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A Sociedade e o Direito

Publicado por Hamid Bdine Neto

há 3 anos

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A SOCIEDADE E O DIREITO

HAMID CHARAF BDINE NETO

Este artigo visa tentar compreender uma parcela da relação entre a sociedade e o direito.

PALAVRAS-CHAVE: Direito, Sociedade, Indivíduo.

INTRODUÇÃO

O homem vive em sociedade e a relação que se estabelece entre as pessoas está sujeita a
conflitos, tornando necessário que regras solucionam suas desavenças. Por isso, somente
ao homem inserido num contesto social é que se torna relevante o direito como modo de
evitar a necessidade de soluções privadas violentas. Assim sendo, para eliminar ou resolver
conflitos e organizar as relações entre as pessoas é que existem normas jurídicas.

O direito tem a função de organizar a sociedade, de manter a sua funcionalidade, evitar que
ela se torne instintiva. O ser humano vive em sociedade e é subordinado ao direito que foi
criado pelo próprio homem. Muitos autores, filósofos e pensadores escrevem a respeito do
indivíduo, sociedade e direito. A seguir fragmentos de seus pensamentos definirão a
relação esses três elementos.

A SOCIEDADE E O DIREITO

O filósofo Aristóteles, fundou sua própria escola, o Liceu. Ele ministrava aulas nos jardins,
seus alunos aprendiam enquanto andavam em sua companhia, respondiam e formulavam
indagações e faziam observações.

O método de Aristóteles era analítico. Para o filósofo conhecer a verdade era sentir o
mundo. Ele jamais procuraria uma verdade universal e sim observaria as características e as
explicaria detalhadamente. Para Aristóteles a observação deveria ser cuidadosa, analisando
os fatos da vida com prudência. A respeito do homem em sua obra A Política dizia:
É evidente, pois, que a cidade faz parte das coisas da natureza, que o homem é
naturalmente um animal político, destinado a viver em sociedade, e que aquele que, por
instinto, e não porque qualquer circunstância o inibe, deixa de fazer parte de uma cidade, é
um ser vil ou superior ao homem. Tal indivíduo merece, como disse Homero, a censura
cruel de ser um sem família, sem leis, sem lar. Porque ele é ávido de combates, e como as
aves de rapina, incapaz de se submeter a qualquer obediência. (ARISTÓTELES, 2010, p.13)

A diferença entre o homem e os demais animais, portanto, é que o homem é um animal


político, ou seja, vive em sociedade e precisa administrar seus interesses.

Outro autor que escreveu sobre o tema foi Thomas Hobbes. Hobbes era contratualista,
porque acreditava que o estado e a sociedade surgiram de um contrato estabelecido entre
os homens. Em sua obra Leviatã, ele reconhece que existem diferenças entre os homens, do
ponto de vista físico ou espiritual. Mas esta diferença:

não é suficientemente considerável para qualquer um possa com base nela reclamar
qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele. Porque quanto à
força corporal o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por secreta
maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo
perigo. (THOMAS, 1988, p.74)

Esta afirmação de Hobbes revela sua ideia de que os homens faziam um contrato para
organizar o Estado e a sociedade, de maneira que todos reunissem suas virtudes e abrissem
mão de algumas vantagens pessoais, em benefício de todos os integrantes da sociedade.

Outro pensador que avaliou a condição do indivíduo perante a sociedade foi Freud.

Sigmund Freud nasceu no de 1856 em Freiberg, que fazia parte do império Austríaco e hoje
faz parte da República Tcheca. Freud é considerado o pai da psicanálise. Para o psicanalista
Sigmund Freud em seu livro Psicologia das massas e análise do eu, o indivíduo é definido
como:

... Membro de uma tribo, um povo, uma casta, uma classe, uma instituição ou como
elemento de um grupo de pessoas que, em certo momento e com uma finalidade
determinada se organiza em uma massa. (SIGMUND, 2009, p.37)

Mais recentemente, revelou-se importante para a avaliação das atuais características das
relações sociais modernas o pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Ele faz
uma crítica ao homem contemporâneo:

