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Animação Sociocultural,

Lazer e Recreação
Material Teórico
A Formação do Animador Sociocultural

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Júlia Lelis Vieira

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
A Formação do Animador Sociocultural

• Introdução;
• Voltando um Pouco na História;
• Recreação;
• Adquirir Conhecimento = Um Passo
Fundamental e Constante no Lazer;
• A Ação e Função.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Apresentar ao aluno as expectativas que surgem ao se contratar um animador sociocultural,
como ele deve se portar e desenvolver suas atividades.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE A Formação do Animador Sociocultural

Introdução
Nesta unidade, vamos estudar mais a fundo o profissional Animador Sociocultural.

Dessa forma, voltaremos um pouco na história para contextualizar você sobre


como era visto esse profissional, em que momento ele passou a ser importante
para a sociedade, como surgiram alguns conceitos muito importantes na área –
como a recreação, por exemplo, suas semelhanças e diferenças com o lazer.

Em seguida, seremos mais práticos apresentando informações, como o que se


espera de você enquanto animador sociocultural e qual é a sua função, entre outros
pontos importantes para sua vida profissional.

Voltando um Pouco na História


Semelhanças e Diferenças Entre Lazer e Recreação
Historicamente, os termos lazer e recreação são ditos como algo único, sinônimos.
Há autores que até concordam com a ideia de similaridade, considerando que ambos
representam um espaço para a vivência lúdica, produção de diversão (PINTO, 1992
apud GOMES, 2008; CAMARGO, 1998 apud GOMES, 2008).

Outros autores como Bramante (1998 apud GOMES, 2008) e Bruhns (1997
apud GOMES, 2008) já ponderam diferenças entre os termos – enquanto o lazer
está associado à cultura, ao desenvolvimento atribuído às vivências, a recreação está
ligada à atividade em si, podendo considerar a atividade e ou experiência em si, além
da possibilidade de aproximar a recreação, a atividade proposta – ao lúdico.

Então, vejamos de maneira didática:


• Lazer: já bem conceituado previamente são vivências no tempo livre que cau-
sam prazer intrínseco sem nenhum interesse de ganho secundário.

Figura 1
Fonte: Getty Images

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• Recreação: podemos considerar a atividade proposta no tempo livre; isso significa
uma atividade que ocorre dentro do lazer, cujo objetivo é divertir-se, recrear-se.

Figura 2
Fonte: Getty Images

• Ludicidade: derivado da palavra “ludus” que significa jogo, entretanto, esse


conceito vai além do jogo propriamente, ofertando em si aprendizagem, desen-
volvimentos pessoal e sociocultural de forma divertida e prazerosa.

• Jogo: atividade em que há regras e que podem ser utilizadas em momentos


recreativos como em momentos não recreativos, exemplo: aula de educação
física escolar, aquecimento de um treinamento esportivo.

Figura 3 Figura 4
Fonte: Getty Images Fonte: Getty Images

• Brincadeira: semelhante ao jogo quanto a fazer parte das atividades recreati-


vas, com exceção dos momentos obrigatórios, sua diferença é que nas brinca-
deiras não há regras pré-estabelecidas, elas podem ser construídas ao longo
da brincadeira.

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UNIDADE A Formação do Animador Sociocultural

Figura 5
Fonte: Getty Images

Recreação
Esse termo foi instituído no século XIX, nos EUA, para englobar atividades de
cultura popular que os “departamentos municipais se incumbiam de organizar; su-
pervisionar e difundir” (MIRANDA, 1993 apud GOMES, 2008, p.88). Segundo esse
autor, depois de muitas discussões acerca do melhor termo entre pesquisadores das
áreas da educação, sociologia, higiene mental, psicologia, entre outras, o termo ‘re-
creação’ foi escolhido como melhor palavra a fim de expressar tais atividades.

