Você está na página 1de 23

Empresário individual e sociedades

empresárias

Apresentação
Conhecer as possibilidades de formatação jurídica para quem quer empreender é de fundamental
importância para calcular os riscos do negócio. Assim, torna-se fundamental aprender quais são as
distinções entre as diversas roupagens jurídicas para o negócio.

Nesta Unidade de Aprendizagem, serão abordados a empresa, o empresário e a sociedade


empresária e suas distinções conceituais.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar o que vem a ser empresa, o empresário e a sociedade empresária.


• Distinguir empresa de empresário e empresário individual de sociedade empresária.
• Reconhecer esses institutos e sua correta regulamentação.
Desafio
João pretende empreender no ramo da beleza e criar o Instituto de Beleza João Mafra. Ao
consultar as várias possibilidades que se lhe apresentam, João não sabe quais os riscos correria se:

a) criasse uma sociedade com a sua esposa;


b)empreendesse sozinho, em seu nome próprio;
c) empreendesse por meio de uma Sociedade Limitada Unipessoal (SLU).

Quais são os riscos ao patrimônio pessoal de João se, após empreender, o negócio não der certo?
Você saberia lhe indicar quais são as melhores formas para proteger seu patrimônio?
Infográfico

No infográfico a seguir, estão ilustradas as distinções entre as diversas roupagens jurídicas para o
negócio
Conteúdo do livro
O exercício da atividade empresarial é regulamentada pelo Código Civil de 2002, demonstrando a
união do direito econômico privado, com a possibilidade de abrangência de diferentes atividades
que não encontravam regulamentação, como os profissionais liberais que constituem elemento de
organização societária na forma de empresa.

Neste Capítulo de Empresário Individual e Sociedades Empresárias, você aprenderá a distinguir


entre empresa, empresário e sociedades empresárias, assim como estudará a evolução da antiga
teoria dos atos do comércio para a teoria da empresa. Aprenda, também, sobre a regulamentação
das atividades empresariais, conferindo que apenas aos empresários se poderá outorgar o benefício
da recuperação judicial.

Boa leitura.
DIREITO COMERCIAL
Empresário
individual e
sociedades
empresárias
Eduardo Kucker Zaffari

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Identificar o que vem a ser empresa, o empresário e a sociedade em-


presária.
> Distinguir empresa de empresário e empresário individual de sociedade
empresária.
> Reconhecer esses institutos e sua correta regulamentação.

Introdução
O desenvolvimento de um país forte está ligado a uma economia forte, pau-
tada na livre concorrência e na paridade entre os agentes econômicos, o que
tem como pressuposto a regulamentação das atividades econômicas e a sua
fiscalização pelos órgãos governamentais. Nesse sentido, ganha relevância a
correta abrangência das atividades que impulsionam a economia, especialmente
as empresariais.
Neste capítulo, vamos definir o que é empresa, empresário e sociedade
empresária, abordando a evolução do Direito Comercial até sua nova concep-
ção como Direito Empresarial. Também vamos refletir sobre a nova Teoria da
Empresa adotada pelo Código Civil brasileiro de 2002, em que as atividades
2 Empresário individual e sociedades empresárias

exercidas ganham relevo e proteção legal, visando ao desenvolvimento da


indústria e do comércio nacionais.

