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DIREITO COMERCIAL

DIREITO COMERCIAL

ÍNDICE
0. PRÓLOGO 4

1. DIREITO COMERCIAL 5

1.1 INTRODUÇÃO 5
1.2 FONTES DO DIREITO COMERCIAL 5
1.3 A JUNTA COMERCIAL 6
1.3.1. ORGANIZAÇÃO DA JUNTA COMERCIAL 7
1.3.2. OBJETIVOS DA JUNTA COMERCIAL 8
1.3.3. LIVROS UTILIZADOS PELA JUNTA COMERCIAL 8
1.3.4. PRINCÍPIOS DA JUNTA COMERCIAL 13

1.4. CONTRATOS COMERCIAIS 14


1.4.1. O CONTRATO DENTRO DAS CONDIÇÕES GERAIS 16
1.4.2. CONTRATOS COM CONSUMIDORES 17
1.4.3. CONTRATAÇÃO A DISTÂNCIA / ELETRÔNICA 18
1.5. CONTRATOS COMERCIAIS NO MERCADO DE BENS 21
1.5.1. CONTRATOS DE COMPRA E VENDA 21
1.5.2. A PERMUTA 23
1.5.3. CONTRATOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL 24
1.5.4. CONTRATOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL 26
1.6. CONTRATOS COMERCIAIS NO MERCADO DE SERVIÇOS 29
1.6.1. CONTRATOS DE LOCAÇÃO DE SERVIÇOS 29
1.6.2. CONTRATOS DE INTERMEDIAÇÃO 29
1.6.3. CONTRATOS DE PUBLICIDADE 42
1.7. CONTRATOS NO MERCADO FINANCEIRO 44
1.7.1. MEIOS DE FINANCIAMENTO PARA A EMPRESA: MERCADO 44
DE CRÉDITO E DE VALOR
2. DIREITO CAMBIÁRIO E SOCIEDADES 50
2.1. SOCIEDADES COMERCIAIS 63

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2.2. SOCIEDADES COMERCIAIS: CONCEITO E TIPOS 71


2.2.1. SOCIEDADES PESSOAIS 72
2.2.2. SOCIEDADES CAPITALISTAS 78
2.2.3. DISSOLUÇÃO E LIQUIDAÇÃO DAS SOCIEDADES DE CAPITAL 103
2.2.4. OUTRAS SOCIEDADES 106
3. DIREITO FALIMENTAR 111
3.1. DECLARAÇÃO DE FALÊNCIA 112
3.2. A ADMINISTRAÇÃO DE FALÊNCIA 113
3.3. EFEITOS DA DECLARAÇÃO SOBRE O DEVEDOR 121
3.4. EFEITOS DA DECLARAÇÃO SOBRE OS CREDORES 121
3.5. EFEITOS DA DECLARAÇÃO SOBRE OS CONTRATOS 122
3.6. DECLARAÇÃO DA MASSA ATIVA 123
3.7. DECLARAÇÃO DA MASSA PASSIVA 123
3.8. RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO DE FALÊNCIA 127
3.9. SOLUÇÕES DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL 128

4. ANEXOS 133
4.1. CASO DE ESTUDO 133
5. BIBLIOGRAFIA 147

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0. PRÓLOGO

A apostila de Direito Comercial foi elaborada para servir de instrumento aos


profissionais do comércio e empresas que desejam orientar sua atividade para atender
às necessidades empresariais. É um resumo de ferramentas e técnicas que guiam o
profissional na tomada de decisões importantes, compreendendo a engrenagem do
direito que regula o mercado.

Nossos alunos obterão uma visão abrangente, teórica e prática dos aspectos essenciais
considerados elementos-chave da atividade comercial. Foi desenvolvida para descrever,
de forma clara e simples, ensinando ferramentas e técnicas, tipos de empresas, direito
falimentar, contratos e documentos de maneira completa e pormenorizada.

No final, na seção dos anexos, como um caso de estudo, encontraremos um artigo de


notícias e um monograma sobre a documentação mercantil. Tudo isto nos ajudará a
completar a formação do dossiê e a compreender o tema que nos ocupa através de uma
visão mais real e global.

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1. DIREITO COMERCIAL

1.1. INTRODUÇÃO

Desde a Antiguidade, o comércio tem sido concebido como um fenômeno social e


econômico.

O Direito Comercial, como um ramo do Direito Civil, nasceu na Idade Média como um
conjunto de regras reguladora das atividades dos sindicatos e associações de
comerciantes das cidades comerciais medievais quando, a partir do século XIX, os atos
realizados em atividades comerciais começam a ter importância. Hoje, o Direito
Comercial tem progredido em direção a regulação de empresários, empresas e
consumidores.

1.2. FONTES DO DIREITO COMERCIAL

Não há nenhuma teoria sobre as fontes da lei comercial porque é um direito criado com
base na Lei e nos Costumes, ou seja, é a prática uniforme e contínua dos usos e costumes
dos comerciantes que os levam a considerá-los como direito verdadeiro.

Podemos definir os usos comerciais como as regras de direito objetivo criado por
aplicação repetida, uniforme e constante dos comerciantes em seus negócios.

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Podemos distinguir vários tipos de usos comerciais:

▪ O convencional que representa o conteúdo típico de um contrato.

▪ O normativo que representa uma regra de lei objetiva que se impõe à vontade
dos contratos.

O costume, por outro lado, tem mais força do que os usos, visto que pode criar normas
legais por si só.

Embora o Código de Comércio estabeleça que as utilizações comerciais são verdadeiras


fontes de direito comercial, uma vez que podem ser utilizadas para resolver dúvidas
decorrentes da interpretação dos contratos, deve se ter em conta que as regras do
Direito Civil deverão ser consideradas antes dos usos comerciais.

No entanto, citaríamos como fontes de direito comercial:

▪ O costume.

▪ A jurisprudência.

▪ A Lei.

▪ A doutrina.

▪ O contrato.

1.3. A JUNTA COMERCIAL

A Junta Comercial é o principal instrumento jurídico para a formalização de negócios


comerciais. No caso espanhol, é uma agência pública que depende da direção geral dos
registos e do notariado do Ministério da Justiça que é responsável pelo registo e
inscrição de atividades comerciais, pessoas e assuntos relacionados com as trocas
comerciais.

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1.3.1. ORGANIZAÇÃO DA JUNTA COMERCIAL

A Junta Comercial é constituída pelas Juntas Comerciais Territoriais e pela Junta


Comercial Central que dependem do Ministério da Justiça.

A Junta Comercial Central é de natureza puramente informativa e sua estrutura e


funcionamento estão moderados.

A Junta Comercial Central está a cargo:

1. da ordenação, processamento e publicidade informativa dos dados recebidos


através das Juntas Comerciais Provinciais.

2. do arquivo e a publicidade das denominações sociais e entidades jurídicas.

3. da publicação do Diário Oficial da Junta Comercial.

4. da manutenção do registro de empresas e entidades que transferiram o seu


domicílio ao estrangeiro, sem perda da nacionalidade espanhola.

Para a criação de uma nova junta comercial é preciso a proposta do Ministério da Justiça,
a audição do Conselho de Estado e um relatório da comunidade autônoma que
proponha tal necessidade.

Seu funcionamento é regido pelo Real Decreto 1784/1996, de 19 de junho.

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Os registradores da propriedade e negócios estão a cargo das Juntas Comerciais


Registradoras e a sua nomeação é feita pelo Ministro da Justiça ou pela autoridade
regional competente.

1.3.2. OBJETIVOS DA JUNTA COMERCIAL

A finalidade da Junta Comercial é registrar:

1. Os empresários individuais.

2. As sociedades comerciais.

3. As instituições de crédito e de seguros, bem como as empresas de garantia recíproca.

4. As instituições de investimento coletivo e fundos de pensões.

5. Qualquer pessoa, natural ou legal, quando a lei assim o estipula.

6. Os agrupamentos de interesse econômico.

7. As Sociedades Civis Profissionais, constituídas com os requisitos estabelecidos na


legislação específica das empresas profissionais.

8. Os atos e contratos que estabelece a lei.

Corresponde também à Junta Comercial a legalização dos livros dos empresários, o


depósito e a publicidade dos documentos contábeis.

1.3.3. LIVROS USADOS NA JUNTA COMERCIAL

Os livros da Junta Comercial são uniformes para todos os registros e são numerados em
cada um deles por ordem da antiguidade. A sua legalização é praticada de acordo com
as disposições do regulamento hipotecário.

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Os livros utilizados pela Junta Comercial são:

a) Livro de inscrições e seu diário de apresentação.

b) Livro de legalizações e seu diário de apresentação.

c) Livro de depósito de conta e seu diário de apresentação.

d) Livro de nomeação de peritos independentes, auditores e seu diário de apresentação.

e) Índices.

f) Inventário.

O diário de apresentação poderá ser preparado como livro encadernado ou de folhas


móveis. Em ambos os casos, os fólios úteis serão numerados correlativamente no canto
direito superior.

Cada página do diário conterá uma margem branca para estender as notas marginais
que procedam, separadas do resto por duas linhas verticais que formarão a coluna em
que o número do assento será gravado.

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As notas de qualificação realizadas fora do assento de apresentação podem ser


prorrogadas em um livro independente. Neste caso, a nota de referência apropriada
deve ser inscrita na margem do assento.

No topo de cada página serão impressas, em seu respectivo local, as seguintes legendas:
notas marginais, número de assentos e assentos de apresentação.

Os livros de inscrições serão compostos de folhas móveis, numeradas correlativamente


no canto superior direito, constando o volume e o registro a que correspondem.

Os assentos praticados deverão ser estendidos à máquina ou por procedimentos


informáticos, tendo que segurar, em qualquer caso, o caráter indelével da escrita. As
notas marginais também podem ser praticadas manualmente ou carimbadas.

Na parte superior da lombada será incorporada uma etiqueta, na qual deve figurar o
registro em causa e o número do volume.

Os fólios devem ser divididos em três partes: um espaço lateral para notas marginais;
duas linhas verticais, formando a coluna com separação de dois centímetros, para
registrar o número da inscrição ou letra da anotação, bem como a natureza ou classe do
ato registrado, e um espaço para estender as inscrições, anotações e cancelamentos.

No topo de cada fólio, as seguintes legendas devem ser impressas, no seu respectivo
local: notas marginais, número de assentos e inscrições.

O livro de legalizações será realizado pela abertura de uma folha para cada empresário
em que serão registrados os dados de apresentação da aplicação no livro diário, a classe
de livros legalizados, o número de cada classe, a data de legalização e os dados do
arquivo no qual a instância será arquivada.

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No caso do livro de depósito de contas, as páginas úteis serão numeradas


correlativamente no canto superior direito.

Cada fólio conterá vários espaços em branco, separados por linhas verticais, nos quais
deve constar o nome e os dados de registro do empregador, o tipo de documento
depositado, a apresentação do pedido no livro diário, a data do depósito e os dados do
arquivo ou pasta em que os documentos sejam incluídos. As rubricas correspondentes
serão impressas na parte superior de cada página.

As páginas úteis do livro de nomeação de peritos independentes e auditores serão


numeradas correlativamente no canto superior direito.

Cada página conterá uma série de espaços em branco, separados por linhas verticais,
onde será incluído o nome e dados de registro da sociedade ou da entidade, a data da

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resolução de nomeação, o nome do perito ou auditor designado, os dados de


apresentação da instância no livro diário e os dados do arquivo no qual a instância será
arquivada.

As rubricas correspondentes serão impressas na parte superior de cada página.

Os escrivães devem proceder obrigatoriamente, por ordem alfabética e através de


procedimentos informáticos, a um índice do registro, no qual será incorporada a
identificação do sujeito registrado, indicando, pelo menos, a denominação social, o
domicílio, o volume, fólio e número da folha de inscrição, assim como o seu número de
identificação fiscal.

Em cada registo haverá um inventário de todos os livros e pastas ou arquivos existentes

Sempre que um escrivão tomar posse, será responsável da junta comercial ao abrigo
desse inventário, que será assinado pelos funcionários que saem e entram sendo
responsável o primeiro a aparecer na mesma.

No início de cada ano, o inventário será preenchido ou modificado com os resultados do


ano anterior.

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1.3.4. PRINCÍPIOS DA JUNTA COMERCIAL

▪ Princípio da publicidade formal

Em virtude de qual Registro é público, a publicidade será efetivada certificando o


conteúdo dos assentos ou por simples nota informativa ou cópia dos assentos e dos
documentos depositados no Registro.

A certificação é o único meio confiável de credenciar o conteúdo dos registros nos


assentos.

No entanto, a Junta Comercial não emitirá certificações dos dados em seu arquivo,
exceto em relação às razões e denominações de empresas e outras entidades
registradas.

▪ Princípio de publicidade material

Implica a ideia de que os atos inscritos só serão oponíveis contra terceiros em boa fé,
uma vez que sejam publicados no BORME: Boletín Oficial del Registro Mercantil (diário
oficial da junta mercantil na Espanha).

Quando as transações forem efetuadas no prazo de 15 dias a contar da publicação, os


atos registrados e publicados não serão oponíveis a terceiros que possam provar a
incapacidade do conhecimento.

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Se houver uma diferença entre o publicado e o inscrito, terceiros em boa-fé poderão


invocar a publicação, caso seja mais favorável para eles.

A boa fé do terceiro é presumida, desde que não seja provado que sabia que o ato
inscrito e não registrado, o ato inscrito e não publicado ou o desacordo entre aquilo
inscrito e aquilo publicado.

▪ Princípio de legalidade

Para que um ato inscrito seja válido deve ter sido feito e matriculado de acordo com a
lei. Por conseguinte, o escrivão deve qualificar, sob a sua responsabilidade, a legalidade
de tal ato, para além da formação e legitimação da pessoa que concede ou subscreve o
ato e a validade do conteúdo.

Contra à qualificação feita pelo escrivão, se pode apelar governativamente.

1.4. CONTRATOS COMERCIAIS

Desde a Antiguidade, as empresas, empresários e consumidores estabeleceram relações


comerciais através da assinatura de contratos de diferentes tipos para a realização de
suas atividades.

Dessa forma, agora abordaremos os diferentes tipos de contratos comerciais, seus


elementos e características, visando diferenciar os conteúdos, as utilidades e os
objetivos perseguidos com cada deles. Também veremos as leis e regulamentos
fundamentais para permitir um bom funcionamento do mercado econômico.

A legislação que regula os contratos comerciais é muito extensa. Por conta disso,
estudaremos apenas os principais contratos comerciais que podemos encontrar.

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▪ Marco geral

Atualmente, continua a ser feita uma distinção entre Direito Civil e Direito Comercial,
baseada em uma tradição datada na Antiguidade quando as relações comerciais se
fundamentavam em transações de subsistência entre o consumidor e o comerciante.

Hoje, a base destas transações é principalmente obtenção de lucros, não mais a


subsistência. E, felizmente, as sucessivas reformas legais levaram ao desaparecimento
das regras comerciais que prevaleceram sobre as civis mas, ainda assim, há uma dupla
regulamentação.

Para estudar os diferentes contratos que abordamos anteriormente, podemos fazer


uma divisão de acordo com o mercado em que se aplicam:

a) Mercado de bens: no qual é transmitido o uso da propriedade de bens e direitos.

b) Mercado de serviços: no qual se negocia com serviços muito extensos.

c) Mercado financeiro: onde se comercializa o financiamento para empresas ou


consumidores.

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1.4.1. O CONTRATO DENTRO DAS CONDIÇÕES GERAIS

Entendemos a contratação dentro das condições gerais como os contratos com


cláusulas gerais preestabelecidas e previamente redigidas pelo empregador.

Atualmente, com a economia de mercado superlotada, este tipo de contratação


economiza tempo e custos para o empresário.

Os contratos são caracterizados por não serem personalizados e não terem cláusulas
individuais para cada cliente contratante.

Estas cláusulas previamente redigidas e generalizadas não devem conter cláusulas


abusivas e devem passar por controles para garantir que empregador e cliente estejam
legalmente vinculados.

Os controles pelos quais devem passar este tipo de contratos no âmbito das condições
gerais são:

a) Em primeiro lugar, de acordo com os Artigos do 5º a 7º da Lei sobre as Condições


Gerais de Recrutamento, o primeiro é o controle de inclusão que visa assegurar
que a pessoa que subscreve o contrato conheça o conteúdo total do acordo. Das
condições, obrigações e direitos do contrato, se entrega uma cópia escrita de
forma clara e compreensível para ambas as partes.

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b) O segundo controle é o legalidade, ou seja, ter claro que qualquer tipo de


condição descrita deve estar de acordo com as regras.

Qualquer condição contrária à regra imperativa seria nula.

Apesar destes controles, existem casos de condições abusivas que exigem uma maior
proteção.

As condições gerais da contratação podem ser definidas como "as cláusulas


predispostas cuja incorporação ao contrato é imposta por uma das partes,
independentemente da autoria material, de sua aparência externa, extensão e
de quaisquer outras circunstâncias, tendo sido redigidas a fim de serem
incorporadas a uma pluralidade de contratos” (Art. 1.1 LCGC)

Portanto, além de não contrariar a lei, é necessário que os termos e condições


contratuais não sejam abusivos.

De acordo com o Artigo 82 TRLGDCU, inicialmente introduzido pela LCGC,


consideram-se abusivas as estipulações não negociadas individualmente e todas
as práticas não consentidas de forma expressa que, contrárias a boa fé,
provoquem, em prejuízo do consumidor e usuário, um desequilíbrio importante
dos direitos e obrigações das partes que se derivem do contrato.

As cláusulas abusivas serão consideradas nulas e inválidas e não serão aplicáveis. Os


Artigos 85 a 91 completam uma lista indicativa de 29 cláusulas que sempre serão
consideradas abusivas.

1.4.2. CONTRATOS COM CONSUMIDORES

O consumidor é agora considerado como a parte mais fraca do processo de contratação.

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O legislador espanhol e comunitário, com base nesta ideia, compreende a necessidade


de proteger o consumidor contra a contratação de serviços ou produtos oferecidos pelo
empregador.

Os regulamentos que se encontravam dispersos no passado, atualmente são coletados


para defender a consumidores e usuários, criando agências para que os aconselhem e
representem.

Há uma regulamentação de regras abusivas, bem como garantias legais e comerciais.

A lei do consumidor e do usuário regula o processo de contratação com os


consumidores. Esta lei regula, entre outras coisas, serviços de atenção ao cliente,
informações prévias à formalização do contrato, processos de compra, entrega e
fornecimento de produtos e serviços e o direito de retirada, que permite ao consumidor
renunciar ao produto ou serviço contratado.

1.4.3. CONTRATAÇÃO A DISTÂNCIA / ELETRÔNICA

Com o avanço das novas tecnologias, as relações comerciais mudaram substancialmente


e o comércio eletrônico está ganhando posições em relação ao comércio tradicional.

Este tipo de operações, além das conhecidas, também representam um risco ou


inconveniência para o consumidor se não lhe fossem oferecidas as garantias
apropriadas.

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As contratações a distância ou eletrônicas implicam que o consumidor não vê/conhece


o produto pessoalmente, o que supõe um risco de não contratar o que realmente se
quer.

A fim de resolver e regular os problemas causados por esse tipo de contratação, a lei
espanhola criou várias regras para o seu regulamento. Dentro desse regulamento,
destacamos as seguintes normas:

▪ Lei 7/1996 de Gestão do varejo (que regula em seus Artigos 38 e subsequentes


as vendas a distância).

▪ Lei 7/1998 de Condições gerais de emprego.

▪ Real Decreto-Lei 14/1999, sobre a Assinatura eletrônica.

▪ Real Decreto 1906/1999, de 17 de dezembro, sobre a Contratação Telefônica ou


Eletrônica com Condições Gerais, em desenvolvimento.

Apesar de todas estas leis, não são estabelecidos regulamentos específicos até a entrada
em vigor da Lei 34/2002, de 11 de julho, sobre os serviços da sociedade da informação
e do comércio eletrônico, que incorpora no sistema jurídico espanhol a Diretiva
2000/31/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 8 de junho de 2000, sobre certos
aspectos jurídicos dos serviços da sociedade da informação.

Se faz interessante realizar uma breve referência sobre a legislação mais recente:

▪ A lei 56/2007, de 28 de dezembro, de medidas de impulso da sociedade da


informação, estabelece que as empresas que prestam serviços ao público, em
geral de transcendência econômica especial, devem ter um meio de interlocução
eletrônica que, através da utilização de certificados de assinatura eletrônica,
permita-lhes efetuar os procedimentos de contratação eletrônica.

Essa disposição é dirigida apenas para as empresas com mais de 100


trabalhadores ou que tenham o estatuto de grandes empresas para efeitos do

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ICMS (IVA na Espanha) e que operem em certos setores econômicos (incluindo


empresas envolvidas no fornecimento de eletricidade, água e gás,
telecomunicações, instituições financeiras, companhias de seguros, grandes
áreas, transportes e agências de viagens).

▪ A Lei 30/2007, de 30 de outubro, dos Contratos do Setor Público, incorpora ao


sistema jurídico espanhol várias diretivas comunitárias e tem como objetivo
introduzir melhorias no sistema de adjudicação pública, reforçando
consideravelmente a utilização das tecnologias da informação em contratos
públicos (leilão eletrônico, publicidade contratual por meios eletrônicos,
utilização de meios eletrônicos, informáticos e telemáticos, entre outros).

Em defesa dos consumidores no recrutamento telemático, o Art. 30 da LSSICE,


estabelece apenas no seu apartado 1 que «contra as condutas contrárias a esta
lei que prejudiquem os interesses coletivos e difusos dos consumidores, poderá
interpor-se uma ação de cessação»; e em seu apartado 2 que «a ação de
cessação é dirigida para obter uma sentença que condene o réu a cessar na
conduta contrária a esta lei e proibir sua reiteração futura. A ação pode
igualmente ser exercida para proibir a conduta de um comportamento embora
este tenha terminado no momento da aplicação da ação, se houver indícios
suficientes que fazem temer sua reiteração de modo iminente».

Embora os Artigos 30 e 31 da LSSICE refiram-se exclusivamente à ação de


cessação como meio judicial que os consumidores têm para resolver os conflitos
decorrentes do comércio eletrônico, o fato é que eles possuem a garantia de
todas as disposições judiciais da legislação para a proteção dos interesses dos
consumidores e dos utilizadores.

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1.5. CONTRATOS COMERCIAIS NO MERCADO DE BENS

1.5.1. CONTRATOS DE COMPRA E VENDA

▪ Conceito

Compra e venda é o contrato pelo qual uma das partes fica obrigada a entregar
algo e a outra em satisfazer um determinado valor em troca.

Os elementos essenciais que fazem parte do contrato de compra e venda são:

▪ Coisa: objeto em oposição aos direitos criados nele e aos benefícios pessoais.
São bens ou direitos que estão dentro do comércio.

▪ Preço: valor em que algo é estimado. Suas condições devem ser: verdadeiro,
numérico e justo.

▪ Pessoas ou partes: o vendedor, que é a pessoa singular ou legal que transfere a


propriedade, e o comprador, que é quem adquire.

▪ Formais: os contratos de venda não são concedidos por escrito, uma vez que a
lei não exige tal formalidade. No entanto, na prática é habitual que o
consentimento seja traduzido para um documento privado que sirva de teste.

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Há exceções, por exemplo, no caso de bens imóveis ou outros contratos que


estão obrigados a ser realizados por escrito.

▪ Validade: a capacidade (cada pessoa capaz de dispor de seus bens pode vendê-
los e qualquer pessoa capaz de ter obrigações pode comprá-los) e o
consentimento (existência de um acordo das partes sobre o preço e a coisa).

▪ Obrigações

As obrigações do vendedor no contrato de compra e venda são:

▪ Transmissão da propriedade ou título de direito: o vendedor é obrigado a


entregar o bem ao comprador.

▪ Manter o objeto da venda até a sua entrega: a venda como tal não implica a
transmissão da posse do bem mas obriga a essa transmissão.

