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DIREITO COMERCIAL E DO

CONSUMIDOR
AULA 1

Prof. Silvano Alves Alcantara


CONVERSA INICIAL

No tema de hoje, início de nossos estudos, abordaremos os primeiros


institutos do Direito Comercial.
Começaremos estudando suas características e seus princípios,
importantes como suporte para o entendimento de todos os demais conteúdos.
Em seguida passaremos a abordagem sobre o conceito de empresário e
de empresa, como também sobre o registro de empresa e sobre as obrigações
do empresário.

TEMA 1 – CARACTERÍSTICAS DO DIREITO COMERCIAL

O Direito Comercial possui algumas peculiaridades, dentre elas seu


próprio nome, pois hodiernamente é chamado de Direito Empresarial, mas de
imediato deixamos claro que se tratam do mesmo ramo do Direito.
Entre suas particularidades, encontramos algumas características que o
fazem único e que lhe garantem longevidade, pois estas características existem
desde tempos idos e por certo ainda permanecerão por longa data.
Alcantara (2016, p. 28/29) assim define estas características:

Cosmopolitismo: desde a Antiguidade, passando pelos tempos do caixeiro


viajante, chegando até os nossos dias de ampla globalização, as tratativas
comerciais sempre extrapolaram toda e qualquer barreira, especialmente em
relação às fronteiras dos Estados soberanos. Além disso, genericamente, tudo
aquilo que serve como regra para um determinado país também poderá ser utilizado
nas negociações com outro país, guardando algumas particularidades do local ou
da região. Por exemplo, a compra e venda de um eletrodoméstico.
Onerosidade: aquilo que une todos os empresários é o lucro, ou seja, qualquer
atividade empresarial tem como objetivo o lucro. Se esse objetivo não estiver
presente, estará descaracterizada a atividade empresarial.
Informalismo: a simplicidade é uma das características do Direito Comercial, no
sentido de que a liberdade e o mútuo consentimento entre os contratantes sempre
estiveram acima de qualquer forma, podendo os contratos ser firmados inclusive
verbalmente e, mesmo assim, terem validade, pois a boa-fé, mesmo que implícita,
sempre esteve presente.
Fragmentarismo e elasticidade: colocamos estas duas características juntas, pois
entendemos que estão intimamente ligadas, ficando assim mais fácil explicá-las em
conjunto. A sociedade e suas relações comerciais são dinâmicas, exigindo que a
legislação se adapte e se renove às novas tendências e práticas comerciais,
aproveitando-se do que já existe, mas criando novos mecanismos que atendam à
nova realidade. Por mais que se tenha um diploma legal que disponha sobre o
Direito Empresarial, como é o caso da Lei n. 10.406/2002 – Código Civil, é possível
fragmentar o estudo desse ramo do Direito através de uma série de outras normas
legais e de igual importância, como a Lei n. 11.101/2005 – Lei de Falências (Brasil,
2005); Lei n. 8.245/1991 – Lei do Inquilinato (Brasil, 1991); Lei n. 5.474/1968 – Lei
das Duplicatas (Brasil, 1968), entre outras. (Grifos no original)

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A depender do autor, outras características do Direito Comercial podem
ser encontradas.
As características do Direito Comercial existem para diferenciá-lo dos
demais ramos do Direito, bem como para torná-lo único.

TEMA 2 – PRINCÍPIOS DA ATIVIDADE ECONÔMICA

O Direito Comercial é um ramo autônomo do Direito, pois tem suas


próprias normas, compostas por princípios e regras, sem se esquecer, é claro,
das normas genéricas do Direito, que a ele também afetam.
A Constituição do Brasil de 1988 dispõe em seu Título VII sobre a Ordem
Econômica e Financeira, já determinando em seu Capítulo I sobre quais
princípios está alicerçada a atividade econômica, deixando claro no Art. 170 que:
“A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
da justiça social, [...]”, e a seguir o mesmo artigo elenca seus princípios:

I. soberania nacional;
II. propriedade privada;
III. função social da propriedade;
IV. livre concorrência;
V. defesa do consumidor;
VI. defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus
processos de elaboração e prestação;
VII. redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII. busca do pleno emprego;
IX. tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas
sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer


atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos,
salvo nos casos previstos em lei.
Todos estes princípios caminham lado a lado, às vezes um completando
o outro, dando suporte ao entendimento de como a atividade econômica deve
ser explorada pelo empresário no Brasil.

