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Lazer e

Entretenimento
Material Teórico
Atuação Profissional no Âmbito do Lazer

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Pedro Fernando Avalone Athayde

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina F. Moreira
Atuação Profissional
no Âmbito do Lazer

• Introdução;
• Equipamentos e Espaços de Lazer e Entretenimento;
• Perfil Profissional para Atuar com o Lazer e Entretenimento;
• Formas de Atuação na Esfera do Lazer e Entretenimento;
• Animação Cultural.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Compreender os interesses culturais centrais nas atividades de lazer;
· Diferenciar os conceitos de recreação e lazer;
· Conhecer as principais características da animação cultural;
· Distinguir e classificar os diferentes espaços e equipamentos para a
vivência do Lazer.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Atuação Profissional no Âmbito do Lazer

Introdução
Estamos chegando ao encerramento de nossa disciplina. Esperamos que tenha
sido uma caminhada prazerosa e, ao mesmo tempo, de muito aprendizado e ricas
reflexões. Afinal, como, brilhantemente, nos recorda a poetisa Cora Coralina: “O
que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e
semeando, no fim terás o que colher”.

Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images

Gostaríamos de iniciar esta última unidade da mesma forma que as outras, ou seja,
recordando os assuntos abordados na unidade anterior. Você se lembra dos assuntos
que foram apresentados na Unidade anterior? Então, vamos juntos recordá-los!

A unidade anterior foi dedicada às relações entre educação e lazer, debatendo as


possibilidades educativas deste fenômeno sociocultural. Para exemplificar o uso do
tempo livre como momento educativo, apresentamos três perspectivas de abordagem.

A primeira concepção diz respeito ao duplo papel educativo do lazer. Trata-se da


proposta de educação para e pelo lazer. A educação para o lazer tem como obje-
tivo contribuir com as reflexões para a vivência do tempo livre como oportunidade
para o desenvolvimento pessoal e coletivo. Já a educação pelo lazer utiliza-se desse
fenômeno como instrumento pedagógico para transmissão de valores, normas e
conhecimentos. Além disso, dentro da proposta de educação para o lazer, desta-
camos três enfoques possíveis, são eles: o recreacionismo, a animação cultural e a
recreação educativa.

Na segunda parte da Unidade anterior, abordamos a proposta de educação dos


sentidos humanos, tendo como referências as críticas à indústria cultural e do en-
tretenimento e os estudos da estética marxista, sobretudo aqueles desenvolvidos
por György Lukács. Ao abordar a estética como a educação dos sentidos, procu-
ramos amplias os horizontes de atuação e experiência do lazer, além de destacar
o potencial da arte e da cultura na formação de sujeitos críticos, conscientes das
determinações sociais e, portanto, capazes de adotar uma postura ativa perante a
sociedade em que vivem.

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O final da unidade anterior expôs a importância do lazer como prática da liber-
dade. Uma perspectiva crítica que propõe o lazer como tempo e espaço para o
exercício da cidadania, cujas bases teóricas se originam na educação popular dos
escritos de Paulo Freire. Novamente, destacou-se a possibilidade de uso do lazer
como ferramenta para constituição de indivíduos reflexivos, autônomos e inventi-
vos. O alcance dessa condição traz uma compressão da liberdade - e a sua prática
- como atitude consciente das necessidades humanas e sociais.

A partir dessa revisão do conteúdo, deve ter ficado ainda mais claro que dedi-
camos a Unidade anterior à exposição de possibilidades de atuação no âmbito do
lazer. Ao mesmo tempo, enfatizamos concepções ou enfoques educacionais de
caráter emancipatório, que objetivam, por meio dos interesses culturais do lazer,
a formação de sujeitos críticos e criativos. Entretanto, é possível que você esteja
se fazendo a seguinte pergunta: como fazer isso na minha atuação profissional?
Como pôr em prática essas concepções?

Tais questões nos remetem à preocupação com a aplicação prática dos con-
teúdos aprendidos até esse momento. Em síntese, fica a dúvida de como colocar
em prática aquilo que aprendi na disciplina? Algumas pistas para responder a essa
questão serão apresentadas nesta Unidade. Entretanto, antes disso, vale lembrar
que teoria e prática não estão dissociadas e não há hierarquia de valor entre elas.
Ao contrário, ambas formam uma unidade dialética, na qual os polos interagem
entre si, retroalimentando-se e qualificando-se.

Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images

Em outras palavras, poderíamos dizer que à medida em que amplio meu acervo
teórico, isso também amplia meu repertório de estratégias e instrumentos para uma
melhor prática pedagógica. Da mesma forma, os problemas e dificuldades com os
quais me deparo no momento de atuação profissional exigem que eu me mantenha em
constante processo de formação e atualização, ampliando meu conhecimento teórico.

Mas, voltando a nossas perguntas/inquietações iniciais, esta Unidade se encar-


regará – de forma geral – de tematizar a atuação profissional no campo do lazer.
Iniciamos esse percurso abordando o tema dos espaços e equipamentos de lazer.

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UNIDADE Atuação Profissional no Âmbito do Lazer

Isso porque, antes de começar a atuar numa comunidade, num bairro ou numa
escola, eu preciso planejar, e para isso é fundamental conhecer quais são os locais
e aparelhos que tenho à disposição para realizar essa intervenção.

Equipamentos e Espaços
de Lazer e Entretenimento
Quando você quer se divertir, para onde você vai? Na sua cidade há muitos
espaços para a prática do lazer? A maior parte desses espaços é público ou privado?
Perto do local onde você mora existem parques, praças, ciclovias, teatros e cinemas
à disposição dos moradores? Ou, para se divertir, você precisa sair do seu bairro?