A empresa, o empresário e a sociedade


empresária
A união de pessoas para se atingir o mesmo fim existe desde a antiguidade
mais remota. Francisco Cavalcante Pontes de Miranda, considerado um dos
maiores doutrinadores que o país já teve, dava notícia de que, na antiguidade
remota da Babilônia, os antigos firmavam sociedades mediante contratos
que se extinguiam com a morte de seus partícipes, por meio da liquidação
realizada pelos seus herdeiros. Na Grécia, as diferentes sociedades poderiam
ter os mais diversos fins, desde comerciais, industriais, religiosos, até a união
de guerreiros em associação (PONTES DE MIRANDA, 2012). Ao atualizar a obra
de Pontes de Miranda, Alfredo de Assis Gonçalves Neto traz a moderna con-
cepção de contrato de sociedade, elemento caracterizador do que virá a ser a
união de esforços por um fim comum, afirmando que “contrato de sociedade
é o contrato pelo qual duas ou mais pessoas se vinculam, reciprocamente, a
colimar fim comum, mediante coatividade” (PONTES DE MIRANDA, 2012, p. 64).
Esse conceito do atualizador da obra permite a compreensão de que a
manifestação de vontade de uma ou mais pessoas para a obtenção de pres-
tações de interesse comum é a causa da contratação em sociedades. São re-
lações jurídicas formadas contratualmente para a consecução de fins comuns.
Exatamente nesse sentido, o art. 981 do Código Civil brasileiro prescreve que
“celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam
a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica
e a partilha, entre si, dos resultados” (BRASIL, 2002, documento on-line).

As expressões “fundo de comércio” e “estabelecimento comercial”


referem-se ao conjunto de bens corpóreos e incorpóreos da atividade
empresarial. Embora a primeira tenha origem francesa e a segunda expressão
decorra da doutrina italiana, são usualmente empregadas como sinônimos pela
doutrina brasileira.
Empresário individual e sociedades empresárias 3

O direito brasileiro adotou a Teoria da Empresa desenvolvida na Itália para


a caracterização dos atos empresariais, em que se valorizam as atividades
de produção e circulação de bens ou serviços, excluindo-se as de cunho
intelectual, científico, literário ou artístico. Negrão (2020, p. 33) afirma que
“é empresarial a atividade econômica organizada para a produção ou a cir-
culação de bens ou de serviços”, arrematando que “será empresário aquele
que exercer profissionalmente esta atividade”. Embora esse conceito exclua
algumas atividades, como as intelectuais e artísticas, não se deve olvidar
que algumas entidades empresariais fornecerão bens e serviços ligados às
atividades excluídas, como as empresas de entretenimento que se utilizam
de atividades artísticas para atingir seus fins (p. ex., as emissoras de sinal
de televisão).
Diferentes abordagens podem ser adotadas para a compreensão do perfil
da empresa, do empresário e da sociedade empresária. O primeiro aspecto que
pode ser estudado é o aspecto subjetivo da empresa, em que se compreende o
estudo da pessoa que exerce a atividade empresarial, seja essa pessoa natural
ou jurídica (quando se organiza como sociedade empresária). Aqui se leva em
conta quem exerce a atividade. A segunda abordagem que pode ser adotada
é o aspecto objetivo da empresa, concentrando-se nos bens corpóreos e
incorpóreos utilizados no ato empresarial. Afirma-se o aspecto objetivo por
considerar o estabelecimento empresarial e aquilo que é necessário para a
realização dos fins da sociedade. Outra abordagem que poderá caracterizar a
atividade empresarial é o aspecto funcional, pois vai se considerar a própria
atividade desenvolvida pela sociedade ou empresário para que se atinjam
os fins propostos por ela. Noutros termos, nessa abordagem consideram-se
as atividades realizadas pela entidade que a caracterizam como empresa ou
sociedade empresária. Um quarto aspecto, que no Brasil não se considera
na Teoria da Empresa, por estar afeto à legislação trabalhista, é o aspecto
corporativo, também chamado “institucional”. Nesse aspecto, é estudado e
analisado o esforço empregado pelos colaboradores e empregados da empresa
para que se realizem as atividades empresariais. Embora seja fundamental o
esforço empregado pelos colaboradores da empresa na união entre capital e
trabalho, esse último aspecto é estudado pelo Direito do Trabalho e recebe
regramento próprio (NEGRÃO, 2020).
Ulhoa Coelho (2019, p. 47) afirma que “empresário é a pessoa que toma a
iniciativa de organizar uma atividade econômica de produção ou circulação
de bens ou serviços”. Pode-se afirmar que será empresário aquele que detém
conhecimentos específicos para compreender os ganhos e riscos de deter-
minada atividade, optando por empreender em certa atividade econômica.
4 Empresário individual e sociedades empresárias

Atendendo-se ao prescrito no art. 968 do Código Civil, o registro


da atividade empresarial se fará no Registro Público de Empresas
Mercantis, em que deverão constar os dados do empresário, a sua firma, o capital
empreendido, o objeto e a sede da empresa (BRASIL, 2002).

