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Atividade - Módulo 2

Tema: TEMA: Racismo do cotidiano. Racismo na escola

Participantes: Rita de Cássia Fumagalli, Cristiane Führ; Débora Togni dos Santos; Magnus
Antonio Geroldini.

QUESTÃO ORIENTADORA: A sociedade brasileira vive uma dicotomia, sabemos que o


racismo existe ao mesmo tempo em que insistentemente negamos a prática racista. Para
muitos a escola é um espaço livre do racismo, preconceito e desigualdade racial. Os casos
apresentados demonstram situações de racismo, agora é hora de refletirmos sobre estas
histórias e exercitar o Letramento Racial Crítico.

Os casos apresentados demonstram, de forma lastimável, que a escola, como


instituição integrada ao resto da sociedade, ainda reflete o que está ao seu entorno, isto é,
carrega consigo o mito da democracia racial, em que são apresentados alunos de culturas
diferentes como se fossem iguais, o que acaba contribuindo negativamente para a preservação
da riqueza cultural brasileira. Entretanto, percebemos que a tão sonhada “igualdade” também
não ocorre, já que deste o início a escola é considerada uma instituição que “seleciona”, que
aplica em sua prática um caráter totalmente elitista. Isso acaba refletindo em uma sociedade
igualmente selecionadora, cheia de preconceitos, seja ela entre brancos e negros,
heterossexuais e homossexuais, cristãos e muçulmanos entre outros.
Nesse contexto, os casos apresentados revelam a falácia da democracia racial existente
no país, e desmentem os discursos das classes dominantes, quando afirmam que o preconceito
racial no Brasil acontece apenas em casos esporádicos. Trata-se da mesma política que
procura minimizar, na história oficial e nos livros didáticos, a verdadeira dimensão da
presença e da influência do negro na sociedade e na cultura brasileira.
É angustiante perceber que muitas crianças e adolescentes ainda sofrem, na escola,
preconceito por conta de sua cor, cabelo e origem étnica. E esse preconceito impacta de forma
negativa a autoestima desses estudantes, que passam a enfrentar problemas como rejeição da
própria imagem e dificuldade para desenvolver autoconfiança. Os impactos do racismo na
infância já foram tema de diversas pesquisas, entre elas podemos citar os Estudos do Núcleo
Ciência Pela Infância (NCPI). Segundo a pesquisa, as crianças vítimas de racismo enfrentam
problemas de socialização e inibição comportamental, restrições para desenvolver sua
capacidade intelectual; estresse tóxico e até doenças crônicas. Ao vivenciar experiências
dentro da escola, como as destacadas nos casos listados, as crianças são submetidas a um
esgarçamento dos fragmentos de sua identidade negra e correm o risco de chegar à fase adulta
com total rejeição à sua origem racial, o que trará, também, prejuízos à sua vida cotidiana.
Além de prejuízos à autoestima, casos como os relatados, causam impactos danosos na
aprendizagem das crianças. Estudos indicam que passar por episódios de racismo, desde ser
alvo de preconceito, até assistir a casos de violência sofridos por outras pessoas da mesma
raça, faz com que o cérebro da criança se mantenha em estado constante de alerta, provocando
o chamado “estresse tóxico”. Ao ser submetida a esse tipo de estresse, as crianças passam por
um desgaste significativo nos seus cérebros, o que interfere suas capacidades de
memorização, concentração e aprendizagem. A conclusão é do Centro de Desenvolvimento
Infantil da Universidade de Harvard, que compilou estudos documentando como a vivência
cotidiana do racismo estrutural, de suas formas mais escancaradas às mais sutis ou ao acesso
pior a serviços públicos, impacta "o aprendizado, o comportamento, a saúde física e mental"
infantil (IDOETA, 2020).
Outros pesquisadores mostram que crianças e jovens de grupos minoritários, que
frequentemente experimentam discriminação racial, apresentam mais sintomas de depressão e
solidão (CARVALHO, 2005). Ainda, de acordo com Chagas e França (2010), os efeitos
nocivos do racismo na escola afetam o desempenho escolar, levam a evasão, repetência e
atraso escolar. Para os autores, o percurso tortuoso que vivenciam as crianças negras, marcado
por experiências de racismo e discriminação, gera descrédito em relação a si, um sentimento
de incapacidade e desvalorização que influencia o modo como ela se posiciona nas diferentes
situações de ensino ao decorrer dos anos, cooperando para uma trajetória escolar mais longa e
acidentada do que a das crianças brancas.
Torna-se perceptível, a partir dos avanços da ciência, que os casos, como os relatados,
de preconceito por conta da cor da pele, tipo de cabelo e origem étnica, causam fortes
adversidades na vida de crianças e adolescentes, afetando o desenvolvimento do cérebro e
outros sistemas biológicos. Por isso, ao pensarmos se os impactos dessa violência podem ser
minimizados ou totalmente evitados, nos deparamos com uma questão difícil de responder.
Entretanto, acreditamos que é possível, sim, romper esse ciclo, mas, ao mesmo tempo, somos
sabedores de que as formas de combatê-lo são complexas e múltiplas.
Sem dúvidas, um passo importante na direção de romper com esse ciclo envolve mais
representatividade negra e mais discussões sobre o tema dentro das escolas. É preciso cuidar
da autoestima da criança negra, fazendo-a perceber, desde pequena, que é linda é potente, é
importante para sua família e para o mundo. Esse processo não é fácil, uma vez que há um
mundo lá fora e, principalmente dentro da escola, falando e demonstrando muitas vezes o
contrário. As crianças são apresentadas às histórias literárias e contos infantis que, em sua
maioria, enfatizam conteúdos elogiosos a pele branca e os lindos cabelos lisos de meninas e
meninos que os protagonizam. Personagens negras em livros didáticos não são nem 20% das
imagens, e os poucos existentes ainda são uma representação perversa, papeis subalternos e
estereotipadas, imagens de feições geralmente animalizadas e distorcidas.
É preciso romper com essas práticas, a escola precisa assumir o seu papel no combate
ao racismo e na construção de ambientes inclusivos e representativos. É claro que, com a
implantação da Lei N.º 10.693/2003, alguns avanços começam a ser notados, principalmente
em relação ao respeito com a população negra, que começa a ser “vista” com mais cuidado.
Isso não quer dizer que o racismo terminou, mas ele está cada vez mais oculto, uma vez que é
mostrado à criança negra que existe uma lei que a ampara, e quando essa criança passa a
conhecer essa lei, aprende que não está sozinha e que há um grande grupo lutando pelo
mesmo ideal. Triste é pensar que precisa existir uma lei para que o negro seja respeitado. Em
vista disso, somos levados a pensar que se a Lei N.º 10.693/2003 estivesse sendo efetivamente
aplicada, casos como os relatados, de criança que possui sua matrícula negada por ser negra
ou porque possui o cabeço afro, não seriam tão corriqueiros, pois a Lei N.º 10.639/2003
possui um caráter compensatório inegável, uma vez que possibilita uma desconstrução de
mentalidades e práticas preconceituosas. Apesar de sua importância inegável na esfera do
ensino brasileiro, a sua simples existência não torna suas proposições efetivas, podendo, no
entanto, ser um caminho para mudanças. De acordo com Munanga,

