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Introdução

Olá, aluno(a)! Nesta unidade, iremos trabalhar as bases necessárias para que você
possa entender o Direito Empresarial, que será alicerce para o seu exercício
profissional. O Direito faz parte das nossas vidas, regula a sociedade desde o
nascimento das pessoas até a sua morte. Diariamente, nos envolvemos em
relações jurídicas, por isso é necessário conhecer o seu funcionamento para
tomada de decisões.

As empresas já se iniciam como realidade jurídica, e toda sua origem,


funcionamento e extinção estão calcados em diversas normativas. Para isso,
trabalharemos aqui alguns conceitos e aspectos históricos do Direito Comercial
ou Empresarial, e analisaremos as principais legislações que regem o tema e as
implicações da atuação devida.

Introdução ao Direito
Empresarial (origem,
autonomia e fontes)
Primeiramente, pautamos nossa incursão na definição desta disciplina. Direito
Comercial ou Direito Empresarial? Qual a terminologia correta e mais adequada?

Vamos firmar que ambas as expressões estão corretas e podem ser utilizadas para
tratar do tema. Historicamente, Direito Comercial vem das origens básicas dos
atos de comércio. Em nossa legislação nacional, em 1850, tivemos a publicação
da Lei nº 556, “Código Comercial”, composta de duas partes: a primeira tratava
do comércio em geral, sua teoria de atos, suficiente à época; e a segunda parte
tratava do comércio marítimo, parte essa que segue em vigor.

Em 2003, com a entrada em vigor do novo Código Civil - Lei nº 10.406/2002


(BRASIL, 2002), houve a revogação da primeira parte do Código Comercial de
1850, passando então, através da teoria da empresa, a legislação civil a tratar do
tema.

Poderíamos dizer que o Direito Empresarial é o mesmo que Direito


Comercial, mas o Direito Empresarial é mais amplo que este, pois
alcança todo o exercício profissional de atividade econômica
organizada para produção e circulação de bens e serviços (exceto
intelectual). Já o Direito Comercial alcançava, em sua concepção
inicial, apenas os comerciantes que compravam para depois
revender e algumas outra atividades (TEIXEIRA, 2017, p. 27).
Historicamente, é impreciso verificar a origem do Comércio, bem como do
Direito Comercial. Assim, partimos para a historicidade no âmbito da
sistematização doutrinária da ciência jurídica, na Idade Média. Neste prisma, o
Direito Comercial sempre se institui paralelamente ao Direito Civil. Surgiu como
ramo autônomo na Idade Média, após a queda do Império Romano (BERTOLDI;
RIBEIRO, 2016).

Em síntese, podemos definir que a evolução do Direito Comercial passa por 4


fases. A primeira fase, entre os séculos XII e XVI, relaciona-se com o mercado e
trocas. Este momento caracteriza-se como um direito de uma classe, os
comerciantes, que entre eles criavam suas regras de atuação, regras aplicadas na
figura do cônsul nas corporações de ofício. Ou seja, neste momento temos um
direito do “Comerciante”, sendo sua característica ser itinerante e viajar de
cidade em cidade com suas mercadorias para venda. Assim, eram comuns as
grandes feiras, que deram origem a cidades europeias. Evolutivamente, passa-se
aos mercados e ao início das sociedades de comerciantes (NEGRÃO, 2018).

Na segunda fase, entre os séculos XVII e XVIII, passa-se ao mercantilismo e aos


processos de expansão marítima e colonização. Neste período já existe a
formação dos estados modernos, que passaram a centralizar a produção
normativa das regras comerciais. É o momento do surgimento das grandes
codificações, na estrutura como temos ainda hoje de um código civil, código
comercial e outros. O mercantilismo pode ser definido como um conjunto de
práticas econômicas que passam a existir pela maior intervenção do estado na
economia, este estado moderno e estruturado que objetiva seu fortalecimento
interno e o domínio externo de novos mercados para venda de seus produtos, o
que fomenta a expansão marítima do ocidente (NEGRÃO, 2018)

A terceira fase, no século XIX, pauta-se pelo liberalismo econômico, cuidando


das regras, então, de determinar os atos do comércio, objeto do Direito
Comercial. Neste momento, consolida-se a terminologia Direito Comercial como
o conjunto de regras que regulam os atos de comércio, sendo que o ato base do
comércio é a intermediação e a compra de produtos para a posterior venda e
aquisição de lucro (NEGRÃO, 2018).