Gomes (2008) cita Miranda (1993) descrevendo a fixação do termo recreação nas
seguintes palavras: “uma série de atividades destinadas a diferentes faixas etárias,
livres ou organizadas, públicas ou privadas” (MIRANDA, 1993 apud GOMES, 2008,
P.90). Segundo Gomes (2008), esse conceito encerrava as discussões quanto às preo-
cupações sociais e/ou político-social, havendo como meta a promoção dos interesses
social e moral.

Nesse período, a recreação, embora com suas características prazerosas e de


cunho espontâneo, fazia parte do projeto social e político. Dessa forma, as vivências
não eram movidas apenas pelo prazer intrínseco, mas também pelo desenvolvi-
mento da disciplina, formação da nacionalidade e incorporação dos valores morais,
enfim, a busca pela vida harmoniosa em sociedade.

A recreação inicialmente estava focada na infância, em jogos e brincadeiras cujo


intuito era desenvolver técnicas dos jogos organizados e, mais tarde, ampliou seu
olhar para os adultos.

Na década de 1970, o pesquisador Almeida (apud GOMES, 2008) descreve a


atuação de um animador, sendo:
Reunidos os participantes no local apropriado, a primeira preocupação do
animador é explicar minuciosamente os pormenores, fazendo com que os
participantes repitam a explicação a fim de mostrar que compreenderam

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o desenvolvimento do jogo [...]. O animador deve transmitir a todos os
participantes a sensação de que sabe bem o que esta fazendo (ALMEIDA,
1977, p. 29 apud GOMES, 2008)

Considerando as leis trabalhistas e as mudanças nas jornadas de trabalho que


passavam de 12 horas, e chegando às atuais 8 horas, aumentou-se esse tempo livre
e, consequentemente, a necessidade de ocupá-lo.

A recreação passa a ser ofertada aos adultos como meio de ocupação do ócio,
preenchimento do tempo livre, necessidade de organizá-lo e controlá-lo, como forma
de uso adequado do tempo livre (GOMES, 2008). Observa-se que, nesse momento,
a recreação é vista como sinônimo de lazer. Embora haja uma aproximação dos con-
ceitos, a recreação mantinha a ideia de atividades determinadas por organizações
cujo objetivo não era apenas educacional, mas também biológico e sociopolítico.

Marinho (1957 apud GOMES, 2008) apresenta os esforços dos poderes públicos
a fim de ofertar espaços para o lazer como parques de recreação com amplas áreas
verdes em especial nos bairros em que habitavam as classes proletárias. Essas políti-
cas tinham como objetivo a recuperação do desgaste físico no cotidiano do trabalha-
dor, entretanto, não se valorizava a necessidade da recuperação mental e a alegria
de viver.

Em 1949, ocorreu a “Comissão de Lazeres Operários” em Genebra e, entre


as discussões, estava o fomento de estudos acerca da ocupação do tempo livre
do trabalhador. A partir desse encontro, deu-se início à formação de animadores
voltados ao lazer e à organização de programas de recreação dentro das empresas
(GOMES, 2008).

Posteriormente, a recreação foi classificada como uma função do lazer. Dessa for-
ma, o lazer apoderou-se do seu conceito e a recreação passou a fazer parte do lazer.
Ferreira (1959 apud GOMES, 2008, p.104) conceitua: “Lazer é tempo, e a recreação
é a expansão dos interesses humanos em tempo de lazer”.

Visão reducionista da profissão


Como dito na unidade anterior, o profissional do lazer já foi e ainda é chamado
por vários nomes, como: recreacionista, monitores, animadores, chefes de prazer,
consultores de lazer, entre outros (MARCELLINO, 2007).

Se pensarmos em repetidores de atividades, pessoas que atuam somente com


atividades desconexas com a atualidade cujo objetivo é somente a diversão sem co-
nexão com a cultura e atualidade, então alguns desses termos se encaixariam como
denominação da profissão.

Quando as atividades no âmbito do lazer são alienadas e descontextualizadas ao


meio em que o sujeito vive e à cultura que o cerca, essa atividade não passa de um
passatempo sem desenvolvimento.