Diante da regulação das atividades empresariais em diferentes textos


normativos, gera-se alguma confusão entre as diferentes expressões adotadas,
o que torna necessária a elucidação sobre o emprego de cada uma delas.
O principal equívoco é confundir a pessoa do empresário com as sociedades
empresárias e seus sócios. O uso coloquial para denominar as entidades que
exercem atividades empresariais acaba por induzir erro.
Tecnicamente falando, a empresa é a atividade empresarial a que ela se
propõe, conforme seu aspecto funcional. A empresa é uma atividade exercida,
não a pessoa jurídica propriamente dita. O uso comum da expressão leva ao
equívoco popular de considerar a empresa como a sociedade em si. A enti-
dade composta para o exercício de atividades empresariais será denominada
“sociedade empresária” quando ela for composta por diferentes sócios unidos
para atingir um determinado fim econômico. Sendo assim, não está correto
denominar os sócios de uma sociedade empresária como “empresários”,
devendo-se chamar a eles “sócios” dessa sociedade empresária. Essa socie-
dade empresária poderá ser composta por pessoas naturais e/ou pessoas
jurídicas, todas denominadas simplesmente como “sócios”. Observe-se, en-
tretanto, que a atividade empresarial poderá ser realizada por uma pessoa
natural que se registra para tal fim, sem necessariamente se associar com
terceiros. Nessa hipótese, vai se estar à frente de um empresário que exerce
atividades empresariais sem compor uma sociedade empresarial composta
por diferentes sócios.

Distinguindo-se empresa de empresário


e empresário individual de sociedade
empresária
Um ponto que costuma gerar alguma confusão é o uso indistinto dos termos
“empresário” e “comerciante”. A doutrina e a legislação brasileiras empregam
o nome “Direito Comercial” para se referir ao ramo do Direito destinado a
estudar os meios socialmente estruturados para a resolução de conflitos
Empresário individual e sociedades empresárias 5

decorrentes de relações correlatas à atividade de produção e circulação


de bens e serviços. Essa tradição foi reforçada com o advento do Código
Comercial — Lei nº 556, de 25 de junho de 1850 (BRASIL, 1850a). Entretanto, a
riqueza das atividades que movimentam a economia, incluindo as atividades
bancárias, securitárias e de prestação de diversos serviços, ampliou o es-
pectro de estudo desse ramo do Direito. Daí a necessidade de evolução para
uma designação mais abrangente, encontrando-se no Direito Empresarial a
possibilidade de inserção de uma gama muito maior de atividades a serem
reguladas. Numa tentativa de unificar e atualizar a legislação outrora deno-
minada como “Comercial”, O Código Civil de 2002 estabeleceu em seu art. 966
o Direito da Empresa (BRASIL, 2002). Nesse sentido, embora se possam usar
as expressões “comerciante” e “empresa” ou “Direito Comercial” e “Direito
Empresarial” para designar os mesmos fenômenos, as últimas expressões
são certamente mais abrangentes e modernas.
Dois são os sistemas que regulam a teoria empresarial na tradição ro-
mânica do Direito: o francês e o italiano. O sistema francês, que surge com o
Código Comercial francês de 1808, identifica atos de comércio que permitem
a divisão das atividades em civis e comerciais, evoluindo para distinguir-se
da antiga objetivação de que seriam comerciantes apenas aqueles que esti-
vessem inscritos em determinadas corporações. Essa evolução no sistema
francês permitiu que pudesse ser considerado comerciante (termo usado à
época, quando do advento daquele Código) qualquer cidadão que realizasse
um ato de comércio. Ao falar desse sistema, Negrão (2020, p. 33) explica que
o conceito objetivo de comerciante no sistema francês é “aquele que pratica
atos de comércio com a habitualidade e profissionalidade”. Por sua vez, o
sistema italiano trouxe uma nova perspectiva na medida em que abandonou a
concepção francesa de dividir as atividades (civis e comerciais), integrando-as
e excepcionando quando não forem as atividades tipicamente empresariais
(ULHOA COELHO, 2019).