Classicamente se definia o Direito Comercial como o direito dos


comerciantes e dos atos de comércio. Erigia-se como ramo do
Direito Privado que regulava as relações resultantes da atividade
do comerciante no exercício direto ou indireto da sua profissão,
além daqueles atos reputados pela lei como comerciais, mesmo que
praticados por não comerciante (CAMPINHO, 2018, p.19).
A modernização e a dinâmica das relações sociais fizeram surgir novas relações,
dando início à quarta fase (atual), que pela insuficiência da definição de atos do
comércio focados na figura da intermediação de mercadorias entre os produtos e
o consumidor, passa a organizar todas as atividades que intentam o lucro, como
as atividades industriais, de transporte, securitárias e bancárias (NEGRÃO,
2018).

Assim, surgiu na Itália a Teoria da Empresa, que pauta seu conceito e normativas
a partir do Empresário, que não pode ser definido como um comerciante
evoluído, mas sim uma visão mais amplas de todas as atividades que
movimentam a economia. Ou seja, regrar todos aqueles que exercem de alguma
forma atividade econômica organizada, passando a inserir as normativas da
empresa também no Direito civil, unificando a normativa de todas as relações
privadas, sejam as de regra civil como as de regra mercantil (CAMPINHO,
2018).

No Brasil, esse dualismo da evolução do Direito Comercial ou dos atos de


comércio para o Direito Empresarial fica cronologicamente visível, sendo o
Código Comercial de 1850 (Lei nº 556) o primeiro regramento produzido em
âmbito nacional vinculado a setor privado, posto que, ainda, não havia um
Código Civil, uma vez que eram usadas como base as leis da anterior metrópole
portuguesa. Em 1916 (BRASIL, Lei nº 3.071/1916) temos o primeiro Código
Civil nacional, que acompanhou paralelamente com o código comercial, ambos
em vigor, um tratado da atuação do comerciante, visando lucro e os outros
benefícios da vida civil.

Em 2002, o Novo Código Civil (BRASIL, Lei nº 10.406/2002), na mesma


perspectiva do precursor italiano, tratou em seu âmbito de um livro intitulado
“Do Direito de Empresa” e revogou a primeira parte do Código Comercial de
1850.

Assim, legalmente, a disciplina da atividade econômica organizada tem seu


regramento geral no Código Civil sob a denominação Direito de Empresa, porém
a determinação do ramo científico como sendo “Direito Comercial” continua
tendo validade e sendo utilizada como expressões sinônimas. “O conceito de um
só corpo legislativo obrigacional, estatuído no Novo Código Civil, ocasiona a
revogação da primeira parte do Código Comercial e, em consequência, de toda
matéria relativa ao Direito Comercial terrestre” (NEGRÃO, 2018, p. 41).

Embora hoje seja tratado dentro do Código Civil, segundo a doutrina majoritária,
isso não altera a autonomia do Direito Comercial como ramo científico e
legislativo.
O fato acima constatado, em nossa visão, não irá alterar a
autonomia do Direito Comercial, sob a nova veste de direito de
empresa, embora tenha ocorrido a sua unificação legislativa com o
Direito Civil. A uma, porque a Constituição Federal de 1988, ao
dispor sobre as matérias de competência privativa da união, segue
se referindo a autonomamente ao direito comercial (art. 22,I). A
duas, porque a autonomia didática e científica não vem afetada
pelo tratamento em um único diploma legal. A três, porque a
adoção da teoria da empresa não compromete essa autonomia, na
medida em que ao empresário e ao exercício empresarial da
atividade econômica se aplica toda legislação relativa à atividade
mercantil não revogada (código Civil, art. 2037) (CAMPINHO,
2018, p. 20).
Neste sentido, pode-se definir que a atividade empresária é a atividade de
articulação, organização dos fatores de produção, quais sejam insumo, mão de
obra, tecnologia e capital, visando a produção e ou circulação de bens e serviços
para gerar lucro (COELHO, 2011).

Segundo Mamede (2009), podemos definir que o Direito Empresarial é o


conjunto de normas jurídicas (direito privado) que disciplinam as atividades das
empresas e dos empresários comerciais (atividade econômica daqueles que atuam
na circulação ou produção de bens e na prestação de serviços), bem como os atos
considerados comerciais, ainda que não diretamente relacionados às atividades
das empresas. Abrange uma teoria geral da empresa; sociedades empresariais;
títulos de crédito; contratos mercantis; propriedade intelectual; relação jurídica de
consumo; relação concorrencial; locação empresarial; falência e recuperação de
empresas.

Conceituado o Direito Empresarial, passamos à análise de suas fontes. Fontes, no


sentido jurídico, relacionam-se com a etimologia do termo. Como origem
nascente, o estudo das fontes busca delimitar de onde vêm as normas que
regulamentam as atividades empresariais.

No Direito Empresarial, podemos dividir as fontes em primárias e secundárias.