▪ Entregar o bem.

▪ Garantir ao comprador uma posse útil: o vendedor tem que responder pela
qualidade do produto.

▪ Garantir ao comprador uma posse pacífica: o vendedor tem que garantir a


propriedade desse produto.

▪ Responder ao despejo: em um contrato de venda tem lugar o despejo quando o


comprador perde a coisa em virtude de uma resolução judicial firme, pela qual
se reconhece um direito anterior à venda. Tal despejo pode ser parcial, quando
o comprador retém uma parte da coisa vendida ou total. Nesta situação o
vendedor tem a responsabilidade de indenizar o comprador.

▪ Responder pelos defeitos e falhas escondidos: sejam aparentes ou não


apreciáveis a olho nu.

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As obrigações do comprador no contrato de compra e venda são:

▪ Pagar o preço.

▪ Pagar juros em caso de atraso ou compra e venda com preço parcelado.

▪ Receber o bem adquirido.

▪ Receber o bem em bom estado.

1.5.2 A PERMUTA

Neste tipo de contrato, ambas partes são consideradas vendedores em relação as


obrigações referidas visto que as duas partes precisam entregar o bem ou produto
específico.

O Artigo 1538 CC. define a permuta como o contrato pelo qual cada um dos
contratantes obriga-se a dar uma coisa para receber outra.

Se um dos dois contratantes recebe o objeto prometido em permuta e fosse verificado


que não era de propriedade daquele que o ofereceu, não é possível obrigar a entrega
do que se ofereceu em troca, e se executará a devolução daquilo recebido. (Art. 1539)

Aquele que perca o recebido em permuta, pode optar por recuperar o que foi dado em
troca ou reivindicar a indenização por perdas e danos. Mas só se pode usar o direito de

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recuperar o que foi entregue enquanto permanecer no poder do outro contratante e


sem prejuízo dos direitos adquiridos com boa-fé por um terceiro. (Art. 1540)

De acordo com o Artigo 1541, em tudo o que não estiver especificado neste
ponto/título, a permuta deverá basear-se pelas disposições relativas à venda.

1.5.3 CONTRATOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL

Os contratos de propriedade intelectual são usados para proteger as criações próprias


do autor, considerando-as criações únicas e não produções em série ou industriais.

As criações que podem ser incluídas dentro da propriedade intelectual podem ser obras
artísticas ou literárias, obras de arte, peças musicais, pinturas, fotografias, desenhos,
esculturas ou desenhos arquitetônicos.

A Agência Espanhola de Patentes e Marcas está envolvida no registro e reconhecimento


relacionado à propriedade intelectual. Também existe o Registro de la Propiedad
Intelectual para encarregar-se dos direitos de propriedade intelectual.

As leis em vigor sobre a propriedade intelectual são reguladas e harmonizadas através


do Real Decreto Legislativo 1/1996 de 12 de abril, segundo o qual:

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▪ Artigo 1. Feito gerador

A propriedade intelectual de uma obra literária, artística ou científica corresponde ao


autor pelo mero fato de sua criação.

▪ Artigo 2. Conteúdo

A propriedade intelectual é composta de direitos pessoais e patrimoniais que atribuem


ao autor a plena disposição e o direito exclusivo à exploração da obra, sem mais
limitações que as estabelecidas por lei.

▪ Artigo 3. Características

Os direitos de autor são independentes, compatíveis e acumuláveis com:

1. A propriedade e outros direitos que têm como objeto a coisa material a que a
criação intelectual é incorporada.

2. Os direitos de propriedade industrial que possam existir sobre a obra.

3. Os outros direitos de propriedade intelectual reconhecidos no Livro II desta


lei.

▪ Artigo 4. Divulgação e publicação

Para efeitos do disposto na presente Lei, entende-se que a divulgação de um trabalho


significa qualquer expressão que, com o consentimento do autor, o torne acessível pela

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primeira vez ao público. Por sua vez, entendemos por publicação, a divulgação feita ao
disponibilizar ao público uma série de exemplares do trabalho que satisfaçam
razoavelmente as necessidades estimadas de acordo com a natureza e o propósito da
mesma.

1.5.4 CONTRATOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL

O conceito de propriedade industrial compreende quatro direitos na Espanha:

A marca, o nome comercial, a patente e o know-how.

▪ A patente

As patentes são regidas pela lei 24/2015 de 24 de julho.

A inscrição de uma patente no Registro da Propriedade Industrial dá direito exclusivo


sobre a exploração da patente por 20 anos. Após esse tempo, a patente torna-se de
domínio público.

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De acordo com o Artigo 10, o direito a patente pertence ao inventor ou seus


sucessores e é transmissível por todos os meios que o direito reconhece.
Na Espanha, sempre que a mesma invenção tenha sido efetuada por diferentes
pessoas de forma independente, o direito a patente deve pertencer aquele cujo
pedido tenha uma data de apresentação anterior, desde que esse pedido seja
publicado em conformidade com as disposições do Artigo 32.

A Lei estabelece que:

1. As novas invenções que impliquem uma atividade inventiva e susceptíveis de


aplicação industrial são patenteáveis, mesmo que se destinem a um produto que seja
composto ou contenha material biológico ou um procedimento pelo qual seja
produzido, transformado ou use matéria biológica.

2. A matéria biológica isolada do seu ambiente natural ou produzida por meio de um


procedimento técnico pode ser objeto de uma invenção, mesmo que já exista no estado
natural.

3. Para efeitos da presente Lei, entende-se por "matéria biológica", a matéria que
contenha informações genéticas que sejam (auto)reproduzíveis em um sistema
biológico, e por "procedimento microbiológico", qualquer procedimento que utilize uma
matéria microbiológica, incluindo uma intervenção sobre a mesma ou que produza uma
matéria microbiológica.

4. Não são consideradas invenções nos termos dos parágrafos anteriores,


nomeadamente:

a) As descobertas, as teorias científicas e os métodos matemáticos.

b) As obras literárias, artísticas ou qualquer outra criação estética, bem como as


obras científicas.

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c) Os planos, as regras e os métodos para o exercício das atividades intelectuais,


jogos ou atividades econômicas e comerciais, bem como programas
informáticos.

d) As maneiras de apresentar as informações.

▪ Marca e nomes comerciais

Podemos definir o significado da marca como os sinais, distinções ou denominações que


se identificam comercialmente no mercado com uma empresa, produto ou serviço.

A marca pode conter palavras, imagens, símbolos, sons ou figuras.

No plano jurídico, encontramos a lei 17/2001, de 7 de dezembro, de marcas.

▪ Know-how

Entendemos como know-how o conjunto de práticas que não são patenteadas, típicas
de uma empresa que facilitam a produção de um serviço ou produto.

Essas práticas são consideradas um valor acrescentado que também podem ser
transmitidas através de contratos de licenciamento para permitir a sua utilização.

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DIREITO COMERCIAL

1.6. CONTRATOS COMERCIAIS NO MERCADO DE SERVIÇOS

1.6.1. CONTRATOS DE LOCAÇÃO DE SERVIÇOS

O contrato de locação de serviços, também conhecido como outsourcing ou


terceirização de serviços é geralmente caracterizado porque o inquilino compromete-se
em realizar uma determinada atividade.

Ao contrário dos contratos anteriores incluídos no mercado de mercadorias, nesse se


assume uma obrigação de realizar em vez de assumir a obrigação de entregar um
imóvel.

As atividades ou serviços que podem ser feitos são diversificados. Atualmente, a


terceirização de serviços é muito comum em empresas que precisam contratar serviços
externos no lugar de contratar seus próprios funcionários.

Como exemplos de terceirização destacamos a contratação de pessoal de treinamento


para a realização de cursos específicos para funcionários, ajudantes de limpeza,
consultores trabalhistas, serviços de catering e auditores, entre outros.

1.6.2. CONTRATOS DE INTERMEDIAÇÃO

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DIREITO COMERCIAL

▪ Contratos de mandato e comissão

O contrato de mandato é aquele pelo qual obriga-se a alguém a prestar algum


serviço ou a fazer algo por conta ou encomenda de outra pessoa. (art.1709C.C)

Esta definição do Código Civil está incluída no Código de Comércio quando seja aplicado
a um ato ou operação de comércio e seja um comerciante ou um agente mediador de
comércio ou corretor (Art. 244 C.Com)

No Código Civil, a natureza do mandato é gratuita, a menos que o representante tenha


como ocupação o desempenho dos serviços das espécies a que o mandato se refere, o
que presumiria a obrigação de ser retribuído.

A relação do contrato de mandato é condicionada pelo desempenho do mediador,


diferenciando-se se age em seu próprio nome ou em nome de outro. Ao agir em seu
próprio nome, é o único que tem a obrigação, enquanto se age em nome de um terceiro
não há relação entre mediador e o terceiro (Art. 1717 C.C e 243 de acordo com o C.Com).

É por isso que o terceiro deve conhecer os limites do poder concedido, porque só o
principal dentro desses limites seria obrigado.

De acordo com o Artigo 1730 C.C e 276 C.Com, quando a comissão é paga, se não for
acordado de outra forma, a cobrança do principal, o mediador, tem o direito de reter a
propriedade dos bens deste último.

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Além disso, o corretor de comércio terá a preferência de recolher esses créditos sobre
o preço obtido pela venda das mercadorias (Art. 280 C. Com)

▪ O contrato de mandato se extinguirá:


- Por revogação.
- Por renúncia do mandatário.
- Por morte ou insolvência de alguma das partes.

▪ A comissão se extinguirá por:


- Revogação do comitente.
- Morte do comissionista.

▪ Contrato de corretagem

O contrato de corretagem é um contrato atípico que carece de regulamentação geral no


nosso Direito.

Este tipo de contrato, utilizado em agências matrimoniais ou imobiliárias, por exemplo,


é caracterizado pela busca de um terceiro por parte do intermediário, em determinadas
condições, para entrar em contato com o principal. Ou seja, é geralmente uma questão
de operações comerciais pontuais e não há continuidade comercial entre o mediador e
o constituinte.

Nestes contratos o mediador não tem nenhum tipo de participação. Como estes
contratos não estão recolhidos pelo código de comércio, não existem regras que limitem
a liberdade dos pactos entre mediador e constituintes. No entanto, trata-se de um
contrato comercial regido pela jurisdição e direito mercantil e pela jurisdição civil.

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DIREITO COMERCIAL

Na mediação, o mediador põe em contato o principal com o cliente ou o fornecedor


futuro, ainda faltando o poder de representação do mandante para realizar qualquer
negócio específico. Além disso, a liberdade de acordo entre as partes contratantes é
muito ampla e não é necessário chegar a um pacto sobre um regime de exclusividade
entre as partes.

Vale ressaltar que o mediador pode ser uma pessoa singular ou coletiva e o contrato
pode ser revogado livremente pelo mandante.

O contrato de corretagem se extinguirá por:


- Cumprimento do mandato.
- Morte ou incapacidade mediador.
- Renúncia do mediador.

▪ Contrato de agência

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É o contrato pelo qual uma pessoa singular ou coletiva, denominada agente, é obrigada
contra outra de forma contínua ou estável em troca de remuneração, de promessa de
atos ou de transações comerciais por conta própria ou de a promover e concluí-los em
nome dos outros, como um intermediário independente, sem assumir, salvo acordo
contrário, o risco e ventura de tais operações (Lei 12/1992 de 27 de maio).

De acordo com a lei que regula os contratos da agência:

▪ O agente está obrigado a:

a) Cuidar, com a diligência de um comerciante profissional, da promoção e, se


for o caso, da conclusão dos atos ou operações que lhe são confiadas.

b) Comunicar ao empresário toda a informação disponível, quando necessário


para a boa gestão dos atos ou operações cuja promoção e, se necessário, a
conclusão, que a ele tenha sido confiada, bem como, em particular, a relativa a
solvência dos terceiros com os quais existam operações pendentes de conclusão
ou execução.

c) Desenvolver a sua atividade de acordo com as instruções recebidas do


empregador, desde que não afetem a sua independência.

d) Receber, em nome do empregador, qualquer tipo de reclamação de terceiros


sobre defeitos ou vícios de qualidade ou quantidade das mercadorias vendidas
e dos serviços prestados em consequência das operações promovidas, mesmo
que não as tenham concluído.

▪ O empregador está obrigado a:

a) Colocar à disposição do agente, com antecedência e em quantidade


adequada, as amostras, catálogos, tarifas e outros documentos necessários para
o exercício da sua atividade profissional.

b) Fornecer ao agente todas as informações necessárias para a execução do


contrato da agência e, em particular, avisá-lo, quando se tenha conhecimento e
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se preveja que o volume dos atos ou operações será sensivelmente inferior ao


que o agente esperava.

c) Satisfazer a remuneração acordada.

e) Realizar uma contabilidade independente dos atos ou operações relativos a


cada empresário.

▪ Remuneração do agente:

a) A remuneração do agente é constituída por um montante fixo, por uma


comissão ou pela combinação dos dois sistemas anteriores. Na ausência de um
pacto, a remuneração será fixada de acordo com as utilizações de comércio do
lugar onde o agente exercer sua atividade. Se não existirem, o agente receberá
a remuneração razoável, tendo em conta as circunstâncias que ocorridas na
operação.

b) Qualquer elemento de remuneração variável repercutirá, consoante o volume


ou o valor dos atos ou operações promovidos, e, se for caso disso, celebrado
pelo agente, na sua comissão.

c) Se o agente for pago integralmente ou em parte por comissão, serão


observados os requisitos dos seguintes artigos da presente seção.

▪ Proibição de concorrência: (Art. 20 e 21)

1. Entre as estipulações do contrato da agência, as partes podem incluir uma


restrição ou limitação das atividades profissionais a serem desenvolvidas pelo
agente após o término desse contrato.

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2. O acordo de limitação da concorrência não deve ser superior a dois anos a


partir da cessação do contrato da agência. Se o contrato da agência tiver sido
acordado por menos tempo, o acordo de limitação da concorrência não deve ser
superior a um ano.

O acordo de limitação da concorrência, que deve ser formalizado por escrito para
sua validade, só pode ser estendido para a área geográfica ou para esta e para o
grupo de pessoas confiadas ao agente e só poderá afetar a classe de bens ou
serviços sujeitos aos atos ou operações promovidos ou celebrados pelo agente.

▪ Rescisão do contrato:

Rescisão do contrato por tempo determinado (Art. 24)

1. O contrato de agência acordado por tempo determinado será extinto pelo


cumprimento do termo acordado.

2. Não obstante o exposto, os contratos da agência por tempo determinado que


continuem a ser efetuados por ambas as partes após o período inicial decorrido,
serão considerados transformados em contratos de duração indefinida.

Encerramento do contrato de agência por um período de tempo indeterminado:


aviso prévio. (Art.25)

1. O contrato de agência de duração indefinida será extinto pela denúncia


unilateral de qualquer uma das partes por aviso prévio por escrito.

2. O prazo de aviso prévio é de um mês para cada ano de validade do contrato,


com um máximo de seis meses. Se o contrato de agência tivesse estado em vigor
durante um período inferior a um ano, o período de aviso prévio será de um mês.

3. As partes poderão acordar prazos mais longos de aviso prévio, mas o prazo
para o aviso prévio do agente nunca poderá ser inferior, em nenhum caso, ao
estabelecido para o aviso prévio do empregador.

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DIREITO COMERCIAL

4. Salvo acordo em contrário, o fim do período de aviso prévio coincidirá com o


último dia do mês.

5. Para a determinação do prazo de aviso prévio dos contratos por tempo


determinado que tenham sido transformados legalmente em contratos de
duração indefinida, deverá ser calculada a duração do contrato para tempo
determinado, acrescentando o tempo decorrido desde a transformação em
contrato de duração indefinida.

▪ Exceções às regras anteriores (Art. 26)

Cada parte de um contrato de agência acordado por um período determinado ou


indeterminado poderá rescindir o contrato a qualquer momento, sem aviso prévio,
nos seguintes casos:

a) Quando a outra parte tiver violado, total ou parcialmente, as obrigações


estatutárias ou contratualmente estabelecidas.

b) Quando a outra parte tiver sido declarada em processo de insolvência.

Nesses casos, entende-se que o contrato termina na recepção da notificação escrita em


que a vontade de o rescindir e a causa da extinção seja feita.

▪ Indenizações no contrato de agência:

Indenização por clientela (Art.28)

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1. Quando o contrato de agência for extinto, seja por tempo determinado ou


indeterminado, o agente que tenha fornecido novos clientes ao empregador ou
que tenha substancialmente aumentado as operações com a clientela existente,
terá direito a indenização se a sua atividade anterior puder continuar a produzir
vantagens substanciais para o empregador e seja equitativamente adequada à
existência de restrições à concorrência, pelas comissões que perca ou outras
circunstâncias que concordem.

2. O direito à indenização pela clientela também existe no caso do contrato ser


extinto por morte ou declaração de falecimento do agente.

3. Em caso algum, a indenização excederá o montante médio anual de


remuneração recebido pelo agente nos últimos cinco anos ou, durante a vigência
do contrato, se for inferior.

Indenização por perdas e danos (Art.29)

Sem prejuízo da indenização por clientela, o empresário que denuncie unilateralmente


o contrato de agência de duração indefinida, será obrigado a indenizar as perdas e danos
que, se for o caso, a extinção antecipada tenha causado ao agente. Tal fato ocorrerá
sempre que a mesma não permita a amortização das despesas que o agente, instruído
pelo empresário, tenha feito para a execução do contrato.

Pressupostos de não existência do direito à indenização (Art. 30)

O agente não terá direito a indenização por clientela ou por perdas e danos:

a) Quando o empregador extinga o contrato devido à violação das obrigações


legais ou contratualmente estabelecidas pelo agente.

b) Quando o agente tenha denunciado o contrato, a menos que a denúncia


tenha como causa circunstâncias atribuíveis ao empregador ou tenha

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fundamento na idade, invalidez ou doença do agente e este não pudesse


razoavelmente ser exigido para continuar com as suas atividades.

c) Quando, com o consentimento do empregador, o agente tiver cedido a um


terceiro os direitos e obrigações de que ele era titular no âmbito do contrato da
agência.

Contratos de distribuição, concessões comerciais e franquias:

▪ Contratos de distribuição ou concessões comerciais:

O contrato de distribuição ou concessão comercial, um contrato que não está


especificamente regulamentado no Direito espanhol, é aquele pelo qual um
outorgante e uma concessionária fazem um acordo que os compromete a
adquirir, sob determinadas condições previamente acordadas, produtos
específicos revenda em uma área geográfica determinada sob a supervisão do
concessionário.

As características deste contrato são:

a) Colaboração entre o empregador e o outorgante para colocar no mercado e


distribuir um serviço ou produto de uma marca.

b) Vender as mercadorias no mesmo estado em que a concessionária as


fornece, ou seja, sem haver ocorrido nenhum tipo de transformação.

c) O revendedor deve prestar atenção depois da venda ser realizada.

d) A concessionária deve assumir os riscos das operações comerciais que o


outorgante realiza com os clientes.

e) O revendedor receberá uma remuneração pelo rendimento da revenda.

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Obrigações do outorgante:

a) Fornecer à concessionária a mercadoria acordada.

b) No caso de existir exclusividade, o fornecimento de produtos ou serviços não


pode ser oferecido a outros revendedores que atuem na mesma área.

c) Se o outorgante é o fabricante dos produtos, ele é obrigado a responder pela


garantia.

Obrigações da concessionária:

a) Compra de um certo número de produtos

b) Contratação de pessoal qualificado.

c) Dispor de instalações adequadas para o desenvolvimento da atividade.

d) Promover os produtos oferecidos.

A extinção deste tipo de contrato será condicionada pelas razões acordadas nele.

▪ Contrato de franquia:

O contrato de franquia é um contrato assinado pelo franqueado e franqueador em que


o acordo de franquia é coletado.

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DIREITO COMERCIAL

O franqueador cede ao franqueado a exploração de um sistema para comercializar


determinados produtos e/ou serviços em troca de uma quantia econômica.

Ao contrário do contrato de distribuição ou concessão comercial, o franqueador deve


transmitir sua metodologia de trabalho (know-how) e seus métodos comerciais. Por usa
vez, o franqueador deve projetar, dirigir e cobrir suas campanhas publicitárias para fazer
conhecido e divulgar sua marca.

Existem três elementos que determinam o conteúdo básico deste tipo de contrato:

1) A marca.

2) O know-how.

3) O apoio continuado.

O contrato de franquia, como não é especificamente regulamentado, deve conter


claramente os elementos essenciais ligados a qualquer contrato e uma regulamentação
detalhada do conteúdo básico:

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DIREITO COMERCIAL

- Cabeçalho:

Deve conter os dados de identificação do franqueador e do franqueado.

- Disposições:

- Detalhe do conteúdo das obrigações e compromissos que afetam ambas as


partes.

- Transferência da marca, sinais comerciais e distintivos e regras de


utilização.

- Transmissão do know-how.

- Requisitos das instalações.

- Condições de fornecimento do produto e/ou serviços.

- Exclusividade geográfica e territorial da franquia.

- Suporte técnico e tecnológico.

- Campanhas publicitárias.

- Duração do contrato.

- Causas de rescisão do contrato.

A principal diferença entre este contrato e o da distribuição é a obrigação do


franqueador de transmitir o seu know-how. O franqueador é obrigado a transmitir a
essência de um negócio que tem provada eficácia para que outro empresário possa agir
em nome da sua marca registrada.

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1.6.3. CONTRATOS DE PUBLICIDADE

A Lei 34/1998, de 11 de novembro, Geral de Publicidade reconhece 4 tipos de contratos


publicitários:

1. Contratos de publicidade:

O contrato de publicidade é aquele pelo qual um anunciante ordena uma agência de


publicidade, por meio de uma retribuição, a execução da publicidade e criação,
preparação ou programação da mesma.

Quando a agência realizar as criações publicitárias, também serão aplicadas as regras do


contrato de criação publicitária.

2. Contratos de difusão publicitária:

O contrato de difusão publicitária é aquele em que, em troca de uma consideração


fixada em taxas pré-estabelecidas, um meio é obrigado a favor de um anunciante ou
agência a permitir a utilização publicitária de unidades de espaço ou tempo disponível,
assim como a desenvolver a atividade técnica necessária para alcançar o resultado
publicitário.

3. Contratos de criação publicitária:

O contrato de criação publicitária é aquele pelo qual, em troca de uma consideração,


uma pessoa singular ou coletiva é obrigada, a favor do anunciante ou agência, a

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conceber e elaborar um projeto de campanha publicitária, uma parte dela ou qualquer


outro elemento publicitário.

As criações publicitárias poderão desfrutar dos direitos de propriedade


industrial ou intelectual quando cumpram os requisitos exigidos pelas
disposições vigentes.

Apesar disso, os direitos de exploração das criações publicitárias serão, se não


houver um acordo contrário, cedidos exclusivamente ao anunciante ou
agência, em cumprimento do contrato de criação publicitária e para os fins
previstos no mesmo. (Art.21)

4. Contrato de patrocínio:

O contrato de patrocínio publicitário é aquele pelo qual o patrocinado, em troca de uma


ajuda econômica para a realização de suas atividades desportivas, caridosas, culturais,
científicas ou outras, está empenhado em colaborar na publicidade do patrocinador.

O contrato de patrocínio publicitário deverá reger-se pelas regras do contrato de difusão


publicitária, logo que aplicável. De acordo com esta lei, são determinadas as condições
dos assuntos envolvidos nesses contratos publicitários.

Assim, encontramos definidos:

- O anunciante: pessoa singular ou coletiva em cujo interesse a publicidade é feita.

- A agência de publicidade: pessoas singulares ou coletivas que se dedicam


profissionalmente e de forma organizada em criar, preparar, programar ou
executar publicidade em nome de um anunciante.

- Meios de publicidade: pessoas singulares ou coletivas, públicas ou privadas,


que, de forma habitual e organizada, se dedicam em difundir a publicidade
através dos suportes ou meios de comunicação social de sua titularidade.

