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FUNDAMENTOS HISTORICOS CONCEITUAIS E AREAS

DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL

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Sumário

Historia..................................................................................................... 2

Alguns pontos importantes da trajetória da Psicopedagogia ................... 3

Influências na psicopedagogia ................................................................. 7

Psicopedagogia Clinica ...................................................................... 13


Psicopedagogia Institucional .............................................................. 14
A identidade do psicopedagogo brasileiro ............................................. 16

PSICOPEDAGOGIA: RELAÇÃO TEORIA E PRATICA ......................... 21

DIAGNÓSTICO .................................................................................. 22
SESSÕES LÚDICAS E ENQUADRE COM O PACIENTE ................. 25
DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO ......................................................... 28
DIAGNÓSTICO PROJETIVO ............................................................. 29
DIAGNÓSTICO LECTO-ESCRITA .................................................... 30
MOVIMENTO CORPO E EXPRESSÃO............................................. 31
CONTATO COM A ESCOLA E OUTROS PROFISSIONAIS ............. 32
HIPÓTESE DIAGNÓSTICA ............................................................... 33
DEVOLUÇÃO ..................................................................................... 33
INTERVENÇÃO ................................................................................. 34
REFERENCIAS ..................................................................................... 36

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Historia
A psicopedagogia surgiu com o intuito de ajudar as pessoas com
problemas de aprendizagem, e seus ramos de atuação situam-se, sobretudo,
nas ações preventivas em instituições e na clínica com atendimentos
individualizados (BOSSA, 2011, p.48). Portanto, a psicopedagogia propõe-se a
buscar uma resposta para os conflitos na aprendizagem com técnicas de
trabalho que podem ser desenvolvidas de maneira individual ou em grupo, para
assim resgatar a vontade de aprender, de modo a observar quais fatores,
possivelmente, podem contribuir ou não para a processo de ensino-
aprendizagem.

A psicopedagogia possui um enfoque interdisciplinar abrangendo a


Pedagogia, a Psicanalise, a Psicologia, a Epistemologia, a Linguística e a
Neuropsicologia, dentre outras áreas do conhecimento. (BOSSA, 2011, p.40).
Todavia, torna-se importante compreender que as diversas áreas do
conhecimento citadas e que balizam as práticas psicopedagógicas não devem
ser utilizadas isoladamente. Pois, o indivíduo deve ser compreendido como um
ser social e complexo.

Nos anos 60 e 70 as correntes teóricas, principalmente, utilizadas na


Psicopedagogia eram Behaviorismo e o Humanismo. O Behaviorismo tinha o
estimulo e resposta como parte essencial. Enquanto que, o Humanismo
propunha fazer a vontade do ser que aprende. O ser humano como ser histórico
e social não era valorizado (MARTINI, 1994, p.3).

Na contemporaneidade, observa-se que a psicopedagogia se pauta, em


três fundamentações teóricas, na psicanálise, no associacionismo e no
construtivismo. Na psicanálise uma base fundamental é o vínculo, portanto, de
acordo com a psicanálise, é necessária a criação do vínculo para que ocorra a
aprendizagem. No associacionismo a valorização está centrada no tecnicismo,
neste caso, prevalece o elemento externo sobre o cognitivo. No construtivismo
as relações sociais mostram-se essenciais para o desenvolvimento, pois elas
orientam o sujeito na construção do conhecimento (MARTINI, 1994, p.4).

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Considerando a construção e evolução da psicopedagogia, o presente
estudo tem como objetivo levantar as principais fundamentações teóricas que
contribuíram e continuam a dar corpo à psicopedagogia. Para isso, será
realizado um breve histórico sobre sua origem e influências teóricas, com
destaque ao construtivismo de Piaget. Pois, acreditamos que com essa incursão
histórica poderemos colaborar para um melhor entendimento das práticas
psicopedagógicas.

Alguns pontos importantes da trajetória da


Psicopedagogia
De acordo com Bossa (1992 p. 56) no século XIX, na Europa, iniciou-se a
preocupação com os problemas de aprendizagem.

Inicialmente, no século XVII, os educadores tinham uma preocupação em


compreender como acontecia o desenvolvimento da aprendizagem da criança,
porém não na área cognitiva, e sim, para transformá-la em um ser racional e
cristão. Posteriormente, no século XVIII, preocuparam-se com o
desenvolvimento de conceitos de disciplina, higiene e saúde física. No final do
século XIX a função da escola muda, adquirindo um olhar tecnicista e científico.

Segundo Bossa (1992 p. 59 e 60) no ano de 1930, surgem na França os


primeiros centros de orientação educacional infantil, constituídos por médicos,
psicólogos, educadores e assistentes sociais.

Em 1946, foram criados os primeiros centros psicopedagógicos, que


buscavam unir conhecimentos da Psicopedagogia, Psicanálise e da Pedagogia,
com o intuito de proporcionar à criança uma readaptação no ambiente escolar
ou familiar, visando os comportamentos socialmente inadequados.

A Psicopedagogia apresenta uma complexidade no seu objeto de estudo


e necessita de conhecimentos específicos de outras teorias. A Psicanálise,
Psicologia social, Epistemologia e Psicanálise Genética, Linguística, Pedagogia
e Fundamentos na Neurociência, são algumas das teorias que embasam o
trabalho psicopedagógico. (BOSSA, 1992, p. 40 e 41)

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Na Psicanálise analisa-se o mundo inconsciente, representado por
sintomas e símbolos, dando acesso aos desejos do homem.

Freud, neuropsiquiatria, criou um método para tratar os distúrbios


psíquicos, chamado Psicanálise, com o intuito de realizar estudos sobre as
personalidades, investigando os desejos, sentimentos e medos do indivíduo.
(DAVIS, 2008, p.82)

A Psicologia social trata das relações familiares, grupais e institucionais,


no âmbito sociocultural e econômico, que envolve toda aprendizagem.

Para Wallon, médico e psicólogo, a afetividade e as emoções


experimentadas pelo indivíduo, ao relacionar-se com o outro, apresenta um
papel importante na aprendizagem. O intelectual, o afetivo e social, são
considerados como um conjunto, a serem desenvolvidos, proporcionando à
criança uma formação integral. (REVISTA NOVA ESCOLA, 2008, p. 74 e 75)

A Epistemologia e Psicanálise Genética analisam e descrevem o


processo de construção do conhecimento do indivíduo e a relação com o meio.

Segundo Montessori, médica especializada em psiquiatria e pedagoga


italiana, a criança passa por estágios de desenvolvimento, conduzindo sua
aprendizagem. No ambiente escolar é importante o desenvolvimento de
atividades sensoriais e motoras, toques e manipulações de objetos. Os
movimentos livres auxiliam no desenvolvimento da autonomia. (REVISTA NOVA
ESCOLA, 2008, p. 65 e 66)

A Linguística proporciona o entendimento da linguagem humana em sua


totalidade, a qual o homem utiliza-se para expressar suas ideias e sentimentos,
considerando os aspectos culturais.

De acordo com Ferreiro, psicolinguísta argentina, o processo de


aprendizagem ocorre dentro e fora do ambiente escolar, e a criança passa por
etapas de aprendizagem, na construção da leitura e escrita, até dominar o código
linguístico. (REVISTA NOVA ESCOLA, 2008, p.125 e 126)

A Pedagogia favorece diferentes abordagens no ensino-aprendizagem.


Contribui por meio de métodos educativos, identificando as problemáticas e
realizando o trabalho de intervenção. Toda essa análise é realizada pelo

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educador até o limite de seu conhecimento e quando ultrapassado, recorre-se a
outros profissionais.

Do ponto de vista de Freire, educador brasileiro, a cultura é vista como


uma forma de conhecimento ao professor e aluno, ao qual ocorre uma troca de
aprendizagem, é importante conhecer a bagagem cultural do aluno,
aproximando sua realidade à sala de aula para a construção do conhecimento.
(REVISTA NOVA ESCOLA, 2008, p. 111)

Os fundamentos na Neurociência proporcionam o entendimento dos


mecanismos cerebrais, que envolvem atividades mentais do consciente e
inconsciente, e os progressos ocorridos no plano científico.

Howard Gardner, psicólogo e neurologista, acredita que o indivíduo possui


vários talentos e apresenta aptidões intelectuais a serem desenvolvidas, que
classifica como tipos de inteligências: lógico- matemático, linguística, espacial,
físico-cinestésica, interpessoal, intrapessoal, musical, inteligência natural e
existencial. (REVISTA NOVA ESCOLA, 2008, p.128- 130)

Conforme aponta Bossa (1992 p. 55), a Argentina influenciou a prática da


Psicopedagogia no Brasil, por causa da sua proximidade geográfica e da
facilidade de entendimento da língua e acesso à literatura.