As fontes primárias ou diretas são os comandos legais, a legislação em si, por
exemplo o Código Civil, em sua parte da Teoria da Empresa, bem como a lei das
sociedades anônimas, lei de franquias, de concessão mercantil e lei de falências.
A Constituição também é fonte primária. Já as fontes secundárias, ou indiretas,
são formuladas pelo Direito, pela sociedade e pelos tribunais paralelamente à lei
(TEIXEIRA, 2017).

Assim, vê-se que, no atual contexto de ordenamento, temos um emaranhado de


leis que irão interferir direta e indiretamente na atividade empresarial. O sistema
opta por uma versão complexa e somatória de leis. Para entender todo o sistema,
devemos iniciar o estudo dos conceitos jurídicos e regras de Direito Empresarial.
Aqui, destaca-se que na linguagem coloquial, bem como na linguagem das
disciplinas correlatas, o termo pode ter outro sentido ou significado. No
momento, iremos pela correta definição jurídica dos termos.

SAIBA MAIS
Quando falamos em fontes do Direito Empresarial, logo nos cercamos de dúvidas sobre
quais são as fontes, e é imperiosa uma consulta rigorosa todas as vezes que se for pautar
e conforme o ramo de atuação, isso porque temos um excesso de leis que cria a
sensação de ilegalidade constante. “Segundo estudo do Instituto Brasileiro de
Planejamento e Tributação (IBPT), divulgado em 2014, desde a promulgação da
Constituição de 1988, já haviam sido editadas 4,96 milhões de normas para regular a
vida do cidadão brasileiro, o que corresponde a uma média de 782 normas por dia. Essa
alta produção normativa refere-se não só ao Direito Tributário, mas a todas as áreas do
Direito”. Para saber saber mais, acesse o material disponível em:
<https://www.cartacapital.com.br/sociedade/excesso-de-leis-e-imprecisao-normativa-
como-mecanismos-de-excecao>. Acesso em: 02 ago. 2018.
Diante disso, podemos definir como fontes básicas de estudo a Constituição
Federal, o Código Civil, a lei das Sociedades Anônimas, as leis uniformes dos
Títulos de Crédito, a lei de Recuperação e Falência, entre tantas outras.

Empresário: Conceito, Direitos e


Obrigações
É de extrema importância para as temáticas aqui trabalhadas que o agente tenha
domínio das terminologias técnicas adequadas. Ou seja, na linguagem coloquial,
referimo-nos comumente aos termos empresa e empresário de forma não jurídica.
Diz-se empresa para o local onde se exerce determinada atividade, bem como,
por vezes, a expressão empresário é usada para referenciar os sócios de uma
sociedade. Assim, vejamos os conceitos juridicamente em suas concepções.
Empresário
A empresa é uma atividade de risco. Colocar-se no mercado com vistas a
organizar uma atividade e produzir o lucro pode trazer êxito ou fracasso. É
condição inerente ao comércio, às empresas, esta imprevisibilidade, e é por isso
que podemos ver o Direito Empresarial como um conjunto de normas que visam
identificar o empresário para lhe exigir uma série de regulamentos burocráticos, e
com isso poder garantir a ele a diferenciação de seu patrimônio pessoal do
patrimônio que dedicou à atividade.

O Direito Empresarial visa regulamentar a empresa como atividade econômica


organizada, trazendo condições e lastros de execução em segurança para o
fomento das atividades empresariais.

A atuação econômica dos agentes privados é o motor da economia, gerando


renda, empregos e mercado consumidor. Assim, busca-se o estímulo ao
empresário, calcado em uma sistema de compensação no sentido de que aquele
que exerce empresa, ainda que fracasse, se cumpriu devidamente todos os
requisitos e exigências para o devido exercício de sua atividade, não terá
prejuízos pessoais.

Então, o Código Civil, em seu Livro II, trata do Direito de Empresa, em seu título
primeiro, a partir do art. 966, que define o empresário e lhe atribui uma série de
direitos e obrigações que o legitima, sendo o primeiro capítulo o que define a
caracterização e a inscrição do Empresário.

Vejamos:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente


atividade econômica organizada para a produção ou a circulação
de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística,
ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa (BRASIL,
2002, grifo nosso).
O legislador nos trouxe o conceito de empresário como sujeito motor das
atividades econômicas identificando seus elementos essenciais, que são:

a. exercício de uma atividade: imperioso destacar que a terminologia de


atividade precisa ser distinta de ato. Atividade significa continuidade, sequência
de atos para um resultado pretendido. Esta atividade que o empresário exerce é a
empresa, atividade essencialmente de risco.
b. econômica: a atividade exercida pelo empresário tem natureza econômica, é
dizer que visa o lucro através da exploração da produção ou circulação de bens e
serviços.

c. organizada: o empresário é o sujeito que organiza a atividade através da


organização dos fatores de produção, que são insumos, mão de obra, capital e
tecnologia. “O empresário, ao combinar os fatores de produção, cria riquezas e
atende às necessidades do mercado” (TEIXEIRA, 2017, p. 50).

d. profissionalidade: o empresário é quem exerce a atividade econômica como


profissão, o que requer habitualidade, pessoalidade, como o sujeito pessoalmente
considerado, e especialidade, como o domínio das informações (TEIXEIRA,
2017).

e. produção ou circulação de bens e serviços: estes são os objetos exercidos


pelo empresário: produzir algo novo, circular algo produzido, prestar serviços
etc. Uma gama extensa e evolutiva, conforme o desenvolvimento social e
tecnológico da sociedade.

