriz metodológica do Empresarial é Medieval, pós-romano. Existia
comércio em Roma, mas as soluções e a construção no séc. XIII com o Feudalismo. Volta-se a
segurança para a Europa (Ásia, China aconteciam outras construções nas relações de comércio - rota
da seda). Cai o império romano, acaba uniformidade e previsibilidade, que dá segurança o ambiente
para o comércio. Se busca segurança no Direito Empresarial, organizar o ambiente. Por isso, no
ressurgimento das cidades na Europa, a partir da Igreja, os mercadores começaram a ter excedente de
produção depois de pagar o que devia ao senhor feudal. Inicialmente fazia trocas e depois começa o
comércio propriamente dito. O local para comprar e vender era em volta da igreja. Praça em frente à
igreja, onde os negócios são feitos, espaço de intercâmbio, espaço do povo, acesso a todos.
Intercâmbio de culturas também, pessoas de locais diversos.

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1.1.1.1.1.2 Busca do Lucro
1.1.1.1.2 Comércio em frente às Igrejas
1.1.1.1.2.1 Praças - intercâmbio comercial e cultural - acesso
público
1.1.1.1.2.2 Muita oferta no mesmo local (concorrência) - ir para
outros locais com escassez. Fora do local de produção.
Necessidade de segurança, sair do feudo com baixa eficiência
comercial
1.1.1.1.3 Segurança de Circulação
1.1.1.1.3.1 Liberdade de Circulação - ajustes entre feudos para
segurança
1.1.1.1.3.2 Estradas ruins
1.1.1.1.3.3 Muitos deslocamentos para ir vender na cidade,
gastos. Necessidade de se estabelecer
1.1.1.1.3.4 Família parte no campo e outra na cidade se
especializando em vender na cidade (burgo) -> burguês
1.1.1.1.3.5 Se especializa na venda. Diferente de quando
apenas produzia. Grupos de Comerciantes.
1.1.1.1.3.6 Direito Canônico inadequado para regular pontos de
venda, concorrência
1.1.1.1.3.7 Criação de Direito Próprio (Mercantil - guildas,
corporações de ofício). Sistema de proteção e para ter cogência
na aplicação do Direito (exércitos próprios)
1.1.1.1.3.7.1 Só é comerciante quem está inscrito na
Corporação
1.1.1.1.3.8 Feiras - Comércio regional para comerciar
determinado tipo de produto
1.1.1.1.3.8.1 Destaque para algumas cidades
1.1.1.1.3.8.2 Antes das Cruzadas - sabiam os caminhos até as
feiras
1.1.1.2 Séc. XIII - Revolução Comercial - Usuário Ladrão do tempo -
cristão (caritas)
1.1.1.2.1 Acumulação de conhecimento sobre produção (Séc. VIII - XIII).
Desenvolvimento de tecnologias ao longo de 500 anos. Excedente de
produção cada vez maior
1.1.1.2.2 Cidades Organizadas, excedente de produção2
1.1.1.2.2.1 Surgimento do Luxo (aquilo que não é necessário)

2 Melhora da qualidade de vida, desenvolver ferramentas melhores para incremento da produção.

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1.1.1.2.2.2 Desejo de consumo maior = dívidas
1.1.1.2.3 Mais gente vendendo
1.1.1.2.4 Crédito. Realização de negócio sem ter dinheiro
1.1.1.2.4.1 Crédito = Confiança3 no cumprimento da obrigação +
4
tempo . Vender na confiança.
1.1.1.2.4.1.1 Latim "Credere" = confianr, ter fé.
1.1.1.2.4.1.2 Confiança subjetiva: na pessoa, pelo que
aparenta ser
1.1.1.2.4.1.3 Confiança Objetiva: credor acredita na
capacidade econômico-financeira do devedor para satisfazer a
prestação.
1.1.1.2.4.2 Maior endividamento
1.1.1.2.4.3 Moeda = valor do metal, liga nobre ou não
1.1.1.2.4.3.1 Marcas na borda da moeda para evitar raspar e
roubar o valor da moeda com desgaste
1.1.1.2.4.3.2 Cunhagem - príncipe garante que a moeda é feita
de ouro, é verdadeira. Necessidade, circulação de moedas de
lugares diferentes nas feiras.
1.1.1.2.4.3.3 Escassez de moedas. Cambistas, trocando
moedas para circular o comércio. Dificuldade, necessidade de
transportar o dinheiro, falta logística de dinheiro5
1.1.1.2.4.3.4 Necessidade de expandir o comércio
1.1.1.2.4.3.5 Tenho o dinheiro, mas não o metal no momento
1.1.1.2.4.3.5.1 Solução: Surgimento do Crédito6

3 Confiança de quem concede o crédito naquela pessoa que vai pagar pelo crédito em um determinado
tempo e a remuneração dessa confiança deixa de ser imoral, pecado.
4 Sempre uma troca no tempo. Uma pessoa entrega um bem atual em troca de um bem futuro (uma
prestação futura). Essa troca no tempo só se realizará se houver uma relação de confiança.
5 No período italiano (até 1650), os títulos surgiram para facilitar o câmbio trajetício. O transporte da
moeda em determinado trajeto ficava por conta e risco de um banqueiro. Tal câmbio se
instrumentalizava por meio de 2 documentos: a cautio, apontada como origem da nota promissória, por
envolver uma promessa de pagamento (o banqueiro reconhecia a dívida e prometia pagá-la no prazo,
lugar e moeda convencionados), e a littera cambii, apontada como origem da letra de câmbio, por se
referir a uma ordem de pagamento (o banqueiro ordenava ao seu correspondente que pagasse a
quantia nela fixada).
6 Mercado em expansão com limitação de recursos para cunhagem de moedas. Preciso criar um
mecanismo jurídico que atribua força quase que de moeda a esse ajuste de vontade baseado na
confiança. A própria ideia de moeda é uma ideia de confiança, nos entregam um pedaço de papel com
um peixe desenhado e um símbolo da República e acreditamos que aquilo vale 100 reais e trocamos
aquilo com base numa expectativa de confiança.

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1.1.1.2.4.3.5.1.1 Não conhece as pessoas.
Necessidade de maior segurança jurídica para crédito -
operações vultuosas.
1.1.1.2.4.3.5.1.2 Solução: Título de Crédito
(segurança + agilidade + simplicidade7). Trazer
segurança para operações de crédito botando no papel,
maior agilidade. Hoje o papel ainda é seguro? Não é
melhor a BlockChain?
1.1.1.2.4.3.5.1.2.1 Atribuição de força quase que de
moeda baseado na expectativa de confiança -
advento posterior do papel moeda
1.1.1.2.4.3.5.1.2.2 Verso da nota promissória com
assinatura, nome, endereço e etc (endosso) permite
circular o crédito. É formal, lei estabelece cada
causa e consequência no pedaço de papel. A
segurança dele vem da previsão antecipada de
causa e consequência na lei.
1.1.1.2.4.3.5.1.3 (Vantagem como Ferramenta
Jurídica) Atende necessidade de agilidade na realização
da obrigação. Avança o mercado e aperfeiçoa os
instrumentos de crédito.
1.1.1.2.4.3.5.1.3.1 Direito Comum
(inadimplemento): ação de cobrança - séc. XVI era
muito mais demorado do que hoje, mais caro. Difícil
redigir contrato. Era uma furada ter que discutir
ajuste de vontade. Enquanto ferramenta o título de
crédito atalha essa discussão, podendo ir direito
para processo de execução. Maior segurança de
quem concede o crédito. Grande vantagem como
ferramenta jurídica é essa8.
1.1.1.2.4.3.5.1.3.2 Direito Cambiário: ação
cambial/execução. Traz agilidade na realização e
atende necessidade de circulação do crédito.
Atribuído valor ao título de crédito e assegurada a
possibilidade de se partir direto para execução. Com
base num pedaço de papel (título executivo), que
possui certa forma (requisitos formais) faz com que
ao alguém assinar ele, não seja necessário discutir
7 Forma mais simples e segura de consolidar uma relação jurídica. Mercado continua em expansão até
hoje superando as ferramentas, mas que foram idealizados segundo a lógica original dos títulos de
créditos. Hoje não usamos mais letra de câmbio para operacionalizar uma relação, mas a lógica dela
está no cheque e em outros institutos.
8 Estima-se que reduz hoje em 4 anos a tramitação do processo, ao invés de contrato discutindo se existe
ou não a dívida. Pego o papel, faço uma planilha de cálculo e meto a inicial. É um avanço na concessão
do crédito. Quem presta se sente mais seguro.

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se a dívida que ali consta existe ou não. É prático,
ganha tempo. Para quem empresta, fica mais
seguro. Planilha de cálculo e inicial de execução e
vida que segue. Avanço na concessão do crédito:
agilidade na concessão e estabelecimento de
vínculo jurídico cambiário.
1.1.1.2.4.3.5.1.4 Necessidade de Circulação do
Crédito
1.1.1.2.4.3.5.1.4.1 Direito Comum: Cessão de
Crédito.
1.1.1.2.4.3.5.1.4.2 Direito Cambiário: faz circular
valores. Instrumento para substituir o dinheiro.
Endosso9. Possibilidade de colocar dinheiro na mão
com prazo para poder gastar (colocar a data em que
o dinheiro vai valer - será pago no dia X pelo fulano,
basta que uma outra pessoa confie nesse alguém
que irá pagar no dia X e posso negociar a nota
promissória, podendo projetar no tempo), consigo
projetar no tempo, o que não é possível com
dinheiro. Se coloco uma data, passa a ser dinheiro
na data identificada, enquanto isso posso realizar
operações de pagamento e de crédito (além disso,
posso colocar o valor que quiser)10. Além disso,
coloco o valor que quiser. Alguém pode querer
comprar a nota com prazo por valor menor com base
na confiança e expectativa11
1.1.1.2.4.4 Atrai novo tipo de consumidor (a prazo)
1.1.1.2.4.5 Custo das Navegações - busca de novos mercados,
custo muito alto. Só no crédito.
1.1.1.3 Séc. XIV-XV - Endividamento Urbano12
9 Se eu quero passar adiante uma nota promissória, fazendo circular o crédito não precisa fazer um
contrato dispondo para quem vou vender o crédito, só assina no verso e entrega. Ninguém pode discutir
que não passei adiante, tem a assinatura no verso. Eu sei que significa isso porque a lei diz que é, é o
endosso e ninguém pode alegar o desconhecimento da lei. Causas e consequências definidas em
papel, segurança vem da previsão antecipada de causa e consequência na lei.
10 Se tenho uma Nota Promissória que vale 100k daqui a 6 meses, posso fazer circular esse crédito,
vendendo para alguém. Alguém pode querer comprar essa nota agora por 80k. Essa pessoa vai pegar a
nota e vai exigir 100k de quem fez a promessa (ganhou 20k). É um sistema de crença, como na moeda,
na bolsa de valores (cai pq baixa a confiança).
11 Um celular é mais caro que outro porque tenho a confiança e expectativa de que ele melhor que o outro,
além de elementos materiais que encarecem a produção. Mas, o crédito está em tudo. Compara às
ações da Petrobrás que caíram por perda de parte da confiança, menor crédito, menor valor.
12 Desenvolvimento histórico dos Títulos de Crédito. Já vimos o início, possibilidade cobrar pela confiança.
Vamos ver a técnica jurídica que possibilitou a expansão comercial, qual título de crédito foi usado para
superar a circulação da moeda e o que permitiu a garantia do crédito de forma segura. Foi a letra de

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1.1.1.3.1 Ressurgimento do Luxo
1.1.1.3.2 Justificação do Empréstimo a juros (utilidade do meio social e
remuneração do risco (purgatório a partir do séc. XII)
1.1.1.3.3 Mecenato Religioso (salvação da alma)
1.1.1.3.4 Letra de Câmbio
1.1.1.3.4.1 Pouco usada Hoje
1.1.1.3.4.2 Permitiu na época garantir o crédito com segurança
(solução do problema do comércio em expansão. Resolveu
problema de crédito e problema de câmbio conforme já visto
1.1.2 História (Jacques Le Goff)13
1.1.2.1 Origem: causa da necessidade de moedas e variações sazonais
do mercado do dinheiro14. Sex XIV e XV -> solução da expansão
comercial através da letra de câmbio, problema de crédito e de câmbio
1.1.2.2 Definição da Letra de Câmbio histórica (crédito + câmbio):
convenção do doador fornecia ao tomador. Recebia em troca um recibo
de penhor pagável a termo (operação de crédito), mas num outro lugar e
numa outra moeda (operação de câmbio). Contrato de câmbio = 2
operações (crédito e troca). Letra de Câmbio resolve o problema na ideia
de confiança ao longo do tempo com remuneração
1.1.2.3 Função da Letra: resolve 4 problemas
1.1.2.3.1 Meio de pagamento de uma operação comercial (compra e
venda da feira, comprador saiu com o produto)
1.1.2.3.2 Meio de Transferência de Fundos (lugares que utilizavam
moedas diferentes)
1.1.2.3.3 Fonte de Crédito
1.1.2.3.3.1 Brota dinheiro onde não tinha
1.1.2.3.4 Ganho financeiro agindo sobre as diferenças e as variações de
câmbio em lugares diversos (onde a letra foi emitida e onde foi
resgatada)

câmbio.
13 Até então vimos uma história breve do Direito Empresarial e dos Títulos de Crédito (apresentação do
problema do surgimento do endividamento, da possibilidade de negociar através da confiança cobrando
taxa por ela. Hoje vamos abordar propriamente o desenvolvimento histórico dos títulos de crédito, vendo
qual foi a técnica jurídica que possibilitou essa expansão comercial, qual título de crédito para superar a
limitação de moeda e que permitia que o crédito fosse materializado de forma segura, ágil e simples.
Aqui é referencial de um historiador. Depois vamos ver como os empresarialistas contam essa história,
de maneira didática e não tão detalhada, mas em fases.
14 Hoje não andamos mais com dinheiro no bolso, na época a falta de dinheiro impedia os negócios. E as
feiras não aconteciam o tempo todo. Um queria vender e outro comprar e não conseguiam, mesmo
tendo patrimônio.

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1.1.2.4 Esmiuçando -> Letra de câmbio envolve 3 partes. Problema:
Comércio tipicamente marítimo: envolvia grandes distâncias. Grande
risco. Tinha um comerciante (veneziano) que queria empreender
comércio no mar para ir até o produtor (quem vende as especiarias nas
índias p.ex). Comprando as especiarias, comerciante pode revender no
mercado de Veneza com sobrepreço
1.1.2.4.1 Problema: para realizar o comércio no mar, sem título de
crédito, tem que transportar dinheiro até o local, senão não compra.
Mar perigoso por tempestades e afundar ou piratas
1.1.2.4.2 Com letra de câmbio: possibilidade de não levar o dinheiro até
o produtor. Vou com um pedaço de papel representativo de dinheiro e
entrego ele como pagamento. Se meu navio afundar, não perco o
dinheiro.
1.1.2.4.3 Existe relação de confiança necessária entre produtor e
comerciante? Pode ser que sim ou que não. Em geral, como alguém
em Veneza vai conhecer e ter confiança em alguém em local tão
distante e com viagens que demoravam anos
1.1.2.4.3.1 Entra 3ª Pessoa: comerciante para poder criar a
Letra -> entregar dinheiro para pessoa/banco (banco - termo mais
moderno), em troca dava um documento que prometia pagar uma
determinada quantia. De posse do documento, o comerciante
viajava e entregava ele para o produtor nas índias, para realizar a
compra e venda. O produtor, com o documento, apresentava para
o terceiro/banco para receber o pagamento15.
1.1.2.4.3.1.1 Relação de confiança também entre produtor e
pessoa que detinha o dinheiro (passa a ter como atividade
econômica emprestar dinheiro). Depois veio a ser conhecida
como Banco (família Médici - Florenza16)
1.1.2.4.3.1.2 Quem inspira confiança é o terceiro, banco. Há 2
operações: uma de crédito, depois de câmbio, com a troca de
moeda. Paralelamente traz segurança ao transporte. Direito
empresarial serve para resolver problemas
1.1.2.4.4 Problema 2: Moeda da Itália era o ducado. Nas índias eram as
rúpias (exemplo). Para comprar com ducados, tem que fazer câmbio.
Existia câmbio em Roma já. Custo operacional para câmbio
1.1.2.4.4.1 Pago para 3º em Ducado. Quando produtor receber,
vai já receber em Rúpia, definição no documento do câmbio.

15 Sei que a viagem vai durar um ano. Eu, comerciante, entrego o dinheiro para 3º/banco, e este diz que
em 1 ano vai pagar essa quantia para quem tiver o documento, o qual entrego para o produtor. Há duas
relações de confiança. Minha no 3º/banco que diz que vai pagar e quem recebe o documento como
forma de pagamento de que o 3º/banco vai pagar.
16 Estruturação de guerras, demandando confiança e guerra.

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Operação de câmbio. Confiança concentrada no 3º. Resolvia falta
de dinheiro, transporte, câmbio.
1.1.2.4.4.2 Exemplo do Cheque de Viagem (travel check): dava
dinheiro para agência de viagem, entrega pela agência de viagem
de origem de um papel na confiança de que ela iria entregar o
dinheiro em uma outra agência de viagem no destino em meu
nome, mediante cobrança de taxa.
1.1.2.4.4.2.1 O bom da nota promissória é que não tem custo:
melhor solução para operação entre 2 pessoas baseada na
confiança, sem custo e segura.
1.1.3 DOUTRINA: Período Italiano17: Letra como Instrumento de Transporte
de Dinheiro
1.1.3.1 Contexto
1.1.3.1.1 Comerciantes precisavam dos recursos em locais diversos da
sua residência, não queriam transportar dinheiro
1.1.3.1.2 Transporte apenas do papel, diminuição do risco.
1.1.3.2 Dinâmica:
1.1.3.2.1 Comerciante procura banqueiro local de origem e entrega valor
em moeda local do que deseja da moeda estrangeira. Recebe
documento assinado pelo banco dizendo que foi pago valor X e tal
valor vale Y no local de destino, se comprometendo em pagar esse
valor para quem tivesse o documento
1.1.3.2.1.1 Banqueiros reconhecem a dívida (documento de
cautio) prometiam entregar seu equivalente em outra cidade na
moeda estrangeira (lettera di pagamento)
1.1.3.2.1.2 Banco estrangeiro entrega a moeda estrangeira
constante na letera
1.1.3.3 Problemas da visão da Letra de Câmbio como mero transporte de
dinheiro (resolução no período francês)
1.1.3.3.1 Banco estrangeiro/3ª no destino não quiser pagar? Ele não
fazia parte da letra18 não confirmou que assume tal responsabilidade

17 Não mais histórico. Por questão didática se faz um corte que historicamente e geograficamente é
impreciso: período italiano da Letra de Câmbio - não diz exatamente qual período e qual parte da Itália,
que tinha suas formas diferentes de realização de operações; período Francês da Letra de Câmbio;
Período Alemão da Letra de Câmbio.
18 Eu tenho a promessa de um 3ª/banco em Veneza de que tal nota seria paga na moeda local por outra
pessoa/banco no destino em tal data. Essa pessoa do destino não estava envolvida na relação. A
pessoa/banco que fazia essas relações em Veneza tinha relações com um primo que morava nas Índias
ou alguém que foi destinado para fazer essa operação lá (pois o 3º/banco agora vive disso, de
emprestar dinheiro e cobrar taxas). Qual a garantia de que essa pessoa no destino iria pagar se ele não
assinou o documento nem deu uma manifestação clara de que assume a responsabilidade.

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1.1.3.3.1.1 Ausência de manifestação do obrigado na letra de
câmbio.
1.1.3.3.1.2 Custo da viagem é inaceitável para isso
1.1.3.3.2 Se o sacado/obrigado estivesse fora da cidade quando o
comerciante chegasse?
1.1.3.4 Mercador de Veneza (Shakespeare)19
1.1.3.4.1 Ascensão da Burguesia (nobres menos dinheiro, venda títulos
nobiliários) Antonio rico comerciante de Veneza
1.1.3.4.2 Bassânio. Origens nobres, mas sem dinheiro, apenas título.
Desposar princesa - precisava de dinheiro
1.1.3.4.2.1 Vai até comerciante rico para ajudar (Antônio).
Comerciante está sem dinheiro, todo dinheiro no comércio
marítimo, quando navios voltarem vai. Mas precisa do dinheiro
agora. Cristão empresta por eucaristia, na falta, busca o judeu
(visão antissemita). Antônio pega empréstimo com Shylock (judeu)
e dá dinheiro para Bassânio.
1.1.3.4.2.1.1 Tempo pertence a Deus
1.1.3.4.2.1.1.1 Não pode usar o tempo para ganhar dinheiro
1.1.3.4.2.1.1.2 Usuário é usurpador do tempo
1.1.3.4.2.2 Busca recurso Shylock (judeu) empresta com juros
como fiador o Antônio, o qual perde navios em naufrágio.
1.1.3.4.2.2.1 Vingança, tirar 1 libra de carne do devedor
prestação alternativa se não pagar
1.1.3.4.2.2.2 Comerciante fora das regras do jogo (católicas).
Guetos judaicos
1.1.3.4.2.2.2.1 Viviam isolados. Em Roma tinha comércio de
judeus voltados à concessão de crédito, joalherias,
finanças. Especialização na idade moderna
1.1.3.4.2.3 Busca de Notário: fé pública
1.1.3.4.3 Lições
1.1.3.4.3.1 Segurança hoje se busca na lei que define como é o
título de crédito. Na época, a Itália era toda dividida, com
costumes próprios. Busca o notário para dar segurança.
1.1.3.4.3.2 Quando descumprida, levada em juízo ninguém
discute, nem mesmo Antônio. Eles tentam apenas negociar.
Assinado perante o Tabelião. Não discussão da validade do ato.
Auge do liberalismo, pacta sunt servanda.

19 https://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000094.pdf

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1.1.3.4.3.3 Título de crédito servindo para resolver problema de
confiança no tempo.
1.1.4 Período Francês: Letra como Instrumento de Pagamento
1.1.4.1 Preocupação com Pagamento. Não mais preocupado com viagem
1.1.4.1.1 Preocupação com a falta da moeda em si, preocupação com
Pagamento
1.1.4.1.1.1 To sem o dinheiro, mas vou estar rico quando chegar
a colheita e a feira (períodos sazonais do comércio)
1.1.4.1.1.2 Necessidade de realizar operações antes da
colheita, mesmo sem ainda ter dinheiro
1.1.4.1.1.3 Emissão de documento representativo da confiança
de quem recebe como forma de pagamento: compromisso de
pagar no futuro.
1.1.4.1.2 É Momento posterior -> diminui risco do transporte
1.1.4.1.3 Comércio Francês mais centrado na ideia de feira: não era
tanto transporte marítimo
1.1.4.1.3.1 Transporte terrestre e fluvial em Paris, França tem
mar no norte e no Sul e é grande e fica no centro da Europa
(menor risco no transporte de dinheiro). Itália é toda banhada.
1.1.4.1.3.2 Problema não era o transporte de dinheiro, mas o
pagamento, garantir ele, trazer mais segurança
1.1.4.2 Ampliação da letra para não comerciantes
1.1.4.2.1 Passagem direito Mercantil para Direito Comercial - teoria dos
atos de comércio (objetiva) - passagem período subjetivo para
objetivo
1.1.4.2.2 Letras valem para pessoas quaisquer para usar como forma de
pagamento, não apenas para comércio.
1.1.4.3 "Aceite" como forma de responsabilização do sacado. Aumenta
nível de segurança
1.1.4.3.1 Antes podia se deslocar até o produtor informando que ele
podia cobrar de um 3ª nas índias com a Letra, mas este podia não
aceitar a pagar ou podia não ser encontrado. Quem fez a promessa
foi o 3º na origem, e não no destino.
1.1.4.3.1.1 Aqui (período Francês) quem se obriga a pagar não
é quem recebe o dinheiro, mas sim quem vai realizar o pagamento
no destino 3º do destino.
1.1.4.3.1.2 Ao aceitar a letra -> sacado passa a se obrigar pelo
seu cumprimento. Sabia do que se tratava.

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1.1.4.3.1.3 Como sacado estava obrigado, a letra poderia ser
transferida
1.1.4.3.2 Comparativo:
1.1.4.3.2.1 (italiano) Comerciante entrega dinheiro para 3º na
itália -> 3º itália entrega documento para comerciante ->
comerciante vai até produtor nas índias e usa o documento como
forma de pagamento -> produtor apresenta documento para 3º na
índia indicado para fazer o pagamento no destino -> produtor
pega o documento e apresenta para pessoa que diz não saber de
nada e não recebe.
1.1.4.3.2.2 (Francês) comerciante entrega $ para 3º na França
em troca de papel que ela assina o doc reconhecendo dívida com
o comerciante -> entrega documento para comerciante ->
comerciante usa para pagar produtor nas índias -> produtor
procura outra pessoa com $ que assinou, fez o aceite e paga o
documento, pois se comprometeu em realizar o pagamento no
destino. Ele aceita a obrigação, assina - provavelmente deixa
previamente assinado ou outorga procuração para assinar em seu
nome na origem, tem que fazer um sistema de compensação.
Também existia comércio marítimo, e o comércio fluvial e baseado
em feiras era sazonal, basta emitir documentos para o ano/feira
seguinte, podia pegar assinatura na feira. Os contatos vão se
estreitando a ponto de deixar em branco, mas assinado com
ajustes já feitos, depois comunica por correspondentes.
1.1.4.4 Efeito do aceite: Pessoa que faz os pagamentos no destino é
conhecida nas índias como bom pagador, rico. Pode pegar o documento
e circular ele no local. O 3º da origem na Itália pode ser conhecido na
Itália, todos lá sabem que ele vai cumprir, mas ninguém nas Índias
conhece a pessoa da Itália. O documento vai parar nas Índias e ninguém
vai ter confiança para comprar o crédito esperando receber do cara na
Itália. Mas, como o 3º das Índias aceitou a promessa de pagamento, e
ele é conhecido por ser bom pagador, o aceite permite a circulação,
revendendo o próprio título, virando e assinando.20
1.1.4.4.1 Segurança = facilita circulação
1.1.5 Período Alemão: Letra como Instrumento de Circulação do Crédito
1.1.5.1 Incentiva circulação para Criar dinheiro, praticamente
especulação.
1.1.5.1.1 Não é pagar
20 História do Araken e do famoso mendigo Marimbondo. Advogado que fez o mendigo assinar uma Nota
Promissória de R$ 1.000.000,00 e mandou emoldurar e colocar na sala de seu escritório para transmitir
a mensagem de que de nada adiante ter um título executivo na mão se o meu devedor é um mendigo,
tem que ter solvência. É uma mera promessa de um valor, não dinheiro em si. Depende muito da
solvência do devedor. No local, as pessoas sabem se a pessoa é solvente ou não. O aceite é bom para
isso.

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1.1.5.1.2 Grau de deságil que vale a pena eu pagar para comprar o título
para poder revender e ter lucro (Factoring/Factorização - comprar,
revender, realizar crédito)
1.1.5.2 Segurança até então: garantia de que o pagador do destino
aceitou. Mas, essa obrigação é válida ou inválida?
1.1.5.2.1 Posso cobrar dívida de jogo, cobrar obrigação de entregar $
pela venda drogas ilícitas?
1.1.5.2.1.1 Retirada da "causa" do título. Nota promissória
p.ex. não indica a causa (por quê) da emissão da nota, objeto do
contrato. É nome, valor e assinatura. Não tem como saber. Pode
ser a compra e venda de uma arma na nota promissória, fica
apenas materializado que Fulano vai pagar a Beltrano na data X,
não quero saber a causa - pragmatismo alemão. Se prometi
pagar, vai pagar. (abstração do título)
1.1.5.2.1.1.1 Se há vício, em princípio, não interessa. Paga e
depois te resolve.
1.1.5.2.1.1.1.1 Apesar de haver dependência das relações,
se houve vício entre pagante e 3º de origem, não interessa,
os demais nada tem a ver com isso. Afastamento da teoria
da árvore envenenada.
1.1.5.2.1.1.1.2 Habitualidade -> paralisa o mercado, precisa
de agilidade conforme já estudado em Empresarial I.
Voltamos quando falarmos das defesas, das medidas
judiciais para exigir título do princípio/efeito da
(in)oponibilidade das exceções pessoais
1.1.5.2.1.2 Títulos anteriores à fase Alemã têm a causa "pagou
dinheiro pela venda de especiarias"
1.1.5.3 Contexto: meados do Séc. XIX
1.1.5.3.1 Necessidade Ampliação da Segurança da Letra
1.1.5.3.2 Garantia de quem vai pagar ao final. Conheço quem vai pagar
1.1.5.4 Fatores
1.1.5.4.1 A letra de câmbio passa a ter um valor em si mesma
1.1.5.4.2 Segurança por meio da abstração do título e da autonomia das
obrigações
1.1.5.4.2.1 Desconhecimento da causa do pagamento. Apenas
valor. Antes tinha objeto do pagamento. Se houver vício, a priori,
não interessa - não interessa a teoria dos frutos da árvore
envenenada (ex. coação)
1.2 FONTES
1.2.1 Geral

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1.2.1.1 Código Civil 2002 - arts. 887/926
1.2.1.1.1 Regula relações civis
1.2.1.1.2 Texto abrangente algumas vezes, outras específico
1.2.1.1.3 Incorporou Direito Comercial no mesmo texto, passando a se
chamar Direito Empresarial
1.2.2 Geral e Especial
1.2.2.1 Lei Uniforme de Genebra - LUG ou LU (assinada em 1930):
(Decreto nº 57.663/1966) - tratado internacional incorporado
1.2.2.1.1 Lei uniforme em matéria de letras de câmbio e notas
promissórias (2 títulos)
1.2.2.1.1.1 Estrutura, concepção, lógica desses títulos21
1.2.2.1.2 Espinha dorsal estruturante das relações de crédito no mundo -
uniformizar as relações comerciais
1.2.2.1.2.1 Segurança para o mercado e permitir circulação.
Global.
1.2.3 Fontes Especiais22
1.2.3.1 Decreto-Lei nº 167/1967 - Título de Crédito Rural
1.2.3.2 Lei nº 5.474/1968 - Lei das Duplicatas
1.2.3.3 Decreto-Lei 413/1969 - Título de Crédito Industrial
1.2.3.4 Lei nº 6.840/1980 - Título de Crédito Comercial
1.2.3.5 Lei nº 7.357/85 - Lei do Cheque
1.2.3.6 Lei nº 10.931/2004 - Letra de Crédito Imobiliário, Cédula de
Crédito Imobiliário, Cédula de Crédito Bancário
1.3 CONCEITO MODERNO
1.3.1 "Título de Crédito é o documento necessário
1.3.2 para o exercício do direito leal e autônomo nele mencionado" (César
Vivante23)
1.3.2.1 Título de crédito é um documento: ponto de vista de formalização,
"pedaço de papel". Só vale se for um pedaço de papel? Preciso de mais
elementos para diferenciar esse documento dos demais

21 Dica de visitação ao Santander Cultural para ver títulos de crédito antigos.


22 Relação de subsidiariedade entre aplicação de um e outro. Duplicata é da década de 60, tem lei própria
e dispõe sobre aplicação subsidiária da LUG (endosso, aval) se não regulada na própria lei; se não
regulada na LUG, vai para o CC. Ver conjunto no PDF da aula, especial atenção para Título de Crédito
Comercial que > T.C. Industrial > LUG > CC. Dupla subsidiariedade, mesmo na legislação especial. Há
coincidência entre crises econômicas e movimentos legiferantes na área.
23 Autor italiano. Direito civil na parte empresarial se vale muito do Direito Italiano, um dos motivos para
alguns quererem separar o Código, por matrizes ideológicas diferentes; em geral, influência Alemã.

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1.3.2.2 Documento necessário para exercício de direito leal e autônomo,
direito este mencionado no documento (tal direito exercido com base no
próprio documento de forma leal e autônoma) - noção de segurança
jurídica no mais alto grau, foi feito para valer não para discutir
1.3.2.2.1 Direito de receber determinada quantia em determinado tempo
1.3.2.2.2 Leal: cumprido tal e qual posto
1.3.2.2.2.1 Sem grandes devaneios teleológicos, teste de
proporcionalidade, dignidade da pessoa humana
1.3.2.2.2.2 Lógica alemã
1.3.2.2.3 Autônomo: vamos distinguir de abstração ainda.
1.3.2.2.3.1 Uma coisa é a relação jurídica que deu origem
àquele título, outra é a relação do título, outra a do título que
circulou. São diferentes
1.3.2.3 Aquisição do crédito e garantia dele (crédito em si)
1.3.3 "[O título é] um perfeito instrumento para a circulação de direitos de
crédito, facilitando, grandemente, as atividades econômicas e mobilizando o
crédito de modo a possibilitar o seu uso por grande números de pessoas"
(Fran Martins24)
1.3.3.1 Preocupação com efeito por sua circulação
1.3.3.1.1 Foco não no doc que materializa direito autônomo e leal
1.3.3.1.2 Serve para circular direito de crédito: não para fazer valer o
que está no título, mas pressupondo isso, fazer circular, pois facilita
as atividades econômicas e mobiliza a possibilidade de seu uso.
1.3.3.1.2.1 Pressupõe a confiança: "dinheiro que circula mas
não existe".
1.3.3.1.2.1.1 Problema especulativo quando confiança
irracional ou abuso do sistema
1.3.3.2 Equivalência de instrumento a documento, apesar de instrumento
ser mais abrangente
1.3.4 Código Civil, art. 887. O título de crédito, documento necessário ao
exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito
quando preencha os requisitos da lei.
1.3.4.1 Direito Leal -> Direito Literal
1.3.4.1.1 Literal em cima do que? Qual texto interpreto literalmente?
1.3.4.1.1.1 A lei: afirmação soberania da lei como mecanismo de
segurança jurídica

24 Autor brasileiro, dá conceito complementar de título de crédito. Vivante fala da aquisição do crédito e da
garantia do próprio crédito, do crédito em si.

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1.3.4.1.1.1.1 Não preciso do notário: atribui em razão da sua
condição pessoal, autoridade: não precisa dele para nota
promissória, basta requisitos da lei.
1.3.4.2 Direito Autônomo: segurança
1.3.4.3 Não trouxe circulação. Fica mera possibilidade
1.3.4.4 Basta uma palavra para produzir efeito
1.3.4.4.1 Não circulação: colocar "não" antes de "à sua ordem"
1.3.4.4.1.1 Vai pagar somente para quem foi entregue
primariamente a nota.
1.3.4.4.1.2 Previsto na lei25
1.3.4.4.1.2.1 Cláusula não à ordem
1.3.4.4.1.2.1.1 Regra é ser à ordem
1.3.4.4.2 De fato não precisa circular para ser título
1.3.4.5 Documento
1.3.4.5.1 Não Possibilidade de Título de Crédito Virtual: Vivanti quando
diz "documento" é físico. Interpretação literal da lei, escrita em 1930 a
LUG.
1.3.4.5.2 Em 2002: havia doc virtual, mas não é seguro. Hoje, pode ser
mais seguro que o físico a depender do sistema fechado e das
certificações
1.3.4.5.2.1 Autenticação de Assinatura não é requisito. Pode
discutir esse fato do próprio título (validade/existência da
assinatura), mas não o direito contido no título.
1.3.4.5.2.2 CC diz que título de crédito pode ser virtual: basta
que a lei diga que pode
1.3.4.5.2.2.1 Ex: duplicata eletrônica (lei traz requisitos); nota
promissória não pode (na LUG não é virtual26)
1.3.4.5.2.3 CC diz que outros títulos podem ser criados
1.3.4.5.2.3.1 Problema: executividade. No BlockChain, é
possível fazer um SmartContract com autoexecução, bastando
ter crédito em criptoativos (isso está na Teoria Geral do Título
do Crédito - o que muda é somente o meio e as limitações)
1.4 CARACTERÍSTICAS27
25 A lei é tida como difícil pois ela se propõe a antever os problemas e dá as soluções previamente para
interpretação literal. Por isso o detalhamento da lei, é importante entender o "grosso".
26 Praticamente impossível alterar a LUG dada a grande quantidade de países signatários, o que é razão
justamente para sua longevidade também.
27 Luiz Emygdio da Rose Júnior apresente 5 conceitos econômicos de crédito: a) Crédito é a troca no
tempo e não no espaço (Charles Guide); b) crédito é a permissão de usar capital alheio (Stuart Mill); c)

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1.4.1 Disciplinado pelo Direito Empresarial
1.4.1.1 Lei submete a ele para dar segurança, que permite circulação
1.4.2 Bem Móvel (art. 82 a 84, CC)
1.4.2.1 Bem móvel para poder circular
1.4.2.2 Seria ruim para circular ter que registrar se fosse bem imóvel.
1.4.2.3 Finalidade é circular, gerando riqueza, resolvendo problemas
1.4.2.3.1 Várias pessoas assim podem ser obrigadas (solidariedade)
1.4.2.3.1.1 Titular da obrigação deve apresentar o título ao
obrigado (de apresentação)
1.4.2.3.1.2 Cabe ao credor se dirigir ao devedor para exigir o
pagamento (quesível)
1.4.3 Natureza pro solvendo
1.4.3.1 Título criado para extinguir a obrigação
1.4.3.2 Obrigação que lhe deu origem só é extinta com o pagamento (pro
solvendo)
1.4.3.2.1 Após o pagamento, o devedor deve exigir a entrega do título
(de resgate)
1.4.4 Circulação
1.4.5 Títulos de Apresentação
1.4.5.1 Credor apresenta para receber. É a prova de que a pessoa deve
receber a obrigação, com a circulação, devedor nem vai conhecer o
credor. Se fosse o contrário, devedor teria que sair correndo de pessoa
em pessoa procurando o último credor que está com o título e que
receberia o pagamento. Por isso a obrigação é quesível.
1.4.6 Obrigação Quesível (diferente de portável)
1.4.6.1 Credor vai até o devedor para pagar. Senão devedor ia demorar
para achar para quem pagar. Quero pagar e nunca acho, por causa da
circulação. Por isso o título é de apresentação, na data de vencimento
vem o credor e diz "vim receber"
1.4.6.1.1 Ligado ao título de apresentação

crédito é o saque contra o futuro; d) crédito confere poder de compra a quem não dispõe de recursos
para realizá-lo (Werner Sombart); e) crédito é a troca de uma prestação atual por prestação futura. A
essência é a troca de um bem atual por um bem futuro. Há o conceito jurídico de crédito: o direito a uma
prestação do devedor. O direito do credor em uma relação obrigacional. Sérgio Carlos Covello identifica
4 elementos do crédito: confiança, prazo, interesse e o risco. Interesse é remuneração pela concessão
do crédito (juros – se aplica apenas aos juros bancários); risco é inerente a todo tipo de crédito, inserido
na ideia ampla de tempo e confiança.
Há exceções a algumas das características dos títulos de crédito. Nem todos títulos terão todas essas
características. Tanger associa as características às funções/problemas a que se destina resolver.

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1.4.6.2 Data do vencimento credor diz "vim receber"
1.4.7 Título de Resgate
1.4.8 Executividade (presunção de liquidez e certeza)- Título Executivo
Extrajudicial (art. 784, CPC) - veri texto no início
1.4.8.1 Evitar dilação probatória (ação de cobrança), demora no
recebimento, processo longo, pois deve circular, criar crédito.
1.4.8.2 Deve ser eficiente, não basta apenas circular, tem que dar
segurança para quem circula. Lei diz que é título executivo
1.4.8.2.1 Formalidade (obedecendo ao direito empresarial) -
presumindo-se líquido, exigível, portanto, executivo.
1.4.8.2.2 Empresário faz vários negócios com habitualidade, agilidade,
mas com segurança (senão não se compra e vende só na confiança,
mas também não compra se tiver que ficar discutindo crédito em ação
de conhecimento pela demora) - necessário equilíbrio.
1.4.8.2.2.1 Traz a segurança com formalismo
1.4.9 Formalismo (documento formal) - ver texto no início
1.4.9.1 Dá a segurança que permite a circulação com a agilidade, mas
com simplicidade estabelecendo previamente a forma simples.
1.4.9.2 Segurança na Lei (regulado pelo Direito Empresarial)
1.4.9.3 Cumprir requisitos
1.4.9.4 Previsibilidade, clareza do que tem que ter e o que não. Sei como
me comportar e o que vai acontecer, ninguém tem dúvida sobre como
agir e os efeitos - segurança na circulação
1.4.9.5 Por respeitar a forma -> terá força executiva
1.4.10 Solidariedade Cambiária
1.4.10.1 O Título é feito para circular, quero segurança, um título bom.
Circular bem é trazer segurança para quem recebe o crédito. Lançado
para o mundo, algum momento alguém vai vir cobrar daquele que
"emitiu" o título, dentro do qual há um vínculo jurídico obrigacional de
pagar quantia certa, se coloco o bem em circulação, ele vai passando.
Eu criei esse título prometendo pagar para o fulano X que foi repassando
o título. Quem está com o título no final, de quem pode cobrar? De quem
prometeu que vai pagar, em princípio. Mas, o título de crédito foi criado
para dar uma posição melhor, o Direito Civil já me dá isso em um
contrato de cessão de crédito. Concede posição melhor em relação ao
crédito. Isso não caracterizaria o Direito Cambiário (mera ação de quem
detém o título contra o devedor originário), o que caracteriza ele é que o
credor final pode cobrar de qualquer um por quem passou o título, ela
escolhe de quem vai cobrar. Essa característica traz mais facilidade para
o título circular, pois pode cobrar de qualquer um, quanto mais circula,

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mais forte fica, pode cobrar de mais gente. É um estímulo à circulação,
deixa de ter valor intrínseco como mera circulação de crédito entre A e B
e passa a ser um crédito em circulação para que em algum momento
desconte o valor. Essa solidariedade tem uma função para além daquela
do Direito das Obrigações. Tem que estimular a circular. Quem botou o
crédito no mercado pode ser um péssimo pagador, mas se foi endossado
por um bom pagador, está ótimo.
1.4.10.2 Permite circular
1.4.10.3 Possibilidade de comprar de volta (exigindo "pagamento" do
antecessor, entrega o título de volta (resgate, não precisa de recibo - pois
de apresentação e cartularidade - vai voltando até o devedor original)
extinguindo vínculo (risca o nome no verso) se não consegue pagamento
do devedor originário. Não extingue o título, pois só se extingue com o
pagamento do "emissor" (natureza pro solvendo).
1.4.10.4 Daqui surgem duas outras características: título tem que ser de
apresentação e a obrigação tem que ser quesível. Materializam quem é o
titular do crédito (quem tem o título)
1.5 PRINCÍPIOS28
1.5.1 LITERALIDADE
1.5.1.1 Vale somente o que está escrito no título. Exatamente o que está
no texto, sem criação, super interpretações. Interpretar tal e qual está no
título de crédito. Formalismo na lei diz que determinada coisa significa
determinada coisa. Não se fala em justiça substancial, é criação e
circulação de crédito que demanda segurança. A justiça está exatamente
na segurança e na previsibilidade, estabilidade, cognicibilidade (saber o
que é direito e o que não é)
1.5.1.1.1 Fábio Ulhoa Coelho: "o que não se encontra expressamento
consignado no ter do título de crédito não produz efeitos nas relações
jurídico-cambiais".
1.5.1.1.2 Tudo o que está escrito, tem valor; o que não está escrito não
pode ser considerado (reserva mental)
28 Para entender princípios, tem que entender que eles representam diretrizes o Ordenamento Jurídico no
caso, no sistema de Títulos de Crédito. O princípio propõe um estado ideal de coisas (Humberto Ávila).
No Direito Brasileiro, essa construção se deu depois, princípio era a forma como os valores entravam no
ordenamento positivo. A regra é dura, e os valores entravam pelos princípios. Atualmente, os princípios
podem ser mais maleáveis de acordo com o caso. Vedação ao non liquet, não pode determinar reenvio
ao parlamento por ausência de lei como se fazia na França no período pós-revolução.
No caso dos títulos de crédito, esses princípios vão buscar segurança, simplicidade e agilidade. Esse é
o estado ideal de coisas buscado por tais princípios. Simplicidade é redução de complexidade, não falta
de segurança, para poder circular e colocar mais crédito no mercado, sem precisar de formalismo
excessivo. Agilidade na realização do crédito. Toda história dos títulos de crédito é ligada a esse
"trinômio", como visto. Dava segurança ao transporte, agilizando relações comerciais ante a falta física
de moeda ou dava segurança com o aceite no período francês e no alemão com a abstração segurança
para quem recebe o título, exigindo o pagamento e já era (há exceções, há títulos causais que são
exceções à abstração).