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UNIDADE A Formação do Animador Sociocultural

Isayama (2010) critica o momento em que vivemos diante de um lazer funcio-


nalista/assistencialista; o lazer tem sido visto e vivenciado apenas como um pas-
satempo, diversão, produto em que se compra, e sua essência – desenvolvimento
pessoal e social tem sido esquecido. Esse esquecimento está vinculado a uma su-
pervalorização do trabalho, alienação quanto às necessidades da vida e a cultura do
consumismo (WERNECK, 1998).

Infelizmente, é muito comum encontrar jovens e até mesmo adolescentes tra-


balhando com recreação em aniversários infantis com brinquedos infláveis e simi-
lares, jogos e brincadeiras, e muitos deles dizendo que é um ganho fácil, pois é só
“brincar” e, no final do dia, receber o pagamento. Não desmereço a importância
do profissional que atua na segurança de brinquedos como pula-pula ou brinque-
dos infláveis, por outro lado, precisamos mudar essa concepção de algo fácil, pois
trabalhar nessa área requer conhecimento, seja técnico e/ou teórico (exemplo:
segurança dos brinquedos, porque se permite somente certa idade, brincadeiras
específicas para crianças de cada faixa etária etc). Ysayama (2010) defende que o
profissional não nasce pronto, ele precisa estar em constante formação, precisa
aprender técnicas, ciência e, em especial, pedagogia.

Outro exemplo: para ser guia de trilhas, simplesmente, deve-se reunir as pessoas
e sair caminhando pelo simples fato de você conhecer o percurso? Não, é importante
saber qual tipo de roupa e calçado usar, carregar consigo um kit emergência, conhe-
cer a trilha, na semana anterior fazer o percurso para ver se está tudo bem, saber en-
sinar as técnicas de caminhada em diferentes terrenos, entre outros conhecimentos.

Figura 6
Fonte: Getty Images

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Adquirir Conhecimento = Um Passo
Fundamental e Constante no Lazer
Faz-se necessário conhecer algumas ciências bases para a compreensão do ho-
mem e sociedade. Silva & Silva (2012) trazem como bases das ciências humanas
áreas como sociologia, antropologia, filosofia e história, destacando a importância de
compreender o “homem” e a “sociedade” em que ele vive, a cultura que o cerca, suas
limitações e suas conquistas ao longo da história. O conhecimento do homem, do
ambiente e da cultura envolvente é a base para o animador sociocultural desenvolver
seu trabalho.

Mas somente aspectos da ciência humana são importantes para a formação do


animador sociocultural?

Uma mesma brincadeira pode ser desenvolvida com idades diferentes, exemplo: crianças de
Explor

cinco anos e adolescentes de catorze anos?

Não! Cada fase da infância tem características do desenvolvimento cognitivo-


-motor. Para isso, faz-se necessário conhecer o desenvolvimento humano, co-
nhecimentos adquiridos através de estudos na área das ciências biológicas e da
saúde, como psicomotricidade, desenvolvimento cognitivo e motor, psicologia,
entre outras áreas.

Não se assuste com tantas áreas, todas elas buscam responder o desenvolvimento
do homem ao longo da sua formação física, psíquica, emocional e social, e, embora
seja muito importante você ter o conhecimento básico, a riqueza da área do lazer é
poder atuar de maneira multiprofissional.

Recomendamos a leitura da teoria de Piaget, assim aprenderá o que esperar em determi-


Explor

nadas faixas etárias, assim como a informação é absorvida e contemplada. Disponível em:
http://bit.ly/2E0vj8S

Isayama (2010) discute a importância do trabalho multiprofissional, pois as diferen-


tes visões têm a capacidade de construir coletivamente possibilidades de ações teóri-
cas e práticas significativas no lazer, cujo objetivo maior seja minimizar os problemas
sociais as quais os sujeitos se encontram.

