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Empresa

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Na concepção jurídica, do direito comercial, atividade empresarial, ou empresa, é uma
atividade econômica exercida profissionalmente pelo empresário por meio da articulação dos
fatores produtivos para a produção ou circulação de bens ou de serviços. O conceito jurídico de
empresa não pode ser confundido com o de um sujeito de direito, o de uma pessoa jurídica,
tampouco com o local onde aquela atividade econômica é desenvolvida.[1]

Conforme Mônica Gusmão:

A empresa é a atividade do empresário, e não se confunde com o seu


estabelecimento, com a pessoa jurídica, com a sociedade, ponto comercial ou com
os seus sócios. A empresa não é dotada de personalidade jurídica, nem considerada
sujeito de direitos. Quem exerce direitos e contrai obrigações é o empresário, e não
a empresa. A empresa é a atividade por ele desenvolvida.[2]

Segundo explica o civilista Carlos Roberto Gonçalves:

Empresa e estabelecimento são conceitos diversos, embora essencialmente


vinculados, distinguindo-se ambos do empresário e da sociedade empresária, que
são os titulares da empresa.[3]

Da mesma forma, entende a professora Elisabete Vido:

É importante por fim, saber que a empresa não se confunde com as pessoas que
exercem a atividade, ou seja, o empresário individual ou a sociedade empresária. Da
mesma forma não se pode confundir a empresa com o estabelecimento onde ela é
exercida.[4]

Etimologia
De acordo com o economista espanhol Jesús Huerta de Soto:

De fato, tanto as expressões espanhola e portuguesa empresa como as acepções


francesa e inglesa entrepreneur procedem etimologicamente do verbo latino in
prehendo-endi-ensum, que significa descobrir, ver, perceber, dar-se conta de,
capturar; e a expressão latina in prehensa comporta claramente a ideia de ação, no
sentido de tomar, agarrar. Em suma, empresa é sinônimo de ação, sendo que na
França já há muito tempo, na Alta Idade Média, se utilizava o termo entrepreneur
para designar as pessoas encarregadas de efetuar ações importantes, geralmente
relacionadas com a guerra, ou de levar a cabo os grandes projetos relacionados com
a construção de catedrais. No castelhano, um dos significados do termo empresa, de
acordo com o Diccionario da Real Academia Espanhola, é o de "ação árdua e difícil
que se inicia valorosamente". Desde a Idade Média começou a usar-se o termo para
denominar as insígnias de determinadas ordens de cavalaria que indicavam a
intenção, sob julgamento, de realizar uma determinada e importante ação. Vemos
assim que o sentido de empresa enquanto ação está necessária e inexoravelmente
unido a uma atitude empreendedora, que consiste precisamente em continuamente
tentar procurar, descobrir ou criar novos fins e meios (tudo isto em consonância
com o significado etimológico de in prehendo, que já vimos).[5]

Histórico
A antiga Teoria dos Atos de Comércio decorrente da chamada codificação napoleônica nunca
definiu muito bem o que eram as atividades mercantis, os chamados atos de comércio. A
definição do que eram os atos de comércio não convenceu a doutrina, pois muitas atividades
não eram consideradas comerciais por razões históricas, como era o caso da negociação de bens
imobiliários. Além disso, com a constante inovação tecnológica do mercado, diversas novas
atividades foram surgindo, mas não eram enumeradas como atos de comércio pela lentidão do
processo legislativo.[6]

Com o surgimento da Teoria da Empresa, tendo como marco o Código Civil italiano de 1942,
houve a evolução segundo a qual, em princípio, qualquer atividade econômica que seja exercida
profissionalmente e de forma organizada seria considerada empresa, sendo tutelada, assim, pelo
Direito Empresarial.[7]

Natureza jurídica
A natureza jurídica da empresa não pode ser a de sujeito de direito por se tratar de uma
atividade.[8] Remetendo à lição de Ruy de Souza, assinala Maria Helena Diniz:

