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DIREITO EMPRESARIAL

Júlio Lima

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AULA 1. DIREITO DE EMPRESA E LEGISLAÇÃO
APLICÁVEL

SUMÁRIO
01. FORMAS DE EXERCÍCIO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL .................................................... 7
02. EMPRESA POR EMPRESÁRIO INDIVIDUAL .............................................................................. 14
03. EMPRESA POR EIRELI, SOCIEDADE INDIVIDUAL OU COLETIVA ............................... 19
04. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.................................................... 25

Para o início dos estudos é preciso compreender qual o objeto da disciplina e


o que ela envolve. Em outras palavras, é necessário que se compreenda em que
consiste e o que envolve o estudo do “Direito Empresarial”.
Mas, para entender o que é o “Direito Empresarial”, primeiro é necessário
entender o que é a “Empresa”. Contudo, não é fácil conceituar a “empresa”, não
é mesmo?
Para e reflita. O que você entende por empresa? Difícil, não?
Os estudiosos do Direito, também tiveram uma dificuldade de definir de
forma exata, em que consiste a empresa. Para isso, eles partiram da ideia de
COMÉRCIO.
No comércio (mais fácil de definir), o que o comerciante faz é trabalhar com
a produção e circulação de PRODUTOS. Tais como: sapatos, roupas, alimentos, etc.
Todos aqueles que produzem (fabricam) ou que circulam (compram e
vendem) PRODUTOS, são considerados comerciantes. Aquele que fabrica um
sapato, é comerciante. Aquele que vende uma peça de vestuário é um
comerciante.
Com o desenvolvimento do conceito de empresa, os comerciantes,
passaram a ser enquadrados na ideia de empresa. Assim, a empresa pode envolver
a produção ou circulação de produtos.
Mas, os estudiosos perceberam, que a ideia de empresa é mais ampla.

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Além dos, PRODUTOS, o conceito de empresa também envolve, a produção
e circulação de SERVIÇOS. Tais como: transporte, hospedagem, fornecimento de
seguros, etc.
Aqueles que prestam (ou produzem) serviços e aqueles que agenciam
serviços (circulam serviços), também devem ser enquadrados na ideia de empresa.
Assim, aquele que presta o serviço de transporte, pode ser enquadrado na ideia de
empresa. Da mesma forma, aquele que agencia a contratação de um seguro,
também pode ser enquadrado na ideia de empresa.

Assim, o conceito de empresa, envolve a:

Produção e Circulação de PRODUTOS e de SERVIÇOS.

A atividade da empresa, segundo conta na legislação, além de caracterizada


pela produção ou circulação de PRODUTOS ou SERVIÇO, também, possui outraS
três importantes características.
A atividade empresarial, também é caracterizada por ser:

Econômica
Organizada Profissional (objetivo de
lucro)

Isso é o que estabelece o artigo 966 do Código Civil (Lei 10.406/2002):

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade


econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Veja destacado, o que consta do artigo:


Art. 966. Considera-se empresário quem exerce
profissionalmente
atividade econômica
organizada
para produção ou a circulação de bens ou de serviços.

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Ou seja, justamente as características, acima apontadas, como inerentes à
ideia de empresa.
Veja, agora com mais detalhes, cada uma das características:

ORGANIZADA
A atividade empresarial é organizada, pois é estruturada de forma a que o
empresário possa, com a sua atividade (de produção ou circulação de produtos ou
serviços), promover a circulação econômico, com o objetivo de obter lucro com as
suas atividades.
Assim, aquele que trabalha em prol da construção de uma estrutura para a
realização de suas atividades, faz um planejamento, cuida para que a atividade seja
exercida de forma adequada, realiza atividade de forma organizada.

PROFISSIONAL
A atividade empresarial é profissional, pois o empresário faz da atividade de
produção ou circulação de bens ou serviços, sua profissão. Faz essa atividade
habitualmente, ou seja, faz essa atividade diariamente e não de forma esporádica.
Ex: Quem vende uma vez um carro não faz dessa atividade isolada sua
profissão.
Quem trabalha com venda de veículos, age com habitualidade, age de forma
profissional

ECONÔMICA
A atividade empresarial é econômica, pois o empresário age no sentido de
movimentar a economia com o objetivo de aferir lucro.

Isso não significa que o empresário precisa ter lucro. Às vezes, por força das
intempéries do mercado o empresário não consegue obter lucro. Porém, o
simples fato de buscar lucros já permite que a atividade seja considerada
empresária.

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Em resumo, então, o empresário, nos termos do artigo 966 do Código Civil,
será assim considerado quando trabalhar com atividades voltadas a:

PRODUÇÃO ou CIRCULAÇÃO de PRODUTOS OU SERVIÇOS


de forma ORGANIZADA, PROFISSIONAL e ECONÔMICA.

Deste conceito extrai-se, ainda que empresa é a atividade econômica


organizada para a produção e/ou a circulação de bens e de serviços e empresário é
o titular da empresa, quem a exerce em caráter profissional.

Independentemente de ter realizado o registro ou não no Registro Público de


Empresas Mercantis, se forem identificada as condições do artigo 966 do
Código Civil, é possível dizer que há o exercício da empresa e/ou do empresário.
Neste caso, entretanto, a empresa e o empresário serão considerados
irregulares. Ou seja, não gozarão dos benefícios da legislação empresarial.
Para que a atividade da empresa e o empresário sejam considerados regulares
é necessário o registro no Registro Público de Empresas Mercantis, antes do
início da atividade.

A empresa e atividade empresarial constituem elemento tão importante da


sociedade, que se destacou um ramo específico para o estudo do assunto.
Como a ideia de empresa é mais recente e antes o assunto envolvia
essencialmente a ideia do comerciante, o ramo do Direito relacionado ao assunto
era chamado de Direito Comercial.
O Direito Comercial, inclusive, era tratado em código próprio, qual seja, o
Código Comercial (1850).
Com a evolução da matéria e com a criação da ideia de empresa, este ramo
do direito sofreu uma transformação, de nomenclatura e até mesmo de
posicionamento na legislação.