A apresentação dos membros como indivíduos é a marca registrada da sociedade


moderna. Essa apresentação, porém, não foi uma peça de um ato: é uma atividade
reencenada diariamente. A sociedade moderna existe em sua atividade incessante de
“individualização”, assim como as atividades dos indivíduos consistem na reformulação e
renegociação diárias da rede dos entrelaçamentos chamados “sociedade”. Nenhum dos
dois parceiros fica parado por muito tempo. E assim o significado da “individualização”
muda, assumindo sempre novas formas- à medida que os resultados acumulados de sua
história passada solapam as regras herdadas, estabelecem novos preceitos
comportamentais e fazem surgir novos prêmios no jogo. A “individualização” agora
significa há cem anos e do que implicava nos primeiros tempos da era moderna- os tempos
da exaltada “emancipação” do homem da trama estreita da dependência da vigilância e da
imposição comunitárias. (Zygmunt, 2001, p.39)

De acordo com Aristóteles, o homem se distingue dos demais seres vivos porque é capaz
de diferenciar o bem e o mal, o justo do injusto. O filósofo afirma que a prudência e a
virtude são conferidas aos homens para que ele não se torne feroz e decida suas ações
apenas por amor e por comida. Segundo ele “A justiça é a base da sociedade.
(ARISTÓTELES, 2010, p.13)

Mas se a justiça é a base da sociedade, examinar a relação entre a sociedade e o direito


depende da apuração do conceito de justiça. A definição de justiça no Dicionário Houaiss:

Qualidade do que está em conformidade com o que é direito; maneira de perceber, avaliar
o que é direito, justo. Exemplo: Não há como questionar a justiça de sua causa. (HOUAISS,
2009)

Em seu livroÉtica a Nicômacos, a respeito da justiça Aristóteles escreveu que:

A justiça é a observância do meio-termo, mas não de maneira idêntica à observância de


outras formas de excelência moral, e sim porque ela se relaciona com o meio-termo,
enquanto a injustiça se relaciona com os extremos. E a justiça é a qualidade que nos
permite dizer que uma pessoa está predisposta a fazer, por sua própria escolha, aquilo que
é justo, e, quando se trata de repartir alguma coisa entre si mesma e outra pessoa, ou entre
duas pessoas, está disposta a não dar demais a si mesma e muito pouco à outra pessoa
daquilo que é nocivo, e sim dar a cada pessoa o que é proporcionalmente igual, agindo de
maneira idêntica em relação a duas outras pessoas. A justiça por outro lado, está
relacionada identicamente com o injusto, que é excesso e falta, contrário à
proporcionalidade, do útil ou do nocivo. Por esta razão a injustiça é excesso e falta, no
sentido de que ela leva ao excesso e à falta- no caso da própria pessoa, excesso do que é
útil por natureza e falta do que é nocivo, enquanto no caso de outras pessoas, embora o
resultado global seja semelhante ao do caso da própria pessoa, a proporcionalidade pode
ser violada em uma direção ou na outra. No ato injusto, ter muito pouco é ser tratado
injustamente, e ter demais é agir injustamente (ARISTÓTELES, 1999, p.101)

Hans Kelsen em seu livro O Problema da Justiça ele diz:


A Justiça poderia ser uma aspiração política e filosófica de forte ordem prática, de
indispensável e reconhecido fundamento Moral. Todavia, a Justiça não guardaria qualquer
relação necessária com a Ciência do Direito ou com o Direito positivo- afinal, ele poderia
ser estudado, ensinado e aplicado independentemente de ser ou não justo. (Hans, 1998, p.)

No livro Filosofia do Direito, o jurista Alysson Leandro Mascaro comenta sobre a concepção
platônica no livro As leis a respeito do direito:

A concepção platônica sobre o justo é muito peculiar e especial. Difere totalmente da visão
que o jurista moderno tenha sobre o direito. Para o pensamento de Platão, torna-se muito
difícil dissociar direito de justiça, o que é reforçado pelo fato de que a mesma palavra,
díkaion, é utilizada de maneira intercambiável no texto platônico para essas duas ideias.
(ALYSSON, 2014, p.54)

Como se disse no início do trabalho, agora referendado pelos estudiosos do direito, cabe
ao sistema jurídico organizar a sociedade.