Empresa é uma instituição jurídica despersonalizada, caracterizada pela atividade


econômica organizada, ou unitariamente estruturada, destinada à produção ou
circulação de bens ou de serviços para o mercado ou à intermediação deles no
circuito econômico, pondo em funcionamento o estabelecimento a que se vincula,
por meio do empresário individual ou societário, ente personalizado, que a
representa no mundo negocial.[9]

Embora juristas como Rubens Requião, Marcelo Bertoldi e José Edwaldo Tavares Borba entendam
que a natureza jurídica da empresa seja a de objeto de direito, Marlon Tomazette entende que esta
deveria ser classificada como fato jurídico em sentido amplo.[8]

Espécies de empresa
Segundo Maria Helena Diniz,[10] três são as espécies de empresa:

Atividade primária — extração direta de produtos da natureza


Atividade secundária — indústria ou manipulação de produtos
Atividade terciária — prestação de serviços e comércio stricto sensu

A Teoria Poliédrica e a imprecisão terminológica no uso


da palavra "empresa"
O jurista italiano Alberto Asquini, ao estudar o Código Civil italiano de 1942, desenvolveu, em um
artigo intitulado Profili dell’impresa ("Perfis da empresa"), a chamada Teoria Poliédrica, que
entendia a empresa como um fenômeno jurídico, multifacetado, definido por quatro perfis:[8][11]

Perfil subjetivo — a pessoa que exerce a atividade


Perfil funcional — a particular força em movimento que é a atividade empresarial dirigida a um
determinado escopo produtivo
Perfil objetivo — o conjunto de bens
Perfil corporativo — a organização formada pelo empresário e seus colaboradores destinada
a um fim comum.
Entretanto, conforme assinala o professor Marlon Tomazette:

Esse modo de entender a empresa já está superado, porquanto não representa o


estudo teórico da empresa em si, mas apenas demonstra a imprecisão terminológica
do Código italiano, que confunde a noção de empresa com outras noções. Todavia,
com exceção do perfil corporativo que reflete a influência de uma ideologia política,
os demais perfis demonstram três realidades intimamente ligadas, e muito
importantes na teoria da empresa, a saber, a empresa, o empresário e o
estabelecimento.[8]

Dessa forma, o perfil subjetivo da teoria de Asquini corresponde ao moderno conceito de


empresário; o perfil objetivo ao conceito de estabelecimento; por fim, o perfil funcional ao
moderno conceito de empresa como atividade econômica organizada. O perfil corporativo não
possui correspondência com a realidade, pois só fazia sentido no ideário fascista da época em que
foi produzido o Código italiano.[8][11][12]

Conforme esclarece o doutrinador Fábio Ulhoa Coelho:

Se empresário é o exercente profissional de uma atividade econômica organizada,


então empresa é uma atividade; a de produção ou circulação de bens ou serviços. É
importante destacar a questão. Na linguagem cotidiana, mesmo nos meios jurídicos,
usa-se a expressão "empresa" com diferentes e impróprios significados. Se alguém
diz "a empresa faliu" ou "a empresa importou essas mercadorias", o termo é
utilizado de forma errada, não técnica. A empresa, enquanto atividade, não se
confunde com o sujeito de direito que a explora, o empresário. É ele que fale ou
importa mercadorias. Similarmente, se uma pessoa exclama "a empresa está
pegando fogo!" ou constata "a empresa foi reformada, ficou mais bonita", está
empregando o conceito equivocadamente. Não se pode confundir a empresa com o
local em que a atividade é desenvolvida. O conceito correto nessas frases é o de
estabelecimento empresarial; este sim pode incendiar-se ou ser embelezado, nunca
a atividade. Por fim, também é equivocado o uso da expressão como sinônimo de
sociedade. Não se diz "separam-se os bens da empresa e os dos sócios em
patrimônios distintos", mas "separam-se os bens sociais e os dos sócios"; não se
deve dizer "fulano e beltrano abriram uma empresa", mas "eles contrataram uma
sociedade".
Somente se emprega de modo técnico o conceito de empresa quando for sinônimo
de empreendimento. Se alguém reputa "muito arriscada a empresa", está certa a
forma de se expressar: o empreendimento em questão enfrenta consideráveis riscos
de insucesso, na avaliação desta pessoa. Como ela se está referindo à atividade, é
adequado falar em empresa. Outro exemplo: no princípio da preservação da
empresa, construído pelo moderno Direito Comercial, o valor básico prestigiado é o
da conservação da atividade (e não do empresário, do estabelecimento ou de uma
sociedade), em virtude da imensa gama de interesses que transcendem os dos donos
do negócio e gravitam em torno da continuidade deste; assim os interesses de
empregados quanto aos seus postos de trabalho, de consumidores em relação aos
bens ou serviços de que necessitam, do fisco voltado à arrecadação e outros.[1]