De acordo com o Diagnóstico Nacional do Esporte, do Ministério do Esporte, 32% da popu-


Explor

lação brasileira pratica seu esporte predileto em instalações esportivas pagas, enquanto
57,3% realizam atividades físicas em espaços abertos sem instalações. O que esses dados
nos demonstram? Inicialmente, eles apontam para a necessidade de ampliação de insta-
lações esportivas gratuitas, o que potencializaria o acesso democrático à prática esportiva.
Ao mesmo tempo, os dados reforçam a importância de espaços abertos e públicos para
que possamos ter uma população mais ativa e, por conseguinte, mais saudável. Por fim, é
importante a qualificação desses espaços públicos, preenchendo-os com equipamentos de
qualidade que potencializem e diversifiquem o uso desses locais.
Explor

A prática de esporte no Brasil: https://goo.gl/Adkcus

Conforme já afirmamos anteriormente, a garantia do direito ao lazer relaciona-


-se diretamente com o direito à cidade. A luta pelo direito ao lazer e à cidade é
um processo histórico em construção e com algumas conquistas na esfera legal. A
título de exemplo, o Estatuto da Cidade, Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001,
em seu artigo 2º, inciso I, apresenta como uma de suas diretrizes:
[...] garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito
à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura
urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para
as presentes e futuras gerações.

Entretanto, será que as transformações pelas quais as cidades têm passado mais
recentemente garantem as condições necessárias para o exercício do direito ao
lazer? Quais seriam as garantias necessárias para o usufruto desse direito? Antes de
responder a essas questões, vejamos um pouco quais mudanças vêm acontecendo
nos espaços urbanos, sobretudo nas grandes cidades.

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Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images

O momento contemporâneo é caracterizado pela passagem da sociedade in-


dustrial para uma sociedade de serviços cada vez mais diversificada pela inovação
e empreendedorismo. Essa transição valoriza a heterogeneidade dos segmentos
de consumo e a pessoalidade (customização) na relação com o consumidor. Tais
concepções são incorporadas pela indústria cultural e do entretenimento na oferta
diversificada e personalizada de seus serviços e produtos.

O geógrafo David Harvey (2006) identifica, no contexto atual, um processo a


que ele denomina de reestruturação urbana. Essa transformação teria como obje-
tivo tornar as cidades social e internacionalmente atraentes. Mas o que seria uma
cidade atraente? Atraente para quem ou para o quê? O autor nos explica.

De acordo com Harvey (2006), há um esforço de construir a imagem de uma


cidade adaptada à finalidade competitiva, ou seja, apta para receber novos fluxos de
investimentos e negócios. Segundo Vainer (2011) e Garcia et al. (2011), assistimos
à transição de uma concepção de planejamento moderno, com participação ativa
do Estado, para um planejamento competitivo, que preconiza a flexibilidade, além
da orientação (market oriented) e afeição ao mercado (market friendly).

Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images

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UNIDADE Atuação Profissional no Âmbito do Lazer

Norteadas por essas concepções de planejamento urbano, governos locais dis-


putam a oportunidade de sediar grandes eventos de entretenimento, como, por
exemplo, competições esportivas internacionais e festivais musicais. Para gestores
e empresários, a conquista desses eventos tem a capacidade de impulsionar os
investimentos no turismo e lazer, atraindo os capitais estrangeiros. A cidade deve
funcionar como uma verdadeira empresa e, portanto, conduzida e administrada
por quem entende de negócios (VAINER, 2011).

Utilizando a expressão “urbanismo ad hoc”, cunhada por François Ascher (2001),


Vainer (2011) ressalta que este modelo, baseado no “desenvolvimento urbano
espontâneo”, reforça a primazia do mercado, definindo a oportunidade de negócio
como fator determinante para a nova cidade e o novo modelo de planejamento
urbano. A ideia de urbanismo ad hoc remete à noção de flexibilidade, à perspectiva
da eficiência empresarial, vinculada à expressão “janela de oportunidades”. Em
outras palavras, o gestor eficiente é aquele capaz de identificar e aproveitar uma
oportunidade antes de seus concorrentes, tendo como expectativa a construção de
uma “Cidade Global” ou “Cidade Fantasia” (POYNTER, 2008).

Frente a essas transformações acima citadas, cabe indagarmo-nos se o lazer é


tratado como mais uma “janela de oportunidades” para atração de investimentos
e negócios, ou como uma oportunidade de ampliação dos espaços e tempos
para uma educação para o uso do tempo livre. Para Rechia (2015), os espaços
e equipamentos de lazer podem ser vistos como elementos importantes para um
modo possível e diferente de pensar e viver a cidade. Nas palavras da autora, “[...]
o modo pelo qual se realiza a vida na cidade, está centrado em uma relação dialética
entre espaços construídos e suas formas de apropriação” (RECHIA, 2015, p. 48).

Entretanto, de acordo com Rechia (2009), as possibilidades de experiências lúdicas


no âmbito do lazer são menores nas cidades modernas, pois as transformações
sociais recentes – descritas nos parágrafos anteriores – limitaram os espaços
(públicos) destinados a essas vivências. Além disso, o crescimento desordenado dos
grandes centros urbanos trazem problemas que comprometem a qualidade de vida
dos cidadãos. Esse cenário é agravado pela falta de políticas públicas e sociais e
pela ausência de um planejamento adequado das cidades.

Diante desses problemas, Rechia (2009) ressalta a importância de estudos –


e acrescentaríamos de intervenções – que problematizam a “vida de qualidade”
dos cidadãos brasileiros. Para a autora, essas pesquisas devem incorporar entre
seus temas o planejamento adequado de espaços e os equipamentos destinados às
experiências no âmbito do esporte e lazer.

Concordamos com Magnani (2015) quando diz que as relações entre o espaço
urbano e o lazer vão além dos equipamentos e espaços de encontro e entreteni-
mento. Entretanto, essa consideração não elimina a importância de conhecermos
melhor quais são esses equipamentos, como forma de qualificar e potencializar
nossa atuação profissional no âmbito do lazer.

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Para compreendermos as diferenças entre os equipamentos, adotamos a ca-
racterização dos espaços e equipamentos tendo como referências os trabalhos de
Stucchi (1997) e Requixa (1980). Classificamos os equipamentos em: a) específico
especializado; b) específico polivalente; e c) não-específico.