Os profissionais argentinos ocupam um importante espaço no mercado


de trabalho brasileiro, ministram cursos e participam da literatura brasileira
formando um corpo teórico da Psicopedagogia. Alguns autores são:

Pain, em Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem


(1985), relata experiências do trabalho psicopedagógico. A autora aborda os
fundamentos históricos da aprendizagem, orientações práticas e procedimentos
básicos de evolução diagnóstica, realizando uma junção entre a psicanálise,
teoria piagetiana e materialismo histórico.

Visca, no livro Psicopedagogia: Novas Contribuições (1991) destaca


diferentes aspectos da psicopedagogia segundo a Epistemologia Convergente e
apresenta seis modelos psicopedagógicos fundamentados na psicanálise e na
epistemologia: o esquema evolutivo da aprendizagem, o modelo nosográfico, a

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matriz de pensamento diagnóstico, o processo diagnóstico, a entrevista
operativa centrada na aprendizagem e o processo corretor.

Fernández, em A inteligência Aprisionada (1990), desenvolve uma visão


clínica da criança e da família, relata a dinâmica dos aspectos institucionais,
familiares e subjetivos que envolvem os problemas de aprendizagem,
apresentando exemplos concretos.

As obras citadas oferecem fundamentos teóricos da Psicopedagogia, e


compõem a bibliografia básica das disciplinas nesta área.

Bossa (1992, p. 89) apresenta 5 pontos comuns da história da


Psicopedagogia no Brasil e Argentina:

1. A atividade prática iniciou-se antes da criação dos cursos nos dois


países.

2. Em ambos os países, a prática surgiu da necessidade de contribuir


na questão do “fracasso escolar”.

3. Inicialmente, o exercício psicopedagógico apresentava um caráter


reeducativo, assumindo ao longo do tempo um enfoque terapêutico.

4. A Psicopedagogia nasce com o objetivo de um trabalho na clínica


e vai ampliando a sua área de atuação até a instituição escolar, ou seja, vai da
prioridade curativa à preventiva.

5. Encontra terreno fértil nesses dois países, em função da demanda


que lhe deu origem.

Os autores argentinos são utilizados como referencial teórico no Brasil.


Os pontos em comuns apresentados confirmam a ligação.

Bossa (1992 p. 49) baseada em Lino Macedo, educador brasileiro e


psicólogo, cita as seguintes funções do psicopedagogo, voltada à prática
pedagógica:

Orientação de estudos, auxiliando a criança na organização escolar, em


como programar seu estudo, anotações em agenda, leitura de texto e escrita,
estudo para avaliações.

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Apropriação dos estudos escolares, proporcionando o desenvolvimento
cognitivo em disciplinas escolares quando a criança não demonstra um bom
aproveitamento.

Desenvolvimento do raciocínio, favorecendo o processo de construção da


aprendizagem. Os jogos são utilizados para promover o progresso cognitivo e
para observar o diálogo que o sujeito tem entre o pensar e a construção do
conhecimento.

Nos atendimentos de crianças o trabalho psicopedagógico pode ser


oferecido “a deficientes mentais, autistas ou crianças com comprometimentos
orgânicos mais graves, podendo até substituir o trabalho da escola”. Em casos
especiais, o profissional poderá elaborar propostas corporais, artísticas, entre
outras. A atuação psicopedagógica está atrelada ao trabalho escolar, mesmo
que indiretamente.

Influências na psicopedagogia
Assim que é gerado o indivíduo inicia-se uma longa trajetória de variadas
aprendizagens. O sujeito durante a sua vida acaba se constituindo, aprendendo
e reaprendendo. Pela aprendizagem o ser humano passa a se desenvolver, de
maneira a constituir sua própria identidade a partir de suas vivências, segundo
Martini, (1994, p.1) ‘‘o [...] processo de aprendizagem pode ser positivo,
prazeroso e eficaz, mas, por outro lado, o inverso pode ocorrer, e aprender torna-
se uma dificuldade e um desprazer’’.

Por ser uma ação complexa, o processo de ensino e aprendizagem, faz-


se necessário o aprofundamento das questões que estão intrínsecas nesse
processo. O papel do psicopedagogo fundamenta-se, sobretudo, nas
dificuldades que podem acontecer nesse processo, de maneira que mesmo,
provavelmente, possa desvelar os obstáculos que estão impedindo o sujeito de
aprender para que consiga, assim, oportunizar possíveis meios para intervir
adequadamente junto ao problema.

Por isso, torna-se importante para o psicopedagogo compreender como


acontece a aprendizagem. E alguns teóricos, sobretudo, da área da psicologia
podem auxiliar no entendimento de algumas dessas questões. Para o estudo

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foram selecionadas algumas das teorias que subsidiam a psicologia, dentre as
quais destacamos o behaviorismo, o humanismo e o materialismo-histórico.

O behaviorismo pode se exemplificar no ensino tradicional, nele não é


estimulado a criticidade do aluno e o professor é reconhecido como um mero
instrutor, dentro de uma relação verticalizada, que prevalece, o que para muitos,
pode ser considerado um estilo arcaico de ensino, como retrata o autor a seguir:

Muitos críticos designam esta tese por psicologia da mente vazia, tanto
por se recusar a estudar a vida mental, quanto por defender que esta surge, não
de potencialidades mentais inatas no organismo, mas sim da associação entre
reflexos automáticos e determinados estímulos do meio. Segundo Watson,
qualquer comportamento humano ou animal (desde uma simples emoção até à
resolução de um complicado problema matemático) pode ser explicado pelo
encadeamento de associações simples entre estímulos e respostas. De acordo
com esta posição, Watson opôs-se vigorosamente aos defensores de teorias
inatistas (segundo as quais a aprendizagem depende do potencial de inteligência
com que nascemos) e maturacionistas (segundo as quais a aprendizagem
depende do processo de maturação fisiológica) (GONÇALVES, 2007, p. 27).

Portanto, Watson desconsiderava fatores, que hoje sabemos, que são


importantes, ele colocou o ser humano para ser analisado apenas em seus
instintos. Watson teorizou que com o condicionamento, por estímulos, qualquer
problema poderia ser resolvido pelo sujeito. Segundo Gonçalves (2007, p. 27):
‘‘Watson garantia que se conseguíssemos monitorar e controlar os estímulos em
uma criança recém-nascida constantemente ao longo de seu crescimento
poderíamos fazer dela tudo o que quiséssemos: advogado, médico, pedinte [...]”.
Para Watson, o meio era o fator que influenciaria o comportamento, se houvesse
o controle do meio se obteria o comportamento desejado.

No humanismo a teoria se baseava em deixar a criatividade do aluno livre,


para com isso intensificar a aprendizagem. Carl Rogers um dos principais
teóricos do humanismo e declara que:

[...] a pessoa educada é aquela que aprendeu a aprender, que aprendeu


a adaptar-se e mudar, que aprendeu que nenhum conhecimento é seguro e que
só o processo de busca do conhecimento provê base para segurança. A

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abordagem rogeriana implica que o ensino seja centrado no aluno, que a
atmosfera da sala de aula tenha o estudante como centro; implica confiar na
potencialidade do aluno para aprender, em deixá-lo livre para aprender, escolher
seus caminhos, seus problemas, suas aprendizagens. O importante não é
aprender certos conteúdos, mas sim a auto realização e o aprender a aprender.
(MOREIRA, 2009, p.56).

Por isso, nessa linha de pensamento, o professor deve esperar que o


aluno assuma o controle de ações e que gerem seu conhecimento, pois a
aprendizagem depende do aluno e de suas atitudes, o professor, nessa teoria,
será o facilitador (MOREIRA, 2009, p.56). Para Carl Rogers, o indivíduo é
responsável pela capacidade de mudança, conforme afirma Moreira (2009, p.56)
‘‘Ele acredita que as pessoas têm dentro de si a capacidade de descobrir o que
as está tornando infelizes e de provocar mudanças em suas vidas, mas esta
capacidade pode estar latente. Com essa abordagem um fator importante foi
esquecido, o social.

O materialismo-histórico surgiu nos anos 80, foi uma oposição ao


behaviorismo e ao humanismo. No entanto, segundo Neves (1991) as três
fundamentações teóricas eram inflexíveis em seus posicionamentos e
ignoravam aspectos relevantes de ordem biológica, psicológica e social. O
materialismo-histórico não legitima o presente sem considerar o passado em
seus acontecimentos, políticos, econômicos e sociais segundo, conforme revela
os autores ao apontarem que:

[...] a educação nunca pode ser vista desatrelada do processo histórico. A


História é a palavra chave de toda a nossa fundamentação, pois é por meio da
História que se pode analisar o presente, ou seja, é somente conhecendo o
passado que se compreende o momento vivido em que se estabelecem
relações. Ressalta-se sempre em formar e não informar, formar pessoas
capazes de refletirem, de pensarem, de fazerem indagações (BARROS;
FRANCO 2008, p.4).