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UNIDADE A Formação do Animador Sociocultural

Talvez surja em sua mente neste momento a pergunta: mas o animador sociocultural não
Explor

é aquele que faz atividades recreativas, diverte as pessoas e possibilita o prazer ao gru-
po envolvido?

Sim, uma das funções do lazer é a diversão, entretanto, o lazer vai além – o lazer
tem como base o prazer intrínseco baseado no desenvolvimento pessoal e social
do sujeito, além do descanso e da diversão. Dessa forma, podemos sim atuar com
brincadeiras, jogos, estafetas, entre outras atividades que causam um prazer. Por
outro lado, podemos também ofertar, através dessas atividades, interação social,
desenvolvimento de habilidades motoras e ganho do repertório de atividades no
âmbito do lazer.

O animador sociocultural não tem o papel de fazer os clientes sorrirem o tempo


todo, característica que muitas vezes são mais valorizadas pelas empresas de lazer
ao invés do conhecimento. Segundo Galhardo (2010):
Em alguns casos a venda de personalidade que os prestadores de serviço
em lazer valorizam mais o bom humor que a competência, sob o argu-
mento de que a competência se adquire e o bom humor não se aprende,
como se o bom humor fosse algo postiço (GUALHARDO, 2010, p. 38).

Em seguida, essa autora afirma: “É importante não confundir bom humor com
bobo-alegrismo, pois é do prazer do trabalho que deve nascer o bom humor”
(GUALHARDO, 2010, p. 38).

Quando olhamos para as vivências no âmbito do lazer, através dessas possibili-


dades, temos a nossa função clara e explícita no trabalho: a função de ‘mediar’ as
atividades que ofertamos com as necessidades da população, mediamos o encontro
do sujeito ao lazer e suas infinitas possibilidades (SILVA & SILVA, 2012). Muito
além do riso sem contextualização, temos a função de inserir nas experiências do
lazer características expressas em nossa cultura, ganhos pessoais para o indivíduo,
em outras palavras, o sujeito não pode sair da mesma maneira que entrou na sua
oferta de lazer.

Figura 7
Fonte: Getty Images

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As vivências no âmbito do lazer podem ser uma ferramenta para superar difi-
culdades emocionais, traumas físicos e emocionais, perdas, entre outras questões
acerca da saúde física e mental. Exemplo dessas possibilidades são as fisioterapias
com jogos eletrônicos que simulam movimentos e fortalecem as estruturas em tra-
tamento, crianças hospitalizadas que são colocadas para desenharem junto da equi-
pe de psicologia para externar suas emoções, brincadeiras lúdicas desenvolvidas
por terapeutas ocupacionais cujo objetivo é o desenvolvimento cognitivo-motor e
atividades ditas como ‘hobbies’ como fazer aulas de culinária, atividades artísticas e
ou intelectuais, como aprender uma nova língua.

Figura 8
Fonte: Getty Images

Vislumbrando tamanho campo das atividades no âmbito do lazer fortalece a ideia


da necessidade da formação contínua do animador sociocultural. Você não estará no
cotidiano dos seus clientes convivendo e vivendo suas emoções, entretanto, quando
ele estiver junto de você, a sua função será mediar esse sujeito às experiências de
lazer buscando oferecer um prazer intrínseco nesse indivíduo e mais, marcando nele
um significado positivo da vivência versus a realidade dele.

Importante! Importante!

O lazer tem sido estudado por várias áreas como: Administração, Arquitetura, Educa-
ção Física, Pedagogia, Psicologia, Turismo e Hotelaria, entre outras profissões (ISAYAMA,
2009), entretanto, ainda assim nos dias de hoje, o lazer tem sido associado mais às práti-
cas corporais do que aos demais interesses do lazer.

