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DIREITO EMPRESARIAL: Uma Breve Abordagem

Resumo
Direito empresarial é um ramo do direito privado que pode ser entendido como
o conjunto de normas disciplinadoras da atividade negocial do empresário e de
qualquer pessoa física ou jurídica, destinada a fins de natureza econômica,
desde que habitual e dirigida à produção de bens ou serviços conducentes a
resultados patrimoniais ou lucrativos, e que a exerça com a racionalidade
própria de "empresa", sendo um ramo especial de direito privado. Descreve as
principais características desse ramo do Direito, suas fontes, definição,
aplicação e função. Traz informações sobre o que é empresa e empresário á
luz da doutrina e das normas do direito brasileiro, bem como de autores do
tema.

Na segunda metade do século XX, o foco se deslocou de fato para


serem organizadas as atividades econômicas, pelo empresário ou pela
sociedade organizada. Como afirma Teixeira (2016, p. 33), entrou em vigência
o Código Civil de 2002, baseado na teoria da empresa do sistema italiano que
alcança todas as atividades econômicas sistematizadas para a produção, ou
para a movimentação de bens, ou serviços, exceto as atividades intelectuais.
Esse código não se preocupou com o tipo de atividade, mas, sim, com o
desenvolvimento em relação a organização de capital, no trabalho e matéria-
prima utilizada.
O Direito Empresarial é, portanto, o conjunto de normas jurídicas que
regulam as transações econômicas privadas empresariais que visam à
produção e à circulação de bens e serviços por meio de atos exercidos
profissional e habitualmente, com o objetivo de lucro. (Requião 2007).
Para entender melhor o Direito Empresarial, é essencial conhecer as
suas fontes. Doutrinariamente, podemos definir como fonte de direito todos os
modos pelos quais se estabelecem as regras jurídicas, podendo, assim, serem
divididas em fontes primárias, que são as leis, regulamentos e tratados
comerciais, aos quais os elementos concorrem para a criação de leis, e as
secundárias, que compreendem as fontes externas que se manifestam em
direito, como usos e costumes, jurisprudência, analogia, princípios gerais do
Direito.
O Direito empresarial aplica-se ao empresário e empresa e disciplina
de forma sistematizada esses dois elementos. É importante destacar que
empresa não se trata de uma pessoa jurídica ou mesmo uma pessoa física.
Empresa é a atividade exercida pelo empresário. No Código Civil, está a figura
do empresário, definida no art. 966 como sendo quem exerce profissionalmente
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou
de serviços. Baseado no que escreveu Ramos (2008), podemos dizer que
empresário é a soma de quatro elementos que devem, obrigatoriamente, ser
observados em conjunto: profissionalismo, atividade econômica, organização,
produção ou circulação de bens ou serviços. Não se considera empresário
quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística,
ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elementos de empresa, conforme SILVA (2007).
A diferenciação entre a sociedade simples e a empresária, portanto,
está no objetivo da pessoa jurídica e não nos lucros ou na complexidade da
atividade, vez que a lei trata exclusivamente de quais são as atividades que
são, por simples exclusão, sociedades simples. Assim, um artista como
Romero Britto, por exemplo, que se utiliza de centenas de colaboradores no
mundo inteiro, expõe suas obras, vende sua marca para inúmeros
atravessadores e arrecada mais de 100 milhões de dólares por ano,
jamais será um empresário no exercício de sua atividade, pois, o que
interessa, do início ao fim, é o seu trabalho artístico. De outra forma,
mesmo que uma grande construtora tenha vários engenheiros, arquitetos,
químicos, geólogos e geógrafos que fazem parte intelectual de sua equipe, ela
jamais será uma sociedade simples, pois o que interessa é o que ela entrega,
ou seja, a construção. Portanto, o artista (por exemplo) sempre exerce
atividade simples, enquanto a construtora (também por exemplo) sempre
exerce atividade empresária.
E no art. 982 são salvas as exceções expressas, considera-se
empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de
empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.
Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por
ações; e, simples, a cooperativa. O direito da empresa traz regras especiais
para disciplinar o mercado econômico, na qual a base assenta-se em alguns
princípios:
Princípio da dignidade da pessoa humana: O que tem preço pode ser
substituído por alguma outra coisa equivalente e por isso não permite nenhuma