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O Direito Comercial evoluiu para Direito Empresarial (o que se deu
oficialmente com o advento do Código Civil de 2002).
Como é cediço, o Código Civil de 2002, derrogou parte do Código Comercial
e passou a tratar de boa parte da matéria de Direito Empresarial.

Embora o Código Civil (2002) tenha derrogado parte do Código Comercial


(1850), e concentrado em seu texto praticamente toda a matéria relativa ao
Direito Empresarial, a parte deste diploma legal de 1850 não revogada continua
vigente e trata de algumas questões relacionadas ao Comércio Marítimo.

Assim, podemos dizer que a legislação empresarial está contemplada


essencialmente no Código Civil.
É importante lembrar, todavia, que parte dela também se encontra na Lei
das Sociedades Anônimas, no Código Comercial (parcela que não foi revogada) e
em outras leis que tratam de matérias específicas ligadas ao Direito Empresarial.
O Direito Empresarial é dividido em diferentes áreas ou ramos. Podemos
dividir o direito empresária em 6 ramos, quais sejam:

1 - Empresa e
Atividade
Emprasarial

2 - Propriedae 3- Sociedade
Indutrial Anônima

4 - Títulos de 5 - Contratos
Crédito Mercantis

6 - Recuperação
Judicial e Falência

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Ao estudar 1. Empresa e Atividade Empresarial, trabalhamos com empresa,
empresário, formas de exercício da atividade empresarial, registro e escrituração,
nome e livros empresariais, dentre outros assuntos relativos à legislação aplicada à
empresa e ao empresário.
Ao estudar 2. Propriedade Industrial, trabalhamos com o registro de
criações no âmbito da empresa no INPI – Instituto Nacional da Propriedade
Industrial, com destaque aos Registros de Marcas e Desenhos Industriais e
Patentes de Invenções e Modelos de Utilidade.
Ao estudar 3. Direito Societário, trabalhamos com o exercício da empresa
por meio de uma sociedade empresária e com os diferentes tipos societários, quais
sejam: sociedade em comum, sociedade em conta de participação, sociedade
simples, sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade
em comandita por ações, sociedade limitada e sociedade anônima.
Ao estudar 4. Títulos de crédito, trabalhamos com os documentos que
gozam de proteção legal, no sentido de permitir o exercício de direito literal e
autônomo neles contidos, focando, essencialmente na letra de câmbio, nota
promissória, cheque e duplicata, além de outros títulos de crédito de transporte,
imobiliários, rurais e entre outros.
Ao estudar 5. Contratos Mercantis, trabalhamos com os contratos de Direito
Privado típicos do Direito Empresarial e da prática mercantil, tais como contrato de
alienação fiduciária em garantia, leasing, franchising, contrato de shopping center,
dentre muitos outros.
Ao estudar 6. Recuperação Extrajudicial, Judicial e Falência, trabalhamos
com o enfrentamento da crise por parte das empresas, da tentativa de recuperação
pelos meios legais e, em caso de insucesso, da administração do término das
atividades, com o recolhimento de todos os bens e créditos (na massa falida) e
pagamento dos débitos, aos respectivos credores.
Vamos trabalhar nesta trajetória pelo Direito Empresarial juntos!

01. Formas de exercício da atividade empresarial


O primeiro ponto a ser estudado, já dentro do Direito Empresarial, é o que
envolve quem pode e quem não pode exercer a atividade empresarial.

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Você já parou para pensar nisso?
Quem pode exercer a Atividade Empresarial?
Pare e reflita.
É possível desde logo concluir que as PESSOAS NATURAIS ou FÍSICAS (ou
seja, os seres humanos) podem exercer a atividade empresarial.
Mas é possível, também, que as PESSOAS NATURAIS constituam PESSOAS
JURÍDICAS, justamente com o objetivo de exercer a atividade empresarial.
Existe a possibilidade de exercício da empresa, portanto, com a
personalidade natural do indivíduo, ou por meio da constituição de uma pessoa
jurídica, ou seja, por meio da personalidade jurídica do ente criado justamente
para tal fim.

Nunca confunda PESSOA JURÍDICA com EMPRESA. São institutos distintos.

Pessoas jurídicas, são organismos criados, por meio de registro perante os


órgãos governamentais competentes, que passam, a ter personalidade para
realizar relações jurídicas. É possível a constituição de pessoas jurídicas para
diferentes fins (conforme artigo 44 do Código Civil), inclusive para a realização de
atividades não empresariais.
Empresas, conforme já visto, são entes que exercem atividades com as
características do artigo 966 do Código Civil.
Alias, é importante ressaltar a esse respeito, que:

Existem pessoa jurídicas que não são empresas (ex. Associações, Organizações Religiosas,
dentre outras) e

Existem Empresas que não são pessoas jurídica (ex. Empresa ou Firma Individual).

Pois bem. Como mencionado, é possível exercer a atividade empresarial


como pessoa natural ou então, é possível ainda, constituir-se uma pessoa jurídica
para o exercício da atividade empresarial.

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Em resumo, são três as diferentes formas de exercer a atividade empresarial:

Empresa Individual ou Firma Individual

No qual a atividade empresarial é exercida por pessoa natural ou física;

EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada

No qual constitui-se uma pessoa jurídica para o exercício da empresa

Sociedade Empresária

No qual constitui-se uma pessoa jurídica para o exercício da empresa

A Empresa Individual ou Firma Individual (1) é uma modalidade de


exercício da atividade empresarial, na qual a pessoa natural/física exerce a atividade
empresarial utilizando-se de sua personalidade física. Não há a constituição de
uma pessoa jurídica.

