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Psicologia

Material Teórico
Psicologia Social

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Nirley Dragonetti

Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Psicologia Social

• A Psicologia Social
• Sociologia e Psicologia: Influências na Psicologia Social
• A Nova Psicologia Social
• A Significação da Interação Social
• Atitudes e Comportamento
• As Pessoas em Ambientes de Grupos
• A Psicologia Social no Brasil

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Esta unidade tem por objetivo de apresentar ao estudante a Psicologia
Social e fazer com que entenda, ao final da unidade, a significação
da Interação Social para o ser humano, assim como compreender
as formas pelas quais os processos psicológicos acontecem e, estão
interligados com as experiências vividas em um contexto grupal e
cultural. Além de identificar a aplicabilidade da Psicologia Social na
atuação profissional.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Psicologia Social

A Psicologia Social
A Psicologia é uma ciência que apresenta abordagens e metodologias de
estudo distintas, conforme suas linhas de pensamento. E, que “provavelmente,
a Psicologia jamais terá um único paradigma confiável que possa ser adotado por
todos sem questionamento”, visto que, “as diferentes formas de pensar a Psicologia
representam a própria riqueza do ser humano e sua capacidade múltiplas de
pensar sobre si mesmo” (2008, p. 21). No entanto, saiba que essa multiplicidade
de abordagens teóricas não é exclusiva da Psicologia, tal multiplicidade ocorre
também com as chamadas ciências humanas sociais, que, tal como a Psicologia,
apresentam diferentes e, porque não dizer, divergentes abordagens teóricas.

Além de compartilhar a multiplicidade de abordagens com as demais ciências


humanas e sociais, a Psicologia, ao longo de seu desenvolvimento, tem demonstrado
também aplicabilidade de seu conhecimento em diversas outras áreas do saber e
tem, por outro lado, buscado também a contribuição destas outras áreas para seu
próprio desenvolvimento.

Dentre essas diversas áreas do saber estão, por exemplo, a Sociologia, a


Antropologia, as Ciências Políticas, entre outras.

Bock, Furtado e Teixeira (2008) comentam que diante da complexidade da


sociedade em que vivemos, a interdisciplinaridade do saber torna-se essencial
para compreensão do ser humano. A união destas diversas formas de saber pode
enriquecer umas as outras.

A importância da união da Psicologia com outras áreas do saber, ou seja,


da interdisciplinaridade está na possibilidade de cada uma contribuir com seus
conhecimentos sobre o ser humano (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2008).
E, desta relação com as ciências sociais surge um ramo da Psicologia cujo foco
de estudos está na compreensão da relação do homem com a sociedade, além
das expectativas e reações provenientes de tal relação. Tal ramo da Psicologia é
denominado Psicologia Social.

Rodrigues, Assmar e Jablonski definem a Psicologia Social como “o estudo


científico da influência recíproca entre as pessoas (interação social) e do processo
cognitivo gerado por esta interação (pensamento social)” (2009, p. 13). Ou seja,
a Psicologia Social busca compreender, por meio de uma metodologia científica,
como se dão as relações sociais e como estas relações afetam os indivíduos, gerando
novas ações e reações.

A Psicologia Social é a área da Psicologia que busca estudar a interação social e procura
Explor

estuda cientificamente a influência recíproca entre as pessoas (interação social) e o


processo cognitivo gerado por esta interação (pensamento social)” (RODRIGUES, ASSMAR
e JABLONSKI, 2009, p. 13).

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Mas, se a Psicologia de uma forma geral sofre influência de uma multiplicidade
de abordagens, com a Psicologia Social não há diferença. Este ramo da Psicologia
que busca compreender a interação social e o pensamento social também recebe
influencia de distintas abordagens, ou mais especificamente, de distintas ciências.

Sociologia e Psicologia: Influências na


Psicologia Social
Robbins (2005) é contundente ao definir a Psicologia Social como uma mistura
de conceitos da Psicologia e da Sociologia. Bock, Furtado e Teixeira (2008)
reiteram tal definição, confirmando a influência das duas ciências na constituição da
Psicologia Social, mas ampliam a discussão ao introduzir a noção de antagonismo
dessas duas ciências na forma como influenciaram a Psicologia Social.

Deste modo, é correto afirmar que a Psicologia Social se desenvolve acolhendo


quer a visão sociológica quer a visão psicológica: ainda que estas se mostrem
antagônicas. Enquanto a Sociologia defende que o comportamento dos indivíduos
é determinado pela sociedade; a visão da Psicologia sustenta que o individuo
autodetermina seu comportamento a partir da percepção que tem da sociedade na
qual está inserido.

No que se refere à visão da Sociologia, temos a chamada Teoria dos Papéis


Sociais, teoria que embasa tal visão.

Na concepção da Teoria dos Papéis Sociais, o indivíduo se comporta de acordo


com as normas e valores sociais, desempenhando, ao longo da vida diferentes papéis
que lhes são estabelecidos. De acordo com essa teoria, desempenhamos diversos
papéis ao longo da vida e nos diversos grupos sociais aos quais pertencemos,
podemos ser filho, pai, profissional, cônjuge, vizinho e tantos outros personagens
na sociedade na qual estamos inseridos. Em cada grupo desempenhamos um
determinado papel, adaptando-nos às diferentes situações sociais.

“A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo
Explor

de uma série de normas e princípios – sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento


– que balizam a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da
sociedade, é um produto dela” (DURKHEIM, Émile)

A compreensão dos diferentes papéis que o indivíduo desempenha na sociedade


também é comum à visão psicológica do indivíduo. No entanto, para a Psicologia,
as pressões sociais só influenciarão o indivíduo caso ele às perceba. Se não houver
percepção pelo indivíduo da pressão social, ela não influenciará seu comportamento.

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UNIDADE Psicologia Social

Se por um lado, a compreensão das normas e dos papéis grupais é fundamental


para compreensão da visão sociológica; conceitos como percepção, formação de
atitudes e processo de socialização tornam-se essenciais para a compreensão da
visão psicológica acerca de como se comporta o homem na sociedade.

