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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA - PPGPSI

DOUTORADO EM PSICOLOGIA

JOANNE DE OLIVEIRA ANUNCIAÇÃO

PROJETO DE PESQUISA:

“DESFAZENDO A MOCHILA INVISIVÉL DO PRIVILEGIO BRANCO”:

A TECNOLOGIA DIGITAL COMO ALTERNATIVA INSTRUMENTO PARA

PROMOÇÃO DE ATITUDES ANTIRRACISTAS ENTRE OS JOVENS -

ADOLESCENTES-ESTUDANTES-NAS ESCOLAS..

ORIENTADORA PRETENDIDA: Profa. Dra. DALILA XAVIER DE FRANÇA

LINHA 2: PSICOLOGIA COGNITIVA E PSICOLOGIA SOCIAL

SÃO CRISTÓVÃO - SERGIPE

2022
1. INTRODUÇÃO

O racismo estrutura o modo de vida de uma sociedade com base na crença

partilhada de que alguns grupos são superiores a outros em termos de beleza,

inteligência, moralidade ou religiãocultura. Aqui compreendemos esse fenômeno como

um “processo de hierarquização, exclusão e discriminação contra um indivíduo ou toda

uma categoria social que é definida como diferente com base em alguma marca física

externa (real ou imaginada), a qual é ressignificada em termos de uma marca cultural

interna que define padrões de comportamento” (Lima & Vala, 2004, p. 402).

O racismo implica na manutenção de privilégios para o grupo racial dos brancos

(Oliveira, 2023; Schucman, 2014). A construção de condições de privilégio branco no

Brasil, acompanha diversas variáveis, mas que significam de modo geral ter uma

posição superior que facilita o exercício da liberdade de expressão pessoal não

reconhecida que os brancos vivenciam todos os dias, ou seja, os privilégios (Meinerz &;

Ströher, 2021). Esse não reconhecimento Mcintosh (1995) nomeou de “mochila

invisível” onde estão guardados diversos conteúdos que se pode acessar todos os dias,

mas que devem ser mantidos no esquecimento. Tendo descrito isso, a pesquisadora

questiona: “o que fazer para diminuir ou acabar com isso?”

Assim como na sociedade brasileira, as escolas preferem evitar discussões

pautadas na raça e no racismo, apontando esse fenômeno como algo que não se expressa

nesse ambiente, silenciando ou negando ou racismo, bem como não se

responsabilizando pelo seu enfrentamento (Carvalho; 2020; Cavalleiro, 2004; Santos,

2014). No entanto, a maioria das crianças é exposta pela primeira vez à realidade

racismo nos ambientes escolares. O resultado desse silêncio e da falta de ações


antirracistas na escola nos ambientes escolares cooperam para a naturalização apontam

parade comportamentos racistas que prejudicam não só a vivência escolar de alunos

negros, mas a construção da identidade de forma negativa, a baixa autoestima, a tristeza,

a rejeição e, baixo desempenho acadêmico são algumas dasoutras consequências do

racismo esse fenômeno para na vida desses indivíduos (Moreira-Primo & França, 2020).

Mcintosh (1995) relatou como a sua vida escolar enquanto uma aluna branca não

a possibilitou nenhum entendimento das suas vantagens estruturais: . “Minha

experiência escolar não me deu treinamento para me ver como opressora, como uma

pessoa com vantagens injustas, ou como participante de uma cultura danificada. Fui

ensinada a me ver como um indivíduo cujo estado moral dependia de sua vontade moral

individual”. Desse modo, a escola não é apenas um contexto para a aprendizagem de

conteúdos curriculares e pragmáticos, é também um importante espaço de socialização

de atitudes raciais. Sendo fundamental atentar-se para o tipo de conteúdo que está sendo

disseminado, bem como para a forma como as relações são gerenciadas, favorecendo a

manutenção do racismo ou contribuindo para seu enfrentamento (França, 2018).