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DIREITO COMERCIAL

1.7. CONTRATOS DO MERCADO FINANCEIRO

1.7.1. MEIOS DE FINANCIAMENTO PARA A EMPRESA: MERCADO DE CRÉDITO E DE


AÇÕES

O mercado financeiro é o local físico ou virtual em que os consumidores e as empresas


obtêm financiamento.

Os consumidores e as empresas estão relacionados a fim de obter financiamento ou


negociar ativos, instrumentos financeiros e produtos.

Pela complexidade do mercado financeiro, reduziremos a classificação em dois


mercados diferentes:

1. Mercado de crédito:

No mercado de crédito, os intermediários financeiros recebem dinheiro dos


investidores através de contratos de depósito.

O intermediário disponibiliza a terceiros o crédito concebido. É por isso que duas


relações comerciais diferentes são criadas: por um lado, é assinado um contrato
com o investidor e, por outro, um contrato com a pessoa que recebe o crédito ou
o empréstimo.

Será sempre a instituição de crédito quem deverá responder às obrigações


acordadas nesses contratos.

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2. Mercado de ações:

Neste tipo de mercados, os títulos emitidos por um empresário que precisa de


financiamento são aqueles oferecidos ao investidor.

O investidor atua como um "fiador" com o empregador, que deve devolver o


dinheiro do título emitido dentro de um determinado tempo, bem como os juros
que foram combinados.

O investidor adquire direitos perante o emissor dos títulos e o emissor as


obrigações perante o investidor.

A venda antecipada dos títulos de valor antes do prazo combinado é feita nos
mercados de valores mobiliários em que estes títulos podem ser vendidos ou
comprados.

MERCADO DE CRÉDITO

▪ O empréstimo

O contrato de empréstimo regulado pelo código de comércio e pelo código civil é


definido pelo Real Decreto de 24 de julho de 1889 como aquele em que uma das partes
entrega para a outra algo não dispensável para uso por um certo tempo, sendo que será
realizada a devolução (caso em que se chama fiança) ou entrega se dinheiro ou qualquer
outra coisa dispensável, com a condição de devolver um outro tanto da mesma espécie
e qualidade (caso em que se chama empréstimo). O financiamento é essencialmente
gratuito. O simples empréstimo pode ser livre ou através do pagamento de juros.

Os empréstimos regulados pelo Código Comercial são aqueles executados por um


comerciante que empresta visando operações comerciais, enquanto os outros
empréstimos são regulados pelo Código Civil.

Como o empréstimo é gratuito, os juros devem ser acordados entre as partes por
escrito, de acordo com o Artigo 314 C. Com.

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O objeto dos juros é que o fiador obtenha um benefício por sua atuação e tem como
finalidade evitar as causas negativas que a inflação pode trazer.

Apesar do fato de que o Código do Comércio no seu Artigo 315 diz que não há limite
para a quantidade de juros, o Tribunal Supremo admite que os juros do empréstimo
comercial podem ser maiores que os de um empréstimo civil.

De acordo com os Artigos 175 C. Com., 318 C. Com e 1110 do Código Civil se o fiador
recebe o capital sem indicar que se reserva ao direito a cobrar juros, a obrigação de
pagá-los é extinta, bem como o devedor que paga os juros não estipulados não pode
reivindicá-los como pagamento indevido.

▪ Créditos ao consumo

A Lei 16/2011, de 24 de junho de 2011, estabelece um regime especial para os


empréstimos a favor dos consumidores. Este regulamento tenta evitar o abuso ou a falta
de informação suficiente para o consumidor.

Esta lei estabelece o conteúdo do contrato e regula, entre outras coisas, o custo total
do empréstimo, o reembolso antecipado, a taxa anual equivalente (TAE) e os
descobertos, entre outros.

Obrigações de transparência em relação aos contratos (Art.4)

1. As empresas devem dispor das condições gerais de recrutamento que utilizam


à disposição dos consumidores. Os consumidores não terão que enfrentar
quaisquer despesas ou assumir qualquer compromisso para a sua recepção.
Estas informações devem estar disponíveis na página web das empresas, se
existir, e em estabelecimentos abertos ao público ou nos escritórios em que
prestam os seus serviços.

2. A acessibilidade das pessoas com deficiência às informações fornecidas no


ponto anterior estará assegurada nos termos exigidos pela lei ou pelos
regulamentos.

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Obrigações de transparência em relação aos preços (Art.5)

1. As empresas estabelecerão livremente os seus honorários por comissões,


condições e despesas incorridas aos consumidores, sem quaisquer outras
limitações que as contidas na presente Lei em matéria de cláusulas abusivas.

2. Nas taxas de comissões ou compensações e repercussões, incluindo as


atividades consultivas, deve-se indicar as implicações e, se for caso disso, a
periodicidade com que serão aplicáveis. As comissões ou compensações e
despesas incorridas devem responder aos serviços efetivamente prestados ou
despesas. Em caso algum, as comissões ou despesas serão cobradas por serviços
não aceitos ou solicitados expressamente pelo consumidor.

3. As empresas não poderão carregar quantidades superiores às derivadas de


tarifas, aplicando condições mais pesadas ou tendo impacto sobre as despesas
não antecipadas.

4. As empresas serão obrigadas a notificar ao Registo em que estiverem inscritas,


antes da sua aplicação, os preços dos serviços, as taxas das comissões ou
compensações e gastos refletidos que aplicarão, como máximo, às operações e
serviços prestados, assim como as taxas de juros máximas dos produtos
comercializados, incluindo, se for o caso, as taxas de juros por atraso.

5. Os preços, tarifas e despesas recorrentes referidas no ponto anterior serão


recolhidos num folheto, de compreensão clara e concreta para os consumidores,
evitando a inclusão de conceitos desnecessários ou irrelevantes.

▪ Leasing

Participam no contrato de leasing ou contrato de Arrendamento Mercantil com direito


a compra:

1) O fabricante da mercadoria ou produto.

2) A empresa de leasing.

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3) O usuário do produto.

A natureza do contrato implica a contratação pelo usuário de um produto através da


empresa de leasing, a fim de utilizar esse produto por um determinado tempo e pagar
um montante acordado de renda.

Uma vez que o período acordado termina, o usuário pode comprar o produto pagando
um preço residual, estendendo o contrato ou encerrando-o.

Neste tipo de contrato, as cláusulas de responsabilidade devem ser bem definidas, uma
vez que o usuário, ao lidar diretamente com a empresa de leasing, não pode reclamar
danos ao fabricante do produto.

▪ Contratos bancários

Os contratos bancários são definidos como qualquer acordo para criar, modificar ou
extinguir uma relação jurídica de natureza bancária.

Os contratos bancários devem ter:

✓ Taxa de juros nominal.

✓ Datas dos pagamentos.

✓ Datas dos acréscimos de juros.

✓ Métodos usados para o cálculo dos juros.

✓ Comissões.

✓ Despesas.

✓ Direitos da entidade bancária.

✓ Direitos do cliente.

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Na maioria das operações de crédito está envolvida, direta ou indiretamente, uma


instituição de crédito, daí a relevância dos contratos bancários.

As operações bancárias podem ser classificadas em:

1. Operações ativas: quando o banco é o único que empresta (crédito de abertura,


empréstimo).

2. Operações passivas: quando emprestam à entidade bancária (depósitos


irregulares).

3. Operações neutras: quando existe um serviço diferente do empréstimo de


crédito.

Dentro dos contratos bancários, vale a pena mencionar o contrato de conta corrente.

Podemos definir o contrato de conta corrente como um contrato de gestão, como um


método contabilista em que o banco fornece ao cliente os serviços de caixa, fazendo
cobranças e pagamentos pelo cliente, depósito e reembolsos. Dentro dos serviços de
caixa podemos encontrar: débitos diretos, ATMs, serviços online, transferências,
pagamento de cheques, serviço de cartão de crédito, etc.

As relações de crédito e débito são registradas em cada transação obtendo um saldo em


favor dos sujeitos.

As contas correntes podem ser conjuntas ou indiferentes. As conjuntas são aquelas em


que, para sacar dinheiro, se exige a assinatura de todos os titulares.

Apesar da regulamentação limitada dos contratos bancários, por ser a maior parte deles
atípicos, o Banco de España tem um serviço de reclamações onde são feitos relatórios
de práticas apropriadas ou não apropriadas. Estes relatórios são seguidos pelas
instituições de crédito apesar de não ser vinculativos.

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DIREITO COMERCIAL

2. DIREITO CAMBIÁRIO E SOCIEDADES


▪ A letra de câmbio

A letra de câmbio aparece na Idade Média como meio de transferir fundos de um lugar
ao outro. Esta mudança de moeda de um lugar para outro foi feita, em princípio,
fisicamente mas tal forma foi desaparecendo, o que levou a criar um documento de
cartório para certificar tal transferência de um lugar para outro. Este documento era a
prova da obrigação de transferência.

A partir do século XVI a letra de câmbio torna-se oficialmente um título de pagamento


em vez de um título de câmbio.

Podemos definir a letra de câmbio como um título de valor emitido por uma pessoa
chamada sacador que dá a ordem a outra, chamada sacado, para fazer o pagamento de
um determinado montante a um terceiro.

Estes processos e atos estão regulados pela Lei cambiária e do cheque de 16 de julho de
1985.

A letra de câmbio deverá conter:

1. A denominação de letra de câmbio, inserida no título e expressada na língua


utilizada na sua elaboração.

2. O mandato puro e simples de pagar uma certa quantia.

3. O nome da pessoa a ser paga, chamada sacador.

4. A indicação do vencimento.

5. O lugar onde o pagamento deve ser feito.

6. O nome da pessoa a quem o pagamento deve ser feito ou cuja ordem deve ser
efetuada.

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DIREITO COMERCIAL

7. A data e o local onde a letra se entrega.

8. A assinatura de quem emite a letra, chamado emitente.

Ilustração 1. Exemplos de Letra de câmbio.

A letra de câmbio deve cumprir os requisitos acima mencionados para ser considerada
válida.

Mesmo assim, o Art.2 LCC inclui várias exceções:

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DIREITO COMERCIAL

a) A letra de câmbio cujo vencimento não seja expresso será considerada


pagável à ordem.

b) Na ausência de indicação especial, o local designado junto ao nome do


sacador será considerado o local de pagamento e, ao mesmo tempo, o local de
domicílio do próprio sacado.

c) A letra de câmbio que não indique o lugar de emissão será considerada


entregue no lugar designado junto ao nome do sacador.

Os elementos pessoais que formam a letra de câmbio são:

✓ O sacador, quem emitirá a letra (A).

✓ O sacado, quem deverá pagar a letra (B), é a quem se deve pedir o pagamento
da letra no dia do vencimento.

✓ O tomador, pessoa que tem de cobrar a letra, (C), ou seja, a quem o pagamento
deve ser feito. Quando tomador e sacador seja a mesma pessoa, as letras serão
chamadas de "própria ordem".

✓ O endossante, quem transmite a letra em troca de uma consideração.

✓ O endossatário, quem recebe a letra do endossante.

✓ O fiador, quem garante o cumprimento das obrigações de qualquer parte


enumerada na letra.

✓ O domiciliário, pessoa que, em nome do sacado, realiza o pagamento da carta.


Normalmente é uma entidade bancária.

A letra com uma incorreção formal é considerada uma falta da eficiência do banco mas
pode ser usada como a prova da emissão ou da transmissão da letra. Podemos encontrar
letras de câmbio em que não há dados específicos no momento da emissão para ser
preenchido mais tarde. Isto chama-se “letra em branco".

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DIREITO COMERCIAL

A letra em branco pode ser submetida para a cobrança ou protestada, uma vez sejam
preenchidos os dados faltantes da letra em branco e se complete o acordo entre o autor
da letra e a pessoa que o assina.

O vencimento da letra de câmbio pode ser:

a) Com dia certo: vence em uma data estabelecida pelo sacador.

b) A um prazo contado da data, sempre computando os prazos em dias ou meses,


a partir da própria emissão (saque) do título.

c) À vista, tem o vencimento no dia da apresentação do título ao sacado, sempre


no ano seguinte da data de emissão.

d) A um prazo contado da data, em que o vencimento é dado pela data em que se


aceita o título.

O Artigo 2.2 LCC estabelece que, além das cláusulas obrigatórias, a letra pode conter
outras cláusulas protestativas.

Estas cláusulas protestativas podem ser:

- De débito direto da letra.

- De letra a “não ordem”

- De aceitação parcial.

- De designação de indicados.

- De pagamento com juros.

- De retorno sem despesas.

- De isenção do endossante da garantia de pagamento e aceitação.

- De proibição de novo endosso.

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DIREITO COMERCIAL

- De proibição de aceitação.

A utilidade da letra de câmbio é dada por suas três características fundamentais:

a) Possibilidade de exigir o montante por meio de julgamento de câmbio.

b) A solidariedade dos sujeitos obrigados.

c) A abstração da dívida.

As obrigações cambiais são autônomas umas das outras. O Artigo 8 da LCC estabelece
que, quando uma letra de câmbio tenha assinaturas de pessoas incapazes de se vincular,
assinaturas falsas ou assinaturas que por qualquer razão não pode vincular as pessoas
que assinaram a carta ou aqueles em cujo nome seja assinada, as obrigações dos outros
signatários não deixarão de ser válidas.

As declarações de câmbio podem ser feitas através de um representante. Esse


representante é obrigatório no caso do declarante ser uma entidade jurídica.

Aqueles que assinarem em nome de outro devem ser autorizados a fazê-lo com o poder
das pessoas em representação das que atuam e isto deve estar claramente expressado
na antefirma.

As declarações de câmbio por meio de representante são atribuídas aos


administradores da empresa no momento da sua nomeação.

O Artigo 10.º da LCC considera que, se for assinado sem o poder da outra pessoa, ficará
obrigada pela própria letra e terá os mesmos direitos que o próprio representante teria
no caso da letra for paga.

No caso do representante que exceda seus poderes, também será dada a mesma
suposição sem prejuízo da responsabilidade de câmbio do representante dentro dos
limites do poder.

A criação da letra de câmbio se produz no momento em que o sacador ordena que o


sacado pague a letra no seu vencimento.

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DIREITO COMERCIAL

O Artigo 1.2 LCC exige que conste o mandato puro e simples para pagar uma certa
quantia em moeda local ou estrangeira cuja conversão seja admitida na cotação oficial.

Assim, o direito sobre o montante indicado e a garantia de aceitação e o pagamento


assumido pelo sacador é incorporado na letra de câmbio.

O Artigo 11 LCC considera como não escrita qualquer cláusula que tenha a pretensão de
isentar a garantia de pagamento.

A letra de câmbio deve conter:

- O nome do sacado, que é quem tem que pagar a letra.

- O nome do tomador que é a pessoa ou a ordem a quem se deve pagar a letra.

- A assinatura do sacador que é quem a emite.

Quando o sacado seja uma pessoa coletiva deverá ser registado o nome ou a razão social
da empresa. Por outro lado, quando o sacador e o sacado sejam a mesma pessoa, a letra
se chama “letra a própria carga ou contra o próprio sacador”.

A aceitação da letra de câmbio é geralmente dada quando o sacador emite a letra e


pede ao sacado que a aceite, embora a aceitação possa ser dada em um momento
posterior.

O tomador pode endossar a letra de câmbio, o que lhe converte em endossante e tem
que assumir a sua nova posição legal. Por sua vez, o endossatário é aquele que adquire
a letra do endossante.

O crédito cambial é reforçado com as declarações de aceitação, endosso e aval que


podemos encontrar na letra de câmbio. Estas declarações responsabilizam o pagamento
aos que as levam a cabo.

A aceitação implica a obrigação de pagar a letra no seu vencimento por parte do sacado.

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DIREITO COMERCIAL

A mesma aceitação converte o sacado em aceitante com a responsabilidade do


pagamento recebida pelo sacador. A sentença do Tribunal Supremo Espanhol de 05 de
abril de 2010 criou jurisprudência com uma doutrina que diz que a omissão por aquele
que assina a aceitação de uma letra de câmbio de antefirma ou de outra referência, ou
o fato de agir por poder ou por representação ou como administrador da entidade ou
da empresa que aparece como sacado na letra, não libera a estes de suas
responsabilidades como aceitantes. Exceto quando o signatário da aceitação não tem
esse poder ou representação, e por sua vez, quem aceita a letra nessas condições não é
pessoalmente obrigado, mas obriga a entidade ou sociedade que aparece como sacado
se tiver poder ou representação.

O Artigo 49 da LCC estabelece que a ação cambial pode ser direta contra o aceitante ou
seus avalistas, ou de regresso contra qualquer outro devedor.

Na ausência de pagamento, o detentor, mesmo que seja o próprio sacador, terá contra
o aceitante e seu fiador a ação direta derivada da letra de câmbio para reclamar sem a
necessidade de objeção, tanto na forma ordinária como através do processo especial de
câmbio.

A aceitação da letra é sempre voluntária e de acordo com os Artigos 28 e 29 da LCC


deve cumprir os seguintes requisitos:

a) A aceitação será escrita na letra de câmbio. Deverá aparecer no documento a


palavra "aceito" ou qualquer outra equivalente e será assinada pelo sacado. Sua
simples assinatura posta no anverso da letra equivale à aceitação.

b) Sempre que a letra seja a pagar a determinado prazo contado da data ou quando
deva ser apresentada para aceitação em um prazo fixado por uma estipulação
especial, a aceitação deve constar a data do dia em que ocorreu, a menos que a
transportadora exija a data do dia da apresentação. Na ausência de uma data, o
portador, a fim de preservar os seus direitos contra os endossantes e contra o
sacador, deve registrar essa omissão por meio de um protesto levantado em um
tempo hábil.

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DIREITO COMERCIAL

c) A aceitação será pura e simples mas o sacado poderá limitar a uma parte do
montante.

Qualquer outra modificação introduzida pela aceitação no texto da letra de câmbio será
considerada uma recusa de aceitação. No entanto, o aceitante permanecerá obrigado
de acordo com os termos da sua aceitação.

A aceitação será obrigatória nas letras debitadas a com um prazo determinado.

Se a letra apresentada para sua aceitação não for aceita, o sacado ficará excluído da
troca forçada. Se for feito de forma irrefutável a recusa de aceitação não afetará as
obrigações assumidas pelo resto dos signatários da letra.

O endosso da letra é a declaração em que o titular transmite o seu direito de ser pago a
ele ou a outra pessoa.

O Artigo 16.1 coloca como requisito para a realização do endosso que o endossante
assine o documento, normalmente no verso da carta. Esta é a manifestação do seu
consentimento e permanece como uma troca obrigatória.

Por sua vez, o Artigo 15 da LCC considera não escrita qualquer condição em que o
endosso aparece subordinado e declara nulo o endosso parcial. O endosso deve ser
completo, puro e simples.

Quando não é precisa a designação do endossatário, encontramos um endosso em


branco. Neste caso, de acordo com Art. 17 LCC, o titular pode:

1. Completar o endosso em branco com seu nome ou com o de outra pessoa.

2. Endossar a letra de novo em branco ou designar um certo endossatário.

3. Entregar a letra a um terceiro, sem completar o endosso em branco e sem


fazer nenhum endosso.

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DIREITO COMERCIAL

O endosso deriva em três efeitos básicos:

- Efeito de translação.

- Efeito legitimador.

- Efeito de garantia.

Outra das declarações de câmbio é a da garantia, pela qual uma pessoa garante a
obrigação de pagar a letra de câmbio por parte do obrigado ao câmbio.

O aval de câmbio tem um caráter acessório, não pode existir sem uma obrigação válida,
e tem a existência independente da obrigação principal.

A LCC considera o aval válido mesmo que a obrigação garantida seja nula por qualquer
outra razão que não seja por erros de forma.

Quando o devedor paga a letra de câmbio, adquire os direitos que são derivados contra
a pessoa endossada e contra aqueles que são responsáveis por este último.

O Artigo 36 LCC estabelece que, a fim de ser compreendido, para formalizar o aval é
suficiente a assinatura no anverso da letra de câmbio de quem não é nem sacado nem
sacador. Vale ressaltar que o aval pode ser total ou parcial e pode ser prestado por
terceiros ou signatários da letra.

No que diz respeito à data, o Artigo 35 LCC estabelece que pode ser subscrita mesmo
após a expiração e a negação do pagamento da letra, desde que no momento da
concessão o aceitante não esteja liberado de sua obrigação de câmbio.

O fiador responde em via direta, se endossa o aceitante ou em via de regresso se


endossa o sacador ou o endossante.

No caso de não pagamento da letra, é possível reivindicar judicialmente.

Para tanto, se deve:

- Apresentar a letra à vista e que o sacado se recusou a aceitá-la.

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DIREITO COMERCIAL

- Apresentar a letra para a cobrança e que o sacado se recuse a pagá-la,


mostrando a apresentação e a recusa ao pagamento.

▪ O cheque

O cheque é um título de valor que contém uma ordem de pagamento de certa quantia
de dinheiro a cargo de um banco a favor de um terceiro.

O cheque funciona como uma ferramenta de pagamento que evita o manuseio de


dinheiro. Baseia-se no "contrato de cheque" entre o sacador e o sacado pelo qual o
banco concorda em cumprir as ordens de pagamento do sacado sempre que houver
fundos na sua conta.

O cheque deve conter:

1. O nome do cheque inserido no próprio texto do título escrito na língua utilizada


para a redação desse título.

2. O mandato puro e simples de pagar uma certa quantia em moeda local ou


estrangeira cuja conversão seja admitida na cotação oficial.

3. O nome do pagador, chamado sacado, que tem de ser necessariamente um


banco.

4. O lugar de pagamento.

5. A data e o lugar de emissão do cheque.

6. A assinatura de quem emitiu o cheque, chamado sacador.

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DIREITO COMERCIAL

No caso de que alguns dos dados acima mencionados não sejam expressos no cheque,
se considerará que:

a) Na ausência de indicação especial, o lugar designado junto ao nome do sacado


será considerado local de pagamento. Quando forem designados vários locais, o
cheque deve ser pago no primeiro lugar mencionado.

b) Na ausência destas indicações ou de qualquer outra, o cheque deve ser pago


no local onde foi emitido e se nesse lugar não houver nenhum estabelecimento
do sacado, será no lugar onde o sacado tenha o estabelecimento principal.

c) O cheque sem indicação do lugar da sua emissão será considerado subscrito


no que aparece ao lado do nome do sacador.

O cheque pode ser pago:

a) A favor de uma determinada pessoa com ou sem cláusula à ordem: cheque


nominativo.

b) A favor de uma pessoa determinada com a cláusula "não à ordem".

c) Ao portador.

De acordo com o Artigo 135 LCC, o titular deve se submeter à cobrança em um


determinado prazo a partir da data de emissão, no caso de:

- O cheque emitido e pago na Espanha deverá ser submetido ao seu pagamento


no prazo de quinze dias.

- O cheque emitido no estrangeiro, a ser pago na Espanha deve ser apresentado


em um prazo de vinte dias, caso tenha sido emitido na Europa e em 60 dias, caso
tenha sido emitido fora da Europa.

Os prazos anteriores são calculados a partir do dia que figura no cheque como data de
emissão, não excluindo os feriados. Apesar disso, se a data de vencimento for feriado,
significa que o seu vencimento será o primeiro dia útil a seguir dessa data.

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DIREITO COMERCIAL

Os Artigos 143 a 145 da LCC fornecem uma série de meios para que o cheque não seja
pago em dinheiro mas por meio de créditos contábeis em outras contas da mesma
instituição de crédito ou de uma diferente:

a) O cheque pode ser geral ou especial. É geral se não contém qualquer designação
entre as duas barras ou contém as palavras «Banco» e «Empresa» ou um termo
equivalente. É especial se o nome de um determinado banco é escrito entre as
barras.

b) O sacador ou titular do cheque pode proibir o seu pagamento em numerário,


inserindo no anverso a menção transversal "para pagar em conta", ou uma
expressão equivalente.