Assim, através do conceito legal de empresário, temos quem exerce a empresa, a


doutrina que busca conceituar a empresa. Atribuindo sentidos, como em sentido
objetivo, a empresa significa o patrimônio ou o estabelecimento empresarial
como conjunto de bens definidos no art. 1042 do Código Civil (BRASIL, 2002).

Em sentido subjetivo, a empresa é vista com um sujeito de direitos e obrigações.


Em sentido corporativo, a empresa significa um conjunto de pessoas unidas em
uma finalidade. E no sentido funcional, a empresa significa a atividade
empresarial, o objeto exercido pelo empresário. (TEIXEIRA, 2017).

A empresa é distinta do empresário e do estabelecimento, tratando-se de uma


abstração jurídica, de objeto de exercício organizado para o lucro. A empresa
como entidade jurídica é uma abstração. Um doutrinador italiano chamado
Brunetti, mencionado por Rubens Requião, chegou à abstratividade da empresa
ao observar que:

[...] a empresa, se do lado político-econômico é uma realidade, do


jurídico é un'astrazione, porque, reconhecendo-se como
organização de trabalho formada das pessoas e dos bens
componentes da azienda, a relação entre a pessoa e os meios de
exercício não pode conduzir senão a uma entidade abstrata,
devendo-se na verdade ligar à pessoa do titular, isto é, ao
empresário (REQUIÃO, 2005, p. 40).
Diante destes elementos, podemos trazer a referência de que empresa e
empresário não são a mesma coisa. Empresa é a atividade exercida, enquanto o
empresário é quem a exerce, com profissionalismo e habitualidade. A empresa
pode ser exercida por uma pessoa natural, individualmente (o empresário
individual), ou por uma sociedade empresária, em geral constituída sob a forma
de sociedade limitada, que estudaremos a seguir.

Com isso, fazemos uma definição técnica: quem exerce a empresa é a sociedade,
por isso denominada sociedade empresária, os sócios de uma sociedade,
independente de qual modalidade societária adotada (sociedade de quotas de
responsabilidade limitada, sociedade anônima ou outras). Os administradores ou
gestores não são empresários.

Destaca-se que estamos tratando dos conceitos jurídicos, mas o uso do termo
empresário com sua semântica coloquial não é errado. A língua permite a
significação, e a nossa língua portuguesa é amplíssima em sentidos. Se você
consultar um dicionário e verificar os significados de empresa e empresário, verá
seu uso comum e não jurídico de expressão. Mas, para quem busca uma
formação especialista, ater-se aos termos técnicos e científicos é imperioso.

Figura 1.1 - Exercício de atividade intelectual, profissional liberal e empresa


Fonte: Elaborada pela autora.

Ainda, destaca-se o parágrafo único do art. 966 do Código Civil, que destaca que
os que exercem atividades intelectuais (científicas, literárias e artísticas) não são
considerados empresários.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem


exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou
artística, ainda com o concurso de auxiliares ou
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa (BRASIL, 2002, grifo nosso).
Esta opção legislativa refere-se às atividades intelectuais no sentido das que estão
relacionadas com habilidade técnicas específicas, personalíssimas de um sujeito,
que em regra, pelas particularidades, não podem ser exercidas em série, fazendo
uma conexão individual entre cada prestador e seu cliente. Os exemplos clássicos
são médico, dentista, contador, advogado, escritores, artistas.

Geralmente, as atividades intelectuais são realizadas por


profissionais de atividades regulamentadas ou por profissionais
liberais (sem vínculos). Porém, isso não é uma regra absoluta,
como ocorre com o corretor de seguros, que pode ser um
profissional liberal, mas não exerce atividade intelectual, e sim
atividade empresarial (TEIXEIRA, 2017, p. 54-55).
Na verdade, devido à diversidade de atuações e ao aumento de tipos
profissionais, a diferença entre atuar empresarialmente ou de forma simples
torna-se um opção de quem vai exercer a atividade, como por exemplo um
dentista, que sozinho atua em seu pequeno consultório e tem vínculo pessoal com
seus clientes, que escolhem seu serviço pela sua formação e capacidade. É um
profissional liberal de atividade intelectual, mesmo que tenha funcionários,
colaboradores, como secretária e técnica. Logo, não exerce empresa.