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1.5.1.1.3 Não se busca finalidade, função, reserva mental
1.5.1.1.4 Não queria e não botou no título: não existe
1.5.1.1.5 Traz segurança
1.5.1.2 É possível interpretar de algumas outras formas
1.5.1.3 TÍTULO EM BRANCO (art. 891, CC29; Súmula STF 38730)
1.5.1.3.1 O que faz se tornar título é o preenchimento com todos
requisitos, senão é um pedaço de papel.
1.5.1.3.2 Título sem data: não é título, se não coloquei data não queria
título. Começaram a dar um viajada, se eu criei o título, eu
intencionalmente não quis colocar a data, portanto a minha vontade e
a interpretação literal dele seria que ele é sem data, portanto não é
título e eu não queria criar um título, pois criei um título sem data e
para ser título tem que colocar data. Só que tem um problema aí.
1.5.1.3.2.1 2 momentos do título: título de crédito representa um
crédito, e esse crédito é uma confiança ao longo do tempo, logo
vou ter 2 momentos desse título.
1.5.1.3.2.1.1 Emissão/Saque
1.5.1.3.2.1.1.1 Quando crio, tenho que ter respeito ao
formalismo (valor, data, beneficiário). Faltando um dos
dados (valor), em regra (interpretação literal), não é título.
Se faltar um desses dados na emissão significa dizer que
não é um título de crédito? Não, pois pode ser preenchido
depois, pois o título passa a ser exigível a partir do
vencimento. Então, se a exigibilidade passou a existir a
partir de tal ponto, sendo este o marco para analisar a
presença dos requisitos. Posso emitir em branco, mas não
executá-lo em branco. Durante esse interregno posso
preencher o título, desde que o faça de boa-fé. No
vencimento, deve ter todos os requisitos. A literalidade se
aplica na apresentação do título. Nesse meio tempo
pode-se preencher o título DE BOA-FÉ.
1.5.1.3.2.1.1.2 Se colocar de má-fé, como interpretar o título,
tenho como me defender? Vai tomar execução. Mas isso
não é injusto? Para combater isso, não dar título com valor
em branco, ser preventivo. A outra forma é embargos à

29 Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade
com os ajustes realizados.
Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes previstos neste artigo pelos que deles participaram, não
constitui motivo de oposição ao terceiro portador, salvo se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.
30 Súmula 387, STF: "A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo
credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto".

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execução31 (e não anulatória. Embargos à execução
possui carga eficacial preponderante anulatória, constitutiva
negativa) pode discutir qualquer matéria lícita e deduzível
em processo de conhecimento. Pode discutir se era 100 e
não era 1.000.
1.5.1.3.2.1.1.2.1 Mas o título circula, contra quem
propor esse embargo? Tenho relação jurídica com a
pessoa que alterou preencheu o valor de má-fé, posso
discutir com ele, ambos sabem quanto foi estabelecido
quando foi passado o título para ele. Mas para a
Mariana e outros que receberam o título depois não
sabem porque o título chegou com aquele valor. Outras
pessoas podem ter preenchido de má-fé e outras
pagaram o valor acreditando nele. Traz segurança
porque não vai discutir (relação abstração-autonomia x
inoponibilidade das exceções pessoais).
1.5.1.3.2.1.1.2.1.1 Mas primeiro paga (se conseguir
suspensão da execução com garantia do juízo ou
exceção de pré-executividade), depois discute. O
crédito circulou. Conforme foi circulando, o título que
deveria ser 100 e foi 1.000, fez circular o valor
preenchido de má-fé perante terceiros.
1.5.1.3.2.1.1.2.2 Como provar boa ou má-fé em um
título em branco? É razoavelmente comum emitir título
com valor em branco (cheque). Para amarrar isso e ter
mais segurança, pode vincular a relação jurídica por
meio de um contrato. Mas posso clausular em contrato
eu devedor originário com o próximo de que a nota
representa a quantia de 100, atualizada até a data de
eventual execução. Se cobrar muito acima disso,
consigo provar que foi preenchida a nota de forma
abusiva, não sendo respeitada a cláusula do contrato.
Essa cláusula vincula somente eu e a pessoa que
recebeu a nota de mim, não os demais endossantes. Se
outros vierem me cobrar, tenho que pagar o valor errado
da nota e depois entrar com ação contra quem dei a
nota, que preencheu de forma abusiva, para me
ressarcir. Voltamos para o processo de conhecimento.
Primeiro pago, depois discuto = crédito é sagrado,
circulou, tem segurança sem ter a ver com contrato, a
pessoa recebeu só o título, vale o que está nele. O título
é válido, o vício está na relação entre o devedor e quem
preencheu de má-fé.

31 Não é anulatória, pois não há vício no título propriamente dito.

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1.5.1.3.2.1.2 Vencimento da obrigação
1.5.1.3.2.1.2.1 Momento da apresentação. Aqui deve estar
com todos requisitos cumpridos. Preserva-se a literalidade.
1.5.2 AUTONOMIA
1.5.2.1 Obrigações representas por um mesmo título de crédito são
independentes entre si. Se uma dessas obrigações for nula ou anulável,
eivada de vício jurídico, tal fato não comprometerá a validade e eficácia
das demais obrigações constantes do mesmo título de crédito
1.5.2.2 Na abstração comparo a obrigação - relação fundamental (acordo
de vontade) que deu origem ao título de crédito sendo abstrata em
relação à relação cambiária.
1.5.2.3 Aqui digo que as obrigações cambiárias são autônomas entre
si (circulação - endosso)
1.5.2.3.1 As transferências são autônomas entre si. Se tiver vício em
uma, não afeta as outras. Preserva o título como um todo
1.5.2.3.1.1 Digamos que o título foi perdido. Foi achado e foi
repassado. Esse vício não pode ser alegado contra quem recebeu
esse título achado.
1.5.2.3.1.2 Ex. Relação entre fulano e beltrano (relação civil
escrita ou verbal, compra e venda de cachimbo de craque - nula)
abstraio ela da cambiária. O beltrano é o credor e fulano é o
devedor. O devedor vai passar o título, este vai circular e depois
vai ser apresentado para ele. O devedor tem como garante da
obrigação do título um avalista (aval32 - assim como o título pode
circular, ele pode ser garantido). Mesmo que seja objeto ilícito o
contrato (relação jurídica fundamental) o avalista poderá ser
exigido da cobrança do título de crédito por quem tiver o título, não
só ele, mas todos que endossaram, o devedor original e inclusive
o beltrano (solidariedade cambial). Digamos que o beltrano
circulou a nota para cicrano e este teve a nota roubada por Caio
que vendeu para tício, quem apresenta o título. Essa relação
jurídica entre cicrano e caio é nula. Mas, Tício poderá cobrar
Cicrano, pois a nulidade de um ato não afasta o outro. Cicrano irá
pagar, resgatar e exigir, podendo exigir de Caio, é indenizável,
terá que ajuizar indenizatória contra o ladrão Caio (óbvio que
ninguém faz isso), pois pagou duas vezes. Tício não quer saber

32 Quando pensamos em garantia fidejussória (garantia baseada na confiança) normalmente pensamos no


fiador. Poderia ter um fiador nessa relação jurídica? Poderia, mas ele estaria vinculado no contrato, na
relação jurídica fundamental, é fiador do contrato (relação acessória de fiança, se anula o contrato,
anula a fiança, o acessório segue o principal). No título de crédito, posso trazer mais segurança para o
crédito sem esse critério de que o garante fica vinculado ao contrato, tornando ele autônomo através do
aval. Se tenho um vício no contrato, não posso exigir do fiador, mas se há um avalista no título de
crédito, o credor pode exigir do avalista. É mais simples, pois não precisa de contrato e seguro. A
relação do avalista é autônoma

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se o título surgiu para pagar um cachimbo de crack ou que o título
foi roubado, ele quer saber que ele pagou 180 pelo título e quer o
pagamento de 200, inclusive exigindo do avalista. Não se discute
relação, se fosse discutir relação em mercado de crédito, ninguém
mais vai comprar crédito e o valor vai subir pelo aumento do risco.
Trazer segurança é para favorecer o sistema de crédito e não a
compra e venda de bens ilícitos. No exemplo, Tício não poderia
exigir o título somente se houvesse conluio entre todas as partes,
inclusive dele com caio ou por vício de forma, pois se há tal vício,
não é título executivo (ataca a relação cambiária), e o que circulou
não é endosso (mas, sim cessão, puxando regras das validades
dos atos, onde não há autonomia mas sim subsidiariedade),
aplicando-se a regra do direito civil e derruba tudo pela nulidade.
1.5.3 ABSTRAÇÃO33
1.5.3.1 Direitos decorrentes do título são abstratos
1.5.3.1.1 Uma coisa é a relação jurídica que deu origem ao título, outra é
o título. Os direitos decorrentes do título são abstratos, não
dependentes do negócio que deu nascimento ao título. A abstração
do direito nasce do título, significando que esse direito, ao ser
formalizado se desprende da causa, dela ficando inteiramente
separada. Essa é a regra da abstração, a exceção são os títulos
causais, pois não são independentes da causa.
1.5.3.1.2 Relação Jurídica Fundamental (causa)
1.5.3.1.2.1 Ajuste de vontade entre pessoas tem uma causa. A
relação jurídica fundamental.
1.5.3.1.2.2 Passei um título de 100 por um motivo. Empréstimo,
doação, compra e venda de um bem. Ajuste de vontade
(verbal/escrito) e outro ajuste materializando o pagamento por
uma nota promissória. Se é originário de relação ilícita
(pagamento de dívida de jogo) não afeta o título.
1.5.3.1.2.2.1 Quando crio a nota promissória, crio outro vínculo
(autônomo e independente) - nasce da compra e venda do
notebook p. ex. Só existe por causa desta, mas é
completamente diferente, abstrata em relação à primeira. Foi
criada para circular (Relação Jurídica Cambiária)
1.5.3.1.3 Relação Jurídica Cambiária (Crédito materializado no título)
1.5.3.1.3.1 Ex. Crio a nota para aumentar o grau de formalismo
para cumprir um ajuste de vontade de maneira simples, segura e
ágil para receber dinheiro. Quando crio essa nota, faço outro
vínculo jurídico, que tem origem na relação fundamental, mas dela
se abstrai (sair de).

33 Herança do período alemão, necessidade de ampliar a circulação

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1.5.3.1.3.2 Só existe por causa da relação fundamental, mas é
diferente dela e se abstrai desta, pois foi criada para circular
1.5.3.1.3.3 Foi criada para circular. Permite circular. Nota
promissória do Notebook comprada por terceiro para quem
vendeu o note colocar a mão no dinheiro.
1.5.3.1.3.3.1 Colocar a mão no dinheiro antes
1.5.3.1.3.3.2 Se não for independente da relação fundamental
para que depois quando o credor vier cobrar o devedor este
não possa alegar que havia vício/nulidade no contrato e se
negar a pagar. Isso não pode, não é ágil ou seguro. Não
interessa se teve vício, o que importa é o que está no Título
que diz que pagarei ao Ramiro ou a sua ordem.
1.5.3.1.3.3.3 Se não quer que o título circule: colocar o "NÃO"
no lugar de "à sua ordem"
1.5.3.2 Afetação da Abstração pela Circulação: coagi a compra e venda
do notebook por nota promissória. Ela vale, mas se eu, executar o
Ramiro, depois de eu ter coagido (vício de vontade) ele a realizar a
compra e venda, ele pode apresentar defesa contra mim (oponibilidade
das exceções pessoais - embargos)
1.5.3.2.1 Se título não circulou - abstração não é plena. (Hipótese: usou
cláusula "não a ordem")
1.5.3.2.1.1 Possibilidade de oponibilidade de exceções pessoais
sobre ambas relações *EXCEÇÃO PESSOAL CONTRA O
TÍTULO??. Embora sejam coisas diferentes, a Nota Promissória
que está sendo executada por ajuste de vontade, as relações
jurídicas envolvem as mesmas pessoas, podendo apresentar as
exceções pessoais nos embargos à execução. Relação fica
adstrita às partes originais
1.5.3.2.1.2 Dívida de jogo, estou executando o Ramiro. Ele pode
se defender nos embargos. Pois, embora sejam relações
diferentes, a nota promissória que está executando pelo ajuste de
vontade que fizemos, as relações jurídicas envolvem as mesmas
pessoas. Então, ele pode apresentar exceções pessoais
(exceções de quem participou do negócio - como se fosse uma
defesa num processo de conhecimento). Tiro um pouco da
segurança na hipótese do título não ter circulado.
1.5.3.2.2 Se título circulou (endosso)- abstração plena. Independência
das relações
1.5.3.2.2.1 Posso ter a nulidade da relação fundamental e não
impactar na nulidade do título. Não posso alegar os vícios da
relação fundamental contra outras pessoas que endossaram o
título, somente contra quem há relação jurídica fundamental.

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1.5.3.2.2.2 Pede ressarcimento da outra parte da relação
jurídica fundamental, após cumprir a obrigação constante do título
para com credor
1.5.3.2.2.2.1 No caso da nota promissória da dívida de jogo do
Ramiro. Não posso alegar exceção pessoal contra a Mariana
que está com a nota agora. Posso resgatar o tema da relação
fundamental só contra o Ramiro em ação de conhecimento
para ressarcimento dos prejuízos, não contra outra pessoa que
tenha a posse do título em sede de embargos à execução.
1.5.3.3 Exceção à Abstração
1.5.3.3.1 Títulos Causais: cria a título e a causa vai junto.
1.5.3.3.2 Ex: Duplicata Mercantil - causa continua vinculada, pois consta
no próprio título a causa. É criada, com base necessária um compra e
venda ou prestação de serviço mercantil/empresarial. No próprio título
há um campo com número da fatura em que foi realizada essa
compra e venda. Isso quer dizer que no próprio título está dizendo
que houve uma compra e venda vinculada à fatura nº X. Portanto,
todos que compram esse crédito da duplicada, sabem que ele está
vinculado à uma causa.
1.5.3.3.3 Ex. Cédula de Crédito Rural, Bancário, Industrial, Imobiliário.
Nesses títulos a causa está vinculada ao título. Não é qualquer
crédito, é o crédito vinculado a determinado orçamento para fins de
concessão (só vou dar esse crédito exatamente por conta de uma
circunstância, peculiaridade que é o incentivo ao desenvolvimento do
ambiente rural, bancário e etc.)
1.5.3.4 CASO. Se um comprador de um bem a prazo emite nota
promissória em favor do vendedor e este paga um dívida dele, perante
terceiro, transferindo-lhe o crédito representado pela nota promissória,
caso o bem vendido venha a ser restituído ao vendedor em razão de
vício redibitório, o comprado se libera da obrigação de pagar o título junto
ao terceiro? Como deve proceder?
1.5.3.4.1 Relação jurídica subjacente/material de compra e venda com
vício redibitório
1.5.3.4.1.1 Bem restituído ao vendedor, comprador já pagou o
preço na CV e está sem o bem que comprou
1.5.3.4.2 Criação de nova relação com a nota promissória. Vício não
está aqui, mas na compra e venda.
1.5.3.4.2.1 Vendedor transfere o crédito da NP para 3º (não o
crédito da CV)
1.5.3.4.3 Vendedor está com $ e com bem
1.5.3.4.3.1 Terceiro nada tem a ver com isso. O 3º tem uma nota
com promessa de pagamento do comprador, não se liberando da

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obrigação de pagar em razão de vício redibitório no contrato de
compra e venda.
1.5.3.4.4 Comprador deve pagar (quitou relação jurídica cambiária),
resgatar o título, e demandar ressarcimento perante o vendedor da
compra e venda frustrada. O crédito fica a salvo. Discussão separada
da compra e venda, comprovação de vício redibitório.
1.5.3.5 História do caso do Contrato de Abertura de Crédito e Extrato:
Súmula 258 - A nota promissória vinculada a contrato de abertura de
crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a
originou. Mesmo subscrito pelo eventual devedor e assinado por 2
testemunhas, o CAC em conta corrente não é título executivo
extrajudicial, ainda que a execução seja instruída com extrato e que os
lançamentos fiquem devidamente esclarecidos, com a explicitação dos
cálculos, dos índices e dos critérios adotados para a definição e a
evolução do débito, pois esses são documentos unilaterais de cuja
formação não participou o devedor. A iliquidez atinge a nota promissória
a ele vinculada, que, na hipótese, não goza de autonomia.
1.5.3.5.1 História que revela como funciona o mercado de crédito e
como o Direito Empresarial e a relação de crédito se adaptam às
dificuldades postas no caminho
1.5.3.5.2 Popularização dos contratos de abertura de crédito em conta
corrente
1.5.3.5.2.1 Antigamente só tinha poupança. Banco como
guardião do dinheiro.
1.5.3.5.2.2 Depois vinha embutido um contrato de financiamento
pré-aprovado (limite do cartão de crédito - crédito pessoal)
1.5.3.5.2.3 Pessoas estouram a conta, deixam de pagar, excede
limite e bloqueia a conta
1.5.3.5.3 Banco tinha a conta que vinha elevando juros, mas não
pagava. Ia cobrar. Mas como?
1.5.3.5.3.1 O banco tem na mão um contrato de abertura de
crédito. Ele pode executar esse contrato ou tem que submeter a
uma ação de cobrança?
1.5.3.5.3.1.1 Não pode cobrar em execução pois não tem titulo
executivo
1.5.3.5.3.1.2 Contrato assinado por duas testemunhas não é
título executivo?
1.5.3.5.3.1.2.1 Obrigação constante do título deve ser certa,
líquida e exigível.
1.5.3.5.3.1.2.2 Esse contrato não é líquido, quando abre o
contrato não sabe quanto vai dever

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1.5.3.5.3.1.2.2.1 Bancos tentavam juntar o contrato
assinado por 2 testemunhas + extratos para dizer que a
liquidez estava nos extratos
1.5.3.5.3.1.2.2.1.1 Judiciário: título deve ser líquido,
não pode complementar o título com outro
documento (princípio da independência). Todos
elementos deve estar nos títulos. No máximo pode
uma monitória.
1.5.3.5.3.2 Banco não se deu por vencido
1.5.3.5.3.2.1 Banco vinculou abertura do contrato de conta
corrente à emissão de Nota Promissória em branco. Se der
problema, o banco preenche a nota baseada no extrato e
executa a nota.
1.5.3.5.3.2.1.1 Conduta abusiva contra consumidor. Prática
nula. Não pode exigir para abrir conta ter nota promissória
em branco. Embora relações distintas, problema na origem.
Negaram a estratégia dos bancos. Entendimento sumulado.
1.5.3.5.3.2.1.1.1 OBS: não é bem "autonomia". Aqui
empregada não no sentido do princípio da autonomia,
mas de "ser independente de". Tecnicamente, seria
melhor falar em abstração.
1.5.3.5.4 Banco se socorre do Poder Legislativo
1.5.3.5.4.1 Criou lei valendo só para bancos dizendo que a
dívida pode ser representada, desde que assinada pelo devedor
(controle contra abuso contra o consumidor), em Cédula de
Crédito Bancário (título de crédito)
1.5.3.5.4.1.1 Negociador do banco procura consumidor
oferecendo parcelamento da dívida com redução de juros.
1.5.3.5.4.1.2 Volta a ter acesso a crédito, paga a dívida, mas
antes se não pagasse, teria que ajuizar ação de cobrança.
Agora, assinado o contrato de reparcelamento que é uma
cédula de crédito bancário junto do extrato, vai tomar uma
execução. Ganha uma vantagem econômica (parcelamento,
menor taxa de juros), mas de outro lado entregou técnica,
ferramenta para ser exigido. O banco tem título executivo de
natureza cambiário, o qual o banco pode fazer circular.
1.5.3.5.4.1.3 Não há o abandono do título de crédito. Criou-se
um on demand. É a origem da cédula de crédito bancária, as
coisas vão se amoldando a partir de necessidades práticas e a
partir de soluções. O único detalhe é ser um banco.
1.5.3.5.4.1.4 Lei deu segurança para o banco (além do lobby
forte no Congresso) porque o crédito fica mais barato, e sendo

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mais barato, beneficia todos economicamente. Incentivo para
concessão de crédito.
1.5.4 CARTULARIDADE
1.5.4.1 Um pedaço de papel, mas não qualquer pedaço de papel (traz
segurança). Normalmente se interpreta esse princípio como documento
físico, no papel.
1.5.4.2 Para que o credor de um título de crédito exerça os direitos por ele
representados é indispensável que se encontre na posse do documento
(também conhecido por cártula)
1.5.4.3 Cártula = documento. Título de crédito será materializado num
documento. Nas definições vimos que o que variava era a ideia de
documento e de instrumento para leal exercício do direito. Existia
dicotomia entre duas formas de celebrar relações jurídicas: oral ou
escrita. Se oral, menor formalidade, como efeito insegurança jurídica,
não tem como saber o que foi combinado. Os títulos de crédito são
concebidos para trazer os valores de segurança, agilidade e
simplicidade, se pensa em materializar isso num papel.
1.5.4.3.1 Quando falo em documentação e nessa dicotomização, só
consigo segurança no papel? Na época, era a melhor solução, hoje é
colocada em dúvida a segurança e eficiência do papel ante a
informática (criptografia, blockchain) que traz segurança até na
circulação do crédito. Isso não passou desapercebido pelo CC, já
trazia possibilidade de criação de "títulos eletrônicos", feitos por
símbolos e siglas virtuais. Nada impede que os títulos de crédito
sejam eletrônicos.
1.5.4.3.2 Reflexão é definir o que é um documento? É um PDF? Não é
uma cártula, não é mais uma questão de meio mais do que de
documentação? Quando pensamos no princípio da cartularidade,
normalmente se interpreta como doc físico no papel. Cartularidade
não combina com blockchain, remetendo que o título será produzido
numa cártula física.
1.5.4.3.3 Formalismo é grande para garantir segurança. Quando pode
usar eletrônica? Posso ter uma Nota Promissória em PDF? Tenho
dificuldade de criar título de crédito eletrônico, porque tenho
dificuldade de saber onde ele está, posso ter mais de 1 PDF, quem é
o dono dele? Como superar? Ele pode ser copiado, quem é o dono
do crédito? Como superar isso?
1.5.4.3.3.1 Supera criando títulos escriturais nominativos,
mas essa forma tem um preço. Posso circular o título (vale para
duplicata eletrônica), quando crio esse título, eu o escrituro nos
meus registros contábeis e cobro de alguém a duplicata (é titular
do crédito só quem está na duplicata, e quem está nela, está nos
meus registros contábeis. Tem que ter essa burocracia de

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certificação do crédito. Quando circular em geral esse título
nominativo tem que comunicar o devedor para mudar sua
escrituração, enquanto não alterar não está feita a transferência.
O preço para fazer isso atinge os valores da agilidade e
simplicidade para priorizar a segurança. Quem define se isso é
bom ou ruim? Quem usa, faz como quer. Pode buscar segurança
com maiores ou menores doses. Existe meio para duplicata, com
preço de agilidade e simplicidade.
1.5.4.3.4 Não posso emitir Nota Promissória e Letra virtuais pelo
formalismo. Não há previsão legal de que pode ser virtual, se for
virtual, não é título de crédito (característica do formalismo, que
atribui segurança ao título e força executiva com a previsão legal).
LUG da década de 1930. Alguns autores dizem que esse princípio
está deixando de existir, para Tanger está apenas mudando de meio,
flexibilizando, ao poder circular um título via BlockChain, apenas há
restrição de simplicidade, pois há necessidade de alguém estar
operando esse sistema.
1.5.4.4 Exceção
1.5.4.4.1 Lei das Duplicatas admite a execução judicial de crédito
representado por este tipo de título sem a sua apresentação pelo
credor (LD, art. 15, § 2º)
1.5.4.4.2 Títulos Escriturais: "são títulos que não tem cártula, nascem e
atuam por via de computador, por e-mail, por internet".
1.5.4.4.2.1 Ex. Duplicata Virtual
1.5.4.4.2.2 Art. 889, § 3º, CC: O título poderá ser emitido a partir
dos caracteres criados em computador ou meio técnico
equivalente e que constem da escrituração do emitente,
observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.
1.5.5 INDEPENDÊNCIA
1.5.5.1 Comum aos títulos executivos em geral, não somente dos títulos
de crédito
1.5.5.2 Ideia de que o título seja materializado em um único documento.
O título vale por si só, não precisando ser completado por outros
documentos.
1.5.5.2.1 Quando procuro certeza, liquidez e exigibilidade quando
procuro as características extrínsecas do título, tem que estar em um
único título, no mesmo documento (caso da juntada dos extratos
pelos bancos). A regra é que todos os elementos constitutivos do
título, devem estar no mesmo documento, olhando para ele devo
saber quem deve, para quem deve, quando e quanto é devido e o
quê é devido. Tem que estar na mesma cártula.

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1.5.5.3 Exceções: permitem que forme título de crédito a partir de 2
documentos, aqueles ditos pela lei que irão formar. Mesmo dentro da
exceção, a resposta está na lei. Não olho apenas para um documento. É
exceção ao valor da simplicidade. Para valer o título, o legislador montou
um combo para valer o título.
1.5.5.3.1 Cédula de Crédito Rural deve vir acompanhada de orçamento
(art. 3º, Decreto-Lei nº 167/67)
1.5.5.3.2 Cédula de Crédito Bancário deve vir acompanhada dos
extratos (art. 28, § 2º, II, Lei nº 10.931/04)
1.5.5.3.2.1 Tem a cédula, como se fosse um formulário, a lei diz
que essa cédula será completada pelo extrato (problema da
liquidez), mesmo que consumidor vá até o banco e renegocie a
dívida, ela pode aumentar, fazer correção. Cobra o valor da
cédula, complementando a cédula com o extrato, isso vale em
geral para todos financiamentos. Na cédula de crédito comercial,
industrial, rural e etc. tem que vincular a cédula a um outro
documento para comprovar que está usando para obra e etc. a
uma certa atividade para vincular aquele orçamento.
1.6 CLASSIFICAÇÃO
1.6.1 Quanto à Tipicidade
1.6.1.1 Típicos
1.6.1.1.1 Segue o que está na Lei. Lei cria o contorno, se segue o
contorno, e dele surge uma relação jurídica (suporte fático +
consequência). Lei traz um grande suporte fático (requisitos de
formação) vai ter a consequência jurídica (formação de nova relação
jurídica, de um título de crédito, que permite circulação a partir do
endosso). Lei diz que são títulos e como são feitos, basta seguir o rito
da lei e vai ter o efeito jurídico próprio
1.6.1.2 Atípicos
1.6.1.2.1 São previstos e permitidos pela Lei. Ela diz que é possível criar
títulos que não tenham previsão legal (CC). O problema é que por
não estar previsto na lei, não vai ter força executiva. Será um título no
sentido de cartularidade, documentado, que traz uma certa
segurança, que posso fazer circular pela cessão, mas não consigo
cobrar por falta de previsão legal. Executividade nasce dessa força
dada em lei. Ideia de tipicidade dentro do formalismo legal está
presente aqui, trazendo segurança e agilidade na execução, mas
ainda assim posso formar o documento. Traz talves apenas mais
clareza do objeto, se não dá para cobrar... Direito Empresarial cresce
com base em uso e costumes. Hoje é um título atípico, mas o uso faz
tanto eco que talvez amanhã o legislador considere ser título.
Exemplo das criptomoedas, que nasce do vácuo jurídico, as pessoas

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começam a usar e tem que começar a regular. O Uber veio assim
também, o Direito corre atrás da máquina.
1.6.2 Quanto ao Modelo
1.6.2.1 Livre
1.6.2.1.1 A forma não precisa observar um padrão normativamente
estabelecido. Os seus requisitos devem ser cumpridos para que se
constituam títulos de crédito, mas a lei não determina um modelo
formal específico para eles.
1.6.2.1.1.1 Ex. Letra de Câmbio, Nota promissória. Exemplo da
a la minuta.
1.6.2.1.2 Não basta atender aos requisitos de formação (ingredientes),
mas também com a forma como o título é apresentado (forma como
executo no papel, pensando na ideia de cartularidade). Alguns vão ter
sempre a mesma apresentação, outros posso apresentar do jeito que
quiser, desde que atenda os requisitos de formação (se não
atendidos, não é título de crédito).
1.6.2.2 Vinculado
1.6.2.2.1 O Direito definiu um padrão para o preenchimento dos
requisitos específicos. Vai além dos ingredientes, há vinculação
quanto ao modelo, deixando de ser título de crédito. Além dos
requisitos, tenho que montar um modelo de um único jeito, para ter
segurança, já sabe onde estão as coisas, o que fazer e o que não
fazer. No cheque, só pode mudar o logo do banco e a cor do papel.
1.6.2.2.1.1 Ex. Cheque e a Duplicata Mercantil.
1.6.3 Quanto à Estrutura da Obrigação Constante do Título
1.6.3.1 Ordem de Pagamento34
1.6.3.1.1 O saque cambial dá nascimento a três situações jurídicas
distintas: a de quem dá a ordem, a do destinatário da ordem e a do
beneficiário da ordem de pagamento. Exemplo do Cheque e na Letra
de Câmbio. Correntista dá ordem ao banco para pagar ao beneficiário
do cheque. Beneficiário apresenta cheque ao banco. Vínculo do
correntista com banco é do contrato de conta corrente. Relação do A
com C que pode ser uma compra e venda que foi paga com cheque.
São duas relações jurídicas completamente diferentes uma da outra e
consolido ambas em uma só, é redução de complexidade,
34 É diferente de colocar o "C" através de endosso em uma Nota Promissória, pois a estrutura da
obrigação não permite. O B é beneficiário da nota e o A é o devedor. Chama-se o C através do endosso,
passando-se o crédito a ele para que ele possa exigir do A. Só que na ordem de pagamento, o A saca o
título para dar uma ordem para o B e essa ordem pode ser aceita ou não aceita. Se ele aceita, ele passa
a ser o devedor principal da Letra e o A não vai dever para o C. B pagando, vai se ressarcir do A. Na
Nota Promissória, o A prometeu e vai ter que cumprir. Ainda, se houvesse um avalista do A na nota
promissória, o Aval é uma garantia fidejussória, constituindo-se em relação jurídica cambiária autônoma
assim como o endosso, não entrando na estrutura da obrigação.

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favorecendo o beneficiário que agora não recebe apenas uma
promessa de que pagarei, mas que terá um crédito que pode
apresentar para o banco pagar.
1.6.3.1.1.1 Relação que envolve A e B (contrato, relação de
débito e crédito). Mas, posso ter relação direta em que A promete
pagar determinada quantia para o B (não importa o sinalagma, a
razão de pagar determinada quantidade) em um determinado
tempo. Há uma promessa de pagamento, mas pode haver outra
relação jurídica mais sofisticada, mas que pode ser redutora de
complexidade envolvendo A, B e C, onde o A (sacador) dá uma
ordem para que o B (sacado) realize o pagamento para o C
(beneficiário/) e isso tudo estará constante no título. Pode ser uma
ou outra alternativa em termos de estrutura da obrigação
cambiária. Consolida essas obrigações no próprio título.
1.6.3.1.2 Exemplo
1.6.3.1.2.1 Cheque: eu, correntista, dou ordem para o Banco
pagar para o beneficiário do Cheque. Ele pega o cheque e
apresenta para o banco, porque ele aceitou a ordem. A relação
jurídica entre correntista e banco nasce do contrato de abertura de
conta corrente. Há essa relação fundamental de conta corrente
entre eu e o banco e outra possível relação fundamental entre eu
e o beneficiário do cheque que pode ser uma compra e venda
paga com o cheque. São duas relações jurídicas completamente
diferentes e eu consolido as duas numa só. É uma redução de
complexidade e favoreço o beneficiário que agora não só receberá
um "prometo que paguei no final do mês", mas que tem um
cheque que poderá apresentar ao banco para receber. Consolido
essas obrigações no próprio título.
1.6.3.1.2.2 Letra de Câmbio
1.6.3.2 Promessa de Pagamento
1.6.3.2.1 Apenas duas situações jurídicas distintas. Exemplo da Nota
Promissória
1.6.4 Quanto às Hipóteses de Emissão (natureza)
1.6.4.1 Causais
1.6.4.1.1 Somente pode ser emitido se ocorrer o fato que a lei elegeu
como causa admissível para sua emissão. Saber olhando para o
título (literalidade). Se ver a causa, é importante, senão, não é causal.
Não há lei dizendo, basta que nos elementos do título esteja
presente, basta saber o que está no título, é uma redução de
complexidade, basta olhar para ele.
1.6.4.1.1.1 Ex. Cédula de Crédito Bancária

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1.6.4.1.1.2 Ex. Duplicata Mercantil: nº da fatura (compra e venda
mercantil - livro de faturas com numeração.). Quem recebe crédito
sabe que é decorrente daquela operação, de qual compra e
venda. A causa anda junto com o título.
1.6.4.2 Não Causais
1.6.4.2.1 Pode ser criado por qualquer causa, para representar
obrigação de qualquer natureza. Títulos sem causa definida. Nota
Promissória. É a regra, a ideia é o título ser livre, apenas para injetar
crédito no mercado.
1.6.5 Quanto à Circulação
1.6.5.1 Portador (ligado à transferência da titularidade - simples tradição.
Portador)
1.6.5.1.1 Os títulos ao portador não identificam o credor e são, por isso,
transmissíveis por mera tradição. Identificado com possibilidade de
circulação mediante mera tradição. Seria o que não está indicado o
beneficiário, aquele que porta é o titular do crédito. Hoje em dia, é
mais comum no cheque sem indicação de beneficiário. É requisito do
cheque indicar o beneficiário ("cheque nominal" não existe, pois é
requisito). Não confundir com título nominativo. Maneira de provar
que é credor é ser portador do título, se eu não estiver portando o
título, não posso cobrar, pois somente o portador pode exigir, quem é
o beneficiário é outro problema, somente ele pode exigir, mas se
portar o título. Portar e ser legitimado são coisas diferentes. Portar é
um fato.
1.6.5.1.2 Relação de crédito vinculada ao título.
1.6.5.2 Nominativos
1.6.5.2.1 Circulou o papel, o nome que está nele está valendo.
1.6.5.3 Escritural (ligado à transferência da titularidade - registro do credor
no registro do credor - portador nominativo. Credor se apresenta)
1.6.5.3.1 Papel não garante titularidade do crédito
1.6.5.3.2 O nome do favorecido consta de registros do emitente (art.
921, CC) e cuja circulação depende, além da tradição, a prática de
um negócio jurídico-cambial, ou seja, de alterações neste registro.
1.6.5.3.3 Circulação depende além da tradição. Não basta entregar a
posse do título, tem que alterar nos meus registros de que o título não
é mais meu, mas é de quem a quem circulei e indicar para o devedor
para saber que não deve mais para X, mas para Y, ele podendo me
cobrar por estar anotado nos meus registros, não precisando portar.
Por isso são chamados de títulos escriturados, pois tem que fazer
escrituração nos meus documentos. Trago segurança para operação,
mas perco simplicidade e agilidade.

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1.6.5.3.4 Relação de crédito desvinculado do título. Consta nos registros
do devedor quem é o credor e não no título. Assim, credor pode se
apresentar e receber, não precisa apresentar o título. Pode entregar o
título e se não estiver anotado que o portador é o credor, o devedor
não vai pagar.
1.6.5.4 À Ordem
1.6.5.4.1 O nome do beneficiário consta do teor do documento, mas
permite-se a transferência do título mediante simples endosso, sem a
necessidade de comunicação do emitente. Permite a circulação pelo
simples endosso. Informação deve ser buscada no título, é um tema
circunstancial a menos que seja título vinculado a um modelo, que
sempre terá a mesma estrutura.
1.6.5.4.2 Exemplo
1.6.5.4.2.1 Cheque
1.6.5.5 Não à Ordem35
1.6.5.5.1 O nome do beneficiário consta do teor do documento, mas
impede o endosso, sendo permitida somente a cessão de crédito.
Não permite circulação por simples endosso. Informação deve ser
buscada no título, não constituindo em classificação a priori entre
títulos não a ordem e título a ordem, pois esse tema é circunstancial,
exceto se for um título vinculado a um modelo, o qual terá que ter
aquela determinada estrutura.

35 Dúvida de efeitos práticos, a questão da ordem e não a ordem serve para possibilitar o endosso ou não.
Não a ordem, por que vou me importar se a quem eu entrego a nota vai fazer ou não endosso, se essa
pessoa pode fazer a cessão do crédito no final das contas? Resposta: se eu permito circular por
endosso, estamos a tratar de uma questão de estímulo econômico da circulação. Se permito circular por
endosso, vai circular de forma mais fácil ou mais difícil (mais barata ou mais cara?). Será mais fácil e o
deságil de quem recebe será menor, é um estímulo à circulação. Se não quero que circule, posso
desestimular, considerando que há uma assinatura no verso, uma sendo cessão e outra endosso.
Quando eu cedo por cessão, digamos que o Fábio é devedor e passou o crédito para o Augusto e este
cedeu para a Mariana. A Mariana só poderá cobrar do Fábio se for cessão, pois Augusto é obrigado a
garantir a existência do crédito, mas não é obrigado a garantir a solvência do devedor. É parecido com a
compra de precatório. Se o Estado não me paga, posso cobrar de quem me vendeu? Não, pois é uma
cessão. Se fosse endosso, Augusto é credor do Fábio, ele endossou para a Mariana, ela pode cobrar
tanto do Fábio como do Augusto. Logo, para ela será mais interessante o endosso, ela irá pagar mais
para o Augusto, que receberá mais por essa circulação, porque ela terá garantia de ambos. Mas e o
devedor (Fábio)? Se a relação entre Fábio e Augusto for uma dívida de jogo e o Augusto recebeu o título
e passou por endosso para a Mariana, ela não quer saber se é dívida ou não tendo comprado de boa-fé.
Mas, se foi por cessão, Fábio não vai pagar alegando que a dívida é nula. Mariana comprou um crédito
podre. No endosso, o devedor paga a quem foi endossado, na cessão, se for nulo o crédito, não pagará.
Ao dizer que o crédito não é transmissível via endosso, se está a dizer que o devedor vai querer discutir
a relação que deu causa ao título. Endosso é bom para quem recebe e ruim para quem vai ter que
pagar, na cessão há oponibilidade das exceções possíveis (juros abusivos e etc.). Se for comprar por
cessão (cláusula não ordem) primeira coisa a fazer é investigar a origem desse crédito. No final das
contas, é a possibilidade de discutir a relação. Do ponto de vista negocial quem tem interesse em
colocar cláusula a ordem é o credor, que só aceita receber nota em 6 meses para passar com deságio e
colocar dinheiro no bolso.

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1.6.5.5.2 Para colocar essa "cláusula", basta riscar o "ou" e escrever
"Não".
1.6.5.5.2.1 Quando a ordem, posso passar por endosso esse
cheque, pois quando apresento ele para pagamento, significa que
eu quando for receber o dinheiro do banco, vou assinar no verso
para eu passar por endosso para o banco, para ele poder cobrar o
correntista. Assino no verso e devolvo para o banco para que ele
possa fazer o sistema de compensação.
1.6.5.5.2.2 Na nota promissória, posso circular e receber
imediatamente o dinheiro, com deságil, antes do vencimento por
meio do endosso.
1.6.5.5.2.3 Se for não a ordem, quando emito a Nota
Promisssória, prometo que vou pagar só para o Augusto e não a
quem ele mande. O Augusto, credor tem um direito de crédito. É
um direito disponível, e ele pode vender o crédito. Só que ao
realizar essa Cessão de crédito, não é endosso. Com isso, não se
operam os efeitos cambiários, afastando a abstração. Quem
compra o crédito, vai ter que discutir relação fundamental com
quem vendeu. Se fosse cedido por endosso, não precisaria
discutir relação fundamental. Limito os efeitos cambiários na
circulação do título ao estabelecer uma cláusula não a ordem. Não
impede de circular o crédito em si, mas impede de circular pelo
endosso como um crédito materializado em título de crédito, vai
circular como se fosse um crédito comum.

1.6.6 Quanto à Garantia do Credor


1.6.6.1 Crédito Real
1.6.6.1.1 Bem do devedor ou terceiro
1.6.6.1.2 Inadimplemento: credor recebe produto da venda do bem dado
em garantia
1.6.6.2 Crédito Pessoal
1.6.6.2.1 Todo patrimônio da pessoa (Garantia Fidejussória - Aval e
Fiança)
1.6.6.2.2 Devedor + Garantidor
1.6.6.3 Crédito de Consumo
1.6.6.3.1 Utilizado na satisfação de necessidades pessoais do
beneficiário (bens de consumo: carros, eletrodomésticos)
1.6.6.4 Crédito de Produção
1.6.6.4.1 Uso produção certos bens
1.6.6.4.2 Uso desenvolvimento de certa atividade econômica

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1.6.6.4.3 Geração de Novas riqueazs
1.6.6.4.3.1 Crédito Rural, industrial p. ex.
1.6.7 Quanto ao Prazo
1.6.7.1 Curto Prazo (menos de 1 ano)
1.6.7.2 Médio Prazo (1-3 anos)
1.6.7.3 Longo Prazo (acima 3 anos)
1.6.8 Quanto ao Devedor (Subjetivo)
1.6.8.1 Crédito Público (Poder Público devedor)
1.6.8.1.1 Risco-Governo
1.6.8.2 Crédito Privado (Particulares)
1.6.8.2.1 Créditos Individuais
1.6.8.2.2 Créditos Industriais
1.6.8.2.3 Créditos Agrícolas
1.6.8.2.4 Créditos Marítimos
1.6.9 Quanto ao Instrumento (Forma de Representação)
1.6.9.1 Contrato
1.6.9.2 Título de Crédito

1.7 LETRA DE CÂMBIO36


1.7.1 Definição: ordem (ordem enquanto estrutura) dada, por escrito (não
eletrônica), a uma pessoa, para que pague a um beneficiário indicado, ou à
ordem deste (terceiros - podendo ser "não a ordem"), uma determinada
importância em dinheiro.
1.7.2 Estrutura Relação Jurídica
1.7.2.1 Sacador37/Emitente (ordem de pagamento - via de regra a prazo,
mas pode ser a vista)-->Sacado (ao tomador)--> Tomador/Beneficiário
1.7.3 Requisitos Essenciais (art. 1º, LU)
1.7.3.1 A palavra "Letra" inserta no próprio texto do título expressa na
língua empregada para a redação desse título
1.7.3.2 Mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada
1.7.3.2.1 É uma palavra, por exemplo "pague".

36 Toda lógica parte daqui, previsto na LUG.


37 É quem põe em jogo, mesma lógica do tênis, do vôlei. É quem coloca o crédito em jogo. Aqui na letra é
um ordem, quem recebe a ordem (sacado) e pode aceitar ou não aceitar a ordem. Quem recebe a
ordem é uma ordem para pagar ao tomador, que é beneficiário.

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1.7.3.3 O nome daquele que deve pagar (sacado)
1.7.3.3.1 Não precisa da assinatura de quem vai pagar. Apenas o
nome.
1.7.3.4 Época do pagamento
1.7.3.4.1 Essência do crédito é confiança e tempo. Quando penso em
título de crédito, penso em época futura, mas pode ser criado o título
à vista (não é crédito, mas apenas a formalização de operação
instantânea para que credor vá direto à execução, sem processo de
conhecimento).
1.7.3.5 Indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento
1.7.3.5.1 Título de Crédito tem característica de apresentação. Credor
vai até o devedor para exigir o pagamento, tem que dizer onde.
1.7.3.6 Nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga
(beneficiário)
1.7.3.7 Indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada
1.7.3.7.1 Fins para apresentação para aceite (será visto ainda)
1.7.3.8 Assinatura de quem passa a letra (sacador)
1.7.3.8.1 Envolve 3 pessoas, precisa de apenas 1 assinatura, de quem
passa. A quem foi passada é o portador e vai ao terceiro exigir o
pagamento/perguntar se ele aceita ou não (inclusive pode ser antes
do vencimento). O portador não vai entregar a letra ao terceiro que
não aceitou, vai cobrar de quem assinou.
1.7.4 Exceção (não deixa de ser título pela falta desses elementos)
1.7.4.1 Existem situações em que os requisitos são flexibilizados pela
própria Lei. Traz presunção para que o título fique com todos
ingredientes, pois título incompleto não o é. Lei antevê omissões que são
toleráveis. Correção quando faltantes.
1.7.4.2 Não prevista época do pagamento = lei diz que presume-se à
vista. Se não colocou a data, presume-se que o credor pode exigir
quando quiser, portanto à vista.
1.7.4.3 Falta de indicação do lugar do pagamento = Não há na própria
letra dizendo "lugar do pagamento", mas há lugar indicado ao lado do
sacado ou lugar indicado como o seu domicílio. Se o sacado é o fulano e
o fulano mora em tal lugar, logo será lá cobrado.
1.7.4.4 Falta do lugar de onde a letra é passada = presume-se no lugar
designado ao lado do nome do sacador ou no seu domicílio, presume-se
que ele fará a maioria das suas relações jurídicas no lugar em que mora.
Se não há nenhum endereço designado do lado do devedor, temos um
problema. Não é atendido requisito da Letra, não é título e se promover
execução, será extinta por vício de forma.