Neste caso, o sacado só será capaz de pagar o cheque mediante um registro em


sua contabilidade. Este registro equivale ao pagamento. Qualquer tachado do
termo "a ser pago em conta" será considerado como não feita.

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DIREITO COMERCIAL

Para a transmissão do cheque se deve ter em conta que, dependendo da forma como
foi emitido, se transmitirá de uma forma ou outra:

- Quando o cheque é emitido ao portador é transmitido pela entrega.

- Quando o cheque é nominal, com ou sem cláusula "à ordem", é transmitido pelo
endosso. Se contém a cláusula "não à ordem" não há possibilidade de endosso.

O endosso do cheque será completo, puro e simples. Se as condições forem


estabelecidas, serão compreendidas como não escritas e os endossos parciais serão
compreendidos como nulos, bem como o endosso efetuado pelo sacado.

▪ A nota promissória

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DIREITO COMERCIAL

A nota promissória é um título de valor com um regime legal semelhante ao da letra de


câmbio.

A diferença com a letra de câmbio está no fato de que as notas promissórias contêm
uma promessa incondicional de uma pessoa a outra para pagar uma determinada soma.

Seus requisitos são:

- Não é para se adequar a um modelo oficial.

- Em vez de aparecer o sacador, aparecem o signatário, que emite a nota


promissória, e o detentor que é a quem se tem que pagar.

A nota promissória deve conter:

- A denominação de "nota promissória".

- A promessa pura e simples de pagar uma certa quantia.

- A indicação de vencimento (se não estiver indicada será pagável à vista).

- O lugar de pagamento (se não for indicado, entende-se que será o local de
emissão da nota promissória).

- O nome da pessoa a quem o pagamento deve ser feito.

- A data e o lugar onde está assinado.

- A assinatura de quem emite a nota promissória.

2.1. SOCIEDADES COMERCIAIS

Agora abordaremos as sociedades mercantis em relação aos representantes das


diferentes formas jurídicas que o empreendedor pode adotar no mercado.

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DIREITO COMERCIAL

Os objetivos do módulo serão:

✓ Conhecer os tipos de sociedades com suas vantagens e desvantagens para


escolher qual delas é a mais adequada para atuar no mercado.

✓ Conhecer o funcionamento de cada sociedade comercial.

✓ Conhecer a responsabilidade que cada sociedade acarreta.

✓ Conhecer o funcionamento dos seus órgãos sociais.

✓ Conhecer os estatutos e suas possíveis modificações.

✓ Conhecer as responsabilidades e consequências derivadas da dissolução de uma


sociedade.

▪ O consumidor

Os consumidores ou utilizadores são definidos como pessoas singulares ou coletivas que


atuam em uma área fora do negócio ou da atividade profissional.

Trata-se de uma figura legalmente defendida pelas autoridades públicas através de


meios e procedimentos eficazes. É necessário garantir a sua segurança, saúde e
interesses econômicos legítimos de acordo com o Artigo 51 da CE.

O direito comunitário e o direito espanhol defendem a figura do consumidor e usuário,


já que partem do princípio de que atuam em desvantagem contra o empresário, visto
que dispõem de menos informação e conhecimento sobre o produto ou serviço.

▪ Normas de defesa ao consumidor

O TRLGDCU (Texto Reformulado da Lei Geral para a Defesa dos Consumidores e


Usuários) contém várias regras em relação aos consumidores e usuários em torno do
regime de cláusulas abusivas ou garantias do comprador em caso de não conformidade.
Alguns exemplos são:

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DIREITO COMERCIAL

- Proteção dos consumidores em objeção aos contratos assinados fora de


estabelecimentos comerciais.

- Regulamentação da responsabilidade civil pelos danos causados por produtos


defeituosos.

- Regulação de viagens combinadas.

- Regras sobre as informações que o consumidor deve receber antes de contratar


um produto ou serviço.

Outras normas sobre a proteção do consumidor seriam:

- Lei 7/1998 de 13 de abril sobre as regras de contratação.

- Lei 7/1995 de 23 de março de crédito ao consumidor.

- Lei 7/1996 de 15 de janeiro de gestão do comércio varejista.

▪ O empresário

Apesar do fato de que o código comercial continua a considerar o empresário como um


comerciante, ele poderia ser definido como uma pessoa singular ou coletiva que exerce
uma atividade empresarial no mercado de bens e serviços e adquire a propriedade dos
direitos e obrigações de tal atividade.

O conceito jurídico de empresário o permite desenvolver o seu negócio direta ou


indiretamente através de terceiros ou representantes.

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DIREITO COMERCIAL

A catalogação do empresário implica estar sujeito a uma série de normas que fazem
parte do estado jurídico do empresário empreendedor. Também implica estar sujeito à
qualificação comercial de determinados contratos pelo fato de intervir com a condição
de empresário.

A fim de realizar a atividade empresarial, o empresário precisa do estabelecimento


comercial e da colaboração de pessoas que pactuam com ele os contratos de tipo
mercantil.

▪ O empresário individual

O Código de Comércio define a figura do empresário como um comerciante com


capacidade legal para exercer o comércio ao qual se dedica habitualmente.

O Código de Comércio exige, para ser reconhecido como comerciante, a capacidade e o


desenvolvimento habitual da atividade comercial, bem como o fato de ter idade legal e
dispor livremente de seus bens.

O Artigo 3º do CdeC (Código de Comércio) reconhece que haverá uma presunção legal
do exercício habitual do comércio, uma vez que a pessoa que propõe o exercício seja
anunciada por circulares, jornais, cartazes expostos ao público ou a existência de um
estabelecimento que se destine a realizar alguma transação comercial.

Não é necessário registrar-se na Junta Comercial como empresário individual.

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DIREITO COMERCIAL

O Artigo 14 do CdeC recolhe que não estarão habilitados para exercer a profissão
comercial por conta própria ou por outro, nem obter um cargo ou intervenção direta
administrativa ou econômica em sociedades comerciais, dentro dos limites dos distritos,
províncias ou cidades em que desempenhem as suas funções:

- Os juízes e funcionários do Ministério Público em ativo. Esta disposição não se


aplica aos prefeitos, juízes e promotores municipais ou aos que eventualmente
executem funções judiciais ou fiscais.

- Os chefes governamentais, econômicos ou militares de distritos ou províncias.

- Os empregados na arrecadação e administração de fundos do Estado, nomeados


pelo Governo, exceto os que administrem ou recebem por assento e seus
representantes.

- Os agentes de câmbio e corretores de comércio, de qualquer tipo.

- Aqueles que por leis ou disposições especiais estejam incapacitados em


comercializar em um determinado território.

▪ A contabilidade do empresário

O código de comércio estabelece que cada empresário deverá realizar uma


contabilidade ordenada, apropriada para a atividade de sua empresa que permita um
acompanhamento cronológico de todas as suas operações, bem como a elaboração
periódica de saldos e inventários.

A lei exige que o empresário tenha um livro de inventário e contas anuais e outro diário.
Estes livros devem ser levados para a Junta Comercial e, antes de seu uso, ser colocado
no primeiro fólio de cada um deles uma diligência e, em todas as folhas de cada livro, o
carimbo da Junta Comercial.

O livro de inventário e contas anuais deve ser aberto com o balanço inicial detalhado da
empresa e, pelo menos trimestralmente, os controles devem ser transcritos com os

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DIREITO COMERCIAL

saldos de comprovação. O inventário de fim de ano e as contas anuais também serão


transcritos.

Ilustração 1 Ex. Livro de Inventários e Contas Anuais.

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DIREITO COMERCIAL

Ilustração 2. Exemplo Livro Diário

O livro diário é usado para o registro diário de todas as operações relacionadas com a
atividade da empresa.

O Artigo 29 do CdeC estipula que todos os livros e documentos contábeis devem ser
registrados, independentemente do procedimento utilizado, claramente, por ordem
cronológica, sem espaços em branco, interpolações, emendas ou rasuras. Os erros ou
omissões sofridas nas notas contábeis devem ser corrigidos imediatamente. Não podem
ser utilizadas abreviaturas ou símbolos cujo significado não seja exato em conformidade
com a lei, com o regulamento ou com a prática comercial de aplicação geral.

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DIREITO COMERCIAL

No final do exercício, o empresário deverá formular as contas anuais da sua empresa,


que incluirá o balance, a conta de ganhos e perdas, um estado que reflita as alterações
no patrimônio líquido do exercício, uma declaração de fluxos de caixa e a memória.

Os elementos do balance são:

a) Ativos: bens, direitos e outros recursos controlados economicamente pela


empresa, resultantes de eventos passados, dos quais a empresa provavelmente
obterá benefícios econômicos no futuro.

b) Passivos: obrigações atuais decorrentes dos acontecimentos passados, cuja


extinção é susceptível de resultar em uma diminuição dos recursos que podem
produzir benefícios econômicos, incluídas as provisões.

c) Patrimônio líquido: constitui a parte residual dos ativos da empresa, uma vez
deduzidos todos os seus passivos. Inclui as contribuições feitas, quer no
momento da sua constituição quer seja subsequente, por seus sócios ou
proprietários, que não têm a consideração do passivo, bem como os resultados
acumulados ou outras variações que o afetam.

Os elementos da conta de ganhos e perdas e do estado que refletem as alterações do


patrimônio líquido do exercício são:

a) Rendimentos: aumentos no patrimônio líquido durante o exercício, quer em


forma de entradas ou aumentos do valor dos ativos, quer da redução do passivo,
desde que não sejam originários de contribuições dos sócios ou proprietários.

b) Despesas: diminuição do patrimônio líquido durante o ano, seja em forma de


saídas ou diminuição do valor dos ativos, ou de reconhecimento ou aumento dos
passivos, desde que não se originem de distribuições a parceiros ou
proprietários.

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DIREITO COMERCIAL

As contas anuais devem ser claramente redigidas e mostrar a verdadeira imagem dos
ativos, da situação financeira e dos resultados da empresa, de acordo com as
disposições legais.

As contas anuais devem ser formuladas expressando os valores em euros.

2.2. SOCIEDADES COMERCIAIS: CONCEITO E TIPOS

O conceito de sociedade comercial é definido pelo Código Civil como "um contrato em
que duas ou mais pessoas estipulam colocar algo em comum com a visão de
compartilhar entre si os benefícios provenientes".

É importante distinguir entre sociedades comerciais e sociedades civis, embora na


prática não seja muito relevante.

Assim, consideram-se empresas comerciais aquelas nas quais o objetivo é obter lucro
comercial, além de ter a obrigação de se cadastrar na Junta Comercial e aparecer em
escritura pública. As sociedades civis, por sua parte, seriam aquelas que não realizam
uma atividade de negócio.

Os diferentes tipos de sociedades que são recolhidos dentro das sociedades comerciais
são classificados de acordo com a responsabilidade que seus membros assumem.

Com base neste critério, encontramos:

- Sociedades de Responsabilidade Limitada: são as sociedades em que é a própria


empresa que tem que responder a terceiros, os sócios têm uma
responsabilidade limitada na sociedade e a contribuição que fazem a ela
também é limitada. Dentro deste grupo encontraremos a Sociedade Anônima
(S/A), a Sociedade Limitada (LTDA) e Sociedades de Garantia Recíproca (SGR).

- Sociedades de Responsabilidade Ilimitada: neste tipo de empresa, a


responsabilidade do parceiro vai além da principal contribuição feita para a

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DIREITO COMERCIAL

empresa. A responsabilidade para com terceiros reside nos sócios que têm que
responder com o seu próprio patrimônio. Dentro deste grupo encontraremos
sociedades civis, sociedades em nome coletivo e sociedades em comandita.

As sociedades comerciais, além de serem classificadas com base na responsabilidade


dos seus sócios, podem ser divididas em:

- Sociedades Pessoais: a atenção é dada às condições pessoais dos sócios


(sociedade coletiva, sociedade em comandita e agrupamento de interesses
econômicos)

- Sociedades Capitalistas: nestas empresas, a contribuição do capital dos sócios


tem prioridade perante as suas condições pessoais (sociedade anônima,
sociedade limitada e sociedades de garantia recíproca).

2.2.1. SOCIEDADES PESSOAIS

▪ A sociedade coletiva

Constituição e características:

A sociedade coletiva pode ser considerada uma das mais antigas e simples entre as
empresas comerciais.

Nesta sociedade de natureza pessoal, os sócios têm que participar em uma razão social
para um objetivo comum.

As sociedades coletivas nascem das sociedades dos antigos comerciantes da Idade


Média. São sociedades onde a responsabilidade dos membros é ilimitada, de maneira
que eles respondem com o seu patrimônio das dívidas da empresa.

Apesar de que atualmente a constituição destes tipos de sociedades é bastante residual,


seguem sendo utilizadas para abranger em um regime jurídico as sociedades em que o
tipo social não é claro ou não cumprem as condições necessárias para ser constituídas
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DIREITO COMERCIAL

como sociedades anônimas ou sociedades de responsabilidade limitada e, ainda assim,


realizar atividades comerciais.

As características das sociedades coletivas são:

1) Têm responsabilidade pessoal ilimitada, solidária e subsidiária por parte dos


sócios face às dívidas sociais. (Art. 127 CdeC).

O patrimônio da sociedade será o primeiro a ser usado para pagar as dívidas da


empresa, se não fosse suficiente, os sócios responderiam com seu próprio
patrimônio.

Todos os sócios são considerados como um devedor único e se apenas um realiza


um pagamento, ele terá o direito a reivindicar aos outros sócios a parte
proporcional da dívida paga.

2) Todos os sócios estão envolvidos na administração da empresa, salvo acordo em


contrário.

3) Os interesses da empresa ou a condição de sócio não podem ser transferidos a


terceiros sem o consentimento dos outros sócios.

Tal como qualquer empresa comercial, a sociedade coletiva deve figurar em escritura
pública e registrar-se na Junta Comercial.

O código de comércio no seu Artigo 125 estabelece que, nas escrituras das sociedades
coletivas, deve figurar:

1) Nome, sobrenome e domicílio dos sócios.

2) A razão social.

3) O nome e sobrenome dos sócios a quem são confiados a gestão da empresa e a


utilização da assinatura social.

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4) O capital com que cada sócio contribui em dinheiro, créditos ou efeitos, com a
expressão do valor dado a eles ou a base em que a avaliação deve ser feita.

5) A duração da empresa.

6) Os montantes que, se for caso disso, são atribuídos anualmente a cada sócio de
gestão para as suas despesas particulares.

7) Todos os outros pactos legais e condições especiais que os sócios desejem


estabelecer.

▪ Direitos e obrigações:

1) A primeira obrigação da sociedade como empresa comercial é contribuir com bens


ou trabalhar para a sociedade.

2) Os sócios têm o dever de agir de boa-fé perante a empresa, proibindo a concorrência


entre os próprios sócios para obter benefícios pessoais através da sociedade.

3) Os sócios têm o direito (e a obrigação, salvo acordo em contrário) de participar na


gestão da sociedade.

4) Os sócios têm o direito de escolher um gestor estatutário para a gestão da sociedade


com caráter irrevogável, ou seja, que não pode ser removido.

5) Se, no caso de má gestão, se decidir mudar de gestores, os sócios podem pedir ao


juiz a sua destituição, nomeando um coadministrador.

6) Os sócios têm o direito de informação sobre o estado da administração e


contabilidade da empresa.

7) Os sócios têm o direito de participar nos lucros da empresa e no patrimônio


resultante de sua liquidação.

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DIREITO COMERCIAL

▪ Acordos dentro das sociedades coletivas

Os acordos dentro das sociedades coletivas e as transmissões das partes


sociais se realizam sempre por unanimidade.

É preciso ressaltar que, neste tipo de sociedades, os sócios assumem um risco elevado
por terem que responder com o patrimônio pessoal. É por isso que a tomada de decisões
no nível de gestão ou ao decidir quem faz parte da sociedade é feita por unanimidade e
tendo em conta o parecer de cada membro.

O Art. 222, 1 º CdeC recolhe a possibilidade da entrada de um novo sócio por sucessão.
Em caso de falecimento de um dos seus membros, os seus herdeiros podem entrar,
sempre que este ponto esteja previamente expresso no contrato da sociedade. Outra
decisão que requer unanimidade é a exclusão dos sócios.

De acordo com o Artigo 218 do CdeC, a exclusão de um sócio pode ser solicitada devido
os seguintes pressupostos:

1) A utilização por um sócio de capital comum e da assinatura social para negócios


por conta própria.

2) Por interferir em funções administrativas da empresa o sócio que não tenha


responsabilidade de realizá-las, de acordo com as condições do contrato da
sociedade.

3) Por cometer fraude, um sócio-gerente na administração ou contabilidade da


empresa.

4) Por deixar de colocar na caixa comum o capital que cada um estipulou no


contrato de sociedade, depois de ter sido requerido sua verificação.

5) Por executar um sócio, por sua conta, operações de comércio que não sejam
legais.

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DIREITO COMERCIAL

6) Por ausentar-se de suas obrigações profissionais com a sociedade, se, tendo sido
obrigado a retornar e cumprir suas funções, não verificar ou deixar de certificar
uma causa justa que demonstre o seu impedimento temporário.

7) Por faltar de qualquer outra forma a um ou mais sócios ao cumprimento das


obrigações impostas no contrato da empresa.

▪ Dissolução, liquidação e extinção da empresa

A extinção de uma empresa tem que passar pela dissolução, liquidação e extinção final
da mesma. As causas que podem levar a uma dissolução podem ser objetivas, afetando
a sociedade, ou subjetiva, afetando ao sócio.

De acordo com o Artigo 221 do CdeC, as causas objetivas da dissolução são:

1) O cumprimento do prazo estabelecido no contrato da empresa ou a conclusão


da empresa que constitui o seu objeto.

2) A perda total do capital.

3) A abertura da fase de liquidação da empresa declarada falida.

No caso de causas subjetivas, o Artigo 222 contém as seguintes causas:

1) A morte de um dos sócios comanditados, sempre que a escritura social não


contiver um pacto explícito para que os herdeiros do sócio falecido continuem a
sociedade ou subsistir entre os sócios sobreviventes.

2) Insanidade ou outra causa que provoque a desqualificação de um sócio de


gestão para administrar seus ativos.

3) A abertura da fase de liquidação no concurso de qualquer um dos sócios


comanditados.

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▪ Sociedade em comandita

A sociedade em comandita é regulamentada pelo código de comércio e difere da


sociedade coletiva que nestes, além dos sócios coletivos, existem os sócios
comanditários. Estes sócios caracterizam-se pela sua contribuição de capital para a
sociedade e a responsabilidade limitada perante a empresa.

Ao contrário dos sócios coletivos, os comanditários só respondem com o capital


contribuído para a sociedade. Não têm capacidade de gestão com base no regime de
responsabilidade limitada ao capital.

Na razão social das empresas comanditárias, os nomes dos sócios comanditários nunca
poderão ser incluídos.

Se algum comanditário incluísse seu nome ou consentisse a sua inclusão na razão social,
estará sujeito, com relação as pessoas estranhas à empresa, as mesmas
responsabilidades que os gestores, sem adquirir mais direitos do que os que
correspondem a sua qualidade de comanditário (Art. 147 do CdeC).

Quanto ao direito de informação recolhido nas sociedades coletivas, no caso dos sócios
comanditários este direito é limitado de acordo com o Artigo 150 do CdeC.

Os sócios comanditários não poderão examinar o estado e o status da administração


social, exceto nos períodos e sob as penalidades prescritas no contrato da constituição
ou de seu adicional.

Se o contrato não contiver tal requisito, o balance da empresa será necessariamente


comunicado aos sócios comanditários no final do ano, deixando claro, por um período
de tempo, que não será menor que quinze dias, os antecedentes e documentos precisos
para a sua verificação e julgamento das operações.

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DIREITO COMERCIAL

2.2.2. SOCIEDADES CAPITALISTAS

▪ Sociedade anônima

Conceito:

A sociedade anônima nasceu na Idade Moderna nos séculos XVII e XVIII, quando as
chamadas empresas coloniais precisavam de enormes capitais para empreender as
grandes empresas marítimas e coloniais.

Esta necessidade de um grande capital foi resolvida com a divisão do capital em partes
pequenas chamadas ações. Salientamos que o valor das ações era escasso e, junto à
responsabilidade limitada que os sócios adquiriram, fez este tipo de sociedade muito
atrativa ao acionista pequeno.

Nas Sociedades Anônimas o capital, dividido em ações, está formado pelas apor
tações dos sócios, que não respondem pessoalmente pelas dívidas sociais.
(Art. 1.3 do TRLSC)

As sociedades anônimas devem ter um capital mínimo de 60.000€ e são constituídas


através de escritura pública e inscrição na Junta Comercial.

O registro da companhia na Junta Comercial tem um caráter constitutivo e sem ele a


personalidade legal de Sociedade Anônima não é adquirida.

Esta inscrição deve ser publicada no BORME (Boletín Oficial del Registro Mercantil).

O Artigo 23º do TRLSC estabelece as partes que, como mínimo, devem constar na
escrita da constituição de qualquer sociedade de capital:

a) A identidade do(s) sócio(s).

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DIREITO COMERCIAL

b) A vontade de constituir uma sociedade de capital, com a escolha de um


determinado tipo social.

c) As contribuições que cada sócio faz ou, no caso das anônimas, é obrigado a
realizar, e a numeração das participações ou das ações atribuídas a câmbio.

d) Os estatutos da sociedade.

e) A identidade da(s) pessoa(s) inicialmente encarregada(s) da administração e da


representação da empresa.

No caso das Sociedades Anônimas, na escritura de constituição deve figurar o montante


total ou aproximado das despesas de constituição, tanto das já satisfeitas como das
meramente previstas até a inscrição.

Se registrará nos estatutos que deverão reger o funcionamento das sociedades de


capital:

a) O nome da empresa.

b) O objeto social, determinando as atividades que o integram.

c) A sede.

d) O capital social, as ações em que está dividida, o seu valor nominal e a sua
numeração correlativa.

Se a sociedade é anônima, expressarão as classes de ações e as séries, no caso de


existência; a parte do valor nominal pendente de desembolso, assim como a forma
e o período máximo em que tem que estar satisfeito; e se as ações estão
representadas por meio de título ou por meio de anotações em conta. No caso de
serem representadas por meio de títulos, deve-se indicar se as ações são
nominativas ou ao portador e se a emissão de títulos múltiplos está prevista.

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DIREITO COMERCIAL

e) O modo de organização da administração da sociedade, o número de


administradores ou, pelo menos, o número máximo e mínimo, bem como a
duração do cargo e o sistema de remuneração, se houver.

Nas sociedades em comandita por ações, deverá constar a identidade dos sócios
coletivos.

f) A forma de deliberar e adotar seus acordos dos órgãos colegiados da empresa.

▪ As ações nas Sociedades Anônimas

As ações das Sociedades Anônimas representam uma parte do capital da empresa que,
além de ser um título de valor de participação social, dá ao seu detentor uma série de
direitos.

A lei no Artigo 93 do TRLSC determina os seguintes direitos ao sócio:

▪ Participar na distribuição de lucros sociais e no patrimônio resultante da


liquidação.

▪ Subscrição preferencial na emissão de novas ações ou obrigações conversíveis


em ações.

▪ Participar e votar nas reuniões gerais e contestar os acordos sociais.

▪ Direito de informação.

Mesmo assim, as Sociedades Anônimas podem emitir ações sem direito a voto por um
valor nominal não superior a metade do capital social desembolsado (Art. 98 do TRLSC).

A lei recolhe, no entanto, os direitos que os titulares deste tipo de ações têm nos
Artigos 99 e 100 do TRLSC:

1) Os titulares de ações sem voto terão o direito de receber o dividendo anual, o


mínimo fixo ou variável, que estabelecem os estatutos sociais. Uma vez acordado
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DIREITO COMERCIAL

o dividendo mínimo, os titulares das ações sem voto terão direito ao mesmo
dividendo correspondente às ações ordinárias. No caso das prestações
distribuídas, a empresa é obrigada a concordar com a distribuição do dividendo
mínimo referido.