O materialismo-histórico tem suas origens em Karl Marx, é uma crítica ao


consumismo, ao capitalismo em detrimento do socialismo.

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No associacionismo são destacados os conteúdos que serão aplicados
aos alunos, o ensino, de acordo com essa linha de pensamento, deve ser
realizado em uma sequência a ser seguida, para que assim o aluno possa chegar
a uma resposta certa, como nos apresenta o autor a seguir:

Associacionismo é o termo usado para caracterizar, dentro da Psicologia,


qualquer teoria que defenda, como base de explicação teórica dos fenômenos
psíquicos, a determinação dos elementos básicos que o determinam, elementos
esses que seriam irredutíveis, seguindo, assim, a influência da Física da época
que via o átomo como elemento irredutível, indivisível (NEVES, 1997, p 1).

Porém, Sisto (1996) cita essa metodologia como um modo de ensino


técnico e que não prioriza a cognição. O condicionamento continua como parte
central do ensino e persiste o externo sobre o interno. Como alternativa a essa
teoria, o autor apresentou uma opção teórica, a do construtivismo piagetiano.

Para Sisto (1996), a teoria do construtivismo não beneficia somente os


conteúdos, a prioridade está na construção do conhecimento, com a valorização
das interações feitas no cotidiano. Colocar o construtivismo como base teórica
da psicopedagogia, não seria somente transferir o compromisso de aprender ao
aluno e seu intelecto, seria um entendimento que o conhecimento não pode ser
apenas recebido, somente com instruções ou reconstruções do ensino. A
conjectura dessa aprendizagem se distinguiu por entender que o conhecimento
deve exigir procedimentos que não privilegie apenas o cognitivo ou afetivo do
aluno, segundo Moreira:

Outra consequência clara é a do conflito cognitivo. Segundo a teoria


piagetiana, o sujeito, interagindo com o mundo, constrói esquemas de
assimilação com os quais, então, assimila situações conhecidas. Quando a
situação é nova é preciso acomodar, ou seja, reformular um esquema de
assimilação, construir um novo esquema, ou abandonar a tarefa. O ensino, em
consequência, deve provocar conflitos cognitivos, quer dizer, propor situações
para as quais os esquemas dos alunos não funcionem, de modo a provocar a
necessidade de construção de novos esquemas. Em termos técnicos, dir-se-ia
que o ensino deve conduzir à equilibração majorante e, portanto, a
aprendizagens (2009, p.17).

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Piaget postula que a criança precisa assimilar e depois pode acomodar
ou não, as informações recebidas, modificando seus esquemas com essas
construções cognitivas. Quando há interação com o mundo o individuo se
encaminha para uma integração organizada, pois a cada novo conhecimento ele
ganha mais meios de adaptação ao meio, elevando seu grau de organização. A
cada conhecimento que leve a acomodação, o sujeito também alcançará a
adaptação e a organização (MOREIRA, 2009, p.13).

Para Piaget as relações sociais são determinantes para o


desenvolvimento, pois o sujeito influencia e acaba por ser influenciado pelo
ambiente social. As crianças aprendem a se comportar por meio da interação
com os adultos, a cada contato, novos comportamentos vão surgindo. O nível de
socialização é algo que impacta de maneira contundente as suas identidades.
Contudo, é importante ressaltar que os estágios de maturação vão influenciar o
nível de socialização. Piaget definiu graus de socialização que variam do zero
para o recém-nascido, ao maior que seria quando a criança tem autonomia.
Segundo Piaget a socialização conta com dois requisitos básicos, a cooperação
e a coação.

A relação de cooperação é dinâmica por gerar possibilidades; como


afirma Piaget, os caminhos, para aquele que se compromete em ser cooperativo
com o outro, são muitos. Quanto à criança, as primeiras relações que estabelece
são as de coação – pai, mãe/filhos (as); adulto, professor/criança. Isso, pelo fato
de que o infante é aquele que deverá ser educado e orientado pelo adulto. O
próprio Piaget afirma ser esta fase obrigatória e necessária para se estabelecer
o processo de socialização da criança. (GOMEZ et al, 2010, p.1)

Piaget cita a coação e a cooperação como condutas de relações sociais.


A coação indicaria a relação de prestigio de uma pessoa para com a outra, como
a de um aluno com seu mestre, ou pela disseminação de ideais, conceitos e
princípios tradicionais do meio social. Quando o sujeito é coagido ele se limita a
acreditar, sem questionamento, divulgando essas ideais acaba conservando as
ideias, crenças, pensamentos e dogmas. Com esse tipo de comportamento o
sujeito produz uma relação desequilibrada e não consegue se desenvolver
plenamente, já que não tem criticidade e acredita em verdades prontas e
acabadas. Esse tipo de relação é considerado de nível baixo, pois não há

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conversação, perde-se na socialização tanto o que é coagido quanto o que coagi.
(GOMEZ et al, 2010, p.1). A cooperação seria uma maneira crítica de
socialização, mas para Piaget a crianças necessita de normas e por isso a
relação de coação se faz necessária.

As teorias influenciaram as concepções psicopedagógicas, porém deve-


se ser considerado também as áreas de conhecimento que foram e são
responsáveis pela composição da psicopedagogia. Pois, como já informado, a
psicopedagogia surge da união de várias áreas do conhecimento como Filosofia,
Neurologia, Sociologia, Linguística e a Psicanálise. Contudo, segundo Sisto
(1996) a psicopedagogia no Brasil tem sido sustentada, sobretudo, por três
pilares, a psicanálise, o associacionismo e o construtivismo.

A psicanálise tem um viés baseado na emoção, para essa área do


conhecimento só vai haver aprendizagem se houver afetividade, para a criação
do vinculo, segundo Klein:

Ao falarmos da importância do emocional e intelectual nas aprendizagens,


percebemos que ambos não ocorrem completamente sozinhos. Há sempre um
objeto, o objeto a ser conhecido ou aquele que impulsiona para o conhecimento.
Pode ser a mãe, o pai ou o professor. É ele quem dá condições para que as
aprendizagens aconteçam. Nesse momento, o vínculo recebe maior destaque,
pois ele ocorre como uma ponte, que estabelece conexões, para que tanto o
emocional, quanto o intelectual consigam se desenvolver de forma adequada.
(2010, p.4).

Para que aconteça a aprendizagem é importante que se estabeleçam


vínculos afetivos, pois eles possibilitam o desenvolvimento. Para Sisto (1996)
esse enaltecimento da afetividade, deixando outros fatores intelectuais de lado,
pode acabar tarimbando crianças normais, como crianças com desordens
mentais, porque elas podem ter apenas problemas de aprendizagem em uma
área do conhecimento, que são de fácil resolução.

A ação psicopedagógica é utilizada em três campos, no clínico, no


institucional e na investigação cientifica (MARTIN, 1994, p.3). A presente
pesquisa vai apresentar a modalidade clínica e institucional.

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Psicopedagogia Clínica
A psicopedagogia clínica é realizada terapeuticamente. O psicopedagogo
que atende em clínica se concentra em descobrir o porquê o sujeito não aprende,
para auxilia-lo (BOSSA, 2000). Com o desenvolvimento do trabalho o
psicopedagogo colabora na construção da autoestima, que se desfez na
trajetória estudantil. Dessa forma o sujeito é conduzido a descobrir suas
competências e aptidões, construindo seu saber. O atendimento clinico é
praticado em centros de saúde e clinicas e normalmente os atendimentos são
feitos individualmente (VERCELLI, 2012, p.73).

A avaliação psicopedagógica é um processo que o psicopedagogo deve


cumprir e têm que envolver diferentes atividades, é nesse momento que o
psicopedagogo decide quais serão as estratégias de intervenção. Na avaliação
psicopedagógica é feita uma análise sobre a aprendizagem do sujeito tentando
compreender como e quando começou o problema. Para fazer uma avaliação é
preciso que sejam realizados alguns procedimentos como uma entrevista inicial,
com o motivo da queixa, análise do material escolar, diversos modelos de
atividades em diferentes disciplinas, testes que verificam o nível de
desenvolvimento e sondagens (MORAES, 2010, p.4).

O psicopedagogo precisa estar atualizado e ciente de todos os problemas


que possam servir de obstáculos, Gamba e Trento corroboram a ideia aos
indicarem que:

Para que o trabalho em uma clínica de Psicopedagogia seja realizado com


sucesso, o envolvimento dos profissionais que ali atuam é de extrema
importância. O psicopedagogo precisa estar atento às inúmeras possibilidades
de intervenção, levando em conta as dificuldades apresentadas pelos clientes
que buscam sua ajuda, bem como a própria disponibilidade frente a novos
aprendizados demonstrados por este (2009, p.2).