Não existem leis no mundo que sejam capazes de erradicar as atitudes


preconceituosas existentes nas cabeças das pessoas, atitudes essas provenientes dos
sistemas culturais de todas as sociedades humanas. No entanto, cremos que a
educação é capaz de oferecer tanto aos jovens como aos adultos a possibilidade de
questionar e desconstruir os mitos de superioridade e inferioridade entre grupos
humanos que foram introjetados neles pela cultura racista na qual foram socializados
(MUNANGA, 2005, p. 17).

Por essa razão, conforme expõe Gusmão (2012), a Lei 10.639 carrega no seu processo
um dado catalisador que é a dinâmica de mexer com a escola. Isso ela faz. Faz com que todos
agentes da escola repensem a sua prática. Para a autora, a Lei 10.639/2003 obriga a que se
comece a pensar quem é o cidadão brasileiro e qual a sua participação numa sociedade de
inclusão. Pensar o negro é, apenas, a ponta do iceberg para se pensar em todos os brasileiros
que vivem alguma forma de exclusão como cidadãos deste país. É por em movimento
mecanismos e ações que permitam aos diferentes grupos fugir aos estereótipos e à
homogeneização a que são submetidos, para poder dizer com suas particularidades e no
conjunto das particularidades existentes no Brasil, de uma sociedade melhor.
Em vista disso, enquanto professores, precisamos ser conhecedores dessa Lei e buscar
estratégias para realmente efetivá-la dentro do espaço escolar. Para que isso aconteça,
precisamos vencer nossos próprios preconceitos e buscar os conhecimentos necessários para
assumir uma nova postura pedagógica, que tome as práticas antirracistas como centralidade.
Nesse processo, capacitações docentes, como essa ofertada pelo Sistema de Ensino Aprende
Brasil, surgem como uma oportunidade para que os professores se apropriem de
conhecimentos a respeito das relações étnico-raciais e de gênero, fomentando a importância
de estudar este tema, contribuindo, assim, na efetivação da Lei 10.639/03.

Referências

CARVALHO, M. Quem é negro, quem é branco: desempenho escolar e classificação racial


de alunos. Rev. Bras. Educ. [online]. 2005, n.28, pp.77-95. ISSN 1413-2478. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/rbedu/a/PHZCR8tTdbgDtFCbTQ7dL8z/?lang=pt>. Acesso em: 21
de maio de 2022.

CHAGAS, L; FRANÇA, D. X. Racismo, Preconceito e Trajetória Escolar de Crianças


Negras e Brancas: A Realidade de Sergipe. Anais: relatório disponível pelo IV Colóquio
Internacional Educação e Contemporaneidade. Disponível em:
<http://educonse.com.br/2010/eixo_11/e11-36.pdf>. Acesso em: 21 de maio de 2022.

GUSMÃO, Neusa Maria Mendes de. Africanidades e Brasilidades: desafios da formação


docente. REALIS, Revista de Estudos AntiUtilitaristas e PosColoniais. Vol.2, n.º 01, Jan-Jun
2012. Disponível em: < file:///C:/Users/Windows7/Downloads/8757-16314-1-PB
%20(2).pdf>. Acesso em: 21 de maio de 2022.

IDOETA, Paula Adamo. 4 efeitos do racismo no cérebro e no corpo de crianças, segundo


Harvard. BBC News Brasil, São Paulo, 2020. Disponível em:
<https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2020/12/09/4-efeitos-do-racismo-no-cerebro-
e-no-corpo-de-criancas-segundo-harvard.htm>. Acesso em: 21 de maio de 2022.

MUNANGA, K. Apresentação. In: MUNANGA, Kabengele (Org.) Superando o Racismo na


Escola. 2ª ed. revisada. Brasília: MEC/SECAD, 2005. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/racismo_escola.pdf>. Acesso em: 21 de maio de
2022.

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