Para a Psicologia, o homem se comportará de acordo com a forma como


percebe a si mesmo e percebe a situação que o cerca. Robbins define a percepção
como “o processo pelo qual os indivíduos organizam e interpretam suas impressões
sensoriais com a finalidade de dar sentido ao ambiente” (2005, p. 104). Ou mais
especificamente, a forma como os indivíduos organizarão e interpretarão os
diversos estímulos aos quais se submetem receberá influência direta do repertório
que este possui. As crenças, valores e conhecimento de uma determinada pessoa
influenciará a forma como esta julgará um determinado acontecimento.

Essas diferentes formas de agir e de reagir serão influenciadas, como já dito,


pelo repertório que cada pessoa possui. Ou seja, o que tais pessoas vivenciaram, o
que aprenderam na vida e com a vida, quais são seus grupos sociais e como reagem
a eles, em qual cultura essas pessoas estão inseridas, e assim por diante.

Segundo Ferreira, a “pluralidade e multiplicidade de abordagens teóricas” (2010,


p. 51) acerca da Psicologia Social não se encerram aqui. Há ainda uma visão que se
opõe quer às influências sociológicas quer às influências psicológicas, inaugurando
o que se chama a Nova Psicologia Social.

A Nova Psicologia Social


Nos anos 1970, conforme afirmam Bock, Furtado e Teixeira (2008) há uma
crítica às visões da Psicologia Social que vigoravam até então, ou seja, aquela
influenciada quer pela visão sociológica quer pela visão psicológica.

A Psicologia Social aqui procura aprofundar o conhecimento da natureza social


do fenômeno psíquico, passando a estudar o psiquismo humano, entendendo
que a construção do mundo interno do ser humano se dá a partir das relações
sociais vividas por ele. O que chamamos de subjetividade humana, onde “o mundo
objetivo passa a ser visto não como fator de influência para o desenvolvimento
da subjetividade, mas como fator constitutivo” (BOOK, FURTADO e TEIXEIRA,
2001, p. 141)

Os pesquisadores mais contemporâneos, entre eles Pichon-Riviére, defendem


que o indivíduo é constituído quer pelas influências externas, quer pelas influên-
cias internas.

“Desde as primeiras experiências, as necessidades do sujeito se transformam, e,


em consequência, o próprio sujeito se transforma” (GAYOTTO, 1992, p. 64). Ou
ainda nas palavras de Bock, Furtado e Teixeira “... o indivíduo age sobre o mundo,
transformando-o, e ao fazer isso transforma a sim mesmo” (2008, p. 184)

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A Nova Psicologia Social irá aprofundar-se em estudos inerentes aos conceitos
básicos de atividade, de consciência e de identidade. Estas são características da
essência do ser humano que demonstram e expressam a manifestação humana.

Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2001), é pela atividade que o homem


se apropria do mundo em que vive. A atividade que oferece condições para a
transição do que está do lado externo dele para seu interior. Ex: Um bebê se
apropria do mundo explorando o ambiente, engatinhando e manuseando os
objetos e brinquedos. Neste movimento de exploração que o homem constrói a
base do conhecimento e do pensamento.

Na consciência humana temos a forma como o homem se relaciona com o


mundo externo (objeto). Ela é o resultado das relações sociais que os homens
estabelecem. O homem é capaz de entender o mundo através de imagens, símbolos
e de estabelecer relações entre os objetos desse mundo. Essas relações podem estar
no trabalho, na vida social e na linguagem. Esta última, podemos entender como
as expressões da consciência. Assim, quando alguém diz alguma coisa ou algum
tema, ele está se reportando ao mundo real e expressa sua consciência através de
representações sociais. “A representação social é a denominação dada ao conjunto
de ideias que articula os significados sociais” (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA,
2001, p.144).

Ainda segundo o autor, a representação social também pode ser definida pelo
sentido construído de forma coletiva atribuída ao objeto, com o sentido pessoal.
Podemos considerar aqui os valores, as crenças e imagens que os seres humanos
constroem ao logo de suas vidas, em decorrência da vivência em sociedade.

Outro ponto importante para essa nova Psicologia Social é o conceito de


identidade. Ela é o conceito dado às representações e sentimentos que o homem
desenvolve a respeito de si próprio, a partir do universo de suas experiências. Ou
seja, “a síntese pessoal sobre si mesmo, incluindo dados pessoais (cor, sexo, idade),
biografia (trajetória pessoal), atributos que os outros lhe conferem, permitindo uma
representação a respeito de si” (BOCK,FURTADO e TEIXEIRA, 2001, p.145)

Por isso, é relevante compreender que a Psicologia Social busca compreender o


ser humano como um ser social, inserido em um grupo social e em um ambiente
social, ou seja, um ambiente humanizado. Esse ser humano afetará seu grupo
social e o ambiente no qual vive, mas também será por eles afetado.

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UNIDADE Psicologia Social

A Significação da Interação Social


No contato com o ambiente social que nos cerca, fazemos uma imagem de nós
mesmos, o que chamamos de autoconceito, e tendemos a criar categorias do nosso
ambiente de forma a facilitar o relacionamento com ele. O termo mais adequado
para todo esse processo é Cognição Social. Ao interagirmos com as pessoas e
ambientes podemos estabelecer rótulos, antes mesmo de conhecê-las, fazendo
com as primeiras impressões determinem a forma como vamos nos relacionar.
Formando “uma teoria acerca da personalidade de uma pessoa”. Assim, “os
psicólogos sociais têm estudado este processo pelo qual formamos impressões
sobre nós mesmos em relação ao mundo social em que vivemos e sobre o próprio
contexto social no qual estamos imersos”(RODRIGUES, A; ASSMAR, E.M.L. e
JABLONSKI, B., 2000, p.67-68)

Então, por que a Psicologia Social se interessa tanto pelo tema Autoconceito?
A resposta é que grande parte do autoconceito é formado da comparação com os
outros seres humanos, assim como, o nosso autoconceito é de suma importância
e relevante em uma variedade de situações sociais.