Ter ciência das possibilidades do aluno é o primeiro passo para que o


psicopedagogo possa a refletir em intervir. A escolha do material de trabalho vai
variar de acordo com as necessidades do sujeito, e a adaptação é feita
constantemente (GAMBA e TRENTO, 2009, p.3).

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Psicopedagogia Institucional
A psicopedagogia institucional pode ser desenvolvida no contexto
hospitalar, no setor empresarial, em organizações assistenciais e na instituição
escolar. No entanto, o enfoque deste trabalho está embasado apenas no
contexto escolar, local que a psicopedagogia pode ser realizada
preventivamente e sua função é, principalmente, de antecipar os problemas que
podem ocorrer na aprendizagem e assim combater o fracasso escolar. Por isso,
a psicopedagogia institucional se coloca, atentamente às variadas possibilidades
de construção do conhecimento e valoriza o imenso universo de informações
que envolve a vida escolar (OLIVEIRA, 2009, p. 39).

Hoje em dia as escolas do ensino regular atendem crianças especiais, o


psicopedagogo tem um papel fundamental, de garantir a inclusão, porque
apenas frequentar a escola não é aceitável, é preciso que exista a integração
(BOSSA, 2000). A instituição deve assegurar meios para que o sujeito prossiga
nos estudos e que esse conhecimento seja efetivo, se isso não ocorrer teremos
que contemplar casos de exclusão dentro da escola. A escola é um local de
todos e, portanto, a inclusão é fundamental (VERCELLI, 2012, p.73). O professor
tem que assumir uma postura de renovação, ajudando nas estratégias
propostas, segundo Vercelli:

A Psicopedagogia institucional é um campo de estudo que vem se


desenvolvendo como ação preventiva de muita importância, mas é vista como
ameaçadora, pois tem por objetivo fortalecer a identidade do grupo e transformar
a realidade escolar. Torna-se ameaçadora, pois em muitos casos, o
psicopedagogo poderá propor mudanças para que determinadas crianças
aprendam, mas, infelizmente, muitos educadores resistem a essas mudanças e
interpretam o que lhes foi dito como se não estivessem dando conta do papel
que exercem (2012, p.73).

É preciso a colaboração do professor, pois o psicopedagogo faz um


estudo sobre as necessidades do grupo, mas precisa da ajuda de todos da
escola. Para que o aluno volte a ter prazer em aprender o professor tem que se
esforçar para auxiliar e gerar a integração (VERCELLI, 2012, p.76).

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Quando recebe conhecimentos, o ser humano é incluído, de um jeito
coordenado, nos ambientes culturais e simbólicos, que acabam o integrando a
coletividade. A escola tendo o dever de ajudar na obtenção do conhecimento
passa a ser mediadora nessa inclusão do sujeito (BOSSA, 2011, p.141).

Contudo, é importante lembrar que a criança quando inicia a vida escolar


já tem conhecimentos prévios, das vivências do seu meio, esses conhecimentos
podem ajudar ou acabar complicando o desenvolvimento do sujeito. Portanto, o
sujeito quando entra na escola, em torno dos seus sete anos, leva as suas
vivências, suas experiências familiares e disso depende sua aprendizagem
plena, segundo BOSSA:

Se a sua história transcorreu sem maiores problemas, estará estruturado


seu superego e poderá deslocar sua pulsão a objetos socialmente valorizados,
ou seja, estará pronto para a sublimação. A escola se beneficia e, também, tem
função importante nesse mecanismo, pois lhe fornece as bases necessárias, ou
seja, coloca ao dispor da criança os objetos para os quais se deslocará a sua
pulsão, A escola, enfim, administra- bem, mal etc. - esse mecanismo pulsional
da criança. Se tudo correu bem no desenvolvimento da criança, estará
estruturado o seu desejo de saber: a epistemofilia (2011, p.144).

Por isso, o Psicopedagogo no contexto escolar assumirá o compromisso


com a transformação da realidade escolar, à medida que se coloca de modo a
fazer uma reorientação do processo de ensino-aprendizagem. Esse profissional
levanta a possibilidade de reflexão dos métodos educativos e numa postura de
investigação descobre as causas dos problemas de aprendizagem que se
apresenta na instituição e que se depara em sala de aula. É papel do
psicopedagogo na instituição conhecer a intencionalidade da escola em que atua
através do seu projeto político pedagógico, de modo que o permita além de
identificar as concepções de aluno e de ensino-aprendizagem que a instituição
adota reconstruir esse projeto junto à equipe escolar conduzindo a reflexão e a
construção de um ambiente propício à aprendizagem significativa. Além de
repensar o fazer pedagógico da escolar, o psicopedagogo deve ter um olhar
atento para entender o sujeito em suas características multidisciplinares, como
ser cognoscente envolvido na teia das relações sociais, sendo influenciado por
condições orgânicas e culturais.

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Além disso, uma das ações do psicopedagogo é a intervenção, que visa
fazer a mediação entre os alunos e seus objetos de conhecimentos, trabalhar as
relações interpessoais, bem como estimular a aprendizagem e o
desenvolvimento do aluno, numa perspectiva preventiva. Na intervenção, a ação
psicopedagógica contribui para o processo educacional, buscando compreendê-
lo, explicitá-lo ou modificá-lo. Ao introduzir novos elementos para o sujeito pensar
é possível conduzi-lo à quebra de paradigmas anteriormente estabelecidos.

A identidade do psicopedagogo brasileiro


Apresentamos neste capítulo os diferentes momentos da trajetória da
Psicopedagogia a partir da narrativa de profissionais, em especial,
psicopedagogos. Esses registros foram obtidos através de pesquisa no site da
psicopedagogia online e da Associação Brasileira de Psicopedagogia16, bem
como através da realização de estudo bibliográfico.

Primeiramente, observamos que a práxis psicopedagógica dos


profissionais/psicopedagogos estava apoiada numa visão orgânica do processo
de aprendizagem.

Assim, segundo Masini (2006)

Nessa primeira etapa da história da Psicopedagogia, todo o diagnostico


recaia sobre a criança, o que significava que nela estava o problema, sendo
então encaminhada para atendimento especializado. Esse enfoque de
diagnóstico, prescrição e tratamento, envolvendo prognóstico, trazia implícita
uma concepção de que o fim da educação era de adaptar o homem à
sociedade. (p. 249)

Nesse momento, surgem os primeiros cursos de Psicopedagogia voltados


para os problemas de aprendizagem.

Também, nesta ocasião, os primeiros psicopedagogos consistiam em


profissionais da educação, cuja prática visava reintegrar o aprendiz que estava
à margem.

Na obra Aprender a Ser, a autora argentina, Marina Müller (1986) aborda


sobre os princípios da psicopedagogia clínica. Ela explica que

16
El campo actual de la psicopedagogia es reconecer la sinuosa história
de las ideas acerca del aprendizaje, del conocimiento y sus vicisitudes, de
quién es y a qué se dedica una psicopedagoga o un psicopedagogo, quién es
un niño, una niña, un adolescente, un adulto que conocen y aprenden, qué es
aprender y qué es un problema de aprendizaje, qué es la salud psíquica en
cuanto a conocer, pensar y aprender, para qué sirve la escuela, qué es
enseñar, cómo se aprende y se enseña en contextos escolares, cotidianos y
laborales, qué es el conocimiento, qué es el saber, qué lógicas sigue la
construcción del sentido. (p.48)

Sendo assim, na Argentina, o campo de atuação do psicopedagogo é


caracterizado pelo processo de aprendizagem, como aprendem e quais
intervenções psicopedagógicas seriam adequadas se forem apresentadas
dificuldades, problema de aprendizagem, no desenvolvimento integral dos
alunos.

Na entrevista concedida a ABPP sobre a identidade da Psicopedagogia,


Mônica Hoehne Mendes, psicopedagoga paulista, afirma que:

Quando a Psicopedagogia nasceu aqui em São Paulo, voltada


principalmente para atender os distúrbios das áreas da leitura, escrita e da
psicomotricidade, estas dificuldades eram entendidas como dificuldades
especificas e voltadas para a dislexia específica de evolução. A porta de entrada
da Psicopedagogia parece ter sido a abordagem organicista, em que o orgânico
assume grande importância sobre os distúrbios de aprendizagem.

Posteriormente, constamos uma nova identidade institucional, ou seja, a


práxis psicopedagógica destes profissionais considera não apenas a abordagem
organicista, mas também, os fatores cognitivos e emocionais do
desenvolvimento do sujeito cognoscente.