A má utilização do direito pode acabar com os direitos humanos. Na 2ª guerra mundial, na


Alemanha nazista, milhões de pessoas foram presas e mortas, pelo simples fato de serem,
judeus, testemunhas de jeová, homossexuais, ciganos etc. Tais atrocidades foram
protegidas pela lei alemã da época. Fazendo o uso da própria lei, após a derrota dos
nazistas, eles foram processados, julgados e condenados pelos crimes tinham cometido. A
utilização correta da lei traz o que pode ser considerado justiça.

O direito pune, porém não impede o ato de ocorrer. As ações contra a lei são punidas por
ela própria. Sabemos que o direito atribui ao Estado o poder coercitivo, conferindo-lhe a
exclusividade do uso da violência. Por intermédio da punição prevista na lei e que todas as
pessoas conhecem, são aplicadas penas consideradas justas aos que praticam crime. Esta
lógica tem por objeto a proteção de toda a sociedade

O direito é uma invenção do ser humano, da sociedade, ele é um fenômeno histórico


arraigado nas sociedades. A estrutura do direito tem especificidade no capitalismo. O
direito vem em razão social e visa trazer a justiça. Sem a sociedade não existe o direito e
sem o direito a sociedade torna-se desordenada. No livro Elementos Da Teoria Geral do
Estado, o autor Dalmo de Abreu Dallari explica a origem da Sociedade:

A vida em sociedade traz evidentes benefícios ao homem, mas, por outro lado, favorece a
criação de uma série de limitações que, em certos momentos e em determinados lugares,
são de tal modo numerosas e frequentes que chegam a afetar seriamente a própria
liberdade humana. (DALMO, 1971, p.7)
Jean-Jacques Rousseau em sua obra O Contrato Social, escreveu a respeito da preocupação
não só com a celebração, mas com a preservação da soberania política da vontade geral.
Além disso ele escreveu a respeito da sociedade dizendo que:

É a família, portanto, o primeiro modelo das sociedades políticas; o chefe é a imagem do


pai, o povo a imagem dos filhos e havendo nascido todos livres e iguais, não alienam a
liberdade a não ser em troca da sua utilidade. Toda a diferença consiste em que, na família,
o amor do pai pelos filhos o compensa dos cuidados que estes lhe dão, ao passo que, no
Estado, o prazer de comandar substitui o amor que o chefe não sente por seus povos.
(JEAN, 1999, p. 22)

No livro A Sociedade Dos Indivíduos, o autor Norbert Elias observou o seguinte:

A sociedade, como sabemos, somos todos nós; é uma porção de pessoas juntas. Mas uma
porção de pessoas juntas na Índia e na China formam um tipo de sociedade diferente da
encontrada na América ou na Grã-Bretanha; a sociedade composta por muitas pessoas
individuais na Europa do século XII era diferente da encontrada nos séculos XVI ou XX. E,
embora todas essas sociedades certamente tenham consistido e consistam em nada além
de muitos indivíduos, é claro que a mudança de uma forma de vida em comum para outra
não foi planejada por nenhum desses indivíduos. Pelo menos, é impossível constatarmos
que qualquer pessoa dos séculos XII ou mesmo XVI tenha conscientemente planejado o
desenvolvimento da sociedade industrial de nossos dias. Que tipo de formação é esse, esta
“sociedade” que compomos em conjunto, que não foi pretendida ou planejada por
nenhum de nós, nem tampouco por todos nós juntos? Ela só existe porque existe um
grande número de pessoas, só continua a funcionar porque muitas pessoas, isoladamente,
querem e fazem certas coisas, e no entanto sua estrutura e suas grandes transformações
histórias independem, claramente, das intenções de qualquer pessoa em particular.
(NORBERT, 1994, p.13)

Anthony Giddens em seu livro As Consequências da Modernidade procura apontar um


conceito de sociedade:

O conceito de “sociedade” ocupa uma posição focal no discurso sociológico. “Sociedade” é


obviamente uma noção ambígua, referindo-se tanto à “associação social” de um modo
genérico quanto a um sistema específico de relações sociais. Preocupo-me aqui apenas
com o segundo destes usos, que certamente figura de uma maneira básica em cada uma
das perspectivas sociológicas dominantes. Embora os autores marxistas possam às vezes
favorecer o termo “formação social” em relação à “sociedade”, a conotação de “sistema
fechado” é análoga.

