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Psicomotricidade na escola?

Uma prática possível

Sandra Andrade de Castro1


Wilson Domingos Mingote Junior2
Alline Pereira dos Santos3
Gisele de Freitas Silva4
Márcia Cristina Pereira Alves5

RESUMO
Segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade (2021), a terminologia psicomotricidade
está relacionada a uma concepção de movimento integrado e organizado, considerando as
experiências vividas pelo sujeito. Wallon (1975) expressa que o desenvolvimento da criança
perpassa sempre pela ação motriz. O presente estudo foi realizado em atividade da disciplina de
Estágio Básico do Curso de Psicologia, relacionando conteúdo e prática do conhecimento
psicológico no ambiente escolar. O objetivo geral foi compreender a importância da
psicomotricidade no ambiente escolar e especificamente, entender os conceitos de
psicomotricidade e identificar as formas de trabalho da psicomotricidade na escola. A opção
metodológica foi a pesquisa bibliográfica, realizada em livros, periódicos e outras fontes. A
investigação revelou que a psicomotricidade envolve várias áreas de conhecimento e está
presente no desenvolvimento e na aprendizagem ao longo da vida do ser humano. A escola
pode usar práticas psicomotoras para potencializar o processo de ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Psicomotricidade; Escola; Socialização.

Introdução
A sociedade de maneira geral reconhece o ambiente escolar como espaço de ensino, porém
também se nota que, de maneira predominante, os estudantes permanecem em sala de aula e
fisicamente assentados para receberem os conteúdos ministrados pelos professores. Ao longo
do tempo, essa visão tradicional tem recebido críticas e reflexões, o que tem contribuído para
surgirem formas diferentes de ensinar e aprender.
Nosso estudo foi realizado em atividade da disciplina de Estágio Básico do Curso de Psicologia,
com a intencionalidade de relacionar conteúdo e prática do conhecimento psicológico no

1 Doutora e Mestra em Educação pela PUC Minas, Psicóloga pela UFMG e Pedagoga pelo Claretiano de
Batatais. Docente do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera e na Uninassau de Belo Horizonte.
profasandracastro@gmail.com.
2 Mestre em Administração pelo Centro Universitário Unihorizontes, Graduado em Turismo, em Artes, em

Administração e em Letras Português/Inglês e estudante de Psicologia. Docente do curso de


Administração na Faculdade Anhanguera de Belo Horizonte. jrmingote@hotmail.com.
3 Estudante de Psicologia na Faculdade Anhanguera de Venda Nova. alline.pereira@outlook.com.

4 Estudante de Psicologia na Faculdade Anhanguera de Venda Nova. giselemedeirosgfsm@gmail.com.


5 Estudante de Psicologia na Faculdade Anhanguera de Venda Nova. marciacristinap@hotmail.com.

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ambiente escolar. A investigação teve como foco um olhar sobre o aspecto físico e a
motricidade dos alunos na vivência do cotidiano educacional.
O objetivo geral desse trabalho foi compreender a importância da psicomotricidade no
ambiente escolar e especificamente, pretendeu-se entender os conceitos de psicomotricidade,
bem como identificar as formas de trabalho da psicomotricidade na escola.
Para atingir tais objetivos, optou-se pela pesquisa bibliográfica: revisão literária sobre a
temática, que pode ser realizada em livros, periódicos e outras fontes. Segundo Boccato (2006,
p. 266),
a pesquisa bibliográfica busca a resolução de um problema (hipótese) por
meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias
contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o
conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque e/ou
perspectivas foi tratado o assunto apresentado na literatura científica. Para
tanto, é de suma importância que o pesquisador realize um planejamento
sistemático do processo de pesquisa, compreendendo desde a
definição temática, passando pela construção lógica do trabalho até a decisão
da sua forma de comunicação e divulgação (BOCCATO, 2006, p. 266).

A revisão bibliográfica visa proporcionar um aprendizado sobre uma determinada área de


conhecimento, facilitando a identificação e seleção de métodos e técnicas a serem utilizadas
(PIZZANI, SILVA, BELLO, HAYASHI, 2012).
Nesse sentido, descreve-se os principais conceitos que envolvem a psicomotricidade, refletindo
a interação entre psiquismo e corpo, na perspectiva do ensino-aprendizagem, na escola formal.
Trata-se da importância do entendimento da psicomotricidade enquanto ferramenta de atuação
no contexto escolar, a fim de proporcionar ao aluno a possibilidade de explorar e compreender
as suas possibilidades motoras, psíquicas e emocionais na sua relação com o mundo. E
demonstra-se de que maneira a psicomotricidade pode ser trabalhada no contexto educacional,
a fim de garantir aos educadores uma compreensão mais holística acerca do contexto da sala
de aula, que perpassa, indubitavelmente, as questões sociais, culturais e históricas dos alunos.