A teoria da comparação social tem seus estudos voltados para o falamos


anteriormente, e sua hipótese básica refere-se à tendência que temos de nos avaliar
constantemente quanto a nossas opiniões e capacidades. Essa comparação se dá
através de comparação com uma realidade objetiva e/ou através de comparação
com outros seres humanos, inclusive na mesma situação que elas se encontram.
Mesmo sendo estranho, essa teoria diz que para que se possa “saber quem
somos nós ´por dentro´, é preciso que dirijamos nosso olhar para ´fora´ de nós”
(RODRIGUES, A; ASSMAR, E.M.L. e JABLONSKI, B., 2000,p.69)

O autoconceito diz respeito à ideia que temos de nosso eu, este que se
apresenta complexo e multifacetado. O ser humano acumula crenças sobre quem
é e influenciado por fatores diversos resultantes da interação social. Por isso a
Psicologia Social procura estudar as influências do ambiente na vida das pessoas,
ou seja, “...como os pensamentos, sentimentos e ações dos outros modificam ou
refletem no funcionamento da pessoa” (LORENA, 2014, p. 61)

Nos estudos sobre o ser humano e sua relação com o ambiente social também
é necessário entender os fatores que influenciam o processo seletivo desse ser
humano. Esses fatores dizem respeito à seletividade perceptiva, experiência prévia
e consequente disposição para responder, fatores contemporâneos ao fenômeno
perceptivo, defesa perceptiva e acentuação perceptiva.

Na seletividade perceptiva, os órgãos sensoriais de uma pessoa são atingidos por


muitos estímulos de forma simultânea, e a concentração limitada de estimulação
sensorial caracteriza essa seletividade, ou seja, quando estamos conversando nos
concentramos no que o outro está falando e esquecemos tudo o que está em
volta. O mesmo acontece no âmbito social, quando se tem um comportamento
preconceituoso de determinados grupos sociais “Pessoas com preconceitos

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contra determinados grupos neles só veem manifestações que se coadunam com
sua visão preconceituosa e passam por cima de tudo aquilo que contradiz tal
visão”(RODRIGUES, A; ASSMAR, E.M.L. e JABLONSKI, B., 2000,p.70)

Na experiência prévia e consequente disposição para responder, podemos


relacionar as experiências passadas que ajudam na percepção dos estímulos que
já entramos em contato. Quando previamente já conhecemos os estímulos, fica
mais fácil comunicá-los e obviamente será também mais facilitada a resposta e a
comunicação persuasiva.

Quando falamos de fatores contemporâneos ao fenômeno perceptivo, estamos


nos referindo ao estado específico do percebedor em um determinado momento
vivido por ele. Podemos dar exemplo de quando alguém está com fome, sede ou
deprimido, esses fatores podem influenciar sensivelmente na percepção de estímulos.
Assim como a experiência passada pode impactar no processo perceptivo, fatores
presentes, vividos por uma situação e até uma época da vida de um ser humano o
predispõe certas percepções.

Por defesa perceptiva podemos entender como se dá o bloqueio na conscientização


de estímulos perturbadores sob o ponto de vista emocional. Em experimentos,
pesquisadores puderam chegar à conclusão de que estímulos aversivos são, no
início, potencializadores ao suscitar maior acuidade perceptiva e que a percepção
se dá em estágios múltiplos de processamento. E, que o fenômeno da acentuação
perceptiva (distorções de percepção) nos faz perceber a influência acentuada de
fatores vividos pelos homens no processo de percepção.

Outro fator fundamental para a Interação Social é a linguagem. O ser humano


pensa e produz um conjunto de símbolos que favorecem a transmissão de ideias e
sentimentos. A linguagem humana fica responsável por transformar essas ideias e
sentimentos em expressão através de fonemas, sons e símbolos. Nessa combinação,
as palavras são agrupadas e formam os pensamentos mais complexos, assim
quando criamos pensamentos a respeito de uma pessoa e situações fazemos uso
de linguagem, imagens e conceitos para expressá-los. Os conceitos são aplicados
na classificação de objetos, acontecimentos ou seres humanos. Ou seja, assim
como as palavras, os conceitos favorecem a criação desses pensamentos. Quando
falamos anteriormente sobre cognição nos referimos à aplicação das “...palavras,
as imagens e os conceitos, com a finalidade de modelar uma representação do
mundo, resolver problemas e tomar decisões” (LORENA, 2014, p.60)

Um conceito, também, importante para a Psicologia Social é o Estereótipo, que


consiste na atribuição de traços a membros de um determinado grupo. Trata-se
da generalização de observações individuais para todo o grupo a que pertence o
indivíduo em que recaiu a observação. Dessa forma, quando passamos por uma
experiência desagradável com uma pessoa pertencente a um grupo tendemos
erroneamente dizer que todos daquele grupo agem do mesmo modo que a pessoa
a qual estamos falando inicialmente. E, quando o estereótipo está vinculado a
aspectos genuinamente negativos estamos diante do Preconceito. Esse processo

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UNIDADE Psicologia Social

é vivido pelas pessoas em seu dia a dia, uma vez que decorre da rotulação de
pessoas e grupos sociais, podendo incluir aqui as funções desempenhadas por
certos grupos de trabalhadores. Assim, podemos dizer que o preconceito é uma
atitude negativa em relação a indivíduos de um grupo, tendo como base cognitiva
o estereótipo. Nesse processo, podemos considerar que “...o preconceito deriva
da tendência que temos a categorizar as pessoas e a diferenciar ‘nós’ dos ‘outros’.
Tudo que pertence ao ‘nós’ é bom e elogiável e tudo que pertence à categoria
‘outros’ é mau e reprovável” (RODRIGUES, 2005, p.24). Pesquisadores dessa área
de conhecimento dizem que o preconceito poder ser amenizado ou definitivamente
eliminado quando temos a oportunidade de termos contato estreito com os grupos,
favorecendo maior conhecimento mútuo para que possa existir mudança nos
estereótipos que sustentam o preconceito.

