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Partindo dos dados coletados, a tese do autor revela-se certa.

Tal se dá pois a
indução feita correspondeu com o indagamento original: não pode ser o fator maior-
menor pobreza o determinante para o fator aumento-diminuição da violência.
Uma vez movido pelo desejo de entender a natureza do homem (do antrópos),
o indivíduo pode chegar a certas verdades incambiáveis relativas ao animal racional
em questão. Tais verdades podem servir de matéria para deduções, isto é, derivações
de um dado princípio certo que revelam certos os seus desdobramentos. É o contrário
do que se deu no curso da pesquisa, onde foi suposta a tese para então ter a sua
confirmação com mediação dos dados coletados.
Pode ter sido o autor motivado à fazer tal inquiração por deduzir que os atos
morais do homem radicam no seu livre-arbítrio, que não se confunde – e nem é
determinado estritamente – pelas condições externas ou predisponentes (como as
chama o filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos. O autor até pontua outras
variáveis que poderiam influenciar a taxa de violência local (sexo, idade etc.). Porém, é
fácil reconhecer que todas elas são acidentais com relação ao ser substancial do
homem (uso acidente no sentido aristotélico, isto é, uso-o para indicar algo que não
precisa se dar na noção essencial e universal de um ser). A tese motora do autor, pelo
trato indutivo, manifesta a verdade de uma condição que envolve todos os seres
humanos enquanto seres humanos: como dito, um ato intencional – que radica na
razão e vontade de um dado humano em particular – não pode e jamais poderá ser
causado por um fator puramente externo, ainda que se situe como acidente do
próprio sujeito.
Os fatores externos (a pobreza inclusa) também são, no sentido aristótelico,
pontue-se, acidentes. O ser humano enquanto animal que intelige e se dá no seio
social, além de buscar a felicidade e os bens a ela proporcionada como meios, não
demanda o fator “ser violento” como nota essencial de maneira alguma (basta notar
que há homens não violentos). E mais, acidentes próprios, também em sentido
aristotélico, são aqueles que, não estando na essência do homem, estão em sua
natureza ônticamente considerada, ou seja, na sua cronotopicidade ordinária (uma vez
que é um ser em um dado tempo e em um dado espaço, em uma dada cultura e com
dados hábitos, estes ou aqueles). Nesse sentido rir é um acidente próprio, ter cabelo,
outro, assim como sentar-se em uma cadeira, contemplar o belo etc. Aí já estamos
falando em coisas que faz o ser humano. E é nessa dimensão dos atos humanos
propriamente ditos que radica a moralidade, a “justiça interna” sobre a qual discorre
Platão. O indivíduo pode não enxergar os meios que intencionalmente escolhe (em seu
foro íntimo) como ordenados para o Bem final, que é objetivo. Como dizem os
escolásticos, o mal não tem ser próprio, mas é a desordenação mais ou menos remota
de um ser numa ordem total que o compreende. Sendo assim, é objetivamente um
mal um dado homem escolher violentar – até matar – outro, pois, sendo o homem um
ser social com dignidade intrínseca, fere o todo uma parte ir contra a outra.
É pela virtude (bom hábito) que o homem toma nota dos bens que lhe são
devidos. Se dá aí a sã adequação entre o subjetivo e o objetivo na realidade humana. É
aí que, qualquer homem que seja, saberá ler nas circustâncias o material próprio para
fazer o bem e evitar o mal. Por maiores que sejam as dificuldades (não as
disconsideramos, e nem o faz o autor do texto) a decisão final é do sujeito, da pessoa.
Pode ela ver sentido em sua vida mesmo na maior pobreza. Pode ela, uma vez
reconhecendo as dificuldades do próximo, não piorá-las por um benefício próprio, mas
sim, mortificar-se.
Justo é, claro, que o todo da sociedade ampare os necessitados e adote
melhores estrategias para o assegurar dos bens particulares. Mas, como ficou claro,
não há sentido em correlacionar a priori pobreza (ou qualquer outro fator externo) à
violência (ato que advém de uma decisão interna).

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