Os equipamentos específicos, de forma geral, são edificações construídas para


o desenvolvimento de atividades de esporte e lazer. Esses equipamentos podem ser
públicos ou privados. Exemplos de equipamentos públicos são: parques e jardins,
centros culturais e/ou esportivos, bibliotecas, museus e teatros. Já os equipamentos
específicos mantidos pela iniciativa privada são: teatros, cinemas, boates, clubes,
associações de classe, entidades de bairro, entre outros (REQUIXA, 1980).
• Equipamentos específicos especializados: são edificações destinadas a
atender uma programação especializada, ou uma faixa de interesses culturais
específicos. Sua estrutura apresenta quantidade limitada de instalações. Exem-
plos: quadras, campo de futebol, teatros, auditórios, cinemas, academias de
ginástica, bibliotecas, campos de golfe, entre outros.

Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images

• Equipamentos específicos polivalentes: são edificações para o atendimen-


to de diferentes interesses culturais, por meio de programação variada. Sua
estrutura é diversificada, em geral contém: quadras poliesportivas, piscinas,
campo de futebol, salas de dança, ginástica, teatros, biblioteca, videoteca, en-
tre outras. Podem ser classificados a partir de suas dimensões e capacidade
(STUCCHI, 1997).
• Equipamentos não-específicos: são espaços e/ou edificações planejadas para
outras funções da cidade, mas que, em algum momento de sua existência, são
apropriados para o desenvolvimento de atividades e/ou políticas de esporte
e/ou lazer. Um bom exemplo seria a utilização de vias públicas fechadas aos
finais de semana para atividades esportivas, culturais e de lazer.

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UNIDADE Atuação Profissional no Âmbito do Lazer

Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images

Além da classificação dos espaços/equipamentos de lazer, alguns aspectos de-


vem ser observados no momento das construções, sobretudo naquelas de natureza
pública. Como observou Requixa (1980), é importante considerar a utilização de
materiais duráveis, ecologicamente corretos, que possam garantir sua sustentabi-
lidade. Além disso, é necessário preocupar-se com a localização estratégica dos
equipamentos e a acessibilidade universal dos espaços, tendo em vista que demo-
cratizar significa tornar acessível a todos.

Outros elementos igualmente importantes para a qualificação e manutenção


dos espaços e equipamentos de lazer são: (i) a acessibilidade para recepcionar as
pessoas com deficiência ou necessidades educativas especiais, como, por exemplo,
a existência ou não de barreiras arquitetônicas, ausência de rampas, irregularidades
no calçamento; (ii) o estado de conservação das edificações, bem como de seu
entorno, aparelhos e mobiliários; (iii) a segurança, tanto no local da prática, quanto
no trajeto; (iv) quando houver, a qualidade dos materiais disponibilizados aos
usuários, como, por exemplo, equipamentos esportivos e de ginástica.

A presença nas cidades de lugares como os apresentados acima é apenas o


primeiro passo para a garantia do direito ao lazer para os cidadãos brasileiros.
Dessa primeira etapa, podem decorrer dois efeitos positivos. O primeiro deles é
o envolvimento da comunidade local nas atividades desenvolvidas nesses espaços
e equipamentos, fazendo com que eles passem a defender a preservação desses
ambientes e, em alguns casos, praticando a autogestão comunitária. O segundo
provável aspecto positivo diz respeito à ocupação desses espaços. Isso porque,
tão importante quanto a construção é a previsão de uma programação para o uso
desses espaços e equipamentos, evitando que fiquem abandonados e se deteriorem.
Portanto, para que esses locais sejam efetivos, precisam de uma política de
animação, que elabore um cronograma de eventos e atividades com envolvimento
da comunidade local. Essa é uma das muitas tarefas/desafios que caberá àqueles
profissionais que se dedicam a atuar no campo do lazer e do entretenimento.

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Perfil Profissional para Atuar
com o Lazer e Entretenimento
De que forma você pretende utilizar os conhecimentos adquiridos nesse curso?
Você já sabe em que tipo de atividade de lazer pretender atuar? Antes de iniciar
esse curso, já teve alguma experiência profissional no campo do lazer?

Equivocadamente, algumas pessoas ainda pensam que atuar no lazer é uma tarefa
simples, que não exige um bom preparo profissional, sendo suficiente ser uma pes-
soa engraçada e com boa capacidade de improviso. Essa leitura errada vem diminuin-
do, sobretudo com a valorização econômica do setor e com o crescimento de cursos
de formação voltados para a atuação no lazer em diferentes níveis, tais como: cursos
livres, técnico-profissionalizantes, graduações, pós-graduações e MBAs.

Ao mesmo tempo, registra-se um aumento de cursos de áreas vinculadas ao


lazer, como: marketing, produção cultural, design gráfico e outras expressões
artísticas. No entanto, é preciso reconhecer que ainda existem muitos profissionais
de lazer atuantes no mercado que não tiveram acesso a uma formação sólida e que
reproduzem uma atuação equivocada (MELO e ALVES, JUNIOR, 2003).

Inicialmente, cabe relembrar – conforme já foi dito anteriormente – que o lazer


é um campo plural, o que lhe atribui uma dimensão multidisciplinar. Portanto, seria
um erro limitar a atuação profissional no lazer a apenas uma área de formação,
ainda que alguns campos possuam vínculo maior com as atividades de lazer.
O correto seria pensarmos na possibilidade intersetorial mediada por trabalhos
coletivos de equipes multiprofissionais.

Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images

Essa pluralidade e diversidade de campos profissionais ocasionam uma dificul-


dade de atribuir uma nomenclatura a esse profissional do lazer. Os termos mais
comumente utilizados, de acordo com Melo e Alves (2003), são: recreador/recrea-
cionista, dinamizador, animador, agente cultural, gentil organizador, professor etc.

