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Cadernos PDE
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Graduada em História, Especialista em Metodologia do Ensino de Geografia, Professora da
Rede Estadual de Ensino, atualmente participante do Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE 2013/2014.
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Graduação em História, Mestrado e Doutorado em Educação. Professora Adjunta na
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Francisco Beltrão.
1. Introdução
Em relação à luta dos negros, Santos, (2007) enfatiza que, são através
dos movimentos sociais organizados nas mais variadas configurações,
associações, motivações, aspirações e maneiras de elaboração das pautas de
reivindicações que os grupos agem. Tal posição evidencia a importância das
manifestações de resistência às relações de poder hegemônicas, exigindo o
reconhecimento e a valorização da população negra, sobretudo no que se
refere à garantia do acesso a educação.
Considerações finais
A abordagem de temáticas relacionadas aos Movimentos Sociais Negros
no Brasil, contribuiu para enfatizar a importância da educação nas conquistas
pela igualdade racial, pois a Constituição quando estabelece o princípio da
igualdade, o faz de maneira formal. Daí a importância de trazer essa discussão
para o cotidiano e para as práticas educativas.
Tais práticas representam as ações resultantes dos esforços
empreendidos pelos Movimentos Sociais Negros com vistas à justiça social.
Nas atividades, propusemos o tema e abrimos o assunto para que os alunos
debatessem e contassem suas experiências em relação ao preconceito. As,
conversas, possibilitaram o conhecimento do Outro e a empatia entre os
estudantes que se perceberam como sujeitos participativos do processo e
reconheceram responsabilidade social sobre suas decisões e ações.
Acreditamos que a adoção de práticas educativas antirracistas
incorporadas às ações em sala de aula, representaram instrumentos capazes
de promover transformações coletivas e estruturais na sociedade, uma vez que
a educação tem como prerrogativa a formação de cidadãos que, muito além de
se sentirem parte do mundo, sintam-se capazes de atuar nele.
Ao implementarmos o estudo podemos afirmar a relevância em se
trabalhar com os educandos a medida que salientamos a necessidade de
solucionar as problemáticas de ensino que envolviam questões étnico-raciais a
partir do espaço escolar e como reflexo disso, na sociedade. A partir da
experiência podemos afirmar que o debate na escola se faz necessário para o
reconhecimento acerca da existência do racismo, pois partindo desse olhar se
pode reivindicar políticas públicas em prol da construção de uma sociedade
que preze por princípios de valorização da pluralidade cultural que nos constitui
como nação.
Ao avaliarmos o processo de implementação e os estudos de temáticas
relacionadas à diversidade étnico-racial podemos afirmar que estas contribuem
para romper com abordagens pautadas no eurocentrismo, à medida que
lançam olhares para outras visões de cultura e da sociedade. Ao
aprofundamento dos conhecimentos sobre as questões raciais, permitiu
perceber a importância da participação dos sujeitos no processo social e da
mesma forma demarcar o significado do envolvimento social para as mudanças
em prol da construção de uma sociedade mais democrática. Por acreditarmos
na ação transformadora dos movimentos sociais, é que buscamos na temática
a possibilidade de proposição de análise das lutas dessas organizações na
efetivação de expectativas envolvendo os desejos de muitos sujeitos sociais
que individualmente não alcançariam ou não transformariam a realidade.
As atividades propostas foram organizadas em dois eixos centrais:
Primeiro, “O negro no Brasil: conhecimento e cotidiano”, implementou ações
de investigação dos conhecimentos históricos prévios dos estudantes e
partindo desse diagnóstico, a problematização contendo questionamentos de
caráter provocativo voltado a instigação para a investigação fundamentada nas
leituras de textos históricos e, na busca pela contextualização dos processos
que resultaram nos movimentos de contestação das estruturas política, social,
econômica e culturalmente construídos no Brasil, contribuindo para mudanças
sociais necessárias , sobretudo para a população negra. A partir dessa
percepção ampliam-se as possibilidades para o reconhecimento das relações
de poder existentes nos processos históricos, viabilizando a intervenção
pedagógica e a construção de novas possibilidades de interação social.