As diferentes espécies de pessoas jurídicas de direito privado es-


tão descritas no art. 16 do Código Civil brasileiro, em que constam
as associações, as sociedades, as fundações, as organizações religiosas e os
partidos políticos. Destas, apenas as sociedades poderão exercer atividades
empresariais (BRASIL, 2002).
6 Empresário individual e sociedades empresárias

A inclusão da atividade empresarial no Código Civil brasileiro de 2002


retrata a adoção no Direito brasileiro do sistema italiano, segundo o qual
será empresarial toda atividade econômica organizada para a produção e
circulação de bens ou serviços, excluindo-se, conforme prescreve o parágrafo
único do art. 966 do Código Civil, “quem exerce profissão intelectual, de
natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares
ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de
empresa” (BRASIL, 2002, documento on-line). Desse modo, as atividades
empresariais serão aquelas que tiverem as características elencadas a seguir,
segundo Negrão (2020).

„ Economicidade: faz-se necessária a circulação ou criação de riquezas,


assim como de bens e serviços patrimonialmente valoráveis.
„ Organização: compreende tanto o trabalho quanto a tecnologia, os
insumos e o capital, sejam estes próprios ou alheios.
„ Profissionalidade: a atividade não deve ser ocasional, mas habitual e
com a assunção em nome próprio dos riscos da empresa.

Essas características demonstram a superação da fase do subjetivismo


existente na Idade Média, que considerava comerciante apenas quem estivesse
inscrito em uma corporação, em direção a uma maior abertura àqueles que
pretendessem o exercício do comércio. Foi a adoção da Teoria da Empresa,
cujo foco seria a caracterização das atividades empresariais, que permitiu
a valorização e proteção da empresa (esta como atividade) em relação aos
seus integrantes. Focando-se no aspecto subjetivo da empresa, Chagas (2019,
p. 94) caracteriza empresário como “o empreendedor que, individualmente,
predispõe-se a exercer a atividade empresarial”, salientando que o risco
de tal escolha, em caso de insucesso do empreendimento a que se dispõe,
recairá sobre “o patrimônio particular do empreendedor”, que “responderá
pelo passivo a descoberto da atividade empresarial”. Teixeira (2019, p. 59),
ressaltando a literalidade das características constantes no Código Civil,
leciona que “empresário é aquele que exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços,
de acordo com o art. 966 do Código Civil de 2002”. Chagas (2019) alerta que o
exercício da atividade empresarial de forma individual impede que a pessoa
Empresário individual e sociedades empresárias 7

natural empresária invoque o princípio da separação patrimonial em seu favor.


Teixeira (2019, p. 59) destaca a importância do empresário ao afirmar que este
“é um ativador do sistema econômico. Ele é o elo entre os capitalistas (que
têm capital disponível), os trabalhadores (que oferecem a mão de obra) e os
consumidores (que buscam produtos e serviços)”.
Não se deve confundir, entretanto, a empresa como atividade exercida
pelo empresário individual com a empresa como atividade exercida pela
sociedade empresária. Se a empresa é a atividade econômica organizada
para a circulação de bens e serviços, tendo como fim o lucro, o empresário
será aquele que exerce a atividade, o que poderá ser realizado na forma
individual ou coletiva. Ao passo que o empresário individual é o titular da
atividade empresarial sem qualquer outro empresário (sócio) em sociedade,
na sociedade empresária há a união de duas ou mais pessoas, naturais ou
jurídicas, na qualidade de sócios. A sociedade empresária também poderá ser
denominada “empresário coletivo”, pois a empresa terá mais de um titular.