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UNIDADE Atuação Profissional no Âmbito do Lazer

Normalmente, quando se fala em perfil profissional, espera-se um texto pres-


critivo, quase uma cartilha, que apresente didática e detalhadamente o perfil ideal
esperado - ou o mais comum - para atuar naquela profissão. Longe dessa proposta,
o texto desta seção pretende apresentar as dificuldades e as características mais
gerais do profissional que pretende se dedicar a atuar no âmbito do lazer. Mas,
voltamos a lembrar, não é nossa pretensão criar um modelo rígido e inquestionável
de profissional do lazer, mesmo porque a chamada indústria cultural e do entreteni-
mento está em constante transformação, incorporando novos produtos e serviços
e modificando suas exigências profissionais.

Discutir o perfil profissional também nos remete diretamente à formação acadê-


mica que antecede o ingresso no mercado de trabalho. Embora não possamos aqui
estender muito esse debate, cabe realizarmos alguns apontamentos. Um primeiro
aspecto é que a formação de alguém que vai atuar na esfera do lazer não pode
se preocupar apenas com os conhecimentos técnicos e práticos. Nesse sentido,
faz-se necessário pensar na formação cultural mais ampla desse indivíduo. Afinal,
como pode alguém atuar no âmbito da arte e da cultura se a ela não tiver acesso?
No entanto, Adorno (1996), citado por Pires (2002), afirma que sob o domínio
da Indústria Cultural, a formação cultural se converteu em semiformação cultural.

De acordo com Melo e Alves Junior (2003, p. 85), a formação deve prever
espaços favoráveis à vinculação entre conhecimento teórico e aplicação prática.
[...] se é importante que o aluno compreenda as dimensões teóricas
centrais do assunto lazer, inclusive no que se refere à Teoria da cultura
e à Teoria da Arte, compreendo também sua articulação com a prática,
é fundamental que o curso também estimule o aluno a buscar romper e
superar seus limites de formação, para o que devem ser criados espaços
de sensibilização.

Antes de pensarmos nas competências, habilidades e capacidades que um


trabalhador do lazer deve possuir, apresentamos os principais obstáculos a serem
superados por aqueles que escolhem esse campo de atuação.

O primeiro desafio diz respeito à dimensão histórica. Historicamente, criou-se


uma espécie de senso comum de que o trabalhador do lazer é aquele que domina
um amplo repertório de brincadeiras e dinâmicas, que não necessitam de qualquer
tipo de debate ou reflexão teórica. Esse tipo de pensamento não é aleatório e foi
alimentado por curso e livros dessa natureza.

De acordo com Marcellino (2007), dentro das diferentes denominações já atri-


buídas ao profissional do lazer, nota-se uma forte tradição e ocorrência do prati-
cismo, que se transforma em um tarefismo (mero cumprimento de tarefas). Na
concepção do autor, corresponde a uma atuação orientada por uma visão parcial e
limitada da abrangência do lazer.

Outra dificuldade – já mencionada aqui nesta seção – refere-se à diversidade do lazer.


Se, por um lado, isso pode ser visto como benéfico, pois traz uma riqueza cultural

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interessante para o setor e amplia os espaços de atuação, por outro lado, cria uma
demanda muito difícil de ser atendida pelos cursos de formação profissional, qual
seja: incorporar esse caráter muldisicplinar e pensar nos conhecimentos e habilidades
necessárias dentro das múltiplas possibilidades de atuação deste profissional.

Da constatação acima, derivam outras barreiras, tais como: a falta de incorpora-


ção do lazer a um campo disciplinar, diluindo o tema entre diferentes formações pro-
fissionais e distintas abordagens; além disso, a particularidade do campo de atuação
exige um perfil profissional complexo, que não se esgota no mero domínio técnico.

Mas, então, o que se exigiria desse profissional diversificado e complexo? Seria


possível um único profissional atender a todas essas necessidades e atuar em todos
os interesses culturais do lazer já apresentados nessa disciplina. Vejamos com mais
calma o perfil desse profissional!

Segundo Melo e Alves Junior (2003), o profissional do lazer, denominado por


eles de animador cultural, deve ter as características do quadro abaixo:

Tabela 1
Quanto à postura profissional Quanto ao domínio de conteúdos
Formação Linguagens
Liderança Lazer
Comunicação Cultural
Criatividade
Organização
Atualização
Senso crítico

Partindo do pressuposto de que não há muitas dúvidas sobre os significados


das características relacionadas à postura profissional e de que elas também são
atributos exigidos de profissionais de outras áreas de atuação, restringiremos – neste
momento - nossas explicações às características quanto ao domínio de conteúdos.

O domínio das múltiplas linguagens é um potente instrumento de intervenção


pedagógica, e relaciona-se com a necessidade de compreensão das diversas mani-
festações culturais como fenômenos socioculturais integrantes de uma sociedade
de consumo – já definida em unidades anteriores. Melo (2007) aponta como su-
gestão a criação de metodologias que se utilizem de distintas formas de linguagens,
favorecendo o florescimento da criatividade e da seletividade/escolha, orientada
pela descoberta de diferentes dimensões da arte.

A compreensão de lazer do profissional que pretende atuar sobre ele não pode
ser a de que se trata apenas de um tempo disponível a ser preenchido de qualquer
forma. Seu entendimento deve ser mais amplo, reconhecendo o lazer como uma
intervenção pedagógica no campo da cultura e que, sem abrir mão das suas carate-
rísticas de prazer e diversão, pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida
das pessoas (MELO e ALVES JUNIOR, 2003).

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UNIDADE Atuação Profissional no Âmbito do Lazer

A compressão de cultura desse profissional também deve ser ampla e não restrita
a algumas de suas manifestações mais conhecidas. Como nos recorda Marcellino
(2007), o lazer deve ser percebido nas diferentes esferas do fazer cultural e não
em apenas alguns conteúdos culturais (esporte, dança, arte etc.). Nesse sentido, a
cultura deve ser compreendida como um conjunto de valores e normas – conceito
já destacado anteriormente.

