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Conceitos Básicos sobre Lazer
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Natalia Conti
Conceitos Básicos sobre Lazer
• Introdução;
• Gênese e Desenvolvimento do Lazer;
• Funções do Lazer;
• Introdução aos estudos do Lazer.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Compreender o processo histórico de desenvolvimento do lazer e
suas respectivas transformações;
· Aprender e diferenciar os principais conceitos e funções do Lazer;
· Conhecer os autores de referência nos estudos do Lazer;
· Identificar as características gerais da produção de conhecimento so-
bre o Lazer.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Conceitos Básicos sobre Lazer
Introdução
Estamos prestes a dar início à nossa caminhada dentro da disciplina “Lazer e
entretenimento”. Antes dos primeiros passos dessa viagem convido-o para algumas
reflexões iniciais. Será que em algum momento você já se fez as seguintes perguntas:
O que é o lazer? Quando ele surgiu? Por que os homens o inventaram?
Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images
As atividades de lazer fazem parte de nosso cotidiano, mas nem sempre essa
experiência é acompanhada por uma reflexão sobre da importância desse momento
em nossas vidas. Nesse sentido, chamamos sua atenção, inicialmente, para o fato
de que, em função das aceleradas mudanças da sociedade moderna, o lazer é um
fenômeno social diretamente vinculado à qualidade de vida dos cidadãos, sobretudo
nas grandes cidades e centros urbanos.
Estudo recente, desenvolvido pelo Ministério do Esporte, apontou a falta de tempo como
Explor
principal motivo da população brasileira para o abandono da prática esportiva e/ou ativi-
dades físicas. O registro dessa ocorrência é maior entre os jovens na faixa etária entre 16 e
24 anos, período que coincide com o ingresso no mercado de trabalho e/ou na formação
acadêmica. Você se identifica com essa condição? Será que esse abandono também acon-
tece nas atividades de lazer e entretenimento?
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Explor
A prática de esporte no Brasil: https://goo.gl/Adkcus
Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images
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UNIDADE Conceitos Básicos sobre Lazer
Se o tempo que temos para nos dedicar às atividades de lazer é reduzido, passa a
ser muito importante que esse curto período não seja preenchido tão somente com
distrações desprovidas da preocupação com o desenvolvimento humano e qualida-
de de vida das pessoas. A título de exemplo, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS)
de 2013, realizada pela Fiocruz em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), apontou que aproximadamente 42,3 milhões de pessoas, ou
seja, 28,9% da população adulta, declararam ter assistido televisão por 3 ou mais
horas diárias. Seria a televisão a melhor forma de preencher seu tempo livre?
Posteriormente teremos a possibilidade de refletir melhor sobre essa pergunta.
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carrega foram se incorporando à fala popular e tornando-se cada vez mais presen-
tes [...]”. De acordo com os autores, esse é um sinal da valorização desse conceito
no cotidiano.
Agora vamos imaginar outra situação! Retornamos às ruas, entretanto, dessa vez
modificamos a pergunta para: “Quando surgiu o lazer?”. Essa questão traz um grau
de dificuldade maior, pois exige grau de precisão na sua resposta. Por conseguinte, o
número de respostas obtidas, possivelmente, diminuiria de forma considerável.
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UNIDADE Conceitos Básicos sobre Lazer
Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images
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atual a partir de um retorno ao passado, uma vez que esse movimento carrega um
alto grau de idealismo metafísico e histórico, desconsiderando as transformações da
sociedade e as condições de existência real dos homens (MASCARENHAS, 2006).
Um retrato da organização social dessa época pode ser visto no filme americano de 2000,
Explor
Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images
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UNIDADE Conceitos Básicos sobre Lazer
Embora traços das funções desempenhadas pelo tempo livre na cultura romana
possam ser percebidos nas experiências de lazer e entretenimento atuais, devido às
particularidades históricas, não podemos localizar o surgimento desses fenômenos
naquele período. Portanto, permanecemos com a dúvida sobre o momento histó-
rico em que nasce o lazer.
Na transição entre a Idade Média para a Idade Moderna surgem as ideias re-
formistas das primeiras religiões protestantes. Como consequência, há uma nova
transformação de valores na sociedade, que, novamente, impacta os sentidos atri-
buídos ao trabalho e ao ócio. O trabalho, antes desprezado pela nobreza, passa
a ser visto como algo fundamental para a humanidade, uma representação do
esforço pessoal e o caminho para a acumulação de riqueza, que, agora, é religiosa
e filosoficamente aceitável.
Uma obra clássica que demonstra bem essas transformações da sociedade é “A Ética
Explor
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pecados da humanidade. Estar na ociosidade significa “uma perda de tempo”, pois
significa estar entregue aos vícios, distrações e prazeres mundanos. Nesse sentido,
o ócio precisa ser controlado e, por vezes, reprimido.
A essa altura você deve estar se perguntando: Mas, afinal, quando surge o Lazer?
Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images
Chegando à Modernidade, vamos focar nos últimos anos do século XVIII, período
histórico marcado por profundas transformações na sociedade, que modificaram
a percepção do tempo e as relações de trabalho. De acordo com Melo e Alves
Junior (2003, p. 6), “o tempo de vida diário passa a ser demarcado pela jornada
de trabalho”. A marcação do tempo deixou claro a diferença entre o tempo de
trabalho e de não-trabalho. Além disso, foi utilizada como forma de controlar o
ritmo de trabalho e disciplinar os trabalhadores. Com o avanço tecnológico das
manufaturas, o ritmo de trabalho humano é cada vez mais ditado pelas máquinas.
Importante! Importante!
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UNIDADE Conceitos Básicos sobre Lazer
Um filme que retrata a condição precária dos trabalhadores do século XIX na França é o
Explor
Germinal, baseado no romance original de mesmo nome escrito por Émile Zola. Um
retrato mais contemporâneo sobre o tema pode ser visto no filme Segunda-feira ao Sol de
Fernando León de Aranoa.
Após essa trajetória histórica, você deve ter percebido que há uma forte relação
dialética entre trabalho e lazer. Entretanto, caso isso não tenha ficado claro para
você, não se preocupe, pois essa relação será desenvolvida de forma mais aprofun-
dada na disciplina “Lazer, Trabalho e Sociedade”.
Ao mesmo tempo, vale destacar aqui as palavras de Melo e Alves Junior (2003,
p.37): “[...] trabalho é uma coisa, e lazer é outra. Ambos são dimensões importantes
da vida humana, ambos deveriam proporcionar prazer, mas não devemos confundir
as coisas e entender a relativa autonomia de cada campo”.
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isso, era necessário combater as diversões populares (tabernas, feiras, jogos etc.),
pois constituíam tempos e espaços de entrega aos vícios mundanos. Ao cercearem
essas atividades perigosas e perniciosas, os empregadores garantiam a manutenção
de corpos sadios e, por conseguinte, aptos para alcance de uma maior produtividade.
Funções do Lazer
Na seção anterior, nos preocupamos em responder às questões sobre o momento
de surgimento do lazer e para quê ele foi inventado pelos homens. Agora, convido
você a refletir sobre quais funções o lazer vem desempenhando a partir de sua
invenção. Como você preenche o seu tempo livre? Quais atividades você realiza
nos seus momentos de lazer? E que sentimentos elas lhe proporcionam?
Trocando ideias...Importante!
Mascarenhas (2006, p. 95) considera que “O lazer é a forma dominante de apropriação
do tempo livre na contemporaneidade, expressão das determinações econômicas,
políticas, sociais e culturais produzidas pelo capitalismo”. Você concorda com o autor?
Sim ou não? Olhando para seu cotidiano, você percebe outras formas que se apropriam
do seu tempo livre?
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UNIDADE Conceitos Básicos sobre Lazer
Física, sendo essa última o campo com maior acúmulo de produções sobre o tema,
conforme veremos na próxima seção desta unidade.
Aqui vale a pena fazermos uma pequena ressalva. Se você sair perguntando
nas ruas sobre o que as pessoas entendem como lazer, uma parte significativa
mencionará a palavra prazer. No entanto, Melo e Alves Junior (2003) alertam que
lazer e prazer não são sinônimos. Primeiro porque o prazer pode estar presente em
outras esferas da vida e não somente nos momentos de lazer. Um segundo motivo
é que não temos a certeza de alcance do prazer no lazer, mas sim a expectativa,
que pode ou não se confirmar. Portanto, para os autores, o mais correto seria dizer
que nas atividades de lazer há a busca pelo prazer.
Em Síntese Importante!
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Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images
De acordo com Silva e Sampaio (2011), Marcellino (2003), para uma melhor
compressão do lazer, leva em consideração os aspectos do tempo e da atitude.
Dessa forma, o autor identifica no lazer um potencial transformador do pessoal e
do social. Logo, não concorda com a “redução” do lazer a mero instrumento de
recuperação da força de trabalho para manutenção da produção. Para Marcellino
(2003), o lazer não pode ser compreendido como um simples atenuador de tensões
ou um paliativo para a convivência com as mazelas sociais.
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UNIDADE Conceitos Básicos sobre Lazer
Trocando ideias...Importante!
Marcellino (2007, p. 10-11) apresenta quatro pontos que considera importantes para
uma estrutura de referência geral sobre o lazer.
1. Cultura vivenciada no tempo disponível das obrigações profissionais, escolares, fa-
miliares e sociais, combinando os aspectos tempo e atitude.
2. Fenômeno gerado historicamente, do qual emergem valores questionadores da socie-
dade como um todo, e sobre o qual são exercidas influências da estrutura social vigente.
3. Um tempo privilegiado para vivência de valores que contribuam para mudanças de
ordem moral e cultural.
4. Portador de um duplo aspecto educativo – veículo e objeto de educação – consideran-
do-se, assim, não apenas suas possibilidades de descanso e divertimento, mas também de
desenvolvimento pessoal e social.
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Em Síntese Importante!
Segundo Mascarenhas (2006), o lazer é uma prática social contemporânea resultante das
tensões entre capital e trabalho, que se materializa como um tempo e espaço de vivências
lúdicas, lugar de organização da cultura, perpassado por relações de hegemonia.