Outro estudo importante que vem sendo alvo de atenções dos pesquisadores é
o de como o ser humano faz atribuições. Esses estudos do processo atribucional
constituem um dos tópicos mais importantes da Psicologia Social científica na
contemporaneidade. Tendemos a formar uma série de atribuições, que estão
interligadas, ao conhecermos uma pessoa pela primeira vez. Além disso, também
atribuímos nossas ações e a dos outros a fatores internos e a fatores externos.
Quando falamos em fatores internos estamos nos referindo às disposições e
intenções próprias; e fatores externos que pode ser entendido como as pressões
sociais que vivemos, às características das situações e circunstâncias. Assim, quando
entramos em contato com as pessoas temos a tendência de julgar as suas ações
e descartar os possíveis fatores externos capazes de fazer com que tenhamos um
“...comportamento observado e focalizamos apenas as disposições internas da
pessoa” (RODRIGUES, 2005, p.28). Assim, quando somos apresentados a uma
pessoa, ativamos os esquemas relativos a estes aspectos, formados pela vivência
humana particular e somos influenciados por eles ao emitirmos julgamento. Tudo
isso dá base à primeira impressão dessa pessoa, assimilando de forma fácil suas
características, que são congruentes com a primeira impressão que fizemos dela,
rejeitando as características que não condizem com essa primeira impressão.

Nós tendemos também a atribuir um julgamento a partir dos fatores internos


quando julgamos alguém, e a fatores externos quando estamos julgando as nossas
próprias ações. Vamos dar um exemplo: quando uma pessoa erra falamos que isso
aconteceu porque que ela é desatenta, porém quando nós cometemos o mesmo erro
atribuímos a fatores externos, como as condições desfavoráveis e às circunstâncias
situacionais do ambiente. Somos influenciados, inclusive, por algo que chamamos
de tendenciosidade autosservidora, na qual tendemos a fazer atribuições que nos
preservem e protejam, que atendam às nossas expectativas e nosso ego, que faça
com que nos percebamos bem e inclusive aos olhos dos outros.

Quantas vezes nos vitimizamos em situações que nós mesmos criamos e atribuímos aos
Explor

outros a culpa de algo que deu errado? Ou quando nós responsabilizamos os outros a nossa
volta, por exemplo, da nossa infelicidade?

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O teórico Harold H. Kelley, da Universidade da Califórnia em Los Angeles,
mostrou critérios essenciais para as atribuições de causalidades internas ou externas.
Lembre-se que quando falamos em atribuições internas estamos nos referindo aos
motivos e intenções de uma pessoa e externas às influências de fatores do ambiente
exterior. O primeiro critério é o consenso, o segundo, a consistência e o terceiro,
a especificidade. Por consenso, entendemos a reação de uma pessoa igual àquela
que o comportamento está sendo considerado por nós diante do mesmo estímulo
ou situação. Por consistência, quando “... a pessoa reage da mesma forma ao
mesmo estímulo ou evento em outras ocasiões; e especificidade, ou seja, na medida
em que a pessoa reage da mesma forma ou não a outros estímulos diferentes”
(RODRIGUES, 2005, p.31)

Quando nós procuramos compreender como percebemos os outros seres


humanos e os nossos comportamentos em direção a uma pessoa e como nossos
pensamentos processam as informações derivadas do processo de interação social,
denominamos de heurística e de tendenciosidade.

Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images

“Heurística é o nome dado a regras simples e rápidas, isto é, a verdadeiros


´atalhos´ por nós utilizados para fazermos inferências (nem sempre
corretas...) Tendenciosidade é o nome usado para significarmos os erros
e as distorções que cometemos em nosso processo de percepção e de
cognição social. O erro fundamental de atribuição e a tendenciosidade
autosservidora, já mencionadas anteriormente, são exemplos de
tendenciosidades cognitivas”(RODRIGUES, 2005, p. 32)

Segundo Lorena (2005), esse processo de atribuição é flexível e variável, uma


vez que as informações podem ser fáceis de se obter, demandando pouco esforço
para compreender o comportamento do outro, em outras necessitamos analisar as
“pistas” para descobrir por que uma pessoa agiu ou reagiu de determinada forma.
Se não tomarmos cuidado podemos cometer um erro ao interpretarmos de maneira
equivocada os traços de uma pessoa. O que podemos afirmar é que o processo
de atribuição é “contínuo e dinâmico durante toda a vida”, já que as explicações
sobre os fatos e fenômenos do nosso cotidiano podem mudar constantemente,
podendo se tornar mais verazes à medida que observamos esses fatos de forma
mais detalhada e minuciosa.

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Atitudes e Comportamento
Já vimos que as pessoas ao entrarem em contato com seu ambiente social
formam impressões sobre as outras pessoas e procuram meios mais fáceis de
inteirarem e conhecerem esse ambiente. As pessoas se utilizam de esquemas
sociais, heurísticas e atribuição diferencial de causalidade. Elas tomam atitudes, e
estas podem ser definidas como sentimentos pró ou contra perante outras pessoas
e coisas com as quais interagimos. Sendo “uma consequência direta do processo
de tomada de conhecimento do ambiente social que nos circunda” e “se formam
durante nosso processo de socialização” (RODRIGUES, A; ASSMAR, E.M.L. e
JABLONSKI, B., 2000,p.97)

As atitudes são decorrentes de um processo de aprendizagem e podem aparecer


em atendimento a certas funções, além de serem consequências de características
de personalidade (individuais) ou de determinantes sociais. Assim como podem se
formar em decorrência de processos cognitivos, como busca de equilíbrio e busca
de consonância.

Podemos definir atitudes como sendo “... uma organização duradoura de crenças
e cognições em geral”,“...uma carga afetiva pró ou contra”, “uma predisposição à
ação”, “...uma direção a um objeto social” (RODRIGUES, A; ASSMAR, E.M.L. e
JABLONSKI, B., 2000,p.97-98).