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TEMA 3 – O EMPRESÁRIO E A EMPRESA

A partir da vigência da Lei n. 10.406/02, nosso Código Civil, nova


interpretação foi dada ao Direito Comercial.
Os próprios conceitos de empresário e de empresa ganharam novos
contornos.
O artigo 966 do Código Civil traz o conceito de empresário, com viés um
bem diferente do que até então dispunha o antigo Código Comercial, que tratava
tão-somente do comerciante, assim determinando: “Art. 966. Considera-se
empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada
para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”.
Desse conceito de empresário extrai-se o conceito de empresa, como
sendo atividade econômica organizada para a produção de riquezas.
Para facilitar a compreensão, trazemos o entendimento de Requião (2015,
p. 62):

O empresário é figura central da empresa. Muitos autores não distinguem o


empresário comercial da antiga figura do comerciante. [...] Não há dúvida de que o
empresário comercial, na linguagem do direito moderno, é o antigo comerciante.
Nesse aspecto, portanto, as expressões são sinônimas. [...] hoje o conceito social
de empresa, como o exercício de uma atividade organizada, destinada à produção
ou circulação de bens ou de serviços, na qual se refletem expressivos interesses
coletivos, faz com que o empresário comercial não seja mais o empreendedor
egoísta, divorciado daqueles interesses gerais, mas uni produtor impulsionado pela
persecução de lucro, é verdade, mas consciente de que constitui uma peça
importante no mecanismo da sociedade humana. Não é ele, enfim, um homem
isolado, divorciado dos anseios gerais da coletividade em que vive.

TEMA 4 – REGISTRO DE EMPRESA

O Código Civil é determinante ao exigir o registro da atividade que o


empresário resolva explorar nos órgãos de registro competentes.
Assim dispõe: “Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no
Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de
sua atividade.”
No Brasil existe o Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis
(SINREM), que alberga órgãos federais e estaduais capazes de determinar toda
a normatização, é claro, respaldada na legislação, para o registro do empresário.
Fazem parte desse sistema o Departamento de Registro Empresarial e
Integração (DREI), que é um órgão federal atuante em todo o Brasil, que tem
entre suas atribuições estabelecer as normas gerais, bem como orientar,

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supervisionar e coordenar o registro de empresas. Ainda pertencem ao mesmo
sistema as Juntas Comerciais, que são órgãos estaduais, ligadas ao governo de
cada Estado brasileiro, com jurisdição somente no território de seu Estado, onde
efetivamente o empresário registra seu ato constitutivo, suas alterações
contratuais e tudo mais de que necessitar.

TEMA 5 – OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO

Sabemos que todos temos várias obrigações na vida civil; também as tem
o empresário, mas particularmente o Código Civil traz ao empresário outras
obrigatoriedades, principalmente em relação à sua escrituração.
Determina o Código Civil: “Art. 1.179. O empresário e a sociedade
empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou
não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com
a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o
de resultado econômico.”
De onde se depreende que tanto o empresário individual quanto a
sociedade empresária estão atrelados a estas obrigações, podendo escolher o
sistema de contabilidade a ser seguido.
Em relação aos livros obrigatórios, dependerá da atividade desenvolvida
pelo empresário, mas o artigo 1.180, CC informa que o Livro Diário é
indispensável, independentemente da atividade exercida.
Ressalta-se que o ordenamento jurídico, desde a Constituição Federal, confere
tratamento diferenciado e favorecido às micro e pequenas empresas, incluindo-
se a dispensa de vários livros obrigatórios.

NA PRÁTICA

Dois médicos amigos resolvem fazer seus atendimentos, cada um dentro


de sua especialidade, em um consultório particular e contratam uma secretária
para ajudá-los a atender seus pacientes, agendando as consultas e tudo o mais,
constituindo uma pessoa jurídica, na qual os dois são sócios, cada um com 50%
das quotas sociais. Pode-se afirmar que os dois são empresários?

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FINALIZANDO

Iniciamos nesta aula o estudo do Direito Comercial.


Pudemos estudar suas características e seus princípios, sustentáculos
que tornam o Direito Comercial autônomo e único dentre os ramos do Direito.
Tratamos de entender o conceito de empresário e de empresa e vimos
também como o empresário deve fazer seu registro e quais são suas obrigações
em relação à escrituração de seu negócio.

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REFERÊNCIAS

ALCANTARA, S. A. Direito empresarial e direito do consumidor. Curitiba:


InterSaberes, 2016.

BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.
Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso
em: 23 jul. 2017.
_____. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder
Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 23 jul.
2017.
REQUIÃO, R. Curso de Direito Comercial. 35. ed. rev. e atual. v. 1. São Paulo:
Saraiva, 2015.

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