Já podemos pensar em dois ou três colegas dentistas que passam a atuar em


sociedade, dividindo despesas, mas ainda no mesmo sentido de atividade
personalíssima. Cada um com seus clientes, que optam pelo sujeito e sua
formação intelectual, constituem uma sociedade simples, registrada no cartório
civil (veremos mais detalhes na próxima unidade sobre as sociedade), e os
serviços prestados não serão considerados empresariais.

Ainda, podemos, dentro das novas dinâmicas de mercado, pensar nas clínicas
odontológicas, que hoje atuam sob a modalidade de franquia, onde uma série de
dentistas contratados lá exercem seu ofício, mas o paciente procura a clínica pela
estrutura e possibilidade de atendimento, não pelo profissional específico, pois o
paciente pode, inclusive, nem saber por quem será atendido. Este dentista é,
nessa estrutura, a mão de obra (um dos 4 fatores de produção organizados pelo
empresário).

Essa clínica será registrada como uma sociedade empresária, porque o que define
empresa é a organização dos fatores de produção para o exercício de uma
atividade lucrativa, onde a mão de obra é apenas um dos fatores, e não o objeto
principal.
Podemos perceber que há na empresa esse entrelaçar com produções de massa
em que não se individualiza a personalidade do cliente, e sem produtos e serviços
em série atrelados ao objeto organizado.

Vejamos, então, que definimos juridicamente empresário como o sujeito que


exerce esta atividade de risco. Vimos que o Direito Empresarial visa
regulamentar essa atividade essencial ao desenvolvimento social e econômico.
De certa forma, o objetivo do Estado, ao legislar sobre Direito Empresarial, é
regulamentar para através da segurança jurídica, fomentar as atividades,
garantindo aos sujeitos que as exercem, sejam o empresário individual ou a
sociedade empresária, com garantias jurídicas, desde que cumpridas as
regulamentações que atribuem uma generalidade de direitos e obrigações a esta
atuação.

Assim, uma vez estabelecido o objetivo de exercício de uma empresa para sua
formalização, o Direito atribui diversas obrigações. A primeira delas é o registro
devido no órgão responsável, tema do próximo tópico.

Da capacidade
O empresário precisa estar em pleno gozo da capacidade civil, e não ser
legalmente impedido dos exercícios da empresa. Lembrando, conforme
destacamos, que as proibições aplicam-se aos empresários, logo não implicam na
impossibilidade de ser sócio de sociedade empresarial.

Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que


estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem
legalmente impedidos.
Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade
própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações
contraídas.
Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou
devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele
enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança.
§ 1o Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após
exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da
conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada
pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do
menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por
terceiros.
§ 2o Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o
incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde
que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do
alvará que conceder a autorização (BRASIL, 2002).
Os demais impedidos de exercerem empresa estão regulamentados em outras leis
esparsas. Chamamos de legalmente impedidos, posto que são capazes civilmente.
Essas proibições têm motivações administrativas e fundamentos distintos, e cabe
um estudo aprimorado quando se encontrar frente a essas situações.

Vejamos alguns exemplos:

 Servidores públicos civis federais (Lei nº 8.112/90, art. 117, inciso


X), estaduais e municipais (BRASIL, 1990).
 Falidos não reabilitados - Lei 11.101/2005 (BRASIL, 2005).
• Os militares da ativa das Forças Armadas e das Polícias Militares
- Lei nº 6.880/80 (BRASIL, 1980).
• Penalmente proibidos (leis esparsas, condenação penal transitada
em julgado definindo a proibição).
• Magistrado - De acordo com a Lei Orgânica da Magistratura –
Lei Complementar nº 35, de 14 de março de 1979 (BRASIL, 1979).
 Os membros do Ministério Público - Lei nº 8.625/93, art. 44, inciso
III (BRASIL, 1993).
 Leiloeiros - Lei nº 8.934/94 (BRASIL, 1994).
 Devedores do INSS - Lei nº 8.212/91, em seu art. 95, § 2º (BRASIL,
1991).

Figura 1.2 - Registro Empresarial e Escrituração


Fonte: Popov, 123RF.
Passemos, então, a analisar que ao empresário é atribuída uma série de
obrigações para que sua atuação seja considerada regular. A primeira delas é o
devido registro na Junta Comercial, que será feito no Estado onde o empresário
irá exercer suas atividade e, por regra, antes do início das atividades.

Segundo o art. 967 do Código Civil: “É obrigatória a inscrição do empresário no


Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de
sua atividade (BRASIL, 2002, grifo nosso).

O Registro Público de Empresas Mercantis é exercido pela Junta Comercial.