As atitudes são integradas por três componentes: o componente cognitivo, o


componente afetivo e o componente comportamental. O componente cognitivo
da atitude diz respeito ao pensamento pró ou contra à representação cognitiva
em relação a um objeto, sendo essas atitudes constituídas também pelas crenças e
demais componentes cognitivos, como o conhecimento sobre o objeto e a maneira
como o encaramos; isso vale também para as situações que vivenciamos. Por
componente afetivo entendemos os sentimentos pró e contra referentes ao objeto
social. O componente afetivo é o componente mais notoriamente característico
das atitudes. As atitudes se diferenciam das crenças e das opiniões, uma vez que
não são necessariamente impregnadas de conotação afetiva. Após estudos sobre
o assunto, podemos concluir que os componentes cognitivo e afetivo das atitudes
têm a tendência de serem congruentes. O outro componente importante para
ser estudado por nós é o comportamental, que diz respeito às atitudes que são
uma mola propulsora do estado de prontidão, e se fomentado por uma motivação
específica desembocará em um determinado comportamento. Ou seja, as atitudes
sociais propiciam um estado de predisposição à ação que, quando misturado com
uma situação específica desencadeante, desemboca em comportamento.

Estudos e teorias psicossociais, reconhecidas como teorias de consistência, dizem


que os três componentes das atitudes necessitam ser internamente consistentes.
“De fato, causaria surpresa verificar-se que alguém é atraído por um objeto que
ele considera cognitivamente como possuidor de características mais negativas, ou
vice-versa” (RODRIGUES, A; ASSMAR, E.M.L. e JABLONSKI, B., 2000,p.101).

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Apesar de que não é raro identificarmos inconsistências entre as atitudes e os
comportamentos manifestos pelos seres humanos.

Segundo Triandis (1971) apud Rodrigues, A; Assmar, E.M.L. e Jablonski, B.


(2000), seríamos ingênuos demais considerarmos que não existe relação entre
atitude e comportamento. Pode-se definir que atitudes abarcam o que as pessoas
pensam, sentem, e como elas desejam se comportar em relação a um “objeto
atitudinal”. Assim, o comportamento não somente é determinado pelo que as
pessoas desejam ou gostam de fazer, mas sim pelo que elas “pensam que devem
fazer” (normas sociais) e pelo o que elas tem feito (hábitos) e pelos resultados
e consequências previstas de seu comportamento. Podemos acrescentar dizendo
que “é maior a correspondência entre atitude e comportamento quanto maior o
interesse pessoal envolvido no assunto o qual versa a atitude” (RODRIGUES, A;
ASSMAR, E.M.L. e JABLONSKI, B., 2000,p.103)

Importante! Importante!

“Procuramos manter coerência entre o que pensamos, sentimos e agimos. Os


componentes cognitivo, afetivo e comportamental das atitudes sociais influenciam-
se mutuamente buscando coerência entre eles. Quando essa coerência não existe,
procuramos atingi-la e, se não logramos êxito, experimentamos desconforto”.
(RODRIGUES, 2005, p.61)

Outros estudos podem ser considerados quando falamos de atitudes e


comportamento e sua relação. Citamos aqui as contribuições de Fishbein (1966)
e Ajzen e Fishbein (1980) apud Rodrigues, A; Assmar, E.M.L. e Jablonski, B.
(2000) que consideram que o que caracteriza as atitudes são os aspectos afetivos e
a determinação do seu papel na constituição de uma “intenção de comportamento
que, por sua vez, se constitui em bom preditor do comportamento da pessoa”
(RODRIGUES, A; ASSMAR, E.M.L. e JABLONSKI, B., 2000,p.104). Para esses
estudiosos existem dois componentes principais que são capazes de “predizer
intenções”, que em decorrência predizem os comportamentos, são eles: as
atitudes das pessoas e a percepção do que outras pessoas esperam que ela faça
e sua motivação a confirmar-se a esta expectativa, o que podemos chamar de
norma subjetiva. Esses estudiosos também procuraram explicar os precursores da
formação das atitudes e da norma subjetiva. E, concluem que as nossas atitudes são
impactadas pelas “...nossas crenças relativas a certos resultados ou consequências de
determinados comportamentos; a norma subjetiva é consequência de nossas crenças
sobre os julgamentos de outras pessoas em relação ao nosso comportamento”.
(RODRIGUES, A; ASSMAR, E.M.L. e JABLONSKI, B., 2000, p.104)

Outros autores como Gorsuch e Ortberg (1983) apud Rodrigues, A; Assmar,


E.M.L. e Jablonski, B. (2000), por exemplo, consideram que quando estamos
diante de comportamentos em situações que envolvem aspectos morais, outro
componente precisa ser acrescido, a obrigação moral. E, mais recentemente, com
Ajzen e Madden (1986) apud Rodrigues, A; Assmar, E.M.L. e Jablonski, B. (2000)

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UNIDADE Psicologia Social

quando estamos falando de situações que envolvam controle e para que se forme
uma intenção de comportar-se de determinada maneira, faz-se necessário que a
pessoa se perceba capaz de controlar o comportamento. Ou seja, uma pessoa
não pode ter a intenção de se comportar de uma determinada forma que escape
totalmente de seu controle.

Os valores também são extremamente importantes para entendermos as atitudes e


Explor

comportamentos de uma pessoa. Eles podem ser definidos por “...categorias gerais dotadas
também de componentes cognitivos, afetivos e predisponentes de comportamento,
diferindo das atitudes por sua generalidade. Uns poucos valores podem encerrar uma
infinidade de atitudes.”
(RODRIGUES, A; ASSMAR, E.M.L. e JABLONSKI, B., 2000, p.106)

Outro aspecto importante dentro de nossos estudos a ser considerado é a


mudança de atitude, ou seja, a alteração da postura interna de uma pessoa. Para
entendermos melhor, estamos nos referindo à modificação do afeto pró ou contra
a um objeto social, se será duradoura e se de fato a mudança de atitude aconteceu.
Existem fatores que são extremamente importantes nesse processo de mudança de
atitude, são eles: a credibilidade de quem está comunicando algo para alguém, a
natureza da comunicação, a natureza da audiência e a combinação desses fatores.
(RODRIGUES, 2005, p.66)
Podemos considerar que, segundo Festinger apud Rodrigues ( 2005) para
que aconteça uma mudança de atitude eficaz e duradoura é preciso que a
própria pessoa onde se dá a mudança crie razões próprias coerentes com a
mudança de posição.
“A autopersuasão é a maneira mais eficaz de provocar mudança de atitude.
Quando razões próprias (internas à própria pessoa) são responsáveis pela
mudança (e não pressões externas à pessoa), a mudança de atitude obtida
é mais duradoura. Autopersuasão é também mais eficaz do que pressões
externas em termos da quantidade de pessoas que logramos persuadir”
(RODRIGUES, 2005, p. 69)