Nas perspectivas não marxistas, particularmente aquelas relacionadas à influência de


Durkheim, o conceito de sociedade com a qual virtualmente todo manual se inicia-
“sociologia é o estudo das sociedades humanas” ou “sociologia é o estudo das sociedades
modernas”- expressa claramente esta concepção. Poucos, se é que os há, autores
contemporâneos seguem Durkheim tratando a sociedade de uma maneira quase mística,
como uma espécie de “super-ser” ao qual os membros individuais exibem bem
apropriadamente uma atitude de reverência. Mas a primazia da “sociedade” como a noção
central da sociologia é muito amplamente aceita. (ANTHONY, 1991, p.21)

Em seu livro Introdução ao Estudo do Direito o jurista Alysson Leandro Mascaro explica o
que é o direito, tendo como base filósofos e pensadores. Uma das definições que o autor
dá a respeito do direito em seu livro é:

O direito é compreendido como uma forma normativa porque os Estados no capitalismo,


assumem o papel de garantir politicamente a reprodução social tornando-se distintos
daqueles que dominam economicamente a sociedade. Os Estados operam
normativamente. Mas não é a norma que fez o direito. A norma é uma forma pela qual o
direito se exprime, mas a forma de sua constituição e de sua operacionalização advém
diretamente de estruturas sociais concretas. (ALYSSON, 2013, p.66)

Para ele também:

O direito é, essencialmente, um fenômeno histórico. Em sua evolução houve vários


entendimentos a respeito de sua identificação. Se os antigos romanos chegavam a dizer
que o direito é uma arte, no mundo moderno não se diz o mesmo, pois o direito agora está
mergulhando em formas sociais necessárias e procedimentos já estabelecidos previamente,
regulados por normas, hierarquias e técnicas. Assim se quiséssemos captar numa mesma
ciência duas abordagens distintas sobre fenômenos também distintos, essa ciência estaria
prejudicada. (ALYSSON, 2013, p.32)

Além disso Alysson Leandro Mascaro diz:

O direito apresenta-se como um vasto campo de relações que devemos analisar e, para
isso, são necessárias inúmeras ciências que venham, em conjunto e aglutinadas entre si,
definir certos objetos que historicamente possam ser nomeados por “jurídicos”, e a partir
daí entender suas razões estruturais. É preciso reconhecer que a técnica que permeia as
normas jurídicas é grande parte desses objetos, mas não tudo. Por isso uma ciência do
direito ou é um conhecimento amplo, dialético, envolvendo várias ciências e analisada
dentro da história social, ou então ela será um conhecimento empobrecido, meramente
técnico e restrito. (ALYSSON, 2013, p.36)

Em seu sentido como ideologia Alysson Leandro Mascaro escreveu nesse mesmo livro
dizendo que:
No seio das relações sociais, a forma jurídica estabelece uma dominação não só por meio
das suas estruturas técnicas, mas também por meio da sua ideologia. Quando o direito das
sociedades capitalistas, por meio das suas normas, declara que todos são iguais perante a
lei, na verdade está procedendo uma dominação ao mesmo tempo técnica e ideológica.
Técnica porque está excluindo o privilégio da nobreza, por exemplo, e tratando de maneira
formalmente igual ao contratante e ao contratado, e isso é de interesse ao capitalismo, na
medida em que o Estado executará a qualquer um que contratar caso não cumpra o
contrato. Ideológica porque deixa entender uma igualdade que só é formal, mas não
concreta. Ao tratar igualmente o capitalista e o proletário, o direito nivela, com a mesma
medida, dois sujeitos desiguais, sem igualar suas condições. Assim ao invés de demonstrar
a desigualdade real entre as partes o direito esconde. (MASCARO, 2013, p.30)

O autor do artigo Justiça, Política e Direitos Humanos: As instituições Jurídicas e a


Manutenção do Justo Meio na Esfera Política, Arthur Roberto Capella Giannattasio, mostra
que o direito é um instrumento garantidor e fundamental para os Direitos Humanos, mas
que se utilizado de maneira abusiva e maliciosa pode acabar com os Direitos Humanos.

