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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS ARAPIRACA
UNIDADE EDUCACIONAL DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS
CURSO DE PSICOLOGIA

INGRYDY LARA ARAÚJO SILVA

RELATÓRIO DO CICLO DE PALESTRAS:


Juventudes, Contextos de Desenvolvimento e Territórios

PALMEIRA DOS ÍNDIOS


2022
INGRYDY LARA ARAÚJO SILVA

RELATÓRIO DO CICLO DE PALESTRAS:


Juventudes, Contextos de Desenvolvimento e Territórios

Atividade solicitada com o intuito de


obtenção da nota referente a Avaliação
Bimestral 2 da disciplina de Processos
de Desenvolvimento 2 para o quarto
período do Curso de Graduação em
Psicologia da Unidade Educacional de
Palmeira dos Índios do Campus
Arapiraca da Universidade Federal de
Alagoas – UFAL.

Orientadora: Profa. Ma. Niedja Mara Silva


Fontes de Deus.

PALMEIRA DOS ÍNDIOS


2022
SUMÁRIO

1 JUVENTUDE E NECROPOLÍTICA 4
2 5
3 6
4 7
5 8
REFERÊNCIAS 9
1 JUVENTUDE E NECROPOLÍTICA

Tendo como base teórica o texto ‘’Vulnerabilidade da população negra e políticas


educacionais no Brasil’’ (HUNING; SILVA; BRAGA NETTO, 2021), a roda de conversa
mediada pela psicóloga Tathina Lúcio Braga Netto iniciou-se através da exibição do
videoclipe da música Bluesman do cantor Baco Exu do Blues, que enfatiza em suas letras o
processo de racismo e discriminação racial e também a resistência afrodiaspórica.

A partir disso, dialogou-se sobre os processos sociais, históricos, econômicos,


culturais e políticos que contribuíram para a construção da vulnerabilidade da população preta
no contexto brasileiro, tais como, por exemplo, a colonização e o processo de escravização, a
abolição da escravatura que não concretizou medidas eficazes que de fato incluísse esse grupo
na sociedade e as teorias científicas racistas e eugenistas que respaldaram o preconceito e a
segregação social desta parte da população – principalmente o mito da democracia racial.

Foram discutidas também teorias de autores que se debruçaram em estudar sobre


como as políticas (ou a falta delas) instituídas pelo Estado quanto ao racismo e discriminação
se caracterizam como um controle social que coloca a morte como alvo; Foucault com a teoria
do biopoder e o racismo de Estado, Mbembe com a necropolítica e Agamben com a
tanatopolítica.

Além disso, foi destacado o papel do capitalismo e da ideologia neoliberal como


promotores de desigualdades raciais, pois, ao defender a meritocracia, alega-se que todas as
pessoas possuem as mesmas condições e que só não ‘’vencem’’ na vida porque não querem,
uma visão que desconsidera completamente a complexidade dos processos históricos,
territoriais, contextuais, sociais de cada sujeito. Sob esta perspectiva, conversou-se sobre a
multiplicidade da juventude, como existem diversas vivências perpassando cada sujeito e
como ainda existem ideias universalistas pautadas em ideias de que o desenvolvimento
humano é constituído de fases e/ou estágios.

Por fim, foi levantada as tentativas do Estado em realizar políticas reparatórias


raciais como o sistema de cotas, a instituição do Dia da Consciência Negra e a inclusão da
história e cultura afrodiaspóricas nos currículos escolares, que são medidas muito importantes,
mas que ainda são insuficientes, precisam ser aprimoradas e ampliadas para combater mais
fortemente a exclusão social, tendo em vista que a população preta brasileira ainda vive um
processo de invisibilidade e silenciamento quanto a sua história, cultura, identidade e
diversidade.

2 JUVENTUDE NEGRA, RACISMO E EDUCAÇÃO

A palestra ministrada pelo professor, psicólogo e doutor Antônio César (Bob)


iniciou-se através de uma série de inquietações sobre os processos de subjetivação da
juventude negra, principalmente sobre como a mesma se configura na contemporaneidade
através de especificidades geracionais, territoriais e de classe, por exemplo.