As Pessoas em Ambientes de Grupos


O Homem é um ser que jamais poderá ser compreendido de forma isolada.
Podemos entender que o ser humano vive e participa de grupos. Estes são
influenciados e influenciadores dos indivíduos. Existe toda uma influência complexa
do meio social e cultural sobre as pessoas em sua totalidade. “O grupo social e
cultural amolda o indivíduo aos seus padrões totais” (RAMOS, 2003, p.225)

Como vimos, o ser humano é amoldado também pelos grupos sociais pelos
quais faz parte, assim necessita viver em grupo. Para isso também escolherá de
forma natural qual grupo irá pertencer. Já que toda pessoa tem a tendência de
procurar algo ou alguém com que se identifique. Então, a partir do momento que

18
um ser humano se identifica com outro e nasce um vínculo social, acontece o que se
chama associação. As influências que o ser humano tem do meio social e da cultura
merecem ser estudadas e entendidas como “totalidades” e com certeza as pessoas
membros destes grupos também. Mesmo não havendo um critério uniforme para a
classificação e caracterização dos grupos sociais, podemos considerar que desde os
tempos mais primitivos, as sociedades foram organizadas em categorias. Spencer
apud Ramos (2003) defende a ideia de que a sociedade organizada comporta
cinco categorias, são elas: “os órgãos de sustento econômico”, “os órgãos de
perpetuação”, “os sistemas de comunicações”, “os grupos culturais” e “os sistemas
protetores”. Por órgãos de sustento econômico, entendemos os órgãos ligados
às funções de produção, de extração, de transformação e de transportes, dentre
outros. Como órgãos de perpetuação, podemos considerar a família, os grupos
médicos e sanitaristas; os sistemas de comunicações podem ser identificados como
a imprensa, a aviação e a telefonia, por exemplo. Os grupos culturais podem
ser entendidos como os grupos de igrejas, de instituições de educação, de clubes,
grupos recreativos e até mesmo os grupos científicos. Os sistemas protetores
compreendem o Estado, as Instituições, as Associações Voluntárias e os Partidos
em geral.

Figura 2
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

O que temos que considerar é que um grupo social é composto de pessoas que
são vistas como um todo, em um agrupamento de seres humanos com tradições,
normas e morais comuns; com a ideia de coletividade. O grupo se permanecerá se
alguém resolver não mais pertencer a ele, ou seja, continua sendo um grupo na sua
formação. A palavra nós é a prioridade do coletivo;
“existindo uma consciência coletiva com valores, princípios e objetivos comuns”
(LORENA, 2014, p. 46). A partir do nascimento, o ser humano se insere na cultura
através dos grupos sociais de forma natural e ao longo de toda a existência interagirá
e se associará a vários grupos sociais. Assim, o primeiro grupo que fazemos parte
é a família, que tem papel fundamental de nos apresentar e transmitir a língua, os
valores e também a cultura da sociedade em que vivemos. Segundo Lorena (2014),
na medida em que a pessoa vai crescendo e se desenvolvendo, frequenta outros

19
19
UNIDADE Psicologia Social

grupos, e é claro modificando-se e transformando-se em um ser social. Todo esse


processo tornará a pessoa em um ser único e integrado na sociedade, uma vez que
iniciou sua inserção em grupos como a família e, por exemplo, a classe social. Com
o seu crescimento, por si só irá compor outros grupos, já que passará a constituir
seus valores e os procurará de acordo com suas preferências.

É importante considerar que cada grupo social possui suas características


particulares e, seus membros pertencentes têm condutas parecidas, além de
conterem objetivos comuns. E, as normas, símbolos e valores são seguidos por
esses membros. Faz-se necessário diferenciar o grupo social da categoria, termo
usado anteriormente por nós. Assim, “categoria é um conjunto de pessoas que
partilha de características comuns, mas que não propriamente interage entre si.
Por exemplo, uma fila de pessoas na entrada do cinema não é um grupo social,
afinal, não estão interagindo” (LORENA, 2014, p.47). Da mesma forma como
pessoas do mesmo sexo, da mesma faixa etária e do mesmo tipo de trabalho ou
profissão também formam categorias, que em um determinado momento podem
se transformar em grupos sociais.

Como vimos, “os grupos sociais possuem características próprias, independente


da soma das partes que os integram” (RODRIGUES, 2005, p. 156), tendo-se a
necessidade de estudar e entender a dinâmica que surge da interação entre os
membros que os compõem. Segundo Lorena (2005), cada grupo exerce objetivos,
oferece tarefas e possui uma função social e uma forma própria também de interagir
e de se comunicar.

Os grupos sociais influenciam direta ou indiretamente no desenvolvimento


comportamental e da personalidade da pessoa. Esses grupos podem ser chamados
de grupos psicológicos, que se diferenciam pela intensidade da coesão existente
entre os membros que o compõe. Por coesão grupal podemos entender como
“...a quantidade de pressão exercida sobre os membros do grupo para que nele
permaneçam. É a resultante das forças que agem sobre um membro para que ele
permaneça no grupo” (RODRIGUES, 2005, p. 157)

Existem inúmeras razões para uma pessoa pertencer a um determinado grupo


e não a outro. Podemos citar a atração pelo grupo ou pelos componentes dele,
assim como a facilidade propiciada pelo grupo para que atinja alguns objetivos. Os
comportamentos dos integrantes do grupo são semelhantes, uma vez que esses
membros propiciam que a pessoa se sinta bem e fique à vontade em pertencer e
interagir nesse espaço. Obviamente, isso se deve ao grau de coesão desse grupo.

