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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO – FAJOPA – 2021 – PROF. Pe.

DIRCEU MONTOVANI

A psicologia da educação e seus elementos


essenciais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Apreender a concepção de psicologia da educação.


• Articular a psicologia da educação com suas diretrizes e bases.
• Explorar os elementos essenciais da psicologia da educação.

Introdução
A psicologia da educação é também conhecida como psicologia escolar ou
psicologia educacional e é uma área de conhecimento da psicologia que se articula ao
campo educacional. Com vistas a buscar compreender o modo como os sujeitos se
relacionam e se comportam ao mesmo tempo em que desenvolvem sua aprendizagem.
Neste capítulo, você vai acompanhar como surgiu e foi concebida a psicologia da
educação, bem como acompanhar suas diretrizes e bases norteadoras. Por fim,
conhecerá quais elementos são essenciais para sua atuação.

Psicologia da educação
A psicologia da educação envolve os princípios da psicologia e apresenta
interesse nos comportamentos humanos e em como estes são influenciados por
processamentos mentais. Ou seja, como cada sujeito se manifesta em seu viver levando
em conta seu modo único de perceber a vida. Desse modo, é possível conectar estes
princípios às premissas da educação, considerando primordialmente os processos aos
quais os sujeitos disponibilizam para o desenvolvimento da aprendizagem e para a
aquisição de conhecimento.
O ponto de encontro entre a psicologia e a educação ocorre ao entender que os
sujeitos são constituídos também pela cultura estruturada ao longo da história da
humanidade: humanizando-se por meio do vínculo e do pertencimento ao universo em
que está inserido. Os sujeitos são seres sociais e a educação age como tessitura para a
absorção do mundo em que o sujeito vive em si mesmo.
A psicologia e a educação acompanham a história do pensamento humano.
Podemos observar que desde que se possuem registros sobre o desenvolvimento do
pensamento a psicologia e a educação caminham juntas. Ao lembrarmos os tempos
mais remotos, por meio dos registros tribais nas cavernas sinalizando uma organização
civilizatória com intenção de propagar os conhecimentos adquiridos seja por meio de
observação ou vivências, percebemos os primeiros indícios de que a educação
acompanha toda a evolução da espécie humana. Como exemplo disto, podemos

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observar as pinturas da Figura 1 a seguir, na qual um grupo de adultos, crianças e


animais interagem, parecendo comunicar-se com o uso das mãos e dos braços.

Figura 1. Exemplo de pintura primitiva demonstrando a necessidade humana de interação.


Fonte: Chaiwu / Shutterstock.com

Na Grécia antiga, com o surgimento do pensamento crítico, o filosofo Sócrates estimula


o desenvolvimento do processo de pensar, por meio de um aprendizado que ocorre com
questionamento; esse processo atraía multidões, que se aproximavam para observar e aprender
seus métodos, fazendo emergir o que mais tarde os filósofos nomeariam como maiêutica. Este
movimento de Sócrates, que se disponibilizava a fazer perguntas em uma praça pública, inspira
o surgimento de academias do pensamento, com seu discípulo Platão e em seguida com
Aristóteles, e o Liceu, já configurando um estabelecimento de ensino (MEIRA; ANTUNES, 2003).

Sob a perspectiva de que a escuta como ferramenta prática da psicologia surgiu com os
métodos de Sócrates, bem como tais métodos serviram de motivação para a aquisição de
conhecimentos e uma consequente busca por uma visão de mundo mais ampla, é possível
imaginar que tanto a psicologia quanto a educação vieram do mesmo “berço” e que, por isso,
possuem articulações desde a antiguidade.

A psicologia da educação tem seu surgimento como área da psicologia na metade do


século XX, constituindo-se ao articular teorias de conhecimento a uma proporcional ação
pedagógica preferencialmente conectada a interesses e particularidades da sociedade. Desta
maneira, a psicologia da educação se delineia por meio de um campo de atuação, cujo objeto
são as relações estabelecidas entre os sujeitos e os processos de aprendizagem, e cujo foco da
análise, do diagnóstico e da intervenção são os sujeitos e a acomodação de conhecimentos, bem
como os sujeitos e a sua relação com o meio educacional, não restringindo seu cenário somente
ao âmbito escolar, mas sim explorando diversos outros, como instituições, organizações e
espaço público (MEIRA; ANTUNES, 2003).

No entanto, a efetiva atuação da psicologia da educação necessita de um olhar mais


ampliado bem como constante problematização do seu campo, sendo ambos cuidados
indispensáveis para que não reduza sua prática a aspectos ligados ao controle de problemas ou
distúrbios que visam o atendimento a demandas estabelecidas pelo ambiente escolar ou
organizacional. A psicologia da educação possui compromisso com o sujeito: assim, seu
desempenho deve potencializar a inclusão e o respeito às diferenças de cada sujeito.