Durante a palestra, ressaltou-se o aumento dos debates sobre negritude durante os


últimos 10 anos principalmente no âmbito universitário, que, anteriormente, era um debate
que mal era falado tanto pelos professores como pelos alunos nas produções acadêmicas e nas
salas de aula. Foi apontado neste momento que uma das possibilidades de o motivo desse
tema ter se amplificado provavelmente foi pela instituição da política de ações afirmativas, as
cotas, que através delas, foi possível incluir mais pessoas negras nas universidades.

Além disso, foi pontuado também o papel das redes sociais e da internet de forma
geral por sua capacidade de disseminar o letramento racial, seja através da amplificação de
divulgação de escritas antirracistas, seja pela explosão de debates de temas como racismo
estrutural que são capazes de, consequentemente, gerar uma autoafirmação de uma identidade
negra.

Debateu-se também como muitas vezes o racismo é tão sútil que chega a passar
despercebido no dia-a-dia e um exemplo disso que Antônio César trouxe foi que seus pais
sempre faziam questão de que ele e seus irmãos andassem bem arrumados e naquele momento
ele não entendiam muito bem o porquê desta necessidade, mas, depois que ele passou a ter um
letramento racial, percebeu que aquela preocupação era muito mais que estética e que estava
pautada no racismo – tendo em vista que, por causa do racismo estrutural, muitos garotos
negros somente por não estarem vestidos de jeito formal são estereotipados e lidos como
marginais e ladrões.

Foi destacado também como é importante de pensar para além de apenas ocupações
de espaços de destaque por pessoas negras, pois, elas também precisam ser pessoas que sejam
de fato comprometidas efetivamente na luta antirracista e que não sejam apenas uma
representatividade vazia que ocupa o lugar mas com uma ocupação que está pautada nos
mesmos interesses de uma branquitude que não está interessada em mudar as estruturas de
poder e de opressão e consequentemente perpetua o racismo e a desigualdade nos âmbitos
sociais, culturais, econômicos, territoriais e entre outros.

3 JUVENTUDES E MAIORIDADE PENAL

Ministrada por Aline Kelly, psicóloga e doutoranda em Psicologia Social e norteada


pelo artigo de sua autoria escrito em conjunto com Simone Maria Huning, ‘’A racionalidade
punitiva’’, a palestra realizada em modalidade on-line buscou discutir sobre as propostas de
emenda constitucional (PEC) de maioridade penal que circundaram na Câmara dos Deputados
do país entre os anos de 1993 até 2013 e consequentemente também a partir de quais
justificativas as mesmas se baseavam.

Esta discussão orientou-se primordialmente nos métodos arqueológico e genealógico


de Michael Foucault que somados às seguintes considerações sobre o Estado enquanto uma
entidade garantidora de interesses que atrelado ao assunto da segurança pública, como expõe
Foucault, insere-se em um contexto de racismo de Estado – uma estratégia de poder em que se
decide quem deve viver e quem deve morrer.

Dialogou-se também em relação ao papel da mídia, principalmente os famosos


jornais policiais enquanto disseminadores de violências e perpetuadores de estereótipos, como
o caso ocorrido em 2014 da jornalista até então do SBT Brasil, Rachel Sheherazade, que
frente ao episódio do jovem de 15 anos preso, espancado e amarrado a um poste, declarou que
o mesmo era um ‘’marginalzinho’’, enquanto os sujeitos responsáveis por este ato a mesma
declarou que eram apenas vingadores e cidadãos de bem que estavam apenas se defendendo,
já que, segundo ela, o Estado não pune efetivamente (SILVA; HUNING, 2015).

Esses discursos dos jornais hegemônicos que servem aos interesses das elites e da
classe média direita conservadora dos intitulados ‘’cidadãos de bem’’ – estes segundos tanto
na busca pela vingança em atos infracionais cometidos, como também no lançamento de
propostas de PEC - são completamente destoantes do que está presente no Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA), documento este que constitui o jovem como um sujeito de direitos e
que mesmo ao cometer crimes, tem o direito de responder por eles com dignidade através de
medidas socioeducativas.

Neste sentido, com esse panorama de discussão, houve uma reflexão durante o fim
da palestra sobre a necessidade de pensar sobre que tipo de juventude está sendo vivenciada
por múltiplos jovens, que assim como esse garoto de 15 anos estão sendo destituídos de
direitos e foi notável que ainda se precisa lutar muito pelo direito de uma juventude digna – e
além disso que seja plural em classe, raça e etnia - principalmente em territórios tão
contraditórios e desiguais como aqui no Brasil.

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