Segundo Rodrigues (2005), em decorrências de estudos sobre o assunto,


em relação à coesão grupal podemos dizer que: quanto maior for a coesão do
grupo, maior será a satisfação experienciada pelos seus integrantes; quanto maior
a coesão do grupo, maior a quantidade de comunicação entre as pessoas que
o pertence, quanto maior a coesão do grupo, maior a quantidade de influência
exercida pelo grupo em seus integrantes e quanto maior a coesão do grupo maior
a sua produtividade. Assim, grupos que possuem coesão alta são mais favoráveis

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e agradáveis de pertencer, além de suscitar maior comunicação entre seus
integrantes. Em decorrência disso, são muito mais produtivos do que grupos com
baixa coesão. Esses últimos, quando necessitam tomar decisões necessitam ter
mais cautela em relação a possíveis distorções da realidade decorrentes do desejo
de seus integrantes de esquivarem-se de discordâncias. Infelizmente, esse desejo
impacta na capacidade de crítica construtiva entre seus integrantes.

Para que um grupo funcione adequadamente é necessário o estabelecimento de


normas a serem seguidas. O que facilita definirmos como normas sociais
“...os padrões ou expectativas de comportamento partilhados pelos
membros de um grupo. Estes membros utilizam estes padrões para
julgar a propriedade ou adequação de suas percepções, sentimentos e
comportamentos. Normas existem em grupos de qualquer tamanho e até
mesmo numa relação entre duas pessoas que interagem constantemente”
(RODRIGUES, 2005, p. 158)

Ao se estabelecer as normas grupais, podemos substituir o uso do poder no


grupo. Isso provoca no grupo uma tensão, desgaste e prejuízo para os integrantes
desse. O uso habitual de normais favorece principalmente o líder do grupo, uma
vez que poderá investir no seu tempo para busca de atualização e melhorias para
o grupo. Não havendo a necessidade de demonstrar poder para que as coisas
caminhem, além de favorecer a convivência entre seus membros. Inclusive para os
novatos, uma vez que ao ingressarem nesse grupo entenderam como “funciona a
regra do jogo”. Diferentemente de grupos com baixa coesão, devido a dificuldades
no estabelecimento de normas. Isso se deve à multiplicidade de interesses e de
pontos de vista.

Diante de tudo o que expusemos, o papel do líder no grupo é de fundamental


importância, já que “...uma boa liderança pode transformar totalmente a atmosfera
prevalente num grupo e, com isso, o comportamento de seus membros”. Assim,
podemos também dizer que “uma característica essencial ao exercício de uma boa
liderança é o reconhecimento de sua legitimidade pelos liderados” (RODRIGUES,
2005, p. 160-161). Dessa forma, a imposição de força de um líder a um grupo traz
resultados desastrosos e, por consequência a perda da coesão grupal.

Um aspecto relevante a ser considerado, também, quando falamos de grupos


sociais, e mais uma vez enfatizado por nós aqui, é a Cultura. A influência da cultura
é notória nas nossas atitudes e nos nossos comportamentos, uma vez que as
soluções de problemas e conflitos podem ser dirimidas à luz dela. Dessa forma,
conseguimos compreendê-la como um “conjunto de pessoas com valores, hábitos
e ideias em comum” (LORENA, 2015, p.61), onde juntos interagimos e seguimos
exemplos. Entender e compreender a cultura de um grupo social nos ajudará na
atuação como profissional, principalmente ao refletirmos sobre a relação entre os
processos socioculturais e os processos sociopsicológicos. Uma reflexão bastante
interessante para nós é o fato de “...grandes acontecimentos socioculturais podem
ser mais amplamente compreendidos se forem considerados como um macrocosmo

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21
UNIDADE Psicologia Social

dos processos sociopsicológicos” (LAMBERT e LAMBERT, 1981, p.199). Isso


quer dizer que temos sempre que lembrar que os acontecimentos socioculturais
são constituídos de acontecimentos sociopsicológicos, que mudanças sociais
dependem de mudanças de hábitos e valores das pessoas. Dessa forma, quando
os profissionais conseguem aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo de suas
vidas e de seus estudos sobre os acontecimentos pequenos e esses repercutem nos
acontecimentos maiores, verificam o valor da Psicologia Social para a Sociedade e
para os problemas sociais. Da mesma forma que, considerando a relação entre o
sociocultural e o sociopsicológico, onde os processos psicológicos são habitualmente
acompanhados ou causados por processos socioculturais, reconhecemos que os
processos ou acontecimentos sociopsicológicos podem mediar ou integrar aspectos
do mundo social mais abrangente favorecendo uma mudança mais ampla e futura
da sociedade em que vivemos.

A Psicologia Social no Brasil


Na América Latina, os estudos da Psicologia Social consideraram não somente o
ser humano em suas relações grupais, mas também às problemáticas relacionadas
à política e desigualdade social, já que a busca era de uma sociedade que deixasse
de ser passiva e assumisse um olhar mais crítico e reflexivo sobre a realidade vivida.
Este novo fazer em Psicologia Social denominou-se como Psicologia Social Crítica.

Com o Brasil não foi diferente, pois mediante a um pensamento crítico deixou de
lado o fazer tradicional e assumiu a postura da Psicologia Social Crítica, seguindo,
portanto, o modelo da América Latina, que passa a visar o indivíduo, suas relações
e os problemas atuais vivenciados.

Podemos notar, segundo a ideia de Lane (1995), que a necessidade de uma


revisão crítica era uma preocupação que norteava os Psicólogos Sociais de
vários países, pois a busca era de desenvolver um conhecimento cientifico que
proporcionasse mudanças nos países.

Foi por meio deste pensamento crítico que, segundo Ferreira (2010),
transformações um tanto significativas surgiram na época de 1970, como foi o
caso do surgimento da “crise” da Psicologia Social. A presente crise passou a ser
entendida como um momento reflexivo, que teve origem a partir das discordâncias
entre teoria e metodologia, mas que contribuiu para a busca de novas teorias e
metodologias, ou seja, de um fazer diferente frente ao modelo já estabelecido. A
crise contribuiu significantemente para o alcance de novos avanços na Psicologia
Social, para o surgimento de um novo olhar e fazer, passando a direcionar sua
atenção para as relevâncias sociais.

