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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINASSAU

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

LAURA MOTA PINTO LIMA

A PSICOLOGIA EDUCACIONAL PARA JOVENS NEGROS DENTRO DO


SISTEMA PÚBLICO DE EDUCAÇÃO

Salvador

2019
LAURA MOTA PINTO LIMA

A PSICOLOGIA EDUCACIONAL PARA JOVENS NEGROS DENTRO DO


SISTEMA PÚBLICO DE EDUCAÇÃO

Pré projeto de pesquisa apresentado


como requisito de aprovação na
disciplina de Métodos e Técnicas da
Pesquisa no Centro Universitário
Uninassau.

Orientadora: Andréa Padovani

Salvador

2019
Introdução

O tema deste pré-projeto é A Psicologia Educacional para jovens negros dentro


do sistema público de educação.

Antes de iniciar a real abordagem deste pré-projeto, é importante fazer um


levantamento a respeito do racismo, definido pelo dicionário Michaelis como:

1. Teoria ou crença que estabelece uma hierarquia entre as raças (etnias);


2. Doutrina que fundamenta o direito de uma raça, vista como pura e
superior, de dominar outras;
3. Preconceito exagerado contra pessoas pertencentes a uma raça (etnia)
diferente, geralmente considerada inferior;
4. Atitude hostil em relação a certas categorias de indivíduos.

O racismo pode se apresentar de diversas formas, tanto de forma individual, que


se apresenta através de ofensas diretas de sujeito para sujeito, como de forma
institucional, praticado por instituições como empresas, escolas e universidades,
comprovado estatisticamente e ocorrendo de forma velada, marginalizando de
diversas formas e gerando um certo isolamento social da população negra.

Justificativa

Em decorrência de um reflexo do passado tenebroso, a população negra em


geral ainda encontra nos dias de hoje dificuldade de ascensão. Analisando
criteriosamente dados do IBGE (Pnad Educação 2017 e Censo 2000), nota-se
que a população negra apresenta em média 8,2 anos de estudo, enquanto a
população branca apresenta 10 anos. Isso, de forma sucinta, significa dizer que
boa parte da população negra não chega a concluir, ou ao menos iniciar uma
graduação de ensino superior, mantendo apenas o ensino fundamental ou médio
completo.

Os obstáculos, sem dúvidas, são diversos. Mesmo com a instauração do sistema


de cotas, que fez com que o número de negros na Universidade chegasse a
quadriplicar em 17 anos, segundo fontes do INEP (Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), essa parte da população segue
sendo minoria dentro dos núcleos de educação e formação.
Partindo desse ponto e considerando o sistema público de educação, é válido
considerar que durante a sua formação no ensino fundamental, o jovem negro já
enfrenta problemas de perspectiva de futuro, justamente pela realidade
apresentar certa desesperança.

Quando o jovem negro está inserido no sistema público de educação, visto que
são exceções os casos em que estes estão em uma classe econômica mais
elevada, frequentando colégios privados, uma série de fatores está atrelada a
isso, como questões históricas, sociais e econômicas. Tudo isso impacta na
forma como esses jovens projetam-se perante a sociedade. Nesse contexto, o
Estado, ao menos teoricamente deveria assumir a responsabilidade pela
instauração da equidade entre as etnias. Uma forma muito eficaz de atingir esse
resultado seria através de um investimento maior em psicopedagogia ou
psicologia direta.

Questão de pesquisa

A questão de pesquisa deste pré-projeto é justamente atrelada a isso: De que


forma o acompanhamento psicológico do jovem negro dentro das escolas
públicas os ajudaria a lidar com o racismo institucional?

Objetivos

Objetiva-se de forma geral compreender os impactos positivos que um


acompanhamento psicológico teria na vida de um jovem exposto a esse racismo
velado, mas também qual a responsabilidade da psicologia quanto a essa
questão; compreender a forma como ele passaria a se enxergar diante da
sociedade e como lidaria com as dificuldades a partir disso.

Percurso metodológico

Este pré-projeto caracteriza-se por um estudo de caráter bibliográfico. Segundo


Lima e Mioto, a pesquisa bibliográfica implica em um conjunto ordenado de
procedimentos atento ao objeto de estudo e revela-se de suma importância na
produção do conhecimento científico, capaz de gerar, especialmente em temas
pouco explorados, a elaboração de hipóteses ou interpretações que servirão de
ponto de partida para outras pesquisas.

O modelo seguido é de cunho exploratório, que, de acordo com Antônio Carlos


Gil, têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos
e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses
pesquisáveis para estudos posteriores.

Discutindo os periódicos

Apesar do tempo de reconhecimento como ciência e profissão, a psicologia não


possui a visibilidade que deveria ter, muitas vezes sendo considerada
dispensável na formação de crianças e adolescentes. O problema nisso, é que
esses jovens crescem sem base psicológica para cuidar de sua saúde mental,
internalizando conflitos, dificuldades, e permitindo que estes sejam parte crucial
de sua história.