As tentativas de combate ao preconceito racial nas escolas continuam a ser

muitosendo superficiaisl, dado que, muitas vezes, não são consideradas medidas

preventivas eficazes para combater a prevalência do preconceito racial nas instituições

escolares (Lima, 2016). Nos últimos anos, nota-se um Apesar do avanço das políticas

educativas antirracistas, com a criação dao A LLei nº 10.639/2003, que torna o ensino

obrigatório de história e cultura afro-brasileira e africana na educação básica, e a Lei nº

12.711/2012, que estabeleceu cotas negras nos processos seletivos de universidades e

instituições federais; a. Ambas importantes no avanço das discussões sobre raça e

racismo nas instituições de ensino e na inserção da população negra nesses espaços.

Entretanto,Mas ainda assim é possível deparar-se com práticas pedagógicas nos


ambientes escolares que privilegiam os modelos sociais masculinos e brancos, e

ignoram os estudantes negros que se sentem não representados. Fato que contribui para

situações de discriminação dentro das escolas (Guimarães e Pinto, 2016).

É de conhecimento da sociedade que aA escola tem um papel fundamental na

vida dos indivíduos para que é contribuir com o desenvolvimento da cidadania e

facilitar as habilidades sociocognitivas de crianças e jovens. A escola também , que

podem contribuir favorecer o desenvolvimento dos estudantes e da sociedade por meio

da promoção de ativamente com ações antirracistas, tanto fora como dentro do espaço

escolar por meio de iniciativas interpessoais, comunitárias e políticas, incluindo

comportamentos de organização entre pares ”(Aldana et al., 2019). Atualmente os

jovens tem não só acessado, mas contribuído com práticas antirracistas no ambiente

digital (Roshani, 2020).

Os alunos são receptores e disseminadores de conteúdos veiculados aos diversos

meios de comunicação (Gavassa, 2016) é também papel da escola promover uma

educação midiática, que desenvolva nos estudantes “habilidades para acessar, analisar,

criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os

seus formatos – dos impressos aos digitais”, formando cidadãos livres e aptos a fazer

escolhas conscientes (Educamídia, 2022).

Com os avanços da tecnologia e das mídias digitais os agentes de informação

tradicionais na educação começaram a não serem os únicos a divulgar os saberes. No

inicioinício dos anos 2000, os estudos de Marc Prensky (2001) já afirmavam que

pessoas nascidas a partir do ano de 2010 seriam consideradas pertencentes à “geração

alfa” e denominadas de “nativos digitais”, pois nasceriam em um mundo totalmente

digital e estariam habituados a utilizar recursos tecnológicos digitais para a

comunicação, para o entretenimento e para o estudo.


O resultado de toda essa imersão no ambiente digital, faz com que os estudantes

na atualidade pensem e processem as informações de maneira diferente das gerações

anteriores. Recebendo informações de forma muito rápida, realizando múltiplas tarefas

e dando mais preferência aos recursos gráficos. Os nascidos antes do ano de 2010,

denominados por Marc Prensky (2001) como “imigrantes digitais” visto que

necessitaram utilizar ou fascinaram-se pela “linguagem digital” e se adaptaram à uma

nova realidade.

Embora os dois grupos sejam considerados como “alfabéticos digitais” (Dudeney;

Hockly; Pegrum, 2016) não se pode afirmar que existe um “letramento digital” que

possibilite o bom uso da internet e recursos tecnológicos digitais para o

desenvolvimento da aprendizagem ativa.

Partindo do que foi exposto, este projeto de pesquisa aponta para os seguintes

questionamentos: Como a tecnologia digital através de sites, aplicativos e redes sociais

podem ou não promover atitudes antirracistas em adolescentes? Como a escola tem

visto o ambiente digital como uma possibilidade de atuação pedagógica eficaz para

trabalhar com os alunos? Essas perguntas, que se justificam pelo interesse em promover

uma postura antirracista entre os jovens estudantes através da tecnologia digital.

Objetivo gGeral

Analisar como a tecnologia digital pode ou não contribuir para construção de uma

postura antirracista dos alunos e propor a criação de um artefato pedagógico digital que

contribua com o engajamento antirracista dos estudantes.