2) No caso de sociedades não cotadas, se não houver benefícios distribuídos ou se


não tiverem sido em quantidades suficientes, a parte do dividendo mínimo não
remunerado será satisfeita nos cinco anos seguintes. Enquanto não se satisfaça o
dividendo mínimo, as ações sem voto terão o mesmo direito em igualdade de
condições que as ações ordinárias, preservando, em qualquer caso, suas
vantagens econômicas.

3) As ações sem direito a voto não serão afetadas pela redução do capital social por
perdas, independentemente da forma como seja efetuada, mas quando a redução
exceder o valor nominal das restantes ações. Se, em consequência da redução, o
valor nominal das ações sem voto exceder metade do capital social desembolsado,
essa proporção deve ser restabelecida no prazo máximo de dois anos. Se não, a
empresa será dissolvida.

Sempre que, em virtude da redução do capital, todas as ações ordinárias forem


amortizadas, as ações sem voto terão este direito até que seja restabelecida a
proporção prevista legalmente com as ações ordinárias.

4) As ações sem voto conferem ao seu titular o direito de obter o reembolso do valor
pago antes de qualquer montante ser distribuído às restantes ações no caso de
liquidação da sociedade.

5) No que diz respeito ao direito de subscrição preferencial dos titulares de ações


sem voto, bem como a recuperação do direito de voto em caso de não satisfação
do dividendo mínimo e no caráter não cumulativo do mesmo, no caso das
sociedades cotadas serão os seus estatutos os que definirão a maneira de atuar.

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DIREITO COMERCIAL

6) As participações sociais e as ações sem voto atribuirão aos seus titulares os


demais direitos das ordinárias, exceto os previstos nos artigos precedentes.

7) As ações sem voto não poderão ser agrupadas para efeitos de designação dos
membros do órgão diretivo pelo sistema de representação proporcional. O valor
nominal destas ações não será tido em conta para efeitos de exercício desse
direito pelos restantes acionistas.

8) As participações sociais sem voto ficarão sujeitas as regras legais estatutárias e


adicionais sobre a transmissão e o direito de aceitação preferencial.

O capital social das Sociedades Anônimas está intrinsecamente ligado às ações porque
o valor nominal delas quando multiplicado pelo número total de ações dá como
resultado o capital social da empresa. Esta quantia permanece inalterada durante a vida
da sociedade, a menos que exista um acordo do Conselho de Administração nos
estatutos para aumentar ou diminuir o capital social.

As ações podem ter três tipos de valores:

a) Valor nominal: é o valor definido como parte do capital social.

b) Valor de mercado: sujeito a lei e ao mercado de ações.

c) Valor contábil: é o resultado da divisão do patrimônio neto contábil entre


o número de ações.

Entendendo as ações como parte do capital da empresa, as contribuições que podem


ser feitas pelo sócio podem ser monetárias ou não, sempre com valor econômico e
excluindo as contribuições de trabalho ou serviços.

De acordo com o Artigo 59 do TRLSC são nulas a criação de participações sociais e a


emissão de ações que não respondam a uma contribuição patrimonial efetiva para a
empresa e não poderão criar-se participações ou emitir ações por uma quantia inferior
ao valor nominal.

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DIREITO COMERCIAL

As contribuições econômicas devem ser em euros e as não monetárias terão que ser
descritas com os seus dados de registro, se existirem, a valorização em euros que seja
atribuída, assim como a numeração das ações ou participações atribuídas (Art. 63 do
TRLSC).

De acordo com o Artigo 67 do TRLSC:

1) Na constituição ou nos aumentos de capital das Sociedades Anônimas, as


contribuições não monetárias, independentemente da sua natureza, serão
objeto de um relatório elaborado por um ou mais peritos independentes com
competência profissional, designados pelo escrivão da Junta Comercial
correspondente à sede social da sociedade e de acordo com o procedimento que
seja determinado pelo regulamento.

2) O informe deverá conter a descrição da contribuição, com os seus dados de


registro, se existirem, e a valorização da contribuição, expressando os critérios
utilizados e se existe correspondência com valor nominal e, se for o caso, com o
prêmio de emissão das ações emitidas como contrapartida.

3) O valor dado à contribuição na escritura social não pode ser maior do que a
avaliação feita pelos peritos.

O perito responderá frente a sociedade, acionistas e credores dos danos causados pela
avaliação e será inocentado se provar que aplicou a diligência e os padrões do
desempenho que lhe foram atribuídos. A ação para impor essa responsabilidade será
prescrita aos quatro anos a partir da data do relatório. (Art. 68 do TRLSC)

As participações sociais em que se divida o capital da sociedade de responsabilidade


limitada devem ser totalmente assumidas pelos sócios, e totalmente desembolsado o
valor nominal de cada uma delas no momento da concessão da escritura de constituição
da sociedade ou da execução do aumento do capital social. (Art. 78 do TRLSC)

As ações, além de serem representadas como títulos de valor de participação social,


também podem ser representadas como anotações por conta e, em ambos os casos,

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terão a consideração de valores móveis, podendo ser nominativas ou ao portador. (Art.


92 do TRLSC)

▪ Os Órgãos Sociais:

O órgão principal da Sociedade Anônima é a Assembleia Geral, que é o órgão


responsável pelas decisões da empresa e dos administradores que executam as
decisões.

▪ A Assembleia Geral:

A Assembleia Geral dentro da sociedade anônima é a reunião de todos os sócios para


tomar decisões e discutir as ações da própria empresa.

Na assembleia, os acionistas decidem por maioria nos assuntos da jurisdição da


assembleia e todos os sócios, incluindo os dissidentes e aqueles que não tenham
participado da reunião, estarão sujeitos aos acordos da Assembleia Geral.

As assembleias devem ser devidamente convocadas pelo administrador e podem ter um


caráter ordinário ou extraordinário.

A Assembleia Geral ordinária, previamente convocada para o efeito, se reunirá


necessariamente nos primeiros seis meses de cada exercício, para censurar a gestão
social, aprovar as contas do ano anterior e decidir a aplicação do resultado.

Este tipo de assembleia será válido mesmo que tenha sido convocada ou celebrada fora
de prazo. (Art. 164 do TRLSC)

A convocação das assembleias ordinárias deve ser feita por meio de anúncio através do
Diário Oficial do Registro Mercantil e no site da empresa ou em um dos jornais mais lidos
na província com um mês de antecedência.

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O anúncio deve incluir a data da reunião e os assuntos a serem tratados. Também pode-
se acrescentar a data e a hora de uma segunda convocação, se for necessária, tendo em
conta que devem decorrer 24 horas entre a primeira e a segunda.

No caso das assembleias extraordinárias, os gestores podem convocá-las sempre que as


considerem apropriadas para os interesses sociais.

Deverão igualmente convocá-la quando seja solicitada pelos sócios que detenham pelo
menos um 5% do capital social, expressando na solicitação as questões a tratar na
assembleia. Neste caso, a Assembleia deverá ser convocada para ser realizada dentro
de dois meses da data em que foi requerido notarialmente a convocação aos
administradores.

Os administradores devem elaborar a agenda, incluindo as questões solicitadas. (Art.


168 do TRLSC)

A Assembleia Geral de acionistas será validamente constituída em primeira convocação


quando os acionistas presentes ou representados tiverem, pelo menos, 25% do capital
subscrito com direito de voto. Os estatutos podem estabelecer um quórum mais
elevado.

Em segunda convocação, a constituição da assembleia será válida independentemente


do capital concorrente, a menos que os estatutos estabeleçam um quórum
determinado, que, necessariamente, será inferior ao estabelecido ou exigido por lei
para a primeira chamada. (Art. 193 do TRLSC)

Para que a Assembleia Geral ordinária ou extraordinária possa concordar, de modo


válido, sobre o aumento ou redução do capital e qualquer outra modificação dos
estatutos sociais, a emissão de obrigações, a supressão ou limitação do direito de
aquisição preferencial de novas ações, bem como a transformação, a fusão, a divisão ou
a cessão total de ativos e passivos e a transferência de domicílio no estrangeiro, será
necessário, em primeira chamada, a concordância dos acionistas presentes ou

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DIREITO COMERCIAL

representados que tenham, pelo menos, 50% do capital subscrito com o direito de voto.
Em uma segunda convocatória será suficiente o acúmulo de 25% de tal capital.

No caso de só estar presentes acionistas que representem menos de 50% do capital


subscrito com o direito de voto, os acordos referidos nos parágrafos anteriores só
podem ser válidos com o voto favorável de dois terços do capital presente ou
representados na assembleia.

Os estatutos sociais podem elevar os quóruns e as maiorias previstas nos parágrafos


anteriores. (Art. 194 do TRLSC)

Limitações dos direitos de assistência e voto

1. Os estatutos poderão exigir, em relação a todas as ações,


independentemente da sua classe ou série, a existência de um número
mínimo para participar na Assembleia Geral, sem que, em nenhum caso, o
número exigido possa ser superior a um por mil do capital social.

2. Também poderá ser fixado o número máximo de votos que possa emitir
um mesmo acionista ou sociedade pertencente a um mesmo grupo.

3. Para o exercício do direito de assistência nas reuniões e votação, será lícito


o agrupamento de ações.

4. De acordo com os estatutos, o voto das propostas sobre os itens da ordem


do programa de qualquer tipo de Assembleia Geral pode ser delegado ou
exercido pelo acionista por correspondência postal, eletrônica ou qualquer
outro meio de comunicação a distância, desde que a identidade do sujeito
que exerce o seu direito de voto seja devidamente garantida.

5. Os acionistas que emitam os seus votos a distância serão tidos em conta


para efeitos de constituição da assembleia como presentes.

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▪ Gestores:

Os gestores das sociedades anônimas não precisam ser acionistas. Estes são eleitos pela
Assembleia Geral e sua designação é livremente revogável. A duração do cargo deve ser
fixada no estatuto social da empresa e não pode durar mais de seis anos.

Juntamente com o dever de gestão diligente, os gestores têm o dever de lealdade e


sigilo. Eles são proibidos de usar o nome da empresa e invocar o status de administrador
ou gestor, assim como tirar proveito das oportunidades de negócio, concorrência e
intervir nos acordos ou decisões relativas às operações em que possam existir conflitos
de interesse.

As responsabilidades do gestor estão incluídas nos Artigos 225 e 236 do TRLSC:

1) Os gestores responderão perante a empresa, contra os acionistas e credores


sociais sobre os danos que causem por atos ou omissões em não acordo com
a lei ou aos estatutos ou pelos que foram executados em violação das
funções inerentes ao desempenho do seu cargo.

2) Aquele que atue como gestor da sociedade irá responder pessoalmente


contra os acionistas e credores dos danos causados por atos em contradição
com a lei, estatutos ou por aqueles executados em violação dos deveres que
esta lei impõe a aqueles que formalmente detenham o status de
administrador.

3) Responderão solidariamente todos os membros do órgão diretivo que


realizaram o ato ou adotarem o acordo prejudicial, exceto aqueles que
provem que, não intervindo em sua adoção e execução, não estavam cientes
de sua existência ou, sabendo dela, fizeram o apropriado para evitar os danos
ou, pelo menos, expressaram a sua oposição.

4) Em caso algum, se exonerará de responsabilidade a circunstância de que o


ato ou o acordo lesivo ter sido adotado, autorizado ou ratificado pela
Assembleia Geral.

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DIREITO COMERCIAL

A posição de gestor é livre a menos que os estatutos o estabeleçam de outra forma. (Art.
217.1 do TRSLC)

No caso de existir remuneração, deverá ser estabelecida nos estatutos. Quando se trate
de uma participação nos lucros, só poderá ser retirada dos benefícios líquidos e depois
de ter sido cobertas as atenções da reserva legal e da estatutária e de ter reconhecido
aos acionistas um dividendo de 4% ou o tipo superior estabelecido nos estatutos.

A remuneração que consista na entrega de ações, de direitos de opção sobre eles ou


que seja referenciada no valor das ações, deve ser expressamente prevista nos estatutos
e seu pedido exigirá um acordo da Assembleia Geral de acionistas. O presente acordo
deve exprimir, se for caso disso, o número de ações a entregar, o preço de exercício dos
direitos de opção, o valor das ações tomadas como referência e a duração deste sistema
de remuneração. (Art. 219 do TRLSC)

Nas sociedades onde a administração é confiada a mais de duas pessoas, deve ser
constituído obrigatoriamente um Conselho de Administração que deverá ser constituído
por um mínimo de três membros. Os estatutos fixarão o número de membros de tal
Conselho (ou seu máximo e mínimo), correspondendo, neste caso, a assembleia de
sócios a determinação do número específico de seus componentes. (Art. 242 do TRLSC)

Os acordos do Conselho de Administração serão adotados por maioria absoluta dos


conselheiros presentes na sessão. (Art. 248 do TRLSC)

Por sua vez, as questões e os acordos do Conselho de Administração serão levados a um


livro de atas, a ser assinado pelo presidente e pelo secretário. (Art. 250 do TRLSC)

▪ As contas anuais:

Os gestores da sociedade estão obrigados a formular, no prazo máximo de três meses a


contar do final do exercício social, as contas anuais, o relatório de gestão e a proposta
de aplicação do resultado, assim como, se for caso, as contas e o relatório de gestão
consolidados.

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As contas anuais e o relatório de gestão deverão ser assinados por todos os


administradores. Se a assinatura de um deles estiver em falta, deve ser indicada em cada
um dos documentos em que esteja ausente, com indicação da causa. (Art. 253 do TRLSC)

O conteúdo das contas anuais das sociedades anônimas é regulado no Artigo 254 do
TRLSC:

1) As contas anuais devem incluir o balance, a conta de ganhos e perdas, um


estado que reflita as variações do patrimônio líquido do exercício, um estado
de fluxos de caixa e a memória.

2) Estes documentos, que formam uma unidade, devem ser claramente escritos
e mostrar a verdadeira imagem do patrimônio, a situação financeira e os
resultados da empresa, em conformidade com a presente lei e com as
disposições do código de comércio.

3) A estrutura e o conteúdo dos documentos que compõem as contas anuais se


ajustarão aos modelos aprovados nos termos do regimento.

O Artigo 257 do TRLSC permite que as empresas formularem contas de ganhos e


perdas abreviadas durante dois anos consecutivos, quando reúnam, na data de
encerramento de cada um, pelo menos duas das seguintes circunstâncias:

a. Que o número total de itens do ativo não exceda 11,4 milhões euros.

b. Que o montante líquido do seu volume de negócios anual não exceda 22,8
milhões euros.

c. Que o número médio de trabalhadores empregados durante o ano não seja


superior a 250.

As sociedades perderão o poder de formular contas de ganhos e perdas abreviadas se


não conseguirem coletar duas das circunstâncias referidas no parágrafo anterior
durante dois anos consecutivos.

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Porém, por sua vez, as contas anuais e, se for caso, o relatório de gestão deve ser revisto
pelos auditores.

A pessoa que deva exercer a auditoria de contas será nomeada pela Assembleia Geral
antes de que finalize o exercício a auditar, por um período inicial de tempo, que não
poderá ser inferior a três anos nem superior a nove, a se contar a partir da data em que
se inicie o primeiro exercício a ser auditado, sem prejuízo do disposto na normativa
reguladora da atividade de auditoria de contas com relação a possibilidade de
ampliação.

▪ Os estatutos:

Nos estatutos que regem o funcionamento das sociedades de capital serão registrados:

a) A denominação da empresa.

b) O objeto social, determinando as atividades que o integram.

c) A sede social.

d) O capital social, as ações ou participações em que está dividida, o seu valor


nominal e o seu número correlativo. Devem expor as classes de ações e a
série, se existirem; a parte do valor nominal pendente de desembolso, bem
como a forma e o período máximo em que satisfaz e se as ações são
representadas por título ou por meio de anotações em conta. Se forem
representados por meio de títulos, deve-se indicar se as ações são
nominativas ou ao portador e se a emissão de títulos múltiplos está prevista.

e) A forma ou modalidades de organização da administração da sociedade, o


número de administradores ou, pelo menos, o número máximo e mínimo,
bem como o mandato e o sistema de remuneração, caso haja.

f) O modo de deliberar e adotar seus acordos os corpos colegiados da


sociedade.

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As sociedades podem decidir alterar os seus estatutos. Estas alterações implicam uma
mudança nas regras que regiam a sociedade até então, pelo qual é exigido um relatório
elaborado pelos administradores para justificar a emenda proposta. As emendas ao
estatuto social são responsabilidade da Assembleia Geral.

O acordo de modificação deve ser feito em escritura pública e registrado na Junta


Comercial.

As modificações dos estatutos podem afetar as obrigações dos sócios aos quais será
exigido o seu consentimento para aprovação. Também podem afetar os direitos de uma
classe de ações direta ou indiretamente, porém, em ambos os casos, deve ser aprovado
na Assembleia Geral.

Mesmo assim, as alterações aos estatutos mais relevantes são aquelas que
correspondem ao aumento ou redução do capital.

✓ Aumento de capital:

O aumento do capital social pode ser feito através da criação ou emissão de novas ações
ou mesmo pela elevação do valor nominal das existentes.

Em todas estas situações, o aumento do capital pode ser feito a partir de novas
contribuições monetárias ou não monetárias para o patrimônio social, incluindo a
prestação de créditos contra a empresa, contra os benefícios ou reservas existentes no
último balance aprovado. (Art. 295 do TRLSC)

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A Assembleia Geral, com os requisitos estabelecidos para a modificação dos estatutos


sociais, poderá delegar aos administradores (Art. 297 do TRLSC):

a. O poder de salientar a data em que o acordo já adotado para aumentar


o capital social deve ter efeito na quantia acordada e fixar os termos
do mesmo em todas as disposições imprevistas do acordo da
Assembleia. O período para o exercício desta faculdade delegada não
pode exceder de um ano, exceto no caso de conversão de obrigações
em ações.

b. A capacidade de acordar em uma ou várias ocasiões o aumento do


capital social até um determinado valor na oportunidade e no
montante que eles decidam, sem consulta prévia à Assembleia Geral.
Em caso algum, estes aumentos serão superiores a metade do capital
da empresa no momento da autorização e devem ser efetuados por
contribuições monetárias no prazo máximo de cinco anos a partir do
acordo da Assembleia.

✓ Redução de capital:

No caso de redução de capital, este pode ser feito diminuindo o valor nominal das ações
por amortização ou agrupando o número exigido dessas. (Art. 317.2 do TRLSC)

Há várias razões pelas quais uma sociedade decide reduzir seu capital social. Os motivos
podem ser pela necessidade de ajustar um patrimônio inferior ao capital social que afeta
a aparência de solvência da sociedade que não corresponda com a realidade ou pode
ser o caso da empresa ter mais capital do que o necessário para realizar sua atividade.

O Artigo 318 do TRLSC indica que a redução do capital social deverá ser acordada pela
Assembleia Geral com os requisitos da modificação dos estatutos.

O acordo da Assembleia deve, no mínimo, exprimir o valor de redução do capital, o


objetivo da redução, o processo pelo qual a empresa deve realizá-lo, o período de
execução e o montante a ser pago, se for o caso, aos sócios.

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Nas reduções de capital, os sócios podem fazer uso do direto de oposição. A diminuição
do capital pode afetar os credores de uma forma negativa, porque eles podem receber
um valor menor para suas ações em comparação ao fornecido em seu momento,
sempre que a empresa decida retornar os montantes aos sócios. Se houver oposição, a
sociedade tem que garantir o retorno.

Mesmo assim, o Artigo 335 do TRLSC expõe os seguintes casos em que não é possível
desfrutar deste direito:

a. Quando a redução do capital tem o único propósito de restabelecer o


equilíbrio entre o capital e o patrimônio líquido da sociedade
diminuído em consequência de perdas.

b. Quando a redução se destina a constituir ou aumentar a reserva legal.

c. Quando a redução é feita com base em benefícios ou reservas livres


ou por meio de amortização de ações adquiridas pela sociedade
gratuitamente. Neste caso, o montante do valor nominal das ações
amortizadas ou a diminuição do valor nominal dos valores mobiliários
devem ser atribuídos a uma reserva a partir da qual só é possível ter
os mesmos requisitos que os exigidos para a redução do capital social.

▪ Sociedades de responsabilidade limitada

Conceito:

Na sociedade de responsabilidade limitada, também conhecida como sociedade


limitada (normalmente abreviado por LTDA. ou Ltda.), o capital que será dividido em
participações sociais, será integrado pelas contribuições de todos os sócios, que não
responderão pessoalmente às dívidas sociais. (Art. 1.2 do TRLSC)

Em sociedades de responsabilidade limitada ao contrário das sociedades anônimas, o


capital é dividido em ações que não estão sujeitas à transmissão livre como no caso das
ações.

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Podemos considerar que as sociedades limitadas misturam as caraterísticas das


sociedades capitalistas em termos de responsabilidade limitada ao patrimônio social e
as caraterísticas das sociedades pessoais incorporando elementos regulatórios de
relações pessoais entre um número mais limitado de sócios.

▪ Constituição:

Para a constituição das sociedades de responsabilidade limitada o capital mínimo deve


ser de 3.000€.

Como no caso das sociedades anônimas, as contribuições dos membros devem ser
economicamente avaliadas, mas ao contrário das contribuições em dinheiro, não é
necessário nenhum relatório de especialistas para os bens contribuídos.

A empresa deve registrar-se em escritura pública na Junta Comercial detalhando o que


cada parceiro contribui e a percentagem do respetivo capital social. Outra diferença com
as sociedades anônimas é que o registro de sociedades limitadas pode ser realizado de
maneira digital.

▪ Os órgãos

Igual que nas sociedades anônimas, os órgãos que formam as sociedades limitadas são
a Assembleia Geral e os administradores ou gestores.

Encontramos algumas diferenças básicas na regulamentação de sociedades limitadas e


das sociedades anônimas.

A Assembleia Geral nas sociedades limitadas tem o poder de instruir o órgão da


administração. De acordo com o Artigo 161 do TRLSC, salvo disposição contrária dos
estatutos, a Assembleia Geral da sociedade de responsabilidade limitada pode dar
instruções ao órgão diretivo ou submeter à autoridade a adoção por esse órgão de
decisões ou acordos sobre certas questões de gestão.

Por sua vez, as convocações da Assembleia Geral, são regidas pelos mesmos princípios
e obrigações daqueles já levantados quando estudamos as sociedades anônimas.
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DIREITO COMERCIAL

A tomada de decisões em sociedades limitadas é determinada pelos seguintes votos:

- Para a tomada de acordos ordinários é exigido metade mais um voto válido,


quando representem no mínimo um terço da votação total.

- Para aumentos ou reduções de capital e qualquer outra modificação dos


estatutos é preciso a metade mais um do total de votos.

- Para a autorização dos gestores para fazer concorrência, dois terços da votação
total.

- Para a supressão ou limitação do direito de preferência de aumento de capital,


dois terços dos votos.

- Para a transferência, fusão, cisão, cessão total do ativo e passivo e a


transferência da sede estatutária no estrangeiro, dois terços dos votos.

- Para a exclusão de sócios, dois terços dos votos.

A gestão de sociedades limitadas pode ser feita através de um único ou vários


administradores atuando em conjunto, de maneira solidária ou mesmo por meio de um
Conselho de Administração.

No Conselho de Administração, o número mínimo e máximo de componentes deve ser


fixado pela Assembleia Geral ou pelos estatutos.

As posições nas sociedades são de natureza indefinida, salvo que se indique o contrário
nos estatutos.

De acordo com o Artigo 210 do TRLSC, as formas de organização da administração em


sociedades limitadas são:

1. A administração da sociedade pode ser confiada a um único administrador, a


vários administradores que atuem em solidariedade ou em conjunto ou a um
Conselho de Administração.

