Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

GRADUAÇÃO EM DIREITO

MATÉRIA: DIREITO EMPRESARIAL I (DIRE0254)

PROFESSOR: PEDRO DURÃO

ALUNO: RAFAEL ALMEIDA DIAS ALVES (202100018763)

RESUMO CRÍTICO

É fácil perceber que o homem é um ser relacional e tem necessidades nem sempre
passíveis de realização isolada. Esses dois notáveis dados da realidade são pilares da lógica
das trocas e, portanto, do comércio. A História mostra que a organização econômico-jurídica
dos mais diversos povos sempre esteve presente de uma ou outra forma. Fenícios, Assírios e
Gregos, por exemplo, comercializavam e o faziam de forma mais ou menos complexa. É claro
o papel do sistema de trocas para o crescimento dos grandes impérios. O vasto comércio
romano nos mostra toda a força que tinham os povos da época: eram comunidades
organizadas e institucionalizadas com o peso de regras econômicas. No Medievo, vemos o
florescimento das chamadas Corporações de Ofício pela Europa, no hoje chamado Sistema
Subjetivo (que se baseava no sujeito comerciante; era direito dos comerciantes, feito para os
comerciantes). Diga-se de passagem que é forma de organização tradicional, a corporação de
ofício. É natural a ideia de que alguém não realiza uma atividade profissional simplesmente
sozinho, mas que o faz sendo parte de um círculo de pessoas que o “iniciam” na arte em
questão e que lha ensinam, enquanto protegem os interesses funcionais do grupo. A expansão
dessa forma corporativa (que soprou em Bruges, Florença e Barcelona, para dar exemplos)
chegou na Península Ibérica e, nos territórios relativos a Espanha e Portugal, fez aparecer os
chamados “grêmios”. Nos ares lusíadas (portugueses), formaram-se as leis que haviam de
regular a vida também aqui no Brasil, que se achava na aurora de seu descobrimento.

No século XIX, o Ocidente fora marcado pela grande concentração das fontes do
direito na figura do Estado e promulgou-se no Brasil o Código Comercial de 1850, que seguiu
a teoria dos “Atos de Comércio” (cristalizada no Code de Commerce napoleônico, de 1808).
Agora, no contexto do dito Sistema Objetivo, considera-se comerciante aquele que pratica
atos de mercancia de forma habitual, como sua profissão. No Brasil, tais atos foram definidos
pelo Regulamento 737, de 1850. Ensina André Ramos que tal Regulamento foi revogado em
1875, mas o rol enumerativo dos atos de comércio seguiu sendo observado pela doutrina e
pela jurisprudência. O mesmo mestre anota o que disse Basílio Machado sobre o assunto dos
“atos” e sobre suas dificuldades práticas: “problema insolúvel para a doutrina, martírio para
o legislador, enigma para a jurisprudência” (RAMOS, 2014, pg. 49). Fazia-se difícil
sistematizar o que era e o que não era ato de comércio para fins de aplicação da legislação
comercial. Posteriormente, agora em organização que segue o chamado Sistema Subjetivo
Moderno, despontou a Teoria da Empresa na Codificação Civil Brasileira de 2002
(influenciada pelo sistema italiano, consignado em seu Código Civil de 1942), que derrogou o
Código Comercial de 1850, além de ter operado notável unificação formal do direito privado
pátrio. Essa Codificação, além da teoria italiana, muito bebeu das disposições constitucionais
presentes na recente CF/88. Chama-se essa nutrição de Constitucionalização da Empresa.
Essa Teoria da Empresa, nas palavras de André Ramos, estabeleceu que “[...] qualquer
atividade econômica, desde que seja exercida empresarialmente, está submetida à disciplina
das regras do direito empresarial.” (RAMOS, 2014, pg. 53).

Atualmente, as acepções que irradiam da ideia de empresa e que são como lentes para
a análise de seu ser total são a subjetiva, a objetiva e a funcional (também pode ser
acrescentada a corporativa). Elas se referem a um só composto orgânico formado pelo
empresário, pelo estabelecimento empresarial e pela atividade empresarial. Dito isso, resta
pontuar que, novamente nas palavras de André Ramos: “[...] o mais adequado sentido
técnico-jurídico para a expressão empresa é aquele que corresponde ao seu perfil funcional,
isto é, empresa é uma atividade econômica organizada” (RAMOS, 2014, pg. 52). Por sua
vez, estabelece o art. 966 do Código Civil que “considera-se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens
ou de serviços” (lembrando que “empresário” pode ser tomado como gênero do qual são
espécies o empresário individual e o empresário coletivo). Fica clara a adoção da Teoria
Subjetiva Moderna em tal dispositivo. Empresário, assim, se define pela sua atividade, pelo
seu direcionamento. Isso sem prejuízo da escolha de outros critérios disciplinadores para
outros agentes econômicos específicos, isto é, como e se se sujeitam ao regime jurídico
empresarial (parágrafo único do art. 966 do CC).