Desta maneira, ao respeitar as demandas individuais de cada sujeito, a psicologia da


educação pode ampará-lo considerando sua natureza social e pedagógica e atuando por meio

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de pesquisas, análise, planejamento, diagnóstico e desenvolvimento de intervenções com foco


na prevenção ou na promoção dos processos de ensino-aprendizagem. O psicólogo educacional
incorpora seus saberes a uma equipe interdisciplinar, buscando e facilitando a integração entre
diversas áreas de conhecimento com vistas a auxiliar no desenvolvimento integral do ser.

A psicologia da educação fundamenta sua atuação por meio das bases conceituais de
teóricos da filosofia, com seu passado influenciador da história do pensamento, e da prática da
pedagogia, com sua atenção aos modos de aquisição e apreensão dos conhecimentos:

Psicologia: conceituando comportamentos e seus processos mentais;


Filosofia: com sua busca pelo saber e conhecer;
Pedagogia: visando a efetivação da educação.

Diretrizes e bases da psicologia da educação


Ate à década de 1980, a psicologia na educação foi fortemente influenciada pela atuação
clínica da psicologia. O ambiente de ensino era visto como extensão do setting terapêutico, em
que a psicologia restringia a sua atuação à análise diagnóstica limitada a intervenções corretivas
(MALUF; CRUCES, 2008).

As pesquisas desenvolvidas até este momento eram reflexo de uma sociedade à sombra
da ditadura e influíam de maneira tecnicista e restrita, descontextualizada e pouco crítica,
principalmente em ações com as camadas mais pobres e fragilizadas. A psicologia começa a
despertar seu olhar para aspectos sociais e, consequentemente para a educação, a partir da
década de 1990, buscando problematizar a universalidade de teorias psicológicas, bem como
suas métricas avaliativas e expandindo seu olhar sob a interdisciplinaridade como ferramenta
para a compreensão do sujeito em meio a sua subjetividade. Houve uma necessidade de ampliar
a escuta mediante as mudanças que iniciavam esse despertar e, a partir disto, as universidades
buscaram reformular seus currículos para o curso de psicologia, inserindo disciplinas teóricas e
práticas de acordo com as necessidades emergentes para uma formação qualificada (MALUF;
CRUCES, 2008).

Esta mudança mais significativa da psicologia com enfoque na educação foi resultado
das pesquisas realizadas na época. Inúmeras delas foram realizadas pelo órgão regulador da
psicologia no Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), criado a partir da Lei nº 5.766 de 20
de dezembro de 1971, juntamente com os conselhos regionais de psicologia, sendo
determinados a orientar, disciplinar e fiscalizar a prática profissional da psicologia, assim como
acompanhar a sua aplicabilidade de acordo com o código de ética e disciplina da profissão. O
CFP determina a consolidação de resoluções relativas à especialização em áreas onde a prática
da psicologia possa se efetivar respeitando os avanços da ciência psicológica, a partir da escuta
às emergências no despertar de áreas de conhecimento para a atuação do profissional de
psicologia. Dentre estas áreas, podemos destacar a psicologia da educação com suas práticas
ramificadas dentro de duas modalidades: a psicologia escolar/educacional e a psicopedagogia.

• O psicólogo especialista em Psicologia Escolar/Educacional desenvolve suas


práticas no contexto da educação formal, em todos os níveis de ensino, ou seja,
da educação infantil a pós-graduação, produzindo pesquisas, realizando

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diagnósticos e intervenções preventivas ou disciplinares ajustadas as


necessidades do sujeito ou do grupo.
• O psicólogo especialista em Psicopedagogia atua na análise e no
desenvolvimento de intervenções com ênfase nos processos de aprendizagem
de habilidades e competências. Almejando o entendimento dos processos
cognitivos, emocionais e motivacionais, integrados e contextualizados na
perspectiva social e cultural intercorrentes.

Ambas as áreas buscam reconhecer os sujeitos com suas diferenças, potencializando o


modo de aprender em meio às características individuais construídas a partir do contexto no
qual está inserido. Assim é possível perceber um traço significativamente marcante da psicologia
da educação, sua atuação intrinsecamente social, conspirando para um fortalecimento da busca
por garantias de qualidade e direito a equidade.

Com vistas a apoiar a prática com atuação na educação, as pesquisas mais recentes
apontam uma preocupação com a necessidade de atualizar constantemente os cursos de
psicologia cuja ênfase seja a formação continuada de profissionais dispostos a atuar com
educação, aspecto considerado essencial para a prática educativa com qualidade. Assim, deve-
se dar atenção integral para as progressivas transformações sociais, bem como para o
acompanhamento das demandas emergentes no contexto educacional, tanto do educador,
quanto do órgão educativo ou da escola ou organização.

Desta maneira, podemos destacar como indispensável para a prática tanto o percurso
formativo quanto a sua constante renovação. É importante reforçar sua fundamentação sob os
princípios da interdisciplinaridade, da ética e da sensibilidade para a contextualização social e
afetiva.