Embora quando do cadastro a Empresa ou Firma individual receba um número


de CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), tal número é atribuído apenas
para fins de controle da Receita Federal, pois em verdade, não há a constituição
de pessoa jurídica. O empresário exerce a atividade em nome próprio e com
sua personalidade natural.
Como a pessoa exerce a atividade em nome próprio e utilizando-se da sua
personalidade natural, não há necessária distinção de patrimônio (do
empresário para com a atividade). Por isso a responsabilidade dele pelas
eventuais dívidas é ilimitada.

A EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (2) é uma


modalidade de exercício da atividade empresarial na qual o empresário cria uma
pessoa jurídica, com personalidade jurídica distinta da personalidade natural do
constituir, para realizar a atividade empresarial.

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O empresário, no caso da EIRELI, é detentor sozinho dos direitos sobre a
pessoa jurídica. Porém, neste caso há uma distinção de patrimônio e
consequentemente de responsabilidade, sendo que a responsabilidade do
constituir fica limitada ao valor investido para a criação da EIRELI.

A Sociedade empresária (3) é uma modalidade de exercício da atividade


empresarial na qual o(s) empresário(s), um ou mais criam uma pessoa jurídica, com
personalidade jurídica distinta da personalidade natural dos sócios, para realizar a
atividade empresarial.
Os sócios da sociedade empresária partilham, na medida do que
estabeleceram quando da constituição os direitos sobre a pessoa jurídica.
São vários os tipos societários previstos na legislação, sendo que os sócios,
quando da constituição devem escolher qual a formatação (tipo societário) que a
sociedade vai se revestir.
A depender do tipo societário escolhido poderá ou não haver limitação de
responsabilidade dos sócios para com a pessoa jurídica criada para exercer a
atividade empresarial.

Recentemente, apenas para a sociedade do tipo limitada, foi permitida a


criação de sociedade de um único sócio. Lembre-se: a possibilidade é aplicável
apenas no caso da sociedade limitada.

E O PRODUTOR RURAL? É EMPRESÁRIO OU NÃO? E, POR SUA ATIVIDADE


CONSTITUI OU NÃO EMPRESA?

O Código Civil conferiu prerrogativa ao produtor rural, na hipótese em que a


atividade constitui sua principal profissão de poder optar por registrar-se ou não
junto ao Registro Público de Empresas Mercantis, como empresário, garantindo,
ainda, na hipótese da opção pelo registro, um tratamento favorecido, diferenciado
e simplificado.

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O produtor rural, portanto, somente será considerado empresário se realizar o
registro perante o Registro Público de Empresas Mercantis.

E TODAS AS PESSOAS PODEM CONSTITUIR EMPRESAS?

Pela Lei, todas as pessoas que se acharem na livre administração de seus


bens, podem exercer a empresa sob uma das três formas acima expostas.
A legislação, entretanto, proibiu algumas pessoas de exercerem a empresa.
Essas pessoas, conforme destacado no artigo 972 são consideradas impedidas de
exercer a atividade de empresário.

Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno


gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.

A proibição envolve basicamente a pessoa que exerce a Empresa ou Firma


Individual, a EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada ou, ainda,
a recente Sociedade Limitada unipessoal.
Como estas Empresas são criadas por uma única pessoa e administradas por
esta única pessoa, a Lei estabelece proibições para o exercício de Empresa, em
alguns casos.
No caso das Sociedades Empresárias (de mais de um sócio), quem é
Empresa – Empresário é a SOCIEDADE ou seja, a pessoa jurídica e não os seus
sócios.
Assim, uma pessoa pode ser proibida de ser empresária, no caso de Empresa
Individual e de EIRELI, mas, no entanto, pode vir ser sócia de uma Sociedade
Empresária (com mais de um sócio), pois, neste caso, quem é Empresária é a
Sociedade e não os sócios.

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A relação dos principais proibidos de exercer a atividade empresarial é a
seguinte:

Funcionários Públicos, Juízes, Promotores e Militares.

Chefes dos Poderes Executivos, Ministros, Senadores, Deputados, Embaixadores, Cônsules e Devedores do INSS.

Empregados de outras Empresas, Estrangeiros não residentes no Brasil e Falidos.

Médicos (com empresa simultânea de Farmácia, Drogaria e Laboratório)

Auxiliares das Atividades Empresariais (Tradutores Intérpretes Oficiais, Leiloeiros Oficiais, Despachantes Aduaneiros,
Trapicheiros, Administradores de Armazéns Gerais (estes três últimos não podem criar e nem manter empresas de importação
ou exportação).

Caso a pessoa, mesmo impedida de realizar a atividade empresária, a exerça,


de fato, todos os atos serão válido e exigíveis e a pessoa responderá
ilimitadamente pelas obrigações assumidas. É o que se extrai do artigo 973 do
Código Civil, que estabelece que a pessoa legalmente impedida de exercer
atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações
contraídas.

E O INCAPAZ? PODE EXERCER A ATIVIDADE EMPRESARIAL?

Depende do tipo de Empresa e das circunstâncias.


O incapaz pode vir a ser sócio de Sociedade Empresária (de mais de um
sócio) desde que:
 Não exerça a administração;
 O capital esteja integralmente integralizado;
 Seja assistido ou representado pelos seus representantes legais

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O incapaz, entretanto, não poderá exercer a atividade empresarial nas
modalidades de empresa criadas por uma única pessoa e administradas por esta
única pessoa, ou seja, Empresa ou Firma Individual, EIRELI e Sociedade
unipessoal.
Naturalmente, uma pessoa que não goza de plena capacidade, não vai
conseguir iniciar a atividade empresarial, com o respectivo registro perante o
Registro Público de Empresas Mercantis.
Porém, pode ocorrer de sobrevir a condição de incapacidade, àquele que
exerce empresa ou, pode ainda, ocorrer de um incapaz, por força de sucessão, vir a
receber os direitos relativos a empresa já constituída.
Nestas hipóteses, o Código Civil estabelece que o incapaz (seja por idade ou
em razão de interdição), mediante autorização judicial específica neste sentido
(no qual serão avaliadas as circunstâncias e riscos relativos à empresa) poderá,
desde que, devidamente representado ou assistido (nos termos da legislação),
continuar as atividades da empresa.