No artigo, o autor invoca o pensamento de Hans Kelsen:

Hans Kelsen (2000), conforme apresentado em sua Teoria Pura do Direito. Para o autor,
Direito seria um conjunto de normas- isto é, de uma posição normativa (dever-ser) fruto da
vontade do legislador- objetivamente reconhecidas como obrigatórias. A juridicidade delas
adviria do fato de elas deterem nelas (normas primárias), ou em normas a elas correlatas
(normas secundárias), uma sanção coercitiva. O Direito poderia ser resumido, grosso modo,
como ordem coercitiva. (GIANNATASIO,, p.3)

O mesmo autor aponta a concepção de direito para Miguel Reale:

Para este autor, o Direito seria Manifestação de experiência cultural em que há uma
específica relação dialética entre três fatores componentes do Direito: fato, valor e norma.
Estes jamais permanecem estagnados em seus campos de abrangência e restam
permanentemente implicados em uma constante relação tensa entre fato e valor, de onde
resulta o momento normativo. É este terceiro elemento (norma) que fornece uma solução
superadora e integrante nos limites circunstanciais de lugar e de tempo, que une os dois
mundos (natureza e valor). Na distinção entre Direito e Moral, o primeiro seria bilateral
(dois polos), atributivo (exigibilidade de condute entre homens), coercível e heterônomo, ao
passo que a última seria apenas bilateral, não pressupondo exigibilidade de conduta entre
homens (atributividade), nem impositividade (coercitividade). (GIANNATASIO, 2015, p.4)

Outro autor por ele citado é Emil Lask, ele diz que:
Para Emil Lask (FERRAZ JR, 1976), o Direito é seria fruto da relação- ou a própria relação-
entre a realidade empírica e os resultados do processo de aprimoramento cultural de uma
sociedade (valores relevantes ou “significações culturais”), a qual estaria em contínuo
desenvolvimento histórico no interior de forma jurídica- a norma seria o resultado de tais
sínteses culturais, ou ainda a expressão mais imediata de tais sínteses (as sínteses elas
mesmas tornadas dever-ser). No embate entre Direito e Moral, o primeiro se diferenciaria
por deter maior probabilidade de cumprimento. (GIANNATASIO, 2015, p.4)

Arthur Roberto Capella Giannattasio a respeito de Gustav Radbruch diz que o autor:

... Apresenta, em sua Filosofia do Direito, a percepção de que o Direito seria um fato, uma
realidade, precisamente por ser uma obra humana- isto é, um bem cultural, o qual teria
sido constituído em função do valor Justiça. A diferença entre Direito e Moral seria dada
pela seguinte distinção: uma ação seria considerada jurídica quando fosse considerada boa
para a vida em comum, ao passo que a ação seria reputada moral quando fosse boa em si
mesma. (GIANNATASIO, 2015, p.4)

Na conclusão de seu artigo o autor Arthur Roberto Capella Giannattasio fala o que seria em
sua visão o direito ideal:

Longe de simplesmente seguir o “dar a cada o que é seu” por meio do direito, a
instauração de um Direito Político poderia conferir condições institucionais outras para
realizar o ideal de Justiça. Conforme proposição adotada por este trabalho, uma sociedade
justa seria aquela que teria recebido uma disposição justamente ordenada das
possibilidades de influência nos processos de decisão política fundamentais. Ou ainda, uma
sociedade que preserva no meio o local do Direito e do Poder, sem hipostaziar a posição
normativa de qualquer dos termos fundamentais opostos na cidade. (GIANNATASIO, 2015,
p.23)

CONCLUSÃO

A pesquisa sobre as concepções de sociedade e direito, como revelam as análises e a


pesquisa da obra dos autores cujo pensamento foi invocado no texto demonstram a
relevância do direito para a busca de uma sociedade organizada e justa. Por intermédio do
direito, o homem pode organizar suas relações conflituosas e manter um contrato social
em que se busque de modo renovado o fim último que é, na concepção de Aristóteles a
construção de uma sociedade justa.