Trocando ideias...Importante!
Considerando os parâmetros de tempo e prazer, Melo e Alves Junior (2003, p. 32) apre-
sentam uma definição das atividades de lazer:
• As atividades de lazer são atividades culturais, em seu sentido mais amplo, en-
globando os diversos interesses humanos, suas diversas linguagens e manifestações;
• As atividades de lazer podem ser efetuadas no tempo livre das obrigações, profissionais,
domésticas, religiosas, e das necessidades físicas;
• As atividades de lazer são buscadas tendo em vista o prazer que possibilitam, embora
nem sempre isso ocorra e embora o prazer não deva ser compreendido como exclusiva-
mente de tais atividades (grifos dos autores).
Você reparou que, durante essa parte do texto, muitas vezes nos referimos
aos estudos do lazer? Mas, afinal, o que seria esse campo de estudo? Para res-
ponder a essa questão, finalizaremos essa unidade, abordando - de forma mais rá-
pida – características gerais sobre a produção de conhecimento no campo do lazer.
Já antecipamos que esse é um tema abordado por autores nacionais e estrangeiros
e diferentes áreas de conhecimento: filosofia, história, antropologia, sociologia,
psicologia, geografia, etc.
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Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images
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Peixoto (2007, p. 14) percebe o campo dos estudos do lazer como “um conjunto
disperso e multidisciplinar de abordagem dos problemas relativos à fruição do
tempo livre de trabalho a partir de áreas de conhecimento e referenciais teóricos
diversificados, acompanhadas ou não de proposições”.
Alguns estudiosos identificam o final do século XIX como marco inicial dos
debates sobre o Lazer no Brasil. De acordo com esses autores, naquele momento
há uma preocupação com o lazer da população nos discursos de engenheiros e
sanitaristas responsáveis pelas reformas urbanas típicas da modernidade. Além
disso, é possível localizar um conjunto de publicações referentes a orientações para
o usufruto do “tempo livre”. Ao longo do século, essas produções cresceram, con-
figurando os estudos do lazer.
O primeiro ciclo ocorreu entre 1891 e 1968 com o início de uma produção
sistemática de trabalhos destinados a debater o adequado preenchimento das horas
de lazer. Essas pesquisas foram motivadas pelo fato de alguns autores e autoridades
públicas considerarem que os trabalhadores não tinham capacidade de gerenciar
autonomamente seu “tempo livre”, expandido por meio das reivindicações e
conquistas trabalhistas. Nesse momento, segundo Oliveira et al. (2017, p 33), “os
discursos dos EL [estudos do lazer] assumem um tom disciplinador e compensatório,
objetivando contribuir moral e fisicamente para a produção e reprodução da força
de trabalho”.
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UNIDADE Conceitos Básicos sobre Lazer
O marco inicial para consolidação dos estudos do lazer no Brasil foi o evento realizado
em 1969, intitulado “Seminário sobre Lazer: perspectiva para uma cidade que trabalha”,
realizado na cidade de São Paulo-SP, ação conjunta do SESC e da Secretaria do Bem-
-Estar do município. O evento, além da participação individual de sociólogos, arquitetos,
assistentes sociais, psicólogos, educadores etc., contou com várias representações de
instituições ligadas ao lazer.
O quarto ciclo se inicia por volta do final da década de 1990, quando se multi-
plicam os grupos de estudos e pesquisas fundados pelos pesquisadores formados
nas décadas de 1980 e 1990. Oliveira et al. (2017) afirmam que esse período
caracteriza-se por um alinhamento entre a produção de conhecimento e os interes-
ses de mercado, bem como pelo predomínio da preocupação com os conteúdos
culturais do lazer.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Lazer: concepções e significados
BRAMANTE, A. C. Lazer: concepções e significados. Licere, Belo Horizonte, v. 1, n.
1, p. 9-17, 1998.
Do ócio ao lazer: uma (re)significação dos usos do tempo livre na cidade de São Paulo
MARCASSA, Luciana. Do ócio ao lazer: uma (re)significação dos usos do tempo livre
na cidade de São Paulo (1888-1935). 2002. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Faculdade de Educação, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2002.
Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional
THOMPSON, E. P. Tempo, disciplina de trabalho e o capitalismo industrial. In: Costu-
mes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia
das Letras, 1998.
Educação Física + Humanas
MYSKIW, M.; STIGGER, M. P. Educação Física + Humanas. Campinas: Autores
Associados, 2015.
Vídeos
Ócios do ofício
Vídeo documentário fruto da ACIEPE (Atividade Curricular de Integração, Ensino,
Pesquisa e Extensão) Lazer em Debate, ministrada pela Professora Dra. Valquíria
Padilha, na UFSCar, em 2004.
https://goo.gl/JJaJTm
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Referências
DE GRAZIA, S. Tiempo, trabajo y ócio. Madrid: Editorial Tecnos, 1966.
MUNNÉ, F. Psicosología del tempo libre: un enfoque crítico. México: Trillas, 1980.
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