Regulamentação da atividade empresarial


O Direito Comercial brasileiro se inicia com a vinda da família imperial brasi-
leira, no início do século XIX, mais precisamente com a abertura dos portos
às nações amigas pela Corte recém-chegada ao Brasil após o bloqueio naval
imposto por Napoleão a Portugal. No ano de 1808, diversos atos legais per-
mitiram a implantação de indústrias em solo brasileiro, que tinham a missão
de atender às mais de 10 mil pessoas chegadas de Portugal, mas igualmente
à Coroa inglesa, que fornecia proteção a Portugal em troca de facilidades
comerciais. Por exemplo, os produtos importados pela Inglaterra advindos
de Portugal eram taxados à razão de 16%, ao passo que os produtos impor-
tados do Brasil eram taxados à de 15%. Em 1808, instalou-se na colônia um
Tribunal da Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação (ULHOA
COELHO, 2019).
O retorno de parte da família imperial a Portugal, em 1815, reclamou um
maior desenvolvimento comercial pátrio, pois o crescimento econômico
propiciado pela vinda da Corte no início daquele século demonstrou que a
colônia era mais atraente que o velho continente. Esse vigor econômico do
país que se iniciava redundou no Código Comercial de 1850 — Lei nº 556/1850,
regulamentada pelo Decreto nº 737, de 25 de novembro de 1850 (BRASIL,
1850b). No documento, estabelecia-se que (BRASIL, 1850a, documento on-line):
8 Empresário individual e sociedades empresárias

Art. 19. Considera-se mercancia:


§ 1º A compra e venda ou troca de efeitos móveis ou semoventes para os vender por
grosso ou a retalho, na mesma espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu uso.
§ 2º As operações de câmbio, banco e corretagem.
§ 3º As empresas de fabricas; de com missões; de depósitos; de expedição, con-
signação e transporte de mercadorias; de espetáculos públicos.
§ 4º Os seguros, fretamentos, risco, e quaisquer contratos relativos ao comércio
marítimo.
§ 5º A armação e expedição de navios.

Inspirado no Código Comercial francês, o novel regulamento à época


destacava os atos de comércio, com expressa submissão dos comerciantes ao
Tribunal do Comércio. Essa divisão entre uma jurisdição civil e outra comercial
representava a adoção do sistema francês de Direito Comercial, o que se
rompe apenas a partir da década de 1960, quando o ordenamento comercial
brasileiro se aproxima do sistema italiano. Não obstante tenha vigorado por
longo período, Teixeira (2019, p. 43) afirma que o revogado Código “é até hoje
elogiável em razão da técnica e da precisão. Teve como inspiração os Códigos
Comerciais da França, da Espanha e de Portugal”. O Código Civil brasileiro de
2002, embora a sua longa tramitação entre os anos de 1975 e 2002, aderiu
à doutrina italiana com a incorporação da união da disciplina privada da
atividade econômica (BRASIL, 2002).

O sistema italiano de Teoria da Empresa, que é adotado no Brasil


atualmente, foi desenvolvido pelo jurista italiano Alberto Asquini
(1889–1972). Dentre as diversas obras escritas pelo autor, destacam-se Curso
de Direito Comercial e Título de Crédito.

Será empresário, conforme prescreve o art. 966 do Código Civil, aquele que
exercer profissionalmente atividade econômica organizada para a produção
ou a circulação de bens ou de serviços, excluindo-se as atividades intelectual,
de natureza científica, literária ou artística. Os profissionais liberais estarão
submetidos a essa regulamentação caso insiram a sua atividade em uma or-
ganização empresarial, o que se afere pela expressão “elemento de empresa”
constante no parágrafo único desse artigo (BRASIL, 2002).
Empresário individual e sociedades empresárias 9