Até agora apresentamos características gerais daquilo que se espera do perfil


profissional para atuar com o lazer. Concomitantemente, destacamos obstáculos
históricos e da própria natureza da área que desafiam aqueles que escolhem se
dedicar a esse campo de atuação. Entretanto, essas características e desafios se
mostram de forma mais visível e latente no momento da prática profissional. Nesse
sentido, nossa próxima seção - ainda que de forma resumida – dedica-se a conhecer
um pouco melhor as possíveis formas de intervenção.

Formas de Atuação na Esfera


do Lazer e Entretenimento
Estou decidido a ser um profissional do lazer! Realizei os cursos necessários, me
capacitei e me sinto preparado para o mercado de trabalho. Finalmente, consegui
meu primeiro emprego na área do lazer. Hoje é meu primeiro dia... acordei um
pouco nervoso, mas me acalmo e penso: “isso é normal no começo e é bom para
me manter concentrado”. Chego a meu local de trabalho, conheço o meu espaço
de atuação e os equipamentos que tenho à disposição. Aos poucos o público com
o qual irei interagir vai chegando, muitos me olham com desconfiança, outros me
tratam com muita simpatia. Tudo parece transcorrer dentro do normal, até que
toca o sinal, é hora de entrar em ação e, então, de repente me vem à mente uma
incerteza: “E, agora, o que eu faço com essas pessoas?”

A narrativa acima poderia acontecer com qualquer profissional e refere-se a uma


insegurança normal para quem está iniciando sua profissão. Ao mesmo tempo, a
indagação do estreante representa sua busca na memória pelos conhecimentos e
instrumentais necessários para realizar sua intervenção junto à comunidade, aos
estudantes, às populações especiais ou aos clientes. Nesse sentido, o conteúdo
dessa seção se relaciona diretamente com a pergunta sobre o quê fazer no momento
da prática profissional.

Da mesma forma que outras profissões, o trabalhador do lazer deve estar atento
às expectativas do mercado e aos desafios lançados por suas mudanças cada vez
mais rápidas e intensas. Entretanto, no caso daquele que escolhe atuar especifica-
mente com o campo do lazer, não basta apenas estar afinado com as perspectivas
do mercado. Conforme demonstramos na Unidade anterior, reconhecer a possi-
bilidade educativa do lazer envolve a presença de um profissional capacitado para
gerar situações que problematizem o próprio mercado, sobretudo quando se trata

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de um mercado que restringe a oferta do lazer ao consumo de serviços e produtos
efêmeros e superficiais (MARCELLINO, 1995).

O crescimento da indústria do lazer e do entretenimento expande o campo


de atuação do lazer a diferentes áreas (Turismo, Hotelaria, Esporte, Recreação
etc.) e, concomitantemente, produz tendências de expansão da atuação para
setores em desenvolvimento, como, por exemplo, os parques temáticos (com
uma incorporação cada vez maior da realidade virtual), o lazer nas empresas e o
ecoturismo ou o turismo de aventura.

Pesquisa realizada por uma das maiores empresas de e-commerce de viagens do mundo
Explor

apontou algumas das principais tendências para o mercado de turismo para 2017. Dentre
elas encontravam-se as viagens sustentáveis/ecoturismo ou para lugares pouco explora-
dos, além do bleisures, que corresponde a uma mescla que combina viagens a negócios
(business) com momentos de lazer (leisure).
Explor

Eight big travel predictions for 2017: https://goo.gl/XnQAGd

Esse movimento de ampliação das áreas de atuação junto à indústria cultural e


do entretenimento abre um vasto leque de possibilidades de inserção profissional
junto ao lazer, a saber: grandes eventos (esportivos ou culturais), escolas, cruzeiros
marítimos, esportes e atividades de aventura, clubes, hospitais, associações filan-
trópicas, acampamentos, buffets e casa de festas, pousadas, hotéis e resorts, ruas
e espaços públicos, entre outros.

De acordo com Marcellino (1995), a atuação profissional no campo do lazer


demanda um profissional especialista com uma visão de totalidade da área e com
um entendimento baseado no lazer concreto, cuja ação deve ser
[...] geradora de novas competências, estimuladora da participação e do exercí-
cio da cidadania. Exige a atuação de um novo especialista, engajado em equi-
pes pluri e multidisciplinares, buscando um trabalho interdisciplinar (p. 20).

A atuação na área do lazer é baseada na oferta de vivências lúdicas e de uma ex-


perimentação prazerosa, que podem ser individuais ou coletivas. Para garantir essa
experiência, utilizamo-nos de atividades distribuídas entre os diferentes interesses
culturais do lazer. Além disso, conforme observamos anteriormente, tais atividades
necessitam de espaços físicos e equipamentos acessíveis e qualificados.

Entretanto, tão ou mais importante que a infraestrutura física é a presença de


um profissional capacitado para atuar no lazer. Embora - é bom destacar - algumas
atividades de lazer independam da presença da mediação de um profissional, pois
a realizamos sozinhos, como, por exemplo: escutar música, fazer a leitura de um
livro, assistir à televisão, conversar com os amigos entre outras atividades.

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UNIDADE Atuação Profissional no Âmbito do Lazer

Mas o que significa ser um profissional capacitado? Quais capacidades eu preciso


ter? Qual é o meu papel nas atividades de lazer?

Marcellino (2000) nos apresenta algumas preocupações em relação à atuação


profissional no lazer que devem ser levadas em consideração quando buscamos as
respostas para as questões acima. De acordo com o autor, em muitos casos, o pro-
fissional do lazer vende sua personalidade, tornando-se uma “personalidade pro-
fissionalizada”. Mas, afinal, o que isso quer dizer? Vamos olhar com mais calma...

Levando em consideração os profissionais que atuam em equipes de recreação


e/ou com atividades recreativas, Marcellino (2000) identifica a venda da persona-
lidade desses trabalhadores em diferentes situações. Isso acontece, por exemplo,
quando esses profissionais colocam em primeiro plano o bom humor em relação
à competência profissional, inclusive utilizando fantasias e adereços exagerados
como forma de capturar a atenção de seu público-alvo. Nesse caso, o profissional
torna-se a própria atividade.