Dessa forma, é possível observar, em todo momento, que a mídia e o senso co-
mum atrelam a vivência do lazer às práticas corporais, reduzindo as experiências
do lazer somente ao cuidado do corpo. Se pensarmos na tipologia do tempo de
Frederic Munné (1984), as práticas corporais com fins de saúde, estética e qualidade
de vida não poderiam ser consideradas atividade no tempo livre e sim no tempo psi-
cobiológico. Werneck (1998, apud SILVA & SILVA, 2012) atribui essa visão limitada
do lazer ao sentimento depositado ao mesmo, sendo ele supérfluo e dispensável,

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ou seja, se você tem tempo livre, significa que você tem o poder de escolha entre
vivenciar algo no lazer ou não; agora, se não tem esse tempo livre, o mesmo não
lhe fará falta.

Diante dessa realidade, é possível observar a importância da formação do anima-


dor sociocultural.

Veja novamente o conceito dessa profissão descrita pela UNESCO (1982):


Animação sociocultural é um conjunto de práticas sociais que têm como
finalidade estimular a iniciativa e a participação das comunidades no pro-
cesso de seu próprio desenvolvimento e na dinâmica da vida sociopolítica
em que estão integradas. (UNESCO, 1982 apud SILVA & PINES JR,
2017, p. 244)

Se olharmos no dicionário as palavras “animador” e “sociocultural”, teremos as


seguintes definições: “Animador: Que anima. Aquele que anima. Comunicador que,
num programa de rádio ou tevê, ou em apresentação ao vivo, anima e conduz o
espetáculo atraindo a atenção do público.” (FERREIRA, 1989, p. 44). “Sociocultural:
Quem tem, simultaneamente, aspectos ou elementos sociais e culturais.” (FERREIRA,
1989, p. 642).

Diante dessas definições e do conceito da UNESCO, não há dúvidas da função do


animador sociocultural. Esse profissional é aquele que está entre o sujeito e as possi-
bilidades de integrá-lo ao mundo sociopolítico, de inúmeras maneiras – sejam elas em
forma de conhecimento sistematizado, apresentações artísticas, atividades lúdicas,
entre outras tantas possibilidades.

Pré-Requisitos Essenciais em um Animador Sociocultural


Segundo Silvestre Neto (1980), os requisitos são:
1. Uma formação cultural profunda e ampla;
2. Ação social voluntária;
3. Atuação relacionada à influência e liderança;
4. Desconfiança da rotina e do consumismo;
5. Inquietação social e cultural;
6. Ligação afetiva à prática cultural;
7. Caráter crítico e opinativo. (SILVEIRA NETO, 1980 apud SILVA & PINES
JR, 2017, p. 246)

Outros autores trazem mais características importantes como: facilitador entre a


comunidade e uma atividade qualquer (exemplo: atividade esportiva, ambiental, cí-
vica etc.); profissional capaz de estimular novas experiências, novas possibilidades
de vivência da recreação, contato com o prazer e com a alegria, papel de educar as
pessoas para uma sociedade mais justa (SILVA & PINES JUNIOR, 2017).

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A Ação e Função
O animador sociocultural tem como ação desenvolver ações pedagógicas, emba-
sadas nas questões socioculturais a fim de construir novas experiências no âmbito do
lazer de maneira crítica e criativa (BRITO, 2007; NEGRINE et al., 2001 apud SILVA
& PINES JUNIOR, 2017).

O animador sociocultural pode ter várias atribuições, como organizar eventos,


planejar programações em determinados ambientes, executar as atividades em si,
fazer a avaliação e manutenção de equipes e/ou eventos organizados por ele e/ou
empresa na qual atua.

Valores
Podemos considerar os valores como princípios básicos de uma relação dialética
entre duas ou mais pessoas; pensar nos valores é pensar em características essen-
ciais que você considera indispensável na relação você e seu cliente.

Tamayo & Borges (2001) conceitua valores como:


Princípios ou crenças, organizados hierarquicamente, relativos a condutas
ou metas organizacionais desejáveis, que orientam a vida da organização
e estão a serviço de interesses individuais, coletivos ou ambos. (TAMAYO
& BORGES, 2001, p. 343)

Vejamos: você compra um produto produzido por mão de obra escrava conscien-
temente? Ou então você compra um produto sem nota fiscal, sem embalagem segura?