O Livro II do Código Civil, denominado “Do Direito da Empresa” e dedicado


à atividade empresarial, afirma ser possível, quando atendidos os requisitos
específicos, a caracterização de empresário e a execução coletiva de seu
patrimônio por meio da falência, bem como o requerimento da recuperação
judicial, ambos previstos na Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 (BRASIL,
2002, 2005). Observe-se que, para o gozo dessas prerrogativas, é necessária a
inscrição de empresário, conforme consta no art. 967 do Código Civil, segundo o
qual “é obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas
Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade” (BRASIL, 2002,
documento on-line). De acordo com Mamede (2019, p. 148), “a recuperação
judicial é instituto, medida e procedimento que se defere apenas em favor
de empresas, ou seja, que somente pode ser requerida por empresários ou
sociedades empresárias”. Chagas (2019) afirma que é necessária a conjunção
do exercício da atividade empresarial como um aspecto formal (o registro no
órgão competente há pelo menos dois anos) e um aspecto material (de ativi-
dade real e efetiva da atividade empresarial pelo prazo mínimo de dois anos).
O empresário caracterizado no Código Civil, em seu art. 966, pode ser
denominado “de gênero”, cuja espécie poderá ser individual ou coletiva.
O empresário individual encontra seu regramento legal na Lei Complementar
nº 123, de 14 de dezembro de 2006, que é a legislação básica das empresas
de pequeno porte, o microempresário e o microempresário individual. Esse
documento define expressamente que todo e qualquer benefício previsto
na lei se aplica ao microempreendedor individual, mesmo que se destine ao
microempresário ou a empresa de pequeno porte (BRASIL, 2006).
Mamede (2019) adverte que o Código Civil divide as sociedades em simples
e empresárias, sendo estas últimas aquelas em que as sociedades exercem as
atividades de empresa e estão sujeitas a registro. As sociedades empresárias
poderão se dividir em sociedade em nome coletivo (art. 1.039 e seguintes do
Código Civil), sociedade em comandita simples (art. 1.045 e seguintes do Código
Civil), sociedade limitada (art. 1.052 e seguintes do Código Civil), sociedade
anônima (art. 1.088 e seguintes do Código Civil) e sociedade em comandita
por ações (art. 1.090 e seguintes do Código Civil) (BRASIL, 2002). Em relação
às sociedades por ações, deve-se destacar a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro
de 1976, que versa sobre as sociedades por ações, regulamentando o seu
funcionamento (BRASIL, 1976).
10 Empresário individual e sociedades empresárias

Neste capítulo, você pôde compreender a distinção entre empresa, empre-


sário e sociedade empresária, conhecendo a evolução do Direito Comercial
até sua nova concepção como Direito Empresarial. Além disso, refletimos
sobre a nova Teoria da Empresa adotada pelo Código Civil brasileiro de 2002.

Referências
BRASIL. Decreto nº 737, de 25 de novembro de 1850. Determina a ordem do Juízo no Pro-
cesso Commercial. Brasília: Presidência da República, 1850. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dim/DIM0737.htm. Acesso em: 16 set. 2022.
BRASIL. Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Na-
cional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis
no 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho
- CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de
14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga
as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Brasília:
Presidência da República, 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/lcp/lcp123.htm. Acesso em: 16 set. 2022.
BRASIL. Lei nº 556, de 25 de junho de 1850. Código Comercial. Brasília: Presidência da
República, 1850. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LIM/LIM556.
htm. Acesso em: 16 set. 2022.
BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Brasília: Presidência da República, 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l6404consol.htm. Acesso em: 16 set. 2022.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília: Presidência
da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10406compilada.htm. Acesso em: 16 set. 2022.
BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extra-
judicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Brasília: Presidência
da República, 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/lei/l11101.htm. Acesso em: 16 set. 2022.
CHAGAS, E. E. Direito empresarial esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
MAMEDE, G. Direito empresarial brasileiro: falência e recuperação de empresas. 10.
ed. São Paulo: Atlas, 2019.
NEGRÃO, R. Manual de direito empresarial. São Paulo: Saraiva, 2020.
PONTES DE MIRANDA, F. C. Contrato de sociedade: sociedade de pessoas. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2012. (Coleção Tratado de Direito Privado, t. 49).
TEIXEIRA, T. Direito empresarial sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática. São
Paulo: Saraiva, 2019.
ULHOA COELHO, F. Curso de direito comercial: direito de empresa. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2019.
Empresário individual e sociedades empresárias 11