Figura 8
Fonte: iStock/Getty Images

O bom humor é importante, até porque ninguém chega a um ambiente de la-


zer esperando encontrar uma pessoa chata ou mal-humorada. Chegar ao local no
qual espera encontrar a alegria e a ludicidade e se deparar com a sisudez, afeta o
envolvimento das pessoas com aquela vivência. No entanto, essa observação não
significa que para ser bem humorado devo abrir mão da seriedade, da competência
e do compromisso político. Esses elementos, segundo Marcellino (2000), são fun-
damentais para um exercício profissional digno, embora hoje pareçam anacrônicos
ou fora de moda.

Marcellino (2000) nos adverte que o bom humor não deve ser confundido com o
“bobo-alegrismo”. Para o autor, o bom humor é consequência de uma situação geral
e profissional adequada e que torna a atividade prazerosa. E, por conseguinte, a
constituição dessa situação ou ambiente favorável exigirá competência profissional.

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É do prazer do trabalho que deve nascer o bom humor, e não do bom humor estabelecido “a
Explor

priori” como mais uma peça do vestuário colocada, que deve nascer o prazer pelo trabalho
(MARCELLINO, 2000, p. 128).

Já falamos aqui da importância dos espaços e equipamentos de lazer, bem como


de que eles sejam acompanhados por uma programação que os potencializem
como locais de experiência e vivência do lazer. Portanto, é perfeitamente possível e
lógico que o profissional do lazer seja pensado e previsto juntamente à construção
desses locais. Grosso modo, a atuação do trabalhador do lazer junto ao processo
de gestão desses equipamentos pode ocorrer de três formas:
a) Administração – corresponde à administração geral do espaço e/ou
equipamentos, realizando ou supervisionando as atividades administrativas,
logísticas e financeiras necessárias para manter o local em funcionamento.
b) Programação e animação – podemos dizer que é a atividade em si do
profissional de lazer, onde se atua diretamente com a vivência. Nesse caso,
o profissional responsabiliza-se pelo planejamento e execução das ativida-
des, que podem ser permanentes, temporárias e esporádicas (na forma
de eventos e festivais). Há ainda a possibilidade de ser ele um articulador
ou mediador, convidando profissionais de outras áreas ou locais para uma
intervenção específica, na qual ele não possui o conhecimento necessário
ou o domínio completo.
c) Manutenção – compreende as ações de monitoramento e avaliação da
situação dos espaços e equipamentos, verificando se eles se encontram em
condições adequadas para a realização das atividades e para recepcionar
os praticantes. Esse setor dever manter um diálogo permanente com a
administração direta, passando o feedback sobre o estado da infraestrutura
e, quando necessário, demandando reparos, reformas ou revitalizações.

O profissional do lazer, nas diferentes possibilidades de atividades a serem desen-


volvidas, deve ser detentor de um conjunto de conhecimentos teóricos e práticos,
atitudes, técnicas e habilidades que lhe garantam êxito nas ações propostas. Este
profissional deve ser um mediador capaz de manter os participantes motivados e,
ao mesmo tempo, saber respeitar e trabalhar as diferenças interpessoais e culturais.
Para a consecução deste trabalho, são necessárias algumas características, tais como:
a) Formação Inicial e Continuada – Preferencialmente, o profissional do
lazer deve buscar sua capacitação em um curso superior. Entretanto, essa
formação inicial não é indispensável e nem suficiente. Alguns cursos que se
relacionam mais diretamente com o tema são: Educação Física, Turismo,
Artes (cênicas e visuais), Geografia, Sociologia, Pedagogia, Publicidade &
Propaganda, Gestão pública e ambiental, entre outros. No entanto, vale
lembrar que esse é apenas o primeiro passo, pois o bom profissional é
aquele consciente da necessidade de se manter em processo permanente
de aprendizado.

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UNIDADE Atuação Profissional no Âmbito do Lazer

b) Informação e Cultura – o profissional de lazer, por vezes, é pessoa na


comunidade com a qual outras buscam se orientar ou se informar. Nesse
sentido, é importante se manter minimamente informado sobre os aconte-
cimentos sociais, políticos e culturais mais gerais, tanto no cenário global,
quanto na dimensão mais local. Ao mesmo tempo, deve estar atualizado
sobre a programação cultural e as manifestações artísticas que acontecem
no estado ou na cidade. De preferência, deve ser frequentador assíduo dos
eventos culturais para ser um agente transmissor de cultura. No entanto,
vale lembrar que, muitas vezes, esse acesso está limitado devido à falta das
condições financeiras necessárias.
c) Ética e Atitude – devido ao cenário descontraído e divertido que envolve
algumas das atividades do lazer, é necessário existir um cuidado redobrado
por parte do profissional para manter uma separação adequada e desejável
entre o lado profissional do pessoal, estabelecendo alguns limites para o
envolvimento particular com as pessoas que participam das atividades.
Ao mesmo tempo, deve ser um sujeito com uma atitude proativa, criativa
e motivacional, atrelada a um agir com simpatia, serenidade e flexibilidade,
demonstrando prazer em orientar as pessoas.
d) Criatividade e Intuição – o profissional deve ser prementemente atento
ao comportamento dos praticantes a cada atividade proposta, sabendo (in-
tuir) o momento correto de intervir para manter o envolvimento desejado.
Além disso, deve saber utilizar sua criatividade para trabalhar com um le-
que diversificado de atividades e, em algumas ocasiões, buscar alternativas
para superar a escassez dos recursos disponíveis.
e) Comprometimento e Articulação – o profissional de lazer deve lembrar-
-se de que atividades ministradas por ele são lazer para os outros, mas para
ele é seu exercício profissional. Portanto, deve manter a máxima atenção
e comprometimento para que os objetivos sejam atingidos e as pessoas
saiam satisfeitas. Deve ser o primeiro a chegar, organizar o ambiente e
instrumentos, conduzir a atividade com segurança e cuidado e, por fim, ser
o último a sair quando todos já voltaram para suas residências. Ao mesmo
tempo, deve cumprir a função de articulador, motivando as pessoas a bus-
carem o trabalho coletivo e colaborativo.
f) Comunicação – o sucesso inicial de uma atividade de lazer, muitas vezes,
está condicionado a uma transmissão clara da proposta por parte do pro-
fissional. Em outras palavras, é preciso saber se comunicar e se expressar
para que os praticantes compreendam aquilo que você espera delas.