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1.7.4.5 Se em branco, pode-se ainda preencher de boa-fé antes de levar
à execução.
1.7.5 Modelo de Letras
1.7.5.1 É um ordem de pagamento quanto à estrutura da obrigação, mas
quanto ao modelo é de forma livre, desde que atendidos os requisitos.
1.7.5.2 O seu grande diferencial é o "aceite", já visto em sua perspectiva
histórica no período francês, onde no início se tinha uma ordem, mas
havia um risco alto, pois quem recebia a ordem poderia não aceitar. Era
sem garantia, surge o aceite como mecanismo de segurança de que
quem recebeu a ordem, aceitou a ordem
1.7.5.3 Letra tem a estrutura mais complexa, demandando um ato
adicional, com uma pessoa a mais, pois a estrutura é uma ordem de
pagamento.
1.7.6 ACEITE
1.7.6.1 Definição: é o ato formal segundo o qual o sacado se obriga a
efetuar, no vencimento, o pagamento da ordem que lhe é dada
1.7.6.1.1 É o ato em que o sacado aceita.
1.7.6.1.2 É formal (busca segurança, mas é simples e ágil - simples
assinatura) pois tem maneira prevista na lei de como ser praticado
1.7.6.2 Forma do aceite:
1.7.6.2.1 Simples Assinatura do sacado (aquele que recebe a ordem)
lançada no anverso do título
1.7.6.2.1.1 Anverso é a frente do título
1.7.6.2.2 Assinatura do sacado lançada no verso do título, mas
identificado o ato praticado pela expressão "aceito" ou outra
equivalente
1.7.6.3 Apresentação para aceite:
1.7.6.3.1 De regra facultativa, ocorre antes do vencimento (depois do
saque), se depois do vencimento, é apresentação para pagamento
(com aceite implícito)
1.7.6.3.1.1 Não pode ser antes do saque, o aceite é ato formal
no anverso do título, como vai ter assinatura antes de existir o
título.
1.7.6.3.1.2 Se apresentar depois do vencimento uma coisa é
apresentar para aceitar outra é para pagar. Aceite é vinculação
com a obrigação, pagamento é o cumprimento da obrigação.
1.7.6.3.1.3 Só há prazo para o aceite antes do vencimento, pois
se já venceu não faz sentido, vai apresentar para pagamento e
provavelmente não vai pagar porque não aceitou. Se pagar, está
implícito que aceitou pagar após o vencimento.

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1.7.6.3.2 Reapresentação para aceite: o sacado tem o direito de
pedir a reapresentação do título no primeiro dia subsequente
(prazo de respiro), garantindo-se assim a oportunidade de o sacado
confirmar o que foi combinado com o sacador.
1.7.6.3.2.1 Ex.: Tanger é o sacador de uma letra de câmbio
contra mim. Ele entregou para alguém o título para pagamento
daqui a 6 meses. Amanhã aparece um cara perguntando se eu
aceito ou não pagar a letra para ele por ordem do Tanger. E agora,
aceito ou não aceito? Fico na dúvida. Não é obrigado a aceitar ali
e na hora, é interessante falar com o sacador, ver se ele vai abater
a dívida que tenho com ele, qual relação ele está se valendo para
que eu aceite uma obrigação em nome dele. Isso é o prazo de
respiro, que o sacado tem o direito de que seja reapresentado o
título no primeiro dia subsequente.
1.7.6.3.2.2 Posso estender o prazo de respiro? Sacado propõe
maior tempo, se o beneficiário não aceitar, eu não vou aceitar
pagar. É interesse do sacador conceder esse tipo de prazo. Há
violação de alguma regra do formalismo? Aceite é simplesmente
uma assinatura, não tem como saber em qual data ocorreu, é uma
simples assinatura.
1.7.6.3.3 Quem apresenta para o sacado aceitar? Quando crio o título e
indico o sacado, entrego o título para o beneficiário. Ele está com ele
na mão, quem pode apresentar esse título para saber se será aceito
ou não vai ser o beneficiário. Quando ele vai apresentar? É um ato
formal, ele tem que levar esse título para que o sacador assine ou
não assine. Quem apresenta para aceite é o beneficiário, que está
com a posse do título.
1.7.6.4 Apresentação Aceite Facultativa
1.7.6.4.1 Vencimento com data certa
1.7.6.4.2 Vencimento a certo termo da data (saque)
1.7.6.4.2.1 Conceito: Quando olhamos os requisitos de
formação do título, temos duas datas: emissão e vencimento. Se
não tenho a data do vencimento, é a da emissão. É a única que
tem, no caso da Letra de Câmbio, se chama "saque", então
quando falo que "vence cinco dias da data", quer dizer que 5 dias
depois da emissão é a do vencimento.
1.7.6.4.2.2 Formas de Estipular
1.7.6.5 Apresentação Aceite Obrigatória
1.7.6.5.1 Vencimento a certo termo da vista (aceite) - apresentação até o
máximo de 1 ano após o saque (art. 23, LU)38

38 Não é bom criar um título imprescritível, buscamos segurança para o sistema, pode surgir um título do
nada e ser cobrado se não houver limitação temporal. Por isso a Lei Uniforme de Genebra estipulou o

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1.7.6.5.1.1 Necessariamente tenho que chamar para aceite,
senão não funciona. Só existe em títulos com ordem de
pagamento, obviamente. A certo termo da vista é um vencimento
que não conta da data do saque, mas do aceite. Então o termo
inicial da contagem do prazo é quando o cara aceitou, por isso
obrigatória. Em termos práticos, se o cara aceita, ele é o
responsável/devedor principal, faz mais sentido eu saber quanto
tempo para pagar ou quem vai pagar para levantar o dinheiro para
pagar a dívida? Faz sentido que o prazo comece quando ele dizer
que ele aceita, ele pode dizer "essa obrigação vai se vencer 1 mês
a contar da vista" senão eu posso exigir o pagamento com 1 dia
de antecedência e o pagador não ter o dinheiro na hora, mas se
tivesse 1 mês, conseguiria se organizar para levar a grana. Essa
técnica garante o planejamento do sacado, se ele não puder se
planejar, ele simplesmente não aceita.
1.7.6.6 Sacado Aceita
1.7.6.6.1 Tomador na data do vencimento vai cobrar do sacado e ele vai
pagar, resgatando e vai exigir o cumprimento pelo sacador.
1.7.6.7 Sacado não aceita
1.7.6.7.1 Tomador apresenta para pagamento para o sacado e este não
aceita -> tomador pode exigir diretamente do sacador.
1.7.6.7.2 O não aceite produz um efeito: "Vencimento Antecipado da
dívida" (LU, art. 23), apenas quando apresentado antes do prazo de
vencimento.
1.7.6.7.2.1 Sacado título com vencimento para o dia 30 de
novembro de 2022. Pode acontecer o vencimento antecipado se,
por exemplo, hoje foi apresentado para aceite e não foi aceito, já
se sabe que o sacado não vai pagar no vencimento, não faz
sentido, portanto, esperar até novembro. Assim, o vencimento é
antecipado para a data do não aceite. Vou cobrar do sacador ou
dos endossantes, avalistas e etc. O protesto vai trazer essa
função de cobrar dos indiretos.
1.7.6.7.2.2 Se tomador apresenta direto para pagamento, já
decorrido prazo de vencimento, não vai ter vencimento
antecipado, uma vez que o vencimento já se implementou, se
perdendo o efeito do vencimento antecipado.
1.7.6.7.2.3 Posso preencher de boa-fé o não aceite, mas se não
tiver assinatura pode dar problema. A forma mais segura é o
protesto por falta de aceite. Protesto não é ato de cobrança, mas
ato público de comunicação39, mas é um efeito colateral

prazo máximo de 1 ano para apresentação para aceite, contado do saque. Quando findo o prazo, se diz
que o "título está prescrito".

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1.7.6.7.2.3.1 O cara não aceitou e não assinou, ou assinou e
não colocou data. Posso preencher de boa-fé ou posso
protestar, para que a partir da comunicação de que não houve
o aceite nessa data, comece a contar os prazos
correspondentes do não aceite e tenho que tornar isso público,
porque pode ser que o título não tenha sido apresentado para
aceite, mas foi protestado para poder ser cobrado
antecipadamente. Ao publicizar, é como se fosse uma
chamada pública para o sacado se manifestar, se ele não se
manifestar, antecipa.
1.7.6.7.2.4 Vale também para vencimento a certo termo da vista.
Se não foi assinado, presume-se que findo o prazo de 1 ano, o
último dia conta como data do não aceite.
1.7.6.8 Sacado Aceita Parcialmente
1.7.6.8.1 Está aceitando, mas não está aceitando tudo. Se a dívida é
100k, posso aceitar 60k. E os outros 40k? A dívida continua em 100k
em é dividida a responsabilidade entre sacador e sacado. Interfere na
legitimidade para cobrar de quem quanto.
1.7.6.8.2 No valor que o sacado aceitou (60k) continuam as regras de
vencimento, exigindo-se do sacado valor limitado ao aceite (art. 26,
LU)
1.7.6.8.3 No valor que não foi aceitado (40k) ocorre o vencimento
antecipado, conforme já visto. A dificuldade é fazer isso em relação
ao título, embora o processo eletrônico facilite esse cenário.
1.7.6.8.4 Isso vai impactar depois no aval
1.7.7 VENCIMENTO
1.7.7.1 Espécies
1.7.7.1.1 Ordinário
1.7.7.1.1.1 Conceito: Se opera pelo decurso do tempo ou pela
apresentação ao sacado da letra à vista
1.7.7.1.1.2 À VISTA
1.7.7.1.1.2.1 O tomador deverá procurar o sacado até o
máximo de 1 ano após o saque (art. 34)
1.7.7.1.1.2.1.1 Se não procura dentro desse prazo, sacado
fica livre, é como se não tivesse aceitado a obrigação à
vista.
1.7.7.1.1.3 DATA CERTA

39 Tanto é verdade, que se pode protestar dívida judicial consolidada na sentença, não para cobrar, pois já
se tem execução, é um ato de comunicação que vai trazer efeito de cobrança.

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1.7.7.1.1.3.1 Devem ser apresentadas a aceite pelo tomador
até o vencimento fixado para o título (art. 21)
1.7.7.1.1.4 A CERTO TERMO DA DATA (SAQUE)
1.7.7.1.1.4.1 A inobservância desses prazos pelo credor
acarreta a perda do direito de cobrança do título contra os
coobrigados (art. 53)
1.7.7.1.1.4.2 Ex.: Vencimento de 1 mês da data. Se saquei no
dia 29 de março, o vencimento é 29 de abril.
1.7.7.1.1.5 A CERTO TERMO DA VISTA (ACEITE)
1.7.7.1.1.5.1 Prazo para apresentar para vista até o máximo de
1 ano após o saque (art. 23)
1.7.7.1.1.5.2 A inobservância desses prazos pelo credor
acarreta a perda do direito de cobrança do título contra os
coobrigados (art. 53)
1.7.7.1.1.5.3 Hipótese de ACEITE SEM DATA
1.7.7.1.1.5.3.1 Protesto por falta de data (LU, art. 24)
1.7.7.1.1.5.3.2 Pode ser completado pelo portador de boa-fé
1.7.7.1.1.5.3.3 Ou Considerando o aceite como feito no
último dia do prazo de apresentação (art. 35), ou seja, 1
ano após o saque40
1.7.7.1.2 Extraordinário
1.7.7.1.2.1 Se opera por recusa do aceite ou pela falência do
aceitante (Decreto nº 2.044/1908, art. 19, I)
1.7.7.1.2.1.1 Ex.: título projetou 30 de novembro de 2022 o
vencimento, mas pode acontecer que não haja o aceite. Há o
vencimento extraordinário, que é o vencimento antecipado da
data do não aceite. Comum é esperar o tempo passar e ele se
implementar (ordinário) - pela recusa do aceite
1.7.7.1.2.1.2 Ex.: se dou uma ordem para alguém pagar e essa
pessoa não pode mais juridicamente aceitar, não faz sentido
eu esperar o tempo. É uma negativa jurídica, isso acontece na
falência de uma empresa, ela não pode criar novas dívidas. Se
ela não pode mais aceitar, ocorre o vencimento antecipado.

40 Há uma discussão entre exigibilidade e inadimplemento, que são momentos diferentes, pois na
exigibilidade, em rigor, não se está devendo ainda, mas apenas no inadimplemento, quando deixou de
ser exigível e foi descumprida a obrigação. Vence a luz no dia 2 de cada mês. Tenho que pagar no dia
do vencimento, em tese vão me cobrar no dia do vencimento ou até esse dia. Não estou
inadimplemento, vence hoje, amanhã estou. Continua exigível, podem continuar me cobrando, mas
agora estou inadimplente, podendo gerar os efeitos da mora. Alguns inadimplementos dependem atos
específicos como o protesto, que é requisito para a caracterização do inadimplemento das obrigações
condicionadas.

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Ainda que tivesse aceitado, a quebra promove o efeito do
vencimento antecipado de todas as obrigações. Portanto, se
ela quebrou enquanto era apenas sacada e não tinha aceitado
ainda, ocorre o vencimento antecipado porque não pode mais
aceitar; por outro lado, se já tinha aceitado, vai ficar vinculada
à obrigação, pois já tinha aceitado antes, mas vai haver o
vencimento antecipado, pois pode ser que não consiga ser
pago enquanto tramita o processo de falência - pela falência
do aceitante. Atenção, falência produz vencimento
antecipado, recuperação judicial não!
1.7.7.2 Contagem de Prazos (art. 36, LU)
1.7.7.2.1 Em mês (dia correspondente do mês seguinte ou último dia do
mês)
1.7.7.2.2 Início do Mês (dia 1º)
1.7.7.2.3 Meio do mês (meado) = dia 15
1.7.7.2.3.1 Meio Mês = 15 dias
1.7.7.2.3.1.1 É diferente de meio do mês. Se estabeleço
obrigação de hoje a meio mês, tem que contar 15 dias a partir
de hoje.
1.7.7.2.4 Fim do mês (último dia)
1.7.8 EXECUÇÃO DA LETRA DE CÂMBIO41
1.7.8.1 Letra Aceita e Não Paga
1.7.8.1.1 Tomador (credor em geral, pode ser o endossatário) apresenta
para Sacado para aceite ou para pagamento. Se já venceu ele pode
não aceitar ou pode não pagar.
1.7.8.1.1.1 NÃO PAGA. Se ele não paga, o pressuposto é que
ele aceitou, pois se não quer pagar porque não aceitou, dirá que
não aceita.
1.7.8.1.1.1.1 Posso executar diretamente o sacado. Assinou o
aceite e não pagou. Vai direto.
1.7.8.1.1.1.2 Posso protestar por falta de pagamento =
protesto tem como efeito a possibilidade de cobrar dos
devedores indiretos (sacador, endossantes e avalistas)
1.7.8.1.1.1.2.1 Protesto tem a função de interromper a
prescrição42 e execução contra os devedores indiretos

41 Há outras medidas processuais para exigir o cumprimento da Letra de Câmbio e dos Títulos de Crédito
em geral, mas agora só falamos da Letra de Câmbio e sua execução. Depois vamos falar da Nota
Promissória e vamos trazer as outras técnicas que também poderiam ser aplicadas à Letra. Se
prescrever, não significa que perdeu o crédito, posso usar o título para promover outras medidas
judiciais, ainda vamos falar da Ação Monitória e Ação de Locupletamento e Enriquecimento sem Causa.

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(solidariedade cambiária). Há prazo previsto na lei para
protestar, senão perde o direito de cobrar os coobrigados
1.7.8.1.1.2 NÃO ACEITA.
1.7.8.1.1.2.1 Não tem execução contra o sacado. Ele não é
obrigado, mas posso protestar por falta de aceite.
1.7.8.1.1.2.2 Se não venceu = vencimento antecipado
1.7.8.1.1.2.3 Se já venceu = protesto por falta de aceite
1.7.8.1.1.2.3.1 Protesto tem como efeito a possibilidade de
cobrar dos devedores indiretos (sacador, endossantes e
avalistas)
1.7.8.1.1.2.3.2 Protesto tem a função de interromper a
prescrição - ver nota de rodapé - e execução contra os
devedores indiretos (solidariedade cambiária). Há prazo
previsto na lei para protestar, senão perde o direito de
cobrar os coobrigados
1.8 NOTA PROMISSÓRIA43
1.8.1 Se vale subsidiariamente de todas as regras da Letra, salvo o que
incompatível (vencimento a certo termo da vista, pois na nota não tem
aceite). Muda a estrutura da obrigação constante do título.
1.8.2 DEFINIÇÃO: a nota promissória é uma promessa de pagamento, isto
é, "um compromisso escrito (cartularidade) e solene (segue ritos e regras de

42 3 anos contados do vencimento, contra o devedor principal (aceitante e seus avalistas);


1 ano contado do protesto [ou do vencimento se houver a cláusula sem despesas - a lei permite
estabelecer no próprio título essa cláusula a qual permite buscar o crédito perante os devedores
indiretos sem necessidade de protesto, basta escrever no título "sem despesa". Crédito fica valorizado
com essa cláusula, pois credor vai ter menos custo para cobrar. A dica prática é formar litisconsórcio
passivo, chamar todos, a exemplo da Lei de Locações para não perder prazo ao acrescentar aos
poucos, nas locações fiador é um garante, podendo eu demandar contra ele e o devedor principal,
respeitando o "benefício de ordem" na hora de pagar, salvo se houver cláusula revogando o benefício
de ordem. O que ocorre é que tramita a ação contra o devedor principal e na execução não encontra
patrimônio e quer redirecionar contra o fiador, mas sem título, a sentença não fez parte do processo e a
dívida já está prescrita pois não foi interrompida pela citação. Chama o fiador para ter sentença contra
ele], contra os devedores indiretos (sacador, endossantes e respectivos avalistas);
6 meses contados do pagamento ou do ajuizamento da ação, para o exercício do direito de regresso
por aquele que pagou contra os demais codevedores [coloco avalista no sacado. Beneficiário cedeu por
endosso para A (com avalista) e este também para o B, que o fez para o C. Há duas garantias. O credor
é o C, está no final da cadeia de endosso. Vencido o título, para poder executar o Sacado ou seu
avalista, não precisa praticar qualquer ato, mas se quiser executar o beneficiário ou o A e seu avalista
ou o B, tem que protestar, salvo se houver cláusula sem despesa. Para executar o Sacado e seu
avalista, tem prazo de 3 anos. Para executar o beneficiário, o A e seu avalista e o B, tem o prazo de 1
ano do protesto ou do vencimento. Digamos que o B pagou. O B passa a ser credor podendo cobrar do
A e seu avalista, do beneficiário, sacado ou sacador no prazo de 6 meses. DÚVIDA SE O A/seu
AVALISTA pagaram para o B, pode ter regresso por parte deles contra os outros devedores formando
uma cadeia de ações de regresso?
43 No que não estiver explicitado nas normas da nota promissória, aplicam-se as regras da Letra de
Câmbio, é o que diz a LUG.

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sua formação na LUG, pelo qual alguém se obriga a pagar outrem certa
soma de dinheiro" em certo prazo ou à vista.
1.8.2.1 Emitente não dá ordem para terceiro pagar, ele simplesmente faz
uma promessa para o beneficiário
1.8.2.2 Estrutura da obrigação de promessa de pagamento. Diferente da
estrutura da obrigação de ordem
1.8.2.3 Relação de confiança no tempo se dá entre quem emite o título e
quem recebe o título. Quando havia ordem não era entre emitente e
beneficiário, mas entre o beneficiário e sacado, triangularizando a
relação e também com relação de confiança entre sacado e sacador.
1.8.3 REQUISITOS ESSENCIAIS (LU, ART. 75)
1.8.3.1 Denominação "nota promissória" inserta no texto do título e
expressa na língua empregada para a redação desse título
1.8.3.1.1 Tem que estar escrito o nome inteiro, não basta "nota" ou
"promissória", é mero pedaço de papel. É o formalismo, uma das
características do título de crédito, se errou não vai produzir o efeito
pretendido
1.8.3.2 A promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada
1.8.3.2.1 Agora não é mais ordem. É promessa. "Pague por essa nota"
diferente é "pagarei por essa letra",
1.8.3.3 A época do pagamento (vencimento)
1.8.3.3.1 Sem, não se sabe quando credor poderá exigir o título.
1.8.3.3.2 Correção quando faltante: presume à vista (data da emissão)
1.8.3.3.2.1 Tenho regra igual na Letra.
1.8.3.4 A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento
1.8.3.4.1 Característica de título de apresentação, o credor tem que
saber onde apresentar, pois ele circula e deve ser autônomo e
independente.
1.8.3.4.2 Busco o endereço junto ao nome de uma das pessoas
indicadas, na letra busco o endereço do sacado. Na nota, vou buscar
o lugar onde ela foi passada. Não uso o endereço do emitente porque
ele não é requisito essencial da nota, mas sou obrigado a colocar o
lugar onde ela é passada. Quem coloca o lugar onde a nota é
passada é o emitente, ele diz onde a Nota vai produzir efeito, assim
ele tem vínculo jurídico com aquele lugar. Presume que esse lugar
que ele escolheu para passar é o lugar onde ela deve ser paga, é
como se fosse uma escolha do emitente onde o vínculo da nota vai
ser estabelecido.
1.8.3.4.3 Correção quando faltante: presume do lugar onde foi passada
1.8.3.5 O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga

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1.8.3.5.1 Beneficiário. Tem que ter o nome dele. Se criar o título em
branco, pode preencher de boa-fé.
1.8.3.6 A indicação da data em que e do lugar onde a Nota Promissória é
passada
1.8.3.6.1 Correção quando faltante: presume lugar indicado ao nome do
emitente
1.8.3.6.1.1 Quem coloca o lugar onde a nota é passada é o
emitente, ele diz onde a Nota vai produzir efeito, assim ele tem
vínculo jurídico com aquele lugar. Presume que esse lugar que ele
escolheu para passar é o lugar onde ela deve ser paga, é como se
fosse uma escolha do emitente onde o vínculo da nota vai ser
estabelecido.
1.8.3.7 A assinatura de quem passa a Nota Promissória (subscritor)
1.8.3.7.1 Grande diferença que deriva da estrutura da obrigação. Quem
assina e se obriga na Nota é diferente de quem assina e se obriga na
Letra que tem a do sacador, mas aqui como é uma promessa, o
subscritor é o devedor principal que se obriga a pagar. Na letra, o
subscritor (sacador) não é o devedor principal, pois dá ordem ao
sacado, se aceitar, ficar vinculado, e assina porque se não aceitar,
vira devedor principal.
1.8.3.7.2 Aqui na nota não tem o nome do sacado, pois a obrigação é
uma promessa de pagamento, como é uma promessa direta, não
preciso indicar o nome para ir até o sacado apresentar o título para
aceite.
1.8.3.7.3 Quanto ao modelo é livre, bastando conter os requisitos
1.8.4 DINÂMICA
1.8.4.1 Emitente -> (promessa) beneficiário -> no vencimento -> paga
1.8.4.1.1 Não paga (pretensão resistida/insatisfeita - Carnelutti) -
vale também para Letra de Câmbio
1.8.4.1.1.1 Até 5 anos contados do vencimento da Nota: Ação
Monitória44
44 Ação Monitória é de procedimento especial. Não se aplica nem ao processo de conhecimento, nem ao
processo de execução. A diferença desse procedimento especial é que tem por base a necessidade de
se ter prova escrita de dívida, e essa dívida tem que ter 2 blocos de características: ser certa, líquida e
exigível (características de título executivo); mas não ter força executiva. Tem característica, mas não
tem força. Falta tão pouco às vezes. É proporcional exigir todo o processo de conhecimento quando
faltou só uma testemunha no contrato? Ou seria melhor fazer um procedimento especial de meio de
caminho? É uma tutela híbrida em que o procedimento vai se adaptar à conduta da parte adversa.
Começa com petição inicial pelo sujeito que é credor desse documento de dívida escrita sem força
executiva. Junta o doc. Se fosse ação de cobrança, o réu teria que ser citado para contestar. Na
execução, seria para pagar; na monitória a citação é para pagar ou embargar, ou ainda fazer nada. Se
ele pagar: o processo é extinto; se ele embargar: funcionam como se fossem "contestação", diferente
dos embargos normais, o processo passa a se desenvolver como processo de conhecimento
terminando em sentença reconhecendo ou não a existência da obrigação; se ele não pagar ou

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1.8.4.1.1.1.1 Pode escolher se monitória ou execução dentro
do prazo comum, mas a preferência lógica é da execução.
Pode em face de título executivo extrajudicial ingressar com
ação de conhecimento, CPC é expresso na possibilidade de
acrescentar status diferente ao título, havendo interesse
processual na transformação do título.
1.8.4.1.1.2 Até 3 anos contados do vencimento da Nota:
Execução contra o emitente/avalista45
1.8.4.1.1.2.1 Até 3 anos contados da prescrição da execução
acima contra emitente (acaba totalizando 6 anos): ação de
locupletamento46, tramita pelo procedimento comum
(enriquecimento sem causa)
1.8.4.1.1.3 Protesto (1 ano contado do venc. se com cláusula
sem despesa/do protesto sem cláusula - não esquecer que
protesto tem o seu devido prazo): execução contra os coobrigados
1.8.4.1.1.3.1 Pode locupletamento até 3 anos da prescrição da
execução com prazo de 1 ano. Mas tem a monitória com prazo
de 5 anos que é mais efetivo antes do início do locupletamento
que se estende até depois do fim do locupletamento.
1.8.5 De resto igual à Letra - sem regras de vencimento a certo termo da
vista por não haver aceite.
1.9 CHEQUE
1.9.1 Lei nº 7.357/85 - lei própria fora do ambiente da LUG. 1985, bem mais
nova. Usa a LUG só supletivamente
1.9.2 ESTRUTURA: muito parecido com letra de câmbio, com sacador,
sacado e um beneficiário com a diferença de que o sacado será sempre um
banco e há uma relação jurídica necessário entre sacador e sacado, que é a
existência de uma conta-corrente e prévia existência de fundos.
1.9.3 Cheque operacionaliza de maneira mais clara e fechada uma relação
jurídica que já acontecia por meio da Letra. É como se fosse uma espécie
embargar é como se o documento prova escrita de dívida, que não tinha força executiva o processo
passa a tramitar como processo de execução que vai terminar com a entrega do dinheiro e não com
uma sentença. De acordo com o comportamento do réu, vai variar, podendo ser transformado em
processo de execução.
45 O avalista sempre ocupa a posição do avalizado. Se emitente = devedor principal; se endossante =
devedor indireto
46 É como se a energia da ação fosse perdendo a energia. Primeiro execução, monitória e locupletamento
que é ação de conhecimento típica para título de crédito, até se extinguir. O nome locupletamento é
assim porque é. Ação indenizatória tem esse nome porque teria uma relação entre ação e direito
material perseguido, que é uma espécie de tradição na cultura jurídica processual desde as legis
actiones, do Direito Romano ou da Teoria Civilista Emanentista. Tem explicação filosófica, mas a base é
uma espécie de respeito à tradição e cultura jurídica se dando nome às ações, dizendo no CC que para
todo direito há uma ação que lhe corresponda, que é uma homenagem à nossa herança romano-
germânica.

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de versão da letra de câmbio 2.0. Já existia uma relação jurídica que
envolvia um sacador, um sacado e um beneficiário. O cheque pega essa
estrutura jurídica e fecha ela através de uma operação de pagamento (não
tão de crédito). Vincula o sacado a um banco (o sacado sempre será um
banco/instituição financeira), havendo vinculação entre sacado e sacador,
sempre havendo um vínculo jurídico entre os dois que é um contrato de
Conta-Corrente. Quando falamos em abstração onde havia relação
fundamental e relação cambiária e vimos que uma coisa não tinha a ver com
a outra. No cheque há abstração, mas apenas em uma ponta: na relação
entre sacador e sacado necessariamente tenho que ter relação de conta
corrente, é da estrutura do título, sem a conta, banco não me dá o talão e
não consigo emitir o título. Mas, também há uma relação entre sacador e
beneficiário, que é abstrata, não importa a razão pela qual foi passado o
cheque.
1.9.4 DEFINIÇÃO
1.9.4.1 É a ordem de pagamento À vista, emitida contra um banco, em
razão de fundos que o emitente possui junto ao sacado
1.9.4.1.1 Alguns autores dizem que não é título de crédito, pois é à vista,
pela ausência do fator "tempo". A doutrina refere que o cheque é um
título cambialiforme, em termo de forma é como se fosse um título
cambiário, tem cheiro, gosto e cor de título cambiário, mas não é
título de crédito, pois não envolve crédito. Mas com a manipulação
dos propósitos do cheque, passou a ser utilizado como um
crédito propriamente dito, a partir da criação do cheque pré/pós
datado. A priori não é título de crédito, pois não contém crédito,
mas ordem de pagamento à vista, mas passou a ser título de
crédito típico (lei não prevê a cláusula do "bom para", mas a
jurisprudência sim), antes era cambialiforme segundo alguns
autores.
1.9.4.1.1.1 Cheque Pré(Pós)-Datado: o cheque pós-datado
envolve duas figuras distintas: um cheque e um contrato. Trata-
se de um cheque como outro qualquer, na medida em que a pós-
datação não desnatura sua condição de título de crédito,
permitindo inclusive a execução do valor ali consignado. A tal
condição deve-se acrescer o contrato firmado entre o emitente
e o beneficiário, pelo qual este tem a obrigação de não
apresentar o cheque antes da data combinada.
1.9.4.1.1.1.1 É uma distorção dos usos comerciais. Criou-se
uma espécie de cláusula no cheque. Cheque é ordem de
pagamento à vista, mas funciona como forma de pagamento a
prazo conforme uso e costumes. Todo mundo tinha talão de
cheque, podia usar nota promissória, mas o mercado impôs a
condição. Problema: combina com o cara do posto para ele
apresentar para daqui a 30 dias, se ele apresentar isso
amanhã ele pode? O banco paga? Se tiver fundo, sim.

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Combinou com o beneficiário, não para o banco, para o Banco
vale a lei. É uma "sacanagem", pode apresentar uma ação de
apresentação de cheque pré-datado, quebrou não as regras do
cheque (relação jurídica cambiária), mas da relação jurídica
construída a partir do cheque (ajuste de vontade para ser
apresentado fora do prazo). A base para construção desse
pensamento é a questão da boa-fé, pois ele foi passado
representativo de prestações e o sujeito apresentou tudo de
uma vez quebrou com a boa-fé causando prejuízos.
1.9.4.1.1.1.2 Materializa esse ajuste de vontade no próprio
cheque escrevendo o "bom para" para facilitar a prova, no
entanto materializa a relação entre beneficiário e sacador, não
sendo oponível contra o sacado, apresentado cheque antes da
data indicada, o banco realizará o pagamento.
1.9.4.1.1.1.3 Essa cláusula do bom para tem impacto sobre a
prescrição. A apresentação antecipada do cheque pré-datado
viola o vínculo jurídico entre beneficiário e sacador, não
envolvendo o banco (ele paga), mas é descumprido um
dever de boa-fé passível de indenização.
1.9.4.1.1.1.4 Problemas
1.9.4.1.1.1.4.1 Contagem do prazo de prescrição do
cheque é de 6 meses. Os 9 cheques mensais que eu
passei para a natação. A lei diz que é à vista, pode
apresentar e o banco vai pagar. E a contagem da
prescrição, e aquele cheque para novembro e já se
passaram os 6 meses, ele está prescrito? Se não tiver
fundos, vai poder promover execução se está prescrito? Se
apresentar antes, pode ser condenado por isso; se
apresentar depois para respeitar o ajuste de vontade e
executar vai estar prescrito, vai ter só a monitória. A lei vai
dizer que o "bom para" não existe. O problema é que
reconheceram o instituto baseado na ideia de boa-fé, para
resolver o problema criado disse que embora a prescrição
seja do vencimento e o "bom para" não altere o vencimento
e sim somente a data da apresentação. Uma coisa é
vencimento outra é apresentação para pagamento.
Prescrição é contada do vencimento, pela Lei. A
jurisprudência disse que no "bom para" tem que
flexibilizar a regra do vencimento e considerar como
vencimento na verdade o término do prazo para
apresentação somente para fins de contagem de
prescrição. A jurisprudência disse que não estava
alterando o vencimento, pois este continua sendo à vista,
como diz a lei, o que se está alterando é o termo inicial da
contagem da prescrição que no cheque pré-datado começa

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a contar a prescrição a partir do término do "bom para".
Não alterou o vencimento, continua sendo à vista como diz
a lei (se apresentar, o banco paga), mas altera o termo
inicial da contagem da prescrição, que no cheque pré-
datado começa a contar a prescrição a partir do término do
"bom para".
1.9.4.2 Pega a estrutura da letra de câmbio e fecha através de uma
operação de crédito. Quem recebe ordem é o banco
1.9.4.3 Modelo vinculado em relação à relação jurídico cambial entre
sacador e sacado pela existência de um contrato de Conta-Corrente.
1.9.4.4 Na letra dá ordem independente se tem fundos ou não. No
cheque, posso colocar o valor que quiser, mas o sacado só irá pagar se
houver fundos. Esse pagamento só acontece na existência de ativos na
conta corrente não na confiança. A estrutura é a mesma, mas há
engessamento de algumas operações, não é necessário o aceite pois
está pré-condicionado quando o Banco forneceu o talão (aceite implícito)
relação entre sacador e sacado com o contrato de conta-corrente,
condicionado à existência de fundos na conta, e o sacado é mero
operacionalizador de pagamento pois não figura como devedor principal
ou indireto no caso de inexistência de fundos. O sacador é o devedor.
1.9.5 PRESSUPOSTOS DE EMISSÃO (TÍTULO VINCULADO QUANTO
AO MODELO)
1.9.5.1 É essencial que o sacado do cheque seja uma instituição
financeira
1.9.5.2 Exige que haja um contrato de conta-corrente entre o emitente e o
sacado
1.9.5.3 Exige-se, teoricamente, que o emitente tenha fundos disponíveis
no momento da apresentação do cheque
1.9.5.3.1 A Ausência desses fundos não desconfigura o cheque, mas
desnatura a sua finalidade.
1.9.6 REQUISITOS ESSENCIAIS
1.9.6.1 Denominação "cheque" inscrita no contexto do título e expressa
na língua em que este é redigido
1.9.6.2 Ordem incondicional de pagar quantia determinada
1.9.6.2.1 Se houver divergência entre numeral e quantia por extenso,
vale por extenso
1.9.6.2.2 Centavos não precisa escrever por extenso
1.9.6.3 O nome do banco ou instituição financeira que deve pagar
(sacado)
1.9.6.4 Indicação do lugar de pagamento

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1.9.6.4.1 O lugar designado junto ao nome do sacado; se designados
vários lugares, o cheque é pagável no primeiro deles; não existindo
qualquer indicação, o cheque é pagável no lugar de sua emissão
1.9.6.5 Indicação da data e do lugar de emissão
1.9.6.5.1 Considera-se emitido o cheque no lugar indicado junto ao
nome do emitente
1.9.6.6 A assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com
poderes especiais
1.9.6.6.1 Possibilidade do cheque ser preenchido por mandatário:
passar procuração para alguém assinar cheque no teu nome. É
poder especial, tem que ter expresso. Tem que levar a procuração
no banco e apresentar a sua assinatura.
1.9.6.6.2 Segundo o Tanger, na nota promissória haveria problema
nessa questão, pois há a independência do título, em que ele tem que
valer e tem que ter todos os elementos no próprio título, não podendo
ser juntado em outro documento, pois se eu assino algo por mandato
na nota promissória, essa procuração teria que circular junto com o
título. No cheque eu tenho vínculo necessário de conta-corrente entre
correntista e banco. Se eu assino no nome de alguém, assino no
cheque dessa pessoa, dá para perceber qual a relação do banco com
o correntista, sendo suprimida apenas a assinatura. Na nota quem
recebe, não sabe se a assinatura está amparada por um mandato.
1.9.6.7 OBS: além dos requisitos legais, outros órgãos de controle criam
outros requisitos (Conselho Monetário Nacional)
1.9.7 REQUISITOS ADICIONAIS
1.9.7.1 Lei nº 9.069/95 - art. 69: a identificação do beneficiário para
cheques superiores a R$ 100,00 (cem reais), uma vez que só até tal
valor os cheques podem ser ao portador. Cheque nominal
(indicação do beneficiário).
1.9.7.1.1 É diferente de título nominativo, cuja circulação depende de
alteração dos dados em poder do devedor (ex. tem que mudar os
livros do devedor para saber quem é o credor)
1.9.7.2 CMN
1.9.7.2.1 Os números de série e outros identificadores no cheque
1.9.7.2.2 As folhas de cheques fornecidas pelas instituições
1.9.7.2.3 O nome do correntista e o respectivo número de inscrição no
CPF ou CNPJ
1.9.7.2.4 O número, o órgão expedidos e a sigla da UF referente ao
documento de identidade constante do contrato de abertura e
manutenção de conta de depósito à vista, no caso de pessoas
naturais

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1.9.7.2.5 Data do início do relacionamento contratual do correntista com
a instituição financeira
1.9.7.2.5.1 Antes o cara abria conta no banco e deixava 500
reais ali e recebia um talão. Se ele é picareta, pode passar um
cheque de 500.000 reais. O mercado passou a exigir uma conta
com mais tempo de operação, já se limitou a possibilidade da
conta ter sido aberta para cometer fraudes.47

47 Sobre o cenário de evolução do cheque e do cartão de crédito. Vamos ver 3 relações que mostram a
evolução do pensamento a partir de um problema. 1. Letra de Câmbio começou com um problema que
era transporte de dinheiro e com o passar do tempo foi mudando, sendo usado como forma de
pagamento, como criação de crédito propriamente dito, para trazer segurança a partir do aceite e dos
fenômenos da abstração. Muitos pensam que a reconstrução histórica é inútil e é distante da nossa
realidade, uma mera erudição que não faz sentido. Porém, devemos perceber que às vezes o que
achamos que é super desrruptivo, moderno já estava lá e já tinha sido pensado, pois o problema é o
mesmo e na medida em que o tempo passa, ao invés de imaginar que os nossos limites vão caindo e
vamos podendo cada vez fazer mais, por vezes acontece o contrário, vamos tendo limitação de
liberdade. Na letra de câmbio tinha um sacador que dava uma ordem para um sacado realizar o
pagamento para um beneficiário. Esse sacado fica vinculado se ele aceita (período Francês), o aceite
como mecanismo de segurança da vinculação do sacado à ordem de pagamento. O motivo para a
ordem não interesse, é abstração. Papel tem liberdade plena para estabelecer esse vínculo jurídico. Há
muita liberdade. A partir disso, pessoas começam a querer segurança, o que obtém limitando a
liberdade. O sacado para o cheque tem que ser um banco e ele não precisa mais aceitar, o vínculo
jurídico entre sacador e sacado não é qualquer um, mas tem que ser uma relação de conta corrente; o
valor envolvido entre sacador e sacado não pode ser qualquer um, mas tem que ser limitado aos fundos
existentes. Com o cheque trouxe segurança com um banco e com limitação de uma relação jurídica na
origem. Continuo tendo abstração entre sacador e beneficiário, não importando a razão de ter passado
o cheque. Se optou por essa restrição para trazer segurança e ganhar em escala, consigo tornar essa
operação alcançável a muitas pessoas, o custo operacional é pequeno, custeado pelo sacador que
paga taxa bancária. Para quem recebe, recebe o valor cheio. Em comparação com a Letra, é super
moderno, pois tem segurança pelo banco, tem facilidade, pois tem banco em todo lugar. Institucionaliza
para trazer maior segurança-previsibilidade, que tem um custo (taxa), exigindo conta-corrente e
existência de fundos. Depois disso, para tornar essa dinâmica ainda mais eficiente, se traz o Cartão de
Crédito. A diferença é que nele tenho a figura de um sacador, sacado e beneficiário. Também tenho
relação entre sacador e sacado (cartão de crédito). Exige-se ainda uma outra relação jurídica, essa
entre sacado e beneficiário (maquininha). O cartão vai cobrar uma taxa e quem me vende também paga
taxa para a operadora. Eu, sacador/comprador, vou comprar algo de uma empresa, vou dar uma ordem
para que o VISA pague para essa empresa, só que preciso ter 2 vínculos jurídicos e o intermediário vai
ser a operadora de cartão de crédito, não vai ser o banco necessariamente, uma instituição financeira. É
estruturada nas duas pontas, tenho que ter fundos (agora limite). Tem taxa nas duas pontas, é uma
operação mais cara, mas mais escalonável, o ganho em escala é muito grande, entre em fluxo muito
rápido sem precisar parar para ir no banco depositar o cheque. Cartão não tem o risco de não ter
fundos, como no cheque. Os empresários juntavam os cheques da semana e iam no banco descontar.
Uma % deles voltava sem fundos. O que se passou a fazer é que os empresários notaram que sempre,
por exemplo 10% do valor nominal voltava e tinham que gastar para conseguir esse valor com a
contratação de advogado, execução e etc. Custo operacional. Eles passaram a descontar esse valor
com uma empresa de factoring, que simplesmente recebiam os cheques, assumiam o risco do
recebimento dos valores e compravam esses créditos dos empresários com uma taxa. Paga 15% do
valor dos cheques e tu, empresário, vai receber esse dinheiro, sendo a factoring assumindo o risco dos
cheques não serem pagos. Ficava bom para todo mundo. Mas, tinha que conhecer um cara da factoring
e tinha que negociar. Com cartão de crédito, esse custo já está na taxa da maquininha. Fica bom para o

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1.9.7.2.6 Data da confecção da folha de cheque, no formato "confecção:
mês/ano", na parte inferior da área destinada à identificação da
instituição financeira, no anverso do cheque
1.9.8 APRESENTAÇÃO PARA O SACADO
1.9.8.1 Não tem apresentação para aceite, pois este é implícito
1.9.8.2 Apresenta depois que vence, pois cheque é à vista, a não ser que
seja pré-datado. Mas ainda que em data futuro, banco não está
vinculado ao "bom para"
1.9.8.3 Se tem fundos: banco paga, resgata o cheque, e desconta dos
fundos da conta. O banco não está vinculado ao bom para. O problema é
entre quem apresentou antes e emitiu.
1.9.8.4 Se não tem fundos: fundo é também o cheque especial (é o
negativo). O problema é quando não tem nem esse. Nesse caso, será
devolvido por insuficiência de fundos ao beneficiário. Essa devolução
deixa marca no título (carimbo no verso do título dizendo que foi
devolvido por falta de fundos, que tem uma codificação motivo 11)
1.9.8.4.1 Na prática existe limite para quantas vezes vai ser devolvido o
cheque? Devolvido por falta de fundos, caracteriza já a pretensão
resistida para execução ou posso reapresentar o cheque. Só que não
na mesma hora ou no dia seguinte. Tem que esperar DOIS DIAS
ÚTEIS (para que possam acontecer 2 coisas: 1. Tentar entrar em
contato com o sacador ou para que banco faça contato com o
correntista para resolver algum deslize do sacador ou acertar
algum dia para reapresentar; 2 O banco deverá inscrever o seu
nome no Cadastro de Emitentes de Cheques Sem Fundo (CCF),
sendo-lhe vedado fornecer ao cliente talonários enquanto seu
nome estiver inscrito nesse cadastro. Cadastro é gerido pelo BB.
1.9.8.4.1.1 Sobre inscrição indevida do BB sem notificação.
Súmula 572, STJ: o BB, na condição de gestor do Cadastro de
Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a
responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da
sua inscrição no aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva
para as ações de reparação de danos fundadas na ausência de
prévia comunicação.
1.9.8.5 Prescrição (prazo art. 33)
1.9.8.5.1 Emitido no lugar onde deve ser pago (30 DIAS)

empresário que não tem o risco de não receber e já tá calibrado o quanto ele vai pagar de taxa, que ele
vai repassar para o consumidor. Então, na Letra de Câmbio, era papel e caneta e fazia o que quisesse,
liberdade plena. 100% na confiança. Depois começo a estruturar para trazer mais confiança
independentemente da pessoa, mas confiança pela estrutura do negócio, jogando o banco que traz
confiabilidade em questões financeiras, isso vai ter custo, sendo cobrado de uma das partes. Depois
amarramos ainda mais a estrutura e limitamos a utilização, pois agora alguém tem que ter crédito numa
conta e o outro tem que ter vínculo jurídico.