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos


testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da
publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas
páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito-
res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou
integralidade das informações referidas em tais links.
Dica do professor
No vídeo a seguir, serão abordadas as possíveis roupagens jurídicas, o empresário individual e suas
responsabilidades e a sociedade empresária.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Exercícios

1) As atividades humanas encontraram na pessoa jurídica uma forte mola propulsora. Dentre as
vantagens de se criar uma pessoa jurídica, NÃO podemos considerar:

A) A pessoa jurídica é uma criação do Direito para permitir um novo sujeito de direitos a partir
da união de outras pessoas.

B) O fundamento da existência da pessoa jurídica está ligado à finitude da vida humana.

C) Uma vez que as pessoas naturais são finitas, com vida esgotável, as atividades que são
exercidas por elas poderiam se extinguir com a sua morte.

D) Quando se cria uma pessoa jurídica, esta tende a existir indeterminadamente e pode ser
gerida por diversas pessoas geração após geração.

E) Com a criação da pessoa jurídica, ocorre uma fusão entre os direitos e obrigações de cada
sócio, como pessoa natural, e os direitos e obrigações da sociedade da qual eles são sócios.

2) Um dos benefícios da criação da pessoa jurídica é a distinção das obrigações da sociedade e


da pessoa de cada sócio. Por isso, NÃO é correto afirmar:

A) Em razão dessa distinção obrigacional entre sócios e sociedade, tem-se uma fácil identificação
da pessoa com quem se está relacionando, a pessoa jurídica, ou a pessoa física dos sócios.

B) A distinção obrigacional e, consequentemente, patrimonial revela um campo fértil para


fraudes.

C) Em razão de se permitir uma limitação da responsabilidade dos sócios em face das obrigações
da pessoa jurídica, é difícil ocorrer o abuso dessa personalidade por parte dos sócios.

D) Em razão das eventuais fraudes que podem e são cometidas, o legislador, em várias
oportunidades, fez previsões da desconsideração da personalidade jurídica para
responsabilizar pessoalmente os sócios por aquilo que, inicialmente, seria de responsabilidade
da sociedade.

E) A desconsideração da personalidade jurídica ocorre em caso de abuso da personalidade


jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial. Pode o juiz
decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos
aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

3) Veja-se que o abuso da personalidade jurídica se caracteriza, como regra geral, pelo desvio
de finalidade ou pela confusão patrimonial. São hipóteses bastante amplas, que permitem
uma análise caso a caso pra a chamada “disregard doctrine”. Acerca dessa teoria, NÃO se
pode afirmar:

A) Torna-se importante observar que a desconsideração da personalidade jurídica ocorre em


juízo e não corresponde à anulação do contrato social que deu origem à sociedade.

B) Em verdade, a desconsideração é genérica, ou seja, ocorre em relação a diversos atos


praticados pela sociedade, subsistindo esta mesmo que ocorra sua desconsideração.

C) A desconsideração da personalidade jurídica (“disregard doctrine”) é amplamente usada e, em


muitos casos, sem critérios rígidos, o que permite um excesso na desconsideração, que é, por
natureza, uma exceção à regra da limitação da responsabilidade dos sócios.

D) Em verdade, um dos grandes incentivos à iniciativa privada é a limitação da responsabilidade


dos sócios, os quais constituem uma sociedade para exercer determinada atividade.

E) Em regra, o sócio só investe parte do seu patrimônio para formar o capital social se ele tiver
uma garantia de que o seu patrimônio pessoal não será afetado em caso de insuficiência de
recursos por parte da sociedade.

4) Sobre a “disregard doctrine”, existem diversos posicionamentos. Mas, há uma certeza, trata-
se de um importante instituto para coibir fraudes. Nesse sentido, NÃO se pode afirmar:

A) A “disregard doctrine”, também conhecida como desconsideração da personalidade jurídica,


poderá ser utilizada sempre que juízes entenderem por bem aplicá-la.