Ver também
Empresário

Notas
1. COELHO 2010, pp. 12 e 13
2. GUSMÃO 2015, p. 20.
3. GONÇALVES 2012, p. 201.
4. VIDO 2013, p. 33.
5. SOTO 2010, p. 33.
6. RAMOS 2012, pp. 4 – 7.
7. RAMOS 2012, pp. 9 – 12.
8. TOMAZETTE 2002
9. DINIZ 2011, p. 13.
10. DINIZ 2011, p. 14.
11. RAMOS 2012, p. 11
12. HEMÉTRIO 2017.

Fontes
COELHO, Fábio Ulhoa (2010). Manual de sn/2236-1286). Consultado em 15 de
Direito Comercial 22ª ed. São Paulo: novembro de 2023
Saraiva. ISBN 9788502083332 RAMOS, André Luiz Santa Cruz (2012).
DINIZ, Maria Helena (2011). Lições de Direito Empresarial Esquematizado 2ª ed.
Direito Empresarial 1ª ed. São Paulo: São Paulo: Método. ISBN 9788530939939
Saraiva. ISBN 9788502092785 SOTO, Jesús Huerta de (2010). A Escola
GONÇALVES, Carlos Roberto (2012). Austríaca 2ª ed. São Paulo: Instituto Ludwig
Direito Civil Esquematizado. 1 2ª ed. São von Mises Brasil. ISBN 9788562816116
Paulo: Saraiva. ISBN 9788502149106 TOMAZETTE, Marlon (1 de abril de 2002).
GUSMÃO, Mônica (2015). Lições de Direito «A teoria da empresa: o novo Direito
Empresarial 12ª ed. Rio de Janeiro: Comercial» (https://jus.com.br/artigos/2899/a
Forense. ISBN 9788530961121 -teoria-da-empresa-o-novo-direito-comercia
HEMÉTRIO, Jaciara Guimarães Rosa (20 l). Jus Navigandi (56). ISSN 1518-4862 (http
de fevereiro de 2017). «EVOLUÇÃO s://www.worldcat.org/issn/1518-4862).
HISTÓRICA DO DIREITO COMERCIAL» (ht Consultado em 6 de janeiro de 2014
tp://fadipa.educacao.ws/ojs-2.3.3-3/index.ph VIDO, Elisabete (2013). Curso de Direito
p/cjuridicas/article/view/197). Revista Empresarial 3ª ed. São Paulo: Revista dos
Eletrônica de Ciências Jurídicas (1). Tribunais. ISBN 9788520348772
ISSN 2236-1286 (https://www.worldcat.org/is

Ligações externas
TOMAZETTE, Marlon. Empresário. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes
Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Direito
Comercial. Fábio Ulhoa Coelho, Marcus Elidius Michelli de Almeida (coord. de tomo). 1. ed.
São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível em:
<https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/231/edicao-1/empresario>

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