Elementos essenciais da psicologia da educação


A psicologia da educação sustenta sua prática sobre os processos de aprendizagem,
buscando potencializar meios de efetivar seu desenvolvimento de maneira plena e satisfatória
com atenção as características individuais de cada ser. Considerando primordialmente os
processos mentais envolvidos, a psicologia da educação possui como norteador alguns
elementos que considera essencial, para a dinâmica de sua atuação, tais como: a afetividade, a
atenção, as emoções, as motivações, as percepções e a personalidade dos sujeitos envolvidos.

A afetividade se constitui como elemento essencial permanente e promotor de uma


tessitura entre os demais elementos. Preliminarmente a afetividade emerge marcada por
fatores individuais e orgânicos para em seguida, ao longo do desenvolvimento se definir como
reflexo do contexto. Através e em meio à afetividade é despertada a atenção conectada aos
interesses de cada sujeito.

A atenção é estabelecida de acordo com as emoções e motivações. As emoções e


motivações partem do âmbito individual e se comunicam com o contexto social de acordo com
o desenvolvimento da afetividade. Para a apreensão das motivações tanto de si, com a
assimilação das emoções, como do meio, com o despertar da atenção para o processamento
das informações ofertadas, ocorre uma expansão das percepções.

A percepção depende de órgãos dos sentidos, como: tato, olfato, paladar, visão e
audição, e também de aspectos mais subjetivos como o clima afetivo e emocional do contexto.
Não é possível uma aprendizagem passiva, os processos educacionais ocorrem sempre de

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maneira ativa e com dinâmicas pluralizadas. Por se constituir como centro receptor e produtor
de percepções, cada sujeito se encontra em constante desenvolvimento de si, de sua
personalidade e de seu modo de existir no mundo através das aprendizagens. Desta forma, a
aprendizagem auxilia o sujeito a se conceber, bem como sua concepção permeia seu modo de
aprender.

A psicologia da educação possui como referência as teorias da psicologia em torno do


comportamento, suas premissas, intenções e motivações e utiliza essas teorias como apoio para
a atuação em favor da eficiência do processo de aprendizagem, considerando como ponto de
potência sua relação com o ensino. Além disso, visa analisar as relações entre ensino-
aprendizagem e as relações educacionais, assim como os fatores determinantes entre ambas
(BECKER, 2001).

Educador e educando são os protagonistas para os estudos da psicologia da educação,


mas o papel da instituição ou da organização é determinante para a compreensão dos processos
de ensino-aprendizagem com amplitude. Desta maneira, a produção de conhecimento da
psicologia da educação surge como ferramenta instrucional também para os educadores em
favor da compreensão destes, sobre seus métodos e sobre seus educandos.

Para a psicologia da educação, a observação dos aspectos mais amplos de


funcionamento dos sujeitos, com auxílio da compreensão dos elementos essenciais, é
fundamental para a análise das dinâmicas de ensino-aprendizagem, em que, posteriormente,
pode ser desenvolvido um diagnóstico que estruturará uma intervenção. Sendo assim, sua
atuação não se restringe a conhecer o educando, mas a entender o desenvolvimento das
relações que permeiam todo o âmbito educacional, por exemplo, entre educando-educando,
educador-educando, educando-método de ensino, educador- instituição/organização,
educador-educador, entre outras relações que possam emergir.

EXEMPLO:
Todas as relações estabelecidas dentro do ambiente de aprendizagem contribuem e
acentuam desejos de permanência ou repulsa a estar neste ambiente e desenvolver sua
aprendizagem. A relação que o educando estabelece com os colegas, com o educador, com a
instituição/organização e com o método está intimamente ligada às suas motivações sobre o
aprender e pode contribuir a emergir alguma repulsa ao processo.

Imagine se você não sentisse afinidade com nenhum colega, ou não se sentisse acolhido
pelo educador, ou ainda se os métodos de ensino lhes causassem desconforto ou antipatia. Você
aprenderia com a mesma rapidez e fluência?

REFERÊNCIAS

ANDRADA, E. G. C. Focos de intervenção em psicologia escolar. Psicologia Escolar e


Educacional, Campinas, v. 9, n. 1, p. 163-165, jun. 2005. Disponível em: . Acesso em: 30 out.
2017.

BECKER, F. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.

MALUF, M. R.; CRUCES, A. V. V. Psicologia educacional na contemporaneidade. Boletim


- Academia Paulista de Psicologia, São Paulo, v. 28, n. 1, p. 87-99. Disponível em: . Acesso em:
30 out. 2017.

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MEIRA, M. E. M.; ANTUNES, M. A. M. Psicologia escolar: teorias críticas. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2003.

Leituras recomendadas
BRASIL. LDB: Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Senado
Federal/Coordenação de Edições Técnicas, 2017.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Nacional de Educação. Conselho


Pleno. Resolução nº 2/2015. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial
em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e
cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Brasília, DF: CNE, 2015.
Disponível em: < http://pronacampo.mec.gov.br/images/pdf/ res_cne_cp_02_03072015.pdf>.
Acesso em: 26 out. 2017.

FERNÁNDEZ, A. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artmed, 1991

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