B) O que vem acontecendo no Brasil é a utilização demasiada e sem critérios da teoria da


desconsideração da personalidade jurídica, o que está afastando os empreendedores do setor
produtivo, com a consequente migração desses profissionais e de seu capital para o setor
especulativo.

C) O setor produtivo é tão importante quanto o financeiro, mas é certo que a geração de
empregos, tributos e tecnologia, dentre outros, ocorre com maior intensidade no setor
produtivo. Por isso, deve haver uma correta aplicação da desconsideração da personalidade
jurídica.
D) Ainda que se tenha uma desconsideração da personalidade jurídica da sociedade, com a
consequente afetação do patrimônio pessoal dos sócios, a constrição dos bens dos sócios só
ocorre depois de terem sido utilizados e esgotados os bens da sociedade.

E) O benefício de ordem é bem acertado, pois não faz sentido buscar a satisfação de um crédito
no patrimônio pessoal dos sócios se a sociedade possui bens bastantes para honrar suas
obrigações.

5) O empresário individual sempre foi estudado fora do âmbito das sociedades, especialmente
pelo fato de o exercício da empresa por esta figura jurídica ocorrer de forma solitária. Isso o
retirava da classificação de sociedade, pois, para se caracterizar como tal, necessariamente
devem estar presentes no mínimo duas pessoas, que reciprocamente se obrigam a
contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre
si, dos resultados. Sobre essa roupagem jurídica, NÃO é correto afirmar:

A) Antes do advento da Lei n. 12.441/11, a responsabilidade do empresário individual era


ilimitada em relação às obrigações contraídas no exercício da empresa. Isso criava embaraços
para o empresário, que encontrava na sociedade uma forma mais adequada de separar o
patrimônio afetado pela atividade e do pessoal.

B) Em razão da Lei n. 12.441/11, surgiu a possibilidade de limitar a responsabilidade, criando-se


uma personalidade jurídica distinta da personalidade da pessoa física do empreendedor que
permite distinguir o patrimônio afetado pela atividade e o pessoal de quem empreende.

C) O empresário individual de responsabilidade limitada, para se valer das prerrogativas


conferidas pela lei e ser caracterizado como tal, deve preencher alguns requisitos. O primeiro
deles é integralizar o capital social no limite mínimo equivalente a 100 vezes o maior salário
mínimo vigente no país. Contudo, uma vez efetivamente integralizado, o capital da empresa
individual de responsabilidade limitada não sofrerá nenhuma influência decorrente de
ulteriores alterações no salário mínimo.

D) O nome empresarial deve ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a firma ou a
denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada. Uma exigência legal
se refere ao fato de que a pessoa natural, para se valer dessa modalidade de exercício da
empresa, somente pode figurar em um registro dessa natureza.

E) Segundo impede o Código Civil que ao empresário individual de responsabilidade limitada,


constituído para a prestação de serviços de qualquer natureza, seja atribuída a remuneração
decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de
que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional.
Na prática
Os formatos empresarias tem sofrido alterações nos últimos anos, considerando as mas recentes
alterações legislativas, que tiveram como objetivo fomentar a abertura a manutenção das empresas.

Confira, Na Prática a seguir, o caso um Arquiteto que estava em dúvida sobre o melhor formato
empresaria a ser adotado.
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

TUDO SOBRE A SOCIEDADE UNIPESSOAL LTDA - SLU


A Sociedade Unipessoal Ltda. (SLU), está instituída conforme o Parágrafo Primeiro, do Artigo 1.052
do Código Civil e em obediência ao contido na instrução normativa DREI no 63, de 11 de junho de
2019. Saiba mais sobre ela no vídeo abaixo:

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Sebrae empreendedor: Como abrir um MEI?


Você já pensou em ter sua própria empresa? Saiba como obter a formalização como MEI neste
vídeo do SEBRAE logo abaixo.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Desconsideração da Personalidade Jurídica


Veja um pouco do instituto da "Desconsideração da Personalidade Jurídica" e seus diversos
conceitos.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Você também pode gostar