REFERÊNCIAS:

BIBLIOGRAFIA:

ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010.


ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Brasília: UnB, 1999.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro, Zahar,
2001.

DALLARI, DALMO. Elementos da Teoria Geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 1979.

ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.

FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu. Trad. Renato Zwick. Reimpressão.
Porto Alegre: L&PM, 2013.

HOBBES, Thomas. Leviatã. Trad. João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São
Paulo: Nova Cultura, 1988.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade.2ªReimpressão. Trad. Raul Fiker. São


Paulo: Unesp, 1991.

KELSEN, Hans.

MASCARO, Alysson. Filosofia do direito. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2014.

MASCARO, Alysson. Introdução ao estudo do direito. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2013.

ROUSSEAU, Jean. O Contrato Social e outros escritos. Trad. Rolando Roque da Silva. São
Paulo: Cultrix, 1999.

ARTIGOS:

GIANNATTASIO, Arthr Roberto Capella. Justiça, Política e Direitos humanos: As instituições


Jurídicas e a Manutenção do Justo Meio na Esfera Pública. In: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA (ANPOF). Anais do XVI Encontro Nacional da ANPOF- GT
Filosofia e Direito. São Paulo: ANPOF, 2015 [no prelo]

MEIO ELETRÔNICO:

Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 2009.3

Introdução ao Estudo do Direito

Direito e Sociedade
Ainda algumas postagens sobre Introdução ao Estudo do Direito... Já estou preparando a de

Direito Financeiro, que ganhou a enquete desta semana!

Existem duas teorias acerca da origem da sociedade. A primeira delas, a teoria natural, conclui

que “o homem é, por natureza, animal social e político, vivendo em multidão, ainda mais que

todos os outros animais, o que se evidencia pela natural necessidade” – “ vida solidária é

exceção, que se enquadra em três hipóteses : excellentia naturae (indivíduo notadamente

virtuoso, que vive em comunhão com a própria individualidade), corruptio naturae (casos de

anomalia mental), mala fortuna (acidente tipo naufrágio)”, segundo São Tomás de Aquino

(padre dominicano, teólogo, 1225-1274).

A segunda, a teoria contractual foi defendida, dentre outros por Rousseau (filósofo iluminista -

1712-1778) que supunha “os homens terem chegado a um ponto em que os obstáculos que

atentam à sua conservação - no estado natural excedem, pela sua resistência, às forças que

cada indivíduo pode empregar para manter-se nesse estado. Então este estado primitivo não

pode subsistir e o gênero humano, pereceria se não mudasse de modo de ser”.

O estudo do Estado de Natureza presta-se tão somente a fins científicos, que buscam a

comprovação de que não há condições para a vida fora da sociedade.

Ressalve-se, por oportuno, que se a aventura de Robinson Crusoé é uma narrativa de Daniel

Defoe, escrita em 1719, por outro lado, afirma-se que ela encontrou inspiração na história

verídica de um marinheiro escocês, Alexander Selkirk, que se isolou por vontade própria em

uma ilha do arquipélago Juan Fernández, onde viveu de 1704 a 1709.

Segundo Paulo Nader (Introdução ao Estudo do Direito, Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 26-

27), o Direito está em função da vida social, favorecendo o amplo relacionamento entre as

pessoas e os grupos sociais. “A sociedade sem o direito não resistiria, seria anárquica, teria o

seu fim. O Direito é a grande coluna que sustenta a sociedade. Criado pelo homem, para

corrigir a sua imperfeição, o Direito representa um grande esforço para adaptar o mundo

exterior às suas necessidades de vida.”

É claro, e nem Paulo Nader afirma, que nem é o Direito o único instrumento responsável pela

harmonia da vida social.