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1.9.8.5.1.1 EXECUÇÃO (art. 59): 06 meses a contar do término
do prazo para apresentação
1.9.8.5.1.2 AÇÃO DE ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA (art.
61): 02 anos contados do dia em que se consumar a prescrição -
regra especial para o cheque
1.9.8.5.1.3 MONITÓRIA: 5 anos contados do vencimento
(vencimento é igual a data da emissão). Ou seja, nunca vai usar
ação de locupletamento, técnica mais eficiente com maior prazo,
pois o prazo de execução e locupletamento são bem curtos para o
cheque.
1.9.8.5.1.3.1 No caso do pré-datado, jogo para o vencimento a
contagem da monitória pela lei? Ou pela jurisprudência estaria
contando a partir do "bom para"? Há debates.
1.9.8.5.2 Emitido em outro lugar do país ou no exterior de onde deve ser
pago (60 DIAS)
1.9.8.5.2.1 EXECUÇÃO (art. 59): 06 meses a contar do término
do prazo para apresentação
1.9.8.5.2.2 AÇÃO DE ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA (art.
61): 02 anos contados do dia em que se consumar a prescrição -
regra especial para o cheque
1.9.9 REVOGAÇÃO/CONTRAORDEM (art. 35)
1.9.9.1 É a revogação da ordem dada (de pagamento) ao banco
1.9.9.2 Exclusivo do emitente
1.9.9.2.1 Emitente indica os motivos e o banco não pode discutir
1.9.9.3 Só produz efeito após o prazo de apresentação
1.9.9.3.1 Não impede o pagamento imediato
1.9.9.4 Visa a resguardar o planejamento do correntista, no que tange à
movimentação de sua conta-corrente
1.9.10 SUSTAÇÃO/OPOSIÇÃO (art. 36)
1.9.10.1 Tanto o emitente como os legítimos possuidores podem sustar o
cheque48
1.9.10.1.1 Deve ser fundada em relevante razão de direito, e o
banco não pode discutir
1.9.10.2 Os efeitos são imediatos
1.9.10.3 Visa evitar o pagamento
1.9.11 CHEQUE CRUZADO

48 Hipótese de alguém perder o cheque.

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1.9.11.1 Não vai ser pago direto para a pessoa, mas depositado direito na
conta-corrente do beneficiário. Traz segurança para o cheque, impede
que se alguém roubar o cheque saque o dinheiro.
1.9.11.2 Não vai circular
1.10 DUPLICATA MERCANTIL
1.10.1 Típica nas relações comerciais, feito para fomentar o comércio. Título
de crédito sui generis
1.10.2 Lei nº 5.474/68
1.10.3 É título causal: enquanto os outros títulos, o motivo pelo qual foi
criado o título é irrelevante, aqui só posso emitir a duplicada por duas
causas: compra e venda mercantil ou prestação de serviços. Não é para
qualquer relação jurídica.
1.10.3.1 Esse motivo vai constar no título, o motivo pelo qual foi emitido,
através da indicação do nº da fatura da compra e venda mercantil ou
prestação de serviço.
1.10.3.2 Ex.: Dono de padaria tem que comprar farinha para fazer pão.
Tem que comprar reiteradamente farinha com mesmo fornecedor. Toda
hora tem que comprar farinha. Toda hora que vai comprar vai celebrar
um contrato de compra e venda mercantil, com duas testemunhas? Não,
gasta muito tempo. Para isso, quando foi feita a compra e venda da
farinha, tem que materializar isso no registro empresarial, toda empresa
tem que ter o livro diário, onde são registradas todas as operações feitas
ao longo do dia. Quando lança no diário, quando fatura um bem, gera
imposto, com base na fatura, incide o imposto. É permitido que seja feita
a "extração", extrai uma duplicata contra quem me deve, com base
naquela compra e venda mercantil, que está faturada nos meus
documentos empresariais, com um nº para eu saber qual farinha eu
comprei, que deu origem àquela despesa, com base nela, se quero
garantir que o pagamento seja a prazo, e quero documentar e ter força
executiva no futuro posso extrair uma duplicada daquela obrigação com
aceite do devedor. Duplicata representa a compra e venda em x dias.
Então, o dono do moinho entrega a farinha e faz com que o padeiro
assine uma duplicata representativa daquela compra e venda, que vai
vencer daqui a 30 dias. Se não pagar, não vai discutir, vai executar. Não
precisa ter contrato de compra e venda da farinha.
1.10.4 SACADOR(credor/vendedor) -> ordem ->
SACADO(devedor/comprador) e este faz pagamento ao sacador
1.10.4.1 Dou ordem para pagarem para mim. Inverte a lógica de que
geralmente quem dá a ordem é o devedor. Aqui é o credor que dá ordem
para o devedor pagar. Sacado, devedor tem que aceitar. Tem que ter um
livro para emitir as duplicatas também.
1.10.4.2 Existe uma causa para isso, vai estar na fatura.

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1.10.5 TÍTULO VINCULADO AO MODELO
1.10.5.1 No próprio modelo aparece a causa que é a fatura, que será
registrada nos documentos contábeis, pelo menos no livro diário.
Quando for extraída a duplicata vai constar nos livros das duplicadas
extraídas.
1.10.6 REQUISITOS
1.10.6.1 Denominação "duplicata"
1.10.6.2 Data de sua emissão
1.10.6.3 Número de ordem (consta no registro de quem emite a duplicata)
1.10.6.4 Número da fatura (a causa)
1.10.6.5 Data certa do vencimento ou declaração de ser a duplicata à vista
1.10.6.6 Nome e domicílio do vendedor e do comprador
1.10.6.7 Importância a pagar, em algarismos e por extenso
1.10.6.8 Praça de pagamento
1.10.6.9 Cláusula à ordem
1.10.6.9.1 Feita para circular. P. ex.: Tanger me passou uma
duplicata e eu aceitei. Farinha de 50k, vou pagar em 30 dias. Para
mim foi bom, vendo o pão e com o dinheiro deles pago. Tanger não
vai ficar esperando, pode vender por 45k para o banco. Tanger vai ter
dinheiro para comprar trigo. Banco lucra 5k.
1.10.6.10 Declaração do reconhecimento de sua exatidão e da
obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite,
cambial
1.10.6.11 Assinatura do emitente
1.10.7 DINÂMICA49: Compra e venda mercantil -> entrega ou despacho da
mercadoria (até 30 dias50) -> emissão da fatura + extração da duplicata (até
30 dias51) -> Remessa da Duplicata -> depois que enviei a duplicata (pode

49 O problema começa quando vemos a perspectiva da cobrança da duplicata. Quando vemos nos outros
títulos, partimos da relação jurídica do próprio título, não trazia a relação fundamental. Na duplicata
importa a relação fundamental, começa a pensar o problema na compra e venda mercantil. Tenho que
ter uma compra e venda mercantil ou prestação de serviço. Para essa compra e venda se perfectibilizar,
tem que ter entrega ou despacho da mercadoria. Dependendo da obrigação que eu fiz, pode ser que
quem venda tem a obrigação de levar até a minha e me entregar na minha mão, se não entregar, não
pago; em relações empresariais é muito comum que o dever de entregar não é na mão de quem
compra, mas de despachar a mercadoria em direção a quem compra, pois pode ser que eu queira
assumir o risco do transporte (eu tenho caminhão). Pode ser que eu considere que a entrega da farinha
ocorreu não quando entrou na minha loja, mas quando foi um caminhão meu e pegou a farinha lá no
moinho. Foi concretizada a obrigação de quem vendeu quando despachou a farinha no caminhão.
50 A partir da entrega ou despacho da mercadoria, a lei estabelece um prazo de 30 dias para emissão da
fatura (documento que materializa a compra e venda mercantil). Quando emito a fatura, posso a partir
da emissão, extrair a fatura. Sem fatura não posso ter fatura, o nº da fatura é requisito da duplicata.

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ser por correio e etc.) podem acontecer 4 situações diferentes com
consequências próprias
1.10.7.1 Comprador aceita -> devolve ao sacador52 ->
1.10.7.1.1 Paga no Vencimento (em geral feto em boleto, vindo o
boleto em cima e a duplicata em baixo na mesma folha53)
1.10.7.1.2 Não paga no Vencimento -> Protesto*54 por falta de
pagamento *(o portador que não tirar o protesto da duplicata dentro
do prazo de 30 dias, contado da data de seu vencimento, perderá o
direito de regresso contra os endossantes e respectivos avalistas)
1.10.7.2 Comprador Não devolve (comeu a duplicata)
1.10.7.2.1 Protesto* por falta de devolução
1.10.7.2.1.1 Aqui posso emitir nova, extraio a tríplicata: a perda
ou extravio da duplicata obrigará o vendedor a extrair a triplicata,
que terá os mesmos efeitos e requisitos e obedecerá às mesmas
formalidades daquela, pois tem causa vinculada ao próprio título.
O nome é triplicata, pois tenho a fatura que seria a "plicata", e a
duplicata é como se fosse uma cópia da fatura com efeitos
jurídicos próprios, é duplicado o efeito jurídico da fatura, é
triplicata por que é a terceira, cópia da duplicata. Diferente da nota
promissória onde perdeu e já era por conta da abstração, não tem
nome, por conta de abstração. O título deixou de existir, a
obrigação já era; na duplicata a obrigação não deixa de existir,
pois é um título causal está vinculado à fatura.
1.10.7.3 Comprador Devolve Sem Aceite
1.10.7.3.1 Protesto* por falta de aceite (não apontou motivo por
qual não aceita)
1.10.7.3.1.1 Cumpri minha parte, entreguei a farinha. Uma coisa
é protestar por falta de pagamento, outra é por falta de aceite.
51 Extraída a duplicata, tenho 30 dias para enviar a duplicata para aceite. Pode ser na mesma hora, sou o
cara da farinha, e na entrega da farinha já fiz a fatura e levo a duplicata para o padeiro assinar, mas a lei
permite esses prazos.
52 Quem paga, não precisa depois resgatar a duplicata para rasgar, mas quando paga no boleto, não volta
para pegar. A duplicata não vai ter mais efeito, o credor não vai poder executar, vai tomar sucumbência
na execução, pois vai ser fácil de comprovar o pagamento, pois a duplicata é causal, e é escriturada, eu
sei onde ela está e com quem. Não precisa resgatar se pagar por boleto. Duplicata tem expressa
previsão para ser criada de forma virtual. Faz sentido, pois facilita essas operações através de aceites
via sistema.
53 Paga a obrigação do contrato de compra e venda mercantil, que está representada por uma fatura, da
qual foi extraída uma duplicata, que tem por meio de pagamento o boleto.
54 Esse protesto tem que ter atenção. Prazo de 30 dias, é fácil de lembrar. Protesta por falta de pagamento
para garantir a execução contra os devedores indiretos. Protesto pode ter efeito de cobrança. Padeiro
que não pagou, cara do moinho protesta o padeiro, que não é único fornecedor de pães. Ninguém mais
vai vender farinha para ele, assim como quem vende sal, fermento. Não vão querer vender a prazo para
ele.

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Protesta por falta de aceite, junta o comprovante da entrega ou
despacho e pode promover a execução, superando a falta de
assinatura dele (é título causal)
1.10.7.4 Comprador Não Aceita
1.10.7.4.1 Motivos (art. 8º) I - avaria ou não recebimento das
mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta
e risco55
II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade56 das
mercadorias, devidamente comprovados
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados (vou pagar, só
não aceito o título)
1.10.7.4.1.1 Comprador indica na duplicata, escrevendo que não
aceita e o motivo, isso pois o título é causal.
1.11 TÍTULOS DE CRÉDITO DE FINANCIAMENTO (apresentação de
trabalhos)
1.11.1 CÉDULA DE CRÉDITO RURAL
1.11.1.1 Tem alguém que trabalha no campo (produtor) que precisa de
dinheiro e busca com o Banco, que em geral vai ser o BB. É uma
operação de crédito só que ao invés de simplesmente ter um
financiamento, vou criar uma CCR que vai facilitar ao banco negociar ela
com o mercado, pois a CCR em geral vai ter uma garantia vinculada ao
cumprimento que pode ser pignoratícia, hipotecária e etc. Com essa
garantia, se espera que com esse empréstimo se facilite o acesso ao
crédito e redução da taxa de juros. Só que para ter essa redução na taxa
de juros, é necessário que esse dinheiro não seja entregue como se
fosse em uma conta corrente, mas que esse dinheiro seja vinculado à
uma atuação de produção rural, como uma espécie de fomento. Então,
eu facilito de um lado dando dinheiro mais barato e de outro eu vinculo
com destinação e com garantia. Essa garantia, quando for pignoratícia
(bens móveis) eu mudo a lógica do penhor tradicional, pois no tradicional
quem fica com a posse do bem dado em garantia é o credor, que
inclusive se não haver pagamento ele vende e paga a dívida. No
ambiente rural é diferente, não tem como entregar o trator como garantia
para investir na área rural. Quebra a lógica, então se muda a lógica do
penhor onde o devedor fica como responsável da entrega desse bem,
ficando como depositário dos bens ou animais, sob pena de ser
responsabilizado pela quebra da garantia.
ELEMENTOS COMUNS À COMPREENSÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

55 Vendedor embute no preço o custo operacional de transporte, se assumiu o risco tem que arcar com
isso.
56 Pedi 1.000 sacos de farinha e me trouxeram 500. Vou receber, significa que não vou pagar ao não
aceitar? Não, mas significa que o credor não vai me executar por não ter pago as 1.000 sacas que é o
valor estabelecido na duplicata, vamos discutir essa relação.

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1.12 AVAL
1.12.1 Conceito: ato cambial de garantia, uma pessoa, chamada de avalista,
garante o pagamento do título em favor do devedor principal ou de um
coobrigado
1.12.2 Garantia: não confia plenamente na capacidade de cumprir a
obrigação
1.12.2.1 Reais
1.12.2.1.1 Hipoteca: sobre bem imóvel
1.12.2.1.2 Penhor: sobre bem móvel
1.12.2.1.3 Anticrese:frutos e rendimentos do bem
1.12.2.2 Fidejussórias
1.12.2.2.1 Fiança
1.12.2.2.2 Aval: típica dos títulos de crédito, só aqui existe
1.12.2.2.3 Caução
1.12.3 FORMA
1.12.3.1 Anverso: simples assinatura do avalista
1.12.3.2 Verso: Assinatura com identificação do ato praticado. *Depende
de outorga uxória, salvo se regime da separação de bens (absoluta
ou obrigatória) (art. 1.647, CC)
1.12.3.3 Em Branco: não identifica o avalizado (presume-se ao sacador na
letra e ao emitente na nota)
1.12.3.4 Em Preto: identifica o avalizado
1.12.4 DISTINÇÕES
1.12.4.1 Aval x Fiança: obrigação autônoma x acessória (benefício de
ordem)
1.12.4.1.1 Na fiança, primeiro tem que pegar os bens do afiançado.
É o direito do fiador, que é disponível, podendo abrir mão do benefício
de ordem (é comum essa cláusula).
1.12.4.1.2 Ambos são fidejussórios, baseados na confiança,
respondendo com todo patrimônio.
1.12.4.1.3 Não tem benefício de ordem, assume mesma posição
que o avalizado (devedor principal, geralmente)
1.12.5 DEVERES
1.12.5.1 Art. 889, CC: O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na
falta de indicação, ao emitente ou devedor final.

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1.12.5.2 Art. 889, § 2º, CC: Subsiste a responsabilidade do avalista, ainda
que nula a obrigação daquele a quem se equipara, a menos que a
nulidade decorra de vício de forma.
1.12.5.2.1 Cuidado, o avalista não vai responder perante
cessionário, pois ele concede aval na relação cambiária, ao
operarmos a autonomia e abstração do título, o avalista não participa
da relação de cessão de crédito/fundamental.
1.12.6 DIREITOS
1.12.6.1 Art. 889, § 1ª, CC: Pagando o título, tem o avalista ação de
regresso contra o seu avalizado e demais coobrigados anteriores.
1.12.6.1.1 Pode cobrar inclusive do avalista do emitente. Se o
avalista do emitente da nota promissória pagar, este poderá cobrar
somente do emitente porque ele é o devedor final. Quem fez a
promessa, de um jeito ou de outro vai pagar, ainda que seja para o
seu avalista.
1.12.7 SITUAÇÕES ESPECIAIS
1.12.7.1 Aval Limitado57
1.12.7.1.1 Títulos típicos -> permitido: LUG, art. 30
1.12.7.1.1.1 São aqueles previstos em lei os típicos e que por
possuem a aplicação subsidiária da LUG (ver círculos
concêntricos) Letra de Câmbio, nota promissória, cheque,
duplicata...
1.12.7.1.1.2 Escreve no título "até, limitado a x"
1.12.7.1.2 Títulos atípicos -> vedado: CC, art. 897, § ú
1.12.7.1.3 Regras especial anterior e uma regra geral posterior. A
LUG continua valendo no seu âmbito de aplicação, dos seus títulos.
Alguns estão fora da LUG, aí fica regulado pela Lei Geral. Ambas as
leis valem.
1.12.7.2 Aval Simultâneo
1.12.7.2.1 2 avalistas de um mesmo avalizado
1.12.7.2.2 Respondem perante o credor pelo todo, mas entre si
pela metade (cota-parte) (solidariedade civil)
1.12.7.2.3 Se em branco, presume-se ao sacador na letra; ao
emitente na nota.
1.12.7.2.4 P. ex.: Emitente de uma nota tem 2 avalistas (Aval 1 e
Aval 2). Essa Nota promissória representa 100k para o beneficiário. O
titular do crédito é o beneficiário. Pode exigir o pagamento do
emitente e dos dois avalistas.
57 Limitação objetiva. Dívida de 100k, posso dar aval até determinado valor? Preciso dar sobre o valor
integral da dívida?

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1.12.7.2.4.1 Hipótese 1: beneficiário pode exigir do avalista 2
100k. Se o avalista 2 paga, tem direito de regresso de 50k do
avalista 1 e 50k do emitente ou pode cobrar 100k diretamente
apenas do emitente (em geral não faz, pois se tem dois avalistas,
emitente é fraco). Nos dois casos, ele vai receber 100k. Se ele
cobra 50k do avalista 1, este tem direito de regresso de 50k do
emitente.
1.13 ENDOSSO
1.13.1 É a transferência do crédito: pode praticar quem é o beneficiário, o
endossatário (se transmitir vai ser endossante). Transfere a posse do título
ao endossatário. Aquele que endossa é o endossante.
1.13.2 CONCEITO
1.13.2.1 Ato cambiário que opera a transferência do crédito representado
por título "à ordem"
1.13.3 SUJEITOS
1.13.3.1 Endossante = alienante do crédito
1.13.3.2 Endossatário = adquirente do crédito
1.13.4 FORMA
1.13.4.1 Verso: simples assinatura do credor do título
1.13.4.2 Anverso: é obrigatória a identificação do ato cambiário praticado
"endosso dado"
1.13.4.3 Não pode ser Parcial58 (LU, art. 12; CC, art. 912, § único), nem
Condicional
1.13.4.3.1 Condicional: saber diferença de condição (evento futuro
e incerto) e termo. Como vai provar se o evento aconteceu ou não?
Não traz segurança, simplicidade e agilidade que fundam os títulos.
1.13.5 EFEITOS
1.13.5.1 Transfere a titularidade
1.13.5.2 Vincula o endossante ao pagamento do título, na qualidade de
coobrigado (LU, art. 15)
1.13.5.2.1 Entrego e fico vinculado, fica coobrigado, tem ação de
regresso de 6 meses e libera os posteriores
1.13.5.3 Ação de regresso contra os coobrigados quando do pagamento
1.13.6 ENDOSSO X CESSÃO CIVIL

58 Afinal, iria rasgar o título? Não é possível fracionar o crédito cedido. Nos créditos imobiliários, por vezes,
se emite documentos representativos de parcelas da dívidas (letras de crédito de um crédito mais
amplo).

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1.13.6.1 CESSÃO CIVIL: é cessão de crédito. Qualquer direito disponível
pode ser cedido59. Cede a posição do crédito. Não é o dinheiro que to
passando, mas a possibilidade de ganho
1.13.6.1.1 Quanto à Extensão da Responsabilidade do alienante
do crédito perante o adquirente
1.13.6.1.1.1 Responde, em regra, apenas pela existência do
crédito e não pela solvência do devedor (CC, arts. 295 e 296)
1.13.6.1.1.1.1 Se eu to cedendo meu crédito, a única
responsabilidade é de que esse crédito existe (requisito dos
negócios jurídicos). Vendi e já era, deságio menor, pois tem
segurança menor.
1.13.6.1.2 Quanto aos limites de defesa do devedor em face da
execução do crédito pelo adquirente
1.13.6.1.2.1 Poderá defender-se, quando executado pelo
cessionário, arguindo matérias atinentes a sua relação jurídica
com o cedente (CC, art. 294)
1.13.6.1.2.1.1 Posso me defender dizendo que a dívida não
existe. Tenho A que tem uma obrigação em contrato com o B. A
se compromete a pagar para o B. O B pode ceder esse crédito
para o C. O C, não pode exigir o pagamento do B, apenas do
A, pois o B cedeu a posição dele. B responde pela existência
do crédito apenas. Se o A dizer que o contrato é nulo, ele pode
alegar essa nulidade frente ao adquirente do crédito.
Embargos à execução tem suas matérias típicas
(nulidade/inexistência do título, excesso da execução,
prescrição, pagamento, novação, transação e qualquer matéria
que seja lícita e deduzível em processo de conhecimento).
Pode discutir a causa nos embargos. Nos embargos em
endosso não pode discutir qualquer matéria, mas por cessão
sim. O C, que recebeu por cessão, vai exigir o cumprimento do
contrato do A, pois assumiu a posição do B. Se o A disser que
esse contrato é nulo, ele pode alegar essa nulidade frente ao C
que é adquirente do crédito.
1.13.6.1.2.1.2 Construtora vende créditos para Banco. Cessão
de crédito, se tiver nulidade, abusividade, Banco comprou
crédito ruim (quando chegar a hora de ser executado por
causa de um contrato, vai poder alegar que o valor tá errado,
que tá abusivo, pode discutir isso nos embargos ou ajuizar
anulatória, revisional e chama o cara para dentro do processo
para discutir, pois houve uma substituição processual onde o B
não é mais credor, mas sim o C é o credor. Se tem abusividade
59 Fundos de investimento especializados em comprar posições jurídicas. Há mercado na advocacia de
análise de risco jurídico. Está vendendo uma posição que pode conferir um direito que nem sabe se vai
existir.

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na cobrança, vai exigir afastamento dessas cláusulas em
prejuízo do Banco. Pode revisar o contrato, trocou apenas o
credor, mera substituição processual. Ou precatório com base
em dispositivo no qual estava fundada a decisão que foi
julgado inconstitucional. Ação rescisória, derreteu o precatório.
Não vai exigir de quem comprou o precatório.
1.13.6.2 ENDOSSO60
1.13.6.2.1 Quanto à Extensão da Responsabilidade do alienante
do crédito perante o adquirente
1.13.6.2.1.1 Responde, em regra, tanto pela existência do
crédito quanto pela solvência do devedor
1.13.6.2.1.1.1 Se o devedor não pagar, quem passa o título,
responde pelo pagamento da dívida (solidariedade cambiária)
1.13.6.2.2 Quanto aos limites de defesa do devedor em face da
execução do crédito pelo adquirente
1.13.6.2.2.1 Não poderá defender-se, quando executado pelo
endossatário, arguindo matérias atinentes a sua relação jurídica
com o endossante
1.13.6.2.2.1.1 Não interessa relação jurídica fundamental entre
o emitente e o beneficiário ou do endossante.
1.13.7 CLASSIFICAÇÃO
1.13.7.1 Quanto a Indicação do Endossatário
1.13.7.1.1 Endosso em Branco: "pague-se"
1.13.7.1.2 Endosso em Preto: "pague-se a Antonio Silva"
1.13.7.2 Endosso Impróprio (legítima a posse)
1.13.7.2.1 Endosso Mandato (LU, art. 18; CC, art. 917)
1.13.7.2.1.1 Digamos que o Eduardo não quer ceder a
titularidade, Eduardo vai para Alemanha e o crédito vai vencer
quando ele estiver lá. Ele quer receber o dinheiro e alguém tem
que apresentar o título, que é cartular. Ele não quer dar endosso e
arcar com deságil. Ele dá endosso mandato para o Tanger e
entrega a posse para que possa executar atos de cobrança no
nome do Eduardo. Escreve "endosso mandato para Tanger".
Quando Tanger apresentar para o emitente da nota, estará
cobrando no nome do Eduardo como mandatário.
1.13.7.2.2 Endosso Caução
1.13.7.2.2.1 Caução é garantia. Título de crédito é um patrimônio.
Pode vender, pode dar como garantia de outra obrigação. Tenho
60 Não confundir com o endosso securitário, dos seguros veiculares, por exemplo, que quando o segurado
troca de carro e promove alteração do seguro, com reajuste dos valores do contrato de seguro.

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um crédito contra um devedor que tem patrimônio. Quero pegar
empréstimo, qual a garantia de que vai pagar? Não tem imóvel
para dar em hipoteca, nem um carro para penhor. Mas, tem um
crédito, uma nota promissória que vai vencer em setembro de
500k. Quem vai dar empréstimo diz que interessa a nota
promissória. Entrega o título de crédito, se ele não pagar, fico com
a nota. Mas como vai funcionar? "endosso caução" para quem dá
o empréstimo, e quem pegou o título não vai poder executar o
devedor, fica com a posse para evitar que o devedor pegue o
dinheiro da nota e não pague o empréstimo. Esse endosso
caução transmite apenas a posse, não o crédito. Quem deu o
empréstimo está na posse, ele não pode executar o emitente do
título. E quem pegou empréstimo, não pode executar a nota, pois
não tem ela, ele precisa resgatar o título, que vai conseguir
pagando 100k do empréstimo para o possuidor endossatário da
caução. Tem que estar escrito endosso caução para que o
endossatário não se faça de louco e apresente para o emitente.
1.13.7.2.3 Endosso impróprio cede apenas a posse, quem tem o
título não tem o crédito. Desmembra posse e crédito. É um ato
cambiário que justifica alguém está com a posse, mas não tem o
título. Está com o título, mas não por ser o titular do crédito.
1.13.7.3 Quanto a Vinculação do Endossante ao Pagamento
1.13.7.3.1 Endosso "sem garantia" (LU, art. 15): basta escrever
"sem garantia". Se livra da possibilidade de ser executado. Deságil é
maior. Passo e não sou mais responsável pela solvência.
1.13.7.3.2 Autonomia das relações cambiárias, pode cobrar de
qualquer um, menos de de quem endossou sem garantia.
1.13.7.4 Quanto a possibilidade de Circulação
1.13.7.4.1 Cláusula "não à ordem". Circula apenas como cessão,
podendo o emitente opor exceções pessoais.
2 CRISE DA EMPRESA61
61 Vamos estudar técnicas à disposição do empresário e do mercado para enfrentar a crise. Título de
crédito tinha lógica onde foram sendo desenvolvidas ferramentas e técnicas, com abstração na
construção de relações jurídicas. Outrora já teve bastante aplicabilidade grande, mas hoje não tanto.
Quando falamos em crise da empresa, é uma matéria em que somos bombardeados pela mídia. Todo
dia sai notícia sobre recuperação judicial e falência. É atual também porque estamos em contexto de
crise econômica, que impacta na atividade empresarial. A falência, é uma matéria "raiz" do direito
empresarial, o título de crédito transitou entre direito civil e comercial. Apenas a pessoa jurídica pode
lançar mão da falência, esse instituto nasceu junto com a empresa. A recuperação judicial é nova, é de
2005 e foi atualizada em 2021 que modificou drasticamente a Lei de Falências (nº 11.101/05), que é
extensa, sendo um microssistema com normas de natureza processual e de direito material. É muito
mais complexa do que título de crédito, os títulos são minimalistas. Recuperação e falência são
extremamente complexas. Falência é menos complexa que recuperação, possui duas fases (pré-
falimentar - processo de conhecimento para saber se deve ou não falir e a de falência que é de
execução, mas diferente. A execução que já estudamos é a singular, resolve uma dívida; na falência é
uma execução universal, trazendo todos os credores, não sendo apenas uma relação jurídica sendo

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2.1 INTRODUÇÃO ÀS CRISES62
2.1.1 CRISE DA EMPRESA
2.1.1.1 Observações
2.1.1.1.1 Solução: empresário
2.1.1.1.2 Vários sentidos a "empresa estar em crise". Qual tipo de crise?
É importante identificar os "sintomas" para saber qual o remédio
ideal, qual ferramenta para combater. Temos 2 remédios, temos que
identificar os sintomas. Saber por que a empresa está doente. Aqui
vamos ver 5 que são as mais emblemáticas, mas existem várias.
Marlon Tomazzeti.
2.1.1.1.3 As crises se relacionam
2.1.1.1.4 Quando for fazer uma Petição Inicial de Recuperação Judicial,
tem que descrever qual foi o motivo da crise. Ainda vamos ver a
causa de pedir.
2.1.1.1.5 Nem sempre empresário é responsável, pode ser do ambiente.
2.1.1.2 CRISE DE RIGIDEZ: ADAPTABILIDADE (Solução: empresário/na
mão do administrador. Baixa complexidade)
2.1.1.2.1 Caso Kodak, Saraiva e Cultura, Netflix.
2.1.1.2.2 A crise de rigidez ocorre quando a atividade não se adapta ao
ambiente externo, demonstrando uma incapacidade de reação em
face de mudanças. Tem a ver com o ambiente em que a empresa
está inserida (mercado). Esse mercado/habitat é tipicamente instável,
movimenta muito. Qualquer atividade empresarial demanda
adaptabilidade, pois ele muda a todo momento, com inovação,
flexibilidade, adaptabilidade. Se for rígido, quebra. Mercado é instável
e competitivo, as empresas lutam por um espaço nesse mercado.
2.1.1.3 CRISE DE EFICIÊNCIA: GESTÃO (Solução: empresário/na mão
do administrador)

satisfeitas, mas todas as relações jurídicas da empresa. E serão todos os bens do devedor. É uma
execução mais complexa.
62 Vamos ver as crises antes para saber os métodos de lidar com as crises. Recuperação Judicial uma
empresa deve e não tem condições de pagar suas dívidas, na recuperação essas dívidas ficam
suspensas, ela apresenta uma plano para pagar suas dívidas sem quebrar. Esse plano reduz o valor
devido (amortização) e parcela o valor. Os credores votam em assembleia para que esse plano seja
aprovado ou não. Se aprovado, há uma novação das dívidas e paga conforme o plano e a empresa
continua funcionando. É uma forma de preservar a empresa. Mas isso não é um calote? O credor pensa
assim quando se olha apenas o lado dele. Porém, temos que perceber que o problema não é tão
simples assim na bilateralidade do credor e devedor. Existe uma espécie de demonização do
empresário baseado na busca do lucro, que é pecado e para lucrar alguém tem que perder, por uma
moralidade cristã ao contrário do Max Weber e países protestantes. Nem toda crise é culpa do
empresário. Depois vamos ver os pontos em comum da falência e da crise (sistema concursal), depois
uma pequena contextualização da evolução histórica do sistema concursal e depois vamos para os
procedimentos das duas técnicas, começando pela recuperação judicial.

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2.1.1.3.1 As crises de eficiência se manifestam quando uma ou mais
áreas da gestão empresarial operam com rendimentos que não são
compatíveis com a sua potencialidade, isto é, rendem menos do que
poderiam render. Pode ter crise de eficiência quando estou rodando
muito perto do 0 X 0.
2.1.1.3.1.1 Fator externo, problema da rigidez leva ao risco de
diminuir o faturamento e aproximar ou o custo ultrapassar. O
advogado vai ser procurado depois que a vaca vai pro brejo.
2.1.1.3.2 Eficiente é com o menor esforço (dedicação, investimento) tirar
os melhores resultados.
2.1.1.3.3 Para melhorar eficiência pode aumentar o faturamento ou
diminuir custo.
2.1.1.3.4 Problema é quando se aprofunda e vira uma crise financeira.
2.1.1.4 CRISE ECONÔMICA: RETRAÇÃO DOS NEGÓCIOS (Solução:
Mercado e Estado - pode ter origem no empresário e uma levando a
outra. Uma relação das crises pode ser de aprofundamento)
2.1.1.4.1 A crise econômica é a retração considerável nos negócios
desenvolvidos pelo titular da empresa. A redução é significativa. A
crise econômica pode desencadear uma crise financeira quando
baixa o faturamento abaixo do custo operacional. Se isso não
acontecer, se a margem de lucro é grande, pode ser que a crise
econômica e sua retração não impacte a ponto de gerar uma crise
financeira.
2.1.1.4.2 Afeta todo o mercado. Crise econômica nos transportes pelo
aumento do preço do combustível. Está tudo certo, mas a crise
externa impacta no meu resultado que faz surgir uma crise no meu
ramo. Pode ter retraído ainda o mercado de consumo, reduziu o
consumo.
2.1.1.4.3 Combate aumentando o faturamento ou diminuindo o custo
operacional.
2.1.1.4.4 Problema é quando é prolongada é que não consigo pegar
empréstimo. No empresarial se faz o contingenciamento, o problema
é quando acabam esses recursos e começa uma crise patrimonial.
2.1.1.4.5 Requiem for American Dream (Noam Chomski)
2.1.1.5 CRISE FINANCEIRA: ILIQUIDEZ (Solução: Mercado e Estado)
2.1.1.5.1 Crise financeira é a constante incapacidade de a empresa
fazer frente às próprias dívidas, com os recursos financeiros à
disposição. Trata-se de uma crise de liquidez, que inviabiliza o
pagamento dos compromissos do dia a dia.
2.1.1.5.2 Acontece quando, por exemplo, estou com meu custo
operacional estável, o faturamento ia bem e daí cai e começo a ter

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prejuízo. Essa crise pode ser breve, que é resolvida com crédito.
Problema é quando vai se aprofundando. O que gerou pode ser um
problema de rigidez, decisões ruins de gestão. Passivo é maior que o
ativo. Pode chegar também por crise econômica.
2.1.1.5.3 VARIG quebra por decisão do governo de tabelar preços,
oferecia serviços caros, mas com muita qualidade. Custo operacional
ficou muito alto.
2.1.1.6 CRISE PATRIMONIAL: INSOLVÊNCIA (Solução: Mercado e
Estado)
2.1.1.6.1 Representa o patrimônio insuficiente para arcar com as
dívidas, vale dizer, "a insuficiência de bens no ativo para atender a
satisfação do passivo". Se tudo der errado, para aqui. Não tem mais
de onde tirar. Crise financeira longa vai vendendo. Aqui é o fundo do
poço, não tem mais nada. Uma coisa é não ter fluxo de caixa para
pagar, outra é não ter patrimônio.
2.1.1.6.1.1 Ou pode ter patrimônio de 100 milhões, mas 200
milhões de dívidas.
2.1.1.6.2 Em geral, quando bate aqui, a Recuperação Judicial não
adiantar. Empresário pede RJ nessa fase e credores dizem que é
picareta, que está usando só para desviar patrimônios.
2.1.1.6.3 Pode ter decretação da falência para evitar contaminar o
habitat. No Brasil é raro pedir autofalência.
2.1.2 MODELOS DO SISTEMA CONCURSAL (quanto mais para cima,
maior proteção individual do credor, para baixo: proteção funcional da
economia e da coletividade
2.1.2.1 Não surgiu de uma vez em um país
2.1.2.2 EMINENTEMENTE PUNITIVO
2.1.2.2.1 Foco na pessoa do devedor
2.1.2.2.2 Lei das XII Tábuas, obrigação pessoal por dívidas, virava
escravo. Devedor podia ser cortado em quantas partes fosse
necessário para os credores. Protagonismo do credor é evidente, ele
tem direito, garante o direito dele, inclusive matando o devedor. De
um lado é eficiente, mas por outro eu na condição de credor não vou
receber o dinheiro de quem eu matei. Notou-se que o modelo não era
suficiente e devia resolver patrimonialmente.
2.1.2.3 EMINENTEMENTE PATRIMONIAL
2.1.2.3.1 Foco na liquidação do patrimônio do devedor, buscar o dinheiro
que era meu. Não quero mal do devedor, quero que ele prospere para
que eu coloque a mão no dinheiro. Transforma patrimônio e
transforma em dinheiro

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2.1.2.3.2 Surge noções de impenhorabilidade, na execução singular (já
estudada) temos essa noção, resguardando a dignidade da pessoa
humana. É um modelo que ainda nos atende.
2.1.2.3.3 Porém, às vezes quando liquida, deixa empresa inviável,
deixando os credores na mão, empregos, competitividade, tributos.
Simplesmente jogar com isso contra a empresa, pode resolver o
problema do credor que recebe a grana dele, mas gera efeito
colateral para o mercado, para a sociedade. Quando a empresa deixa
de existir porque deve, gera problemas. Com isso, começo a
trabalhar com ideia de proteção funcional, garantir o credor, mas não
de tal forma a prejudicar todos que estão no entorno da empresa,
começam a surgir mecanismos de prevenção.
2.1.2.4 PROPÓSITIOS CONSERVATIVOS
2.1.2.4.1 Adoção de mecanismos preventivos e suspensivos
(concordata - não existem mais no Brasil desde 200563)
2.1.2.5 PRESERVAÇÃO DA EMPRESA
2.1.2.5.1 Foco na preservação dos interesses que gravitam em torno da
empresa. O sistema começa a mudar o foco para o ambiente, mas
não pode ser cego de imaginar que os empresários não vão tentar
tirar vantagem disso. Ao preservar a empresa, não dou vantagem
apenas para o empresário, mas para todos, com maior competição,
mais emprego, maior regulação de preços, mais tributos. Tem que
cuidar embora o empresário não tenha, mas não pode simplesmente
dar um "pause" e deixar a empresa na mão do empresário que criou
o problema. Vem o modelo de preservação da empresa. Tem que
manter a empresa com a adoção dos mecanismos preventivos e

63 Existe a coisa como ela é e como ela funcionava. A concordata funcionava como mecanismo
suspensivo. Eu tinha empresa e estava tomando execuções de credores. Tinha direito como empresário
de pedir a concordata. Formulava um pedido judicial de concordata e minhas dívidas ficavam suspensas
por um tempo. O pressuposto era tomar um alívio para se reorganizar e dali para frente conseguir quitar
as dívidas, tentar fazer parar de rolar a bola de neve, suspendendo créditos por um certo tempo. Na
prática, suspendia tudo e pedia concordata quando já estava atolado, quando chamou era porque ia
quebrar, impactava muito a imagem da empresa, pedia em último caso. Nesse nível de endividamento,
não adianta suspender as dívidas. O empresário ia quebrar, tinha direito a pedir e transportava dinheiro
da empresa para o patrimônio pessoal ou abria uma outra empresa. Era só para protelar e para dar
margem para o empresário desorganizado fugir da sua responsabilidade patrimonial, concordata era
sinônimo de pilantragem. Quando pedia a concordata não tinha qualquer ônus para empresa, só
confiava. Empresário se reorganizava fora da empresa podre. Itapemirim e outras empresas em crise.
Ela lidou muito tempo com transporte, foi crescendo e começaram a investir em companhias aéres.
Porém, começou a passar por crise e ela pediu recuperação judicial, durante a recuperação em que
tenta equalizar dívidas da empresa, abriu uma nova empresa na Europa em área de atuação similar. Os
credores daqui ficaram ligados, viram que estava tirando dinheiro daqui e colocando lá. Deu um rolo
procedimental, o juiz na própria recuperação judicial reconheceu essa manobra como indevida e
decretou a falência. Hoje tem a discussão se quem devia ter tomado essa decisão era o juiz ou os
credores. Desde que o mundo é mundo, às vezes o credor quando vê a crise, tenta achar solução para
ele e o ordenamento jurídico deve ajudar a conservar a empresa, mas também deve ter um pé atrás
com as malandragens.

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suspensivos mas para preservar os interesses que gravitam em torno
da empresa.
2.1.2.5.2 Na Concordata, havia basicamente a suspensão dos créditos e
confiava no credor. Na recuperação judicial, muda o foco. Quem tem
que definir se a empresa deve prosperar ou não, se o interesse é dos
credores, é eles quem definem. Hoje, não basta pedir e suspender e
já era, até tem o efeito de suspender, mas não é suspender por
suspender, tem o motivo para que o credor apresente um plano de
recuperação judicial, não mais fica só na confiança. Tem que mostrar
a viabilidade da empresa e superação da crise pela implementação
do plano, julgado pelos credores se esse plano é bom ou não.
Saímos do sistema em que suspendia e ficava à bangu, passa a ser
um modelo que joga poderes para os credores avaliarem se a
empresa é viável ou não através de um plano que a empresa tem que
apresentar. Plano + avaliação dos credores, em síntese.
2.1.2.5.3 Quando falamos da Lei das XII Tábuas, tinha o foco punitivo.
Hoje, chama todo mundo para conversar, tentar dar um abatimento,
parcelamento para não ficar ruim para todo mundo, construindo isso
do devedor e dos interessados, mas tirando o foco do devedor. Esse
modelo foi construído ao longo de milênios. Em termos de Brasil,
essa ideia eminentemente punitivo foi menor, tinha mescla patrimonial
e punitiva com maior ou menor garantia dos direitos individuais. Isso
não é exclusivo do ambiente empresarial, no âmbito do consumidor
se fala muito do superendividamento por cartões de crédito e as
SAFs que podem coletivizar as demandas individuais, daqui a pouco
alguém escreve um TCC que se vale para o futebol, porque não vale
para fundações e etc. Daqui a pouco o STF abre para todo mundo e o
legislador positiva. Existe uma tendência da transição desses
modelos para ambiente não empresarial
2.1.2.5.3.1 Questão do empresário/produtor rural. Em dado
momento foi dito que foi permitido o produtor rural se transformar
em empresário rural. Divisão do comercial, industrial e rural se
derreteu hoje em dia. No ambiente rural, sempre teve produtor
que pode se organizar como empresa, se aplicando o regime
jurídico empresarial se submetendo à recuperação judicial e
falência. Mas, na reforma recente da lei, foi estendido ao produtor
rural de também ter as suas atividades econômicas preservadas,
que não é empresa e pode pedir recuperação judicial. Essa
evolução é do direito empresarial, mas existe tendência de que
esse modelo comece a ser transportado para outros segmentos
da sociedade que não apenas o rural. Como ele está em zona de
penumbra, chega na hora de aplicar o sistema buga, sai do foco
da preservação e vai para eminentemente patrimonial, mas não
tem como tirar o CPF do produtor do mercado.