Aqui, encerramos algumas das competências e atitudes esperadas daquele que


se dedicam à atuação profissional no âmbito do lazer. Certamente, você deverá se
recordar de outras características que não foram citadas nesta parte. Apresente essas
características para seus colegas de turma, promovendo um debate e estimulando-
-os a pensar em outras habilidades necessárias.

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Na Unidade anterior, falamos das possibilidades de utilizar o lazer como instru-
mento educacional, dentro ou fora do ambiente escolar. Naquele momento, ao
abordar a educação para e pelo lazer, destacamos três possibilidades de enfoque
de trabalho dentro dessa proposta. Dentre elas, estava a proposta da Animação
Cultural. Encerraremos essa unidade de conteúdo falando um pouco mais sobre
essa forma de atuação profissional no lazer.

Animação Cultural
Você já pensou em ser um animador? Conhece algum animador cultural? Já ouviu
falar sobre essa profissão? O que ele faz? Quais conhecimentos e competências ele
deve ter?

Marcellino (2007, p. 24) nos ajuda a buscar respostas para essas questões a
partir do detalhamento daquilo que denominou de estrutura de animação. Para o
autor, a reponsabilidade pela montagem dessa estrutura deveria ser das autoridades
públicas com políticas voltadas para essa área.

Tabela 2
Estrutura de animação
1. Animadores socioculturais dirigentes - de competência geral mais apurada;
2. Animadores socioculturais profissionais de competência específica, sem deixar de lado, no entanto, a
competência geral, e funcionando, no caso de políticas públicas, como educadores, e não como “mercadores”,
como é quase regra, em amplos setores da indústria cultural;
3. Animadores socioculturais voluntários, necessários para a vinculação com a cultura local - anseios, aspirações,
gostos etc. - da população que se pretende atingir;
4. Quadros profissionais de apoio - pessoal de atividade meio, adminitrativos e operacionais, que precisam estar
conscientes da área em que trabalham e do serviço final prestado.

Mais especificamente, em relação aos animadores socioculturais profissionais,


Marcellino (2007, p. 26) afirma que eles devem ter
[...] uma visão concreta do lazer, aliando competência técnica, sólida cultura
geral e exercício constante da reflexão sobre a ação desenvolvida, consubs-
tanciada no compromisso pela mudança, pela exploração das amplas possibi-
lidades de se trabalhar no plano cultural, de uma perspectiva democratizada.

Ademais, o autor reconhece que se trata de um profissional que pode vir de


diferentes formações, algo esperado devido ao caráter multifacetado e multidisciplinar
do lazer. Sem desconsiderar esses distintos percursos, Marcellino (2007, p. 25)
distingue esse profissional a partir de características mais gerais, são elas:
• Dominar um conteúdo cultural;
• Ter vontade de dividir esse domínio com outras pessoas, devendo para isso:
» Possuir uma sólida cultura geral, que lhe dê possibilidade de perceber a inter-
seção/ligação do seu conteúdo de domínio com os demais;

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UNIDADE Atuação Profissional no Âmbito do Lazer

»» Exercer, cotidianamente, a reflexão e a valoração, próprias da ação do edu-


cador, o que os diferenciará dos “comerciantes” da indústria cultural e do
entretenimento;
»» Ter compromisso político com a mudança da situação em que nos encontra-
mos, atuando nessa perspectiva.

Melo e Alves Junior (2003) nos lembram de que o profissional do lazer deve
encarar esse fenômeno sociocultural com seriedade, sendo que sua localização
no campo da cultura possibilita um trabalho com intencionalidade e clareza.
De acordo com os autores, os profissionais dessa área – com cuidado e sensibilidade
– devem educar seu público para ocupar o lugar de um espectador crítico, atento e
participativo na vivência de seus momentos de lazer.

Melo e Alves Junior (2003) indicam para o animador cultural a busca por uma
formação de qualidade que combine aspectos teóricos do lazer e da cultura e as
mais diferentes linguagens às possibilidades de incorporá-las à animação cultural
e, finalmente, o estímulo à formação cultural dos alunos. Os autores também des-
tacam a importância de que o animador cultural incorpore a seu cotidiano essa
formação cultural. Afinal, perguntam os autores: como ser um animador se não
incorporo a minha própria vida à animação?

Tomando como base outros autores, Melo e Alves Junior (2003) apresentam os
sentidos da animação cultural a partir de três perspectivas/paradigmas: tecnológico,
interpretativo e dialético.

O paradigma tecnológico está mais ligado à manutenção do status quo. Aqui,


após um diagnóstico da realidade, o animador estabelece os problemas e decide
sozinho a forma de agir. O animador se coloca em uma posição distante do público,
uma vez que ele é o detentor do conhecimento necessário para atuar junto àquelas
pessoas e naquele ambiente.

Normalmente, dentro dessa perspectiva, a dinâmica de trabalho adotada pelo


animador é “tarefista” e prescritiva. Ou seja, ele chega como uma cartilha pre-
definida de programação e atividades a serem cumpridas sem estabelecer qualquer
diálogo com os praticantes, tolhendo a participação destes nas decisões a serem
tomadas. Essa maneira de atuação não possibilita o desenvolvimento de uma
consciência crítica, autônoma e criativa das pessoas envolvidas, que acabam
participando de forma automática e desmotivada junto às atividades prescritas.