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DIREITO COMERCIAL

2. Na sociedade de responsabilidade limitada, o estatuto social pode estabelecer


diferentes formas de organização da administração, atribuindo à Assembleia de
sócios o poder de optar por qualquer uma delas sem necessidade de modificação
estatutária.

3. Qualquer acordo que altere a forma de organizar a administração da


sociedade, suponha ou não uma mudança nos estatutos sociais, será inscrito em
escritura pública na Junta Comercial.

Na sociedade de responsabilidade limitada, se houver mais de dois administradores


conjuntos, o poder de representação deve ser exercido em conjunto pelo menos por
dois deles na forma especificada nos estatutos. (Art. 233.2 c TRSLC)

▪ Os estatutos:

Nas sociedades limitadas, a alteração dos estatutos não pode ser realizada pelos
administradores.

No caso de aumento de capital, são os sócios quem têm a preferência de adquirir novas
ações. Porém, vale ressaltar que este direito, ao contrário das sociedades anônimas, não
é transmissível a terceiros. É para as pessoas que, de acordo com o TRLSC ou os estatutos
da sociedade, podem livremente adquirir as participações sociais.

No caso de reduções de capital, de acordo com o Artigo 331 do TRLSC:

1. Os sócios a quem se tenha restituído parte ou o valor total das suas


contribuições responderão conjuntamente e perante a sociedade do pagamento
das dívidas sociais contratadas com antecedência à data em que a redução fosse
oponível a terceiros.

2. A responsabilidade de cada sócio é limitada ao montante do pagamento


recebido pela restituição da sua contribuição social.

3. A responsabilidade dos membros prescreve aos cinco anos a partir da data em


que a redução fosse oponível a terceiros.

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DIREITO COMERCIAL

4. No registro no Registro Mercantil da execução do acordo de redução, se deve


identificar a quem tenha sido restabelecida toda ou parte das contribuições
sociais ou, pelo menos, a declaração do organismo de administração de que foi
constituída a reserva referida no artigo seguinte.

O Artigo 332.1 recolhe a exclusão solidária dos sócios quando, no acordo de redução
pela restituição do conjunto ou parte do valor das contribuições sociais, seja fornecido
uma reserva com a carga aos benefícios ou as reservas livres por um montante igual ao
percebido pelos sócios na restituição da contribuição social.

▪ As participações:

As participações sociais na sociedade de responsabilidade limitada são partes alíquotas,


indivisíveis e cumulativas do capital social.

Cada participação social confere ao seu legítimo titular o estatuto de sócio e atribui-lhe
os direitos reconhecidos na lei do TRLSC e nos estatutos.

As participações sociais não podem ser representadas por meio de títulos ou anotações
em conta, nem se chamar ações e em nenhum caso deve ter o caráter de valores
mobiliários.

As participações, bem como as ações nas sociedades anônimas concedem vários


direitos aos sócios enumerados no Artigo 93 do TRLSC:

a) Participar na distribuição de ganhos sociais e no patrimônio resultante da


liquidação.

b) Adoção preferencial na criação de novas participações.

c) Participar e votar nas Assembleias Gerais e desafiar os acordos sociais.

d) Direito de informação.

As participações dão os mesmos direitos aos sócios mas é possível criar diferentes tipos
de participações nos estatutos. Ao contrário das ações das sociedades anônimas, as
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DIREITO COMERCIAL

participações podem dar um voto plural que implique uma mudança da proporção entre
a votação e o valor nominal da participação social.

As sociedades de responsabilidade limitada poderão criar participações sociais


sem direito a voto por um valor nominal não superior a metade do capital.
(Art. 98 TRLSC)

As transmissões das participações, assim como a titularidade de cada uma delas


precisam ser registradas no livro de registros. Isto pode ser consultado pelos sócios e
estará nas mãos do órgão da administração.

A transmissão das participações deverá aparecer em documento público e, ao contrário


das ações das sociedades anônimas, salvo disposição em contrário nos estatutos, a
transmissão voluntária será livre por atos inter vivos entre sócios, a favor do cônjuge,
ascendente ou descendente do sócio ou a favor de sociedades pertencentes ao mesmo
grupo que se transmite.

As regras que regem a transmissão voluntária inter vivos estão incluídas no Artigo 107
do TRLSC e são as seguintes:

a) O sócio que tencione transmitir as suas participações deverá comunicá-lo por


escrito aos administradores, detalhando o número e características das
participações que pretende transmitir, a identidade do adquirente, o preço e o
resto de condições de transmissão.

b) A transmissão será sujeita ao consentimento da sociedade, que terá que se


expressar por acordo da Assembleia Geral, após inclusão da matéria na ordem
do programa, adotada pela maioria ordinária estabelecida por lei.

c) A sociedade só poderá negar o consentimento se comunicar à parte


transmissora, através de tabelião, a identidade de um ou mais sócios ou de
terceiros que adquiram todas as participações. Nenhuma comunicação será
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DIREITO COMERCIAL

necessária ao cessionário se tiver participado na Assembleia Geral em que estes


acordos foram adotados. Os sócios concorrentes na Assembleia Geral terão
preferência de aquisição. Se houver vários sócios concorrentes interessados em
adquirir, as participações serão distribuídas entre eles em proporção à sua
participação no capital social.

Quando não for possível comunicar a identidade de um ou mais sócios ou de


terceiros adquirentes da totalidade das participações, a Assembleia Geral pode
concordar que é a própria sociedade quem deve adquirir as participações que
nenhum sócio ou terceiro aceito pela assembleia queira adquirir, conforme
previsto no Artigo 140.

d) O preço das participações, a forma de pagamento e outras condições da


transação serão os acordados e comunicados à empresa pelo sócio transmissor.
Se o pagamento de toda ou parte do preço for parcelado no projeto de
transmissão, para a aquisição das participações, será pré-requisito que uma
instituição de crédito garanta o pagamento do preço parcelado.

Nos casos em que a transmissão projetada tenha uma base dispendiosa distinta
da compra e venda ou a título gratuito, o preço de compra será fixado de comum
acordo entre as partes e, na falta disso, o justo valor das participações no dia em
que foi comunicado à sociedade o propósito de transmitir. Considera-se que o
valor razoável é determinado por um auditor de contas, diferente do auditor da
sociedade, designado para tal efeito pelos respetivos administradores. No caso
de contribuição para uma sociedade anônima ou em comandita por ações, o
valor real das participações será considerado como o resultado do relatório
elaborado pelo perito independente, designado pelo escrivão da Junta
Comercial.

e) O documento de transmissão pública será concedido no prazo de um mês a


partir da comunicação pela sociedade da identidade do(s) adquirente(s).

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DIREITO COMERCIAL

f) O sócio pode transmitir as participações nas condições comunicadas à


empresa, quando tenham decorrido três meses da informação do seu propósito
de transmitir sem que a sociedade lhe tenha comunicado a identidade do
adquirente ou adquirentes.

A lei do TRLSC também recolhe as transmissões de participações mortis causa e forçadas


nos artigos 109 e 110:

▪ Regime da transmissão obrigatória de participações sociais:

1. O embargo das participações sociais, em qualquer procedimento de


urgência, deve ser imediatamente notificado à sociedade pelo juiz ou pela
autoridade administrativa que o tenha decretado, emitindo a identidade do
embargador, assim como as participações embargadas. A sociedade realizará
a anotação do embargo no livro registro de sócios, encaminhando
imediatamente a todos os sócios uma cópia da notificação recebida.

2. Quando o leilão for realizado ou, no caso de qualquer outra forma de


alienação forçada legalmente prevista, ficará em suspenso a aprovação do
encerramento e a adjudicação das participações sociais embargadas no
momento antes da adjudicação. O juiz ou a autoridade administrativa
enviarão à sociedade o testemunho literal da ata de leilão ou o contrato de
adjudicação e, se for preciso, a adjudicação solicitada pelo credor. A
sociedade transferirá uma cópia deste testemunho a todos os sócios no
período máximo de cinco dias desde a sua recepção.

3. O leilão ou a adjudicação ao credor serão definitivos após um mês a contar


da recepção pela sociedade do testemunho referido no ponto anterior.
Enquanto não adquiram força, os sócios e, se inviável, e somente no caso em
que os estatutos estabeleçam em seu favor o direito de aquisição
preferencial, a sociedade, poderão fazer uma sub-rogação em lugar do
leiloeiro ou do credor, por meio da aceitação expressa de todas as condições
do leilão e da apropriação total do montante da venda ou, se for caso, da

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DIREITO COMERCIAL

adjudicação ao credor e de todas as despesas causadas. Se a sub-rogação


fosse exercida por vários sócios, as participações serão distribuídas em
proporção às respectivas partes sociais.

▪ Regime da transmissão mortis causa

1. A aquisição de qualquer participação social por sucessão hereditária


confere ao herdeiro ou legatário o estatuto de sócio.

2. Não obstante o disposto no parágrafo anterior, os estatutos podem


estabelecer a favor dos sócios sobreviventes ou a favor da própria sociedade
o direito de aquisição das participações do sócio falecido, avaliadas pelo justo
valor que possuam no dia da morte do sócio, cujo preço será pago em
dinheiro. A avaliação será regulada pelas disposições da presente lei para os
casos de separação dos sócios e o direito de aquisição será exercido no prazo
máximo de três meses a contar desde a comunicação para a sociedade da
aquisição hereditária.

▪ Sociedade unipessoal

A sociedade unipessoal pode ser originária, criada por um único sócio que responde suas
dívidas frente a terceiros com seu patrimônio e não com todo o patrimônio do sócio
único.

Também pode ser uma sociedade sobrevinda no caso de que todas as ações ou
participações sociais cheguem a estar na mãos de um único sócio. Porém, a situação de

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DIREITO COMERCIAL

caráter unipessoal deve ser registrada na Junta Comercial através de escritura pública,
deixando evidências da identidade do único sócio.

A sociedade deve registar o carácter impessoal desta através da própria documentação


da empresa, tais como faturas, correios, encomendas de fornecedores ou anúncios
publicados por disposição legal ou estatutária.

Caso, após 6 meses, o caráter unipessoal da empresa não esteja inscrito na Junta
Comercial, o sócio único deverá responder de forma pessoal, ilimitada e solidária com
as dívidas sociais geradas durante o período em que a sociedade realizou a sua atividade
com caráter unipessoal. Neste tipo de sociedade, apesar do fato de existir apenas um
sócio, os princípios de tomada acordos devem ser seguidos através da Assembleia Geral
e gerar as atas correspondentes.

Além disso, todos os contratos precisam ser registrados no livro de registros.

De acordo com o Artigo 16 do TRLSC:

1. Os contratos celebrados entre o sócio único e a sociedade serão por escrito


ou pela forma documental exigida pela lei em conformidade com a sua natureza
e figurarão em um livro-registro da sociedade que será legalizado em
conformidade com as disposições do Livros de atas das sociedades. A memória
anual fará referência explícita e individual a estes contratos, indicando a sua
natureza e condições.

2. Em caso de concordata do sócio único ou da sociedade, não serão oponíveis à


massa os contratos incluídos no ponto anterior que não tenham sido transcritos

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DIREITO COMERCIAL

no livro-registro e que não sejam referenciados na memória anual ou tenham


estado na memória não depositada de acordo com a lei.

3. Durante o período de dois anos a partir da data da celebração dos contratos


referidos no primeiro ponto, o sócio único responderá à sociedade das
vantagens que, direta ou indiretamente, tenha obtido como consequência de
tais contratos.

2.2.3. DISSOLUÇÃO E LIQUIDAÇÃO DAS SOCIEDADES DE CAPITAL

O TRLSC estabelece dos Artigos 360 ao 364 as razões e causas pela qual uma sociedade
de capital pode ser dissolvida. Dentro dessas causas as únicas que agem imediatamente
são as de pleno direito.

Dissolução de pleno direito:

1) Durante a vigência do prazo fixado nos estatutos, a menos que tenha sido
expressamente prorrogado e inscrita a prorrogação na Junta Comercial.

2) No decurso de um ano desde a adoção do acordo para reduzir o capital social


abaixo do mínimo legal em consequência do cumprimento de uma lei, se a
transformação ou dissolução da sociedade não tiver sido registrada na Junta
Comercial ou o aumento do capital social para um montante igual ou superior
ao mínimo legal.

3) A abertura da fase de liquidação na concordata com os credores produzirá a


total dissolução da empresa.

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DIREITO COMERCIAL

Causas de dissolução

a) Pela cessação no exercício da(s) atividade(s) que constituem o objeto social.


Em especial, se deve entender que a cessação ocorrerá após um período de
inatividade de mais de um ano.

b) Pela conclusão da empresa que constitui o seu objeto.

c) Pela manifesta impossibilidade de alcançar o fim social.

d) Pela paralisia dos órgãos sociais de tal forma que seja impossível o seu
funcionamento.

e) Pelas perdas que deixem os ativos líquidos reduzidos a um montante inferior


a metade do capital social, a menos que seja aumentado ou reduzido de forma
suficiente, e desde que não seja adequado solicitar a declaração de concordata.

f) Por uma redução do capital social abaixo do mínimo legal e que não seja como
consequência do cumprimento de uma lei.

g) Porque o valor nominal das participações sociais ou das ações sem voto tenha
ultrapassado a metade do capital social pago e a proporção não tenha sido
restabelecida no prazo de dois anos.

h) Por qualquer outra causa estabelecida nos estatutos.

A sociedade em comandita por ações será igualmente dissolvida por morte, cessação,
incapacidade ou abertura da fase de liquidação na concordata com os credores de todos
os sócios coletivos, salvo que, no prazo de seis meses e por modificação dos estatutos,
se incorpore um sócio coletivo ou se acorde a transformação da sociedade em um outro
tipo social.

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DIREITO COMERCIAL

A dissolução da sociedade deve ser registrada na Junta Comercial e o escrivão comercial


enviará, de maneira digitalizada e sem custo adicional, a inscrição da dissolução para o
BORME (Boletín Oficial del Registro Mercantil) para a sua publicação.

A dissolução da empresa abre o período de liquidação. Durante este período, os


administradores cessarão o cargo e perderão o poder de representação.

Caso seja necessária a colaboração dos administradores, eles deverão auxiliar nas
operações de liquidação.

O Artigo 376 do TRLSC estipula que, salvo especificação em contrário dos estatutos ou,
na eventualidade da nomeação dos liquidantes pela Assembleia Geral de sócios que
concorde com a dissolução da empresa, os que são administradores no momento da
dissolução da sociedade se transformarão em liquidantes. E nos casos em que a
dissolução teria sido o resultado da abertura da fase de liquidação da empresa na
concordata de credores, os liquidantes não serão nomeados.

Após a conclusão das operações de liquidação, os liquidantes deverão submeter à


aprovação da Assembleia Geral um balanço final, um relatório completo sobre essas
operações e um projeto para a divisão do ativo resultante entre os sócios.

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DIREITO COMERCIAL

Ainda vale ressaltar que o acordo de aprovação poderá ser impugnado pelos sócios que
não tenham votado a favor do mesmo, no prazo de dois meses a contar da data da sua
adoção. (Art. 390 do TRLSC)

Os liquidantes na Junta Comercial outorgarão escritura pública de extinção da


sociedade que conterá as seguintes manifestações:

a) Que transcorreu o prazo para a impugnação do acordo de aprovação do


balance final sem qualquer impedimento contrário ou que a decisão atingida seja
veemente.

b) Que está feito o pagamento dos credores ou a apropriação das suas dotações.

c) Que foi paga aos sócios a taxa de liquidação.

Na escritura pública será acrescentado o balance final de liquidação e a relação dos


sócios, indicando a identidade e o valor da taxa de liquidação que teria correspondido a
cada um. (Art. 395 do TRLSC)

2.2.4. OUTRAS SOCIEDADES

▪ Cooperativas

As cooperativas são reguladas pela Lei de cooperativas de 16 de julho de 1999 (LCoop)


e por aquelas leis da região a qual pertencem.

Esta lei define as cooperativas como uma empresa constituída por pessoas que se
associam, em regime de livre adesão e licença voluntária, para a realização de atividades
empresariais destinadas a satisfazer as suas necessidades e aspirações econômicas e
sociais, com estrutura e funcionamento democrático, de acordo com os princípios
formulados pela aliança cooperativa internacional.

A sua constituição é através de escritura pública e deve ser registrada no Registro de


Sociedades Cooperativas, o que lhes dá personalidade jurídica.
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DIREITO COMERCIAL

As cooperativas podem ser de duas classes, tendo forma de primeiro ou segundo grau:

▪ De primeiro grau:

- Cooperativas de trabalho associado.

- Cooperativas de consumidores e utilizadores.

- Cooperativas habitacionais.

- Cooperativas agroalimentares.

- Cooperativas de exploração comunitária da terra.

- Cooperativas de serviços.

- Cooperativas do mar.

- Cooperativas de transportes.

- Cooperativas de seguros.

- Cooperativas sanitárias.

- Cooperativas de ensino.

- Cooperativas de crédito.

As cooperativas poderão ser qualificadas de segundo grau nos estatutos de acordo


com a classificação do apartado anterior, desde que todas as cooperativas sócias
pertençam à mesma classe, acrescentando nesse caso o termo "segundo grau". (Art.
6.2 LCoop)

Uma das diferenças entre as classes de cooperativas é que as cooperativas de primeiro


grau devem ser constituídas com um mínimo de 3 sócios (a menos que a própria lei do
território marque outros mínimos). Por outro lado, as cooperativas de segundo grau
devem ser constituídas por um mínimo de duas cooperativas.

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DIREITO COMERCIAL

Os órgãos das cooperativas são formados:

✓ Pela Assembleia Geral composta pelos sócios que deliberam e adotam os


acordos.

✓ Pelos conselho reitor que gere e representa a cooperativa.

✓ Pela intervenção que é responsável pela censura das contas.

Além disso, pode ser recolhido nos estatutos um quarto órgão chamado "Comitê de
Recursos" que se encargaria das impugnações aos acordos do conselho reitor.

Uma das principais características das cooperativas é a obrigação de estabelecer um


Fundo de Reserva Obrigatório e um Fundo de Educação e Promoção.

Estes fundos respondem a finalidade principal de ajuda para as necessidades comuns,


uma vez que 20% dos excedentes devem ser atribuídos ao Fundo de Reserva e 5% ao
Fundo de Educação e Promoção.

O fundo de reserva obrigatório se destina a consolidação, desenvolvimento e


garantia da cooperativa e não é distribuível entre os sócios.
(Art. 55 LSCoop)

De acordo com o Artigo 56 da LScoop, o Fundo de Educação e Promoção será atribuído,


em conformidade com as linhas básicas estabelecidas pelos estatutos ou pela
Assembleia Geral, às atividades que satisfaçam um dos seguintes fins:

a) A formação e educação dos seus sócios e trabalhadores em princípios e


valores cooperativos, em questões específicas de sua atividade corporativa
ou de emprego e outras atividades cooperativas.

b) A difusão do cooperativismo, bem como a promoção de relações de


intercooperação.

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c) A promoção cultural, profissional e de assistência do ambiente local ou da


comunidade em geral, assim como a melhoria da qualidade de vida e do
desenvolvimento da comunidade e as ações de proteção ambiental.

▪ Sociedades de garantia recíproca

As sociedades de garantia recíproca (S.G.R.) foram criadas para ajudar as pequenas e


médias empresas (PME) a acederem a um financiamento adequado as suas
possibilidades.

Essas empresas, com escasso capital social, sofrem a limitação de acesso ao mercado de
capitais, o que reduz sua capacidade de expansão e capacidade de crescimento.

Dessa forma, as S.G.R. garantem que as PMEs possam aceder ao financiamento


bancário, facilitam o acesso a linhas privilegiadas de financiamento e permitem que as
empresas obtenham melhores créditos no mercado.

Elas também fornecem ao empresário assessoramento e serviços de informação sobre


os instrumentos financeiros que melhor se adaptam em função das necessidades
existentes.

É um objeto social exclusivo que permite ao empresário beneficiar-se da confiança da


entidade que concede o crédito ou empréstimo.

Neste tipo de sociedade, os sócios não respondem pelas dívidas sociais, têm
consideração de entidade financeira e pelo menos quatro quintos dos seus sócios
devem ser integrados por pequenas e médias empresas.

O capital social mínimo das sociedades de garantia recíproca não pode ser inferior a
10.000.000€ e os recursos próprios quantificáveis não podem ser inferiores a
15.000.000€.

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DIREITO COMERCIAL

▪ Sociedades profissionais

As sociedades profissionais são aquelas que têm como objetivo social o exercício em
comum de uma atividade profissional para cujo desempenho é exigida uma qualificação
oficial da Universidade ou qualificação profissional, e inscrição no colégio profissional
correspondente. (Art. 1 LSP)

As sociedades profissionais podem adotar qualquer forma prevista nas leis: sociedade
civil, sociedade anônima, limitada e cooperativa, entre outras formas. Dessa maneira,
seus sócios deverão responder às dívidas sociais de acordo com a forma adotada.

▪ Entidades de capital de risco

As entidades de capital de risco são entidades criadas para ajudar às sociedades que
realizam sua atividade em mercados de alto risco, pouco conhecidos ou estabelecidos.

Podem ser entidades do poder público que ajudam às empresas locais, injetando capital
inicial, a fim de incentivar o início de sua atividade.

As entidades de capital de risco estão formadas pelas sociedades e seus fundos. O objeto
social destas é o investimento temporário no capital das empresas não financeiras, que
não estão submetidas a cotação, com a ideia de ajudar tais empresas no momento
introdutório da sua atividade e uma vez que estas estejam estabelecidas, liquidar o
investimento, vendendo suas ações ou participações.

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DIREITO COMERCIAL

3. DIREITO FALIMENTAR

O direito falimentar responde à necessidade de resolver um problema básico entre a


situação de um devedor com vários credores quando não se pode enfrentar o conjunto
das suas dívidas.

A situação de não ser capaz de enfrentar as dívidas pode ser dada pela falta de liquidez
do devedor, apesar de ser solvente a nível contábil ou por ser insolvente; situação que
ocorre quando o seu ativo é menor que o seu passivo.

Perante estas situações, pode ser aberto um processo judicial que permita que todas as
dívidas do devedor sejam satisfeitas ao mesmo tempo e conjuntamente com os
credores. Este processo é muito frequente na Espanha e se chama concurso de
acreedores. No Brasil, tradicionalmente era conhecido como concordata, mas desde a
aprovação da Lei de Falências, promulgada em 2005, passou a ser chamado de processo
de recuperação judicial.

Este processo impede que os credores menos informados sejam prejudicados no caso
de alguns recolherem as dívidas antes que outros.

O processo judicial faz com que todos os credores estejam sujeitos às mesmas
condições. Destacamos ainda que este assunto de igualdade é chamado “par condicio
creditorum” (igualdade de condição dos credores).

O direito falimentar permite, além de uma certa igualdade entre os credores, uma
maximização do patrimônio para o devedor, uma vez que no processo judicial são
avaliadas as possibilidades de pagamento para fazer possível que o devedor possa
continuar a gerar recursos para pagar as dívidas e assim continuar a gerir a sua empresa.

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DIREITO COMERCIAL

3.1. DECLARAÇÃO DE FALÊNCIA

Qualquer pessoa singular ou coletiva, e mesmo entidade sem personalidade jurídica,


que esteja em situação de insolvência ou que não possa cumprir regularmente com as
obrigações exigidas, pode ser declarada em falência.

Os requisitos para a declaração de falência são:

1. Embargo malsucedido de bens.

2. Arquivamento geral nos pagamentos.

3. Embargo generalizado dos bens do devedor.

4. Elevação de bens ou liquidação.

5. Incumprimento durante 3 meses do pagamento das obrigações fiscais, dos


salários ou da Segurança Social*.

O pedido de recuperação judicial pode ser efetuado pelo devedor ou pelo credor. No
caso de ser o devedor quem faz o pedido, falamos de "processo voluntário", enquanto
se o pedido é feito pelo credor é chamado de "processo necessário".