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2.1.2.5.3.2 Temos foco muito grande no patrimonial, com
penhora, alienação. Mas isso é parte do problema.
2.1.3 PRESERVAÇÃO DA EMPRESA x INTERESSE DOS CREDORES
2.1.3.1 Tenho de um lado o interesse dos credores e de outro o interesse
dos credores. Tenta se achar um ponto de equilíbrio, para não castigar
excessivamente nem um nem outro (empresa e credores). A palavra-
chave é a ideia de viabilidade. Isso vai definir o caminho que a empresa
seguirá. Para saber se é viável, tem que analisar o tipo de crise e a sua
profundidade. P. ex.: se apenas tem um negativa, mas ainda tem
patrimônio, não faz sentido tirar empresa do mercado se ela ainda tem
um bom patrimônio, eventualmente tem que vender algum patrimônio.
Mas, pode ser que isso demore, digamos que ela possui várias filiais, é
difícil de vender uma filial. Recuperação Judicial da OI, envolvidas
80.000 pessoas, foi antes da pandemia. Era a maior em volume de
negócios, ainda teve a recuperação judicial em termos de dinheiro foi a
da Odebrecht. O problema foi pontual de uma crise, não tira do mercado.
Vai ter gente que vai sofrer, empresa diminui de tamanho, mas não é o
caso de falir, porque ela é viável, pode vender um negócio aqui, outro ali,
mas o negócio segue firme e forte. Por outro lado, a Avianca, antes da
pandemia pediu recuperação judicial. Estava atolada em dívidas, antes
da recuperação judicial ela já dava sinais, com preço de passagens bem
baixos com desespero para colocar dinheiro no caixa, mas
paralelamente não conseguiam bancar os custos operacionais e
começaram a cancelar voos e as pessoas pararam de comprar. Todo
mundo sabia que tava mal, e ninguém mais negociava com ela, no meio
da recuperação judicial ela percebeu que não tinha plano viável e pediu
falência. Quando vai para a falência, junta o patrimônio e vai para o
interesse dos credores, depois vamos ver as categorias dos credores e
como é distribuído o "espólio" da empresa.
2.1.3.2 Empresa Viável
2.1.3.2.1 Recuperação Judicial ou Extrajudicial. Esse caminho pende
para o lado da preservação da empresa, mas tem interesse dos
credores decidindo se o plano é bom ou não. Se não for bom,
convalesce em falência.
2.1.3.3 Empresa Inviável
2.1.3.3.1 Falência. Esse caminho pende para o lado do interesse dos
credores, não vou preservar a empresa e vou buscar o interesse dos
credores na medida do possível.
2.1.3.4 Exercício. Falência ou Recuperação: Caso Gibson. Sistema
baseado no Chapter 11, cujo nome seria um Código de Direito
Falimentar, jornalista diz que como está nesse código, seria uma
falência, mas lá tem um pedido de uma espécie de recuperação judicial.
Motivo da crise seria que ampliou o negócio em escala e ampliou o
portfólio (fone de ouvido, caixa de som e etc.), mas tem outras marcas

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que fazem isso há mais tempo. A Gibson, há 40 anos estava num
mercado diferente, do Rock, é uma crise de rigidez. Todo mundo tocava
guitarra.
2.1.4 PRINCÍPIOS DA LEI Nº 11.101/05 LREF
2.1.4.1 Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a
superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim
de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos
trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a
preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade
econômica.
2.1.4.1.1 Ao preservar esses interesses, vou preservar a empresa e vai
se cumprir a função social. A empresa exerce uma função social de
produzir, criar empregos e também de pagar contas movimentando a
economia. Quanto mais preserva, mais estimula a economia.
2.1.4.1.2 Não é para superar crise patrimonial, vai superar com falência.
O foco da recuperação judicial é esse tipo de crise econômica e
financeira.
2.1.4.2 PRINCÍPIOS FUNCIONAIS
2.1.4.2.1 Preservação da Empresa (leva à proteção ao trabalhador)
2.1.4.2.1.1 Preserva a empresa, preserva o trabalho. Empresa e
empregado estão no mesmo barco, ao contrário da visão que se
tem no Direito do Trabalho.
2.1.4.2.1.2 Premissa: "a empresa é a célula essencial da
economia de mercado e cumpre relevante função social, na
medida em que, ao explorar a atividade prevista em seu objeto e
ao perseguir o seu objetivo (lucro), promove interações
econômicas com outros agentes do mercado, consumindo,
vendendo, gerando empregos, pagando tributos.
2.1.4.2.1.2.1 Em função disso, tem função social e por isso
deve ser preservada
2.1.4.2.1.3 Lei densifica esse princípio com a existência dos
regimes recuperatórios previstos em lei. Sinaliza que é
necessário proteger essa empresa, tem o princípio geral e a
também a concretização na própria Lei nº 11.101. Há outros
cenários na jurisprudência como a penhora de bens da empresa
em recuperação judicial que depois a legislação veio a
reconhecer. Quando uma empresa pede recuperação judicial, a
maioria, mas não todas as dívidas ficam suspensas durante um
tempo (180 dias). Não suspende Execução Fiscal, ela continua. O
Estado continua cobrando. Problema: Em geral, a execução
tramita em vara em razão da matéria, Vara da Fazenda Pública.
Não vou suspender. Vai redirecionar essa execução fiscal para o

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juiz da falência? Pois esses pedidos de recuperação judicial vão
para uma vara de competência definida em razão da matéria.
Quem julga? Quando pede penhora de um bem da empresa em
recuperação judicial na execução fiscal, é o juiz da execução fiscal
quem vai dizer que o bem pode ser vendido? Está tramitando a
EF e pedem para penhorar um bem que no plano de recuperação
judicial vai ser vendido para pagar credores. Com a execução
fiscal coloca por água abaixo o plano do cara que envolve 2.000
credores. Se for penhorado aquele bem na execução fiscal, ele
estava comprometido na recuperação para pagar os credores e o
juiz da EF ao determinar a venda desse bem pode matar a
recuperação, quem vai determinar se esse bem pode ou não ser
penhorado? É o juízo da EF que não sabe nada da vida da
empresa? A jurisprudência disse que quem decide sobre a
impenhorabilidade de bens de empresa submetida à recuperação
judicial é o juízo universal, ou seja o juiz que cuida da RJ. No
caso, vai para a Vara Empresarial decidir somente esta questão, o
processo não é direcionado para lá, o juiz da EF não decide se o
bem precisa ser substituído ou não. O juiz empresarial verifica se
a penhora afeta ou não o andamento da empresa e o seu plano
de recuperação judicial, em observância ao princípio da
preservação da empresa. É concretização do princípio da
preservação da empresa.
2.1.4.2.2 Participação Ativa dos Credores
2.1.4.2.2.1 Em geral, define se a empresa ou o mercado serão
preservados. Está no centro se quebra ou se preserva a empresa.
É o fiel da balança.
2.1.4.2.2.2 Premissa: Os credores assumem um papel de
destaque na recuperação e na falência, pois são eles quem
sofrerão as consequências das medidas, bem como parte-se da
premissa de que os credores tenderão a cooperar para a solução
da crise do credor, pois os resultados advindos dessa conduta
costumam ser economicamente mais eficientes.
2.1.4.2.2.3 Concretização: (vide art. 35, LREF). Na
recuperação judicial, a aprovação do plano depende da chancela
dos credores em assembleia geral. A reprovação, de regra,
importa na convolação da recuperação em falência. Na falência,
dentre outras formas de concretização, destaca-se a deliberação
da assembleia de credores sobre as matérias que possam afetar
os interesses dos credores.
2.1.4.2.3 Preservação do Mercado (leva à redução do custo do crédito)
2.1.4.2.3.1 Caminho que segue daqui é a falência, tira a
empresa do mercado promovendo a finalidade de tirar a empresa
do mercado, promovendo redução do custo do crédito, se

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preocupando com o mercado, evitando que outras empresas
quebrem também.
2.1.4.2.3.2 Premissa: Somente deve ser passível de
recuperação a empresa economicamente viável, cabendo aos
credores o poder de julgar a sua viabilidade aceitando ou não o
plano de recuperação
2.1.4.2.3.3 Concretização: Retirada do mercado da empresa
inviável por meio da falência.
2.1.4.3 PRINCÍPIOS FINALÍSTICOS
2.1.4.3.1 Proteção ao Trabalhador
2.1.4.3.1.1 Premissa: Os trabalhadores da empresa são
protegidos em duas dimensões: ou porque, com a recuperação da
empresa, continuam empregados; ou porque, com a falência da
empresa assumem posição privilegiada frente aos demais
créditos.
2.1.4.3.1.2 Concretização
2.1.4.3.1.2.1 Na recuperação: art. 54. O plano de recuperação
judicial não poderá prever prazo superior a 1 ano para
pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou
decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a data do
pedido de recuperação judicial.
2.1.4.3.1.2.1.1 Art. 54. Art. 54. O plano de recuperação
judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para
pagamento dos créditos derivados da legislação do
trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos
até a data do pedido de recuperação judicial. § 1º. O plano
não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias
para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-
mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza
estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores
ao pedido de recuperação judicial. § 2º O prazo
estabelecido no caput deste artigo poderá ser estendido
em até 2 (dois) anos, se o plano de recuperação judicial
atender aos seguintes requisitos, cumulativamente: I -
apresentação de garantias julgadas suficientes pelo juiz; II -
aprovação pelos credores titulares de créditos derivados da
legislação trabalhista ou decorrentes de acidentes de
trabalho, na forma do § 2º do art. 45 desta Lei; e III -
garantia da integralidade do pagamento dos créditos
trabalhistas.
2.1.4.3.1.2.2 Na falência: art. 83. A classificação dos créditos
na falência obedece à seguinte ordem: I - os créditos derivados

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da legislação trabalhista, limitados a 150 salários-mínimos por
credor, e aqueles decorrentes de acidentes de trabalho.
2.1.4.3.2 Redução do Custo do Crédito
2.1.4.3.2.1 Premissa: O favorecimento dos credores habituais
(instituições financeiras que operam com a concessão de crédito)
nos regime de recuperação e falência diminui os riscos assumidos
impactando na redução dos custos de transação dos créditos
concedidos.
2.1.4.3.2.2 Concretização: Por exemplo, na exclusão dos efeitos
da recuperação judicial ao credor titular da posição de proprietário
fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de
proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos
contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou
irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de
proprietário em contrato de venda com reserva de domínio (art.
49, § 3º, LREF)
2.1.4.3.2.2.1 § 3º Tratando-se de credor titular da posição de
proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de
arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor
de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em
incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de
venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá
aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos
de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais,
observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo,
durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º
desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do
devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade
empresarial.
2.1.4.3.3 CASO DA OI
2.1.4.3.3.1 Maior caso em número de pessoas envolvidas.
Informações exploram os princípios. 64 bi com 55 mil credores.
Justiça e varas empresariais, escassos, concentração de
competência em grandes centros. Quem dita as regras, em geral,
é o juiz de 1º grau, processo é complexo e assume protagonismo,
sendo principal fonte de formação do Direito, ao contrário de
outras áreas do Direito, e escrevem livros. Na área de
recuperação judicial, vários têm livros, a lei não dá todas as
respostas para a sua aplicação. Base bibliográfico, comentário à
lei 11.101 do Carnion que é um juiz que faz esses comentários
que vai ser bastante útil.
2.1.4.3.3.2 Plano apresentado pela OI e foi aprovado pelos
credores, indicando o protagonismo dos credores de definirem se

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o plano é viável ou não. Juiz homologa o resultado da assembleia
geral e partir daí é como se formasse coisa julgada. O Judiciário
dá a chancela para aquele plano (ainda pode recurso). Juiz
homologa o resultado da assembleia (como se formasse a coisa
julgada). Juiz fiscaliza, pode haver algum defeito.
2.1.4.3.3.3 OI Cria o plano, aprovado, chega na fase do
cumprimento do plano. Prometeu que vai pagar, vai pagar. Quem
vai fazer isso é o próprio conselho de administração da Oi.
Processo pode acabar, mas processo é cumprido ao longo do
tempo, senão pode ser dragada pela dívidas correntes e pelo
plano que deixou de pagar.
2.1.4.3.3.4 Juiz visa a proteger a empresa pela importância de
preservar mais de 140 mil empregos, possui 70 milhões de
usuários e é importante para atividades fundamentais. Gera
tributos também.
2.1.4.3.3.5 Oi SA busca dinheiro no mercado de capitais,
disponibilizando novas ações para venda nas pessoas que
apostam que a Oi vai se reerguer.
3 RECUPERAÇÃO JUDICIAL
3.1 OBS
3.1.1 Nomes de juízes nas notícias. Possuem grande protagonismo, RS
tem apenas 2 varas empresariais, são poucos juízes especializados. Vara
regional que atende mais de uma comarca.
3.1.2 Competência são dos juízes dos grandes centros urbanos
3.1.3 Existe a lei, e a interpretação da lei pelo juiz de primeiro grau. STJ e
STF não falam muito, processo complexo que se desenvolve no primeiro
grau, principal fonte referencial de formação do direito, diferente de outras
áreas. Juízes escrevem livros sobre recuperação judicial, lei não dá todas
respostas (comentário à Lei do Cárnio)
3.2 PRÉ-PROCESSUAL (Condições para que o processo se viabilize)
3.2.1 OBJETIVO Propósito da recuperação judicial
3.2.1.1 Art. 4764. Viabilizar a superação da situação de crise.
3.2.1.2 Preservação da empresa e interesses que gravitam entorno
3.2.2 MEIOS ADOTADOS PARA SAIR DA CRISE. Meios usados para que a
empresa se recupere. Como atingir o objetivo. Há 2 meios principais
(suspensão temporária das dívidas e repactuação das dívidas)

64 Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-
financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e
dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o
estímulo à atividade econômica.

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3.2.2.1 Suspensão Provisória de Dívidas (art. 6º, I e II65)
3.2.2.1.1 Período de 180 dias (do deferimento do processamento) +
prorrogáveis se o devedor não deu causa à demora 180 dias - art. 6º,
§§ 4º, 4º-A66)
3.2.2.1.1.1 Chamado de Stay ou período de STAY. Período que
as dívidas ficam no "stay", seguram, ficam aguardando. Dá um
tempo para a empresa se reorganizar do ponto de vista financeiro.
3.2.2.1.1.2 Período para empresar se reorganizar e montar
plano para apresentar para credores. Serve para quando há
grande volume de créditos, se forem poucos credores, vale mais a
pena fazer negociação direta, vai no banco e negocia com o
banco. Aqui é negociação coletiva.
3.2.2.1.1.3 Terminado o prazo de stay, há protagonismo do juiz.
Às vezes prorroga. Credores, autor não vão recorrer. Fica todo
mundo quietinho. No descompasso entre legislação e realidade,
os juízes têm que atuar para dar mais concretude, quebrando a
lógica de que só os tribunais decidem, mesmo que às vezes
atuem de forma contrária à lei.
3.2.2.2 Proteção Patrimonial (art. 6º, III67)
3.2.2.2.1 Período de Stay decorre proteção patrimonial, durante o
período o patrimônio da empresa fica razoavelmente estabilizado

65 Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial implica:


(Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) I - suspensão do curso da prescrição das obrigações
do devedor sujeitas ao regime desta Lei;(Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) II - suspensão das
execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas dos credores particulares do sócio solidário,
relativas a créditos ou obrigações sujeitos à recuperação judicial ou à falência; (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020) (Vigência)

66 § 4º Na recuperação judicial, as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III


do caput deste artigo perdurarão pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado do deferimento do
processamento da recuperação, prorrogável por igual período, uma única vez, em caráter excepcional,
desde que o devedor não haja concorrido com a superação do lapso temporal. § 4º-A. O decurso do prazo
previsto no § 4º deste artigo sem a deliberação a respeito do plano de recuperação judicial proposto pelo
devedor faculta aos credores a propositura de plano alternativo, na forma dos §§ 4º, 5º, 6º e 7º do art. 56
desta Lei, observado o seguinte: I - as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III
do caput deste artigo não serão aplicáveis caso os credores não apresentem plano alternativo no prazo de
30 (trinta) dias, contado do final do prazo referido no § 4º deste artigo ou no § 4º do art. 56 desta Lei; II - as
suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo perdurarão por 180 (cento
e oitenta) dias contados do final do prazo referido no § 4º deste artigo, ou da realização da assembleia-geral
de credores referida no § 4º do art. 56 desta Lei, caso os credores apresentem plano alternativo no prazo
referido no inciso I deste parágrafo ou no prazo referido no § 4º do art. 56 desta Lei.

67 III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e
constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do devedor, oriunda de demandas judiciais ou extrajudiciais
cujos créditos ou obrigações sujeitem-se à recuperação judicial ou à falência

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(não afeta execuções fiscais). Proporciona organização. Não permite
penhoras, arrestos e demais medidas constritivas sobre os bens do
devedor.
3.2.2.3 Permitir Reestruturação da Atividade Empresarial
3.2.2.3.1 Sob fiscalização - art. 22, II, a (administrador); art. 27, II, a
(conselho fiscal); art. 64.
3.2.2.3.1.1 Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a
fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta
Lei lhe impõe: II – na recuperação judicial: a) fiscalizar as
atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação
judicial
3.2.2.3.1.2 Art. 27. O Comitê de Credores terá as seguintes
atribuições, além de outras previstas nesta Lei: II – na
recuperação judicial: a) fiscalizar a administração das atividades
do devedor, apresentando, a cada 30 (trinta) dias, relatório de sua
situação; b) fiscalizar a execução do plano de recuperação
judicial;
3.2.2.3.1.3 Art. 64. Durante o procedimento de recuperação
judicial, o devedor ou seus administradores serão mantidos na
condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se
houver, e do administrador judicial, salvo se qualquer deles:
3.2.2.4 Repactuação dos Créditos
3.2.2.4.1 Plano de Recuperação Judicial (arts. 53 e seguintes).
3.2.2.4.1.1 Oferta deságil do valor devido e alongamento do
prazo de dívida já consolidada.
3.2.2.4.1.2 Credor tem direito de votar. Não de concordar ou não
com o plano da RJ. Depende da classe de credores e não
individualmente de cada credor. Vai ser levado para a decisão da
maioria. Pode ser obrigado a aceitar, diferentemente do
condomínio de credores.
3.2.2.5 Créditos (não) alcançados pela Recuperação Judicial. Delimitação
do seu alcance objetivo
3.2.2.5.1 Regra Geral: todos os débitos do empresário e da sociedade
empresária existentes na data do pedido, ainda que não vencidos
existentes integram a recuperação judicial (art. 49, caput)
3.2.2.5.1.1 Linha do tempo: marco zero é a data da constituição
da empresa. Empresa passa por crise econômica financeira e ela
pediu RJ durante determinado período de tempo. Empresa
continua existindo. Quais são os créditos abrangidos dentro dessa
recuperação? Ela pode ter tido uma dívida entre a constituição e o
pedido de RJ, assim como depois do ajuizamento da RJ.
Ajuizamento da RJ define esse período. A dívida 1 estará
contemplada na RJ, pois é anterior à RJ, que serve para pagar

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dívidas anteriores. A dívida 2 não. Novas dívidas se submetem à
execução normal se não houver o pagamento, pois não estão
abarcadas pela RJ. É como se nada tivesse acontecido.
3.2.2.5.1.1.1 E se tenho uma Nota Promissória emitida antes
do ajuizamento da RJ, mas com vencimento para depois da
RJ. Essa NP, cuja existência é anterior ao pedido, mas o
vencimento é posterior (exigibilidade) está dentro ou fora da
RJ? Eu já sei que essa dívida existe, sendo assim, está
contabilizada e, assim sendo, e eu sabendo que a RJ vai se
estender ao longo do tempo, eu tenho que prever como eu vou
pagar essa dívida. Isso evita fraudes: poderia chegar para um
credor parceiro e fazer uma novação (aquilo que eu te devo,
não te devo mais e projeto para o dia seguinte quando pedirei
RJ e dou uma nota promissória para ele, para tirar o credor da
RJ, criando um cenário onde o empresário poderia escolher
para quem ele vai pagar dentro e fora da RJ68). Portanto, são
todas as dívidas anteriores à RJ que existam. São esses dois
argumentos, de modo prático e para evitar fraudes.
3.2.2.5.2 Exceções (não vão para RJ, processo continua, podendo
penhorar bens da empresa e fazer o que quiser, como se não tivesse
RJ)69
3.2.2.5.2.1 Obrigações a título gratuito (art. 5º, I)
3.2.2.5.2.2 Despesas (salvo custas judiciais) que os credores
fizerem para tomar parte na recuperação judicial (art. 5º, II)
3.2.2.5.2.3 Execuções Fiscais (art. 6º, §7º-B)
3.2.2.5.2.3.1 Se não pagou tributo, vai penhorar bens da
empresa. A única diferença é que é o juiz da RJ que vai definir
se existe outro bem que é menos oneroso para o devedor
sofrer a penhora do que aquele bem originalmente indicado.
Mas, vai sofrer penhora igual.
3.2.2.5.2.3.2 Crítica: advogados sustentam que a RJ não
funciona porque o fisco, que é um dos principais credores, está
sempre mordendo a empresa em crise. Ele não para. Quem
defende o fisco, diz que o fisco não será atingido porque ele
demanda um interesse comum. Se existe interesse de
preservação da empresa pelos direitos que gravitam em torno
desta, o fisco é um dinheiro de todos, havendo um equilíbrio de
valores ao não ser atingida a EF pela RJ. Ainda, sustentam

68 Essa lógica dentro da Recuperação Judicial em plano geral, pois existem planos especiais de RJ, como
a da microempresa em que é possível chamar apenas alguns credores.
69 Execução fiscal fora. Credores que possuem vínculo com próprio bem. Operações que envolvem
operação de concessão de crédito rural em geral estão fora e adiantamento a contrato de câmbio para
exportação.

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que o fisco oferece ampla oportunidade de repactuação das
dívidas a partir dos refinanciamentos tributários.
3.2.2.5.2.3.3 ATENÇÃO: muito comum errar ao presumir que
créditos trabalhistas estão incluídos na exceção pelo fato do
Fisco também estar fora. Fisco possui natureza privilegiada, o
trabalhista é ainda mais, logo? Não, está dentro da RJ, apesar
de possuir natureza alimentar, mas possui valor intrínseco
individual e o fisco é coletivo, é interesse de todos. Contudo,
há regras que irão privilegiar o crédito trabalhista em
detrimento dos demais, mas dentro da RJ.
3.2.2.5.2.4 Tratando-se de credor titular da posição de
proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis
3.2.2.5.2.5 de arrendador mercantil
3.2.2.5.2.6 de proprietário ou promitente vendedor de imóvel
cujos respectivos contratos contenham cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações
imobiliárias,
3.2.2.5.2.7 ou de proprietário em contrato de venda com reserva
de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da
recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade
sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação
respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de
suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou
a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital
essenciais a sua atividade empresarial (art. 49, § 3º)
3.2.2.5.2.7.1 Em geral, ficam fora da RJ credores que atrelam
determinado bem ao pagamento da própria dívida. Os
credores fiduciários, que em geral são bancos e instituições
financeiras. Esses créditos, atrelados a um determinado bem,
eles ficam fora da recuperação judicial. Aqui se tenta preservar
o prestador habitual de crédito em âmbito de mercado. Evita
que eles deixem de prestar crédito o que seria ruim para todos
ou prestariam de forma muito cara. Permite execução das
garantias, não integrando a RJ facilitando a concessão do
crédito e seu barateamento. É uma opção legislativa.
3.2.2.5.2.8 Operações de crédito rural promovida pelo Conselho
Monetário Nacional nos termos dos arts. 14 e 21 da Lei 4829/65
(art. 49, § 7º), salvo que aquelas que não tenham sido objeto de
renegociação entre o devedor e a instituição financeira antes do
pedido de recuperação judicial, na forma de ato do Poder
Executivo (art. 49, § 8º).
3.2.2.5.2.8.1 Outra opção legislativa da reforma de 2020.
Envolve o agronegócio. Antigamente se discutia se o produtor

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rural podia ou não pedir recuperação judicial. Alguns diziam
que não, somente se ele formasse uma empresa entrando no
regime empresarial. Durante muito tempo, se sustentou que RJ
seria somente para o empresário rural e não para o produtor. A
jurisprudência foi ampliando a possibilidade e estendeu ao
produtor rural também. Em 2020, foi consolidado que o
produtor pode pedir RJ, desde que comprove o tempo. A lei
não parou por aí e concedeu vantagens para as instituições
financeiras que emprestam para a atividade rural. Quando crio
vantagem para instituição financeira que empresta para
produtor rural ou empresário rural, se espera que empreste
com juros mais baixos, ofereça mais crédito para produção
rural. É estímulo a um determinado setor da economia.
3.2.2.5.2.9 Créditos referidos no caput deste artigo aquele
relativo à dívida constituída nos 3 (três) últimos anos anteriores
ao pedido de recuperação judicial, que tenha sido contraída
com a finalidade de aquisição de propriedades rurais, bem como
as respectivas garantias (art. 49, §9º)
3.2.2.5.2.9.1 Mesma lógica. Banco empresta dinheiro para
adquirir propriedade rural.
3.2.2.5.2.10 A importância entregue ao devedor, em moeda
corrente nacional, decorrente de adiantamento a contrato de
câmbio para exportação, na forma do art. 75, §§ 3 o e 4 o , da Lei
n o 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o prazo total da
operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o previsto
nas normas específicas da autoridade competente (art. 86, II)
3.2.3 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DA RJ. Quem pode pedir e quem
não pode. Juízo competente.
3.2.3.1 PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA
3.2.3.1.1 Subjetivo
3.2.3.1.1.1 Juiz
3.2.3.1.1.1.1 Órgão investido de jurisdição
3.2.3.1.1.2 Partes
3.2.3.1.1.2.1 Capacidade de ser parte
3.2.3.1.2 Objetivo
3.2.3.1.2.1 Existência de demanda
3.2.3.2 REQUISITOS DE VALIDADE
3.2.3.2.1 Subjetivo
3.2.3.2.1.1 Juiz
3.2.3.2.1.1.1 Competência e Imparcialidade

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3.2.3.2.1.2 Partes
3.2.3.2.1.2.1 Capacidade processual, capacidade postulatória
e legitimidade ad causam. (quem pode e não pode requerer a
RJ)
3.2.3.2.2 Objetivo
3.2.3.2.2.1 Intrínsecos
3.2.3.2.2.1.1 Respeito ao formalismo processual
3.2.3.2.2.2 Extrínsecos
3.2.3.2.2.2.1 Negativo
3.2.3.2.2.2.1.1 Inexistência de perempção, litispendência,
coisa julgada ou convenção de arbitragem
3.2.3.2.2.2.2 Positivo
3.2.3.2.2.2.2.1 Interesse de agir
3.2.3.3 LEGITIMIDADE ATIVA PARA REQUERER (quem pode pedir RJ -
art. 48)
3.2.3.3.1 Legitimidade Ordinária70
3.2.3.3.1.1 Requisitos Positivos (aquilo que tem que ter para
pedir)
3.2.3.3.1.1.1 Exercício de atividade empresarial há mais de 2
anos (a contar do pedido - art. 48, caput)71
3.2.3.3.1.1.1.1 Não posso abrir uma empresa hoje e pedir RJ
amanhã. Lógica é se a RJ tem a finalidade de preservar os
interesses que gravitam entorno da empresa para preservar
uma boa empresa do mercado que está em crise. Aquele
que abriu ontem e já está em crise é uma boa empresa que
deve ser preservada? Se a empresa aguentou dois anos e
segue lutando, já mostrou algum valor.
3.2.3.3.1.1.1.2 Jurisprudência por interpretação
principiológica entende "atividade econômica" no lugar da
"atividade empresarial". Ver item do caso da ULBRA.
3.2.3.3.1.1.1.3 Prova do tempo na atividade rural (art. 48, §§
2º e 4º)
3.2.3.3.1.1.1.3.1 § 2º No caso de exercício de
atividade rural por pessoa jurídica, admite-se a
comprovação do prazo estabelecido no caput deste
artigo por meio da Escrituração Contábil Fiscal (ECF),

70 Aquela em que peço direito próprio em nome próprio.


71 Recém abriu e já está mal? Mata na raiz, quer dizer que não é uma empresa saudável para o mercado.
Se a empresa sobreviveu operando por 2 anos, tem direito.

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ou por meio de obrigação legal de registros contábeis
que venha a substituir a ECF, entregue
tempestivamente. § 3º Para a comprovação do prazo
estabelecido no caput deste artigo, o cálculo do período
de exercício de atividade rural por pessoa física é feito
com base no Livro Caixa Digital do Produtor Rural
(LCDPR), ou por meio de obrigação legal de registros
contábeis que venha a substituir o LCDPR, e pela
Declaração do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física
(DIRPF) e balanço patrimonial, todos entregues
tempestivamente. § 4º Para efeito do disposto no § 3º
deste artigo, no que diz respeito ao período em que não
for exigível a entrega do LCDPR, admitir-se-á a entrega
do livro-caixa utilizado para a elaboração da DIRPF. § 5º
Para os fins de atendimento ao disposto nos §§ 2º e 3º
deste artigo, as informações contábeis relativas a
receitas, a bens, a despesas, a custos e a dívidas
deverão estar organizadas de acordo com a legislação e
com o padrão contábil da legislação correlata vigente,
bem como guardar obediência ao regime de
competência e de elaboração de balanço patrimonial
por contador habilitado.
3.2.3.3.1.1.2 Ser empresário ou sociedade empresária na data
do pedido (art. 1º). Previsão de como vai fazer prova desses 2
anos. Junta talonário e etc.
3.2.3.3.1.1.2.1 Uma coisa é ter 2 anos de atividade, outra é
ser empresário na data do pedido. Algumas sociedades não
são empresárias (buscar lucro), como as associações. Já
aconteceu de uma associação consolidada há muito tempo
e que atua no mercado passou por crise e optou em se
transformar em sociedade empresária e pede RJ, pois já
tem mais de 2 anos do exercício da atividade. É o caso da
ULBRA. Faz transformação societária e pede RJ. Juiz
negou dizendo que não era empresa há 2 anos e indefere o
pedido de processamento da RJ. Isso deu rebuliço, depois
de já ter sinalizado que precisava de RJ. Houve recurso e o
TJRS deferiu o processamento, entendendo que o
importante é a atividade econômica. Se exerce atividade
econômica, mesmo que não visa lucro, está no mercado e
se está no mercado e há uma ideia de proteger o mercado
e os interesses que gravitam entorno, deve ser protegido. 2
anos de atividade econômica, portanto. Ponto de vista
principiológico é preservar empregos, tributos. A associação
gera empregos, tributos, produz inovação, traz impacto
positivo. Somente por não distribuir lucro entre associados
não tem direito à recuperação? Foi superada a atividade

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empresarial por atividade econômica. Princípio passa a ser
da preservação da empresa para preservação da atividade
econômica, preserva a sociedade ou empresário que
exerce atividade econômica no mercado72.
3.2.3.3.1.1.2.1.1 Gerou possibilidade de clubes de
futebol pedirem RJ. Eles ainda têm a opção da SAF.
Antes de ter a SAF, era a única solução.
3.2.3.3.1.1.2.2 Registro da empresa (art. 967, CC)
3.2.3.3.1.2 Requisitos Negativos (aquilo que não pode ter para
pedir, ainda que presentes os positivos)
3.2.3.3.1.2.1 Não ser falido e, se o foi, estejam declaradas
extintas, por sentença transitada em julgado, as
responsabilidades daí decorrentes
3.2.3.3.1.2.1.1 Isso atinge o empresário, ainda vamos ver os
efeitos da falência para ele. Quando é falido, dependendo
da circunstância, não poderá exercer atividade de empresa.
Se fali, não poderá se valer da RJ.
3.2.3.3.1.2.2 Não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido
concessão de recuperação judicial
3.2.3.3.1.2.3 Não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido
concessão de recuperação judicial com base no plano especial
(ME, EPP)
3.2.3.3.2 Legitimidade Extraordinária73
3.2.3.3.2.1 A recuperação judicial também poderá ser requerida
pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou
sócio remanescente
3.2.3.3.2.1.1 Ex.: sociedade limitada unipessoal e morre. Se
ele era administrador, empresa continua existindo. Empresa
entra em crise, essa é a tendência. Pode deixar ela morrer ou
tentar lutar pela empresa. É atribuído poder a esses
legitimados enquanto está rolando o inventário, por exemplo.
Extraordinário, pois não é o administrador que pede a RJ.
3.2.3.4 NÃO LEGITIMADOS PARA REQUERER (quem não pode pedir
RJ)
3.2.3.4.1 Não empresário

72 Credores provavelmente não vão recorrer e fica. Alguns dizem que é processo de jurisdição voluntária e
outros dizem que não é, pois o processo é uma "paulera". Mas, não é contenciosa, não tem
contestação. A conclusão é que esse tipo de processo é de natureza estruturante ou estrutural, que
envolve vários pontos e interesses diferentes contrapostos em mesmos polos. É completamente
diferente dos processos convencionais que estamos acostumados.
73 Situação pontual. Aquela em peço direito alheio em nome próprio (sindicato, MP em ACPs).
Possibilidade de terceiro pedir recuperação judicial da empresa.

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3.2.3.4.1.1 Profissionais liberais, sociedade simples, coop.,
associação etc.
3.2.3.4.1.2 Contudo, jurisprudência vem ampliando e quase
neutralizando essa figura dos não empresários que não podem
pedir.
3.2.3.4.1.3 Os próximos não empresários que vão pedir RJ são
as sociedades de advogados. Exerce atividade econômica. Pela
lei não pode, jurisprudência ainda talvez não tenha. Produtor rural,
associação, clube de futebol podem, porque advogado não? É um
bom tema para TCC. Mas, advogados em geral evitam de pedir
RJ. Também porque os escritórios de advocacia, mesmo os
grandes não têm muitos credores. RJ não é muito eficaz por
eventuais dívidas dos escritórios e vergonheira num cenário
fechado e conservador, geralmente são bancárias, fiscais (ambas
fora da RJ) e poucas trabalhistas (geralmente resolve
individualmente)
3.2.3.4.2 Empresas Estatais
3.2.3.4.2.1 Razão: maioria ou todo capital social é do Estado,
possui presunção de solvência e não pode pedir RJ.
3.2.3.4.2.2 Empresa Pública
3.2.3.4.2.3 Sociedade de Economia Mista
3.2.3.4.3 Empresas que atuam em ramos especiais ou sensíveis
3.2.3.4.3.1 Conceito: ramos regulados com agências
reguladoras do Estado, irão controlar fluxo de saúde financeira da
empresa e vão criar mecanismos próprios de solução e superação
das crises econômicas e financeiras.
3.2.3.4.3.2 Instituições Financeiras
3.2.3.4.3.3 Operadoras de Plano de Saúde
3.2.3.4.3.4 Seguradoras e etc.
3.2.3.4.3.4.1 Existe a SUSEPE, que regula as atividades das
seguradoras. Elas são obrigadas a manter uma reserva técnica
patrimonial para que possam emitir apólices. Quando vou abrir
uma seguradora, tem que se vincular a SUSEPE e tem que ter
um patrimônio proporcionar a quantas apólices vou poder
emitir. Se quero dar cobertura de seguro à uma operação
bilionária, não posso ter reserva técnica pequena. Não pode
emitir essa apólice, a SUSEPE não autoriza a emissão dessa
apólice, é uma apólice descoberta, se der o sinistro, a
seguradora quebra. Por isso, algumas seguradoras às vezes
buscam "resseguros" que é uma espécie de pull entre
seguradoras (geralmente internacionais) para poder fechar
seguro e ter cobertura suficiente na hipótese de sinistro. O

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ponto é que se a empresa vai mal ela para de pagar os
sinistros. Quem não recebeu ou não recebeu no prazo certo
reclama para a SUSEPE e se ela percebe que é o caso, ela
promove uma intervenção na seguradora, ela vai para dentro
da seguradora e verifica porque não tá pagando. Se não era
para pagar, ok; mas se era para estar pagando e não está por
dificuldade econômica, por meio dessa intervenção a SUSEPE
obriga a derreter aquele patrimônio, reserva técnica para botar
as contas em dia. Forçada por meio de um interventor da
SUSEPE, como se fosse um administrador. Coloca a faca no
pescoço do gestor para fazer o que deveria. Se o interventor
chegar à conclusão de que a empresa não tem solução, vai
para a liquidição, vende tudo o que tem para pagar, para de
atuar no mercado. Portanto, tem a possibilidade de intervenção
e liquidação no sistema de regulação de uma
Superintendência. Não preciso de RJ.
3.2.3.5 COMPETÊNCIA NA RJ
3.2.3.5.1 COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR A RJ
3.2.3.5.1.1 Justiça
3.2.3.5.1.1.1 Justiça Estadual
3.2.3.5.1.1.1.1 Sempre será.
3.2.3.5.1.2 Matéria
3.2.3.5.1.2.1 Varas empresariais no RS - POA e NH (esta
regional)
3.2.3.5.1.2.1.1 Em geral é matéria cível, se houver apenas
varas criminais e cíveis. Em alguns lugares tem
especialização em razão da matéria com vara empresarial.
3.2.3.5.1.3 Território
3.2.3.5.1.3.1 Local do principal estabelecimento do devedor
ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil (art. 3º)
3.2.3.5.1.3.1.1 Critério problemático. Guerra para definir
principal estabelecimento. Geralmente é o centro de
negócios, onde a empresa tem mais negócios, onde mais
compra, gasta, celebra contratos. Não significa dizer que é
a sede empresarial (onde tomadas decisões
administrativas). Vai definir o juiz pode onde tem mais rolo
para resolver. A ideia é aproximar do problema.
3.2.3.5.1.3.1.2 Problema de natureza técnica, pois em geral a
jurisprudência atribui competência de natureza absoluta
para o foro do principal estabelecimento, sem as regras de
prorrogação da competência apesar de ser de natureza
territorial. É exceção assim como a competência territorial

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dos bens imóveis. Se modificar o principal estabelecimento,
fica naquele da época do ajuizamento (perpetuatio
jurisdicionis), as dívidas do passado ficam ali.
3.2.3.5.1.3.1.3 Acontece muito conflito negativo de
competência. Se em outro Estado, quem decide é o STJ,
que demora para decidir. Enquanto isso a empresa tá
tomando penhora sem implementar o período de stay
porque não foi deferido o processamento. É comum ser
necessária uma tutela provisória para poder regular ou
suspender o leilão ou alguma situação pontual. É um
stress.
3.2.3.5.1.3.1.4 Para definir, preciso das informações da
empresa, que em geral acompanham a inicial.
3.2.3.5.1.4 OBS: Prevenção. Art. 6 º , § 8 o - A distribuição do
pedido de falência ou de recuperação judicial ou a homologação
de recuperação extrajudicial previne a jurisdição para qualquer
outro pedido de falência, de recuperação judicial ou de
homologação de recuperação extrajudicial relativo ao mesmo
devedor.
3.2.3.5.1.4.1 Ainda que se mude ou exista outro pedido, são
concentrados nesse juízo. Se foi pedida uma falência contra a
minha empresa e foi julgada improcedente e depois eu peço
RJ, vai ser para o mesmo juiz, pois aquele juiz começa a
acompanhar a trajetória da empresa.
3.2.3.5.2 COOPERAÇÃO NACIONAL E ATOS CONCERTADOS (CPC,
art. 67 e seguintes)74
3.2.3.5.2.1 Atribuição de Competência pontual para o juízo da
RJ
3.2.3.5.2.1.1 Habilitação, exclusão ou modificação de créditos
derivados da relação de trabalho (6º § 2º)
3.2.3.5.2.1.1.1 Tá rolando uma trabalhista. Juiz da RJ vai
receber aquele crédito e vai habilitar esse crédito ou vai
excluir o crédito trabalhista de uma lista integrante da RJ
(não é dizer que o crédito não existe, pois isso envolve
mérito trabalhista, apenas se faz parte ou não) ainda pode
modificar a categoria desses créditos na RJ. Então, ele lida
com o crédito trabalhista na medida da habilitação,

74 Tenho atribuição de competência para o juiz da RJ para algumas e para o juiz da individual para outras.
Existe um conflito. A empresa está devendo para um fulano, que ajuizou uma ação contra a empresa.
Paralelamente, a empresa ajuíza uma recuperação judicial. Há 2 processos, e alguns atos serão
decididos pelo juiz da ação individual do credor contra a empresa; e outros atos que vão envolver esse
conflito serão resolvidos pelo juiz da RJ. A lei estabelece quando um ou o outro irão decidir. Pode se ter
um problema de competência, afinal decido nesse ou naquele processo tais e tais questões. A lei define
quem irá decidir.

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exclusão ou modificação da natureza do crédito. Ele não
julga procedente ou improcedente a reclamatória.
3.2.3.5.2.1.2 Determinar a suspensão dos atos de constrição
determinados em face de créditos referidos nos §§ 3º e 4º
do art. 49, que recaiam sobre bens de capital essenciais à
manutenção da atividade empresarial durante o prazo de
suspensão (art. 6º, § 7º-A)
3.2.3.5.2.1.2.1 Isso aqui pode invadir inclusive nas
Execuções Fiscais (e outros créditos que não integram a
RJ), ela não suspende com a RJ. O juiz da EF determina
constrição sobre um bem que é essencial à manutenção da
atividade da empresa. O juiz da RJ dá uma ordem para
suspender a penhora da EF. Isso é possível e vale para
leilão, penhora qualquer ato executivo. Mas isso não
implica em dizer que o credor não tem direito a receber. O
juiz determina suspensão e pode determinar a substituição
desse ato de constrição. Trabalhista não dá esse problema
de ato de constrição porque os créditos trabalhistas estão
dentro da RJ, então não tem porque ter ato de constrição,
pois já estão suspensos.
3.2.3.5.2.1.2.2 Juiz de mesma hierarquia determinando sobre
juiz de mesma hierarquia e até Estadual sobre Federal. Por
isso se fala em cooperação e ato concertado, é somente
para esses atos, não está chamando a competência para si
para julgar a Execução Fiscal. Ele apenas pratica
determinado ato atribuído a ele, acima dos interesses da
demanda de outro juiz.
3.2.3.5.2.1.3 Determinar a substituição dos atos de constrição
determinados em execução fiscal que recaiam sobre bens de
capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até o
encerramento da recuperação judicial (art. 6º, § 7º 7-B)
3.2.3.5.2.1.3.1 Suspende efeitos da penhora e substitui
penhora de uma máquina por dois unos e uma fiorino.
3.2.3.5.2.2 Atribuição de Competência Pontual para o juiz da
Demanda "Individual"
3.2.3.5.2.2.1 As ações de natureza trabalhista, inclusive as
impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei (6º, § 2º)
3.2.3.5.2.2.1.1 Julga normalmente. Ele vai determinar reserva
de importância das ações trabalhistas com pedido ilíquido.
É comum formular na inicial pedido ilíquido (quero valor
equivalente às horas extras praticadas no período tal a tal,
considerando e tal e, se julgado procedente, vai para
liquidação). Pedidos com reflexos em outros pontos, a

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incidência de uma verba na outra. Ainda não tem valor a
condenar, como que vai habilitar esse crédito se não tem o
valor para habilitar? Empresa tá em crise e indo para RJ
para dizer como ela vai pagar e não sabe quanto tem que
pagar. Então, o juiz pode pedir a reserva da importância
das dívidas trabalhistas. Pode pedir a reserva da
importância e ainda dos pedidos ilíquidos. Se tá rolando a
trabalhista e tem valor certo, peço para reservar, mesmo
que ainda não tenha sido julgado procedente, mas fica
separado para pagar. Se estou pagando os créditos
trabalhistas ao invés de entregar na mão do credor,
deposita em juízo e fica reservado. Se for ilíquido, o
processo continua (não sabe se ganha e nem quanto
ganha), só que ainda assim, o juiz individual pode pedir
reserva de uma determinada quantia estimada mais ou
menos de quanto isso vai importar. O processo da quantia
ilíquida vai continuar tramitando, ele não fica atingido pelo
stay, pois não vai produzir efeito contra a empresa. O
pedido é ilíquido, é possível atingir a empresa com pedido
ilíquido? Não, primeiro tem que saber se deve ou não. Mas,
nada impede de pedir reserva. Toda essa questão de pedir
reserva, determinar o quantum dessa reserva é feito pelo
juiz individual. No caso da trabalhista, é julgada, feito
pedido para reservar quantia líquida e pedir para reservar
uma quantia estimada da ilíquida. No caso das individuais,
se for ilíquida, continua tramitando, juiz julga se é líquida ou
ilíquido. Se for líquido suspende, não vai ter cumprimento
da sentença enquanto estiver no stay, mas ele pode pedir
reserva. O juiz da RJ, vai habilitar aquele crédito que foi
pedido para reservar ou que já está consolidado; vai excluir
se for um crédito que não faz parte da RJ (hipóteses já
vistas, ou crédito constituído depois da RJ).
3.2.3.5.2.2.2 Ação que demandar quantia ilíquida (6º, § 1º)
3.2.3.5.2.2.2.1 Essas ações ilíquidas continuam. Quando
ficar líquido, já não posso praticar ato de constrição e
suspende. Ver abaixo ainda.
3.2.3.5.2.2.3 Determinar reserva de importância em face de
trabalhistas e ações com pedido ilíquido (6º, § 3º)
3.2.3.5.2.2.3.1 Ainda não sei qual é o valor e não tenho como
habilitar o crédito, mas habilito a reserva como se fosse
habilitação.
3.3 REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL (art. 319, CPC + art. 51, LREF)
3.3.1 INDICAÇÃO JUIZ COMPETENTE
3.3.1.1 Foro do principal estabelecimento. Juiz Estadual primeiro grau.