O texto “Quem são os negros brasileiros”, foi trabalhado de forma que
fosse possível um olhar sobre as desigualdades raciais a partir da análise de
alguns indicadores sociais no que se refere a composição étnica da população
brasileira e a identificação de como o IBGE trabalha no senso o qual
compreende as categorias pretas e pardas com base na autodeclaração das
pessoas, para representar uma realidade distinta da dos brancos, realidade
esta, que só se torna possível observar quando se compara os indicadores
sociais e econômicos entre a população negra e branca. Após a leitura e
análise do texto, os estudantes organizados em grupos, desenvolveram formas
de representação do quadro de desigualdade racial evidenciado nos dados
estatísticos de forma a apontar ações socioculturais e políticas que são
consideradas necessárias para a conquista da igualdade racial no Brasil.
Segundo, “Organização e Resistência”, contribuiu para a análise, ao
sistematizar temas sobre a dimensão que a pauta educacional ocupava e
ocupa nos movimentos e como compreendiam sua importância. O texto “Teatro
Experimental do Negro (TEN)” foi articulado à proposta de aprofundamento do
tema por meio da brincadeira “escravos de Jó”, no qual contribuiu para o
entendimento de que haviam constantes manifestações de resistência dos
negros, nas relações de trabalho e poder ao qual eram submetidos durante o
período escravocrata. Também dentre as atividades implementadas, houveram
propostas de análise de temas ligados a evidenciar algumas organizações do
movimento social negro como Movimento Unificado Contra a Discriminação
Racial – MUCDR, Grupo Palmares, Agentes de Pastoral Negros (APNs) e
como atividade de aprofundamento a confecção da Boneca Abayomi. Foram
dedicadas igual importância e atenção às reflexões sobre Abdias do
Nascimento, para os movimentos sociais negros, propondo releitura por meio
de pesquisa e organização de quadro-mural. Sobre a Marcha Zumbi dos
Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida, bem como, a influência
da III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia
e Intolerância Correlata, foram feitas atividades de leitura e compreensão,
buscando sintetizar os objetivos dos importantes eventos históricos
mencionados, na forma de cartazes para compor o quadro-mural em
construção visando sua efetivação ao término do estudo. O aprofundamento da
análise das leituras deu-se na proposta de estudo em grupos na qual os
estudantes, assim organizados, desenvolveram pesquisa sobre ações
educativas antirracistas propostas pelos movimentos sociais negros no Paraná.
A autoimagem do Negro como componente de identidade contribuiu para a
fase conclusiva de implementação da proposta didático-pedagógica uma vez
que, trouxe texto que direcionava o olhar dos sujeitos envolvidos no processo,
para o incentivo ao respeito à diversidade racial por meio do reconhecimento
de que a herança africana é fundamental na formação cultural brasileira e
paranaense.
Como forma de organizar a divulgação dos trabalhos, os murais
principais e de circulação no espaço da escola, foram cuidadosamente
escolhidos para abrigar os resultados dos trabalhos desenvolvidos ao longo do
processo, e sintetizado, para apreciação da comunidade escolar.
Tais práticas demonstraram a riqueza de historicizar sobre a temática
proposta no presente estudo, enquanto conquista daqueles que se
encontravam na condição de excluídos dos projetos de sociedade, através das
práticas educativas antirracistas propostas pelos movimentos sociais negros,
fica evidente que trata-se de ações emancipatórias e que contestam o status
quo.
Nesse sentido, o olhar pretérito às práticas implementadas e as reações
dos estudantes e comunidade escolar, permitem afirmar que é possível que a
temática constitua organicamente o currículo e os conteúdos escolares. Assim,
a implementação desses conteúdos, por meio do estudo de textos, que
embasaram as discussões bem como a utilização de metodologias
diversificadas, oportunizou momentos de interação e a obtenção de resultados
positivos no que se refere aos objetivos estabelecidos nas ações propostas.
As organizações que se caracterizam por suas ações voltadas às
questões raciais, perceberam que a educação aliada aos movimentos sociais
negros se traduz em importantes ferramentas para a construção de novas
visões sobre os processos históricos de mudança na sociedade, em favor de
segmentos que se encontram em situação de exclusão social. Portanto, nos
parece importante, a elaboração de ações, na mobilização de tempos e
espaços escolares, de forma a promover o encontro de saberes socialmente
construído a partir da vivência dos estudantes no meio social com os saberes
historicamente construídos pela sociedade, sistematizados na escola em seu
processo de transposição didático-pedagógica.
REFERÊNCIAS