Lane (1995) acrescenta que na atualidade somos testemunhas das mudanças e


progressos adquiridos ao longo do tempo através do desenvolvimento científico,
cujos avanços podemos desfrutar.

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A Psicologia como ciência, segundo Fonseca (2003), sempre apresentará
transformações, e estas são importantes à medida que a Psicologia avança, pois as
mudanças estão atreladas às novas conquistas, afinal as características da ciência
estão relacionadas à conduta de autocriticar-se.
O pensamento crítico que contribuiu para as transformações, segundo Ploner et
al (2008) apud Guareschi (2008), está intimamente relacionado com a ética, pois
a ética diz respeito ao direto humano, sendo ela implicada na justiça e igualdade. A
revisão crítica exercida contribuiu para que houvesse a liberdade de expressão, onde
o respeito e a justiça se faziam presentes, e isso é ética. Segundo Guareschi (2008),
podemos entender como ética o pensamento crítico, o pensar frente à determinada
situação e refletir como mudanças podem ocorrer e quais consequências acarretarão,
sendo elas positivas ou negativas, levando em consideração que mudanças fazem
parte de um processo.
A ética que aqui estamos abordando se fez presente a partir do momento em
que o indivíduo passou a ser visto como multideterminado. Os avanços alcançados
e as mudanças conquistadas visavam às justiças sociais, sendo estas nada mais do
que condutas éticas. “A ética busca a libertação pessoal e social das pessoas e das
situações de injustiça. ” (GUARESCHI 2008, p. 26)
Segundo Lane (1995), para que haja mudanças sociais significativas, é necessário
que exista a ética, ou mudanças éticas que partam do indivíduo e atinjam o coletivo
ao invés de lutas de classes. Deste modo, podemos pensar que a Psicologia
Social assumirá uma conduta entre teoria e prática, onde os profissionais da área
possam atuar no individual ou nos grupos, contribuindo assim para a construção
da consciência social e valores morais, em rumo de uma conduta ética que rejeite
o individualismo e assuma postura ética e comprometimento com os valores
universais e de igualdades, em consonância com a humanização. Em suma, que
seja comprometida com a realidade da sociedade.
Segundo Guareschi (2008), o homem é visto com um ser racional e que se
constitui através do diálogo existente em suas relações, que sem perder sua
originalidade consegue ser único, onde sua subjetividade é construída em meio suas
relações estabelecidas ao longo de seu desenvolvimento, sendo esta, a ética que se
constrói através dessa relação dialógica.
Sendo assim, já que nos construímos socialmente e historicamente, podemos
concluir que o papel da Psicologia Social está relacionado ao estudo do convívio
social, de como estes são construídos e desenvolvidos, de como se dão as relações
nesse contexto social, de como ocorrem as influências de comportamento e
da compreensão dos problemas que afetam a sociedade, tais como políticos e
econômicos, visando medidas para serem aplicadas com a finalidade solucioná-
los. Esse pensar em soluções, mudanças, igualdade, sociedade e relações/
interações traduzem-se na ética Psicológica, onde o avanço das mudanças serão
os novos paradigmas.
Terminamos aqui a nossa unidade que abordou assuntos referentes à Psicologia
Social, na certeza de ter contribuído para o aprendizado e entendimento sobre a
Ciência da Psicologia e suas abordagens.

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UNIDADE Psicologia Social

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
Ilha das Flores: Filme Curta Metragem
Para ilustrar as situações sociais que envolvem o convívio social, que é palco para a insta-
lação de estereótipos e preconceitos, recomendamos o curta metragem Ilha das Flores.
https://youtu.be/KAzhAXjUG28
Ilha das Flores: Depois que a Sessão Acabou
Para complementar, assista também ao curta metragem a Ilha das Flores: depois que a
sessão acabou, para compreender a visão dos moradores e envolvidos com a população
que participou do curta Ilha das Flores.
https://youtu.be/Ch-LIsnG9Wc

 Leitura
Psicologia Social e Serviço Social: uma Relação Interdisciplinar na Direção da Produção de Conhecimento
Para aprofundar o assunto sobre a interdisciplinaridade, recomendamos o artigo:
https://goo.gl/VCg72X
Psicologia Social e Processo Grupal
Para aprofundar os conhecimentos a respeito da Psicologia Social e processo grupal,
indicamos o artigo científico Psicologia Social e processo grupal: coerência entre fazer,
pensar sentir em Silvia Lane.
https://goo.gl/IgosTN

24
Referências
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; e TEIXEIRA, Maria de Lourdes
Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2008.

_____________. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13. ed. São


Paulo: Saraiva, 2001.

_____________. Psicologia Fácil. São Paulo: Saraiva, 2011.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. Tradução Paulo Neves.


Revisão de tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

FERREIRA, Maria Cristina. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Vol. 26 n. especial, pp.


51-64, 2010.

_____________. A Psicologia Social Contemporânea: Principais Tendências e


Perspectivas Nacionais e Internacionais. Rio de Janeiro, v. 26, n. especial, 2010.
p. 51-64. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a05v26ns.pdf
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FONSECA, T.M.G. Epistemologia in: STREY, M.N. et al Psicologia Social


Contemporânea: livro-texto. Rio de Janeiro: editora vozes, 2013.

GAYOTTO, Maria Leonor Cunha. Socialização segundo Pichon-Rivière. Em:


GAYOTTO, Maria Leonor Cunha et. al. Creches: desafios e contradições da
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GUARESCHI, P.A. Ética e Paradigmas na Psicologia Social: Ética e Paradigmas in:


PLONER, K.S. et al. (Org.). Ética e paradigmas na Psicologia Social - Ebook.
Rio de Janeiro: editora Centro Edelstein de Pesquisas Socias, 2008.

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LAMBERT, W.W.; LAMBERT,W.E. Psicologia Social. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar


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RODRIGUES, Aroldo; ASSMAR, Eveline Maria Leal; e JABLONSKI, Bernardo.


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TOFFLER, Alvin. A terceira onda. 16.ed. Rio de Janeiro: Record,1980.

26

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