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3.3.2 PARTES: autora e interessados
3.3.2.1 Algumas pessoas dizem que é jurisdição voluntária por não ter
dualidade de partes com autor e réu (quem pede contra quem se pede).
Tem o autor e interessados do outro. Há protagonismo do juiz e, por
vezes, a parte pede, o juiz defere e ninguém recorre mesmo sendo
contrário à lei. Reforça e ideia de que todos estão remando no mesmo
barco, os credores tendem a cooperar com a recuperação da empresa
para que recebam seus créditos. Nesse sentido, é possível enxergar um
pouco de voluntariedade, sem a dicotomia de dualidade de partes e pela
convergência de interesse de quererem sair dessa crise. Isso é refletivo
na petição inicial, onde tem apenas a identificação do autor e o pedido de
recuperação judicial. Isso não significa que não é necessário identificar
os credores. Eles irão aparecer com sua identificação, qualificação e
valor do crédito numa lista, dos documentos que acompanham a inicial.
Tem que ter o nome, natureza do crédito, quando que foi consolidado o
crédito, onde está inscrito, classe do crédito. Vem em lista anexa à inicial.
Pede a recuperação judicial dos créditos da lista, que serão aqueles
anteriores ao pedido de RJ, existentes ainda que não vencidos, com
regime de juros, data de vencimento.
3.3.2.2 Há comunicação dos interessados por via editalícia, não citação
dos credores. São muitos credores, por vezes.
3.3.3 CAUSA DE PEDIR: a exposição das causas concretas da situação
patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira (art. 51,
II)
3.3.3.1 Apresenta como que está hoje e porque está assim, como chegou
a esse estágio.
3.3.3.1.1 Geralmente aponta questões circunstanciais, dizendo que está
mal por fatores pontuais com chances de recuperar. A Saraiva não
disse que está mal por conta da Amazon. Credores vão querer a
falência. Tem que mostrar a situação econômico financeira, mas ao
mesmo tempo não pode mostrar tanto a ponto de demonstrar que a
empresa é inviável. Tem que ser persuasivo.
3.3.3.2 Agora com a nova lei ficou claro o dever da empresa publicizar os
atos. Saraiva tem um site próprio com informações da recuperação.
3.3.4 PEDIDO: deferimento do processamento e da concessão da
recuperação
3.3.4.1 Não pede procedência ou improcedência do pedido de
recuperação judicial, pois não é ele quem julga isso, há o protagonismo
dos credores.
3.3.4.2 Pede deferimento do processamento. Que o juiz receba a inicial e
faça o processo andar. A partir do deferimento que os prazos e as ações
suspendem (período de stay). Natureza processual. regra de
procedibilidade.

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3.3.4.3 Concessão da recuperação é quando a assembleia aprova e o juiz
homologa. É no fim. Vai para fase de cumprimento do plano.
3.3.4.4 Tutela Provisória (total ou parcial) - art. 6º, § 12
3.3.4.4.1 Serve para regular o direito no tempo. A petição inicial
geralmente não é gigantesca. Mas, a documentação que acompanha
é coisa para mais de 2.000 páginas. Isso demanda tempo e preciso
de uma decisão hoje, tem um leilão marcado e vão vender um bem
essencial para minha atividade.
3.3.5 VALOR DA CAUSA: Somatório dos Créditos Arrolados e Sujeitos à
recuperação judicial (art. 51, § 5º)
3.3.5.1 Do lado de cada nome da tabela dos credores, de cada crédito
tem um valor. Valor da Oi é de 65 bilhões75.
3.4 CAPACIDADE POSTULATÓRIA
3.5 DOCUMENTOS OBRIGATÓRIOS (art. 51, II a IX)76
3.5.1 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DOS 3 ÚLTIMOS EXERCÍCIOS
SOCIAIS E LEVANTADAS PARA INSTRUIR PEDIDO,
OBRIGATORIAMENTE:77
3.5.1.1 Balanço patrimonial
3.5.1.2 Demonstração de resultados acumulados
3.5.1.3 Demonstração do resultado desde o último exercício social
3.5.1.4 Relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção
3.5.1.5 Descrição das Sociedades de grupo societário, de fato ou de
direito
3.5.1.5.1 Essa parte foi incluída, dos grupos econômicos. Senão os
caras tinham um grupo econômico, com várias empresas coligadas e
uma pedia RJ dizendo que era só essa que tava ruim e as outras
tavam bem ou drenando a capacidade produtiva daquela que
supostamente estava mal.
3.5.2 RELAÇÃO NOMINAL COMPLETA DOS CREDORES
3.5.2.1 Sujeitos ou não à recuperação judicial
3.5.2.1.1 Tem que apresentar lista de todos os credores. Antes, quem
pedia RJ mostrava apenas quem tava na RJ e eles não tinham

75 E o valor dessas custas? Em geral é 3% sobre, mas possui teto. Varia de Estado para Estado, alguns
advogados tentam escolher o juízo competente por causa das custas. Pode acontecer de isso pesar
para definir o juízo competente.
76 Aqui que a empresa se expõe, tem que mostrar suas condições econômicas. Se está pedindo ajuda,
tem que passar informações para que credores saibam se ela merece ou não ajuda.
77 Aqui já abre mão do sigilo contábil. Tem que estar com contabilidade em dia. Como está o fluxo de
caixa, qual a expectativa de fluxo de caixa e como foram os resultados dos últimos 3 anos. Os balanços
são publicados apenas quando falamos de SAs, mas não é uma informação que circula nos detalhes.

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condições de ver o plano geral, para saber se a empresa é viável ou
não. Credor tem que saber quanto deve dentro e fora.
3.5.2.2 Inclusive com obrigação de fazer ou de dar
3.5.2.3 Endereço fixo e eletrônico e físico
3.5.2.4 Natureza e valor atualizado do crédito com discriminação de
origem e regime dos vencimentos.
3.5.2.5 OBSERVAÇÕES QUANTO À DIFERENCIAÇÃO ENTRE RJ E
FALÊNCIA PELA PERSPECTIVA DOS CREDORES78
3.5.2.5.1 Classificação dos Credores para Composição Assembleia
Geral79
3.5.2.5.1.1 Titulares de Créditos derivados da legislação do
trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho
3.5.2.5.1.2 Créditos com Garantia Real
3.5.2.5.1.3 Créditos Quirografários, com privilégio especial,
privilégio geral ou subordinados
3.5.2.5.1.4 Créditos Enquadrados como microempresa ou
empresa de pequeno porte
3.5.2.5.2 Classificação Quanto à Natureza do Crédito - Ordem de
Pagamento (falência)
3.5.2.5.2.1 Trabalhista (até 150SM) ou de acidentes de trabalho

78 Há duas formas de enxergar a natureza do crédito. Pela classificação dos credores para fins de
composição da Assembleia Geral (RJ) e como vão votar, deliberar na RJ, usando-se a classificação
prevista no artigo 41. Existe outra, quanto à natureza do crédito, do artigo 83 que estabelece uma ordem
de pagamento. A ordem de pagamento na RJ é definida pelo plano (dirá como vou pagar, quem vou
pagar, de qual forma e seus limites) que será deliberado em assembleia pelos credores organizados em
4 classes, cuja ordem de pagamento vai depender do plano; na falência a ordem de pagamento é
definida pela Lei conforme exposta no item abaixo, de cima para baixo. Quando penso em natureza
para fins de pagamento, me refiro à falência e vou estudar a natureza dos créditos. Na RJ, organizados
em classe, irão deliberar dentro da sua classe, a qual irá aprovar ou rejeitar o plano da RJ. Tem que
ganhar o voto das 4 classes para passar limpo o plano. Quando é feita a lista dos credores, preciso
classificar para dizer onde eles estão e como eles serão representados e como vão deliberar. Para
saber qual a classe, tenho que saber a natureza do crédito. O conflito pode se dar nessa classificação,
jogando um crédito da microempresa para a classe dos grandes. Pede para tirar de lá e colocar aqui. A
controvérsia pode ser quanto ao valor ou quanto à classificação.
79 Aqui não estão os tributários, pois não entram na RJ, entram no pagamento da falência ou são
recebidos por parcelamento próprio. A RJ cria uma classe dos créditos de ME e EPP. É o pátio dos
pequenos. A deliberação, dependendo da classe, ela se dá por cabeça, número de votantes e por
volume de crédito (não adiante apenas ganhar no número de pessoas). Se eu jogo numa classe todos
os outros credores e ponho banco (que tem volume de crédito enorme) e o credor ME ou EPP, o credor
pequeno não vai ter voz, enquanto temos uma lógica no Ordenamento Jurídico de preservar o micro e
pequeno empreendedor (LC 123). Então, o sistema, definiu que em RJ, os pequenos não vão ser
colocados junto com os grandes. É criado um ambiente para eles, de modo que o plano seja bom para
os grandes e para os pequenos. Essa classificação não existe na falência, na RJ temos essa classe só
deles para deliberar se a empresa é viável ou não. É uma política afirmativa no mercado.

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3.5.2.5.2.2 Gravados com garantia real até o limite do valor do
bem gravado
3.5.2.5.2.3 Tributários (exceto extraconcursais e multas)
3.5.2.5.2.4 Quirografários
3.5.2.5.2.5 Multas Contratuais e as Penas Pecuniárias
3.5.2.5.2.6 Créditos Subordinados
3.5.2.5.2.7 Juros Vencidos após a decretação da falência
3.5.3 RELAÇÃO INTEGRAL DOS EMPREGADOS
3.5.3.1 Funções
3.5.3.2 Salários
3.5.3.3 Indenizações
3.5.3.4 Outras parcelas a que têm direito com o mês de competência e a
discriminação dos valores pendentes de pagamento
3.5.4 CERTIDÃO DE REGULARIDADE NO REGISTRO PÚBLICO DE
EMPRESAS, ATO CONSTITUTIVO ATUALIZADO E ATAS DE NOMEAÇÃO
DOS ATUAIS ADMINISTRADORES
3.5.4.1 Serve para saber se é empresa, se continua empresa, há quanto
tempo é empresa, quem são os administradores e se estão habilitados a
pedir RJ.
3.5.5 RELAÇÃO DOS BENS PARTICULARES DOS SÓCIOS
CONTROLADORES E ADMINISTRADORES
3.5.5.1 Se der problema, vai buscar nos sócios e controladores. O
administrador tem que tomar a decisão se a empresa deve ou não pedir
RJ. Quando toma essa decisão tem que ser com responsabilidade.
Mostra para todo mundo onde estão meus bens. Se ficar demonstrado
que eu na condição de administrador desviou patrimônio ou qualquer
outra coisa, está aqui. É uma ideia de compromisso.
3.5.6 EXTRATOS ATUALIZADOS DAS CONTAS BANCÁRIAS E
EXTRATOS DE APLICAÇÕES FINANCEIRAS DE QUALQUER
MODALIDADE
3.5.6.1 Abre mão do sigilo bancário.
3.5.7 CERTIDÕES DE CARTÓRIOS DE PROTESTOS DA COMARCA DE
DOMICÍLIO OU SEDE E ONDE POSSUI FILIAL
3.5.7.1 Para saber o que estou devendo para os outros, se está
protestado ou não. Até porque o protesto é condição para pedido de
falência.
3.5.8 RELAÇÃO DE AÇÕES JUDICIAIS E PROCEDIMENTOS ARBITRAIS
EM QUE FIGURE COMO PARTE

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3.5.8.1 Inclusive as trabalhistas com estimativa dos valores demandados
3.5.8.2 Tem que pedir para o jurídico, relatório dos processos.
3.5.9 RELATÓRIO DETALHADO DO PASSIVO FISCAL
3.5.9.1 Para saber amplamente a condição da empresa, apesar de não
integrar a RJ.
3.5.10 RELAÇÃO DE BENS E DIREITO INTEGRANTES DO ATIVO NÃO
CIRCULANTE, INCLUÍDOS AQUELES NÃO SUJEITOS À RECUPERAÇÃO
JUDICIAL, ACOMPANHADA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS CELEBRADOS
COM OS CREDORES DE QUE TRATA O § 3º DO ART. 49
3.5.10.1 Tem que dizer quais bens tenho, pois podem vir a ser atingidos na
hipótese não só de um plano de recuperação judicial, mas na hipótese
de virar falência a RJ (convolação), está com meio caminho andado, pois
toda documentação já foi apresentada nos autos. Além da vergonheira,
tem que se mostrar nu para os credores saberem se é viável ou não a
recuperação judicial, trazendo dados não só dos credores, mas os dados
da empresa. Por isso muitos relutam em fazer RJ, pois é trabalhoso,
caro, complexo e tem que fazer um corte na carne muito fundo nas
informações se expondo e na imagem. Administrador reluta e quando
pede já era, não tem mais condições.
3.6 EFEITOS DA DISTRIBUIÇÃO (art. 66)
3.6.1 O devedor não poderá alienar ou onerar bens ou direitos de seu ativo
não circulante, salvo mediante autorização do juiz, depois de ouvido o
Comitê de Credores, se houver, com exceção daqueles previamente
autorizados no plano de recuperação judicial.
3.6.1.1 Isso é fazer o upload da petição no eproc, não é o juiz deferir o
processamento. Quando distribui já começa a produzir efeitos. Devedor
já não pode alienar e onerar bens.
3.6.1.2 Não posso vender mais nada do meu ativo não circulante. Isso é o
Uno da firma (a não ser que eu seja a fiat que vende uno branco); fazer
trespasse de um estabelecimento; imóvel; determinado maquinário.
Somente com autorização do juiz. Se já tem comitê de credores
estabelecido, o juiz vai ouvir eles ainda. É uma espécie de órgão
representativo dos interesses dos credores. Terá função de fiscalização e
diálogo.
3.6.1.3 Pode pedir tutela provisória autorização para vender, até para
pagar as custas.
3.7 CONSTATAÇÃO PRÉVIA/PERÍCIA PRÉVIA(art. 51-A)80

80 É novidade com a reforma da lei. Surgiu na atuação de primeiro grau. Às vezes analisar essa
documentação é tão difícil que o juiz não sabe. Não cai no concurso analisar balanço contábil, juiz não é
preparado. Precisa de uma espécie de perito para analisar a documentação, para saber se defere ou
não o processamento. É possível, portanto, o juiz se valer de um expert para auxiliar na tomada de
decisão sobre competência, deferimento ou indeferimento do processamento... essas decisões iniciais.

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3.7.1 FUNÇÃO
3.7.1.1 A constatação prévia serve para verificar as reais condições de
funcionamento da empresa e da regularidade documental. Vedado o
indeferimento do processamento da RJ baseado na análise de
viabilidade econômica do devedor (§ 5º). Vai ter que apresentar naquela
documentação o estudo de viabilidade econômica, perito e juiz não
podem indeferir com base na viabilidade econômica, pois isso é papel
dos credores e não do perito. Este ajuda a verificar a regularidade dos
documentos. Constatação prévia é facultativa!
3.7.2 APRESENTADA PETIÇÃO INICIAL
3.7.2.1 Juiz indica a constatação prévia e nomeia um perito
3.7.2.1.1 Não ouve outra parte
3.7.2.1.2 Não há apresentação de quesito
3.7.2.1.3 Pode ser sem prévia ciência do devedor
3.7.2.2 Perito Apresenta Laudo
3.7.2.2.1 A respeito da regularidade da documentação
3.7.2.3 Decisão do Juiz
3.7.2.3.1 Deferimento do processamento
3.7.2.3.1.1 NOMEIA
3.7.2.3.1.1.1 Administrador Judicial
3.7.2.3.1.1.1.1 É um auxiliar do juízo, não se confunde com o
administrador da empresa (ela não quebrou, não deixa de
existir, continua operando). É a primeira coisa que o juiz
faz. Esse administrador acompanha o processo e auxiliar o
juiz, pois o processo tem alta complexidade procedimental
e quanto ao seu conteúdo.
3.7.2.3.1.1.1.2 Pode ser PF ou PJ. Pode ser nomeada mais
de uma PJ.
3.7.2.3.1.1.1.3 É intimado para prestar compromisso em 48
horas após ser nomeado.
3.7.2.3.1.1.1.4 Pode ser destituído se não coloborar com o
andamento do processo e inclusive responsabilizado
civilmente pelos prejuízos que causar.
3.7.2.3.1.1.1.5 REMUNERAÇÃO DO ADMINISTRADOR
3.7.2.3.1.1.1.5.1 Critérios
3.7.2.3.1.1.1.5.1.1 Capacidade de pagamento do
devedor

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3.7.2.3.1.1.1.5.1.2 Grau de complexidade do
trabalho
3.7.2.3.1.1.1.5.1.3 Valores praticados no mercado
para o desempenho de atividades semelhantes
3.7.2.3.1.1.1.5.2 Limitações
3.7.2.3.1.1.1.5.2.1 Máximo de 5% dos créditos
(hipótese de RJ de empresa "normal")
3.7.2.3.1.1.1.5.2.2 Máximo de 2% dos créditos para
ME, EPP e produtor rural (com valor da causa menor
do que R$ 4.800.000,00)
3.7.2.3.1.1.1.5.3 Forma
3.7.2.3.1.1.1.5.3.1 Reservado 40% do montante
devido ao administrador judicial para pagamento
após o relatório final. Paga 60% no final. Se
destituído, não ganha parte final e eventualmente
pode ser condenado aos danos causados.
3.7.2.3.1.2 DETERMINA
3.7.2.3.1.2.1 Dispensa das Certidões negativas para que o
devedor exerça suas atividades
3.7.2.3.1.2.1.1 Para praticar alguns atos é exigido da
empresa que ela não deve para o fisco. Enquanto durar a
RJ, é dispensada.
3.7.2.3.1.2.2 Apresentação de contas demonstrativas mensais
pelo devedor enquanto perdurar a recuperação judicial
3.7.2.3.1.2.2.1 Empresário tem que todo mês prestar contas.
Constantemente demonstrar a situação da empresa.
3.7.2.3.1.2.3 Anotação da recuperação judicial no registro
correspondente (art. 69) "em recuperação judicial"
3.7.2.3.1.2.3.1 Para que todos que estabeleçam uma relação
jurídica com a empresa saibam o risco que está assumindo.
3.7.2.3.1.3 ORDENA
3.7.2.3.1.3.1 Suspensão de todas as ações ou execuções
contra o devedor pelo prazo máximo de 180 dias + 180 dias
(art. 6º, § 4º) - PERÍODO DE STAY
3.7.2.3.1.3.1.1 Prorrogável por mais 180 se o devedor não
deu causa para a demora
3.7.2.3.1.3.1.2 Na prática, por vezes, o juiz estende além dos
180 + 180 diante do caso concreto.

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3.7.2.3.1.3.2 Intimação do MP e comunicação por carta às
Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e
Municípios em que o devedor tiver estabelecimento
3.7.2.3.1.3.2.1 MP intimado numa ideia de proteção dos
interesses da coletividade. Se empresa quebrar o MP atua
na proteção do ambiente de mercado, não tratando-se de
relação apenas patrimonial, mas de defesa de interesses
coletivos de um grupo determinado que possui interesses
que gravitam entorno da empresa.
3.7.2.3.1.4 OUTROS EFEITOS DO DEFERIMENTO DO
PROCESSAMENTO
3.7.2.3.1.4.1 Permite que os credores, a qualquer tempo,
possam requerer a convocação de assembleia-geral para a
constituição do Comitê de Credores (art. 52, § 2º)
3.7.2.3.1.4.1.1 Ideia de deliberação materializando a
participação ativa dos credores no processo. Eles são
protagonistas, na medida em que deferido o
processamento, eles podem se organizar para escolherem
o órgão de representação, que é o comitê.
3.7.2.3.1.4.2 O devedor não poderá desistir do pedido de
recuperação judicial após o deferimento de seu
processamento, salvo se obtiver aprovação da desistência na
assembleia-geral de credores (art. 52, § 4º)
3.7.2.3.2 Indeferimento do processamento (§ 6º)
3.7.2.3.2.1 P. ex.: não podia pedir pois já tinha pedido nos
últimos 5 anos; não é empresa
3.7.2.3.3 Emenda da Inicial
3.7.2.3.3.1 P. ex.: não trouxe identificação pormenorizada da
situação fiscal.
3.7.2.3.4 Declinar Competência (§ 7º)
3.7.2.3.4.1 P. ex.: entende que o centro de negócios não é na
sua comarca.
3.7.2.4 Intimação da Parte Contrária
3.8 PERÍODO DE STAY (art. 6º, §§ 4 e 4-A)
3.8.1 EFEITO
3.8.1.1 Suspensão do curso da prescrição das obrigações do devedor
sujeitas ao regime da Lei
3.8.1.1.1 Senão seria muito fácil. Pedia RJ e com a prescrição correndo,
poderia implementar os prazos de prescrição.

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3.8.1.2 Suspensão das Execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive
daquelas dos credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos
ou obrigações sujeitos à recuperação judicial ou à falência
3.8.1.2.1 Se a empresa tem sócios que são solidariamente vinculados
do ponto de vista do patrimônio e existe uma execução particular
contra um desses sócios. Essa execução particular será também
suspensa, considerando que o patrimônio dos sócios e das
sociedades possui vínculo de solidariedade, se essa execução
particular prosseguir, o credor da empresa que poderia se valer do
patrimônio do sócio não vai poder atingir ou realizar o seu crédito.
3.8.1.3 Proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora,
sequestro, busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre
os bens do devedor, oriunda de demandas judiciais ou extrajudiciais
cujos créditos ou obrigações sujeitem-se à recuperação judicial ou à
falência
3.8.1.4 SÚMULA 581, STJ: A recuperação judicial do devedor principal
não impede o prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra
terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia
cambial, real ou fidejussória.
3.8.2 PRAZO
3.8.2.1 180 + 180 (este desde que o devedor não tenha dado causa)
3.8.2.2 Terminado o prazo, abre-se novo prazo de 30 dias para
apresentação do plano alternativo pelos credores.
3.8.3 PLANO ALTERNATIVO PELOS CREDORES (art. 56, §§ 4º a 9º)
3.8.3.1 Prazo: 30 dias
3.8.3.2 Se apresentado
3.8.3.2.1 + 180 dias para deliberar sobre esse plano alternativo
3.8.3.3 Se NÃO apresentado
3.8.3.3.1 Cai o STAY e volta a tramitarem as execuções
3.9 PAPEL DO DEVEDOR DURANTE A RECUPERAÇÃO JUDICIAL (arts. 64
e 65)
3.9.1 REGRA GERAL
3.9.1.1 O devedor ou seus administradores serão mantidos na condução
da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e do
administrador judicial
3.9.2 HIPÓTESES DE DESTITUIÇÃO/AFASTAMENTO DO DEVEDOR DA
ADMINISTRAÇÃO
3.9.2.1 Assim como o administrador judicial pode ser afastado, o
administrador da empresa pode ser afastado se:

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3.9.2.1.1 Condenação transitada em julgado por crime cometido em:
3.9.2.1.1.1 RJ ou Falência anteriores
3.9.2.1.1.2 Crime contra o patrimônio
3.9.2.1.1.3 Contra Economia Popular
3.9.2.1.1.4 Contra a Ordem Econômica
3.9.2.1.2 Indícios veementes de ter cometido crime da LRF
3.9.2.1.3 Dolo, Simulação ou Fraude contra interesse dos seus credores
3.9.2.1.4 Gastos pessoais manifestamente excessivos em relação a sua
situação patrimonial
3.9.2.1.5 Despesas injustificáveis por sua natureza ou vulto, em relação
ao capital ou gênero do negócio, ao movimento das operações e a
outras circunstâncias análogas
3.9.2.1.6 Descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar
operações prejudiciais ao seu funcionamento regular
3.9.2.1.7 Simular ou omitir créditos na relação do art. 51, III sem
relevante razão de direito ou amparo de decisão judicial
3.9.2.1.8 Negar a prestar informações solicitadas pelo administrador
judicial ou membros do Comitê
3.9.2.1.9 Afastamento previsto no plano de recuperação judicial
3.9.2.1.9.1 É comum a própria empresa quando apresenta o
plano, como uma das medidas, propõe a mudança da
administração
3.9.2.2 Escolha do substituto: pela assembleia geral de credores para
deliberar
3.9.3 ELABORAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO
3.9.3.1 Processo ao ter deferido o processamento se divide em 2
caminhos: de um lado o devedor vai ter que focar na produção do plano;
de outro o credor vai passar pela verificação dos créditos
3.9.3.2 Apresenta plano em 60 dias, contados da publicação da decisão
que deferiu o processamento, o qual conterá (art. 53)
3.9.3.2.1 Discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a
serem empregados
3.9.3.2.1.1 P. ex.: no caso da Gibson dizia que iriam modificar o
portfólio de produtos, liquidar parte da empresa, focar no produto,
no mercado e oferecer aos credores ações da empresa como
forma de pagamento.
3.9.3.2.1.2 Art. 50, I a XVIII traz catálogo de meios de
recuperação. Rol exemplificativo.

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3.9.3.2.2 Demonstração de sua viabilidade econômica
3.9.3.2.2.1 Demonstrar o impacto das decisões que tornará
viável o plano.
3.9.3.2.2.2 P. ex.: no caso da Gibson, alega-se que o mercado
norte-americano daria conta de manter a empresa saudável e por
outro lado, cortando o mercado internacional, taparia um buraco.
3.9.3.2.3 Laudo econômico-financeira e de avaliação dos bens e ativos
do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou
empresa especializada
3.9.3.2.3.1 Não fica só na conversa, tem que demonstrar. Tem
que validar a narrativa.
3.9.3.3 Limites (art. 54)
3.9.3.3.1 Que o credor aceite
3.9.3.3.1.1 Pela lógica da lei: "não aceitou, faliu". Na prática,
existem empresas que apresentam o primeiro plano e ele vai
sendo modificado. Vão se adaptando por fatores externos, novas
deliberações.
3.9.3.3.2 Prerrogativas e preferência sobre os créditos trabalhistas e
acidentários
3.9.3.3.2.1 REGRA: Crédito trabalhista deve ser pago em no
máximo 1 ano (natureza alimentar)
3.9.3.3.2.1.1 EXCEÇÃO: 2 anos se houver aprovação pela
classe e o devedor apresentar garantias de que o pagamento
será feito
3.9.3.3.2.1.2 SITUAÇÃO ESPECIAL: Créditos trabalhistas em
situação especial (recentes). ATÉ 30 DIAS devem ser pagos
créditos trabalhistas de até 5 salários mínimos vencidos nos 3
meses anteriores.
3.10 VERIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS81
3.10.1 Perspectiva dos credores que corre em paralelo com a elaboração do
plano pelo credor. Após o deferimento do processamento, o administrador
comunica os credores (art. 22, I, a) e é feita a publicação do EDITAL DE
CHAMAMENTO (art. 52, § 1º), o qual conterá
3.10.1.1 Resumo do pedido do devedor e da decisão que deferiu
processamento da RJ

81 O processo não fica parado no prazo de 60 dias em que se espera o devedor apresentar o plano. Corre
em paralelo a verificação dos créditos para saber quem são os credores, qual a sua categoria e por qual
crédito, pois em seguida eles serão chamados para deliberarem se o plano que está sendo elaborado
deve ser aprovado ou não. O processo se desenvolve para sabem quem são os credores, a que título e
quanto é o crédito de cada um para saber se eles podem participar da assembleia e deliberarem a
respeito do plano.Isso começa com o "edital de chamamento".

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3.10.1.2 Relação nominal de credores, com discriminação do valor
atualizado e classificação de cada crédito
3.10.1.3 Advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos na
forma do art. 7º, § 1º, e para que os credores objetem o plano de RJ
apresentado na forma do art. 55.
3.10.2 Os credores que temos conhecimento são aqueles que o devedor
indicou na Inicial. Temos que chamar eles para dentro do processo, de que a
empresa que devia para eles, agora está em recuperação judicial. Os
credores que estão na lista que acompanha a inicial, o administrador judicial
deve mandar uma comunicação para esses credores. (Por isso, hoje, na
lista tem que ter e-mail). E se faltaram credores na lista?
3.10.3 É necessário o edital para que eventuais credores deixados de fora
sejam comunicados fictamente. Além das comunicações direcionadas, é
responsabilidade do administrador judicial publicar o edital para que todos
fiquem sabendo que a empresa X pediu RJ e eu, credor, possa vir para
dentro do processo se tiver crédito.
3.10.4 Na perspectiva tradicional do processo, aqui seria como a citação e
depois poderia se apresentar contestação. Mas num processo como esse
que envolve milhares de interesses, como lidar com isso? Cada um vai
discutir o seu direito individualmente considerado nesse processo? É para
isso que serve a fase de verificação dos créditos, que são as condutas que o
credor pode assumir
3.10.4.1 PUBLICADO EDITAL COM RELAÇÃO DE CREDORES
3.10.4.1.1 Credor Consta no Edital?
3.10.4.1.1.1 Não
3.10.4.1.1.1.1 Pedir Habilitação do Crédito
3.10.4.1.1.2 Sim
3.10.4.1.1.2.1 Crédito está correto?
3.10.4.1.1.2.1.1 Não
3.10.4.1.1.2.1.1.1 Apresenta Divergência com relação
ao crédito que já está na lista
3.10.4.1.1.2.1.2 Sim
3.10.4.1.1.2.1.2.1 Nada a ser feito
3.10.5 HABILITAÇÕES OU DIVERGÊNCIAS
3.10.5.1 Contraditório em sedimentação (em etapas, camadas). Devedor
apresenta o ponto de vista dele. Credores irão apresentar habilitações e
divergência em 15 dias82 (art. 7º, § 1º), contados da publicação do
edital de forma extraprocessual dirigido ao administrador judicial.

82 Todos os prazos da lei são corridos.

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Não peticiona nos autos, mando o pedido de habilitação ou divergência
direto para o Adm Judicial, não vai para o processo, não fica apenso.
3.10.5.2 Aspectos Formais da Habilitações ou Divergências (art. 9º)
3.10.5.2.1 Petição dirigida ao administrador judicial
3.10.5.2.1.1 Adm Judicial tem o dever de manter um sistema de
informação no ambiente virtual, num site. Tem que ter
possibilidade de no site disponibilizar essas informações para os
seus credores, bem como para que estes possam apresentar suas
habilitações e divergências. Precisa dessa estrutura de informática
para que as partes possam se comunicar com ele.
3.10.5.2.1.2 Quem decide se o crédito existe ou não é ele. Ele
apenas consolida posições. Por isso, é contraditório em
sedimentação, pois o devedor vem a apresenta o ponto de vista
dele; os credores vêm e apresentam o seu ponto de vista sobre o
ponto do devedor consolidado pelo administrador judicial que
verifica se presentes os requisitos legais, não dizendo quem está
certo e quem está errado. Consolida para que posteriormente, na
fase de impugnação seja possível discutir quem está dentro e
quem está fora perante o juiz.
3.10.5.2.2 Não é juntada aos autos
3.10.5.2.3 Não necessita ser assinada por advogado
3.10.5.2.3.1 Pode ser o contador ou próprio administrador da
empresa que vai assinar. Não demanda capacidade postulatória,
pois não é ato judicial e tampouco jurisdicional.
3.10.5.2.4 Requisitos (art. 9º, Lei 11.101)
3.10.5.2.4.1 I – o nome, o endereço do credor e o endereço em
que receberá comunicação de qualquer ato do processo; II – o
valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência
ou do pedido de recuperação judicial, sua origem e classificação;
III – os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das
demais provas a serem produzidas; IV – a indicação da garantia
prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo instrumento; V –
a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do
credor. Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os
créditos deverão ser exibidos no original ou por cópias
autenticadas se estiverem juntados em outro processo.
3.10.5.3 Habilitação Retardatária
3.10.5.3.1 Há prazo para se habilitar. Se me habilito fora do prazo
de 15 dias, é considerada retardatária com efeitos.
3.10.5.3.2 Não apresenta para administrador judicial.
3.10.5.3.3 EFEITO

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3.10.5.3.3.1 Perde direito de votar a respeito da aprovação ou
não do plano. Exceto trabalhistas (art. 10, § 1º).
3.10.5.3.3.2 Acarreta reserva do valor para satisfação do crédito
discutido (art. 10, § 8º).
3.10.5.3.4 PROCESSAMENTO
3.10.5.3.4.1 Se antes da homologação do quadro-geral: pede por
meio de impugnação. É incidente.
3.10.5.3.4.2 Se depois: ajuizar ação ordinária do CPC (pedido de
inclusão do crédito), inclusive com tutela provisória para reservar
valores.
3.10.5.3.4.3 Limite: o credor deverá apresentar pedido de
habilitação ou de reserva de crédito em, no máximo, 3 (três) anos,
contados da data de publicação da sentença que decretar a
falência, sob pena de decadência (art. 10, § 10º).
3.10.6 PUBLICAÇÃO EDITAL COM RELAÇÃO DOS CREDORES (2º Edital)
- art. 7º, § 2º
3.10.6.1 1º Edital é a versão do devedor e depois se faz a verificação dos
créditos por das habilitações e divergências perante o administrador. O
administrador consolida em 45 dias a lista do devedor junto com a lista
dos credores e publica um segundo edital que tem a lista do devedor
movimentada pelas habilitações e divergências. Temos uma lista com os
dois pontos de vista, tanto dos credores como dos devedores,
consolidada nesse segundo edital. Essa publicação abre um prazo de 10
dias para que sejam apresentada IMPUGNAÇÃO À RELAÇÃO DOS
CREDORES (art. 8º). Se apresentada de forma intempestiva, projetará
efeitos para depois e não vai tirar a pessoa do crédito, há a formação do
crédito e a definição dos credores independentemente do julgamento
dessa impugnação intempestiva. Com impugnação, o quadro geral de
credores é composto pelo julgamento das impugnações tempestivas e
das impugnações retardatárias que já estiverem julgadas (com reserva
dos créditos pendentes). Com isso, é posto fim à fase de verificação dos
créditos.
3.10.6.1.1 Pedido de impugnação é separado do processo, mas é
direcionado para o juiz. Agora ele decidirá se o crédito deve estar
dentro ou fora.
3.10.6.1.2 LEGITIMIDADE PARA IMPUGNAR83
3.10.6.1.2.1 Comitê de Credores
3.10.6.1.2.2 Qualquer credor
3.10.6.1.2.3 Devedor
3.10.6.1.2.4 Sócios do devedor

83 Inclusive credor pode impugnar de outro credor.

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3.10.6.1.2.5 Ministério Público
3.10.6.1.3 FORMA
3.10.6.1.3.1 Cada impugnação em separado, salvo se tratarem
do mesmo crédito. Pode juntar impugnações ao mesmo crédito
para tramitarem em um processo só. Mas, em geral, uma
impugnação para cada crédito. É incidental. Cria processo
paralelo para discutir.
3.10.6.1.4 PROCEDIMENTO DA IMPUGNAÇÃO84
3.10.6.1.4.1 Impugnação85 > Intimação do credor impugnado para
em 5 dias apresentar contestação > Contestação > intima o
devedor e o comitê para manifestação em 5 dias > intimação do
administrador para parecer em 5 dias > saneamento (afere-se se
precisa produzir prova - pode precisar até de perícia para saber se
o crédito deveria estar dentro ou fora -. Serve para ver se o
processo desenvolvido até aqui está correto - saneamento na
dimensão retrospectiva - e o que precisa ser feito no processo -
saneamento em dimensão prospectiva), verificar se precisa de
instrução e julgamento, é uma possibilidade, não é obrigatória >
instrução e julgamento (possibilidade) > decisão. Cabe recurso de
agravo (art. 17), isso porque é um incidente e não um processo,
não decide a RJ, apenas 1 crédito dentro da RJ. É considerada
decisão interlocutória, embora ponha fim ao processamento. De
regra não possui efeito suspensivo. Segue com a formação do QG
de credores.
3.10.6.2 Se é publicado e ninguém reclama -> Homologação da lista de
relação de credores constante do edital (art. 14) (quadro geral de
credores - art. 10). Geralmente devedor reclama daqueles que se
habilitaram.
3.10.7 FORMAÇÃO DO QUADRO GERAL DE CREDORES (art. 10)
3.10.7.1 FUNÇÃO: definir as "posições" dos credores e créditos que serão
atingidos pela RJ.
3.10.7.2 PROCEDIMENTO
3.10.7.2.1 Se não houver impugnação, juiz homologa a relação dos
credores constante no edital (art. 14)
3.10.7.2.2 Se houver impugnação, o quadro é composto pelo
julgamento das impugnações tempestivas e das impugnações
retardatárias que já estiverem julgadas (com reserva dos créditos

84 É parecido com o processo de conhecimento, com fase postulatória, saneamento, fase instrutória e
decisão final. Porém, possui contraditório diferente, em etapas, por agentes de diferentes, pois são
múltiplos os interesses.
85 Petição (art. 13) dirigida ao juiz, instruída com os documentos que tiver o impugnante, o qual indicará as
provas consideradas necessárias.

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pendentes). Não tem como saber quanto tempo vai demorar.
Depende se vão ser muitas, como vai ser a instrução. E se o juiz não
julgar dentro do 180 + 180? Cai o STAY? Em tese, pela lei, deveria
cair. Mas se o juiz demora para julgar e ainda nem foi formado o QG
de credores pra saber quem é quem, por quanto é e por qual
categoria pra poder chegar nos finalmentes, e o que vai acontecer
com o plano que eu já apresentei e começou a cair penhora nos Unos
brancos que coloquei no plano? Na prática, justificado pelo poder
geral de cautela, existe a suspensão ope legis e uma ope judicis por
decisão do juiz, para segurar e não virar o barco. O objetivo do
processo é superar a crise econômico financeira.
3.10.7.3 A partir da consolidação do quadro, tenho um prazo de 30 dias
para apresentar OBJEÇÃO AO PLANO de recuperação por qualquer
credor.
3.11 OBJEÇÃO AO PLANO DE RECUPERAÇÃO
3.11.1 PRAZO: 30 dias após consolidação do QG de credores
3.11.2 LEGITIMIDADE (art. 55, caput): qualquer credor
3.11.3 EFEITO (art. 56, caput): juiz convocará a assembleia geral de
credores para deliberar sobre o plano de recuperação
3.11.4 PROCESSAMENTO: apresentada objeção ao plano dentro dos 30
dias > publicação de edital de convocação da Assembleia Geral de Credores
para deliberar sobre o plano, o qual deverá ter um prazo mínimo de 15 dias
entre a publicação do edital e a data da Assembleia para que as pessoas
possam se organizar e se fazerem presentes. Ainda, entre o deferimento do
processamento da RJ e a convocação da Assembleia devem se passar até
150 dias86.
3.11.5 ASSEMBLEIA GERAL (art. 56)
3.11.5.1 Atribuições (art. 35, I)
3.11.5.1.1 As atribuições são mais amplas. É um ato de
representação direta dos interesses dos credores. Essa AG não
precisa ter sido convocada pela 1ª vez aqui. Essa AG que estamos
falando é para deliberar sobre o plano (somente após consolidação
do QG de credores), mas pode já ter sido convocada para nomear o
Comitê de Credores e outras coisas.
3.11.5.1.2 Às vezes temos a sensação de que a AG é obrigatória
para a aprovação do plano. Mas, existem circunstâncias em que ele é
dispensada, como quando não há objeção ao plano. Mas, mesmo
com objeção, há possibilidade da aprovação por termo de adesão.
3.11.5.2 Instauração (art. 36, § 2º)

86 O legislador acredita que do momento em que deferido o processamento até ser feita toda a verificação
dos créditos, julgar todas as impugnações e chamar uma assembleia para deliberar sobre o plano, vai
demorar 150 dias. Por isso que está dentro do STAY de 180 dias. É óbvio que isso não existe na prática.

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3.11.5.2.1 1ª Convocação: só começa se com credores titulares de
mais da metade dos créditos de cada classe, computados pelo valor.
3.11.5.2.2 Se não sai: 2ª Convocação, com qualquer número
3.11.5.3 Edital de Convocação (art. 36): publicado diário oficial eletrônico e
disponibilizado no sítio eletrônico do administrador judicial
3.11.5.4 Convocação Extraordinária (art. 36, § 2º): credores com no
mínimo 25% do valor total dos créditos de uma classe
3.11.5.5 CLASSES DA AG (art. 41)
3.11.5.5.1 Titulares de créditos derivados da legislação do trabalho
ou decorrentes de acidentes de trabalho
3.11.5.5.2 Créditos com Garantia Real
3.11.5.5.3 Créditos Quirografários, com privilégio especial, com
privilégio geral ou subordinados
3.11.5.5.4 Créditos enquadrados como microempresa ou empresa
de pequeno porte
3.11.5.6 COMITÊ DE CREDORES (art. 26)
3.11.5.6.1 Uma coisa é deliberar sobre a formação do Comitê.
Uma coisa é o juiz chamar, quando defere o processamento, a
assembleia para escolher o comitê. Nada tem a ver com o plano.
Chama classe por classe e eles irão escolher um representante para
cada classe. O devedor presta contas todo mês. O Comitê já estará
fiscalizando, se o administrador não está atrapalhando. O Comitê
pode apresentar impugnação em habilitação. Isso é no início do
processo. Outra coisa é deliberação para aprovação do plano.
3.11.5.6.2 Não é obrigatório formar o Comitê antes da Assembleia
final. Somente na fase de cumprimento do plano é obrigatório ter o
comitê.
3.11.5.6.3 Composição: Cada classe 1 representante + 2
suplentes. A votação pode ser realizada por meio de sistema
eletrônico que reproduza as condições de tomada de voto da
assembleia geral de credores (art. 39, § 4º, I)
3.11.5.6.4 Atribuição (art. 27)
3.11.5.6.4.1 Fiscalização (do devedor e administrador)
3.11.5.6.4.2 Parecer (opinião)
3.11.5.6.4.3 Requerer convocação de AG
3.11.5.6.5 Remuneração
3.11.5.6.5.1 Somente reembolso devidamente comprovadas e
com a autorização do juiz, atendendo às disponibilidades de caixa
(art. 29)

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3.11.5.7 RESULTADOS POSSÍVEIS DA DELIBERAÇÃO DA ASSEMBLEIA
GERAL DE CREDORES
3.11.5.7.1 APROVA O PLANO
3.11.5.7.1.1 Vai para fase de execução.
3.11.5.7.2 REJEITA O PLANO
3.11.5.7.2.1 Decreta Falência (arts. 73 e 74)
3.11.5.7.2.1.1 É um dos caminhos possíveis. Convolação.
3.11.5.7.2.2 Plano Especial pelos Credores (art. 56, §§ 4º a 9º)
3.11.5.7.2.2.1 Credores apresentam plano alternativo. Será
deliberado.
3.11.5.7.2.2.2 REQUISITO
3.11.5.7.2.2.2.1 Credores que representem mais da
metade dos créditos presentes à AG de credores (art. 56, §
5º)
3.11.5.7.2.2.3 PROCEDIMENTO
3.11.5.7.2.2.3.1 Rejeitado o plano de recuperação
judicial, o administrador judicial submeterá, no ato, à
votação da assembleia-geral de credores a concessão de
prazo de 30 (trinta) dias para que seja apresentado plano
de recuperação judicial pelos credores. (Art. 56, § 4º)
3.11.5.7.2.2.4 CONDIÇÕES DE APROVAÇÃO DO PLANO
3.11.5.7.2.2.4.1 O plano de recuperação judicial
proposto pelos credores somente será posto em votação
caso satisfeitas, cumulativamente, as seguintes condições:
I - não preenchimento dos requisitos do cram down II -
preenchimento dos requisitos previstos nos incisos I, II e III
do caput do art. 53 desta Lei; III - apoio por escrito de
credores que representem, alternativamente: a) mais de
25% (vinte e cinco por cento) dos créditos totais sujeitos à
recuperação judicial; ou b) mais de 35% (trinta e cinco por
cento) dos créditos dos credores presentes à assembleia-
geral a que se refere o § 4º deste artigo; IV - não imputação
de obrigações novas, não previstas em lei ou em contratos
anteriormente celebrados, aos sócios do devedor; V -
previsão de isenção das garantias pessoais prestadas por
pessoas naturais em relação aos créditos a serem novados
e que sejam de titularidade dos credores mencionados no
inciso III deste parágrafo ou daqueles que votarem
favoravelmente ao plano de recuperação judicial
apresentado pelos credores, não permitidas ressalvas de
voto; e VI - não imposição ao devedor ou aos seus sócios

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de sacrifício maior do que aquele que decorreria da
liquidação na falência.
3.11.5.7.2.3 Concede a Recuperação "Cram Down" (art. 58, § 1º)
3.11.5.7.2.3.1 Não foi aprovado o plano por judiaria. É uma
espécie de aplicação de proporcionalidade, flexibiliza o
resultado porque bateu na trave.
3.11.5.7.2.3.2 Requisito (cumulativos 3 requisitos) - pressupõe
que rejeitado o plano
3.11.5.7.2.3.2.1 Voto favorável na maioria dos créditos
presentes na AG
3.11.5.7.2.3.2.2 Voto favorável de mais de 1/3 dos
credores nos termos do art. 45.
3.11.5.7.2.3.2.3 Aprovação de 3 classes ou aprovação
de 2 classes se só existirem 3 ou 1 classe (nos termos do
art. 45) se só existirem 2 classes.
3.11.5.7.2.3.3 Juiz concede a RJ, embora rejeitado o plano. Lei
reconhece que a regra de deliberação pode não ser justa
sempre, dá uma ajuda com a ideia de preservação da
empresa.
3.11.6 Se ninguém reclamou do plano, está deferida a Recuperação Judicial
3.11.7 TERMO DE ADESÃO (art. 39, § 4º)
3.11.7.1 É um documento que todo mundo assina. Ao invés de fazer a
assembleia, apresenta esse termo como forma de deliberação ao invés
de fazer a deliberação tradicional.
3.11.7.2 Se houver objeção e até 5 dias antes da AG de credores, é
possível apresentar o termo de adesão. É um escrito que vai ter que ser
submetido à intimação dos credores para que apresentem oposição ou
não ao termo no prazo de 10 dias. Intima também devedor com prazo de
10 dias e administrador 5 dias. Se não houver objeções, será
homologado pelo juiz.
3.11.7.3 Quórum para aprovar esse termo é o da AG de credores + mais
da metade do valor dos créditos sujeitos à RJ (art. 56-A)
3.11.7.3.1 Além da deliberação por classe, considera o valor global
da RJ. Posso ter aprovação das classes 1 e 4 que não levam em
consideração o crédito. O global deve levar em consideração o
volume.
3.11.7.3.2 P. ex.: Tenho classe I, II, III e IV. Na AG: I (KBC -
presentes); II - (KBC - presentes) + 51%$; III - (KBC - presentes) +
51%$; IV - (KBC - presentes). Mas, para aprovar por termo preciso de
51%$ do valor total dos créditos. Posso ter distorções.