Em entrevista concedida a Psicopedagogia On Line18 a pedagoga Laura


Monte Serrat Barbosa aborda a evolução da psicopedagogia ao longo destes 20
anos de prática. Ela comenta que a Psicopedagogia teve uma evolução
invejável, nestes 20 anos, pois partiu de uma preocupação com um aspecto
específico da questão da aprendizagem (a dificuldade de aprendizagem) e hoje

17
estuda o ser cognoscente como um ser inteiro, mergulhado em um contexto, com
possibilidades de aprendizagem em vários âmbitos da sociedade.

A presença de psicopedagogos argentinos tem um papel marcante nesta


passagem da visão mais orgânica para a institucionalização da Psicopedagogia,
devido o surgimento de cursos de especialização nesta área com propostas mais
objetivas e conhecimentos mais sistematizados.

Na entrevista concedida a Psicopedagogia On Line, Maria Cecília Castro


Gasparian, psicopedagoga e professora de Psicopedagogia na Pontífica
Universidade Católica de São Paulo, fala sobre a psicopedagogia institucional
enfatizando que

Em trabalhos psicopedagógicos muito recentes e em algumas


monografias que foram apresentadas no Encontro Cultural patrocinado pala
Associação Brasileira de Psicopedagogia em São Paulo notou-se uma tendência
a novas possibilidades de atuação em Psicopedagogia. São trabalhos que
apontam para uma nova abordagem sistêmica. Tem também os trabalhos de
Alicia Fernández e Sara Paín, quando falam que o indivíduo é organismo, desejo
e corpo, embora elas não se intitulem sistêmicas. Pois, quem pensa
sistematicamente, não trabalha com erros, trabalha com situações no máximo
inadequadas. Como a vida é processo, tudo é válido.

Atualmente, na Argentina, a atuação psicopedagógica está voltada para


trabalho multidisciplinar institucionalizado tanto na escola quanto no hospital.
Enquanto, na psicopedagogia brasileira, apesar de se discutir a respeito deste
trabalho multidisciplinar, pouco se vê desta atuação.

No artigo “La psicopedagogia: sus vinculaciones históricas con otros


saberes y su posición actual. Un debate necesario”, a autora Patricia S. Arias,
comenta que

La psicopedagogía desde hace décadas ha ido configurando


gradualmente sus campos de intervención, se ha instalado en el imaginário
social, forma profesionales en institutos terciarios y universitarios, es objeto de
demandas cada vez más diversas. (2007, p.55)

18
João Beauclair, escritor, psicopedagogo, Mestre em Educação,
Conferencista e Palestrante sobre temais educacionais e psicopedagógicos em
diversos congressos e Professor do Curso de Pós-Graduação em
Psicopedagogia Clínica e Institucional da Fundação Aprender (Varginha/MG)
argumenta que

Talvez o trabalho multidisciplinar institucionalizado ainda não seja prática


comum nem mesmo em outros países, com raras exceções, evidentemente. O
paradigma cartesiano-positivista ainda é o grande entrave a ser superado para
que se possa pensar em um outro modo de fazer ciência e cuidar das pessoas.
È necessário um processo longo, a ser vivenciado ainda por um bom tempo
como desafio a ser superado. O modelo argentino de Psicopedagogia, com o
trabalho multidisciplinar em escolas e hospitais também teve sua trajetória de
luta, como em muitos momentos nos apontaram Jorge Visca e Alicia Fernández.
Realmente em nosso país, está atuação ainda é restrita de fato. E um ponto
essencial para tal é a regulamentação da profissão: esta questão é primordial
para o avançar da profissionalidade do psicopedagogo. A meu ver, é um
processo muito rico a ser vivido por todos nós psicopedagogos.

Com a criação da ABPp e sua luta para que a psicopedagogia seja


legitimada como profissão, que se estende até hoje, inicia-se um momento
diferente. É neste período que as discussões entre os profissionais desta
psicopedagogia e os grupos referenciais (psicólogos e pedagogos), se instalam
a partir da preocupação com espaço dentro do mercado de trabalho.

Em 2000, Elcie F. S. Masini e Maria Lucia M. C. Vasconcellos, eram


coordenadoras da Universidade Mackenzie, numa entrevista22 realizada pela
Psicopedagogia On Line sobre o atual panorama dos cursos de pós-graduação,
elas contam que:

O curso de Pós-Graduação Lato Sensu não é tão influenciado pela Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), mas sim pelo mercado de
trabalho e pela própria dinâmica da sociedade. A ideia básica de nosso curso é
a de preparar o psicopedagogo num enfoque preventivo, ou seja, voltado para
as condições de aprendizagem. Em geral Cursos de Pedagogia e de Psicologia
estuda-se teorias da aprendizagem, ou a aplicação das teorias de

19
aprendizagem, ou pesquisas verificando a aplicação de uma certa teoria, mas
permanece uma lacuna: a de acompanhar o aluno enquanto aprendendo. É o
conhecimento sobre e o acompanhamento do ATO DE APRENDER que
priorizamos e consideramos importante na formação do psicopedagogo.

Tentamos aqui compreender os movimentos de identidade dos


psicopedagogos, assim como da Psicopedagogia, que se expressam na
construção da identidade adquirida por meio das práxis psicopedagógica.
Todavia, este estudo nos confirma a importância do psicopedagogo nos
diferentes contextos em que a aprendizagem se constitua em eixo norteador.

De acordo com Müller (1986) temos que

A cada psicopedagogo como tal, e o conjunto deles como profissão,


elaborar uma imagem do que é a Psicopedagogia, pela definição de sua
própria identidade ocupacional em conexão com a tarefa, com seus êxitos e
dificuldades. A identidade profissional deve ser elaborada através de uma
contribuição intencional e institucionalizada. Não podemos prescindir, em
nossa tarefa, nem das atividades de aprendizagem que cada psicopedagogo
realiza, em especial com respeito a seu próprio campo profissional. (p. 53)

Outro aspecto importante é que, ao invés do curso estar voltado para área
clínica, às instituições deveriam formar o psicopedagogo tanto para atuação
institucional, quanto clínica considerando a vivência nos respectivos estágios.

Para Masini (2006), os cursos de psicopedagogia deveriam ter uma


orientação teórico-prático. Ela aponta que

Os cursos necessitam ter um currículo composto de aulas teóricas e


estágios supervisionados, que constituam um espaço de discussão e reflexão
teórica sobre a prática, para que o psicopedagogo saiba, de forma
cientificamente fundamentada, o porquê utilizar um ou outro recurso para o aluno
com que está lidando. (p. 257)

Em uma aproximação inicial com a temática da constituição da


Psicopedagogia na Argentina, conduzimos esta pesquisa para a identificação de
alguns entraves presentes em sua trajetória, como por exemplo, seu campo de
atuação psicopedagógico.

20
Encontramos em Arias (2007), uma proposta a respeito ao futuro da
Psicopedagogia Argentina. Ela considera

La psicopedagogia como um conjunto de prácticas institucionalizadas de


intervención em diversos campos em los que el aprendizaje humano. De ellos
pondré en un lugar privilegiado al campo escolar; sostento está afirmación ya
que tanto en los orígenes como en el posterior desarrollo de sus prácticas, el
sujeto en su posición de alumno y las múltiples intersecciones que desde ese
lugar se producen, ha sido el gran protagonista del acto psicopedagógico. (p.
62)

Retomando a discussão, é preciso que, ao se pensar na construção de


processos teóricos voltados à prática do psicopedagogo, que ele perceba a
importância de refletir sobre sua própria práxis psicopedagógico, percebendo
que cada um de nós está a buscar novas respostas para alguns
questionamentos já anteriormente elaborados.

É nesse contexto que se instaura um movimento de mudanças de


paradigmas. As perspectivas atuais das práxis psicopedagógica ressignificam
nosso cotidiano: aprender a aprender é essencial. Consequentemente, a
identidade profissional do psicopedagogo ocorre por meio de um processo em
permanente construção. Isto é, o psicopedagogo tem muito a contribuir para a
reflexão sobre a formação de sua própria identidade e do aluno na interação
entre conhecimento e ação.

PSICOPEDAGOGIA: RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA


No sentido de compreender melhor a relação entre a teoria e prática no
campo da Psicopedagogia, foi realizado um estudo acerca de alguns pontos
chaves da prática psicopedagógico, que será apresentado neste trabalho.
Durante a pesquisa, foram utilizados alguns autores, como: Paín (1985), WEISS,
(2012), Parente (2000) que fundamentam essas práticas, a fim de construir um
embasamento teórico sobre o assunto.

