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OBJETIVOS
O foco principal da pesquisa é a análise da "ideologia de gênero" como dispositivo
presente nas práticas e discursos do cotidiano escolar. Esse termo surgiu pela primeira vez em
1997, sendo inicialmente introduzido por escritos provenientes dos setores mais
conservadores da Igreja Católica. Contudo, sua ascensão para o centro das discussões no
Brasil se deu em 2010, durante a elaboração do Plano Nacional de Educação.
1
Graduando em Comunicação Social. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE/CAA).
Fernando.fss@ufpe.br.
2
Doutor em Sociologia. Professor-adjunto na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE/CAA).
ricardo.saboia@ufpe.br.
3
Disponível em: <https://eaesp.fgv.br/producao-intelectual/pesquisa-anual-uso-ti>. Acesso em 24 nov 2023.
A expressão ganhou notoriedade e se tornou objeto de debates intensos, marcando
presença não apenas nos círculos acadêmicos, mas também nos âmbitos político, social e
educacional. Sua complexidade reside na abordagem das concepções sobre identidade de
gênero, sexualidade e papel social, despertando tanto apoio fervoroso quanto oposição
veemente nas esferas públicas local, brasileira e global (ROSA, SOUZA, CAMARGO, 2019).
EDUCAÇÃO E MÍDIA
O campo dos meios de comunicação social é crucial para o entendimento das questões
de gênero e sexualidades, tanto em seu diálogo com a educação como com outros campos
sociais. Como destaca Kellner (2001, p. 9), a existência de uma cultura da mídia a vincula a
diversos processos, em que suas imagens, textos e sons “ajudam a urdir o tecido da vida
cotidiana, dominando o tempo de lazer, modelando opiniões políticas e comportamentos
sociais e fornecendo o material com que as pessoas forjam sua identidade”. Não obstante,
também “fornece o material com que muitas pessoas constroem o seu senso de classe, de etnia
e raça, de nacionalidade, de sexualidade, de ‘nós’ e ‘eles’”. Esta cultura faz-se presente, como
não poderia ser diferente, da realidade cotidiana escolar, seja como parte de um projeto
pedagógico, seja nas conversas formais e informais, dentro e fora das salas de aula.
Assim, o consumo de mídia pelos estudantes ocupa posição central nos processos
educacionais, compondo parte de como eles se comportam diante das discussões de gênero e
sexualidade no ambiente digital/midiático. Isso implica a investigação de como esses alunos
consomem mídia, compreendendo tanto seus usos dentro da sala de aula quanto fora dela, seja
entre os próprios estudantes, com os professores, a equipe administrativa da escola ou outros
profissionais. É preciso construir uma abordagem crítica em relação a essas práticas de
consumo, utilizando-as como instrumentos reflexivos para compreender o processo de
aprendizagem, suas conexões com as práticas sociais e o impacto que exercem sobre as
abordagens pedagógicas. Dessa forma, o consumo midiático dos estudantes demanda ser
contextualizado e interpretado no âmbito educacional de maneira mais abrangente, assim
abordando criticamente as práticas de consumo como ferramentas para refletir sobre o
processo de aprendizagem, e suas interações com as práticas sociais e pedagógicas, em
perspectiva interseccional (COLLINS e BILGE, 2019).
É relevante perceber que a mídia não apenas reverbera temas relativos às sexualidades
e ao gênero, pois ativamente elabora suas representações sociais e culturais. De Lauretis
(1987) nos lembra que esta se configura como uma “tecnologia de gênero”, ou seja, como
dispositivo que, em interação com outras instâncias como a academia, a escola, o cinema ou
os sistemas jurídicos, atua tanto na “construção” como na “desconstrução” das categorias e
marcadores que busca representar. Já Weeks (2016, p. 8) reconhece que “a sexualidade está
inevitavelmente e sempre emaranhada nas espirais das relações de poder”, e sua análise deve
“enfatizar a vivacidade das agências pessoais e coletivas”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao adotar essa abordagem metodológica, almeja-se não apenas capturar dados
superficiais, mas, fundamentalmente, explorar os significados subjacentes aos discursos dos
estudantes, trazendo à tona perspectivas profundas e valiosas que enriquecem a compreensão
das interseções entre gênero, mídia e experiência escolar.
Dessa forma, o projeto não se limita apenas à investigação das questões de gênero,
sexualidade e mídia; ele atua como um ambiente de aprendizagem prática e enriquecedora
para os pesquisadores e colaboradores, capacitando-os para enfrentar desafios complexos e
fornecendo-lhes ferramentas valiosas para a sua formação acadêmica e pessoal.
Essa abordagem, alinhada aos objetivos do projeto, busca construir pedagogicamente
uma atuação que contribua para o avanço do conhecimento crítico nas áreas de educação,
gênero e sexualidades e comunicação. Se estas, na contemporaneidade, exigem um
permanente olhar crítico que reflita sobre suas novas configurações, entendê-las no exercício
vivo e plural do cotidiano escolar torna-se um desafio incontornável para a reivindicação da
escola como ambiente emancipador.
REFERÊNCIAS