Caso o representante ou assistente do incapaz for pessoa que, por disposição


de lei, não puder exercer atividade de empresário, nomeará, com a aprovação
do juiz, um ou mais gerentes.

E MARIDO E ESPOSA? PODEM CONSTITUIR SOCIEDADES?

A resposta é delineada de forma muito objetiva no Art. 977 do Código Cívil.


Resta expressamente consignado que os cônjuges podem constituir
sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da
comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória.
A solução tem bastante lógica. Veja, bem.

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No caso dos casados em regime da comunhão universal, a existência de uma
sociedade seria praticamente inócua, já que os bens de ambos já se comunicam
em sua totalidade.
No caso dos casados com regime de separação obrigatória, o que quis o
legislador foi que justamente não houvesse uma comunicação dos bens do casal.
Em se criando uma sociedade, em tese, se estaria indo contra o que justamente
resta estabelecido com o regime.

O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer


que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da
empresa ou gravá-los de ônus real.

02. EMPRESA POR EMPRESÁRIO INDIVIDUAL


NOÇÕES LEI COMPLEMENTAR 123
Em resumo, são três as diferentes formas de exercer a atividade
empresarial.
1 - Empresa Individual ou Firma Individual (no qual a atividade empresarial
é exercida por pessoa física)
2 - Sociedade Empresária (no qual a atividade é exercida como pessoa
jurídica)
3 - EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (no qual a
atividade é exercida como pessoa jurídica).
Por meio dessas três diferentes formas, o sujeito que deseja realizar atividade
empresária (produção ou circulação de bens ou serviços, de forma organizada,
profissional e econômica), poderá, após o competente registro, dar início regular a
tais atividades.
Há algumas particularidades de cada uma das formas de exercício da
atividade empresarial.

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É importante conhecer, com mais profundidade tais particularidades, pois há
tratamentos jurídicos bastante distintos considerando-se os diferentes tipos de
exercício da atividade empresarial.
Inicialmente, é importante entender as principais características da
Empresa Individual ou Firma Individual (1).
A Empresa ou Firma Individual é um tipo de forma de exercício da atividade
empresarial mais simplificada e de muito fácil acesso a todos aqueles que queiram
exercer a atividade empresarial.
Em verdade tal tipo de forma de exercício da atividade empresarial decorre
da antiga ideia e, até mesmo do instituto do comerciante.
Antigamente, quando se falava em Comércio (e ainda não em Empresa) e
ramo do Direito que cuidava das relações comerciais era o Direito Comercial (e não
o Direito Empresarial), todo aquele queria exercer atividade de comerciante, podia
se cadastrar como tal, na Junta Comercial.
Com a evolução da ideia de comércio para a ideia de Empresa e também de
Direito Comercial para Direito Empresarial, o antigo comerciante foi equiparado ao
atual empresário.
Assim, todo aquele que quer realizar atividade empresarial pode se registrar
como tal perante a Junta Comercial (órgão que centraliza as operações de registro
do Registro Público de Empresas Mercantis).
O empresário realiza o seu cadastro, utilizando sua personalidade natural, de
pessoa física (natural), ou seja, não há a constituição de uma pessoa jurídica.
Embora pareça estranho, o empresário que se cadastra como EMPRESA ou
FIRMA INDIVIDUAL, recebe um número de CNPJ, embora não constitua pessoa
jurídica. Isso ocorre para fins tributários e controle pela Receita Federal.
Justamente, também, pelo fato de que o Empresário individual não constitui
pessoa jurídica e utiliza sua personalidade física ou natural para o exercício de suas
atividades, não há, formalmente separação patrimonial entre a pessoa do
empresário, com a atividade exercida.
Assim, a pessoa do empresário é responsável por todas as dívidas da
atividade que exerce através da EMPRESA ou FIRMA INDIVIDUAL.

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Ao constituir EMPRESA ou FIRMA INDIVIDUAL o empresário
necessariamente deverá adotar o seu nome (como pessoa natural) completo ou
abreviado, acrescido ou não de designação precisa de sua pessoa (exemplo
apelido) ou, indicando, ainda do gênero da atividade. Não é permitida a exclusão
do último nome ou qualquer dos componentes do nome.
Se, por exemplo, João Carlos da Silva Moraes, queira constituir uma
EMPRESA ou FIRMA INDIVIDUAL, para a comercialização de lanches, ele poderá
adotar, dentre muitos outros, a título de exemplo, nomes como:
 João Carlos da Silva Moraes;
 Joao Carlos da Silva Moraes comércio de lanches;
 J. Carlos da Silva Moraes;
 J. Carlos da Silva Moraes comércio de lanches;
 J. C. da Silva Moraes comércio de lanches;
 J. C. S. Moraes comércio de lanches;

E se já houver nome idêntico, adotado por outra empresa ? Neste caso o


empresário deverá aditar ao nome escolhido designação mais precisa de sua
pessoa ou gênero de negócio que o diferencie do outro já existente.
Reunindo as principais características da EMPRESA ou FIRMA o INDIVIDUAL,
podemos afirmar que:
 Decorre da antiga figura do Comerciante (quando tínhamos o Direito
Comercial e o Código Comercial integralmente em vigência);
 É a pessoa física que exerce a atividade empresarial sozinha, sem ter qualquer
sócio;
 Embora seja pessoa física, por ser Empresa, tem CNPJ. Embora tenha CNPJ,
é pessoa física ou seja, não é pessoa jurídica;
 Como é uma única pessoa, as dívidas da Empresa atingem os bens
(patrimônio) particular do próprio Empresário;
 Deve utilizar seu nome próprio completo ou abreviado, com ou sem
designação da atividade exercida, para o registro.