Cada estado da Federação tem a sua determinação de competência, e no Código
Civil o tema é tratado dentro do título que trata das atividades complementares ao
exercício da empresa. Define-se:

Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se


ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas
Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas
Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele
registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade
empresária (BRASIL, 2002, grifo nosso).
Vejamos o que diz a página institucional da Junta Comercial do Paraná (Jucepar)
e definições sobre a constituição jurídica e objetos de atuação:

A Junta Comercial do Paraná (Jucepar) é a autarquia responsável


pelo registro e cadastramento de empresas no Estado. Dessa
maneira, é o órgão que analisa a documentação que dá
personalidade jurídica às empresas para que possam atuar
legalmente dentro de determinado segmento. Cabem à Jucepar o
controle e o encaminhamento dos processos de abertura,
alteração e baixa de empresas que funcionam no Paraná.
Criada em 1892 pela Lei estadual n° 32 de 2 de julho daquele ano,
a Jucepar atualmente é um órgão vinculado à Secretaria de Estado
da Administração e da Previdência e está tecnicamente integrada
com o Departamento de Registro Empresarial e Integração
(DREI), da Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa, do
Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior. Possui receita própria independente do Tesouro Geral
do Estado. Além de garantir a existência legal das empresas, a
Junta Comercial do Paraná também assegura o exercício normal
da atividade dos agentes auxiliares do Registro de Empresas como
os leiloeiros, tradutores públicos e armazens gerais (JUNTA…,
s./d., on-line).
É nas Juntas Comerciais que se executam os registros das empresas, sendo que a
elas cabe apenas se prender aos aspectos de forma do registro, de modo a
somente poder negá-lo se as formalidades exigidas não tiverem sido cumpridas, e
estas são sempre passíveis de serem corrigidas. A Junta deve analisar aspectos
formais do registro, e não materiais.

Há três tipos de Atos que devem ser registrados na Junta Comercial:

 Matrícula: ato de inscrição de alguns tipos de profissionais com


funções para comerciais. Ex.: leiloeiros, intérpretes, tradutores etc.
 Arquivamento: inscrição do empresário individual e das
cooperativas, alterações contratuais das sociedades empresárias, atos
relacionados a consórcios de empresas e grupos de sociedades, atos
relacionados a empresas mercantis estrangeiras autorizadas a
funcionar no Brasil.
 Autenticação: diretamente relacionada aos livros comerciais, é o ato
que regulariza ou ainda que confirma a correspondência entre a cópia
e o original desses livros.

A lei diz que, mesmo quando é efetivado o registro na Junta Comercial, se em 10


anos não for feito perante ela qualquer arquivamento, é necessário que a empresa
informe se continua ou não exercendo sua atividade, pois, se assim não se
proceder, a Junta poderá cancelar seu registro.

Quando um empresário individual ou uma sociedade, recebendo uma notificação


da Junta para se manifestar, assim não o fizer, passarão a ser considerados
empresário ou sociedade irregular, perdendo ainda a proteção do nome
empresarial. Nesses casos, para serem regulares novamente, deverão passar por
todo o procedimento legal, como se fossem constituir uma nova empresa e, caso
tenha sido registrada uma empresa com o nome empresarial que lhe pertencia,
este não poderá mais ser utilizado.

Aos empresários, titulares de atividades empresariais, são assegurados alguns


direitos (como a possibilidade de requerimento da recuperação judicial ou
extrajudicial da empresa, da autofalência, da utilização dos seus livros para
formar provas a seu favor), que não podem ser invocados pelos profissionais
intelectuais.

A finalidade do registro, que é público em todos os seus atos, é justamente dar


publicidade, tornar conhecida a atividade empresarial que será exercida e sob de
que forma de atuação e responsabilidades irá atuar, bem como definição de sede
e capital social, elementos que analisaremos no próximo capítulo.
Art. 968. A inscrição do empresário far-se-á mediante
requerimento que contenha:
I - o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado,
o regime de bens;
II - a firma, com a respectiva assinatura autógrafa;
II - a firma, com a respectiva assinatura autógrafa que poderá ser
substituída pela assinatura autenticada com certificação digital ou
meio equivalente que comprove a sua autenticidade, ressalvado o
disposto no inciso I do § 1o do art. 4o da Lei Complementar no
123, de 14 de dezembro de 2006; (Redação dada pela Lei
Complementar nº 147, de 2014)
III - o capital;
IV - o objeto e a sede da empresa.
§ 1º Com as indicações estabelecidas neste artigo, a inscrição será
tomada por termo no livro próprio do Registro Público de
Empresas Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo
para todos os empresários inscritos.
§ 2º À margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão
averbadas quaisquer modificações nela ocorrentes.
§ 3º Caso venha a admitir sócios, o empresário individual poderá
solicitar ao Registro Público de Empresas Mercantis a
transformação de seu registro de empresário para registro de
sociedade empresária, observado, no que couber, o disposto
nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código (Incluído pela Lei
Complementar nº 128, de 2008).
§ 4º O processo de abertura, registro, alteração e baixa do
microempreendedor individual de que trata o art. 18-A da Lei
Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, bem como
qualquer exigência para o início de seu funcionamento deverão ter
trâmite especial e simplificado, preferentemente eletrônico,
opcional para o empreendedor, na forma a ser disciplinada pelo
Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do
Registro e da Legalização de Empresas e Negócios - CGSIM, de
que trata o inciso III do art. 2º da mesma Lei (Incluído pela Lei nº
12.470, de 2011).
§ 5º Para fins do disposto no § 4o, poderão ser dispensados o uso
da firma, com a respectiva assinatura autógrafa, o capital,
requerimentos, demais assinaturas, informações relativas à
nacionalidade, estado civil e regime de bens, bem como remessa de
documentos, na forma estabelecida pelo CGSIM (BRASIL, 2002,
grifo nosso).
A lei que estrutura as Juntas Comerciais, seus objetivos, finalidades e regras, é a
Lei 8.934/94. Vejamos:

Art. 1º O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades


Afins, subordinado às normas gerais prescritas nesta lei, será
exercido em todo o território nacional, de forma sistêmica, por
órgãos federais e estaduais, com as seguintes finalidades:
I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia
aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro
na forma desta lei;
II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em
funcionamento no País e manter atualizadas as informações
pertinentes;
III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio,
bem como ao seu cancelamento.
Art. 2º Os atos das firmas mercantis individuais e das sociedades
mercantis serão arquivados no Registro Público de Empresas
Mercantis e Atividades Afins, independentemente de seu objeto,
salvo as exceções previstas em lei.
Parágrafo único. Fica instituído o Número de Identificação do
Registro de Empresas (NIRE), o qual será atribuído a todo ato
constitutivo de empresa, devendo ser compatibilizado com os
números adotados pelos demais cadastros federais, na forma de
regulamentação do Poder Executivo (BRASIL, 1994, grifo nosso).
Assim, teremos outras etapas do registro da empresa relacionadas a seus
compromissos de impostos federais, estaduais e municipais, bem como o alvará
de funcionamento no município.
Figura 1.3 - Registros de Empresas
Fonte: Elaborada pela autora.

É na junta comercial também que será mantida toda a escrituração empresarial,


de inscrição e controle de atos contábeis e dos livros empresariais obrigatórios e
facultativos no termo de lei.

Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados


a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com
base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência
com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço
patrimonial e o de resultado econômico.
§ 1º Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros
ficam a critério dos interessados.
§ 2º É dispensado das exigências deste artigo o pequeno
empresário a que se refere o art. 970.
Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é
indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso
de escrituração mecanizada ou eletrônica.
Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro
apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de
resultado econômico (BRASIL, 2002, grifo nosso).

Empresário Irregular
Analisadas em geral as regras de registro e escrituração para o exercício da
empresa, menciona-se, então, a consequência para quem não cumpre
devidamente todas suas obrigações. É o chamado empresário ou sociedade
empresária irregular, informal ou de fato.

Devido a isso, o empresário e a sociedade irregulares ou informais


não podem gozar dos direitos assegurados por lei ao empresário e
à sociedade regularizada, como a recuperação de empresas,
autofalência, uso dos livros como prova etc. No caso de sociedade
empresária, não haverá separação patrimonial quanto aos bens da
empresa e dos sócios, nem a limitação da responsabilidade dos
sócios pelo valor das respectivas quotas (TEIXEIRA, 2017, p. 73-
74).

Nome empresarial
O nome empresarial é o nome que identifica o empresário ou a sociedade
empresarial perante a junta comercial. Este nome precisa seguir os princípios da
novidade, veracidade e unicidade, ou seja, cada empresário precisa ser um nome
que o identifique unicamente, seja verdadeiro com relação ao objeto que exerce e
seja o único perante o registro na junta. Assim, antes do registro é necessário se
fazer um estudo de viabilidade de nome.

Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a firma ou a


denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o
exercício de empresa.
Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos
da proteção da lei, a denominação das sociedades simples,
associações e fundações.
[...]
Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer
outro já inscrito no mesmo registro.
Parágrafo único. Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros
já inscritos, deverá acrescentar designação que o distinga
(BRASIL, 2002, grifo nosso).
É o nome empresarial que identifica o empresário e a sociedade empresária em
todos os seus atos. Toda sua atuação deverá ser feita nesse nome. Existe o nome
empresarial, que pode ser da firma ou denominação. A lei especifica os casos que
devem utilizar o tipo de nome empresarial.

