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A Teoria da Empresa no direito brasileiro

Conforme citei anteriormente, o ordenamento jurídico brasileiro adotou a Teoria dos

Atos de Comércio a partir de 1850. No entanto, com a forte influência exercida pelo

direito europeu, especialmente o italiano, sobre direito privado brasileiro, a partir de

1942 os ventos da Teoria da Empresa começaram a soar no Brasil.

A positivação efetiva da Teoria da Empresa no Brasil ocorreu apenas com o advento do

Código Civil de 2002, cuja gestação iniciou na década de 70 do século XX, fortemente

influenciado pela legislação italiana de 1942. É bem verdade que antes mesmo da

edição do Código Civil de 2002 o sistema jurídico brasileiro foi, pouco a pouco,

introduzindo o conceito de empresa por meio de leis esparsas, como as leis da

Construção Civil (n. 4.068/1962), a lei dos Condomínios e da Incorporação Imobiliária (n.

4.591/64) e a lei das Sociedades por Ação (n. 6.404/1976).

O cerne da teoria adotada está na centralização do ente economicamente organizado

(e não apenas nos atos praticados por ele), cuja destinação é a de produzir e/ou

circular bens e serviços. Esse ente chama-se empresa.

A Teoria dos Perfis de Alberto Asquini

Ainda que o conceito de empresa não seja unitário, a observação do fenômeno

empresa é possível, destacando-se, por base, a Teoria dos Perfis, de Alberto Asquini,

que lista quatro perfis principais para definir um conceito.

• Perfil subjetivo: exercício profissional de atividade econômica organizada


com o fim de produção e/ou troca de bens ou serviços;
• Perfil funcional: deve-se identificar a empresa com a atividade
empresarial, sendo a empresa aquela força em movimento dirigida à
produção;
• Perfil objetivo ou patrimonial: empresa considerada como um conjunto
de bens destinado ao exercício de uma atividade empresarial, distinto do
restante do patrimônio da empresa, ou seja, um patrimônio afetado a
uma finalidade;
• Perfil corporativo: empresa como a organização de pessoas (empresário,
colaboradores e prestadores de serviços) cuja função é a perseguição de
um fim econômico comum.

Nota-se que nos perfis estabelecidos, é possível a observação de aspectos essenciais à

atividade econômica: a empresa, o empresário e o estabelecimento.

Como muitos são os conceitos de empresa, assim como amplas são as discussões a

respeito da natureza jurídica da empresa, deve-se compreender e aceitar a empresa

como um fenômeno econômico poliédrico, capaz de assumir, em conjunto com seus

diversos elementos, muitos perfis distintos.

Um resumo da Teoria da Empresa no Brasil

O Código Civil de 2002 inaugurou, formalmente, a Teoria da Empresa no ordenamento

jurídico brasileiro. Assim, como consequência, termos como “comerciante” e “ato de

comércio” deixaram de ser predominantes; momento em que a referência passou a ser

feita às empresas, aos empresários e à sociedade empresária.

Assim como na Itália, o Brasil unificou a disciplina dos sistemas civil e comercial,

ainda que continue respeitada a autonomia do direito empresarial. Com isso, houve o

deslocamento do âmbito de aplicação das normas especiais às atividades empresariais,

que não mais se dirigiriam aos atos empresariais, mas sim aos sujeitos (empresário),

sejam eles pessoas naturais ou pessoas jurídicas.

Leia também: os mais importantes princípios do direito empresarial.

Conforme a Teoria da Empresa, o que é ser empresário?

A convivência entre os regimes civil e empresarial reclama a identificação dos atos

empresariais capazes de atrair a incidência das normas específicas. Desse modo, o art.

966 do Código Civil busca definir o conceito de empresário, de onde se extraem os

seguintes critérios:

• A produção ou circulação de bens ou serviços;


• A forma economicamente organizada;
• A profissionalidade.
Nesses termos, exige-se o ato de empresa (em sentido amplo), a habitualidade e o

intuito de lucro. O ato de empresa deve ser praticado por empresário, seja individual

ou seja sociedade empresária. Por opção legislativa, as sociedades simples não

praticam ato de empresa, ainda que tenham habitualidade e intuito de lucro.

O parágrafo único do art. 966 dispõe que as atividades intelectuais, de natureza

científica, literária ou artística não são atividades empresariais, a menos que o

exercício da profissão constitua elemento da empresa.

Então, o que é considerado empresa?

Buscando sanar a controvérsia da redação legal, o Conselho da Justiça Federal editou

alguns enunciados:

193 — O exercício das atividades de natureza exclusivamente intelectual está excluído

do conceito de empresa.

194 — Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a

organização dos fatores da produção for mais importante que a atividade pessoal

desenvolvida.

195 — A expressão “elemento de empresa” demanda interpretação econômica,

devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza

científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial.

196 — A sociedade de natureza simples não tem seu objeto restrito às atividades

intelectuais.

199 — A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador da

sua regularidade e não da sua caracterização.

Como exemplo de diferenciação na aplicação prática, tem-se um professor ou uma

professora de inglês, que praticam atividade intelectual ao lecionar de forma particular,

ou seja, sem qualquer ato empresarial. Por outro lado, uma escola de inglês, cujo

método de ensino esteja dentre os fatores de produção, caracteriza-se como praticante

de atos de empresa.
Conclusão

Por meio do conteúdo acima, é possível perceber que a teoria da empresa teve o

condão de modificar um dos grandes paradigmas do direito privado. O direito

comercial deixou de ser o direito do comerciante, como era nas corporações de ofício e

posteriormente no contexto dos atos de comércio, para ser o direito da empresa.

Além da expansão da abrangência das normas, o ordenamento ficou focado em

observar o fenômeno de exercício da atividade econômica sob a forma empresarial. De

modo que, qualquer atividade econômica, desde que exercida conforme os ditames do

art. 966 do Código Civil, está sujeita às normas do direito empresarial.

Em conclusão, ainda que maçante a retomada reflexiva das transformações do direito

comercial, ela é fundamental para a adequação do advogado às exigências

contemporâneas das relações comerciais. Afinal, as demandas são altamente

complexas e carecedoras de conhecimentos técnicos baseados no desenvolvimento

histórico dos conceitos básicos da matéria.

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