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3.11.7.3.2.1 Digamos que na classe I tenho 1milhão; na II zero; III
300k e IV 20k. O valor total da RJ é 1.320mi. Para aprovar por
termo, preciso de 661k. Na AG, não preciso disso, basta que um
dos credores tenha 900k (não entendi bosta nenhuma 03:40
14/06)
3.11.7.4 OPOSIÇÃO. Hipóteses de cabimento (art. 56-A, § 3º)
3.11.7.4.1 Não preenchimento do quórum legal de aprovação
3.11.7.4.2 Descumprimento do procedimento disciplinado na Lei
3.11.7.4.3 Irregularidades do termo de adesão ao plano de
recuperação
3.11.7.4.4 Irregularidades e ilegalidades do plano de recuperação
3.12 APROVAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO EM ASSEMBLEIA
GERAL
3.12.1 CONCEITO: para que o plano seja aprovado por assembleia, as 4
classes devem aprovar. É possível aprovar com alterações, mas com 2/3
dos créditos presentes à assembleia (art. 56, § 3º). Para cada classe, há
critérios diferentes. Depois, tem uma forçada.
3.12.2 CLASSES (art. 41) e REQUISITOS PARA APROVAÇÃO DO PLANO
(art. 45)
3.12.2.1 Titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou
decorrentes de acidentes de trabalho > maioria simples dos credores
presentes (independe o valor do crédito)
3.12.2.1.1 Esses e a última classe passam por apenas um critério.
Trabalhista e os pequenos não se leva em consideração o volume do
crédito. Isso faz sentido porque trabalhista é importante
independentemente do volume do crédito. É alimentos. Faz sentido
não jogar o critério do volume. Se eu crio uma categoria para os
pequenos justamente por que assim o são, faria sentido distingui-los
aqui pelo seu tamanho?
3.12.2.2 Créditos com Garantia real > Mais da metade do valor total dos
créditos presentes à assembleia > maioria simples dos credores
presentes (independe o valor do crédito)
3.12.2.2.1 Necessário a soma dos dois critérios. Aqui e na classe
abaixo.
3.12.2.3 Créditos Quirografários, com privilégio especial, com privilégio
geral ou subordinados > Mais da metade do valor total dos créditos
presentes à assembleia > maioria simples dos credores presentes
(independe o valor do crédito)
3.12.2.4 Créditos enquadrados como microempresa ou empresa de
pequeno porte > maioria simples dos credores presentes (independe o
valor do crédito)

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3.13 DESDOBRAMENTO DA APROVAÇÃO DO PLANO
3.13.1 Aprova o plano > nomeia o comitê de credores (art. 56, § 2º) > junta
certidões negativas (art. 57) > juiz concede RJ.
3.13.2 EFEITO DO DEFERIMENTO DA RJ
3.13.2.1 MATERIAL: art. 59. O plano de recuperação judicial implica
novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os
credores a ele sujeitos nos moldes do plano.
3.13.2.2 PROCESSUAL: art. 59, § 1º. Constitui título executivo judicial.
3.13.2.2.1 Se não cumprido o plano, credor tem 2 alternativas:
pedir a transformação da RJ em falência porque não foi pago o plano;
promover uma execução individual do seu crédito por cumprimento
de sentença. É o protagonismo do credor.
3.13.3 RECURSO CABÍVEL (art. 59, § 2º): Agravo
3.13.3.1 Legitimidade recursal: qualquer credor e Ministério Público.
3.13.3.2 É agravo porque o processo vai continuar, seria uma decisão
interlocutória.
3.14 FASE DE CUMPRIMENTO DO PLANO
3.14.1 Esse processo continua por 2 anos. A RJ continua existindo nesse
tempo. Em princípio não vai ter pedido, a não ser que venha algo urgente
que fuja daquilo estabelecido no plano. Quer dizer que o plano só pode ter 2
anos? Não, uma coisa é o plano que é direito material cumprimento das
obrigações e outra é o processo. O processo acaba em 2 anos se todas as
obrigações forem cumpridas em 2 anos, mas elas não foram extintas, irão
continuar. Se projetou para 10 anos, vai continuar pagando, mas o processo
não vai ficar parado aberto no cartório só para o cara ficar pagando. Em 2
anos fica de olho, prestando contas e etc. Depois que embala vai embora. E
se der pau, pode recuperar de novo? Tem o prazo de 5 anos do deferimento,
fica impedido de pedir nova.
3.14.2 ALCANCE TEMPORAL: Concedida a recuperação, o devedor
permanecerá em recuperação judicial até que sejam cumpridas todas as
obrigações previstas no plano que vencerem até, no máximo, 2 (dois) anos
depois da concessão da recuperação judicial, independentemente do
eventual período de carência. (Art. 61, caput) .
3.14.2.1 Após o prazo de 2 anos, o descumprimento de obrigação prevista
no plano de recuperação judicial autoriza que qualquer credor poderá
requerer a execução específica ou a falência (direta) (Art. 62) .
3.14.3 NÃO CUMPRIMENTO
3.14.3.1 Se não cumpre o plano dentro do prazo de 2 anos. Basta credor ir
nos autos e informar que não pagou. Convolação da recuperação em
falência (art. 61, § 1º)

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3.14.3.2 Se não paga depois de 2 anos -> formular pedido de falência
autônoma com base no descumprimento do plano.
3.15 FASE DE ENCERRAMENTO (art. 63)
3.15.1 CONDIÇÕES PARA ENCERRAMENTO: cumprimento das obrigações
(previstas no plano) vencidas no prazo de 2 anos da recuperação. Fim do
processo, não extinção das obrigações vinscendas. Se descumpridas depois
de encerrado o processo, a parte pode pedir execução individual se não
quiser falência ou pedir a falência em pedido direto e não nesse processo,
pois este acabou.
3.15.2 NATUREZA JURÍDICA DA DECISÃO DE ENCERRAMENTO:
sentença
3.15.2.1 Coloca fim ao processo. Cabe apelação.
3.15.3 O encerramento da RJ não dependerá da consolidação do QG de
credores.
3.15.3.1 É possível que se encerre a RJ e ainda não tenha se consolidado
o Quadro Geral de Credores, pois pode ter havido impugnação
retardatária apresentada. Tem que ir atrás de medidas para pedir reserva
de quantias e pedir liberação nos autos ou através de petição autônoma.
3.15.4 ATOS POSTERIORES AO ENCERRAMENTO
3.15.4.1 I – o pagamento do saldo de honorários ao administrador judicial
(40% faltantes), somente podendo efetuar a quitação dessas obrigações
mediante prestação de contas, no prazo de 30 (trinta) dias, e aprovação
do relatório previsto no inciso III do caput deste artigo;
3.15.4.2 II – a apuração do saldo das custas judiciais a serem recolhidas;
3.15.4.3 III – a apresentação de relatório final do administrador judicial, no
prazo máximo de 15;
3.15.4.4 IV – a dissolução do Comitê de Credores e a exoneração do
administrador judicial;
3.15.4.5 V – a comunicação ao Registro Público de Empresas e à
Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da
Economia para as providências cabíveis
4 FALÊNCIA
4.1 CONCEITO: “A falência, também conhecida como quebra ou bancarrota,
é o regime jurídico liquidatório reservado aos empresários e sociedades
empresárias, no qual se busca a liquidação do patrimônio do devedor
presumivelmente insolvente para o pagamento de seus credores, de acordo
com o regime de garantias e preferências legalmente estipuladas (e, também
para a apuração de responsabilidades e eventuais crimes falimentares).” (S-S-
T) “a falência é o procedimento visando à liquidação do patrimônio do devedor,
para satisfação dos credores de acordo com uma ordem legal de preferência,
para evitar maiores prejuízos na condução da atividade pelo devedor.” (MT)

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4.1.1 Identificação dos credores > liquidação do patrimônio > pagamento do
quanto possível. Retirada da sociedade do mercado.
4.2 FUNÇÃO: Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de
suas atividades, visa a: I - preservar e a otimizar a utilização produtiva dos
bens, dos ativos e dos recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da
empresa; II - permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à
realocação eficiente de recursos na economia; e III - fomentar o
empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno célere do
empreendedor falido à atividade econômica. (...) § 2º A falência é mecanismo
de preservação de benefícios econômicos e sociais decorrentes da atividade
empresarial, por meio da liquidação imediata do devedor e da rápida realocação
útil de ativos na economia.
4.3 PLANO GERAL:
4.3.1 Esse plano geral das fases deriva do sincretismo processual. Quando
surgiu a Lei das Falências isso não existia. Processo dividido por fases. A
ideia do processo antigo é que para cada função processual fosse
necessário um processo autônomo. Isso mudou em 2005 com a Lei nº
11.232/05.
4.3.2 Na primeira fase, a empresa ainda nã faliu. Foi pedida a falência,
porém. Se discute se a empresa deve ou não falir, se estão presentes as
condições da falência, se quebrou ou não. Vamos ver as condições da
falência, que são as causas de pedir de um credor contra o devedor. No final
vamos ter uma decisão dizendo que sim ou que não. É um processo de
conhecimento, deve-se conhecer a circunstância, tem petição inicial,
citação, contestação, réplica, audiência se for o caso, perícia para ter
sentença no final. Se for julgado improcedente um pedido de falência de um
credor contra uma empresa, vida que segue, como se nada tivesse
acontecido. Do contrário, mudamos de fase, não discutimos mais, vamos
para a fase falimentar em que serão resolvidas as questões patrimoniais da
empresa.
4.3.2.1 Procedimento de 2 tipos: iniciativa do credor e o pedido de
autofalência que possui um regulamentação e procedimento um pouco
diferente (afinal não vou pedir contra eu mesmo.
4.3.3 Na Fase Falimentar, se presentes as condições, é decretada a
quebra. Não vou fazer análise se a empresa tem condições ou não de viver,
não vou discutir as condições dessa falência, agora vamos realizar,
satisfazer. Isso será feito com uma execução, está no título. Mas essa
execução é diferente da que estamos acostumados que é a singular, aqui é
a execução universal, trago todos os credores e seus créditos para dentro
do processo. O juiz atrai todos os problemas para dentro do processo, salvo
aqueles excluídos por uma questão de competência funcional de justiça.
Não pego apenas os bens necessários para pagar as dívidas, eu trago todo
o patrimônio. E se ele for superior aos credores? Não interesse, se a
empresa falir, vende todo o patrimônio, se sobrar devolve para o empresário.

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Ao invés de ter inicial, citação e etc. vamos ter a arrecadação de bens,
avaliação dos bens, alienação dos bens e pagamento dos credores. Tudo
dentro do processo, ao contrário da RJ em que isso acontece pelo plano.
PLANO GERAL
ESTRUTURA FASE PRÉ-FALIMENTAR FASE FALIMENTAR
FUNÇÃO E OBJETO - Cognição - Execução Universal
- Condições da Falência - Liquidação do patrimônio e
satisfação dos credores
PROCEDIMENTO - Iniciativa do credor - Arrecadação
- Autofalência - Avaliação
- Alienação
- Pagamento

4.4 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS87


4.4.1 PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA
4.4.1.1 SUBJETIVO
4.4.1.1.1 JUIZ
4.4.1.1.1.1 Órgão Investido de jurisdição
4.4.1.1.2 PARTES
4.4.1.1.2.1 Capacidade de ser parte
4.4.1.2 OBJETIVO
4.4.1.2.1 Existência de demanda
4.4.2 REQUISITOS DE VALIDADE
4.4.2.1 SUBJETIVO
4.4.2.1.1 JUIZ
4.4.2.1.1.1 Competência e Imparcialidade
4.4.2.1.1.2 COMPETÊNCIA NA FALÊNCIA PARA PROCESSAR
E "JULGAR
4.4.2.1.1.2.1 Igual RJ - critério do foro do principal
estabelecimento, justiça estadual + regra da prevenção.
4.4.2.1.1.2.2 Indivisibilidade: art. 76 - O juízo da falência é
indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre
bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas

87 Processo de falência e recuperação judicial na mesma lei. Muito do que vamos ver, já vimos em RJ.
Muita coisa igual. Por exemplo, não tem técnicas de venda de patrimônio na RJ, pois não vendo,
apenas produzo um plano de recuperação. O que pode acontecer é que com base no plano de
recuperação o próprio empresário se comprometa a vender parte da empresa, mas isso não acontece
dentro do processo; na falência é diferente.

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trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que
o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo.
4.4.2.1.1.2.2.1 Na falência, diferente da RJ em que o
processo vai suspender, mas depois vai ser produzida uma
decisão que vai ser cumprida, aqui na falência não tem
mais a ideia de suspender para depois continuar. Aqui,
esses processos serão atraídos para o juízo falimentar,
então vai ser o juiz falimentar quem vai julgar esses
processos para saber se o credor deve ou não receber
essa quantia, salvo causas trabalhistas e fiscais e as ações
que não forem reguladas na LREF e que ele figurar como
autor. Portanto, existe uma regra geral que é a de atração
dos processo para dentro do juízo falimentar e existem
exceções como quando o falido é autor em situações não
reguladas pela Lei e as causas trabalhistas e fiscais. A
causa fiscal continua na vara da fazenda pública ou justiça
federal; a trabalhista continua com o juiz do trabalho. Para
estas, é feita a reserva de crédito para não ficar sem
receber a quantia no momento oportuno, se for o caso de
distribuição do crédito enquanto tramita a ação. Portanto,
vão se operar algumas reservas de créditos e outras ações
serão atraídas para esse juízo universal e indivisível da
falência. É como se pegasse todos os pepinos da empresa
e largasse na mão da mesma pessoa para ela julgar e ela
definir. O juiz da falência recebe uma tarefa bastante dura,
que não ocorre na RJ, uma vez que os processos ficam
suspensos.
4.4.2.1.2 PARTES
4.4.2.1.2.1 Capacidade processual, capacidade postulatória e
legitimidade ad causam
4.4.2.1.2.2 LEGITIMIDADE ATIVA (Quem pode requerer
falência? Arts. 97 e 73)88
4.4.2.1.2.2.1 Próprio Devedor (autofalência)
4.4.2.1.2.2.1.1 Qual o sentido? Existe a possibilidade de
extinção da empresa por liquidação. O empresário não é
obrigado a ser empresário. Ele pode não querer mais a
empresa. Como encerra atividade empresarial? Submete a
empresa a um processo de liquidação, apurando o passivo,
identifica o ativo e realiza o passivo, paga o que tu tem que
pagar, paga dívidas e o que sobrar, recolhe. É extrajudicial,

88 Temos 2 cenários: o da falência convencional e a hipótese excepcional no Brasil da autofalência,


embora comum no direito norte-americano. No processo de falência convencional é o credor quem vai
pedir a falência do devedor; enquanto na autofalência é o próprio devedor que irá pedir a sua falência.
Na RJ, quem tem legitimidade para pedir a RJ é o próprio devedor, um credor não pode.

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só que para que isso aconteça, tem que realizar o passivo,
tem que pagar credores. Se a empresa não tem mais $, a
possibilidade de liquidação voluntária não existe mais,
porque está devendo. A maneira de resolver é pedindo a
própria falência. Entrega tudo o que tem (dívida é maior) e
game over.
4.4.2.1.2.2.1.2 Muda o procedimento, não tem contraditório
da outra parte dizendo que a empresa não deve falir. Vira
quase um procedimento de jurisdição voluntária na primeira
fase. A primeira fase serve para aferir as condições da
falência e depois a fase de liquidação patrimonial
propriamente dita que é parecido com processo de
execução.
4.4.2.1.2.2.2 Cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do
devedor ou inventariante
4.4.2.1.2.2.3 Cotista ou Acionista (sócio) do devedor na forma
da lei ou do ato constitutivo da sociedade
4.4.2.1.2.2.4 Qualquer credor
4.4.2.1.2.2.4.1 É o mais comum. Tem que demonstrar alguns
requisitos na Petição inicial para adquirir essa legitimidade,
que envolve valor e qualidade do crédito (se é título
executivo ou não).
4.4.2.1.2.2.5 Convolação da Recuperação em falência pelo
Juiz (art. 73, LREF)
4.4.2.1.2.2.5.1 Independe do valor. É porque não cumpriu o
plano.
4.4.2.1.2.2.6 QUEM NÃO PODE (art. 5º)
4.4.2.1.2.2.6.1 Obrigações a título gratuito
4.4.2.1.2.2.6.2 Despesas que os credores fizeram para tomar
parte na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de
litígio com o devedor.
4.4.2.1.2.3 LEGITIMIDADE PASSIVA (Quem pode sofrer pedido
de falência?)
4.4.2.1.2.3.1 Empresário e da sociedade empresária (art. 1º)
4.4.2.1.2.3.1.1 Quando falamos em RJ, não era apenas o
empresário e a sociedade empresária. Os sujeitos que
exerciam atividade econômica podiam pedir RJ (ex.
produtor rural, cooperativas). Produtor rural quer ser polo
passivo de falência? É claro que não. Mas, e se der errada
a RJ? Ele vai falir mesmo não sendo empresa? A visão do

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professor é que se usa o RJ, tem que ter potencialidade
para falir. Não tem como adotar um regime pela metade.
4.4.2.1.2.3.2 Sócios ilimitadamente responsáveis
(Litisconsórcio necessário - art. 81)
4.4.2.1.2.3.2.1 Se é sócio de sociedade ilimitada, será réu no
processo de falência. Se o processo de falência tem por
tendência a liquidação patrimonial e o meu patrimônio vai
responder perante as dívidas, tem que estar lá junto para
derreter o patrimônio do sócio no processo. Cuidar ainda
com o abuso, possibilidade de desconsideração da
personalidade jurídica nos casos de autofalência, quando o
sócio desvia o patrimônio.
4.4.2.1.2.3.3 QUEM NÃO ALCANÇA (quem não fale)
4.4.2.1.2.3.3.1 Não empresário: Profissionais liberais,
sociedades simples, cooperativas e etc.
4.4.2.1.2.3.3.1.1 Bug no sistema ao poder RJ para
alguns e não poder falência segundo a Lei.
4.4.2.1.2.3.3.2 Empresas Estatais: empresa pública, SEM
4.4.2.1.2.3.3.2.1 Entraria em processo de liquidação.
4.4.2.1.2.3.3.3 Empresas que atuam em ramos especiais ou
sensíveis: instituições financeiras, operadoras de plano de
saúde, seguradoras e etc.
4.4.2.1.2.3.3.3.1 Não podem pedir RJ também.
4.4.2.1.2.3.3.3.2 No caso das seguradoras, quando
está em crise, se faz um processo de liquidação, pois
em teses essas empresas não têm como estarem
deficitárias, pois devem possuir uma reserva técnica.
Então, a SUSEP entra na seguradora e derrete a
reserva técnica e requaciona o tamanho da empresa ou
diz que não tem mais condições de ser segurado pela
falta de reserva técnica. Porém, ainda assim no caso da
seguradora se depois da liquidação, depois de derretida
a reserva técnica, ela ainda pode encaminhar para um
processo de falência. É uma situação anômala, mas a
solução prioritária é a liquidação.
4.4.2.2 OBJETIVO
4.4.2.2.1 Instrínsecos
4.4.2.2.1.1 Respeito ao formalismo processual
4.4.2.2.2 Extrínsecos
4.4.2.2.2.1 Negativo

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4.4.2.2.2.1.1 Inexistência de perempção, litispendência, coisa
julgada ou convenção de arbitragem
4.4.2.2.2.2 Positivo
4.4.2.2.2.2.1 Interesse de agir

FASÉ PRÉ-FALIMENTAR
4.5 PROCEDIMENTO
4.5.1 REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL (art. 319, CPC + 51 LREF)
4.5.1.1 PARTES: autor (credores) e réu (empresa impontual)
4.5.1.1.1 Até a empresa é impontual, ainda não avaliei se ela é falida ou
não.
4.5.1.2 CAUSA DE PEDIR: Impontualidade, execução frustrada ou atos
de falência (art. 94, I a III)
4.5.1.2.1 IMPONTUALIDADE
4.5.1.2.1.1 Conceito: é o principal critério que induz que a
empresa esteja em situação de insolvência. Mas, não é qualquer
impontualidade que gera o pedido de falência. Qual o sistema de
proteção da empresa na caracterização da impontualidade?
4.5.1.2.1.2 Título Executivo (judicial ou extrajudicial)
4.5.1.2.1.3 Dívida Vencida
4.5.1.2.1.4 Valor maior do que 40SM
4.5.1.2.1.5 Protesto
4.5.1.2.1.5.1 Tem que juntar na inicial o título executivo e o
instrumento de protesto. Isso para evitar que a falência seja
usada como instrumento abusivo. Digamos que uma empresa
me deve e eu não gosto do empresário. Ele me deve 50 mil
reais e eu vou lá e ao invés de ajuizar a ação de cobrança eu
peço a falência. O mercado vai reagir como a isso? Digamos
que seja uma SA de capital aberto e entra um pedido de
falência? Despencam as ações. Quando eu exijo o protesto, se
existe uma dívida de 50k de uma SA de capital aberto, que tem
um faturamento grande e essa empresa é protestada, ela pode
pagar e ao pagar, não há impontualidade, pois o protesto
garantiu que não só não houve pagamento como um não
pagamento consciente, pois foi protestado e mesmo assim não
pagou. É um mecanismo de segurança do devedor, tendo em
vista que somente a existência do processo de falência já pode
causar prejuízos à empresa.
4.5.1.2.1.6 Documentos: Títulos executivos com os instrumentos
de protesto

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4.5.1.2.2 EXECUÇÃO FRUSTRADA
4.5.1.2.2.1 Conceito: é mais difícil de demonstrar, há um
problema de inconsistência de regimes pelo fato da lei ser de
2005 antes do CPC de 2015 e até da reforma do CPC de 1973. O
problema é de aplicação no tempo. Antigamente, o exequente
ajuizava a ação autônoma e citava o réu para pagar ou garantir o
juízo. Somente garantindo o juízo é que ele poderia apresentar
embargos à execução. Por outro lado, se não tem patrimônio,
essa execução vai levar à nada na execução singular. Mas, se tu
és uma empresa e não tem patrimônio, a empresa é insolvente. E
assim sendo tem que sair do mercado. Então era fácil de
demonstrar a execução forçada. Bastava demonstrar não
pagamento do comando citatório de processo de execução e que
não houve a garantia do juízo. Pedia-se uma certidão do cartório
que não houve pagamento nem garantia do juízo e pedia a
falência. O problema é que hoje quando citamos não é para
garantir o juízo, mas sim para pagar. Eu não sei se ele tem ou não
patrimônio até eu tentar fazer a persecução patrimonial (bacenjud,
renajud e etc.). Anos depois é que vou ter a clareza se a execução
é forçada ou não. Esse é um problema procedimental que não
tinha e que agora eu tenho. Existem algumas estratégias para
tentar caracterizar essa execução frustrada, a insolvência do
credor a partir de um ato presumido. Existe um procedimento no
CPC que permite que o exequente intime o executado para que
ele próprio diga quais são os bens que possui, onde estão e qual
o valor da avaliação desses bens passíveis de penhora. Então,
intimo ele e ele malandramente vai dizer que não tem bens para
garantir a penhora. Assim, podemos pedir uma certidão do cartório
dizendo que ele declarou que não possui bens para pagar a
dívida. Se é assim, ele está insolvente e que a minha execução
está frustrada, facilitando o pedido de falência. O problema é que
alguns juízes dizem que essa medida é ineficiente dizendo que o
devedor indique os próprios bens e que isso é ônus do credor. Na
hipótese da execução frustrada ela não tem limitação de valor,
não preciso de protesto.
4.5.1.2.2.2 Processo de execução em curso
4.5.1.2.2.3 Não pagamento ou garantia do juízo
4.5.1.2.2.4 Documentos: certidão expedida pelo juízo em que se
processa a execução
4.5.1.2.3 ATOS DE FALÊNCIA (art. 94, III, "a" a "g")
4.5.1.2.3.1 Conceito: nada têm a ver com valor, mas com
comportamento. É aquele cenário do sujeito que vai ser tirado da
festa (mercado). Se essa pessoa não pagou o ingresso e entra na
festa, o segurança vai expulsar ele. Isso tem a ver com o

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patrimônio, se não tem, não pode ficar devendo e tira dos
mercados. Mas, tem aqueles que pagou para entrar na festa, mas
não está se comportando. Do mesmo jeito, vão expulsar. O
mercado possui regras de comportamento, pode estar em dia com
as contas, mas se estiver praticando condutas abusivas, tu não
podes estar no mercado independente de estar devendo ou não,
se tem ou não dinheiro.
4.5.1.2.3.2 Redução patrimonial fraudulenta (alíneas "a" a "d")
4.5.1.2.3.2.1 Empresa está se descapitalizando, jogando
patrimônio para outra empresa. Ver o filme "Lavanderia". É o
caso da Itapemirim. Entrou em crise e pediu RJ, depois surge
como uma derivação do patrimônio a criação de uma nova
empresa na Europa de transporte. Ou seja, ela estava em crise
no Brasil e tirou o $ daqui para criar nova empresa na Europa
e deixar os credores pendurados num plano de Recuperação.
O debate dos advogados da Itapemirim foi que isso não tem
nada a ver com o juiz, ele não pode decretar a quebra na RJ,
fez a convolação. Alegaram que quem tem que definir se a
empresa é viável ou não são os credores e não o juiz, ele não
deve interferir na decisão se a empresa deve ou não quebrar.
Só que se ficar identificado o ato fraudulento, como uma
redução patrimonial fraudulenta, estou trabalhando com outro
critério, que não é o plano de recuperação, pagamento ou não,
mas sim de comportamento. Traz de volta o patrimônio (ofício
para cá e lá, rogatória). Isso pode ser determinado antes.
Digamos que não havia RJ e eu sou credor, o meu crédito é de
apenas 30k, mas eu consigo demonstrar para o juiz que a
empresa está fazendo esse movimento para burlar os
credores, não preciso esperar o leite derramar, estou vendo
que ele vai derramar. Aqui é pedido de falência direto e não
convolação na RJ, pois seria lá no processo de RJ e
determinado lá nem passaria pela fase pré-falimentar, vai
direto para a liquidação. Tudo indica que o cara está querendo
dar o golpe. É difícil aqui de demonstrar, ao contrário da
execução frustrada, impontualidade. Vou precisar de
testemunhas, perícias.
4.5.1.2.3.3 Reforço de garantia sem base patrimonial (alínea
"e")
4.5.1.2.3.4 Descumprimento do plano de recuperação (alínea
"g")
4.5.1.2.3.4.1 Já tinha extinto a RJ depois dos 2 anos e o cara
não pagou o plano. Só indica que tinha direito de receber no
plano e que não recebeu.
4.5.1.2.3.5 Abandono da empresa (alínea "f")

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4.5.1.2.3.5.1 Simplesmente fechou a empresa e fugiu. Mas
ainda tem bens na empresa.
4.5.1.2.3.6 Documentos: descrever os fatos que a caracterizam,
juntando-se as provas que houver e especificando-se as que
serão produzidas.
4.5.1.3 PEDIDO: decretação da falência
4.5.1.3.1 Não preciso ainda demonstrar que a empresa possui ativo
maior do que passivo. É muito mais simples. Demonstra que tem
título executivo e ele não me paga, sendo o pedido associado à
impontualidade. Vou presumir, por conta da impontualidade, a
insolvência. Senão ficaria numa discussão contábil infinita. Se não
pagou, presume-se que tá quebrado.
4.5.2 EFEITOS DA DISTRIBUIÇÃO
4.5.2.1 Prevenção do juízo (art. 6º, § 8º)
4.5.2.1.1 Art. 78. Os pedidos de falência estão sujeitos a distribuição
obrigatória, respeitada a ordem de apresentação. Parágrafo único. As
ações que devam ser propostas no juízo da falência estão sujeitas a
distribuição por dependência.
4.5.2.1.2 Já falamos em RJ. Se vierem outros pedidos de falência, serão
distribuídos para o mesmo país, cuja regra de competência é a do
principal estabelecimento.
4.5.2.2 Tramitação Preferencial
4.5.2.2.1 Art. 79. Os processos de falência e os seus incidentes
preferem a todos os outros na ordem dos feitos, em qualquer
instância.
4.5.2.2.2 Falência possui preferência maior em face de todos os outros
processos. Em tese é para ser julgado com urgência.
4.5.3 CITAÇÃO
4.5.3.1 Prazo de 10 dias para contestar (art. 98, LREF). Corridos.
4.5.3.2 Forma: arts. 238 a 259, CPC. Meio eletrônico, link para confirmar.
4.5.4 CONTESTAÇÃO (prazo 10 dias)
4.5.4.1 DEPÓSITO ELISIVO
4.5.4.1.1 Conceito: é uma espécie de rede de segurança. Se eu
apresento defesa na falência dizendo que não devo e por isso não
paguei, ou que fui coagido, ou que já tinha pago e é julgado
procedente o pedido e afastada minha contestação, perdendo a
minha condição de empresa, eu quebro. Uma coisa é dizer que não
deve e no final ser condenado a pagar a dívida com custas e
sucumbência. Aqui, se perde, perdeu mesmo, não é só custa e
sucumbência, vai falir. Como contraponto e valorizando a ideia de

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preservação da empresa o sistema permite que se defenda e se
praticar o depósito elisivo, ainda que eu perca o processo, eu não
quebro. Com esse depósito, que é dinheiro, ele só vai elidir (evitar) a
falência se for falência que diga respeito à $, capacidade econômica
e não comportamento. É uma técnica para ela discutir sem o risco de
quebrar. O depósito elisivo deve ser apresentado junto da
contestação. Tem que fazer na contestação. Tem que colocar o valor
inteiro da dívida, do principal e com os acessórios e derivados. Não
quebra porque não pode ser tirado do mercado se o devedor acha
que não deve e possui dinheiro, sendo que o pedido de falência alega
justamente a insolvência. Coloca o dinheiro na mesa. Se for julgado
procedente, o credor levanta a quantia e está tudo pago e não quebra
a empresa.
4.5.4.1.2 Valor do Principal
4.5.4.1.3 Correção
4.5.4.1.4 Juros de Mora
4.5.4.1.5 Honorários advocatícios
4.5.4.1.6 Custos processuais (sem previsão legal)
4.5.4.2 PEDE RECUPERAÇÃO (art. 95)
4.5.4.2.1 Credor alega que devedor não tem patrimônio para pagar as
dívidas e o devedor diz que é verdade em certa medida, estou
passando por crise econômica-financeira e pede RJ na contestação
do pedido de falência. Se ele faz isso, ele vai ter que atender aqueles
requisitos da petição inicial da RJ com as listas e etc. para o juiz
verificar se vai deferir o processamento ou não. Faz da contestação
uma espécie de petição inicial da RJ e se o juiz defere a RJ, entra o
STAY e submete o plano o devedor individual a negociar com os
outros credores na assembleia, fica coletivizado o problema. Posso
ter uma RJ que vira falência, assim como uma falência que vira RJ.
4.5.4.3 RECONHECE O PEDIDO
4.5.4.3.1 Facilita a vida de todo mundo, vai direto para a decretação da
quebra
4.5.4.4 APRESENTA DEFESA89
4.5.4.4.1 Impontualidade
4.5.4.4.1.1 Matérias Alegáveis: art. 96, I a VIII e § 2º. Depósito
Elisivo (art. 98, § único)

89 No processo convencional, quando pensamos em contestação, pensamos em qualquer fato extintivo,


modificativo ou impeditivo do direito do autor e as preliminares de mérito. Aqui as preliminares de mérito
continuam valendo, mas em geral, as defesas propriamente ditas que a empresa contara a qual foi
pedida a falência pode fazer. O ponto é que quando é apresentada como defesa impontualidade ou
execução frustrada, posso praticar um ato chamado de depósito elisivo.

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4.5.4.4.1.2 Diz que não está impontual, pois, por exemplo, a
dívida não existe ou esse título não é executivo, ou porque devo
menos do que 40SM, falta de protesto.
4.5.4.4.2 Execução frustrada
4.5.4.4.2.1 Matérias Alegáveis: art. 96, I a VIII e § 2º. Depósito
Elisivo (art. 98, § único)
4.5.4.4.2.2 Diz que não foi frustrada, que foi o credor que não
soube procurar, nunca pediu para dizer quais são os bens, só fez
um bacenjud e já pediu execução frustrada.
4.5.4.4.3 Atos de falência
4.5.4.4.3.1 Nega que houveram atos de falência
4.5.4.5 NÃO CONTESTAÇÃO = REVELIA
4.5.5 RÉPLICA
4.5.5.1 Art. 351, CPC
4.5.5.2 Se teve contestação, apresentada fato impeditivo, modificativo,
extintivo do direito do autor, juntado documento? Apresenta réplica para
garantir contraditório.
4.5.6 AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO
4.5.6.1 Facultativa. O juiz pode marcar essa audiência de conciliação
depois da fase postulatória, pois assim era naquela época. Hoje fazemos
a audiência de mediação é feita antes da contestação, cita para
participar da audiência, embora o juiz possa marcar uma audiência
desse tipo a qualquer momento. Mas, no regime anterior se entendia que
o melhor momento para se tentar fazer acordo era depois da fase
postulatória em que as partes já tinham apresentado as suas posições,
interesses. Hoje pensamos diferente. Essa lógica é voltada para
negociação baseada em posições e interesses. Na prática, a audiência
de conciliação é quase uma faculdade.
4.5.7 SANEAMENTO
4.5.7.1 Art. 357, CPC. Possibilidade de identificar se há algo a ser
corrigido para avançar para a fase de instrução ou não.
4.5.8 INSTRUÇÃO
4.5.8.1 Normalmente quando o pedido é baseado em ato de falência. Em
execução frustrada ou impontualidade não tem muito o que fazer na
instrução. Por ato de falência é comum a necessidade de um ato de
instrução processual bem completo e demorado.
4.5.9 SENTENÇA
4.5.9.1 RESULTADOS POSSÍVEIS
4.5.9.1.1 Decretatória: a que decreta a falência. Sentença de quebra.

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4.5.9.1.1.1 Há alguma discussão a respeito da natureza da
carga eficacial preponderante da sentença de falência. Em geral,
se atribui força constitutiva negativa/desconstitutiva, pois se diz
que irá desconstituir a personalidade jurídica daquela empresa.
4.5.9.1.2 Denegatória: denega o pedido de falência, improcedência do
pedido da falência.
4.5.9.2 REQUISITOS
4.5.9.2.1 Gerais: art. 489, CPC
4.5.9.2.2 Específicos: art. 99, LREF - associado aos comandos e efeitos
4.5.9.2.2.1 Síntese do pedido
4.5.9.2.2.2 Identificação do falido
4.5.9.2.2.3 Nomes dos que forem a esse tempo seus
administradores
4.5.9.2.2.3.1 Já tenho que dizer quem é o administrador da
empresa, possivelmente porque ele pode ser chamado a ser
responsável por atos que forem identificados fraudulentos, pois
quando é decretada a quebra, uma das coisas que são
arrecadadas são os documentos da empresa. Até então eu
não sabia que estava havendo a fraude. Mas, no momento em
que quebra e buscamos os documentos, descobrimos um
monte de coisa e eu sabendo quem são os administradores,
eventualmente podem ser responsabilizados por esses atos
fraudulentos pessoalmente.
4.5.9.2.2.4 Termo legal da falência (90 dias/ pedido de falência
ou do 1º protesto (art. 129 e ss)
4.5.9.2.2.4.1 Juiz na sentença diz o período em que se
presume que os atos praticados possuem problema. 90 dias
antes do pedido da falência ou do 1º protesto para frente se
considera esse termo legal da falência. Se diz que a empresa
faliu ali, pois ela não fale do ponto de vista prático quando o
juiz diz "você faliu", pois se a falência decorre de um estado de
insolvência, a legislação vai presumir que essa insolvência já
acontecia antes, tanto que não pagou a dívida objeto da
execução frustrada, por exemplo. 90 dias para trás a empresa
já estava em condição de insolvência, a partir dali os atos
podem ser revogados, anulados. Às vezes o empresário
recebeu o pedido de falência ou já sabe que terá um pedido de
falência, ele pode vender todo o patrimônio para fraudar. Se
derreter o patrimônio nesse período, vai ser fácil de desfazer
esses negócios, pois está dentro desse período em que é
possível anular esses atos.

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4.5.9.2.2.5 Prazo para as habilitações de crédito, observado o §
1º do art. 7º, LREF
4.5.9.2.2.6 Pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória
das atividades do falido com o administrador judicial ou da
lacração dos estabelecimentos, observado o disposto no art. 109
desta Lei.
4.5.9.2.2.6.1 Quando o juiz decreta a quebra, a empresa
fecha. Em tese, se foi decretada a quebra de noite, vai lá
alguém e lacra o estabelecimento. Pode ser um cadeado no
portão, fita, edital fixado na porta que "está fechada por ordem
do juiz fulado de tal da falência". Essa ordem de lacração é
justamente para impedir que os bens que estão lá saiam e que
ninguém que não seja o administrador judicial nomeado pelo
juiz e demais nomeados possuam acesso ao estabelecimento
e bens da empresa. Porém, por vezes é conveniente para a
própria massa falida (conjunto de interesses em torno da
falência na segunda fase) que a empresa continue
funcionando por um tempo. Não vai ser mais o administrador
da empresa, mas o judicial que vai tocar esse negócio. Por
exemplo, digamos que a empresa é um açougue. Se é
decretada a sua falência e simplesmente se lacra o
estabelecimento, o que vai acontecer com a carne? Vai
apodrecer. Então, pode ser que quando o juiz decrete a
quebra, pode ser que ele entenda que considerando a
peculiariedade do tipo de negócio da empresa, o administrador
judicial vai tentar fazer uma espécie de limpeza do estoque,
continuando a funcionar o açougue por mais um mês na mão
do administrador judicial para liquidar o estoque. Apenas vai
liquidar com a continuidade da empresa, então vão ter
promoções de encerramento da atividade. Pode ser uma
estratégia em favor da massa falida.
4.5.9.3 COMANDOS DA SENTENÇA QUE DECRETA FALÊNCIA90
4.5.9.3.1 Ao Falido
4.5.9.3.1.1 Apresentar em 5 dias corridos a relação nominal
dos credores, indicando endereço, importância, natureza e
classificação dos respectivos créditos sob pena de crime
desobediência. (art. 99)
4.5.9.3.1.1.1 Aqui o tom muda com o crime de desobediência,
na RJ ele podia apresentar e depois era feita a verificação dos

90 Aqui vemos que a sentença é diferente, ela é de transição, pois quando ele decreta a quebra de uma
empresa, ele já dá uma ordem para o falido, ou seja, aquele cara que era administrador e já não é mais.
Na RJ ela continua sendo administrador da empresa, salvo se for destituído. Aqui não, é game over para
o administrador, não pisa mais lá dentro. Na sentença, o juiz já está de olho na fase falimentar. É um ato
de transição que gera um efeito quanto à recorribilidade.

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créditos. Se ficasse claro que ele estava ocultando algum
crédito, até poderia ser caracterizado como ato fraudulento e
poderia vir a ser falido, mas aqui depois de decretada a
quebra, não tem mas conversa, é crime.
4.5.9.3.1.2 Proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou
oneração de bens do falido, submetendo-os preliminarmente à
autorização judicial e do Comitê, se houver.
4.5.9.3.1.2.1 Tira a mão do patrimônio, pois ele não é mais teu.
4.5.9.3.1.3 Determinará as diligências necessárias para
salvaguardar os interesses das partes envolvidas, podendo
ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus administradores
quando requerida com fundamento em provas da prática de crime
definido nesta Lei.
4.5.9.3.1.3.1 Se houver indício de que vai acontecer algum
problema, com a destruição de documentos e etc. pode até ser
decretada a prisão preventiva contra o falido.
4.5.9.3.2 Aos Órgãos Públicos
4.5.9.3.2.1 JUÍZO: a suspensão de todas as ações ou
execuções contra o falido.
4.5.9.3.2.1.1 Tudo deriva para o juízo da falência, exceto as
situações da lei já vistas.
4.5.9.3.2.2 REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS: anotação da
expressão "falido", da data da decretação da falência e da
inabilitação.
4.5.9.3.2.3 Ofícios para que informem a existência de bens e
direitos do falido. Identifica o acervo patrimonial da empresa.
4.5.9.3.2.4 COMUNICAÇÃO PARA CONHECIMENTO: ao MP e
às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios
em que o devedor tiver estabelecimento.
4.5.9.3.3 Ao Desenvolvimento do Processo
4.5.9.3.3.1 Nomeará o administrador judicial
4.5.9.3.3.2 Determinará, quando entender conveniente, a
convocação da assembleia geral de credores para a constituição
de Comitê de Credores.
4.5.9.4 EFEITOS DA SENTENÇA QUE DECRETA A FALÊNCIA91
4.5.9.4.1 Juízo Universal: vis attractiva (art. 76 e 115) - atração dos
processo para dentro do juízo falimentar.

91 Esses efeitos derivam da lei, ainda que o juiz não os diga expressamente na sentença, serão
produzidos.

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4.5.9.4.1.1 Comunicação ao juiz da falência de novas ações
ajuizadas contra o falido (art. 6º, § 6º)
4.5.9.4.1.1.1 Verificação periódica perante os cartórios de
distribuição
4.5.9.4.1.1.2 Pelo juiz competente, quando do recebimento da
petição inicial
4.5.9.4.1.1.3 Pelo devedor, imediatamente após a citação
4.5.9.4.2 Suspensão do Curso da Prescrição e de todas as Ações e
Execuções (art. 6º, I e II) - podendo serem reservadas eventuais
quantias
4.5.9.4.2.1 Em face do devedor (mesmo as dos credores
particulares do sócio solidário). Exceto:
4.5.9.4.2.1.1 Pedido sem valor econômico ou ilíquido (art. 6º,
1º)
4.5.9.4.2.1.2 Trabalhistas até a apuração do crédito (art. 6º, 2º)
4.5.9.4.3 Vencimento Antecipado das dívidas
4.5.9.4.3.1 Do devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente
responsáveis (art. 77).
4.5.9.4.4 Inabilitação
4.5.9.4.4.1 O falido fica inabilitado para exercer qualquer
atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a
sentença que extingue suas obrigações (art. 102). Fica impedido
de exercer atividade empresarial, durante o período de tempo
desde a decretação da quebra até o momento em que são
declaradas extintas as obrigações.
4.5.9.4.5 Indisponibilidade dos bens
4.5.9.4.5.1 O devedor perde o direito de administrar os seus
bens ou deles dispor (art. 103)
4.5.9.4.6 Deveres do falido (art. 104, I a XII): cumprimento dos atos
determinados pelo juiz sob pena de crime de desobediência.
4.5.9.5 RECURSO CABÍVEL (art. 100 LREF)
4.5.9.5.1 Decretatória -> Agravo
4.5.9.5.1.1 Entende a lei que ela possui natureza interlocutória,
pois é uma sentença de meio de caminho. O cara tem as
condições da falência, não tinha depósito elisivo, logo vamos
direto para a falência dando comandos como a lacração do
estabelecimento, nomeação de administrador. A vida segue
imediatamente, não para tudo e intima para apelação,
contrarrazões e etc.

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4.5.9.5.2 Denegatória -> Apelação
4.5.9.5.2.1 Se não tem falência, não era devida a dívida o
recurso é apelação pois o processo vai acabar.

