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Introdução
Em nosso labor educacional desenvolvemos e aplicamos as ideias de Garcia Hoz e Pierre Faure,
expoentes da educação personalizada. Neste ensaio defendemos a tese de que a
personalização educacional proposta por nossos autores, adaptadas à nossa realidade
profissional, está eloquentemente harmonizada às propostas de um ensino que valoriza o
diálogo, que fomenta a reflexão e a pesquisa e, ainda, que segue uma condução baseada na
estrita observação dos quatro princípios da teoria Um. Tais princípios, como preconiza Perkins,
devem fazer parte da efetiva prática de ensino adotada por qualquer boa metodologia
educacional. Desta forma, em nossa prática, no ensino de filosofia para o curso técnico
integrado do Instituto Federal de educação, de uma forma um tanto intuitiva, integramos tais
princípios afins , como demonstraremos nas linhas que se seguem. A educação personalizada
que aplicamos não é um método mas um concepção educacional que pode e deve dialogar
com todo esforço pedagógico e metodológico aplicado ao atendimento do pleno
desenvolvimento do educando. Vamos nos valer da descoberta antropológica de Victor Frankl
e da epistemologia da complexidade que encara a realidade em suas múltiplas cores e
dimensões, esperando entregar ao “final” o resultado de um esboço de uma prática integral,
em pleno processo de aperfeiçoamento.
Parks, o autor del la escuela inteligente, nos propõe a reflexão de que o problema da crise na
educação não está no método(como), mas no curriculum( o que), justamente porque existe
uma miríade de métodos excelentes, apenas não os aplicamos eficientemente. Mas, longe de
culpabilizar o educador, destaca as péssimas condições de trabalho e os currículuns
engessados. Estamos de pleno acordo com nosso autor- em nossa experiência no Instituto
Federal- é fácil assinalar o impacto das ótimas condições de trabalho, isto é, temos uma
carga horária reduzida e liberdade para trabalharmos os conteúdos e os métodos. N a teoria a
educação personalizada preconiza uma educação integral, isto é, que atenda o educando em
suas múltiplas dimensões biológica, psíquica, social e espiritual.(racional, afetiva e simbólica)
Como isto pode ser possível apenas com uma abordagem conteudista de aulas positivistas
que devem ser memorizadas, no caso das áreas de humanas; e praticadas, como nas áreas de
exatas, porém, sem reflexão? Os conteúdos e métodos devem estar a serviço do
desenvolvimento do educando, e não o contrário. Além disto, façamos uma distinção
essencial: educação personalizada não é ensino personalizado ,este , por sua vêz, ainda que
absolutamente desejável para uma formação integral, não esgota a singularidade de uma
educação integral. Esta pretende estimular a pessoa humana como um todo, inclusive e, talvez
principalmente, a dimensão dos valores( a dimensão espiritual de Frankl).O que devemos
ensinar? A pergunta de Perkns não é retórica, como pode parecer à primeira vista; antes , nos
coloca diante daquilo que deve ser objeto de uma escolha curricular essencial, tratando-se de
atividade escolar. Neste caso, nosso trabalho se concentrou em ensinar aquilo que queremos
que os educandos aprendam, e não, como nos ensina Praks, esperar que os educandos
aprendam aquilo que não ensinamos. Em outras palavras, se queremos que os alunos, no
nosso caso, relacionem a filosofia com a vida prática, precisamos ensiná-los, e não esperar que
este conhecimento “apareça” no momento de uma avaliação positivista baseada em média
empirica. Então, se na teoria pretendemos o desenvolvimento de uma ideia antropológica
mutidimencional e personalizada , na prática, precisamos dos meios que permitam que esta ”
ideia” se materialize em “sala de aula” . Para começar, a própria sala de aula, no nosso caso,
foi repensada para fins de personalização; na verdade, estimulamos os desenvolvimentos
metodológicos , na sua maioria, fora da sala de aula. Não desprezamos as intervenções verbais
do professor em sala, apenas reduzimos ao essencial e eficiente em benefício da autonomia. O
professor interage também e , prioritariamente, como tutor e mediador. Queremos que os
educandos aprendam conceitos filosóficos, mas sobretudo, vivenciem ideias- como arquétipos
– na construção de conhecimentos, habilidades intelectuais e de valores humanos. Para este
fim, adotamos algumas metodologias- não sabemos se as melhores- que atendem este e os
demais fins da educação personalizada, os quais descreveremos oportunamente. Na prática,
uma única metodologia holística dificilmente atende a pessoa humana no seu
desenvolvimento integral e, talvez , formalmente nem a soma das várias metodologias, afinal,
do ponto de vista da teoria epistemológica da complexidade de Edgar Morin, que adotamos :
O todo tomado como maior do que a soma de suas partes, só pode sê-lo, na medida em que
suprime as propriedades emergentes das partes, isto é, a personalização para ser integral
precisa superar os dois reducionismos: o mecanicismo( O todo é a soma das partes) e a teoria
sistêmica( O todo é maior que a soma das partes ).