Ao iniciar a vida acadêmica, eles estão expostos ao que se chama de vivência.


Para Vigotsky, 2010 (apud Mariana Feldmann, 2017), os elementos que existem
para determinar a influência que o meio tem no desenvolvimento da
personalidade são chamados de vivência. Essa pode ser uma vivência de uma
situação qualquer, pois não é um elemento independente da criança que a
influenciará, mas sim o elemento interpretado pela criança que irá determinar
sua influência no seu desenvolvimento futuro.

Ao afirmar isso, o autor diz que a criança organiza suas experiências, sentidos e
significados de acordo com sua idade e contexto de desenvolvimento. Esse é
um dos principais aspectos que expõem a criança a qualquer tipo de
comentários, preconceitos, entre outros. Na infância, muito do que se diz, é na
verdade uma reprodução do que se escuta. Dessa maneira, o racismo se
instaura de geração em geração.

Nossa sociedade preestabelece – muitos indivíduos o fazem inconscientemente-


qual a classe econômica e social prospera. As oportunidades acabam não sendo
as mesmas para todos e isso apenas colabora para a instauração de um
pensamento de inferioridade por parte no negro, que se vê em um lugar de
insuficiência diante da sociedade.

E nesse ponto, se torna crucial e indispensável a atuação do psicólogo


educacional nesse meio. Infelizmente foi vetado pelo governo o projeto de lei
que tornaria obrigatória a presença de psicólogos no sistema público de
educação, já que eticamente, o psicólogo possui determinada responsabilidade
diante de questões como o racismo:

Código de Ética (Conselho Federal de Psicologia,


2005):

II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde


e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades
e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas
de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.

III. O psicólogo atuará com responsabilidade social,


analisando crítica e historicamente a realidade
política, econômica, social e cultural. Nos próximos
tópicos, apresentaremos parte das contribuições
teórico-técnicas atinentes ao campo psicológico
desenvolvido no Brasil e que se voltam para a
temática étnico-racial

Cabe a equipe psicopedagógica estar frente a esta questão como forma de


analisar singularmente cada um dos jovens, orientando quanto ao entendimento
de si mesmo como indivíduo participante da sociedade, apesar do racismo
institucional já instaurado. Orientar é garantir que uma parcela da população que
sofre essa opressão não mais se silenciará e lutará pelo seu espaço, deixando
como herança para as próximas gerações um posicionamento diante do racismo.

É necessário também realizar um trabalho junto aos professores e orientadores,


para que não haja nenhum tipo de segregação ou diferenciação entre alunos no
ambiente de sala de aula. O “abismo afetuoso” entre alunos negros e alguns
professores acaba de certa forma impactando nas relações interpessoais desses
jovens:

“As pessoas negras, submetidas a um processo de


desvalorização constante, tendem a se identificar
com uma minoria estigmatizada, sob os rótulos de
inferiores, desprovidos de beleza, pobres e
incapazes, e fazem parte do segmento da população
brasileira que talvez mais sofra o efeito da
discriminação e do preconceito, sempre encobertos
por frases e gestos ambíguos”.

FERREIRA E CAMARGO, 2011 (apud SCHOLZ,


Daniele; SILVEIRA, Marta; SILVEIRA, Paulo).

Considerações finais

Tendo visto todas estas considerações e citações, conclui-se que faz-se


necessário haver um cuidado maior no que se trata de políticas públicas de
combate ao racismo, principalmente dentro das escolas e universidades, visto
que esse tipo de discriminação instala no jovem negro uma visão pessimista
acerca do próprio futuro, que passa a ser visto como limitado à sobrevivência,
sendo que muito contrário a isso, é direito de todo cidadão ter acesso a estudo
e formação de qualidade. Além de um sistema de cotas, é preciso que o governo
olhe com maior responsabilidade para esta causa, não banalizando a saúde
mental do indivíduo, pois isto seria criar nele uma frustração.
Referências

MICHAELIS DICIONÁRIO DE PORTUGUÊS, UOL.COM.BR, busca de


significados: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
brasileiro/racismo/

AGÊNCIA BRASIL, EBC, 2018: Cotas foram revolução silenciosa no Brasil:


http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2018-05/cotas-foram-
revolucao-silenciosa-no-brasil-afirma-especialista

LIMA, Telma; MIOTO, Regina. Procedimentos metodológicos na construção do


conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Revista Katálysis,
Florianópolis, v. 10, n. esp., p. 37-45, 2007.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas da pesquisa social, p 27, 1985.

FELDMANN, Mariana. Escola Pública e relações étnico raciais: o papel da


Psicologia, p 24, 2017.

RELAÇÕES RACIAIS: Referências técnicas para a ação de psicólogos,


Conselho Federal de Psicologia, 2017.

ILHEU, Thais, 2019, Guia do estudante, Editora Abril: Bolsonaro veta presença
obrigatória de psicólogos em escolas públicas.

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