FASÉ FALIMENTAR
4.5.10 RELAÇÃO DOS CREDORES
4.5.10.1 Sentença determina ao falido apresentar a relação dos credores
em 5 dias (art. 99). Ele apresenta a relação, o juiz já nomeou
administrador judicial e este publica a relação dos credores por edital
eletrônico.
4.5.11 PUBLICAÇÃO DA RELAÇÃO DOS CREDORES (art. 99, § 1º)
4.5.11.1 Administrador judicial o faz em edital eletrônico com a íntegra da
decisão que decreta a falência e a relação de credores apresentada pelo
falido.
4.5.11.2 Serve para que possamos definir quem são os credores,
eventualmente para alguém habilitar créditos e etc. O devedor já vai ter
visão de quem são os credores.
4.5.12 COMPROMISSO DO ADMINISTRADOR
4.5.12.1 Quem? Profissional idônea, preferencialmente advogado,
economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica
especializada (art. 21)
4.5.12.2 Função (art. 22, I e III)
4.5.12.2.1 Comunicação
4.5.12.2.2 Fiscalização
4.5.12.2.3 Representação (art. 76, § único)
4.5.12.2.3.1 Esse é novidade, na RJ ele não representa a
empresa em recuperação judicial, pois lá a empresa tem um
administrador próprio (lá há o administrador da própria empresa,
do devedor e o judicial). Na falência, representa a empresa.
4.5.12.2.3.2 É ele quem toma as decisões na linha de frente,
como a contratação de funcionário, zelar pela conservação do
acervo patrimonial. Nos processos em que ainda é possível
discutir se a empresa deve ou não (dívida ainda não certa, líquida
e exigível para poder entrar na falência e ser habilitada. Deve ser
dívida consolidade) será o administrador judicial quem discutirá,
pois a empresa não existe mais. É equivalente ao inventariante
para o espólio.
4.5.12.2.4 Proteção dos interesses
4.5.12.3 Até 60 dias

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4.5.13 PLANO DETALHADO DE REALIZAÇÃO DO ATIVO
4.5.13.1 Até 60 dias: art. 99, § 3º. Após decretada a quebra ou convolada a
recuperação judicial em falência, o administrador deverá, no prazo de até
60 dias, contados do termo de nomeação, apresentar, para
apreciação do juiz, plano detalhado de realização do ativos, inclusive
com a estimativa de tempo não superior a 180 dias a partir da juntada
de cada auto de arrecadação, na forma do inciso III do caput do art. 22,
LREF.
4.5.13.2 Nova lei dá papel mais proativo para o administrador judicial, ele
tem que ajudar a planejar como terminar o processo de falência. A
impressão que dá no processo de falência é que depois que ele começa
ele nunca termina, pois toda hora aparece um crédito novo e discussões.
Então, a lei incumbe ao administrador judicial nomeado a partir do
momento em que ele presta o compromisso a em 60 dias apresentar um
plano de como ele vai realizar o ativo, como vai pegar todo o patrimônio
do devedor e vender, qual estratégia vai usar (vai vender por bloco,
individualmente). Esse plano é um dever do administrador.
4.5.14 ARRECADAÇÃO, GUARDA e AVALIAÇÃO DOS BENS (art. 108, 114)
E DOCS
4.5.14.1 Papel do administrador judicial a arrecadação, guarda e avaliação
dos bens. Art. 110, § 2º, I a IV. O administrador arrecada os bens. Via de
regra, guarda os bens e avalia os bens. Ele pode indicar outra pessoa
para guardar os bens, pode ser que ele não tenha um galpão. Vai
nomear alguém para guardar como se fosse um depositário, se esse
bem se perder nas mãos do depositário, quem vai pagar será o
administrador, pois ele será responsabilizado pela escolha equivocada
de um depositário. Ele fará isso com a lacração do estabelecimento ou
se houver prejuízo ou risco à preservação dos bens, estes ficarão com
depositário, que será o próprio administrador judicial ou, sob sua
responsabilidade, pessoa por ele escolhida, que poderá ser, inclusive, o
falido ou qualquer dos seus representantes. Não serão arrecadados os
bens absolutamente impenhoráveis.
4.5.14.2 Os bens que serão arrecadados são aqueles que serão vendidos
no futuro, então se não for passível de vender esses bens (inalienável)
não faz sentido arrecadar, como o caso de alguns bens do sócio que não
possui limitação de responsabilidade, senão estaria ferindo a dignidade
do sócio em litisconsórcio passivo necessário.
4.5.14.3 Problemas na fase de arrecadação
4.5.14.3.1 Bem de terceiro arrecadado
4.5.14.3.1.1 Por exemplo: fechou a loja, vai lá e lacra a loja. Em
tese, a loja é da empresa, mas pode ser que lá dentro tenham
bens que não são da empresa. Mercadinho do bairro fechou, tudo
o que tem no mercadinho não é do dono, como os freezers da

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Kibon. Aquilo é comodato ou alugado. Quando é lacrado o
estabelecimento, até provar tudo aqueles freezers ficam lá
assumindo ser do dono do mercado e não são. O fato é que tem
que devolver o freezer para Kibon através de um pedido de
restituição.
4.5.14.3.1.2 Pedido de restituição (arts. 85, 93) - há prazo
sucessivo de 5 dias entre a intimação até a manifestação do
administrador. Tem tramitação parecida com a da impugnação e
que termina com sentença.
4.5.14.3.1.2.1 Competência: juízo da falência
4.5.14.3.1.2.2 Legitimidade ativa: proprietário do bem
arrecadado
4.5.14.3.1.2.3 Autuado em apartado
4.5.14.3.1.2.4 *Se não couber restituição, pode ser proposto
embargos de terceiro.
4.5.14.3.1.2.5 PEDIDO
4.5.14.3.1.2.5.1 Fundamentado e descreverá a coisa
reclamada
4.5.14.3.1.2.6 INTIMAÇÃO (5 dias)
4.5.14.3.1.2.7 MANIFESTAÇÃO DO FALIDO (5 dias)
4.5.14.3.1.2.8 MANIFESTAÇÃO DO COMITÊ (5 dias)
4.5.14.3.1.2.9 MANIFESTAÇÃO DO CREDOR (5 dias)
4.5.14.3.1.2.10 MANIFESTAÇÃO DO ADMINISTRADOR (5 dias)
4.5.14.3.1.2.11 AUDIÊNCIA
4.5.14.3.1.2.12 SENTENÇA
4.5.14.3.1.2.12.1 Recurso cabível: apelação sem efeito
suspensivo.
4.5.14.3.1.2.12.2 Sentença procedente: determinará a
entrega da coisa no prazo de 48 horas
4.5.14.3.2 Bem perecível ou deteriorável
4.5.14.3.2.1 Alienação antecipada (art. 113)
4.5.14.3.2.1.1 É o caso das carnes do açougue.
4.5.14.3.2.1.2 Professor ainda acrescentaria o caso dos bens
depreciáveis também, considerando que perecível e
deteriorável perdem substância; ao passo que o depreciável
não perde substância, mas perde preço. Por exemplo, estoque
de equipamentos eletrônicos que se tornam obsoletos de um
ano para o outro.

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4.5.14.3.3 Bem gera renda?
4.5.14.3.3.1 Pode alugar ou celebrar outro contrato (art. 114).
4.5.14.3.3.2 Por exemplo: arrecadei um estabelecimento, uma
loja. Em tese, vou fechar essa loja e ela vai ficar fechada durante
todo o processo. Mas, ela é uma empresa devedora e vai ficar
fechada o tempo inteiro gerando despesas? Vai piorar a situação
do falido e dos credores. Por determinação do juiz, ouvido o
comitê de credores e etc. podemos celebrar contratos pontuais
por prazo determinado, rescindíveis a qualquer tempo de
utilização desse bem, transformando esse patrimônio em recurso.
Então, a loja está fechada, se tenho interesse em alguém alugar a
loja, alugo e cobro X todo mês. É bom que o administrador no
plano indique que, por exemplo, os bens arrecadados serão
vendidos em 2 anos, mas não ficarão fechados em 2 anos, tem
que ver formas de lucrar com isso.
4.5.14.3.4 Não encontrados bens ou insuficientes para as
despesas do processo?
4.5.14.3.4.1 Rito encurtado (art. 114-A)
4.5.14.3.4.1.1 Art. 114-A. Se não forem encontrados bens para
serem arrecadados, ou se os arrecadados forem insuficientes
para as despesas do processo, o administrador judicial
informará imediatamente esse fato ao juiz, que, ouvido o
representante do Ministério Público, fixará, por meio de edital,
o prazo de 10 (dez) dias para os interessados se
manifestarem. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)  (Vigência) § 1º Um ou mais credores poderão requerer
o prosseguimento da falência, desde que paguem a quantia
necessária às despesas e aos honorários do administrador
judicial, que serão considerados despesas essenciais nos
termos estabelecidos no inciso I-A do caput do art. 84 desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)  (Vigência) § 2º
Decorrido o prazo previsto no caput sem manifestação dos
interessados, o administrador judicial promoverá a venda dos
bens arrecadados no prazo máximo de 30 (trinta) dias, para
bens móveis, e de 60 (sessenta) dias, para bens imóveis, e
apresentará o seu relatório, nos termos e para os efeitos
dispostos neste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)  (Vigência) § 3º Proferida a decisão, a falência será
encerrada pelo juiz nos autos. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)  (Vigência)
4.5.14.3.4.1.2
4.5.15 JUNTADA DO AUTO DE ARRECADAÇÃO (art. 110, caput)
4.5.15.1 Composição

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4.5.15.1.1 Inventário (art. 110, § 2º)
4.5.15.1.1.1 § 2º Serão referidos no inventário: I – os livros
obrigatórios e os auxiliares ou facultativos do devedor,
designando-se o estado em que se acham, número e
denominação de cada um, páginas escrituradas, data do início da
escrituração e do último lançamento, e se os livros obrigatórios
estão revestidos das formalidades legais; II – dinheiro, papéis,
títulos de crédito, documentos e outros bens da massa falida; III –
os bens da massa falida em poder de terceiro, a título de guarda,
depósito, penhor ou retenção; IV – os bens indicados como
propriedade de terceiros ou reclamados por estes, mencionando-
se essa circunstância. § 3º Quando possível, os bens referidos no
§ 2º deste artigo serão individualizados. § 4º Em relação aos bens
imóveis, o administrador judicial, no prazo de 15 (quinze) dias
após a sua arrecadação, exibirá as certidões de registro, extraídas
posteriormente à decretação da falência, com todas as indicações
que nele constarem.
4.5.15.1.2 Laudo de avaliação dos bens, assinado por:
4.5.15.1.2.1 Administrador judicial
4.5.15.1.2.2 Falido ou seus representantes
4.5.15.1.2.3 Outras pessoas que auxiliarem ou presenciaram o
ato
4.5.16 VENDA DOS BENS ARRECADADOS
4.5.16.1 FORMAS DE ALIENAÇÃO DOS BENS
4.5.16.1.1 ALIENAÇÃO DA EMPRESA
4.5.16.1.1.1 Terá por objeto o conjunto de determinados bens
necessários à operação rentável da unidade de produção. Existe
ordem de preferência na venda desses bens. Primeiramente,
tentamos vender a empresa como um todo. Se não for possível,
tentamos vender blocos da empresa, filiais ou unidades produtivas
isoladas. Se ainda não der, vou vender os bens de um
determinado estabelecimento ou em último caso separadamente
os seus bens.
4.5.16.1.1.2 Livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do
arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza
tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes
de acidentes de trabalho (141, II) SALVO: adquirente com
“relação” com o falido (§ 1º)
4.5.16.1.1.2.1 Quem compra, compra livre e desembaraçado.
Se eu comprar o estabelecimento e a empresa ainda tiver
dívida trabalhista, não posso ser chamado para pagar por
essas dívidas, mesmo continuando a exercer a mesma

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atividade no mesmo lugar. Não é sucessão empresarial! Foi
feito em processo de falência, não é simplesmente um contrato
de trespasse. Compra limpinho.
4.5.16.1.1.3 ORDEM DE PREFERÊNCIA
4.5.16.1.1.3.1 Com a venda de seus estabelecimentos em bloco
4.5.16.1.1.3.2 Com a venda de suas filiais ou unidades
produtivas isoladamente
4.5.16.1.2 ALIENAÇÃO DOS BENS
4.5.16.1.2.1 Livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do
arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza
tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes
de acidentes de trabalho (141, II) SALVO: adquirente com
“relação” com o falido (§ 1º)
4.5.16.1.2.1.1 Quem compra, compra livre e desembaraçado.
Se eu comprar o estabelecimento e a empresa ainda tiver
dívida trabalhista, não posso ser chamado para pagar por
essas dívidas, mesmo continuando a exercer a mesma
atividade no mesmo lugar. Não é sucessão empresarial! Foi
feito em processo de falência, não é simplesmente um contrato
de trespasse. Compra limpinho.
4.5.16.1.2.2 ORDEM DE PREFERÊNCIA
4.5.16.1.2.2.1 Em bloco de cada um dos estabelecimento
4.5.16.1.2.2.2 Individualmente considerados
4.5.16.2 MODALIDADES DE ALIENAÇÃO (art. 142)
4.5.16.2.1 *REGRAS COMUNS (art. 142, § 2º-A)
4.5.16.2.1.1 Independe da conjuntura do mercado (favorável ou
desfavorável)
4.5.16.2.1.2 Isso era algo que dava problema antigamente,
especialmente sobre o momento da venda. O devedor dizia que o
mercado tava ruim e etc. Sempre tinha pretexto para empurrar e
não alienar. Lei é clara, não importa, vai alienar.
4.5.16.2.1.3 Independerá da consolidação do quadro-geral de
credores
4.5.16.2.1.3.1 Aqui estamos tratando da realização do ativo,
ainda nem falamos da formação dos credores, quem são eles
e como vamos pagar eles. Até porque para pagar precisa de
dinheiro. Bota a mão na empresa porque ela quebrou e vamos
sair vendendo para tentar pegar algum dinheiro. Tem gente
para receber crédito de natureza alimentar e a massa falida

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tem custo operacional, ainda tem que ter dinheiro em caixa
para pagar as despesas.
4.5.16.2.1.3.1.1 Hotel Amazônia: hotel quebrou e tinha
que conservar, tinha zoológico. Sentença decreta a quebra
e automaticamente a onça evapora. Sou nomeado
administrador judicial e a onça agora é problema dele. E
agora? Tem que dar comida, tratador para a onça. Quem
vai pagar esse cara é a massa falida. Por isso alugar, tentar
vender bens.
4.5.16.2.1.4 Poderá contar com serviços de terceiros como
consultores, corretores e leiloeiros.
4.5.16.2.1.5 Prazo máximo de 180 dias, da data da lavratura do
auto de arrecadação
4.5.16.2.1.6 Não estará sujeita à aplicação do conceito de preço
vil
4.5.16.2.1.7 Intimação do MP (§ 7º)
4.5.16.2.2 *ALIENAÇÃO FRUSTRADA (ART. 144-A)
4.5.16.2.2.1 Bens destinados à doação ou devolvidos ao falido
4.5.16.2.2.2 Não apareceu ninguém para comprar. São bens que
geram mais prejuízo do que receita, ninguém quer nem de graça.
4.5.16.2.3 LEILÃO ELETRÔNICO
4.5.16.2.3.1 Presencial ou híbrido (art. 142, § 3º-A + CPC)
4.5.16.2.3.1.1 1ª Chamada: mínimo é o valor de avaliação
4.5.16.2.3.1.2 2ª Chamada (dentro de 15 dias da 1ª): no mínimo
50% do valor de avaliação
4.5.16.2.3.1.3 3ª Chamada (dentro de 15 dias da 2ª): qualquer
preço
4.5.16.2.3.2 Não se aplica preço vil na falência. Na terceira
chamada vai por qualquer preço, pois precisamos fazer dinheiro.
4.5.16.2.4 PROCESSO COMPETITIVO
4.5.16.2.4.1 Quem: organizado e promovido por agente
especializado em promover vendas (reputação ilibada). Vou
apresentar processo competitivo com uma regra definida de como
as pessoas irão apresentar uma competição para comprar o bem
que será aprovado pela assembleia geral de credores e vamos
tentar achar um comprador. Acontece geralmente quando vai
comprar empresa como um todo, não vai fazer um leilão para uma
empresa.
4.5.16.2.4.2 Como: detalhado em relatório anexo ao plano de
realização do ativo.

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4.5.16.2.4.2.1 Customização tem que ser previamente
estabelecida e aprovada. Pode ser oferta, carta, convite, pode
oferecer prazo para condição de pagamento. Foge da regra
geral do leilão que funciona bem para bens.
4.5.16.2.4.3 Requisitos (art. 142, § 3º-B)
4.5.16.2.4.3.1 Aprovada pela Assembleia Geral de Credores
4.5.16.2.4.3.2 Prevista no plano de Recuperação Judicial
aprovado ou
4.5.16.2.4.3.3 Aprovado pelo juiz, considerada a manifestação
do administrador judicial e do Comitê de Credores, se
existente.
4.5.16.2.5 QUALQUER OUTRA (nos termos da lei. Art. 144)
4.5.16.2.5.1 Requisitos (art. 142, § 3º-B)
4.5.16.2.5.1.1 Aprovada pela Assembleia Geral de Credores
4.5.16.2.5.1.2 Prevista no plano de Recuperação Judicial
aprovado ou
4.5.16.2.5.1.3 Aprovado pelo juiz, considerada a manifestação
do administrador judicial e do Comitê de Credores, se
existente.
4.5.17 ARREMATAÇÃO DO BEM ARRECADADO
4.5.18 IMPUGNAÇÃO À ARREMATAÇÃO (art. 143)
4.5.18.1 Prazo: 48 horas da arrematação
4.5.18.2 Legitimidade
4.5.18.2.1 Qualquer credor
4.5.18.2.2 Devedor
4.5.18.2.3 Ministério Público
4.5.18.3 Baseada em valor (§§ 1º a 3º), discute o valor do bem arrematado
4.5.18.3.1 Pressupostos
4.5.18.3.1.1 Oferta firme do impugnante ou de terceiro para a
aquisição do bem
4.5.18.3.1.1.1 Não pode: "ah perdi o leilão, a melhor oferta não
foi a dele, mas a minha. Não vou ficar na conversa, tenho que
apresentar o valor de uma oferta para dizer que a minha oferta
é a que deveria ter ganho." Não é só conversa para anular e
depois dizer que não quer mais. E ainda depositar 10%.
Apresenta valor e garante.
4.5.18.3.1.2 Valor presente superior ao valor de venda, e de
depósito caucionário equivalente a 10% do valor oferecido

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4.5.18.3.2 Se houver + de 1 impugnação
4.5.18.3.2.1 Segue somente a que apresentar maior valor
4.5.18.3.2.2 P. ex.: Tanger ganhou o leilão, pagou 10k. Estamos
indignados porque houve um erro no leilão em relação ao valor,
um de nós deveria ter ganho. Todo mundo impugna. Não vamos
julgar todas, mas apenas aquele que apresentou o maior valor,
pois se ele apresentou o maior valor ele é quem vai ganhar, não
fazendo sentido julgar as demais.
4.5.18.4 Suscitação infundada de vício na alienação
4.5.18.4.1 Ato atentatório à dignidade da justiça: reparação dos
prejuízos causados + penas previstas no CPC para comportamento
análogo.
4.5.18.5 Autos conclusos e decisão no prazo de 5 dias.
4.5.18.5.1 Se improcedentes: ordenará entrega dos bens ao
arrematante, respeitadas as condições estabelecidas no edital.
4.5.19 AJUSTE PATRIMONIAL PRÉVIO E PAGAMENTO DOS CREDORES
(art. 149)
4.5.19.1 RESTITUIÇÕES (art. 85-93)
4.5.19.1.1 Devolvemos os bens que não eram do devedor.
4.5.19.2 PAGAMENTO DOS CREDORES EXTRACONCURSAIS (art. 84)
4.5.19.2.1 P.ex.: pagou o veterinário da onça. Ele nada tem a ver
com a falência, não possui crédito com a empresa falida, mas sim
com a massa falida. Empregador dele não é o dono do hotel, mas o
administrador judicial.
4.5.19.2.2 Art. 122 - Compensam-se, com preferência sobre todos
os demais credores, as dívidas do devedor vencidas até o dia da
decretação da falência, provenha o vencimento da sentença de
falência ou não, obedecidos os requisitos da legislação civil.
Parágrafo único. Não se compensam: I – os créditos transferidos
após a decretação da falência, salvo em caso de sucessão por fusão,
incorporação, cisão ou morte; ou II – os créditos, ainda que vencidos
anteriormente, transferidos quando já conhecido o estado de crise
econômico-financeira do devedor ou cuja transferência se operou
com fraude ou dolo.
4.5.19.2.3 CREDORES EXTRACONCURSAIS (art. 84)
4.5.19.2.3.1 Quantias salarial especial (créditos trabalhistas
últimos 3 meses até 5 SM) e manutenção da atividade (despesas
indispensáveis à administração da falência - pagar luz para não
descongelar a carne do açougue) (art. 150 e 151)

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4.5.19.2.3.1.1 Pagos pelo administrador judicial com recursos
disponíveis em caixa
4.5.19.2.3.2 Valor entregue ao devedor em RJ pelo financiador
durante a RJ, em conformidade com o disposto na seção IV-A do
capítulo III da Lei (art. 84, I-B)
4.5.19.2.3.2.1 Tem que devolver na hipótese de ter convertido a
RJ em falência
4.5.19.2.3.3 Créditos em dinheiro objeto de restituição, conforme
previsto no art. 86 da Lei (art. 86, 84, I-C)
4.5.19.2.3.4 Remunerações devidas ao administrador judicial e
seus auxiliares, reembolsos devidos a membros do Comitê de
Credores, e aos créditos derivados da legislação trabalhista ou
decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços
prestados após a decretação da falência (art. 84, I-D)
4.5.19.2.3.4.1 Veterinário da onça.
4.5.19.2.3.5 Obrigações resultantes de atos jurídicos válidos
praticados durante a RJ, nos termos do art. 67 da lei, ou após a
decretação da falência (art. 84, I-E)
4.5.19.2.3.6 Quantias fornecidas à massa falida pelo credores
(art. 84, II)
4.5.19.2.3.7 Despesas com arrecadação, administração,
realização do ativo, distribuição do seu produto e custas do
processo de falência (art. 84, III)
4.5.19.2.3.7.1 P. ex.: teve que alugar caminhão para arrecadar
os bens.
4.5.19.2.3.8 Custas judiciais relativas às ações e às execuções
em que a massa falida tenha sido vencida (art. 84, IV)
4.5.19.2.3.9 Tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a
decretação da falência, respeitada a ordem do art. 83 (art. 84, V)
4.5.19.2.3.9.1 A massa falida, por vezes, pratica atos que geram
tributo. Por exemplo, quando aluga o estabelecimento. Pago
ele no extraconcursal, pois foi depois da quebra pela massa.
4.5.19.3 CONSOLIDAÇÃO DO QUADRO-GERAL DE CREDORES

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a primeira lista na visão do devedor, a diferença é que ao invés de ser


a inicial do devedor, vai ser aquele comando da sentença para ele
apresentar a lista sob pena de desobediência. Publicou a primeira
lista > habilitações e divergências > consolida o administrador judicial
> publica a segunda lista > impugnação em apartado > julga as
impugnações e vamos ter a consolidação do Quadro Geral de
credores
4.5.19.3.2 Paralelamente estamos vendendo patrimônio. Na RJ
corria em paralelo a identificação dos credores e plano. Aqui é
identificação dos credores, arrecadação e venda do patrimônio para
chegar na convergência: quando tenho os credores definidos e já
tenho dinheiro no caixa, vou começar a pagar eles.
4.5.19.4 CLASSE DE PAGAMENTO DOS CREDORES92 (art. 83). Em
ordem de cima para baixo.
4.5.19.4.1 Trabalhista (até 150SM) ou de Acidentes de Trabalho
4.5.19.4.1.1 Crédito alimentar - busca restante no quirografário.
4.5.19.4.1.2 Honorários Advocatícios (Tema Repetitivo nº 637)
4.5.19.4.2 Com Garantia Real até o limite do Valor do Bem
Gravado
4.5.19.4.2.1 Digamos que tenho crédito de 2 milhões com
garantia real até o valor do bem gravado, que é 1.5milhões. Vou

92 Esses são os credores concursais. São os credores da empresa que quebrou.

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receber 1.5 milhões aqui e os outros 500 posso tentar classificar
como quirografário.
4.5.19.4.3 Tributários (exceto: extraconcursais e multas)
4.5.19.4.3.1 Sem ordem entre os Entes (ADPF 357). Não há
preferência entre entes, antes pagava primeiro União, depois
Estados e Município. Portanto, paga % igual para cada um, é
rateio.
4.5.19.4.4 Quirografários
4.5.19.4.4.1 Os demais não previstos
4.5.19.4.4.2 Os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da
alienação dos bens vinculados ao seu pagamento
4.5.19.4.4.3 Os saldos dos créditos derivados da legislação
trabalhista que excederem o limite
4.5.19.4.4.3.1 Recebe o 150 SM privilegiados na 1ª classe e o
restante aqui.
4.5.19.4.5 Multas Contratuais e as Penas Pecuniárias
4.5.19.4.5.1 Recebe o principal. Se sobrar de todos
quirografários, recebe aqui.
4.5.19.4.6 Créditos Subordinados (VIII)
4.5.19.4.6.1 Os previstos em lei ou em contrato
4.5.19.4.6.2 Os créditos dos sócios e dos administradores sem
vínculo empregatício cuja contratação não tenha observado as
condições estritamente comutativas e as práticas de mercado.
4.5.19.4.7 Juros Vencidos após a Decretação da Falência
4.5.19.4.7.1 Quando é decretada a quebra, em tese, não tem
mais juros. Só vai ter juros se todos receberem.
4.5.19.4.8 *CASOS ESPECIAIS
4.5.19.4.8.1 CRÉDITOS SALARIAIS (art. 151): vencidos nos 3
meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5
salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja
disponibilidade em caixa.
4.5.19.4.8.2 RESERVA DE IMPORTÂNCIA93: art. 149, § 1º:
Havendo reserva de importâncias, os valores a ela relativos
ficarão depositados até o julgamento definitivo do crédito e, no
caso de não ser este finalmente reconhecido, no todo ou em
parte, os recursos depositados serão objeto de rateio suplementar
entre os credores remanescentes.

93 Serve para guardar o meu lugar. Não recebe, mas fica depositado em juízo.

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4.5.19.4.8.3 CREDORES DE MÁ-FÉ: restituição em dobro (art.
152)
4.5.19.4.8.3.1 Quer tomar dinheiro da recuperação judicial.
4.5.19.5 REALIZAÇÃO DOS PAGAMENTOS DOS CREDORES
CONCURSAIS
4.5.19.5.1 1º Administrador paga 1ª Classe
4.5.19.5.1.1 Se não houver dinheiro suficiente, rateio proporcional
dentro da classe
4.5.19.5.2 Se sobrar, paga a 2ª Classe e assim por diante
4.5.19.5.3 Se sobrar quantia, paga ao falido. É possível que
aconteça, considerando que existem causas para pedir a falência que
não são por questões econômicas, mas de conduta fraudulenta. Em
alguns casos pode voltar crédito para o empresário, de modo que
alguns pedem a reativação da empresa.

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Esse é o pepino. O que está em amarelo são os credores extraconcursais e o que está
em verde os concursais. Os concursais são os da empresa que quebrou, e os
extraconcursais são os credores da massa falida. Primeiro pago a classe amarela e só
depois começo a pagar quem tinha crédito com a empresa. O grosso da dívida, de fato,
está no verde, porém são 10 classes de credores para receber antes.

FASE DE
ENCERRAMENTO DA
FALÊNCIA
4.5.20 PRESTAÇÃO DE CONTAS PELO ADMINISTRADOR JUDICIAL (art.
154)
4.5.20.1 Acompanhadas dos documentos comprobatórios
4.5.20.2 Em autos apartados que, ao final, serão apensados aos autos da
falência
4.5.20.2.1 IMPUGNAÇÃO: interessados poderão impugná-las no
prazo de 10 dias da sua divulgação.
4.5.20.2.2 INTIMAÇÃO DO MP: 5 dias apresentar manifestação.
4.5.20.3 JULGAMENTO DAS CONTAS (art. 154, §§ 4º ao 6º)
4.5.20.3.1 POR SENTENÇA
4.5.20.3.1.1 Rejeição: fixará responsabilidades do administrador,
poderá determinar a indisponibilidade ou o sequestro de bens e
servirá como título executivo para indenização da massa.
4.5.20.3.1.2 Recurso Cabível: apelação.
4.5.20.4 RELATÓRIO FINAL (art. 155)
4.5.20.4.1 Prazo: 10 dias do julgamento das contas.
4.5.20.4.2 Se boas as contas, apresenta o relatório final a partir do
julgamento das contas. Isso nos autos e não nos apartados.
4.5.20.4.3 Conteúdo: indica o valor do ativo e o do produto de sua
realização, o valor do passivo e o dos pagamentos feitos aos
credores, e especifica justificadamente as responsabilidades com que
continuará o falido.
4.5.21 SENTENÇA DE ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA (art. 156)
4.5.21.1 Ordena intimação das Fazendas Públicas, determina baixa no
CNPJ
4.5.21.2 Publicação por edital
4.5.21.3 Recurso Cabível: apelação.

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4.5.21.4 Quando o juiz encerra a falência por sentença, já está
automaticamente reabilitado o empresário que estava inabilitado desde a
decretação? Não, pois é somente quando extingue as obrigações do
falido. Uma coisa é extinção do processo e outra a extinção das
obrigações. Ele quebrou, pagou credores, mas pode ter ficado devendo
para outros tantos. Essa dívida é plano material e não processual. Ainda,
deve haver o pedido de extinção das obrigações.
4.6 EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DO FALIDO (art. 158)
4.6.1 PAGAMENTO DE TODOS OS CRÉDITOS
4.6.1.1 Forma natural de extinção das obrigações.
4.6.2 PAGAMENTO, APÓS REALIZADO TODO O ATIVO, DE MAIS DE
25% DOS CRÉDITOS QUIROGRAFÁRIOS
4.6.2.1 Os quirografários são importantes, pois definem se tenho a
possibilidade se eu tenho a possibilidade de extinção das obrigações do
falido imediatamente ou não.
4.6.2.2 Analogia que força a barra no Direito Civil: adimplemento
substancial - se o cara pagou quase tudo da obrigação, mas não tudo, é
considerada adimplida a obrigação. É um primo irmão do adimplemento
substancial.
4.6.3 DECURSO DO PRAZO DE 3 ANOS, CONTADO DA DECRETAÇÃO
DA FALÊNCIA
4.6.3.1 Terminou o processo e fica mais 3 anos fora do mercado. Pode
independentemente de pagar os 25% voltar. São consideradas extintas
as obrigações.
4.6.4 ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA, NOS TERMOS DOS ARTS. 114-A
OU 156 DESTA LEI.
4.6.4.1 Hipótese de não ter bens, credores. Pede a falência, não acha
nada, ninguém compra nada, os credores não indicam o que mais pode
ser feito e a falência morre de velha.
4.6.4.2
4.7 PEDIDO DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES (art. 159)
4.7.1 PROCESSAMENTO
4.7.1.1 Pedido com base em um dos motivos > Comunicação do pedido
por Edital (5 dias) > Oposição à extinção das obrigações (qualquer
credor, Administrador Judicial e MP) (15 dias) > Sentença
4.7.2 ASPECTOS PROCESSUAIS
4.7.2.1 Competência: juízo da falência, prevento para todas as questões
da falência.
4.7.2.2 Oposição

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4.7.2.2.1 Legitimados
4.7.2.2.1.1 Qualquer credor
4.7.2.2.1.2 Administrador Judicial
4.7.2.2.1.3 Ministério Público
4.7.2.2.2 Objeto
4.7.2.2.2.1 Apontar inconsistências formais e objetivas
4.7.2.3 Autuado em apartado
4.7.2.4 Da sentença cabe apelação
4.7.2.4.1 Após o trânsito em julgado, os autos serão apensados aos da
falência
4.7.2.5 Cabe Rescisória
4.7.2.5.1 Caso se verifique que o falido tenha sonegado bens, direitos
ou rendimentos de qualquer espécie anteriores à data do
requerimento da extinção.

4.8 RECUPERAÇÃO JUDICIAL


4.8.1 CONSIDERAÇÕES
4.8.1.1 Antes não era procedimento para qualquer empresário, pois era
caro. Somente buscava recuperação se tivesse dinheiro para arcar com
esse procedimento. Dá um bom retorno na advocacia, começou-se a
fazer de forma desenfreada. As "revisionais" eram um movimento de
revisão de contratos de financiamento bancário e acionava rediscutindo
os juros por abusividade. Esse movimento durante muito tempo foi quase
uma recuperação judicial às avessas, ia ao judiciário e ficava pedalando
as dívidas em juízo. Tabela do banco central de juros para evitar
revisionais. Hoje a recuperação judicial chega aos pequenos e médios
empresários. Sempre se perguntar se é caso ou não de recuperação
judicial, pois se usar quando não deve, pode gerar impactos negativos
para empresa (convolação em falência). A recuperação judicial é um
privilégio. Se estiver com dívidas e eventualmente precisar responder por
elas, as pessoas naturais respondem com todo patrimônio, salvo os bens
de família e aqueles gravados com cláusula de ordem público que
afastam a penhorabilidade; a empresa possui privilégios: recuperação
judicial e falência. Precisamos ter uma crise, mas não é qualquer crise, é
uma crise qualificada, ela se qualifica por um agravamento que ocorre
por determinada situação. Dica TCC: quem gosta de penal, existem tipos
penais próprios do fenômeno falimentar, hoje também o Judiciário está

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mais sensível à identificação desse ilícitos pelo uso indevido desses
institutos. A família é um dos maiores agentes econômicos, estudar sobre
o tema do superendividamento e o Direito do Consumidor recentemente
atualizado sobre isso com mecanismos para conseguir revisar e
rediscutir as dívidas de um núcleo familiar ou pessoa natural. É quase
que uma pequena recuperação judicial da pessoa natural.
4.8.1.2 CRISE QUALIFICADA E REVERSÍVEL
4.8.1.2.1 CRISE ECONÔMICA. Não pode ser qualquer crise para ser
passível de recuperação judicial. Detém os fatores de produção, tudo
está certo, mas há um problema de não sair negócio. Retração dos
negócios pela crise brasileira (desemprego, juros altos), mas
meramente isso não dá vazão para recuperação judicial.
4.8.1.2.2 CRISE FINANCEIRA. Crise de liquidez. Capacidade de
transformação de um ativo (bem cotado de valor econômico) em
dinheiro. Empresa não tem dinheiro, então tem que vender alguma
coisa e não tem bem para vender, aí está em crise de liquidez.
Incapacidade de identificar ativos passíveis de liquidação imediata.
4.8.1.2.2.1 Software House. O ativo dessas empresas é mão de
obra especializada. Se ela vem a ingressas em cenário de crise,
ela não tem nada para vender. Ela pode faturar milhões, mas
possui poucos ativos para liquidar.
4.8.1.2.2.2 Empresas Fabris. Possuem máquinas caríssimas
que podem ser transformadas em dinheiro.
4.8.1.3 CRISE PATRIMONIAL. Insolvência. PL Invertido (patrimônio
líquido negativo). Não tem bens, não tem nada. Por si só não dá ensejo à
recuperação judicial. UBER está no prejuízo, são startups, estão numa
fase de alavancagem, se endividando, investidores colocando muito
dinheiro e a operação não está dando o dinheiro esperado para depois
dessa fase dar um lucro esperado para os investidores. Operar no
vermelho, não justifica por si, recuperação judicial. Devemos buscar mais
motivos para não buscar a recuperação judicial do que socializar essas
dívidas.
4.8.1.4 DEVE EVITAR
4.8.1.4.1 Através da solução de mercado (alguém comprar o negócio). O
mercado que resolva e não o Judiciário através desse fenômeno.
Observar soluções alternativas à recuperação. É quando o mercado
identifica a oportunidade de comprar um player que não está
performando bem. A solução M&A, é sempre a melhor é a do
mercado.
4.8.1.5 RISCO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL. Não é motivo, faz parte
da atividade empresarial de qualquer modelo de negócio. Ex.: Risco de
atividade de ensino é não ter alunos, tivemos muito incentivo políticos e

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econômicos de ingresso de estudantes no ensino privado e as
faculdades se endividaram criando prédios enormes e veio a crise.
4.8.1.6 REALOCAÇÃO DE RECURSOS
4.8.1.6.1 Deve buscar realocar recursos de acordo com expectativas de
êxito.
4.8.1.7 OBJETIVO: mostra que o sistema econômico é falho (diferente de
conduta empresarial ilícita). O objetivo é corrigir disfunções do sistema
econômico.
4.8.1.8 INSOLVÊNCIA. É um estado. Déficit patrimonial. Não há
relevantes razões de direito, é de natureza econômica. Diferente de
inadimplência, esta por si só, não justifica recuperação judicial.
4.8.1.8.1 Quem passa a ter interesse na compressão da insolvência são
os credores que querem receber os seus valores e passa a se
interessar por esse fenômeno.
4.8.1.8.2 Coletividade de Credores: todos vão concorrer tentando
receber de acordo com as ordens estabelecidas na Lei. Se não
consegue receber, participou da solidarização do risco.
4.8.1.8.3 INSOLVABILIDADE
4.8.1.8.3.1 Critérios de aferição da insolvabilidade - somados
dão ensejo à RJ.
4.8.1.8.3.1.1 Estado Patrimonial Deficitário: capacidade de se
reerguer.
4.8.1.8.3.1.1.1 Ex.: Empresa brasileira que exporta para
Ucrânia. Pode entrar em crise. Retração de mercado por
período de guerra. É caso de RJ? Empresário talvez tenha
que readequar seus negócios. Fato Fortuito ou força maior
podem ser tratados de forma diversa pelo direito das
obrigações. Pode discutir o contrato.
4.8.1.8.3.1.2 Cessação de pagamentos: funcionários não
recebem em dia. Empresa tenta pagar funcionário, fornecedor.
4.8.1.8.3.1.3 Impontualidade: não pagar em dia.
4.8.1.8.3.1.4 Outros atos enumerados em Lei.
4.8.1.8.3.2 Instituto novo, adveio da prática forense. Vimos o
perigo da recuperação judicial. Todo mundo se conhece em Porto
Alegre. São Paulo é muito maior, é o polo econômico do país sob
a ótica empresarial. Juiz está na vara de falência, chega um
processo com pedido de recuperação judicial, qual a probabilidade
de ser fake? Uma empresa de fachada? Ocorreu muita fraude.
Esse mau uso fez com que os administradores judiciais junto com
os juízes começassem a fazer análise econômica, mas só o
administrador ganhava dinheiro se a empresa estivesse em crise.

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Era conflituoso. Começaram os magistrados a exigir a perícia nas
contas da empresa para ver se tinha condições de se recuperar.
Judiciário criou uma fase no procedimento que não existia,
postergando a análise do deferimento de recebimento da RJ.
Análise da viabilidade. Antes a aferição da insolvabilidade era feito
de modo unilateral pela própria empresa.
4.8.1.9 É possível recuperar aqui. Na falência a crise é irresistível.
4.8.1.10 PRELIMINARES
4.8.1.10.1 Recuperação Judicial é direcionada ao empresário e
Sociedade Empresária. Apenas empresas e empresários de Direito,
não de fato. Não esquecer que o fenômeno empresa existe mesmo
sem registro, não tem direito à Recuperação Judicial.
4.8.1.10.1.1 Não esquecer do Produtor Rural, onde é facultado o
registro. Ele exerce atividade de empresa. Se vier a se registrar,
será beneficiado pela Recuperação Judicial.
4.8.1.10.1.2 Empresário não registrado, consegue retroagir os
efeitos do registro e da crise para a Recuperação Judicial.
4.8.1.10.1.2.1 Tem uma HIlux no nome dele. Dificuldade de
separar o que é da pessoa natural e o que é do empresário
para a atividade empresarial.
4.8.1.10.1.2.2 Problema da ULBRA. Associação sem fins
lucrativos. 50 anos de benefícios e isenções fiscais. Depois
vira SA por 2 anos e pede RJ.
4.8.1.10.2 JUÍZO COMPETENTE
4.8.1.10.2.1 Principal estabelecimento. Estabelecimento (fins de
recuperação judicial) é diferente de sede (fins fiscais e etc). Na
recuperação judicial, o conceito de principal estabelecimento é de
onde partem as principais decisões empresárias.
4.8.1.10.2.1.1 P. ex.: Recuperação judicial da Estemac
geradores. Sede da empresa é em POA. E tem
estabelecimento onde ficam os gestores, engenheiros,
projetistas. Mas, em Goiás, fica a fábrica por questões fiscais.
Juízo competente seria Porto Alegre.
4.9 FALÊNCIA
4.9.1 Nem sempre é um mal. Pode ser caso de já tentar solucionar atos de
gestão altivos, parceiro no mercado para vender o negócio. Vá em juízo e
peça falência. É um instituto muito mal utilizado pelo empresário brasileiro.
"Abrir empresa é fácil, o problema é fechar", o problema é que as pessoas
querem fechar cheias de dívidas, mas se tiver contabilidade em dia e
requerer a baixa, vai conseguir. Empresário fali sem falir. Falência é um
processo, não é à brasileira. Ele deve ir ao Judiciário e distribuir a falência,
com nomeação do administrador judicial, levantar ativos e tentar buscar

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ativos para pagar credores com o Judiciário e MP de olho para verificar se
não há crime falimentar. Se empresa estiver em crise e saltar aos olhos a
falência, não distribuir a recuperação judicial. É melhor ir direto para
falência.
4.9.2 CRISE ECONÔMICA IRRESISTÍVEL: Capacidade de permanência
útil do mercado. Empresa que não circula riqueza, está prejudicando o
mercado. Gera uma cadeia de dificuldades.

1) Ricardo é sócio administrador da empresa X Ltda. A empresa atualmente está em crise


econômica-financeira e não consegue honrar os compromissos assumidos perante os
credores, tais como a nota promissória vencida, não paga e já protestada que foi passada
à Alexandre no valor de R$ 48.500,00. Além de Alexandre, Alberto é também credor da
empresa X, pois como era amigo de Ricardo, assinou um contrato de comodato (contrato
de "empréstimo gratuito" para entrega de bem imóvel ou móvel a ser restituído em tempo
preestabelecido pelas partes) de um dos galpões da empresa X para guardar a sua
coleção de automóveis. Contudo, passada a data ajustada, o galpão ainda não foi
entregue à Alberto pela empresa X.
Além de outros previstos na lei, é correto afirmar que são legitimados ativos para o pedido
de falência da empresa X Ltda Ricardo, através da autofalência, bem como Alexandre e
Alberto, considerando que são credores da empresa?

R: Incorreto. O rol de legitimados ativos do pedido de falência está no artigo 97, da LREF.
Ricardo e Alexandre são legitimados para pedir a falência da empresa X, considerando
que os incisos I e IV do referido artigo dispõem que o próprio devedor, bem como
qualquer credor podem requerer a falência do devedor, além de que no caso de
Alexandre, este preencheu os requisitos do pedido de falência por impontualidade,
encontrados no inciso I do art. 94, LEF, considerando que possuía obrigação líquida e
vencida superior a 40 salários-mínimos materializada em título executivo protestado.
Contudo, no caso de Alberto, apesar de ser credor da empresa X e a leitura do inciso IV
do art. 97 indicar que qualquer credor pode requerer a falência do devedor, tal disposição
legal deve ser lida em conjunto com o art. 5º, inc. I da mesma lei, que dispõe que não são
exigíveis do devedor na recuperação judicial ou na falência as obrigações a título gratuito.

2) Ainda no caso da empresa X Ltda., com o processamento da falência e arrecadação


dos bens com devida avaliação, não foi possível proceder à alienação da empresa nem
de qualquer de suas unidades produtivas de modo isolado. Com isso, procedeu-se à
alienação de seus bens, entre eles um amplo terreno localizado na zona rural do
município de Rio Pardo/RS, sobre o qual pende obrigação tributária vencida de ITR no
valor de R$ 60.000,00. Luciana, que é prima de Ricardo, sócio administrador da Empresa
X Ltda. sempre teve interesse em adquirir o terreno. Sabendo do processo de falência da
empresa de seu primo, consulta você para saber se, em caso de arrematação do bem no
leilão, ela irá recebê-lo desembaraçado de dívidas e ônus, pois ouviu de uma amiga que

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os bens adquiridos em alienações feitas em processos de falência são comprados
"limpinhos", por não ser caso de sucessão empresarial.
R: O inciso II do art. 141 da LREF dispõe expressamente que na alienação conjunta ou
separada de ativos da empresa ou de suas filiais, o objeto da alienação estará livre de
qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor,
inclusive as de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as
decorrentes de acidentes de trabalho. Contudo, Luciana é prima de Ricardo. Possuindo
parentesco de 4º grau na linha colateral com o sócio administrador da empresa falida,
aplica-se à Luciana a exceção prevista no § 1º do mesmo artigo, que excepciona a regra
do inciso II aos parentes em linha reta ou colateral até o 4º grau, consanguíneo ou afim,
do falido ou de sócio da sociedade falida, os quais irão suceder nas obrigações do
devedor.

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