Como, então, integrarmos uma visão de educação que também valoriza a criatividade
com práticas pedagógicas centradas no “Magister dixt” (O mestre disse) e na visão
filosófica antropológica da tábula rasa de John Locke?
Para Piaget (1972, apud Antunes,2014) não existe contradição entre conhecimento e
criatividade, propondo três estratégias para integrá-las:” estímulo para que a criança
trabalhasse sozinha por algum tempo; a segunda, fornecimento de ajuda para que ela
pudesse dispor de todas as informações possíveis sobre o objeto da criação pretendida; e
a terceira, reconhecendo sempre em nós um “adversário”, crítico agudo que conduz ao
aprimoramento”. Assim como também não existe, para Arendt (1958), contradição no
propósito da educação de desenvolver autonomia ao mesmo tempo que cumpre a
finalidade de apresentar o mundo ao educando. Para Arendt (1958), “a educação é o
ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a
responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse
a renovação e a vinda dos novos e dos jovens”. É necessário, portanto, que rechacemos
a uniformização do educando-corolário da educação centrado no professor e na visão da
tábula rasa- obviamente porque é anti- criativa, acrítica, negativamente conservadora e
focada em duas únicas formas de inteligência, a saber, a linguística e lógico matemática.
Não é possível conciliar na prática uma educação uniformizante com uma educação que
pretenda desenvolver a criatividade do educando, a autonomia crítica e a inovação. Uma
visão filosófica integral do ser humano, dessarte, não pode prescindir de uma pratica
pedagógica personalizada; todavia é imperativo que não confundamos pedagogia
personalizada com prática pedagógica individualizada. Na primeira utilizamos os
recursos teóricos e didáticos universalizados pela ciência pedagógica, psicologia do
desenvolvimento, sociologia, biologia e pela filosofia para promover o pleno
desenvolvimento da PERSONALIDADE do educando, subtraindo todos os
reducionismos: ativistas, instrucionistas, tecnicistas, etc.; enquanto na segunda, de fato,
trata-se de educação restrita ao indivíduo em particular, mas com foco instrucionista.
Victor Garcia Hoz(1987), um dos maiores expoentes da educação personalizada, nos
esclarece que para atendermos a personalidade e suas potencialidades, precisamos
unificar os objetivos educacionais em torno dos conceitos universais que refletem a
unidade antropológica estrutural do indivíduo que para o autor é a convivência e a
atividade e, estas, por sua vez, integradas intrinsecamente à finalidade da educação.
No primeiro detectamos o núcleo de desenvolvimento de conhecimentos e
habilidades( aprender a conhecer), competências( aprender a fazer) e valores sociais
(aprender a ser e a conviver desenvolvendo valores sociais como: a generosidade, a
justiça, a sinceridade,etc.); no segundo, detectamos o núcleo de desenvolvimento de
conhecimentos e habilidades( aprender a conhecer) , competências(aprender a fazer) e
valores individuais( aprender a ser e a conviver desenvolvendo valores individuais
como a vontade, a responsabilidade, a autonomia,etc) As duas são integradas `a obra
bem feita- trabalhos que primem pelo” desenvolvimento criativo da inteligência” e
pelo “desenvolvimento da inteligência criativa”- favorecendo, além da integração entre
os saberes e o desenvolvimento proximal do educando na linha de Vigotsk, a busca da
alegria pela satisfação produzida pela concretização da obra bem feita , Segundo
Hoz(1987), a alegria é a finalidade da educação que consiste em ser um”(...) estado
de ânimo satisfatório e expansivo promovido pelo conhecimento racional da posse ou
esperança de um bem.” Neste caso o bem é a própria obra bem feita, materializada
através da atividade e convivência escolar.Trata-se, a final, de educação centrada na
“pessoa humana” para transformar informações em conhecimentos significativos e
estes, por sua vez, em sentido de vida. Como nos lembra Celso Antunes(2014) se
queremos, de fato, uma educação e não adestramento, precisamos conduzi-la pelos
caminhos da habilidades operatórias (valorar, raciocinar, comparar, sintetizar, criar, etc)
indo além da memória de curto prazo, mas através dela também, alcançar o córtex pré
frotal, neurologicamente, o centro da criatividade. Também Segundo Antunes(2014),
Se, por exemplo, lemos uma poesia aos alunos, solicitando-lhes sua repetição, estimula-se apenas
uma ação cerebral, mas quando se solicita que comparem, analisem, sintetizem, descrevam,
classifiquem essa poesia, existem estímulos diferentes propondo diferentes ações e, desta forma,
tornam bem mais acessível sua transformação em conhecimento.
Referencias