equivalência, tem dignidade. Substancialmente, a dignidade de um ser racional
consiste no fato de ele não obedecer a nenhuma lei que não seja também
instituída por ele mesmo. A moralidade, como condição dessa autonomia
legislativa, é, portanto, a condição da dignidade do homem, e moralidade e
humanidade são as únicas coisas que não têm preço. (ABBAGNANO, 1998, p.
276/277).
Princípio da livre iniciativa: A previsão constitucional da livre iniciativa
determina que “a eleição da atividade que será empreendida assim como o
quantum a ser produzido ou comercializado resultam de uma decisão livre dos
agentes econômicos” (MELLO, 2005, p. 732).
Princípio da valorização do trabalho humano: A Constituição declara
que a ordem econômica é fundada na valorização do trabalho humano e na
iniciativa privada. Embora capitalista, a ordem econômica dá prioridade aos
valores do trabalho humano sobre todos os demais valores da economia de
mercado. Conquanto se trate de declaração de princípio, essa prioridade tem o
sentido de orientar a intervenção do Estado, na economia, a fim de fazer valer
os valores sociais do trabalho que, ao lado da iniciativa privada, constituem o
fundamento não só da ordem econômica, mas da própria República Federativa
do Brasil (art. 1º, IV). (SILVA, 2007, p. 788).
Princípio da livre concorrência: Visam tutelar o sistema de mercado e,
especialmente, proteger a livre concorrência, contra a tendência
açambarcadora da concentração capitalista. A Constituição reconhece a
existência do poder econômico. Este não é, pois, condenado pelo regime
constitucional. Não raro esse poder econômico é exercido de maneira
antissocial. Cabe, então, ao Estado intervir para coibir o abuso. (SILVA, 2007,
p. 795).
Princípio da propriedade privada e da função social da propriedade: A
norma que contém o princípio da função social da propriedade incide
imediatamente, é de aplicabilidade imediata, como o são todos os princípios
constitucionais. A própria jurisprudência já o reconhece. Realmente, afirma -se
a tese de que aquela norma tem plena eficácia, porque interfere com a
estrutura e o conceito da propriedade, valendo como regra que fundamenta um
novo regime jurídico desta, transformando-a numa instituição de Direito
Público, especialmente, ainda que nem a doutrina nem a jurisprudência tenham
percebido o seu alcance, nem lhe dado aplicação adequada, como se nada
tivesse muda do. (SILVA, 2007, p. 281).
Do ponto de vista do Direito Empresarial a função social da empresa
está relacionada à satisfação de uma demanda humana por bens e serviços. A
partir desse prisma conceitual deve se salientar que a empresa detém papel
social importante para a efetivação de direitos e garantias fundamentais
implementados pelos Estados de direito. É bem verdade que o fim último da
empresa é o lucro, mas também é verdade que, na busca pelos lucros e
mercados a sociedade seja beneficiada uma vez que a corrida pelos lucros
produz resultados positivos, como a geração de emprego.
A dimensão constitucional da atividade empresarial implica uma
responsabilidade social da empresa na exploração da atividade econômica,
como forma de tutelar os interesses coletivos, tutela esta que deriva da ordem
econômica, que relativizou dogmas como a livre iniciativa e a autonomia
privada. Desse modo, a atividade empresarial lança-se além da concepção
privatista, cujo núcleo era o individualismo, para concretizar as necessidades e
interesses coletivos, socializando as relações privadas. Trata-se da inclusão
dos interesses individuais na realidade socioeconômica.

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia; tradução Alfredo Bosi. 2 ed.


São Paulo: Martins Fontes, 1998.

BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para


conceituar o empresário. Brasília, DF, 2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 03
dez.2019.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 18ª ed.
São Paulo: Malheiros, 2005.

RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado. São


Paulo: Método, 2010.
REQUIÃO, Rubens Edmundo. Curso de Direito Comercial. 25. ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.

SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria da Empresa e Direito


Societário. São Paulo: Atlas, 2007
SILVA. José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 28ª edição,
revista e atualizada até a Emenda Constitucional n. 53, de 19/12/2006. São
Paulo: Malheiros, 2007.

TEIXEIRA, Tarcísio. Direito empresarial sistematizado: doutrina,


jurisprudência e prática. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

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