O importante para identificar, inicialmente, uma relação entre o Direito e a Sociedade, é

conceituar o fato social – criação histórica do povo, que reflete o costume, a tradição, a cultura,
feita de forma lenta e gradual. Para reger a vida, e a sequencia de fatos sociais, criou o homem

o Direito. Assim o Direito é um instrumento de disciplinamento social, garantia de segurança,

da vida, da liberdade e do patrimônio (dos bens jurídicos tutelados).

Não é, contudo, o Direito o único instrumento de controle social. A moral, a religião e as regras

de trato social também estabelecem padrões de comportamento com menor pretensão de

efetividade, vez que destituídos de coação. Assim são estabelecidas as normas éticas

(destinadas a determinar o agir social – ex.: observar uma decisão judicial) e as normas

técnicas (estabelecidas para indicar fórmulas do fazer – ex.: estrutura para elaboração de uma

decisão judicial).

O Direito e a religião apresentam o primeiro ponto de convergência entre as diversas normas

de conduta. Por muito tempo havia uma verdadeira confusão entre o Estado e a Igreja, e o

Direito era considerado como expressão da vontade divina. A laicização do Direito recebeu seu

maior impulso quando Hugo Grócio pretendeu afastar a idéia de Deus do Direito Natural. Foi

nos anos que antecederam a revolução francesa que ganhou novo impulso. Entre os pontos de

convergência, podemos destacar o respeito ao BEM, ao VALOR JUSTIÇA. Entre as

divergências destacam-se a alteridade – segundo Legaz y Lacambria (acadêmico da

Universidade de Barcelona), que afirma ser o próximo prescindível na religião – e a segurança

– que no Direito se resume à certeza ordenadora (hoje tão criticada no Brasil pelo discurso da

impunidade).

Direito e Moral se relacionam de forma bastante importante. Aliás, pretender distanciá-los é

uma das causas da patologia que se assenta na classe jurídica, segundo Walter Benett (O mito

do Advogado). A moral se subdivide em moral natural e moral positiva. A primeira consiste na

idem de BEM extraída da própria natureza, permanente em todo o gênero humano. A segunda

se divide em autônoma (bem particular de cada consciência), ética superior dos sistemas

religiosos (noções fundamentais sobre o BEM, dos vários cultos, de caráter heterônomo) e a

moral social (conjunto predominante de princípios e de critérios que, em cada sociedade e em

cada época, orienta os indivíduos).

Necessário se faz contudo distinguir direito e moral. Inicialmente, há quem afirme a distinção

na determinação do direito (de forma mais direta) e na forma não concreta moral (diretivas

gerais). Uma segunda tese é aquela que distingue o Direito pela sua bilateralidade (estrutura
imperativo-atributiva, todo direito corresponde a um dever), já que a moral é unilateral (se

impõe por simples deveres). Afirmar-se ainda que o direito é exterior (investiga as ações e não

as simples intenções) e a moral é interior (consciência, julgamento apenas para aferir a

intencionalidade). Ou que a moral é autônoma enquanto o direito é heterônomo, já que se

manifestam como uma sujeição ao querer de outrem. Fundamental é que o Direito é dotado de

coercibilidade (capaz de adicionar força organizada do Estado, para garantir respeito aos seus

preceitos), e a moral carece de caráter coativo.

Vamos priorizar tratar da distinção do Direito e da moral quanto ao conteúdo, que nos leva as

teorias dos círculos. O Direito elege valores de convivência, a moral visa o aperfeiçoamento

humano.

Para Jeremy Bentham (filósofo e jurista inglês - 1748-1832), os círculos que resumem o Direito

e a moral são CONCÊNTRICOS, já que, segundo ele, o campo da moral é mais amplo, e o

Direito se subordina à moral.

Para Claude du Pasquier (jurista francês), os círculos são secantes, já que o Direito e a moral

teriam uma faixa de competência comum, e faixas particulares.

Para Hans Kelsen, o Direito e a moral são absolutamente independentes. Defende ele assim o

que se denomina de Teoria Pura do Direito como veremos adiante.