Psicomotricidade
Na psicomotricidade, movimento, corpo e cognição são algumas expressões que se interligam.
Tal junção é eficaz quando se idealiza uma melhor amplitude do desenvolvimento humano,
podendo ser denominada como mobilidade, mas esta por si só não traz o significado em toda
sua essência (PATEL; KRENKEL; LARANGEIRA, 2012). A definição do dicionário online de
Português Dicio caracteriza a psicomotricidade como integração organizada do que é motor,
sensitivo, psíquico e das experiências individuais, que busca, através do corpo e de sua interação
com o contexto social, o desenvolvimento individual (DICIO, 2021).
De acordo com a Associação Brasileira de Psicomotricidade (2021), a terminologia se relaciona a
uma concepção de movimento integrado e organizado, com a perspectiva voltada para as
experiências vividas pelo sujeito, sendo, portanto, resultado de sua individualidade, linguagem e
socialização.
Percebe-se então que a psicomotricidade inclui as interações cognitivas, psíquicas e sensório-
motoras das capacidades de se expressar através do movimento, podendo, ainda, constituir-se
por um conjunto de conhecimentos fisiológicos, antropológicos e psicológicos relacionais
(COSTA, 2002).

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Com base em uma visão holística do sujeito, a psicomotricidade atua de maneira integrada nas
funções cognitivas, simbólicas, socioemocionais, motoras e psicolinguísticas, contribuindo para
que o indivíduo desenvolva sua capacidade de ser e de agir em um contexto psicossocial
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE, 2021).
Para a fundadora do Instituto NeuroSaber, Luciana Brites (2021), psicomotricidade é uma ciência
que busca fazer a conexão dos aspectos emocionais, cognitivos e motores das diversas etapas
da vida do ser humano. Fazendo um desdobramento da palavra, identifica-se os seguintes
significados: “Psi” – aspectos emocionais, como sentimento, emoção; “co” – aspectos cognitivos,
como processamento das informações no cérebro, atenção, concentração, memória, aspectos
sequenciais, questões auditivas, visuais; “motric” – movimento humano, do qual é permeado de
inteligência, pois há intencionalidade; e “idade”, etapas de vida do ser humano (BRITES, 2021).
Historicamente, durante o decorrer do ano de 1900, Wernick utilizou a terminologia pela
primeira vez, seguido por Duprê, que “procurava entender a causa de perturbações motoras e
buscava explicar a relação entre os sintomas e a localização cerebral, onde coloca o termo
psicomotricidade fazendo uma relação entre o movimento, o pensamento e a afetividade”
(FONTANA, 2012, p. 12).
Pode-se salientar que se trata, então, do movimento organizado e integrado, oportunizando
vivências e experiências individuais para com a linguagem e socialização do indivíduo. Sob esta
ótica, a Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP) amplia o conceito emitindo uma
interação cognitiva, sensório-motora e psíquica na compreensão das capacidades de se
expressar a partir do movimento, ou seja, é um conjunto de conhecimentos psicológicos,
fisiológicos, antropológicos e relacionais (FONTANA, 2012).
Alguns teóricos como os pedagogos Claparède, Montessori e os psicólogos Pierre Janet e
Piaget influenciam a manifestação do “interesse pelo estudo do comportamento sensório-
motor, colocando a necessidade de considerar o movimento humano, portanto o corpo como
um aspecto fundamental da constituição do indivíduo” (PATEL; KRENKEL; LARANGEIRA, 2012, p.
5).
Nesta mesma direção, Wallon (1975) expressa que o desenvolvimento da criança se dá sempre
através da ação motriz. Isto porque compreende que regula o aparecimento e o
desenvolvimento das formações mentais, ampliando essa percepção acerca do conceito, ao
dizer que a evolução da criança está relacionada à motricidade, à afetividade e à inteligência.
O trabalho com a coordenação motora, o equilíbrio, a lateralidade e a organização do espaço
temporal, a partir da década de 70, vem sendo explorado com maior ênfase para alcançar um
melhor desenvolvimento cognitivo (PATEL; KRENKEL; LARANGEIRA, 2012).
A psicomotricidade atua em todas as etapas da vida do indivíduo, mas tem fator essencial na
fase inicial da vida do sujeito, uma vez que este desenvolvimento oportuniza caminhos
promissores que se ampliam quantitativa e qualitativamente ao longo da vida (FONTANA,
2012). Por intermédio de atividades que proporcionam a espontaneidade de ações no sujeito,
amplia-se o processo de construção de seu conhecimento psicomotor.
Portanto, psicomotricidade é resultante de um longo processo, mas que essencialmente trata da
relação entre o sujeito, seu corpo e o meio físico e sociocultural no seu dia a dia (FONTANA,
2012).