Pois bem, os valores são aquelas características que são essenciais a você para
desempenhar um bom trabalho. Exemplos de valores são: ética, honestidade, com-
prometimento, zelo pelo produto, entre outros.

Exercício: Faça uma lista de valores que você acredita ser essencial para você ser
um animador sociocultural de sucesso.

Habilidades
A habilidade está associada à questão técnica em si. Dito isso, é importante a
repetição para o aperfeiçoamento da prática para o seu domínio e a capacidade de
encontrar soluções para os problemas (SAUPE, 2006).

Exercício:

Volte na parte dos pré-requisitos para um animador sociocultural e faça uma nova
leitura. Em seguida, pegue um papel e uma caneta, faça duas linhas dividindo a folha
em três partes: na primeira parte da folha, você escreverá os pré-requisitos que você
tem em potencial; na segunda parte, você escreverá os pré-requisitos que você pre-

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UNIDADE A Formação do Animador Sociocultural

cisa desenvolver mais; e, na terceira parte, você escreverá os pré-requisitos que não
têm domínio nenhum.

Esse exercício servirá para você visualizar suas potencialidades e suas limitações
e, a partir dessa visualização, você tem a opção de escolher melhorar algumas e
desenvolver outras.

Atitudes
O conhecimento está associado ao saber, já a habilidade está associada ao saber
fazer e, por fim, vem a atitude, não menos ou mais importante, mas sim no mesmo
nível que as anteriores que está associada ao saber ser (BOMFIM, 2012). Dessa for-
ma, desafiamos você a fazer uma lista de características que, depois de fazer toda a
leitura, acredita ser o melhor posicionamento profissional de um animador sociocul-
tural, como ele deve proceder quando solicitado uma proposta de atuação, e quando
ele se depara com uma situação inusitada em sua rotina de trabalho.

Em Síntese Importante!

O termo recreação surgiu como forma de divertir os trabalhadores nos Estados Unidos,
contudo, essa diversão tinha a função de educar moralmente, desenvolver projetos so-
ciais e políticos, formação da nacionalidade e a busca por uma sociedade harmoniosa.
Os termos “recreação” e “lazer”, ao longo da história, teve seus momentos de junção e
distanciamento. Hoje consideramos a recreação como atividades propostas no tempo
livre com caráter lúdico, e o lazer como possibilidades de vivências além da recreação no
tempo livre.
A profissão do animador surgiu com o objetivo de guiar as atividades de recreação, a fim
de atingir os objetivos da época, que eram: educação moral, formação da nacionalidade
e educação social e política. Dessa forma, fica clara a importância de estudar as caracte-
rísticas da sociedade e da cultura que ali predominam, além, é claro, de compreender as
possibilidades em potencial de atender às necessidades do grupo em si.
Entre os pré-requisitos listados na unidade, destacamos a formação continuada, pois,
como estamos em constantes mudanças sociais e políticas, é de suma importância com-
preender, dialogar, questionar e criticar o conhecimento atual.
Por fim, os valores, as habilidades e as atitudes são características importantes a serem
definidas antes mesmo de iniciar a atuação, pois elas serão as características que guiarão
a sua profissão.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Competência profissional: uma Revisão Bibliográfica
BOMFIM, R. A. Competência profissional: uma revisão bibliográfica. Revista
Organização Sistêmica, v.1, n.1, 2012.
Os jogos cooperativos na formação de animadores culturais em acampamentos
GALHARDO, S. Os jogos cooperativos na formação de animadores culturais em
acampamentos: Uma experiência que deu certo. Monografia (latus sensu) Centro
Universitário Monte Serrat – Unimonte. Santos, p. 121. 2010.
Questões contemporâneas: Significados e relações constituídas entre o lazer e a recreação no Brasil
GOMES, C. L. Questões contemporâneas: Significados e relações constituídas
entre o lazer e a recreação no Brasil. In: GOMES, C. L Lazer, trabalho e educação:
relações históricas, questões contemporâneas. 2. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2008.
Valores Organizacionais e Criação do Conhecimento Inovador
MIGUEL, L. A. P.; TEIXEIRA, M. L. M. Valores Organizacionais e Criação do
Conhecimento Inovador. RAC, Curitiba, v.13, n.1, p.36-56, 2009.
Gestão Estratégica das experiências de lazer
SILVA, T. A. C.; PINES JUNIOR, A. R. Lazer e animação sociocultural: formação e
atuação profissional. In: AZEVEDO, P. H.; BRAMANTE, A. C. Gestão Estratégica
das experiências de lazer. Curitiba, PA: Appris, 2017.
A formação profissional no lazer em nossa moderna sociedade
WERNECK, C. L. G. A formação profissional no lazer em nossa moderna sociedade:
Repensando os limites, os horizontes e os desafios para a área. Revista Licere, Belo
Horizonte, v.1, n.1, p.47-65, set. 1998.