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E COMO É O ENQUADRAMENTO EM MEI, ME e EPP ?

Há muita confusão, quando se fala em firma EMPRESA ou FIRMA o


INDIVIDUAL, com as figuras do MEI (Microempresário Individual), ME
(Microempresa) e EPP (Empresa de Pequeno Porte).
Para afastar as dúvidas, vamos trabalhar com os assuntos de forma separada.
Como mencionado anteriormente, quem quer exercer a atividade
empresarial pode exercê-la como:
 Empresa ou Firma Individual
 EIRELI
 Sociedade Empresária

Pois bem. Isso não se confunde com MEI, ME e EPP.


O que ocorre é que a depender do tipo de forma de exercício da atividade
empresarial e do faturamento bruto anual da empresa, ela poderá ser enquadrada
como MEI, ME ou EPP.
MEI, ME e EPP, são portanto, espécies nas quais as empresas poderão se
enquadrar, levando-se em consideração, especialmente, o seu rendimento.
E o que muda para a empresa?
Quanto menor o faturamento, menor a burocracia e maiores os
benefícios tributários; do mesmo modo, por outro lado, quanto maior o
faturamento, maior a burocracia e menores os benefícios tributários.
Tudo isso está estabelecido na Lei Complementar 123/2006.
Referida lei estabeleceu as regras sobre os diferentes enquadramentos e
também regras sobre o SIMPLES NACIONAL, que se consubstancia na modalidade
de recolhimento tributário que pode ser objeto de opção por parte das empresas
atingidas por esta lei, que como o próprio nome diz promove uma importante
simplificação na forma recolhimento tributário.
Em resumo, a referida Lei estabelece:
 MEI (Microempreendedor individual): Poderão ser enquadradas como MEI,
apenas as Empresas ou Firmas Individuais, que tenham renda bruta anual ou
inferior a R$81.000,00.

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 ME – Microempresa: Poderão ser enquadradas como ME, as Empresas ou
Firmas Individuais, as Sociedades (simples ou empresárias) e as EIRELI´S,
que tenham renda bruta anual ou inferior a R$360.000,00 (trezentos e
sessenta mil reais).
 EPP – Empresa de Pequeno Porte: Poderão ser enquadradas como ME, as
Empresas ou Firmas Individuais, as Sociedades (simples ou empresárias) e
as EIRELI´S, que tenham renda bruta superior R$360.000,00 (trezentos e
sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e
oitocentos mil reais).

Conforme mencionado acima, a depender do tipo de enquadramento a


empresa, terá benefícios, essencialmente de ordem burocrática e tributária.
E se a empresa tiver renda bruta superior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões
e oitocentos mil reais)?
Neste caso a empresa não será nem MEI, nem ME e nem EPP e não terá os
benefícios previstos na Lei complementar 123/2006.
Sintetizando podemos dizer que, o empresário poderá escolher entre as
diferentes formas de exercício da atividade empresarial e, a depender do
faturamento, poderá ter diferentes enquadramentos, para fins de ter benefícios
burocráticos e tributários; sendo que:

EMPRESA ou FIRMA INDIVIDUAL, poderá se enquadrar como MEI, ME ou EPP;

EIRELI poderá se enquadrar como ME ou EPP;

SOCIEDADE EMPRESÁRIA (OU SIMPLES) poderá se enquadrar como ME ou EPP;

Como a MEI é muito simplificada e muito acessível aos empreendedores,


vale traçar mais algumas importantes observações sobre esse tipo de forma do
exercício da atividade empresarial.
 Por primeiro, é necessário que o empreendedor opte por constituir uma
EMPRESA ou FIRMA INDIVIDUAL, pois os outros tipos de formas do exercício
da atividade empresarial não estão ser abrangidas;

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 Não são todas as atividades que podem ser enquadradas como MEI; Ex:
Profissionais Liberais, Contadores e Personal Trainers, dentre muitas outras
atividades não estão na lista de atividades permitidas para a MEI;
 Também não pode constituir empresa enquadrada no MEI, aquele que
participa de outra empresa como titular, sócio ou administrador, ou ainda, se
a empresa for constituída como startup.
 O recolhimento tributário mensal é fixo, baixo e estabelecido pela própria Lei
Complementar 123/2006 e feito através do recolhimento da DAS. O MEI só
pode ter um empregado contratado, com o pagamento do salário mínimo da
categoria (mas não pode ser o cônjuge);
 O MEI não pode ter mais de um estabelecimento

A EMPRESA PODE COMEÇAR COMO MEI, DEPOIS MUDAR PARA ME E


DEPOIS PARA EPP?

Sim. É perfeitamente possível que a empresa mude de enquadramento, a


depender do seu faturamento.
Assim, um empresário pode começar como ME, depois mudar para ME e por
fim, para EPP, se a renda bruta anual for crescendo com o passar dos anos.
Logicamente, na medida em que ocorrem as mudanças, mudam também
as regras relativas à burocracia e tributação.

03. EMPRESA POR EIRELI, SOCIEDADE INDIVIDUAL OU


COLETIVA
Em resumo, são três as diferentes formas de exercer a atividade
empresarial.
1 - Empresa Individual ou Firma Individual (no qual a atividade empresarial
é exercida por pessoa física)
2 - Sociedade Empresária (no qual a atividade é exercida como pessoa
jurídica)
3 - EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (no qual a
atividade é exercida como pessoa jurídica).