Objetivos específicos

(1) Verificar a relação entre antirracismo e tecnologias digitais;


(2) Investigar a postura digital dos estudantes em relação a conteúdos raciais;

(3) Examinar o nível de branquitude dos jovens estudantes;

(43) A C criaçãor de um artefato pedagógico digital pelos estudantes voltado para o

antirracismo, com o auxílio dos estudantes..

Justificativa

Esta proposta de tese apresenta relevância social e científica. Para responder a

estes objetivos, Eespera-se construir uma tese que contribua para a ampliação de

conhecimentos sobre a postura digital dos adolescentes em relação ao antirracismo e

construir com os adolescentes conteúdos digitais que sejam acessíveis a sua linguagem

digital e possam comunicar e contribuir com o desenvolvimento de posturas

antirracistas no digital e em todos os espaços. Compreender a postura digital dos jovens

em relação ao antirracismo é um caminho facilitador para o engajamento na luta

antirracista em todos os espaços sociais , além de contribuir com ferramentas de

enfrentamento ao racismo para os sujeitos expostos aos seus efeitos. Além disso, esta

tese busca contribuir para o avanço da literatura cientifica, particularmente na área do

racismo e das estratégias para o seu combate.

3. MÉTODO

Diante do exposto, propõe-se a realização de dois2 estudos empíricos. O

primeiro estudo terá como foco a compreensão das influências digitais na construção de

uma postura antirracista entre os adolescentes, através de entrevistas estruturadas. No

segundo estudo será elaborado um artefato pedagógico digital pelos próprios estudantes
com foco na construção de valores e atitudes antirracistas buscando promover uma

educação midiática que estimule uma postura não só de consumidor, mas também de

produtor de conteúdo.

Estudo 1: Neste estudo, amostra contará com 200 adolescentes, brancos e

negros, com idades entre 12 e 18 anos, matriculados na rede de ensino de Sergipe. Os

participantes serão acessados por meio da escola e, após a apresentação do Termo de

Consentimento e Assentimento Livre e Esclarecido (TCALE) explicando em linguagem

acessível a pesquisa, os objetivos, os riscos e os benefícios, para que seja assinado aos

responsáveis, serão realizadas entrevistas com os adolescentes.

Os adolescentes responderãoam a entrevistas individuais estruturadas por meio

de questionários, contendo perguntas sobre condições sociodemográficas e socialização

recebida através das mídias digitais.

No segundo estudo será elaborado um artefato pedagógico digital pelos próprios

estudantes com foco na construção de valores e atitudes antirracistas buscando

promover uma educação midiática que estimule uma postura não só de consumidor, mas

também de produtor de conteúdo.

Estudo 2: Este estudo trata-se da criação de artefato pedagógico digital, baseado

no trabalho de Nery (2023). Participarão 10 adolescentes, brancos e negros, com idades

entre 14 e 18 anos, matriculados em uma mesma escola da rede de ensino de Sergipe.

Os procedimentos para acessar os participantes serão semelhantes ao estudo 1, seguindo

as recomendações éticas para pesquisas com seres humanos e com menores de idade..

Os encontros para construção do artefato serão realizados no próprio espaço

escolar, utilizando horários disponibilizados pela instituição. A construção passará por

dois momentos: Um primeiro momento formativo com discussões sobre racismo,

relações de poder, identidade étnico-racial, acesso e uso da tecnologia digital entre os


adolescentes. Um segundo momento para construção do artefato digital através de

uma metodologia ativa com os estudantes. A produção de material/contéudoconteúdo

antirracista que poderão ser reproduzidos em sites, lives e redes sociais , e- book, vlog,

fanfic, vídeo-minuto, playlist comentada, e-zine, audiobook, trailer, meme, card,

infográfico e podcast.

A produção e edição desses conteúdos ocorrerá pelas plataformas e aplicativos que

disponibilizam ferramentas gratuitas, como o Canva, a Plataforma livros digitais, a

Plataforma Fanfic Brasil, o BIGVU e a Audacity.

Pretende-se fazer uma análise dos efeitos do artefato digital sobre a consciência

crítica e o engajamento antirracista dos adolescentes, avaliando estes aspectos antes e

depois de sua realização.

Os dados serão analisados com o suporte dos softwares SPSS e Iramuteq.

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