Psicomotricidade na Escola

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A psicomotricidade é uma maneira de afinar a percepção-motora dos alunos, uma vez que põe
em jogo os processos mentais com toda sua complexidade. Trabalha-se também, de maneira
preventiva e terapêutica, as dificuldades de aprendizagem encontradas no contexto escolar e de
vida do sujeito, não podendo, portanto, ser negligenciada, visto que é condição essencial para o
desenvolvimento global do indivíduo (FONSECA, 2008). A partir desse desenvolvimento das
crianças, pode-se perceber na sala de aula que elas melhoram os movimentos, a interação com
os outros colegas e adultos, além de estabelecer uma comunicação melhor, não apenas oral,
mas sobretudo, não-verbal, através dos gestos.
É fundamental a exploração das suas habilidades corporais para que a criança na escola consiga
se desenvolver nos demais aspectos. Para crianças com dificuldades motoras, faz-se necessária a
implementação de um trabalho que respeite os limites e ao mesmo tempo amplie suas
potencialidades (FERNANDES, 2012).
Para Vygotsky (1991), é importante assinalar que:
O amálgama da fala e ação tem uma função muito específica na história do
desenvolvimento da criança; demonstra, também a lógica da sua própria
gênese. Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas
atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento
social e, sendo dirigidas a objetivos definidos, são retratadas através do
prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até
o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o
produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas
ligações entre história individual e história social (VYGOTSKY, 1991, p. 25).

Neste sentido, o educador deve auxiliar o aluno na tomada de consciência do próprio corpo,
sob a perspectiva de uma educação psicomotora, sendo essencial para a melhoria das suas
capacidades cognitivas, afetivas, emocionais e sociais, tornando-se necessário que o professor
conheça o limite motor das crianças que são atendidas pela escola (GIBELLI, 2014).
Outro importante fator é que a psicomotricidade relacional ajuda as crianças a superarem seus
medos, testarem seus limites e lidar com suas frustrações, trabalhando com a fantasia. O lúdico
é o mundo onde ela permanece na maioria das vezes, onde ela brinca de faz de conta e por
meio dessa atividade acontece uma maior possibilidade de alcance de um desenvolvimento
cognitivo mais acurado.
Para Negrine (2001, p. 32), “o comportamento lúdico não é herdado e sim adquirido por meio
de aprendizagem. Essa aprendizagem não acontece só na escola, mas também em todos os
ambientes que possam gerar mediações pedagógicas”. Desta forma, o trabalho envolvendo a
psicomotricidade se faz importante para o desenvolvimento integral do aluno, ao passo que
oferece experiências fundamentais, havendo, portanto, a necessidade de ser um trabalho
qualitativo e planejado com vistas às inúmeras formas e possiblidades de movimento (LORDANI;
SOUZA, 2013).
Fonseca (2010) ressalta a influência do ambiente ao enfatizar que: “o meio ambiente envolvente
onde o indivíduo nasce e se desenvolve e reproduz, pressupõe, necessariamente, uma
transcendente mediatização social e uma elaborada transferência e aprendizagem cultural”
(FONSECA, 2010, p. 13). Sendo assim, pode-se evidenciar a importância de a psicomotricidade
estar presente no ambiente escolar, bem como em outros contextos. Assim, as crianças podem
desenvolver autonomia, consciência de seus corpos e do ambiente em que vivem, aprimorando
na mesma medida o equilíbrio, a noção corporal e a noção espacial, que serão essenciais em
todas as etapas de suas vidas.