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Por meio dessas três diferentes formas, o sujeito que deseja realizar atividade
empresária (produção ou circulação de bens ou serviços, de forma organizada,
profissional e econômica), poderá, após o competente registro, dar início regular a
tais atividades.
Há algumas particularidades de cada uma das formas de exercício da
atividade empresarial. Na última aula foram abordadas as características da (1)
Empresa Individual ou Firma Individual, que, em resumo é pessoa física que
exerce a atividade empresarial sozinha, sem ter qualquer sócio; embora seja pessoa
física, por ser Empresa, tem CNPJ (embora tenha CNPJ, é pessoa física ou seja, não
é pessoa jurídica); e por fim, é uma única pessoa, as dívidas da Empresa atingem os
bens (patrimônio) particular do próprio Empresário.
Veja-se, agora as particularidades da Sociedade Empresária e da EIRELI.
2 - EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (no qual
constitui-se uma pessoa jurídica para o exercício da empresa)
 É a Empresa pessoa jurídica, criada por uma única pessoa, sozinha. A EIRELI é
a pessoa jurídica, que exerce atividade empresarial. Por ser Empresa, tem
CNPJ.
 A pessoa jurídica - EIRELI - responde, com seus próprios bens (patrimônio),
pelas dívidas da Empresa.
 Os bens (patrimônio) de seu único integrante estão protegidos e, em
princípio, não são atingidos por dívidas da Empresa EIRELI. Para ser criada
tem que ter capital de 100 salários mínimos.

A EIRELI foi incluída no Código Civil, por meio do artigo 980-A que estabelece
que:
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída
por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente
integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo
vigente no País.

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Referido artigo estabelece ainda que:
O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI"
após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade
limitada.
Firma individual, é o nome do empresário (com ou sem a atividade).
Exemplo: TADEU CARLOS DA SILVA EIRELI
TADEU CARLOS DA SILVA AÇOUGUE EIRELI

Denominação social é o um nome criado pelo empresário, que não tem


relação com o seu nome.
Exemplo: CASA DE CARNES BOI BOM EIRELI

A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade


limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade.
Assim, não é possível que uma pessoa natural tenha constitua mais de uma
EIRELI.
A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar
da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio,
independentemente das razões que motivaram tal concentração.
Exemplo: João e Antônio têm uma sociedade. João decide sair e negocia
com Antônio para que ele adquira sua parte. Antônio, pode comprar a parte de
João e transformar a sociedade empresária formada por ambos, em EIRELI.
Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada
constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração
decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome,
marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à
atividade profissional.
Isso significa que fica expressamente contemplada, por meio deste
dispositivo, a possibilidade de o prestador de serviços (independentemente da
natureza, ou seja, mesmo que literária, artística ou científica) constituía uma EIRELI.
E mais o constituidor da EIRELI poderá atribuir a ela a remuneração decorrente dos
direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja
titular.

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Assim, se um cantor, por exemplo, constituir uma EIRELI, poderá prestar os
serviços e atribuir a remuneração decorrente da sua atividade à empresa por ele
constituída.
Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber,
as regras previstas para as sociedades limitadas.
Isso significa que aplica-se subsidiariamente, no que for necessário a parte
do Código Civil que trata das Sociedades Limitadas.
Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da
empresa individual de responsabilidade limitada, hipótese em que não se
confundirá, em qualquer situação, com o patrimônio do titular que a constitui,
ressalvados os casos de fraude.
Traz expressa a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade
jurídica, na hipótese de fraude cometida pelo Empresário.
É importante ainda ressaltar que a EIRELI pode ser administrada pelo
próprio instituidor ou por terceiro, por ele nomeado no Ato constitutivo ou ainda
por instrumento apartado, desde que seja devidamente registrado na Junta
comercial.

O administrador da EIRELI, seja o próprio instituidor ou terceiro, responde por


culpa no desempenho de suas atribuições perante terceiros prejudicados.

3 - Sociedade Empresária (no qual constitui-se uma pessoa jurídica para o


exercício da empresa)
 É a Empresa pessoa jurídica, formada por pessoas, que criam SOCIEDADE.
 A SOCIEDADE é a pessoa jurídica, que exerce atividade empresarial.
 Por ser Empresa, tem CNPJ. A pessoa jurídica - SOCIEDADE - responde, com
seus próprios bens (patrimônio), pelas dívidas da Empresa.
 Os bens (patrimônio) dos sócios estão protegidos e, em princípio, não são
atingidos por dívidas da SOCIEDADE.

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São vários os tipos de sociedades. Todas serão abordadas ao longo do curso,
porém podemos destacar desde logo que:

Há tipos societários sem personificação; quais sejam:


 SOCIEDADE EM COMUM
 SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO

Há um tipo societário considerado não empresário:


 SOCIEDADE SIMPLES

Há tipos societários com responsabilidade ilimitada:


 SOCIEDADE EM NOME COLETIVO
 SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES
 SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES

Há tipos societários com responsabilidade limitada:


 SOCIEDADE LIMITADA
 SOCIEDADE ANÔNIMA

Há especificidades de cada um destes tipos, que envolvem não só a


responsabilidade dos sócios, mas também nome e outras implicações legais que
serão abordadas quando do estudo de cada uma delas.

IMPORTANTE:
Desde o ano de 2019, a lei permite a constituição de uma sociedade por uma
pessoa só.
A possibilidade surgiu com a modificação e inclusão dos parágrafos 1º e 2º ao
artigo 1.052 do Código Civil.
Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao
valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela
integralização do capital social.
§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas.

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§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio
único, no que couber, as disposições sobre o contrato social.

No Código a figura é designada como sociedade de um único sócio. Porém


a doutrina também a designa de sociedade unipessoal.
A princípio parece estranho imaginar uma sociedade de uma pessoa só.
Porém, o legislador entendeu conveniente permitir a constituição de uma
sociedade por uma só pessoa, pois havia muitas sociedades em que eram
constituídas por uma pessoa que realizava praticamente todo o investimento e
todo o trabalho com outra, que apenas, em muitos casos, concedia o nome para a
constituição da sociedade.
Para desestimular essa prática, permitiu-se a constituição de uma sociedade
um único sócio.

E QUAL A DIFERENÇA DA EIRELI E DA SOCIEDADE DE UM ÚNICO SÓCIO?