As expressões “Direito Empresarial” e “Direito Comercial” são muitas vezes


tomadas como sinônimas. Um outro entendimento – aquele do professor Pedro Durão, para
dar um exemplo - as separa e pontua que o Direito Empresarial envolve o Direito Comercial,
sendo, portanto, mais abrangente (também ele envolve o chamado Direito de Empresa).
Direito Empresarial estaria mais ligado ao regulamento jurídico das atividades empresariais e
dos empresários (também o regulamento dos atos tidos como comerciais mesmo não estando
ligados a empresas), enquanto que o Direito Comercial se manifesta como conjunto de regras
jurídicas a disciplinar as operações e relações comerciais relativas a toda a circulação
produtiva-apropriativa-consumerista que se dá no seio da sociedade, bem como as relações
profissionais entre os produtores e comerciantes. Esses são, respectivamente e em outras
palavras, os entendimentos assinalados por Gladston Mamede e Washington dos Santos em
suas obras. Agora, cito algumas características matrizes do Direito Empresarial:
cosmopolitismo, onerosidade, fragmentarismo e informalismo. As atividades comerciais são
universais (cosmopolitismo), no sentido de que as forças econômicas sempre se fazem
presentes como impulsionadores de movimentos, invenções, empreendimentos e afins na
sociedade e em toda a sociedade (em praticamente todas as sociedades, pontue-se); são
onerosas pois são recursos escassos que estão sendo manejados na atividade empresarial:
como há lucros, há riscos e perdas); são informais em função do caráter fluido e dinâmico das
práticas de mercado e dos meios necessários para tanto; são fragmentárias (o Direito
Empresarial é fragmentário) em vista do fato de que há vários sub-ramos que regulam a
matéria empresarial e integram seu corpo: o Direito da Propriedade Intelectual; o Direito
Falimentar (Lei 11.101/2005); o Direito Bancário; o Direito Cambiário; o Direito Econômico
(para não falar dos ramos chamados “ramos correlatos” – Direito Constitucional, Civil, Penal,
Administrativo, do Trabalho, do Consumidor etc.).

Mas de onde surge juridicamente o Direito Empresarial? É no tema das “Fontes” que é
possível encontrar a resposta. Elas se dividem em primárias e secundárias, algo que também
ocorre nos demais ramos do Direito Brasileiro. A Constituição é a fonte primária por
excelência das normas empresariais (vide a força dos arts. 170 e seguintes). Outras fontes
primárias são o Código Comercial de 1850 (sua parte que ainda se encontra em vigência), o
Código Civil de 2002, a Lei de Falências e Recuperações de Empresas (Lei 11.101/05), a Lei
de Sociedades por Ações (6.404/76), a Lei de Propriedade Industrial (Lei 9.279/96) etc.
Quanto às secundárias, destacam-se o Direito Consuetudinário, a Doutrina, a Jurisprudência, a
Analogia e os Princípios Gerais do Direito (o primeiro, o quarto e o quinto desses métodos se
encontram expressos no art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). Por
fim, frise-se que o Direito Empresarial leva em seu regime os princípios da livre concorrência,
da livre iniciativa, da preservação da empresa, da função social da empresa e dos valores
sociais do trabalho – todos aí aparecendo como corolários dos princípios constitucionais.
Cada um assegura a liberdade de empresa com racionais mitigações em sua própria esfera
para evitar, por exemplo, cartéis, improdutividade injustificada perante a sociedade, a falta de
proteção para trabalhadores etc.

SOUSA, José Pedro Galvão; GARCIA, Clovis Lema; DE CARVALHO, José Fraga Teixeira.
Dicionário de política. Rio de Janeiro: Ed. CDB, 2021.

RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado. 4. ed. rev., atual. e
ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014.

SANTOS, Washington dos. Dicionário jurídico brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

CONSTITUCIONALIZAÇÃO DA EMPRESA E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS #1


SEMINÁRIO | Prof. Pedro Durão, [S. I.: s. n.], 2020. Publicado pelo canal Via Jurídica |
Empresa e Licitação. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=heB_hlpcmRI&list=PLN8B8jJF7KGrwP52V9Xgalc4tgvojzMQ7&index=2. Acesso em: 27
jan. 2023.

TEORIA DA EMPRESA E EMPRESÁRIO #7 SEMINÁRIO EMPRESA | Prof. Pedro


Durão, [S. I.: s. n.], 2020. Publicado pelo canal Via Jurídica | Empresa e Licitação. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?
v=OpcxsDVmiVU&list=PLN8B8jJF7KGrwP52V9Xgalc4tgvojzMQ7&index=9. Acesso em:
28 jan. 2023.

Empresa! Quais os ramos do Direito Aplicados? Entenda todos os Conceitos! [S. I.: s. n.],
2020. Publicado pelo canal Via Jurídica | Empresa e Licitação. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?
v=ioEWLfi_ioQ&list=PLN8B8jJF7KGqgBiBh35VmgGWU_jYLYl1-&index=13. Acesso
em: 28 jan. 2023.

Você também pode gostar