O psicopedagogo realizará o seu trabalho inicialmente na busca por


informações e fatos que possam ser úteis para construir o pré-diagnóstico e o
diagnóstico, através do contato com a família. Após esta etapa de diagnóstico

21
pronto, passa a construir e aplica o plano de intervenção, com o principal objetivo
de sanar e/ou amenizar a causa do problema de aprendizagem do sujeito em
questão.

Sendo assim, a Psicopedagogia busca até hoje, compreender as


dimensões do afeto e da cognição nos problemas de aprendizagem, procurando
compreender as dificuldades e suas causas, possibilitando ao sujeito um
tratamento.

No Brasil, apesar de apenas um termo, temos duas modalidades, a


Psicopedagogia Clínica (caráter terapêutico) e a Psicopedagogia Institucional
(caráter preventivo), e enquanto uma ocorre na instituição escolar, e a outra no
consultório, não significa que a única diferença entre elas seja o local em que é
colocada em prática, e sim, o método e as características que definem cada uma.

DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da causa do problema de aprendizagem consiste na análise
do resultado de vários fatores que devem ser considerados presentes no sujeito.
Paín (1985, p. 69) diz que: “Diagnosticar o não-aprender como sintoma consiste
em encontrar sua funcionalidade. Isto é, sua articulação na situação integrada
pelo paciente e seus pais.”

No processo de diagnóstico, devemos olhar para o sujeito como um todo,


com todas as suas particularidades, no âmbito familiar e escolar, com o objetivo
de identificar o que leva o mesmo à dificuldade de aprendizagem.

CONTATO TELEFÔNICO

O contato telefônico é o primeiro contato com os responsáveis do


paciente, e é um passo importante. Primeiramente deveremos saber por que o
sujeito chegou até nós, se foi através da instituição de ensino, se foi opção da
família, e o grau de importância que a própria família está lidando com essa
situação.

A maneira como o profissional acolhe primeiro contato com a família ou o


próprio paciente é muito importante para a continuidade do processo. Pode ser
um momento “impessoal” – via secretária do consultório ou da instituição, para
simples marcação de um horário – ou pode ser um primeiro momento já com

22
grande carga emocional persecutória ou de expectativa positiva. Relembro como
exemplo dois casos bem significativos. (WEISS, 2012, p. 45).

Paín (1985) sinaliza que pelo contato telefônico conseguimos identificar a


ansiedade da família quanto ao tratamento do paciente

MOTIVO DA CONSULTA

O motivo da consulta é um dos principais pontos do início do processo do


diagnóstico, através dele podemos perceber as expectativas, medos e anseios
da família, bem como o que a mesma espera das consultas, e qual o olhar sobre
as dificuldades do paciente. Investigando o motivo da consulta, podemos
concluir se o encaminhamento foi bem aceito pela família, ou se estão ali sob a
imposição e obrigação de um terceiro, assim:

Ainda antes da entrevista propriamente dita, consideraremos a via através


da qual o paciente chegou até nós, enquanto indivíduo ou instituição; pode ter
sido encaminhado pela professora, pelo médico, por outra pessoa com um
problema parecido ao seu, por outro psicólogo, ou então movido por algum tipo
de publicidade. Isto nos será útil para esclarecer de saída, o tipo de
vínculo que o paciente pretende estabelecer ao colocar o problema como próprio
ou como imposto de fora; não é a mesma coisa dizer “eu vim consultá-lo porque
meu filho tem um problema escolar” do que dizer “vim porque a professora
mandou” ou “venho a partir do Dr. fulano”, revelando assim o grau de
independência com que o paciente assume o problema (PAÍN, 1985, p. 36).

É preferível que na sessão em que se trata sobre o motivo da consulta,


estejam presentes os pais do paciente, assim, são possíveis observar, analisar
e perceber o grau de comprometimento de ambos no problema e no tratamento,
pois nessa primeira entrevista os pais participam muito. O psicopedagogo pouco
participa, porém, apesar de não participar muito, o papel do deste profissional é
de acalmar e de confortar os pais, de deixá-los o mais a vontade possível, para
que eles sintam liberdade de expor os seus sentimentos, e com isso, o
psicopedagogo conseguirá extrair informações e tirar conclusões sobre o olhar
dos pais diante à situação.

23
Durante a entrevista em que o fundamental é buscar o motivo da consulta,
há outros aspectos que o psicopedagogo deve estar atento e tentando descobrir
e definir: a significação do sintoma na família, a significação do sintoma para a
família, as expectativas dos pais quanto à intervenção e as modalidades de
comunicação do casal diante um terceiro.

HISTÓRIA VITAL

A história vital é um ponto chave para fazermos o diagnóstico do paciente,


pois é através dessa consulta, em que a mãe contará a construção da história
do sujeito, que poderemos descobrir aspectos significativos que prejudicam a
aprendizagem do sujeito. Weiss (2012, p. 65) define a consulta sobre a história
vital desta maneira:

permitindo perceber a construção ou não de sua própria continuidade e


das diferentes gerações, ou seja, é uma anamnese da família. A visão familiar
da história de vida do paciente traz em seu bojo seus preconceitos, normas,
expectativas, a circulação dos afetos e do conhecimento, além do peso das
gerações anteriores que é depositado sobre o paciente.

O indicado é que essa consulta seja realizada após conhecermos o


paciente, e já termos realizado algumas sessões com o próprio. Normalmente a
entrevista que aborda a história vital é feita pela mãe, que é a pessoa que mais
sabe da vida do paciente desde o início, porém, há casos em que outro
responsável tem este papel, e em ambos os casos, o indicado é que a pessoa
tenha liberdade de relatar dados que julgam importantes e necessários.

Em algumas situações, as mães ocultam aspectos fundamentais para um


bom diagnóstico e/ou mudam o foco da entrevista, então, é fundamental que
tenhamos algumas perguntas pré-definidas, caso ocorra isto.

De acordo com Paín (1985), os aspectos que deveremos considerar


importantes na história vital são:

 Antecedentes natais: Pré-natais; Perinatais; Neonatais.


 Doenças: Doenças e traumatismos

24
ligados à atividade nervosa superior; Tempo de reclusão a que a criança
foi obrigada e como foi o processo; Processos psicossomáticos; Disponibilidade
física.

 Desenvolvimento: Desenvolvimento motor; Desenvolvimento da


linguagem; Desenvolvimento de hábitos.
 Aprendizagem: Modalidade do processo assimilativo-acomodativo;

Situações dolorosas; Informação; Escolaridade:

 Disponibilidade corporal (antecedentes natais e mórbidos


disposição atual, psicossomática);
 Ritmo e autonomia de desenvolvimento;
 Aprendizagem: esquemas assimilativos-acomodativos; exercício
lúdico e imitativo, história escolar e informação;
 Aprendizagem e escola na ideologia do grupo de pertenciamento.

Depois de realizada a entrevista da história vital, teremos mais dados


sobre o desenvolvimento da criança, e isso auxiliará no processo de diagnóstico.

SESSÕES LÚDICAS E ENQUADRE COM O PACIENTE


As sessões lúdicas representam um passo muito importante no processo
de diagnóstico e tratamento do paciente, tanto para o próprio sujeito, como para
o psicopedagogo. É através dos exercícios lúdicos que o especialista construirá
o vínculo com o paciente, que ele observará como o sujeito reage no momento
da brincadeira, bem como a organização do mesmo. Paín (1985, p. 51), fala
sobre a importância do lúdico:

O jogo põe em marcha uma série de possibilidades, dentre as quais as


mais equilibradas são conservadas, isto é, aquelas onde a regulação estabelece
um nível suficiente de coerência. Desta maneira só o plausível é integrado.
Assim como analisamos os esquemas práticos de conhecimento através da
atividade assimilitivo-acomodativa no bebê, a atividade lúdica nos fornece
informação sobre os esquemas que organizam e integram o conhecimento num
nível representativo. Por isso consideramos de grande interesse para
diagnóstico do problema de aprendizagem na infância, a observação do jogo do

25
paciente, e fazermos isto através de uma sessão que denominamos “hora de
jogo”.

É durante essas sessões, que o profissional deve trazer o paciente para


a realidade, dizendo-lhe dos problemas que está apresentando, confortando-lhe
com os nossos objetivos, acalmando-o com a nossa proposta de ajudá-lo. E o
principal, mostrando que ele é quem mais deve ajudar neste processo.

Devemos ter cuidado com a idade do paciente quando pensamos e


planejamos o jogo, pois as crianças com idade maior de dez anos já não aceitam
muito facilmente a proposta do jogo simbólico, preferem os jogos de regra.

Na chamada “hora do jogo”, conseguimos extrair dados importantes, e


Paín (1985) diz que estes dados correspondem a quatro aspectos fundamentais
da aprendizagem, como?

 Distância de objeto, capacidade de inventário;


 Função simbólica, adequação significante-significado;
 Organização, construção da sequência;
 Integração, esquema de assimilação.