No pedido de recuperação judicial é preciso alegar as informações necessárias para


comprovar a insolvência e o juiz deverá dar às partes uma audiência quando
comprovarem que os requisitos legais são cumpridos.

Se a recuperação judicial for aceita e declarada, o ato será publicado no BOE (Boletín
Oficial del Estado) e será lavrado no registro público de falências (Registro Público
Concursal, na Espanha), assim como nos registros civis, comerciais ou de propriedade
de acordo com a forma jurídica da pessoa que precisa fazer o processo de recuperação
judicial.

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DIREITO COMERCIAL

3.2. A ADMINISTRAÇÃO DE FALÊNCIAS

São membros da administração de falência, nomeados pelo juiz na altura da


declaração da recuperação judicial:

- Um advogado ativo com experiência mínima de 5 anos.

- Um economista, auditor de contas ou graduado comercial com experiência


mínima de 5 anos.

- Um credor comum ou com um privilégio geral.

A escolha dos três profissionais pode ser por sorteio ou por escolha do juiz, selecionados
através das listas fornecidas anualmente ao juiz pelos colégios profissionais com os
membros que cumpram os requisitos necessários.

O Artigo 28 da lei de falências, cuja última revisão tem vigência desde 1 de janeiro de
2016, recolhe as seguintes incapacidades para ser nomeado administrador de
falências:
a) Aqueles que não podem ser administradores de sociedades anônimas ou de
responsabilidade limitada.

b) Aqueles que forneceram qualquer tipo de serviços profissionais para o devedor


ou pessoas especialmente relacionadas com ele nos últimos três anos, incluindo
aqueles que durante esse tempo tenham compartilhado com ele o exercício de
atividades profissionais da mesma natureza ou natureza diferente.

c) Aqueles que, sendo registrados na quarta seção do registro público de falência,


se encontrem, independentemente do seu estatuto ou profissão, em qualquer
uma das situações referidas no Artigo 13 do Decreto legislativo real 1/2011, de
1 de julho, pelo qual foi aprovado o Texto Revisto da Lei de Auditoria de Contas,
em relação ao devedor, seus diretores ou administradores, ou com um credor
que represente mais que 10 por cento da massa passiva do concurso.

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DIREITO COMERCIAL

d) Aqueles que estejam especialmente relacionados com uma pessoa que tenha
fornecido qualquer tipo de serviços profissionais para o devedor ou pessoas
especialmente relacionadas com este nos últimos três anos.

e) Pessoas que tenham sido designadas para tal encargo pelo mesmo tribunal em
três concordatas nos dois anos precedentes. Para o efeito, as nomeações
efetuadas em recuperações judiciais de sociedades pertencentes ao mesmo
grupo de sociedades serão calculadas como uma unicamente.

f) Aqueles que teriam sido separados desta posição nos últimos três anos ou
aqueles declarados inaptos por sentença transitada em julgado de desaprovação
de contas em uma concordata anterior.

g) Com exceção das pessoas coletivas registradas na quarta seção do registro


público de falência, não poderão ser nomeados administradores de falência na
mesma concordata os que estejam ligados entre si pessoalmente ou
profissionalmente.

h) Não poderá ser nomeado administrador de falência quem, como um perito


independente, tenha emitido o relatório em relação com um acordo de
refinanciamento que o devedor teria alcançado antes da sua declaração de
falência.

As funções dos administradores de falência estão incluídas no Artigo 33 da Lei e são


as seguintes:

▪ De caráter processual:

1. Exercer a ação contra o sócio ou sócios pessoalmente responsáveis pelas


dívidas anteriores à declaração da concordata.

2. Exercer as ações de responsabilidade da pessoa coletiva em processo de


concordata contra os seus administradores, auditores ou liquidantes.

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DIREITO COMERCIAL

3. Solicitar o embargo dos ativos e dos direitos dos administradores,


liquidantes, de fato ou de direito, procuradores gerais e dos que tiveram esta
condição nos dois anos anteriores à data de declaração da concordata, bem
como dos sócios responsáveis pelas dívidas da empresa anteriores ao início
da concordata.

4. Solicitar, se for necessário, o levantamento e o cancelamento dos


embargos quando a manutenção dos mesmos dificulte severamente a
continuidade da atividade profissional ou empresarial da sociedade em
concordata, com exceção dos embargos administrativos, com os que não
poderá ser acordado o levantamento ou cancelamento.

5. Enfraquecer a ação de despejo exercida contra o devedor antes do início


da concordata, bem como reabilitar a validade do contrato de locação.

6. Exercitar as ações rescisórias e outras ações de impugnação.

7. Solicitar a execução da sentença se o juiz tivesse condenado os


administradores, procuradores ou sócios para cobrir o déficit.

8. Solicitar a transformação do procedimento abreviado em procedimento


ordinário ou um procedimento ordinário em abreviado.

9. Substituir o devedor nos processos judiciais em andamento.

10. Exercitar as ações de natureza não-pessoal.

▪ Próprias do devedor ou dos seus órgãos administrativos:

1. Efetuar, até a aprovação judicial do acordo ou a abertura da liquidação, os


atos de disposição considerados essenciais para garantir a viabilidade da
empresa ou as necessidades de tesouraria requeridas para manter a
continuidade da concordata.

2. Ajudar aos órgãos colegiados da pessoa coletiva em falência.

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DIREITO COMERCIAL

3. Realizar os atos de disposição que não sejam necessários para a


continuidade da atividade quando se apresentem ofertas que coincidam
substancialmente com o valor dado no inventário.

4. Solicitar ao juiz da concordata a revogação da nomeação do auditor de


contas e a nomeação de outro para a verificação das contas anuais.

5. Assumir, após a atribuição judicial, o exercício dos direitos políticos que


correspondam ao devedor em outras entidades.

6. Reivindicar o desembolso das contribuições sociais que tenham sido


adiadas.

7. Reabilitar os contratos de empréstimo e outros contratos de crédito a


favor, cuja maturidade antecipada devido ao não pagamento das quotas de
amortização ou de taxas de juros acumuladas tenha ocorrido no prazo de
três meses antes da declaração de concordata, sempre que ocorram as
condições do Artigo 68.

8. Reabilitar os contratos de aquisição de bens móveis ou imóveis com


compensação ou preço parcelado, cuja resolução tenha ocorrido no prazo de
três meses antes da declaração de concordata.

9. Solicitar autorização para que o administrador incapacitado possa


continuar à frente da empresa.

10. Convocar a Assembleia de sócios para a nomeação daqueles que tenham


que cobrir as vagas dos incapacitados.

11. Conceder ao devedor a conformidade para interpor demandas ou


recursos, desimpedir, transigir ou desistir quando a matéria litigiosa possa
afetar seu patrimônio, exceto em ações de natureza não-pessoal.

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DIREITO COMERCIAL

12. Na concordata necessária, substituir os poderes de administração e


disposição sobre o patrimônio do devedor, em conformidade com o disposto
no Artigo 40,2 e nomeadamente:

a) Tomar as medidas necessárias para a continuação da atividade


profissional ou empresarial.

b) Formular e auditar as contas anuais.

c) Solicitar ao juiz que resolva os contratos com obrigações recíprocas


pendentes de cumprimento, se for considerado apropriado para o
interesse da concordata.

d) Apresentação de declarações e autoliquidações fiscais.

13. Na concordata voluntária, intervir as faculdades de administração e de


disposição sobre o patrimônio do devedor, em conformidade com o disposto
no Artigo 40,1 e, nomeadamente:

a) Supervisar a formulação das contas.

b) Determinar e autorizar as ações ou operações monetárias e


comerciais necessárias para a continuidade da atividade.

c) Autorizar ou confirmar os atos de administração e disposição do


órgão de administração.

d) Conceder ao devedor a autorização para desistir, desimpedir total


ou parcialmente e transigir litígios quando a matéria litigiosa possa
afetar seu patrimônio.

e) Autorizar a interposição de processos judiciais.

f) Apresentação de declarações e auto liquidações fiscais.

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DIREITO COMERCIAL

▪ Em matéria laboral:

1. Executar as decisões judiciais vigentes à data da declaração de concordata


sobre os dossiês para a modificação substancial das condições de trabalho
de natureza coletiva.

2. Pedir ao juiz do processo a modificação substancial das condições de


trabalho e a extinção ou suspensão coletiva dos contratos de emprego em
que a sociedade em falência seja o empregador.

3. Intervir nos processos sobre a modificação substancial das condições de


trabalho de natureza coletiva iniciada durante o processo de recuperação
judicial e, se for preciso, chegar a um acordo com os representantes dos
trabalhadores.

4. Extinguir ou suspender os contratos com o pessoal de gerência sênior.

5. Solicitar ao juiz que o pagamento das indenizações decorrentes dos


contratos de alta gestão seja adiado até que a sentença transitar no julgado.

▪ Relativas aos direitos dos credores:

1. Alterar a ordem de pagamento de créditos contra a massa quando se


considere adequado.

2. Elaborar a lista de credores, determinar a inclusão ou exclusão na lista de


credores dos créditos apresentados no procedimento, resolver a inclusão de
novos créditos na lista definitiva dos credores e relatar a inclusão de novos
créditos na lista dos credores definitivos antes da adoção da proposta de
acordo.

3. Solicitar a abertura da fase de liquidação em caso de cessação da atividade


profissional ou empresarial.

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DIREITO COMERCIAL

4. Comunicar aos titulares de créditos com privilégio especial que escolhe


atender a seu pagamento contra a massa e sem realização dos bens e dos
direitos envolvidos.

5. Pedir ao juiz que mantenha as taxas em caso de venda dos bens envolvidos
em privilégio especial.

6. Solicitar ao juiz que faça pagamentos regulares de créditos ordinários


antecipadamente quando o pagamento dos créditos contra a massa e os
privilegiados estiver suficientemente coberto.

▪ Funções do relatório e avaliação:

1. Apresentar ao juiz o relatório previsto.

2. Realizar o inventário da massa ativa.

3. Propor ao juiz a nomeação de peritos independentes.

4. Avaliar o conteúdo da proposta prevista para o acordo.

5. Fazer a lista de credores e inventários definitivos.

6. Avaliar o conteúdo do acordo, em relação ao plano de pagamento e, se for


o caso, com o plano de viabilidade que o acompanhe.

7. Informar sobre a venda como um todo da empresa do devedor.

8. Apresentar ao juiz do processo falimentar os relatórios trimestrais sobre o


estado das operações de liquidação e um relatório final que justifique as
operações realizadas na liquidação.

9. Apresentar ao juiz um relatório fundamentado e documentado sobre os


fatos relevantes para a qualificação do processo de recuperação judicial, com
proposta de resolução: culpado ou fortuito.

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DIREITO COMERCIAL

10. Informar antes de que o juiz concorde a conclusão do processo


falimentar pelo pagamento de todos os créditos ou por renúncia de todos os
credores reconhecidos.

11. Atualizar o inventário e a lista de credores formados no processo em caso


de reabertura.

▪ Funções de realização de valor e liquidação:

1. Substituir os administradores ou liquidantes quando a fase de liquidação


for aberta.

2. Apresentar ao juiz um plano de liquidação para a realização dos ativos e


direitos integrados na massa ativa do processo.

3. Solicitar ao juiz a venda direta de bens que afetam a créditos com privilégio
especial.

▪ Funções de secretariado:

1. Comunicação eletrônica da declaração do processo de recuperação


judicial para a Agência Estatal da Administração Tributária e para a
Tesouraria Geral da Segurança Social.

2. Comunicar aos credores a declaração do processo e a obrigação de


comunicar os seus créditos.

3. Notificar aos credores a lista de credores provisórios.

4. Receber as comunicações de créditos dos credores.

5. Auxiliar o escrivão do Tribunal no Conselho de credores ou presidi ir a


mesma quando o juiz concordar.

6. Participar no Conselho de credores.

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DIREITO COMERCIAL

7. Informar da declaração do processo aos credores conhecidos que tenham


a sua residência habitual, domicílio ou sede no estrangeiro.

8. Solicitar a publicidade no estrangeiro da declaração e outros atos do


procedimento quando concordar com os interesses do processo falimentar.

9. Exigir a tradução dos escritos de comunicação de créditos de credores


estrangeiros.

10. Realizar as comunicações de maneira digital previstas na lei.

▪ E quaisquer outros que esta ou outras leis lhe atribuam.

3.3. EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE FALÊNCIA SOBRE O DEVEDOR

No caso de uma proposta voluntária, o devedor conserva as faculdades de


administração e disposição do seu patrimônio, sempre que os administradores de
falências cedam a sua autorização ou conformidade.

No caso de um processo falimentar necessário, as faculdades de administração e


disposição sobre o seu patrimônio serão suspensas e substituídas pelos administradores
de falência.

3.4. EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE FALÊNCIA SOBRE OS CREDORES

Uma vez declarada a falência, um dos seus efeitos mais importantes é o fato de que
desaparece a possibilidade de iniciar um processo legal para recuperar as dívidas e ações
em suspenso.

Todos os credores do devedor, ordinários ou não, serão integrados na massa passiva do


concurso.

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DIREITO COMERCIAL

No caso em que a pessoa envolvida no processo de falência esteja casada em regime de


comunhão de bens, os créditos contra o cônjuge do participante serão integrados na
massa passiva, que também são créditos de responsabilidade da empresa ou
comunidade conjugal.

No Artigo 56 da Lei da falência, reconhece-se que os credores com garantia real sobre
os bens do participante que sejam necessários para a continuidade da sua atividade
profissional ou empresarial, não poderão iniciar a execução ou a realização obrigatória
da garantia até a aprovação de um acordo cujo conteúdo não afete o exercício deste
direito ou a partir de um ano do início da recuperação judicial sem que houver abertura
da liquidação.

Em especial, as ações ou participações de sociedades destinadas exclusivamente a


exploração de um ativo e do passivo necessário para o seu financiamento não serão
consideradas necessárias para a continuação da atividade, desde que a execução da
garantia constituída sobre elas não implique causa de resolução ou modificação das
relações contratuais que permitam ao participante manter a exploração do ativo.

3.5. EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE FALÊNCIA SOBRE OS CONTRATOS

No caso dos contratos, os que são de âmbito laboral podem ser rescindidos (despedido
coletivo) ou podem ser substancialmente modificadas as condições de trabalho
(redução do dia, horários flexíveis e redução de salários, entre outros).

Os contratos pendentes de execução no momento da declaração de falência


permanecerão em vigor.

Nos contratos celebrados pelo devedor, quando, no momento da declaração de


falência, uma das partes tenha cumprido as suas obrigações na íntegra e a outra tenha
pendente o cumprimento total ou parcial dos acordos recíprocos ao seu encargo, o
crédito ou a dívida que corresponda ao devedor será incluído, consoante o caso, na
massa ativa ou no passivo do concurso. (Art. 61.1 LCon)

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DIREITO COMERCIAL

No entanto, a administração de falências, em caso de suspensão, ou o participante, em


caso de intervenção, pode solicitar a resolução do contrato, se for considerado o mais
adequado para o interesse do processo de recuperação judicial.

3.6. DECLARAÇÃO DA MASSA ATIVA DO PROCESSO DE FALÊNCIA

Após a fase de declaração de falência, a massa ativa e passiva deve ser determinada
para avaliar a situação da empresa.

A massa ativa do processo é constituída pelos ativos e direitos integrados no patrimônio


do devedor até a data da declaração de falência e daqueles que são reintegrados ou
adquiridos até a conclusão do procedimento.

A massa ativa será inventariada para determinar o seu valor, excluindo os bens não
embargáveis que não podem ser parte dela.

No caso das propriedades conjugais, a massa ativa incluirá os ativos e os direitos


próprios ou privativos da pessoa em causa.

O Artigo 77.2 da Lei de falências recolhe a respeito dos bens conjugais que se o regime
econômico do matrimônio fosse o de comunhão de bens, serão incluídos os bens
conjugais ou comuns quando estes devam responder de obrigações do falido.

Neste caso, o cônjuge do falido pode solicitar a dissolução da sociedade civil ou da


comunidade conjugal e o juiz deverá concordar com a liquidação ou divisão da
propriedade que será realizada de forma coordenada com o resultado do acordo ou da
liquidação do processo falimentar.

3.7. DECLARAÇÃO DA MASSA PASSIVA NO PROCESSO DE FALÊNCIA

Para determinar a massa passiva no processo de falência é preciso diferenciar entre os


créditos de falência e os créditos contra a massa.

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DIREITO COMERCIAL

É preciso fazer parte dos créditos em geral na data do pedido de recuperação judicial
todos os credores que constem na lista de credores aderida ao relatório da
administração de falências.

Os créditos são aqueles que convocam o conselho de credores e participam na fase de


liquidação, enquanto os créditos contra a massa são aqueles que surgem a partir das
despesas, obrigações contraídas pela administração de falências, etc.

A administração de falências deve elaborar uma lista de créditos, que, se não for
contestada por credores ou terceiros, será considerada definitiva.

Para elaborar a lista de créditos, deve-se abrir um período de comunicação de créditos


no qual os credores podem apresentar seus créditos e a documentação necessária para
demonstrar o seu valor, existência e graduação.

Nesta lista, os créditos devem ser classificados de acordo com os Artigos 90, 91 e 92
da Lei de falência em:

a) Créditos com privilégio especial:

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DIREITO COMERCIAL

1. Os créditos garantidos com uma hipoteca voluntária ou legal, bens


imobiliários ou propriedades, sobre os bens ou direitos hipotecados ou
empenhados.

2. Os créditos garantidos em consignação, sobre os frutos da propriedade


tributada.

3. Os empréstimos de renovação, sobre os bens remodelados, incluindo os


dos trabalhadores sobre os objetos produzidos por eles, enquanto são de
propriedade ou estão em posse do participante.

4. Os créditos para as taxas de locação financeira ou os termos de venda com


preço parcelado de bens móveis ou imóveis, em favor dos senhorios ou
vendedores e, se for o caso, dos financistas, sobre a propriedade arrendada
ou vendida com reserva de domínio, com proibição de descarte ou com
cláusula de rescisão em caso de não pagamento.

5. Os créditos com garantia de valores representados por meio de notas em


conta, sobre os valores tributados.

6. Os créditos garantidos com penhor constituído em documento público,


sobre os bens ou direitos empenhados que estão na posse do credor ou de
um terceiro. No caso de um penhor de crédito, é suficiente registrar um
documento com uma data válida para desfrutar do privilégio sobre os
créditos empenhados. O penhor de dotações futuras só deve dar privilégios
especiais aos créditos nascidos antes da declaração de falência, assim como
para as dotações que tenham nascido após esta declaração, quando, nos
termos do Artigo 68, sejam reabilitados ou quando o penhor fosse registrado
em um registro público antes da declaração de falência.

b) Créditos com privilégio geral:

1. Os créditos por salários que não tenham um privilégio especial, na quantia


resultante da multiplicação do triplo do salário mínimo pelo número de dias

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DIREITO COMERCIAL

de salários pendentes de pagamento, as indenizações resultantes da


extinção de contratos, na quantia correspondente ao mínimo legal calculado
em uma base que não exceda três vezes o salário mínimo, as indenizações
resultantes de um acidente de trabalho e de doença ocupacional,
acumuladas antes da declaração de falência. Os mesmos privilégios
suportarão os capitais de custo da Segurança Social* que sejam
responsabilidade do participante e as sobretaxas de benefícios por não
cumprimento das obrigações em matéria de saúde ocupacional, desde que
sejam emitidas com anterioridade da declaração de falência.

2. Os montantes de dívidas correspondentes às retenções fiscais e de


Segurança Social* em cumprimento de uma obrigação legal.

3. Os créditos de pessoas singulares decorrentes de um trabalho pessoal não


dependente e os que correspondam ao próprio autor pela transferência dos
direitos de exploração da obra objeto de propriedade intelectual,
acumulados durante os seis meses anteriores da declaração de falência.

4. Os créditos fiscais e outras dotações do direito público, bem como as


dotações de Segurança Social* que não gozam de privilégios especiais em
conformidade com o ponto nº1 do Artigo 90, nem o privilégio geral do
número 2º do presente artigo. Este privilégio pode ser exercido para todos
os créditos da Fazenda Pública e para o conjunto dos créditos da Segurança
Social, respectivamente, até 50% do seu valor.

5. Os créditos por responsabilidade civil extracontratual.

6. Os créditos que suponham novos ingressos de tesouraria concedidos no


âmbito de um acordo de refinanciamento que satisfaça as condições
previstas no Artigo 71.6 e no montante não reconhecido como um crédito
contra a massa.

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7. Os créditos dos que o credor, a pedido do qual o concurso foi declarado e


que não tenham caráter de subordinados, até 50 por cento do seu montante.

c) Créditos subordinados:

1. Os créditos que, tendo sido comunicados tardiamente, são incluídos pela


administração de falências na lista de credores, bem como os que, não tendo
sido comunicados ou comunicados de forma tardia, sejam incluídos nessa
lista por meio de comunicações posteriores ou pelo juiz ao resolver tal
impugnação.

2. Os créditos que, por acordo contratual, têm o caráter de subordinados em


relação a todos os outros créditos contra o devedor.

3. Os créditos por sobretaxas e juros de qualquer tipo, incluindo moratórias,


com exceção dos créditos com garantia real na medida em que a respetiva
garantia for atingida.

4. Os créditos por multas e outras sanções pecuniárias.

5. Os créditos dos que sejam titulares as pessoas especialmente ligadas ao


devedor.

6. Os créditos que, em consequência da cessação da falência, são favoráveis


a pessoa que no acordo foi declarada parte de má fé no ato impugnado.

7. Os créditos decorrentes de contratos com obrigações recíprocas quando


o juiz declare, após o relatório da administração de falência, que o credor
obstrui repetidamente o cumprimento do contrato em detrimento do
interesse do processo falimentar.

3.8. RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO DE FALÊNCIA

O relatório da administração de falência determina a situação do patrimônio.


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DIREITO COMERCIAL

Este relatório deve conter:

- A análise dos dados apresentados pelo devedor.

- O estado das contas do devedor e o julgamento de suas contas.

- A memória das ações e decisões da administração de falência.

- O inventário da massa ativa e a lista de credores.

O relatório deverá ser publicado no Registro Público de Falências (Registro Público


Concursal, na Espanha) e no quadro de avisos do tribunal.

3.9. SOLUÇÕES DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL

▪ Fase de convenção

A fase de convenção é um dos caminhos possíveis para a solução do processo de


falência.

Todos os processos anteriores são comuns aos processos de falência, mas uma vez que
se recebe o relatório da administração de falência é possível decidir, com base na
situação patrimonial do devedor, qual é o próximo passo a seguir: optar pelo caminho
da convenção ou pelo caminho da liquidação.

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DIREITO COMERCIAL

A lei, por padrão, opta primeiro pela convenção, pois considera-se que a situação é
reversível porque, no caso de optar por liquidar, desaparece a possibilidade da
convenção.

Existem várias limitações no conteúdo da convenção regulamentadas no Artigo 100


da LC:

- As graduações de crédito não podem ser alteradas.

- Não é possível propor a transferência de bens e direitos aos credores.

- No que diz respeito aos créditos ordinários, as proposições de calote não


poderão exceder a metade do montante de cada um dos créditos e não deverão
exceder os 5 anos.

Durante a fase de convenção, podemos encontrar acordos de dois tipos:

a) Convenção antecipada:

Esta é uma das maneiras rápidas de acabar com a falência.

O devedor pode submeter ao juiz uma proposta prévia de uma convenção, desde
que a liquidação não tenha sido solicitada.

A fim de apresentar a proposta de convenção prévia, o devedor não deve estar


afetado pelas seguintes proibições recolhidas no Artigo 105 da L.C:

1. Ter sido condenado em sentença transitada em julgado por uma infração


contra o patrimônio, contra a ordem socioeconômica, por falsidade
documental, contra a Fazenda Pública, a Segurança Social* ou contra os
direitos dos trabalhadores. No caso em que o devedor seja uma pessoa
jurídica, esta causa de proibição será dada caso haja havido condenação, por
qualquer uma dessas infrações, alguns dos seus administradores ou
liquidantes, ou daqueles que o tivessem sido nos três anos anteriores à
apresentação da proposta de convenção.