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UNIDADE A Formação do Animador Sociocultural

Referências
BOMFIM, R. A. Competência profissional: uma revisão bibliográfica. Revista
Organização Sistêmica, v.1, n.1, 2012.

FERREIRA, A. B. H. Miniaurélio Século XXI: O minidicionário da língua portu-


guesa. 4. ed. rev. ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

GALHARDO, S. Os jogos cooperativos na formação de animadores culturais


em acampamentos: Uma experiência que deu certo. Monografia (latus sensu)
Centro Universitário Monte Serrat – Unimonte. Santos, p. 121. 2010.

GOMES, C. L. Questões contemporâneas: Significados e relações constituídas en-


tre o lazer e a recreação no Brasil. In: GOMES, C. L. Lazer, trabalho e educação:
relações históricas, questões contemporâneas. 2. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2008.

YSAYAMA, H. F. Atuação do profissional de Educação Física no âmbito do lazer:


a perspectiva da Animação Cultural. Motriz, Rio Claro, v.15, n.2, p.407-413, 2009.

ISAYAMA, H. F. Formação profissional no âmbito do lazer: Desafios e perspecti-


vas. In: ISAYAMA, H.F. (org.). Lazer em estudo: Currículo e formação profissional.
Campinas: Papirus. 2010.

MARCELLINO, N. C. Lazer e cultura: Algumas aproximações. In: MARCELLINO,


N. C.(org.). Lazer e cultura. Campinas: Alínea. 2007

MUNNÉ, F. Psicosociologia del tempo libre. México: Trillas México, 1984.

TAMAYO, A.; BORGES, L. O. Valores del trabajo y valores de las organizaciones. In:
M. Ros & V. V.Gouveia (Coords.). Psicología social de los valores humanos: desar-
rollos teóricos, metodológicos y aplicados. Madrid: Editorial Biblioteca Nueva. 2001.

SAUPE, R. et al. Conceito de competência: validação por profissionais de saúde.


Saúde em Revista, Piracicaba, v. 8, n. 18, p. 31-37, jan./abr. 2006.

SILVA, C. L.; SILVA, T. P. Formação profissional em lazer. In: SILVA, C. L.; SILVA,
T. P. Lazer e Educação Física: textos didáticos para a formação de profissionais
do lazer. Campinas, SP: Papirus, 2012.

SILVA, T. A. C.; PINES JUNIOR, A. R. Lazer e animação sociocultural: formação


e atuação profissional. In: AZEVEDO, P. H.; BRAMANTE, A. C. Gestão Estraté-
gica das experiências de lazer. Curitiba, PA: Appris, 2017.

WERNECK, C. L. G. A formação profissional no lazer em nossa moderna sociedade:


Repensando os limites, os horizontes e os desafios para a área. Revista Licere,
Belo Horizonte, v.1, n.1, p.47-65, set. 1998.

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