Nas sessões de atividades lúdicas, proporcionamos à criança liberdade


de expressão, com o jogo, a imitação e a linguagem.

MODALIDADE DE APRENDIZAGEM

Para começar falando sobre as modalidades de aprendizagem, começarei


citando o que deveremos observar e analisar para traçar o tipo de modalidade
de aprendizagem do sujeito, Fernández (2001), frisa que não devemos identificar
a modalidade, e sim, desdobrar os significantes de tal modalidade. Sendo assim,
deveremos considerar:

 A imagem de si mesmo como aprendente;


 O tipo de vínculo com o objeto de conhecimento;
 O modo de construir um relato;
 O modo de recordar;

26
 A história das aprendizagens, especialmente algumas cenas
paradigmáticas que fazem a novela pessoal de aprendente que
cada um constrói;
 A maneira de jogar;
 A modalidade de aprendizagem familiar;
 A modalidade ensinante dos pais.

É válido salientar, que não há nenhum teste específico para se identificar


a modalidade de aprendizagem de um sujeito, a melhor maneira é a própria
observação, que nos possibilita percebê-la.

Podemos distinguir três grupos de modalidades de aprendizagem que


perturbam o sujeito:

1. Hipoassimilação - Hipoacomodação;

2. Hiperassimilação - Hipoacomodação;

3. Hipoassimilação - Hiperacomodação. Paín (1985, p. 47) define da


seguinte forma:

 Hipoassimilação: nesta sintomatização ocorre uma assimilação


pobre ou baixa, o que resulta na pobreza no contato com o objeto.
 Hiperassimilação: sendo a assim ilação o movimento de
adaptação que permite a alteração das informações fornecidas
pelo meio, para que possam ser incorporadas pelo sujeito, na
aprendizagem sinto matizada pode ocorrer um exagero desse
movimento, de forma que o sujeito não se submete ao aprender.
Nesse movimento, há o predomínio dos aspectos subjetivos sobre
os objetivos;
 Hipoacomodação: a acomodação consiste em adaptar -se para
que ocorra a internalização. A sintomatização da acomodação
ocorre pela resistência em acomodar elementos do meio
(informações), que pode ser definida como a dificuldade de
internalizar os objetos;
 Hiperacomodação: se acomodar significa internalizar os
elementos do meio (informações), o exagero nesse processo pode

27
levar a uma pobreza de contato com a subjetividade, levando à
submissão e à obediência a crítica às normas; assim, a modalidade
de aprendizagem representa uma forma de relacionar-se, buscar e
construir conhecimentos, como o sujeito se posiciona diante de si
mesmo.

DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO
É importante que o diagnóstico operatório ocorra depois de um vínculo
formado entre o profissional especializado e o paciente, pois é preciso que o
paciente aja de uma maneira confortável, sentindo-se confiante, para tornar
resultado efetivo. As provas operatórias foram criadas por Jean Piaget, a fim, de
identificar em que nível de estrutura a criança se encontra e para isso, cada nível
de desenvolvimento, possui uma série de provas. Piaget (1975), quando explica
sua teoria sobre o desenvolvimento da criança, descreve-a, basicamente, em
quatro estados, que ele próprio chama de fases de transição. Essas quatro fases
são:

 Sensório motor (do nascimento aos 2 anos): no primeiro estágio,


nos dois primeiros anos de vida, são características mais
marcantes do comportamento infantil, aquelas relacionadas à
ausência da linguagem e da representação interna;
 Pré – operacional (dos 2 aos 7 anos): é caracterizado por uma
acentuada melhora no entendimento da criança sobre o mundo e
pelo aparecimento da linguagem, que está diretamente relacionado
aos aspectos intelectuais, afetivos e sociais;
 Pré-conceitual (dos 2 aos 4 anos): é marcado pela capacidade de
a criança compreender todas as propriedades das classes;
 Intuitivo (dos 4 aos 7 anos): é caracterizado, principalmente, pela
percepção, já que, nessa idade, a criança já possui uma
compreensão mais completa dos conceitos, e apesar de não
raciocinarem mais de modo transdutivo, a lógica ainda não é
dominante;
 Operações concretas (dos 7 anos aos 11 ou 12 anos): até este
estágio, as crianças ainda não conseguem raciocinar com
operações, com base em Piaget, Lefrançois (2008) define o termo

28
operação como uma atividade interiorizada, um pensamento
sujeito a certas regras da lógica, como reversibilidade, identidade
e compensação;
 Operações formais (dos 11 aos 12 anos ou dos 14 aos 15 anos):
as operações formais representam uma evolução extremamente
importante em relação às operações concretas, pois nesta fase, as
crianças já aplicam a lógica aos objetos reais ou que são
imagináveis.

Cada estágio pode ser caracterizado pelo desenvolvimento de novas


capacidades, descrito pelas principais características identificadoras das
crianças, naquele determinado período e pela aprendizagem que ocorre antes
da transição e evolução para próximo estágio. Ressalta-se que apesar de todos
os indivíduos passarem por todas as fases na sequência, o início e término
dependem de outros fatores, como as características biológicas de cada um.

DIAGNÓSTICO PROJETIVO
O diagnóstico projetivo que se dá através das provas projetivas, tem o
objetivo de analisar a relação do sujeito com a aprendizagem, bem como as suas
manifestações. Paín (1985), quando fala nas provas projetivas, diz que para
traçarmos o diagnóstico dos problemas, devemos examinar os conteúdos
manifestos e as relações do paciente com os seus sentimentos, sejam eles
agressivos e/ou de medo associados às situações representadas.

A instrução de provas projetivas, impõe também ao paciente uma situação


que terá de resolver através de uma construção na representação ou na fantasia,
uma mais relacionada com a imagem, a outra com a assimilação simbólica,
lúdica e verbalizada. Nesta resolução deve equilibrar-se a ansiedade que o
estímulo desperta e a instrução com o nível de realidade da situação proposta.
(PAÍN, 1985, p. 61).

Com as provas projetivas, torna-se possível avaliarmos a capacidade de


pensamento do paciente para fazer construções, bem como, suas manifestações
de sentimentos, e deverá ser considerado inclusive, quando o paciente não
consegue mostrar coerência. Devemos analisar três aspectos:

29
 Desenho da figura humana: o corpo é um instrumento de ação
sobre o mundo, e quando o sujeito o desenha, representa este
instrumento por esse meio;
 Relatos: criação de história ou simplesmente antecipar seu final; •
Desiderativo: hierarquização significativa dos elementos vegetais,
animais e objetos.

Paín (1985, p. 62) cita a importância do desenho do paciente:

já que o sujeito não desenvolve justamente aquelas estruturas que lhe


permitem coordenar a realidade. Na medida em que sabemos que o sujeito é
possuidor destas estruturas, está disfunção pode parecer um encobrimento,
sendo que a criança que não aprende só esconde uma coisa, e está coisa é que
ela sabe.

Por fim, no diagnóstico projetivo, focaremos nos recursos simbólicos que


o paciente usa para fazer representações, a sua modalidade de inventar,
organizar e integrar na fantasia e as suas perturbações de identidade e de
negação.

DIAGNÓSTICO LECTO-ESCRITA
O diagnóstico do paciente nas áreas da leitura e da escrita é fundamental
no trabalho do psicopedagogo, e muitas vezes, a dificuldade de aprendizagem
está relacionada a estas duas áreas, normalmente quando se trata de crianças
nos anos iniciais. A nossa cultura exige que o indivíduo saiba ler e escrever,
desde o nascimento a criança entra em contato com o mundo das letras, e é a
escola que tem obrigação de ensiná-las, porém, muitas crianças apresentam
dificuldade nisso.

Parente (2000), diz também que para diagnosticarmos um problema de


leitura devemos considerar alguns aspectos:

 O domínio visual;
 O domínio perceptivo-motor;
 A organização do espaço;
 A integração da linguagem falada;
 A competência semiológica;

30
 A avaliação consciente e inconsciente que o sujeito faz da
leitura.

A linguagem escrita nos possibilita a comunicação, a compreensão e a


decodificação de textos. Para que a criança tenha uma aprendizagem efetiva na
leitura, ela deverá ter também na escrita, pois para escrever, precisamos ler. A
dificuldade de escrita pode estar relacionada com problemas de falas, e para
isso, será necessária uma avaliação fonológica. Quando falo em avaliação
fonológica não me refiro a uma avaliação totalmente específica de um
profissional na área, me refiro à fala básica da criança.