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DIREITO COMERCIAL

2. Ter infringido em qualquer um dos últimos três anos contra a obrigação do


depósito das contas anuais.

Para que a proposta de convenção antecipada seja admitida, deve ser acompanhada da
adesão de credores de qualquer tipo cujos créditos ultrapassem uma quinta parte do
passivo apresentado pelo devedor.

Uma vez apresentada a proposta, os administradores de falência devem elaborar um


relatório sobre a viabilidade da proposta.

Após a fase comum do processo, o juiz verificará que as adesões formuladas e as iniciais
que apoiam a proposta, satisfaçam a maioria necessária e a aprovará.

b) Convenção ordinária:

As propostas dos devedores e credores que representam uma quinta parte do


passivo podem ser apresentadas durante a fase de convenção. Sendo que ambos
têm 40 dias antes da celebração da Assembleia para apresentar as suas
propostas.

Os administradores de falência serão responsáveis pela elaboração de um


relatório sobre cada uma das propostas apresentadas. E caso não seja feita
qualquer proposta, o juiz terá que abrir a fase de liquidação.

A convenção aprovada na Assembleia poderá ser impugnada pelos


administradores de falência ou pelos credores que não votaram a favor.

Resolvida a impugnação, o juiz deverá concluir com a aprovação da convenção.

▪ Efeitos da convenção

A convenção será efetiva a partir da data da sentença que o aprove, a menos que o juiz,
em razão do conteúdo da convenção, concorde, oficiosamente ou a pedido de uma
parte, atrasar essa eficácia para a data em que a aprovação seja definitiva.

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DIREITO COMERCIAL

Ao pronunciar-se sobre o atraso na eficácia da convenção, o juiz poderá aprová-la


parcialmente.

Desde a eficácia da convenção, todos os efeitos da declaração de falência cessarão,


sendo substituídos por aqueles que sejam estabelecidos na própria convenção, com
exceção dos deveres de colaboração e informação que persistirão até a conclusão do
procedimento. (Art. 133 L.C.)

▪ Fase de liquidação

Outra maneira de encerrar o processo de falência é a liquidação que pode ser solicitada
pelo devedor a qualquer momento. No prazo de dez dias após o pedido, o juiz irá ditar
a ordem abrindo a fase de liquidação.

Considera-se adequado avançar por iniciativa própria a abertura da liquidação


quando:

- Solicitado pelo devedor.

- Nenhuma das propostas apresentadas for aprovada na fase de convenção.

- A convenção aprovada for violada.

A situação do participante durante a fase de liquidação será a de suspensão do exercício


das faculdades de administração e disposição sobre seu patrimônio.

A abertura da liquidação produzirá o vencimento antecipado dos créditos de falência


diferidos e a conversão em dinheiro daqueles que estejam constituídos por outros
benefícios.

No prazo de 15 dias a partir da notificação da resolução de abertura da fase de


liquidação, a administração de falências apresentará ao juiz um plano para a realização
dos bens e direitos integrados na massa ativa que, desde que seja viável, deverá

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DIREITO COMERCIAL

contemplar a alienação unitária de todo o conjunto dos estabelecimentos, explorações


e outras unidades produtivas de bens e serviços do participante ou de alguns deles.

O pagamento dos créditos será feito de acordo com a sua graduação. Primeiramente
serão vendidos os bens com uma garantia real e serão pagos os credores com privilégios
especiais. Havendo sobra, irão para a massa. Enquanto os bens são vendidos, o produto
dessa venda será usado para pagar os credores privilegiados, ordinários e subordinados.

Cada três meses, a partir da abertura da fase de liquidação, a administração de falências


apresentará ao juiz do processo falimentar um relatório sobre o estado das operações,
que detalhará e quantificará os créditos contra a massa acumulada e pendente de
pagamento, com indicação dos seus vencimentos. Este relatório será apresentado no
gabinete judicial.

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DIREITO COMERCIAL

4. ANEXOS

4.1. CASO DE ESTUDO

Olivencia: "O novo código comercial pode entrar em vigor esta legislatura"

“Os membros da Comissão de Codificação do Ministério de Justiça confiamos que, se o


parecer do Conselho de Estado sobre o futuro Código Comercial se produz dentro deste
mês, em 2014 poderia ser apresentado o projeto de lei no parlamento e, se houver
acordo entre as partes, que eu acredito que esta é uma questão de consenso, ainda é
possível que, dentro desta legislatura se consiga a sua aprovação”, diz Manuel Olivencia,
catedrático emérito de Direito Comercial e Vice-Presidente da firma Cuatrecasas,
Gonçalves Pereira.

Olivencia acaba de receber o XX Prêmio Pelayo para Juristas de Prestígio Reconhecido.


Aproveitando este notório evento, Iuris&Lex, a revista jurídica do elEconomista, vai
publicar na sua próxima edição uma ampla revisão sobre as leis das quais foi propulsor
e são notícias. Estas linhas são uma prévia.

A entrada em vigor do código comercial na presente legislatura seria "um benefício para
os mercados e empresas que operam na Espanha e daria um grande prestígio
internacional a esse país", responde o professor, que durante anos tem sido parte da
Comissão de Codificação, enfatizando a importância desta norma que inclui uma
correlação do mercado único com a atribuição exclusiva ao estado da legislação
comercial.

“O mercado não deve ser fraturado, pois não há obstáculo pior e uma maior fronteira
interna que a diversidade de legislações, que cada região ou Comunidade Autônoma
tenha um regime jurídico diferente, alterando o sistema legal do mercado”, diz o jurista.

A Lei de Falências

Sobre a Lei de falências, em cujo texto tem participado desde 1956, explica que o grande
número de Reais Decretos - Leis indica que as reformas não foram bem consideradas.
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DIREITO COMERCIAL

Especificamente, a questão do refinanciamento, parece-lhe que há seis reformas que


foram introduzidas, o que mostra que a questão não estava suficientemente madura.
Considera também que há um outro erro de foco, que é confundir a legislação de crise
com a legislação normal.

Ele critica que “as situações excepcionais não requerem medidas permanentes, mas
transitórias. O símile é que o mapa hospitalar não vale para o tempo de epidemia, senão
que serão precisas medidas excepcionais. E foi isso que aconteceu com a reforma da
falência que quis transformar-se em reformas com vocação de permanência, quando
devem ser medidas concretas." Por outro lado, Olivencia elogia os juízes comerciais, que
criaram uma jurisdição especializada e um corpo de doutrina muito importante.

Governança Corporativa

O promotor do primeiro Código de Governança Corporativa, conhecido como o Código


Olivencia, explica que, no que diz respeito à governança das sociedades, cada vez é mais
restrito o âmbito de autonomia da vontade e são estabelecidos limites mais rigorosos.
Assim, na reforma da Lei de Sociedades de Capital e da Lei para a melhoria da
Governança Corporativa, continua a ser utilizada esta linha de maior exigência.

A este respeito, o professor observa que "esta tendência representa uma falta de
confiança no autogoverno e um reforço normativo significa obrigar legalmente e,
portanto, sancionar os incumprimentos. Esta é uma tendência exclusiva da Espanha,
uma vez que somos obrigados a transpor a diretiva europeia e o governo das sociedades
vai por esse caminho."

Arbitragem

Na atual Lei de Arbitragem, Olivencia teve um papel proeminente. O procedimento que


regula tem sido muito bem recebido no que diz respeito aos operadores internacionais,
uma vez que o texto se inspirou no modelo de Unictral (órgão jurídico central do sistema
das Nações Unidas no âmbito do direito comercial internacional).

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DIREITO COMERCIAL

No entanto, a nível nacional, há suspeitas sobre a arbitragem. Primeiro foram os juízes,


que começaram a considerar os árbitros como intrusos, mas hoje eles superaram essas
suspeitas e conseguem ver que a arbitragem os descarrega de trabalho. Agora, a
suspeita vem dos advogados das partes, que se sentem mais confortáveis ou confiam
mais no poder judiciário.

Cláusulas suelo

A sentença de 9 de maio, em sessão plenária da Sala Primeira do Tribunal Supremo,


emitiu uma sentença na qual várias entidades financeiras foram processadas pela
aplicação dos crédito à habitação indexados à taxa variável, conhecidos na Espanha
como cláusulas suelo (floor clauses) - Olivencia conduziu a defesa do BBVA (Banco
espanhol). Nela, se obteve o reconhecimento da validade desse tipo de cláusulas. No
entanto, no recurso de cassação foi incluído um novo argumento: a falta de informações
aos clientes.

Atualmente, esse acórdão está no Tribunal Constitucional, que solicitou todos os


processos desde o início do procedimento, em face das alegações de que as partes não
foram ouvidas.

http://www.eleconomista.es/legislacion/noticias/6252033/11/14/Olivencia-El-nuevo-
Codigo-Mercantil-puede-entrar-en-vigor-esta-legislatura.html#Kku8pYugsOl1MZVn

▪ Documentos comerciais

Introdução

A crescente complexidade das atividades comerciais tem sido a causa de simples


acordos verbais terem sido substituídos desde tempos muito remotos pela constância
escrita dos pactos ou acordos celebrados. No mundo empresarial moderno qualquer
etapa no campo comercial é registrada em algum documento e, se a sua importância o
justificar, o documento em questão pode ostentar a assinatura de um funcionário

Página 135
DIREITO COMERCIAL

qualificado. A partir do exposto, é inferido que as operações contínuas realizadas pela


empresa requerem a emissão e recepção de documentos diversos.

Documentos Comerciais:

Os documentos comerciais geralmente tomam forma no momento em que a operação


é realizada, tendo como objetivo certificar a compreensão que existe entre as duas
partes que fizeram um acordo. Pode ser o ticket emitido pela caixa registradora das
vendas, entregue ao cliente que fez uma compra em dinheiro ou um contrato
complicado de muitas páginas sobre a locação de máquinas caras, mas em todos os
casos os documentos descrevem a operação em forma escrita, reduzindo assim as
possibilidades de discrepância futura entre os interessados.

Dentro do conceito de documentação mercantil, entende-se não só os papéis cobertos


com características formais mas todos aqueles que podem substituí-los e tomar outra
forma como ocorreria no último extremo com a correspondência.

Estes documentos comerciais são enviados para o departamento de contabilidade, onde


os contabilistas e assistentes de contabilidade tiram deles os dados necessários para
fazer os assentos nos livros.

Quanto maior seja a empresa, maior será a necessidade de uso de documentos. Ao se


tratar de uma grande companhia de vendas por departamentos, haverá muitos
vendedores em suas diferentes localizações e, ao mesmo tempo, um determinado
número de compradores adquirirá bens do mercado local, nacional ou internacional. Em
todos os departamentos de vendas se receberá dinheiro como pagamento da venda
realizada, que será entregue na caixa e, em seguida, enviado para depositar no banco.
Por sua vez, os desembolsos serão feitos sob a responsabilidade do tesoureiro. No caso
de uma organização do tipo que descrevemos, seria impossível realizar as suas
operações sem utilizar um grande número de documentos de natureza comercial.

Os documentos trocados pelas empresas que intervêm em uma transação comercial


facilitam sua conclusão, informam ao contabilista ou ao assistente de contabilidade

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DIREITO COMERCIAL

sobre as sequências das operações e servem de autorização para fazer a anotação nos
livros de contabilidade.

Em conclusão, podemos dizer que entra na idéia de documentação comercial qualquer


registro escrito de uma transação comercial ou um aspeto dele que possa ser usado
para:

a. Certificar as anotações nos livros contábeis.

b. Constatar um fato desde o ponto de vista legal.

Com respeito ao segundo ponto, convém observar que os livros de contabilidade são
apenas um meio de prova e, embora em alguns casos possa ser um elemento
fundamental para decidir um julgamento, nunca servirão para destruir as evidências
decorrentes de um comprovante escrito e com caraterísticas legais. Podemos dizer que
os livros contábeis perdem valor se não estiverem suportados por um arquivo de
documentos bem organizado.

O Código de Comércio vigente estabelece, a este respeito, no Artigo 124, entre outros
fatos que:

"As obrigações comerciais e a sua libertação são comprovadas":

a. Com documentos públicos.

b. Com documentos privados.

c. Com faturas aceitas.

d. Com telegramas.

e. Com outros meios de prova admitidos pela lei civil.

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DIREITO COMERCIAL

IMPORTÂNCIA DA DOCUMENTAÇÃO COMERCIAL

A importância da documentação comercial é tal que criou normas técnicas especiais e


disposições legais para imprimir, arquivar e preservar os diferentes documentos
utilizados em transações comerciais. Mesmo os formulários de simples ordem interna
de processamento entre dependências da mesma empresa constituem elementos
probatórios que permitem acompanhar o curso de um lote de mercadorias, identificar
um envio de dinheiro ou exigir o cumprimento de uma norma ou qualquer disposição
interna tal como pode ser a de reivindicar ao departamento de compras, fazendo
menção da data e número de uma ordem de compra, o fato de que um pedido não
tenha sido recebido dentro do prazo estabelecido.

CLASSIFICAÇÃO DOS DOCUMENTOS

Os documentos utilizados em empresas comerciais são tão variados e complexos como


as próprias operações, mas aqui apenas explicaremos os mais comuns, de acordo com
a seguinte classificação:

a. Comprovantes de compras. O procedimento que é adotado para as compras,


como todo o sistema contábil, deve ser adaptado para a organização interna da
empresa. O departamento de compras deve ser notificado das mercadorias
necessárias para si ou para o departamento de vendas, o que normalmente é feito
através de pedidos de compras ou requisições de material, onde se indica a
quantidade a ser adquirida. Com base nestes documentos e uma vez que os preços
foram consultados com os diferentes fornecedores, a ordem de compra é enviada
para aquele que oferece, naturalmente, as condições mais favoráveis. Se as
mercadorias forem recebidas como previsto, será emitido um cheque a favor do
fornecedor se a condição acordada for a que o pagamento seja realizado em
dinheiro. Também poderá ser registrada uma obrigação a seu favor, caso se
tivesse estabelecido que o pagamento é a crédito, usando sempre a fatura emitida
pelo fornecedor como base para a entrada nos livros.

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DIREITO COMERCIAL

Abrange, como vimos no início, quatro etapas que dão origem aos seguintes
comprovantes:

 Pedido de compra. O departamento de compras ou, se não existir, quem se


ocupar das suas funções, agirá de acordo com um pedido escrito aprovado
por um funcionário suficientemente qualificado que represente qualquer
um dos departamentos em que se divide a empresa. Por exemplo, o
departamento de vendas pode solicitar que se tramite a aquisição de artigos
destinados à revenda.

 Ordem de compra. A sua finalidade é documentar em um formulário


próprio qualquer aquisição autorizada pela empresa. Se existir um
departamento de compras, a ordem de compra será geralmente feita em
uma folha impressa destinada para esse fim. Em outros casos, pode consistir
em uma simples carta assinada pelo proprietário da empresa ou por seu
subordinado, e às vezes consiste em uma ordem verbal que se dá ao
representante do fornecedor.

 A fatura. Consiste em uma relação pormenorizada dos bens adquiridos,


deve conter os nomes e endereços do vendedor e do comprador, a data, as
condições, as instruções de envio e as quantidades, a descrição e os preços
das mercadorias.

 As notas de débito. Se as mercadorias chegam danificadas, são de qualidade


inferior ao exigido ou se verifica a falta de algum item, é necessário obter
um ajuste no preço que o fornecedor tenha cobrado.

b. Recibos de vendas. Os procedimentos que são seguidos para a venda de bens


podem ser mais simples ou mais complicados, dependendo da magnitude e
particularidades de cada empresa. Em pequenas empresas de varejo não se realiza
maiores registros do que a entrada em caixa pelo importe de vendas. Em empresas
de maior dimensão se entrega um ticket ao cliente.

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DIREITO COMERCIAL

c. Comprovantes de operações bancárias. Os cheques tomaram o lugar do dinheiro


nas operações mais importantes que requerem a cobrança e pagamento do
mesmo. Na contabilidade, os cheques são considerados geralmente como
numerário.

d. A letra de câmbio. É o instrumento negociável que constitui uma ordem escrita


em virtude da qual uma pessoa ordena o pagamento para outra, em ordem de um
terceiro, a quantidade de dinheiro que expressa. Em outras palavras, é um
documento comercial pelo qual uma pessoa (o sacador) concede um crédito a
outro (o sacado) comprometendo-se a pagar o montante indicado para a data de
vencimento acordada. Como documento comercial, é um instrumento negociável
cuja propriedade pode ser transferida, de modo que o sacador pode ser diferente
do titular da letra. Além disso, a letra de câmbio pode ser apresentada a uma
instituição financeira ao desconto, ou seja, a instituição financeira paga ao titular
o montante da letra antes da data de validade e encarga-se da cobrança ao sacado
na data de vencimento.

Sua forma é geralmente como no exemplo a seguir:

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DIREITO COMERCIAL

Exemplo extraído de: https://www.protestosp.com.br/

a. A nota promissória. É um documento de crédito ao abrigo do qual uma pessoa


promete formalmente pagar uma dívida em uma data posterior. Em outras
palavras, é um título ou um instrumento financeiro; um documento escrito pelo
qual uma pessoa —o emissor— concorda em pagar a outra pessoa —o
beneficiário— uma certa quantia de dinheiro em uma data previamente
combinada. As notas promissórias podem ser para o portador ou endossáveis, isto
é, podem ser transmitidas a um terceiro. Por outro lado, elas ainda podem ser
emitidas por indivíduos, empresas ou mesmo pelo estado.

De acordo com os Artigos 486, 487 e 488: é uma promessa unilateral ou um


compromisso de pagamento por escrito, em virtude do qual uma pessoa singular
ou coletiva é obrigada a pagar a outro ou à sua ordem, uma certa quantia de
dinheiro em uma determinada data.

De acordo com o Artigo 486, as notas devem conter:

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a. A data de emissão e assinatura do documento.

b. A quantidade em número e por extenso.

c. O tempo do seu pagamento, ou seja, a data de vencimento.

d. A pessoa a quem ou cuja ordem deve ser paga.

A nota promissória aplica as seguintes disposições semelhantes às estabelecidas para as


letras de câmbio:

a. Os períodos em que expiram, ou seja, os vencimentos: em um dia fixo,


em um determinado período da data, à vista e em um determinado
prazo.

b. O relativo ao endosso.

c. Os termos para a apresentação, cobrança e protesto.

d. O referente ao aval.

e. O relativo ao pagamento e a intervenção.

f. O relativo ao protesto.

g. Os termos da prescrição.

A expressão de se é por valor recebido e em que espécie ou por valor em conta.

O portador de uma nota promissória protestada por não pagamento, tem o direito de
cobrar dos responsáveis:

a. O valor da obrigação.

b. Os juros a partir da data do protesto.

c. As despesas do protesto.

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DIREITO COMERCIAL

d. Os juros desde o processo judicial.

e. As despesas judiciais desembolsadas.

Sua forma é geralmente como no exemplo a seguir:

Exemplo extraído de: https://jus.com.br/

b. O cheque. É uma transferência bancária de dinheiro em nome onde a conta esteja


estabelecida. Constitui uma ordem que o titular da conta dirige ao seu banco para pagar
uma certa quantia ao beneficiário indicado ou ao portador. É um mandato de ordem ou
de pagamento incorporado em um título de crédito que permite ao sacador dispor, em
favor de uma determinada pessoa ou do simples portador do título, de fundos que
tenham disponíveis em um banco. O cheque deverá conter: a denominação de cheque
inserida no próprio texto do título, o mandato puro e simples para pagar uma certa
quantia de dinheiro, o nome de quem tem que pagar (a quem se chama sacado), que
pela força deve ser um banco, o local de pagamento, a data e o lugar de emissão do
cheque e a assinatura da emissão. O sacador ou o detentor de um cheque pode solicitar
ao banco que o cumpra, certificando assim a sua autenticidade e a existência de fundos
suficientes na conta do sacador.

O cheque pode ser liberado para pagar a uma determinada pessoa, com ou sem cláusula
"à ordem" ou "não à ordem”. Também pode ser entregue para ser pago ao portador.

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DIREITO COMERCIAL

O cheque ao portador é transmitido por entrega ou tradição; o cheque em favor de uma


pessoa em particular, com ou sem a cláusula "à ordem", é transmissível por meio de
endosso. O endosso deve ser completo, puro e simples. Também deve ser escrito no
cheque e assinado pelo endossante visto que o endosso transmite todos os direitos
resultantes do cheque.

O pagamento de um cheque pode ser garantido por endosso, pela totalidade ou por
uma parte do seu montante. Esta garantia poderá ser fornecida por uma terceira parte
ou pelo sacador. O cheque é pago à vista. Qualquer menção contrária é considerada não
escrita.

O sacado poderá exigir, ao pagamento do cheque, que este seja entregue com a
devolução de um recibo. Presume-se que o cheque terá sido pago após a sua expiração.

Exemplo extraído de: https://bcb.gov.br/

c. Aval. É a caução apresentada por um terceiro para o pagamento de uma letra de


câmbio, independentemente da obrigação contraída pelo aceitante e pelo endossante.
É a assinatura que se coloca ao pé de uma carta ou outro documento de crédito, para
responder ao seu pagamento em caso de não o fazer a pessoa que tem a obrigação
principal.

É um termo frequentemente usado na prática de negócios para se referir a qualquer


tipo de garantia pessoal. Outras vezes este termo é usado como sinônimo de fiança.
Neste caso indicaria o contrato pelo qual o fiador é obrigado a pagar ou atender por um
terceiro (endossado), em caso de não o fazer.

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Em direito comercial se chama aval bancário a um contrato pertencente ao tipo de


fiança pessoal destinada a garantir o pagamento de uma letra de câmbio. O aval é uma
obrigação acessória da obrigação de troca, que é a principal, por isso é extinta no caso
da troca ser efetuada. É também subsidiária, uma vez que o fiador só é obrigado a pagar
se o devedor não pagar.

Devido às peculiaridades do tráfego em que a taxa de câmbio é produzida, a


subsidiariedade não é geralmente compreendida de uma forma rigorosa e é suficiente
com o incumprimento do devedor para que o pagamento possa ser reivindicado ao
fiador, sem exigir qualquer perseguição especial dos bens do devedor. Portanto, ao
chegar o momento do cumprimento do pagamento sem que o devedor o realize, o
credor pode se dirigir contra o devedor principal como contra o avalista, visto que em
ambos foi estabelecido um vínculo de solidariedade.

No caso em que o fiador seja obrigado a satisfazer, a dívida adquirirá um direito de


reintegração contra o devedor. A garantia pode ser limitada por um período de tempo
marcado, em relação a um caso específico, em termos de quantidade ou contra uma
pessoa em particular, quando apenas o fiador responde a um credor individualizado ou
definido, e não frente de qualquer um. Por tanto, o aval pode ser "absoluto ou limitado”.

A pessoa que dá um "aval absoluto", responde em conjunto com o pagamento da letra


da mesma forma que o sacador e o endossante.

Por sua vez, o “aval limitado” é aquele que reduz a garantia em tempo, quantidade ou
pessoa expressamente determinada. Configurado nestes termos, não produz mais
responsabilidades que aquelas que o signatário impôs, nem lhe dá mais direitos do que
contra a pessoa a quem é garantida e os endossantes anteriores.

O aval deve ser entregue por escrito e pode aparecer na mesma letra cujo pagamento é
garantido ou em um documento separado.

d. Fiança. Obrigação que alguém adquire de fazer algo a que outra pessoa se obriga no
caso de que esta não o faça. Implica um pacto pelo qual um terceiro assume a condição

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de obrigado com caráter de um subsidiário ao pagamento, para assumir a hipótese de


que o devedor principal não cumpra com a obrigação.

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