No paradigma interpretativo, a animação se traduz em uma formação


cultural que possibilite o contato das pessoas com os bens culturais, históricos e
socialmente produzidos. Para Melo e Alves Junior (2003), essa perspectiva avança
em relação ao paradigma tecnológico, porém, também possui fragilidades. Uma
delas é acreditar – de forma ingênua – que é suficiente ao animador apresentar um
conjunto de atividades e convidar as pessoas a participar, confiando que haverá o
envolvimento individual devido ao potencial dessas atividades para a ação reflexiva,
relacional e criadora. O animador é um facilitador de experiências, partindo da

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hipótese de que isso será suficiente para desenvolvimento individual, motivando os
sujeitos a construírem uma ordem social reformada.

Finalmente, o paradigma dialético identifica-se com a perspectiva de uma


transformação estrutural. O animador realiza um diagnóstico da realidade concre-
ta, buscando percebê-la como ela realmente é em função das determinações sociais
e históricas que a constituíram. Dentro dessa proposta, não compete ao animador
propor uma cartilha rígida de atividades, e tampouco um amplo e frágil rol de op-
ções a serem escolhidas individualmente.

Neste caso, o animador ocupa a posição de um articulador, mediador e proble-


matizador. Mobilizando a comunidade, o animador estabelece uma dinâmica ou um
ambiente que estimule a organização coletiva. Certamente, dentro dessa dinâmica
de trabalho aparecerão conflitos e diferenças, mas que, ao mesmo tempo, obri-
garão os envolvidos a saber negociar, abrir concessões e estabelecer mediações.
Nesse sentido, acaba sendo um processo transformador e emancipador, capaz de
promover transformações sociais pelo desenvolvimento da consciência e responsa-
bilidade individual e coletiva.

Com qual desses paradigmas você se identifica? Se tivesse que começar a


trabalhar hoje com o lazer, qual deles você adotaria? Aquele que você se sentisse
mais confortável ou aquele que fosse mais desafiador?

Por todo o conteúdo que apresentamos até esse momento, nos parece que essa
última perspectiva é aquela com maior potencial para o desenvolvimento humano
e social, por meio do lazer, da arte e da cultura. Entretanto, reconhecemos que ela
é a mais desafiadora e que pode gerar dificuldade e desconforto, mesmo porque
ela não se aproxima do modelo tradicional de educação com o qual estamos
acostumados. Entretanto, o profissional do lazer e/ou o animador cultural deve se
colocar em desafios que o faça se mover, retirando-o do comodismo, da atitude
conformista e dos lugares comuns. Ao contrário disso, deve buscar constantemente
manter alimentada e estimulada sua capacidade criativa e de inovação.

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UNIDADE Atuação Profissional no Âmbito do Lazer

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Espaços e equipamentos de lazer em região metropolitana: o caso da RMC - Região Metropolitana de Campinas
MARCELLINO, N. C., BARBOSA, F. S., MARIANO, S. H., SILVA, A. da, FERNANDES,
E. A. de O. Espaços e equipamentos de lazer em região metropolitana: o caso da
RMC - Região Metropolitana de Campinas. Curitiba, PR: OPUS, 2007.
Dimensões do lazer e da recreação: questões espaciais, sociais e psicológicas
SANTINI, R. de C. G. Dimensões do lazer e da recreação: questões espaciais,
sociais e psicológicas. São Paulo: Angelotti, 1993.
Lazer, Recreação e Educação Física
Gomes; ISAYAMA, Hélder Ferreira (Org.). Lazer, Recreação e Educação Física.
Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

 Vídeos
Documentário - O Riso dos Outros (Pedro Arantes)
https://youtu.be/uVyKY_qgd54
Documentário - Território do brincar
https://youtu.be/ng5ESS9dia4

 Leitura
Reportagem “No filme ‘Tarja Branca’, um corajoso elogio do brincar”
https://goo.gl/oTksdc

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Referências
GARCIA, F. E. S. et al. Rio 2016: o projeto olímpico e sua economia simbólica.
In: XIV Encontro Nacional da ANPUR, 2011, Rio de Janeiro - RJ. Anais do XII
Encontro Nacional da ANPUR. Rio de Janeiro: ANPUR, Maio de 2011.

HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. 2 ed. São Paulo: Annablume, 2006.

MAGNANI, J. G. C. O direito social ao lazer na cidade do nosso tempo. In: GOMES,


C. L. e ISAYAMA, H. F. (orgs.). O direito social ao lazer no Brasil. Campinas,
SP: Autores Associados, 2015.

MARCELLINO, N. C. Lazer e cultura. Campinas, Alínea, 2007.

__________. O lazer na atualidade brasileira: perspectivas na formação/ atuação


profissional. Revista Licere, Belo Horizonte, v. 3, n.1, p.125-133, 2000.

__________. Lazer: formação e atuação profissional. Campinas: Papirus, 1995.

MELO, V. A. de. Arte e lazer: desafios para romper o abismo. In: MARCELLINO,
N. C. Lazer e cultura. Campinas, Alínea, 2007.

POYNTER, G. From Beijing to Bow Bells: Measuring the Olympic Effects (London
East Research Institute. Working paper in Urban Studies). Londres: London East
University, 2006.

RECHIA, S. Planejamento dos espaços e dos equipamentos de lazer nas cidades:


uma questão de “saúde urbana”. In: FRAGA, A. B.; MAZO, J. Z.; STIGGER, M.
P.; GOELLNER S. V. (Orgs.). Políticas de lazer e saúde em espaços urbanos.
Porto Alegre: Gênese, 2009, p. 76-88.

STUCCHI, S. Espaços e equipamentos de recreação e lazer. In: BRUHNS, H. T.


(Org). Introdução aos Estudos do Lazer. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 1997, p.
105 – 122.

VAINER, C. Cidade de exceção: reflexões a partir do Rio de Janeiro. In: XIV


Encontro Nacional da ANPUR, 2011, Rio de Janeiro - RJ. Anais do XII Encontro
Nacional da ANPUR. Rio de Janeiro: ANPUR, Maio de 2011.

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Você também pode gostar