Para levantarmos qualquer hipótese referente à dificuldade de escrita,


consideramos previamente o histórico do sujeito, para posteriormente
realizarmos o diagnóstico informal da escrita, onde nos interessa observar tipo e
a quantidade de erros do sujeito. Assim, A análise de erros pode ser
especialmente informativa, posto que nos dizem se acontecem no contexto de
uma frase ou não, se acontecem como consequência de uma aplicação
excessiva de regras de transformação de fonema a grafema – caso dos
diagnósticos superficiais -, se acontecem lexicalizações ou conversões de
palavras funcionais em palavras – caso dos diagnósticos fonológicos -, se
acontecem dificuldades no significado das palavras ou no sistema semântico –
caso dos digráficos profundos -, etc. (GARCÍA, 1994, p.2 01).

Sendo assim, devemos avaliar as condições de leitura e escrita do


paciente, traçando um diagnóstico para realizarmos uma possível intervenção,
quando necessário.

MOVIMENTO CORPO E EXPRESSÃO


Quando falamos em crianças, logo nos remete a ideia delas brincando,
correndo, movimentando-se, ou seja, no processo de diagnóstico e tratamento
de um paciente com dificuldades de aprendizagem, não podemos deixar de lado
este aspecto tão importante, o corpo do mesmo.

Seu desenvolvimento se processa através das influências mútuas entre


esses três aspectos – cognitivo, emocional e corporal – e qualquer alteração que
ocorra em um destes se refletirá nos demais. (GOMES, 1994, p. 127).

31
Através do corpo as crianças brincam, imitam, constroem, se relacionam
com o mundo, se expressam e se comunicam, e este movimento do corpo está
presente na criança desde o nascimento, e a tendência é que continue
amadurecendo, conforme o passar dos anos. Por isso, é fundamental
observarmos os movimentos dos pacientes, as suas condutas motoras, a fim, de
fazer uma avaliação psicomotora.

Conforme dito anteriormente, ocorre uma alternância dos campos


funcionais no decorrer dos estágios entre a afetividade e a cognição. A primeira
especialmente implicada na construção do sujeito predomina nos estágios
impulsivo-emocional, tônico-emocional, personalista e na puberdade e
adolescência. Já a cognição especialmente implicada na construção do mundo
apresenta-se predominantemente nos estágios sensitivo-motor e escolar ou
categorial. (CARVALHO, 2003, p. 86).

Falar em corpo nos lembra da afetividade, e é aqui que se encontram as


manifestações de ordem afetiva, através dos movimentos do corpo e da
expressão do sujeito diante o outro.

Para avaliarmos psicomotoramente uma criança, não precisamos de


exercício de motricidade específicos, é possível avaliarmos pela observação do
paciente nas suas ações motoras, durante as sessões, enquanto realiza as
atividades propostas. Não podemos esquecer de considerar os aspectos
genético, se há casos de defasagem nesta área na família, pois isso pode
implicar na maturação da motricidade da criança.

CONTATO COM A ESCOLA E OUTROS PROFISSIONAIS


O contato com a escola tem por objetivo investigar o gênero de ensino
presente na instituição, observando assim se atende à demanda da
singularidade do sujeito, ou se apenas refere-se a uma determinada modalidade
de aprendizagem.

Por isso, torna-se essencial a visita do profissional à escola do paciente,


para conhecimento de como o sujeito é visto dentro da instituição, o que há para
beneficiá-lo e o que prejudica o mesmo perante a aprendizagem. Porém, não é
fácil chegarmos numa instituição de ensino apontando os erros que ela contém,
na verdade, nem temos o direito de fazer isso. Para Fernández (1991) a,

32
devemos contatar a escola com o objetivo de aproximar as necessidades do
sujeito, frisando que a intervenção está focada nas dimensões do corpo,
organismo, da inteligência e do desejo.

O que podemos fazer é apontar os aspectos que não estão de acordo


com a modalidade de aprendizagem do nosso paciente, orientando, auxiliando
e sugerindo opções de mudanças que possam ajudar na melhora da
aprendizagem do paciente.

Muitos dos pacientes frequentam outros profissionais, e como é de


extrema importância contato com a família, é muito importante também o contato
com estes profissionais, pois assim trabalharemos em conjunto, ajudando em
coletivo o sujeito nas diversas áreas.

HIPÓTESE DIAGNÓSTICA
Após realizados os primeiros passos para diagnosticarmos o motivo do
problema de aprendizagem, como a história vital, as sessões lúdicas, entre
outros, construímos a hipótese diagnóstica, que se resume em buscar o “para
que” do sintoma, o “por quê” e o “como” do processo de aprendizagem.

Weiss (2012, p. 31), diz que o sintoma representa muito:

Podemos dizer que o que é percebido pelo próprio indivíduo ou pelos


outros é chamado de sintoma. O sintoma está sempre mostrando algo, é um
epifenômeno. Com o sintoma o sujeito sempre “diz alguma coisa aos outros”, se
comunica, e “sobre o sintoma sempre se pode dizer algo”. O sintoma é portanto,
o que emerge da personalidade em interação com o sistema social em que está
inserido o sujeito.

Para isso é importante considerarmos todos os dados coletados até o


momento, para que possamos traçar essa hipótese diagnóstica o mais correta
possível.

DEVOLUÇÃO
Acredito que o momento da devolução, possa ser considerado o momento
mais importante para a família, que espera ansiosa para saber o que o
profissional “descobriu”, como ele agirá, à quais conclusões ele chegou.

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Devolução é uma comunicação verbal feita ao final de toda a avaliação,
em que o terapeuta relata aos pais e ao paciente os resultados obtidos ao longo
do diagnóstico. É uma análise da problemática, seguida de sínteses
integradoras, que devem ser repetidas sempre que sejam acrescentadas novas
informações, e de algum modo se rearrumando a situação no sentido da
diminuição das resistências (WEISS, 2012, p. 137).

A devolução deve ser feita primeiramente com o paciente, e depois com


os pais, bem como, com a escola, quando a mesma encaminha o paciente para
o especialista. É um momento muito delicado, pois muitas vezes foco do
problema de aprendizagem não está diretamente no sujeito, e sim ligado a
pessoas ao redor dele, e cabe a nós, alertá-los sobre isto.

Quando fazemos a devolução, devemos relembrar sobre o que já foi dito


anteriormente no consultório, assim como resgatar as regras do processo de
auxílio e fazer novas combinações para o tratamento tornar-se eficaz.

INTERVENÇÃO
Quando o diagnóstico está concluído e aceito pela família e paciente, é
hora de determinarmos o tratamento que se adequa a esta dificuldade de
aprendizagem específica.

Quando já não se pode negar que o homem é sujeito a uma ordem


inconsciente e movido por desejos que desconhece, falar do tratamento
psicopedagógico significa muito mais que discorrer sobre métodos definidos de
reeducação (BOSSA, 1994, p. 78).

A intervenção baseia-se nas diversas atividades que o profissional


trabalha com paciente, a fim, de intervir diretamente no processo de
aprendizagem do mesmo. Rubinstein (2003), diz que nós devemos procurar
verificar como o paciente interage com as atividades que lhe são propostas.

Há diversos tipos de atividades, diversas maneiras para conduzir a


intervenção do sujeito, e não requer muito mistério, muito material específico,
pode ser através de simples recursos, jogos, brincadeiras, desenhos, escrita,
conversa, dentre outros. Devemos estar atentos ao problema do paciente, pois
cada um tem suas particularidades, e cada intervenção deve respeitar os limites

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e os desejos do mesmo. Paín (1985, p. 74) diz que “Nem sempre é fácil
determinar o sentido do problema de aprendizagem no quadro total, nem a opção
terapêutica é tão clara.”.

O objetivo do tratamento é que a criança evolua no aspecto em que se


encontra em defasagem, e normalmente as crianças que são encaminhadas
para um atendimento psicopedagógico apresentam problemas na escola.
Porém, toda a família é beneficiada com tratamento do paciente, pois muitas
vezes o que desencadeia o problema está na família, e no sujeito age apenas
como um sintoma.

O tratamento psicopedagógico adquire sentido na ação institucional. Isto


permite uma rápida orientação destinada aos pais, seja para seu ingresso num
grupo, seja para uma terapia familiar ou de casal; garante um bom controle do
aspecto orgânico e neurológico, oferece possibilidades de diálogo quando o
paciente recebe mais de uma atenção e assegura a complementação integrada
de outras técnicas pedagógicas, sejam elas expressivas, ocupacionais, etc
(PAÍN, 1985, p. 75).

Paín (1985), diz que há seis passos importantes neste processo:

 Organização prévia da tarefa;


 Graduação;
 Autoavaliação;
 Historicidade;
 Informação;
 Indicação.

O que se deve haver é a finalidade de auxiliar o paciente no seu processo


de aprendizagem, eliminando o que atrapalha e mostrando-lhe que sempre é
possível vencer as barreiras.

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