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A práxis da psicomotricidade na Escola
Vygotsky (1991) apresenta os jogos e brincadeiras como elemento importante para o
desenvolvimento infantil, considerando os termos como sinônimos. É por meio do brincar que a
criança consegue se apropriar de funções e atitudes ideais e futuras de comportamento
(ZANELLA; ANDRADA, 2002). Sendo assim as propostas de atividades desenvolvidas na escola
como forma de jogo ou brincadeira podem favorecer a constituição de importantes relações de
desenvolvimento.
Segundo Patel, Krenkel e Larangeira (2012), pode-se observar que a psicomotricidade vai estar
presente em todas as ações da criança na escola, principalmente nas brincadeiras e jogos, na
linguagem e nas expressões gráficas, sendo possível então o seu desenvolvimento e aquisição
de novas competências através de atividades. Gomes (2013) reforça ainda que por meio de um
trabalho planejado, organizado e sistematizado pode-se oferecer suporte para todo e qualquer
aprendizado.
Partindo para a práxis, a psicomotricidade pode ser trabalhada na escola de diversas formas.
Primeiramente, é necessário que o ambiente escolar seja adequado, com espaços amplos e
adequados, permitindo a mobilidade necessária para cada tipo de atividade.
Ressalta-se que, segundo Wallon (2008), para o favorecimento da cognição é necessário o
corpo estar em movimento, o que se torna muito complicado principalmente para crianças
pequenas, quando lhes é exigido permanecer sentadas ou com foco de contenção física,
limitando o desenvolvimento afetivo e cognitivo.
Para Xisto e Benetti (2012), as atividades de higiene, por exemplo são “o meio de integrar a
criança aos costumes, hábitos e normas que ajudam a preservar e a melhorar a saúde em geral”
(XISTO, BENETTI. 2012, p. 9). A disciplina de Educação Física também pode ser considerada
como promotora do desenvolvimento das habilidades que, em geral, correspondem a processos
de coordenação motora mais elaborada, desenvolvidos de acordo com esportes individuais e
coletivos (XISTO, BENETTI. 2012).
Desta forma, respeitando as fases de desenvolvimento corporal apontadas por Oliveira (2010), é
possível indicar algumas atividades propostas para cada etapa de desenvolvimento, citadas por
Patel, Krenkel e Laranjeira (2012):
 1ª etapa - corpo vivido (até 3 anos de idade): Nos primeiros meses de vida da criança, pode-
se fazer uso do espelho como fator de conhecimento de si, ela gradativamente descobre
seu eu e desenvolve seu esquema corporal. Atividades psicomotoras podem contribuir
nesta etapa para o desenvolvimento da linguagem, como histórias com fantoches, cantorias,
além da coordenação motora ampla, através de atividades táteis –, pintura com o corpo,
pular corda, brincadeiras com bola. Também podem contribuir para o desenvolvimento da
coordenação fina as brincadeiras com massinhas, encher e esvaziar recipientes, empilhar
blocos, bolinhas de gude, entre outras infinitas possibilidades (PATEL; KRENKEL;
LARANJEIRA, 2012);
 2ª etapa - corpo percebido ou “descoberto” (3 a 7 anos): Esta etapa corresponde à
organização do esquema corporal, na qual as atividades psicomotoras que promovam força
e habilidade motora são de suma importância porque auxiliam a criança no
desenvolvimento de uma percepção centrada em seu próprio corpo, tornando-se um ser
mais independente. Nesta fase as atividades podem ser mais coletivas como jogo de
esconde-esconde, pega-pega, escravos de Jó, estátua, corrida do saco, cabeça-ombro-
joelhos e pés, queimada, amarelinha entre vários outros jogos coletivos, mas podem

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também ser individuais como atividades como dança, pintura, desenho livre, colorir, quebra-
cabeça, entre outros (PATEL; KRENKEL; LARANJEIRA, 2012);
 3ª etapa: corpo representado (7 a 12 anos): Nesta fase a criança começa a perceber que
pode aperfeiçoar seus movimentos, adquirindo assim maior coordenação dentro de um
espaço e tempo determinado, passa a ver seu corpo como ponto de referência, é uma
imagem de corpo estática e é feita da associação estreita entre dados visuais e cinestésicos.
Atividades psicomotoras mais complexas já podem ser desenvolvidas a fim de promover a
solidificação das habilidades corporais e da integração da criança no mundo social, no
sentido de auxiliar nos processos afetivos e emocionais, no equilíbrio entre as funções
psicomotoras e a maturidade, conquistando e aperfeiçoando novas competências,
assegurando assim seu desenvolvimento integral. Para aquisição de novas habilidades
sociais, as atividades propostas podem ser aquelas que fomentam o espírito coletivo e a
competitividade como gincanas, esportes (futebol, natação, vôlei, basquete etc.), desafio do
castelo de cartas, experiências científicas, forca, detetive, e muitas outras (PATEL; KRENKEL;
LARANJEIRA, 2012).
Enfim, para Almeida (2010), o educador que quer trabalhar com a psicomotricidade deve ter
sempre um comportamento observador, pois são as atividades diárias que permitem a
introdução das práticas com objetivos psicomotores. A motricidade deve estar ao lado da
afetividade. Assim cada ação, por mais simples que seja, pode ser percebida pelo aluno na sua
complexidade e na sua essência, cabe ao professor a intermediação para a aquisição de
habilidades concretas.