Firma é o nome empresarial constituído pelo sobrenome, ou nome civil dos


empresários ou sócios.
Firma individual/firma ou razão social Denominação social

O nome é composto pelo nome do empresário ou


sobrenome (nome civil) ou sobrenome dos sócios da
Nome inventado que reflita atividade exerci
sociedade. Silva e Silva LTDA, Silva Eireli, Silva,
Souza e Cia LTDA.

Quadro 1.1 - Firma individual/firma ou razão social e sua denominação social


Fonte: Elaborado pela autora.

Art. 1.158. Pode a sociedade limitada adotar firma ou


denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua
abreviatura.
§ 1º A firma será composta com o nome de um ou mais sócios,
desde que pessoas físicas, de modo indicativo da relação social.
§ 2º A denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo
permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios.
§ 3º A omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade
solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a
firma ou a denominação da sociedade.
Art. 1.159. A sociedade cooperativa funciona sob denominação
integrada pelo vocábulo "cooperativa".
Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação
designativa do objeto social, integrada pelas expressões "sociedade
anônima" ou "companhia", por extenso ou abreviadamente.
Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do
fundador, acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bom
êxito da formação da empresa.
Art. 1.161. A sociedade em comandita por ações pode, em lugar de
firma, adotar denominação designativa do objeto social, aditada da
expressão "comandita por ações".
Art. 1.162. A sociedade em conta de participação não pode ter
firma ou denominação (BRASIL, 2002, grifo nosso).
Devidamente inscrito na junta comercial, o nome empresarial está protegido, mas
essa proteção tem o âmbito de atuação da junta comercial, que é Estadual.

Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das


pessoas jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro
próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do
respectivo Estado.
Parágrafo único. O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o
território nacional, se registrado na forma da lei especial (BRASIL,
2002).

Prepostos
Vimos que a empresa não se confunde com o empresário nem com seus sócios. A
concretização da empresa se faz por meio de pessoas que a ela se ligam, como
administradores, gerentes, empregados, contadores entre outros. A lei também
define os prepostos do empresário, sendo que estes podem ser obrigatórios ou
facultativos.

Preposto é a pessoa devidamente nomeada para representar a empresa em seus


atos. Pode ter vínculo empregatício ou não com a empresa, e pode ser um
colaborador permanente ou temporário.

Vejamos seus atributos legais e limitações, bem como responsabilidades, nos


termos do Código Civil:

Art. 1.169. O preposto não pode, sem autorização escrita, fazer-se


substituir no desempenho da preposição, sob pena de responder
pessoalmente pelos atos do substituto e pelas obrigações por ele
contraídas.
Art. 1.170. O preposto, salvo autorização expressa, não pode
negociar por conta própria ou de terceiro, nem participar, embora
indiretamente, de operação do mesmo gênero da que lhe foi
cometida, sob pena de responder por perdas e danos e de serem
retidos pelo preponente os lucros da operação.
Art. 1.171. Considera-se perfeita a entrega de papéis, bens ou
valores ao preposto, encarregado pelo preponente, se os recebeu
sem protesto, salvo nos casos em que haja prazo para reclamação
(BRASIL, 2002).
Entre os prepostos, que são os mais diversos, o Código Civil retrata dois: os
gerentes e contabilistas. O gerente, nos termos do art. 1.172 e seguintes do
Código Civil, é um preposto facultativo, distinto do administrador da sociedade,
que tem suas funções determinadas em contrato social. Qualquer pessoa pode
exercer essa função.

O gerente é o preposto com funções de chefia, no local da execução do objeto


empresarial. O empresário pode limitar seus poderes por ato escrito, que deve ser
lavrado à Junta Comercial para que possa produzir efeitos sobre terceiros. Caso
não haja limite, há a responsabilização do proponente em seus atos, e pode o
gerente, inclusive, atuar em juízo em decorrência das obrigações relativas aos
atos de sua função. O contabilista ou contador é um proposto obrigatório, art.
1.182 e seguintes do Código Civil, que deve estar devidamente inscrito em seu
órgão de classe. É obrigatório porque os livros que obrigatoriamente devem ser
escriturados pelo empresário são de responsabilidade deste preposto.

Em geral, este serviço é exercidos por prestadores de serviço terceirizado.


Apenas grandes empresas têm esses prepostos contratados como empregados.

Com esses temas encerramos nossa primeira unidade, que buscou trazer
conceitos essenciais e, principalmente, os fundamentos legais do Direito
Empresarial e do empresário. Destacamos que a cada tipo de empresa, objeto a
ser exercido, existirá um emaranhado de normativas específicas de âmbito
federal, estadual e municipal. Assim, o profissional deve se inteirar e buscar estar
sempre atualizado sobre todas as especificidades de atuação.

Rulli Neto · Direito Comercial - Unidade 1

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