Basicamente, a ideia é a mesma. Uma pessoa física, que constitui uma


pessoa jurídica, para o exercício da atividade empresarial.
Porém, no caso da EIRELI, há a exigência de investimento para a constituição
do capital da empresa, de 100 salários mínimos.
No caso da sociedade a lei não estabelece nenhum valor fixo para a
constituição.

Não faz muito sentido manter a sociedade limitada de um único sócio e a EIRELI
na legislação. Poderia, o legislador, ter apenas tirado a obrigatoriedade do
investimento de 100 salários mínimos da EIRELI, que ele teria atingido
praticamente o mesmo objetivo. Como o assunto bastante recente e
importante para o Direito Empresarial, é válido conhecer as diferenças e a
repercussão doutrinária sobre o assunto.

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Independentemente de ter realizado o registro ou não no Registro Público de
Empresas Mercantis, se forem identificada as condições do artigo 966 do
Código Civil, é possível dizer que há o exercício empresa e/ou empresário.

04. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


Sempre que para o exercício da empresa é realizado com a constituição de
uma pessoa jurídica (o que é possível por meio de uma sociedade empresária ou
de uma EIRELI), é preciso que se destaque que a pessoa dos sócios é distinta da
pessoa jurídica criada para exercer a atividade empresarial.
Há também uma distinção de patrimônio.
Ou seja, o patrimônio dos sócios não se confunde com o patrimônio da
empresa/pessoa jurídica constituída.
Mais. Em algumas hipóteses tal distinção é tão significativa, que o
patrimônio da empresa/pessoa jurídica é o único que pode ser acessado para o
cumprimento de suas próprias obrigações, sem a possibilidade de
responsabilização dos sócios ou constituidor(es) para o adimplemento de tais
obrigações.
Isso ocorre, em síntese:

Na sociedade limitada (de um ou mais sócios);

Na sociedade anônima

Na EIRELI

Ao constituir-se uma sociedade limitada, uma sociedade anônima ou uma


EIRELI, o(s) seu(s) constituidor(es) emprega(m) um valor para o início da atividade
e este valor representa o patrimônio da empresa.
Com este valor, a empresa vai realizar suas atividades e tudo o que receber e
passar a fazer parte do seu patrimônio é que poderá ser utilizado para o
cumprimento de suas obrigações.

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Mas e se faltar ?! Ou seja, e se a empresa não tiver patrimônio suficiente para
o pagamento de suas dívidas.
Neste caso, os sócios ou constituidor não podem ser chamados para o
pagamento das dívidas, pois sua responsabilidade é LIMITADA ao que investiram
no início.
Outros bens, desde que pertençam ao patrimônio da empresa/pessoa
jurídica podem vir a ser penhorados e ela pode até mesmo, vir a falir e ter todo seu
patrimônio penhorado. Mas os sócios, em decorrência desta limitação de
responsabilidade não responderá por essas dívidas.
Algumas pessoas, entretanto, passaram a se aproveitar dessa situação, para
se beneficiar indevidamente.
Criou-se então a teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, que
foi desenvolvida na Alemanha e trazida ao Brasil por Rubens Requião, que foi o
primeiro jurista a publicar um artigo sobre ela, na Revista dos Tribunais, ao citar os
trabalhos do famoso jurista alemão Rolf Serick.
Por meio da teoria, embora exista a distinção de patrimônio entre pessoa
jurídica e sócio ou constituidor, se comprovar-se que os sócios ou administradores
abusaram da personalidade jurídica ou praticaram atos fraudulentos, permite-se
que os responsáveis também respondam com o seu patrimônio para o pagamento
das dívidas da empresa.
Com a menção da teoria por Rubens Requião em artigo da Revista dos
Tribunais começou-se a debater a sua aplicação no Brasil.
Como não havia previsão legal para a desconsideração da personalidade
jurídica, para que pudesse ser aplicada, os Tribunais passaram a utilizar por
analogia o artigo 135 do CTN, que responsabiliza membros da administração, que
agiam com excesso de poder, contra a legislação tributária.
Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a
obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes
ou infração de lei, contrato social ou estatutos:
I - as pessoas referidas no artigo anterior;
II - os mandatários, prepostos e empregados;
III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito
privado.

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A primeira previsão veio com o Código de Defesa do Consumidor, no Art. 28
(quando houver abuso ou excesso de poder, contra o consumidor).

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade


quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato
social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência,
estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
provocados por má administração.
§ 1° (Vetado).
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades
controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes
deste código.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas
obrigações decorrentes deste código.
§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores.

Em sequência houve alteração legislativa semelhante, no que se refere ao


meio ambiente. Art. 4º. Da Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.
Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à
qualidade do meio ambiente.

Por fim, o Código Civil, adotou a teoria, no artigo 50. Inicialmente a redação
era mais curta e não trazia muitos detalhes a respeito do instituto, tendo gerado,
inclusive muita discussão doutrinária e jurisprudencial.
Porém, recentemente (2019) foi feita uma alteração legislativa que ampliou
consideravelmente o texto, tendo trazido detalhes sobre as hipóteses em que se
configura o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial (justamente os pontos
mais debatidos como ausentes de uma definição).

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Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio
de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da
parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de
sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da
pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos
ilícitos de qualquer natureza.
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato
entre os patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do
administrador ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto
os de valor proporcionalmente insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à
extensão das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de
que trata o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da
personalidade da pessoa jurídica.
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da
finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.