Considerações Finais
A psicomotricidade, como disciplina interdisciplinar, que envolve várias áreas de conhecimento,
está presente no desenvolvimento e na aprendizagem ao longo da vida do ser humano.
Constatin Stanislaviski, um dos precursores da criação de um método para o trabalho do ator, já
vislumbrava a importância da psicomotricidade para a aprendizagem do sujeito, bem como para
o acesso a emoções, quando criou o método das ações físicas, que consiste em o ator
desenvolver um movimento físico, para que este possa se conectar a uma emoção e, no
momento, do trabalho no palco o ator tenha a possibilidade de acessar essa emoção a partir do
movimento criado e conectado (COPELIOVITCH, 2016).
O trabalho com a psicomotricidade para o desenvolvimento e a aprendizagem humana se torna
mais evidente na infância, quando o sujeito começa a sua interação com o mundo, e,
obviamente, essa conexão entre ambos ocorre, primeiramente, através dos sentidos do corpo.
Ao utilizar práticas psicomotoras, a escola pode potencializar o processo de ensino-
aprendizagem dos alunos, reconhecendo o movimento como fator importante do
desenvolvimento. Porém, tem ainda um enorme desafio na forma de condução de atividades,
pois existe uma tendência a padronização de uma metodologia específica, desconsiderando a
amplitude de vertentes envolvidas no trabalho com a psicomotricidade.
É importante que a escola e os educadores compreendam que a aprendizagem pelo corpo
envolve questões não apenas físicas, mas emocionais e psicológicas, e que precisam ser
considerados todos os aspectos que envolvem a vida do sujeito, sejam eles sociais, culturais ou
históricos, uma vez que o corpo possui a transcrição de todas as vivências e experiências do
indivíduo. Pensar a criança em uma única perspectiva, esquecendo-se da complexidade de
aspectos que a envolvem, torna o trabalho escolar, em especial com a psicomotricidade, apenas
mais uma dentre tantas outras atividades que levam o aluno a limitar-se, ao invés de

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proporcionar, de fato, a liberdade e as possibilidades que a psicomotricidade pode trazer para o
crescimento integral do sujeito.
Compreende-se que a reflexão proposta pelo estudo não esgota o assunto da psicomotricidade
e suas práxis no ambiente escolar, mas pretende instigar o leitor na percepção acerca das
possibilidades que o corpo traz para o cenário educacional.

Psychomotricity at school?
A possible practice

ABSTRACT
According to the Brazilian Psychomotricity Association, the terminology is related to a concept
of integrated and organized movement, with a perspective focused on the experiences lived by
the subject, being, therefore, the result of their individuality, language and socialization. Wallon
(1975) expresses that the child’s development always takes place through motor action. This is
because it understands that it regulates the appearance and development of mental formations,
expanding this perception about the concept, by saying that the child’s evolution is related to
motricity, affectivity and intelligence. The present study was carried out in an activity of the Basic
Internship discipline of the Psychology Course, with the intention of relating content and
practice of psychological knowledge in the school environment. The investigation focused on a
look at the physical aspect and motor skills of students in the daily educational experience, with
the general objective of undersanding the importance of psychomotricity in the school
environment and specifically, understanding the concepts of psychomotricity, as well as
identifying ways of working of psychomotricity at school. It was then decided to carry out
bibliographic research: a literary review on the subject, carried out in books, periodicals and
other sources. The study revealed that psychomotricity, as an interdisciplinar discipline, which
involves several areas of knowledge, is present in the development and learning throughout the
human being’s life. By using psychomotor practices, the school can enhance the teaching-
learning process os students, recognizing movement as an important factor in development.
However, there is still an enormous challenge in the way activities are carried out, since there is
still a tendency to standardize a specific methodology, disregarding the breadth of aspects
involved in working with psychomotricity, which is undoubtedly the biggest provocation for
changing the perspective of working with psychomotricity in the school environment.

Key Words: Psychomotricy. Individuality. Language. Socialization. Perception.

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