A tese de Jellinek (filósofo alemão e juiz - 1851-1911)a idéia é de que o Direito representa o

mínimo de preceitos morais necessários ao bem-estar da coletividade. É uma hipótese de

círculos concêntricos.

A última distinção relativa ao Direito é aquela que o distingue das regras de trato social, ou

seja, padrões de conduta social que visam tornar o ambiente social mais ameno, sob pressão da

própria sociedade. Possuem aspecto social, exterioridade, unilateralidade, heteronomia,

incoercibilidade, sanção difusa, isonomia por classe e níveis de cultura.

O Direito, assim como todas essas regras, guarda identidade com a sociedade a que ela se

aplica. Assim, os fatores jurídicos são elementos que condicionam os fenômenos sociais e, em

conseqüência induzem transformações no Direito. É comum pensarmos que são

exclusivamente fatores culturais – econômico, invenções, moral, religião, ideologia, educação

– mas devem ser somados também os fatores naturais – geográfico, demográfico e

antropológico. Interferem contudo na legislação, utilizando-se desses fatores, a política, a


opinião pública, os grupos organizados e medidas de hostilidade (ex.: greves).

Ainda tem mais antes de Direito Financeiro!!!

Bons estudos !!!

Introdução

 1
 2

Qual é o papel do Direito dentro da


sociedade?
 JurisWay
 Perguntas e Respostas
 Introdução ao Estudo do Direito
 Introdução ao Estudo do Direito

O ser humano, por sua natureza, possui forças instintivas que atuam sobre ele, forças
essas que influenciam na construção de seu mundo cultural.

Assim, para viver em sociedade, o homem deve passar por um processo de adaptação,
que deve se dar tanto na esfera interna quanto na externa. Diz-se interna quanto for
relativa ao corpo, sem a interposição da vontade, como o funcionamento dos órgãos diante
de diferentes situações em que deva se adaptar. Já na esfera externa a relação é do
homem com o espaço exterior. O homem tem inúmeras necessidades, que são satisfeita
pela natureza. O homem adapta e transforma o mundo a sua volta, e na carência de
recursos, constrói, cria e transforma a natureza para satisfação de determinada
necessidade.

Essas adaptações repercutem na formação da cultura de um determinado local e


influenciam a vida em sociedade. O homem, assim, irá conviver e participar da vida em
sociedade e para que essa convivência seja a mais harmônica deve haver normas e
regras a serem seguidas.

O Direito e o homem se influenciam mutuamente. Enquanto o Direito faz parte do processo


de adaptação do homem, devendo este se adequar e obedecer as normas, o homem
também influencia na criação do Direito, vez que este deve estar focado e adaptado ao
meio para o qual foi produzido, obedecendo os valores que a sociedade elege como
fundamentais.

É importante dizer que o Direito Natural possui como leis fundamentais as leis advindas da
natureza e do conceito da expressão justiça. Dessa forma, como o Direito Natural não se
originou de uma criação humana, por ser, inclusive, anterior ao próprio homem, não pode
ser classificado como processo de adaptação social. Entretanto, a criação do Direito, em
uma sociedade, deve estar baseada nas principais regras do Direito Natural, pois seus
princípios de respeito à vida, à liberdade, dentre vários outros, devem estar contidos em
qualquer lei.

O Direito também possui importante missão: serve como instrumento para gerar a paz e
harmonia nas diversas relações sociais. Vale dizer que o Direito não deve refletir
interesses individuais, mas sim interesses de toda a coletividade, que muitas vezes
colidem com os interesses individuais.

O Direito, por ser fruto da elaboração humana, sofre influencia do tempo e do local, e por
isso, ele deve estar sempre aberto às mudanças que ocorrem durante as diferentes
épocas. O tempo faz surgir inúmeras e constantes transformações, e devido a isso, o
Direito deverá estar sempre atualizado.

Cumpre salientar que o Direito exige a imposição de determinados comportamentos e


posturas, que limitam a liberdade dos homens para uma interação harmônica. Há outras
manifestações sociais que também auxiliam o Direito nessa missão, quais sejam: a
religião, a moral, a ética e as regras de trato social.

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