São pontos muito importantes que merecem destaque, por terem enfim
sido definidos na nova redação do artigo, que a desconsideração da personalidade
jurídica pode ser aplicada quando houver abuso da personalidade jurídica, que é
caracterizado pelo:

Desvio de finalidade;

Confusão patrimonial,

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Antes não havia definição no artigo para desvio de finalidade.
Agora, o artigo 50 do Código Civil traz expressamente essa definição.
Consoante §1º do artigo, desvio de finalidade configura-se quando
constatada a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e
para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
Também não havia, antes, definição para confusão patrimonial.
O artigo 50 do Código Civil passou a prever, com a alteração de sua redação,
no §2º que confusão patrimonial configura-se ante a ausência de separação de
fato entre os patrimônios, caracterizada por:
 cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do
administrador ou vice-versa;
 transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto
os de valor proporcionalmente insignificante; e
 outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.

Como se verifica, a desconsideração da personalidade jurídica é hipótese de


exceção. Ou seja, somente ocorre quando configurar-se o abuso da personalidade
jurídica, que ocorre, consoante expressamente consignado nas hipótese de desvio
de finalidade ou confusão patrimonial.
Essa aplicação por exceção, ou seja, apenas em alguns casos e desde que
comprovados, nos termos da lei sua aplicação, é chamado pela doutrina brasileira,
de Teoria Maior da Desconsideração da Personalidade Jurídica.
Segundo reputa a doutrina, a Desconsideração da Personalidade Jurídica
aplicada em qualquer hipótese em que a empresa/pessoa jurídica não tem bens
para arcar com suas dívidas com o seu patrimônio (ou seja, sem a necessidade de
comprovação de que houve abuso de personalidade) é chamado de Teoria Menor
da Desconsideração da Personalidade Jurídica.
Conforme defende parte da doutrina brasileira, esta hipótese de Teoria Menor
da Desconsideração da Personalidade Jurídica está contemplada no artigo 28 do
Código de Defesa do Consumidor, já que lá resta assentado no §5º do referido
dispositivo que também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que
sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores.

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Verifica-se ademais que a jurisprudência da Justiça do Trabalho, mesmo sem
a existência de um dispositivo legal específico neste sentido que ampare tal
entendimento, vem aplicando a desconsideração da personalidade jurídica em
favor do trabalhador e em detrimento do empregador, em casos em que não
necessariamente se comprovou o abuso da personalidade jurídica.
Trata-se de tema muito polêmico e que gera grande debate, já que a teoria foi
idealizada na Alemanha e é aplicada no mundo todo como uma hipótese de
exceção.
Por fim, é válido destacar que a desconsideração havia sido contemplada no
Código Civil, no artigo 50, mas não havia procedimento específico para regular sua
aplicação prática.
Assim, durante muito tempo, para solicitar sua aplicação no caso concreto, os
demandantes apenas peticionavam aos Juízes invocando a aplicação do artigo 50
do Código Civil.
Havia dúvidas relativas ao momento em que deveria ser decretada e,
sobretudo grande debate sobre a necessidade de se permitir aos sócios ou
constituidor da pessoa jurídica, o contraditório e a ampla defesa (o que não ocorria
em hipóteses em que a desconsideração da personalidade jurídica era deferida,
antes que o sócio ou constituidor fosse ouvido ou se defendesse).
Com o advento do Código de Processo Civil de 2015, a aplicação da
desconsideração da personalidade jurídica foi regulamentada.
A teoria pode ser invocada logo no início da demanda, hipótese na qual o
demandante ingressa com a execução ou ação visando a cobrança da dívida contra
a pessoa jurídica e também contra os seus sócios ou constituidor, sendo certo que
todos serão citados e poderão exercer o contraditório ou a ampla defesa, ou então
a desconsideração poder ser solicitada no curso do processo.
Nesta hipótese instaurar-se-á procedimento próprio, chamado no Código de
Processo Civil de Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica, cabível
em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e
na execução fundada em título executivo extrajudicial.

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Tal procedimento suspende (admitindo-se o contrário, desde que
justificado) o procedimento de execução ou cobrança, para que os sócios ou
constituidores sejam citados e possam exercer o contraditório e ampla defesa.

Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para


manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.

Uma vez acolhido o incidente, os sócios ou constituidor, serão, portando


instados a arcar, juntamente com a pessoa jurídica por suas dívidas.

É válido lembra que a decisão que resolve o incidente tem natureza de decisão
interlocutória e, portanto, é agravável (Recurso de Agravo de Instrumento).

No ano de 2017, foi incluído na CLT, o artigo 855-A, que traz resumidamente
o procedimento do Incidente de desconsideração da personalidade jurídica,
previsto no Código de Processo Civil.
Adota-se o mesmo procedimento. Porém no caso da justiça do Trabalho,
considerando-se a sistemática da CLT, houve previsão específica para regulação
dos recursos contra as decisões do inicidente.

Art. 855-A. Aplica-se ao processo do trabalho o incidente de desconsideração


da personalidade jurídica previsto nos arts. 133 a 137 da Lei no 13.105, de 16 de
março de 2015 - Código de Processo Civil.
§ 1o Da decisão interlocutória que acolher ou rejeitar o incidente:
I - na fase de cognição, não cabe recurso de imediato, na forma do § 1o do art.
893 desta Consolidação;
II - na fase de execução, cabe agravo de petição, independentemente de
garantia do juízo;

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III - cabe agravo interno se proferida pelo relator em incidente instaurado
originariamente no tribunal.
§ 2o A instauração do incidente suspenderá o processo, sem prejuízo de
concessão da tutela de urgência de natureza cautelar de que trata o art. 301
da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015

Por fim, é importante ressaltar que existe também a Desconsideração da


Personalidade Jurídica Inversa.
Ela ocorre nas hipóteses em que o sócio ou constituidor transfere seus bens
pessoais para a pessoa jurídica com o intuito de evitar que sejam penhorados ou
pleiteados por terceiros que tenham direitos sobre tais bens.
Nessas hipóteses, ocorre a desconsideração para o fim de que tais bens
possam ser acessados por aqueles que tem direitos sobre eles.
Trabalhe todos os dias em prol dos seus objetivos. Cada degrau que sobes, te
deixa mais próximo de atingí-los.

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