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Mesa 2: Educação especial e inclusiva

Mesa 3: Combate contra o racismo estrutural no Brasil


Nome: Marcela Aparecida dos Santos
Curso: História e Cultura Afro – Brasileira e Indígena

Texto 1 de 2:
Educação especial e inclusiva

Iniciar a palestra deixando claro a diferença entre educação especial e


educação inclusiva foi muito importante, pois há um senso comum de que
ambos os termos têm o mesmo significado.

A EDUCAÇÃO INCLUSIVA é uma perspectiva que defende uma escola para


todos. Esse “todos” inclui: Gêneros, classe social, indígenas e, dentre outros, o
público da Educação Especial.

EDUCAÇÃO ESPECIAL, por outro lado, se trata de uma modalidade de ensino,


que visa, não só preparar esse público nas disciplinas escolares (como
português, matemática, ciências humanas e da natureza), mas ajuda-los em
seu desenvolvimento biopsicossocial.

Como em todo processo histórico, cultural, social etc., houve muitos avanços e
retrocessos no que tange a educação especial.

O que facilitou o meu entendimento sobre essa modalidade de ensino dentro


da perspectiva da História foi o fato de a psicóloga e mestre nos distúrbios do
desenvolvimento Djiane Strelciunas, palestrante da mesa 2, ter dividido o
processo entre a educação especial e a educação inclusiva em quatro
paradigmas, que se deu da seguinte forma:

Primeiro paradigma: Exclusão – Desde os primórdios do que nós


concebemos como a História em si e a Idade média, tudo aquilo que fugia da
ideia do que era definido como “normal” não era aceito. Então, pessoas que
possuíam esse perfil eram exterminadas das piores formas ou tiradas do
campo de visão daquela sociedade. Uma prática comum era abandonar os
bebês no meio da floresta para que as intempéries do local desse cabo da vida
dessa criança. Um caso emblemático foi o do Vítor, o menino lobo, que foi
encontrado no meio da floresta por lobos, que o criou como se fosse um deles.
Quando o garoto foi encontrado, ele não tinha um comportamento de um ser
humano, e sim de lobo. Esse caso fez com que fosse concluído que “é na
relação com o outro que o ser humano se constitui como sujeito”.

Segundo paradigma: Segregação – A Idade Média foi marcada pelo poderio


e a consequente influência da Igreja, que passou a lançar um olhar de piedade
sobre esse público.
Portanto, não se exterminava mais como antes, mas todos eram “escondidos”
em grandes asilos, que funcionavam como depósitos, numa perspectiva
higienista (para não contaminar o restante da sociedade). Nesses espaços,
eram colocados não só pessoas com deficiência física e intelectual, mas
também eram “depositadas” pessoas com todos os tipos de doenças, sem
critério de especificidade e faixa etária.
Isso gera uma revolta numa parte da sociedade e a classe médica começa a se
interessar por cada aspecto específico do caso das pessoas que eram asiladas
nesses grandes espaços.

Terceiro paradigma: Integração – Então essas pessoas que estavam


exiladas continuarão exiladas, mas agora em grupos específicos: Cegos com
cegos, surdos com surdos, etc. Porém a deficiência intelectual não é muito bem
entendida, constituindo um grupo mais diferenciados, e pessoas com casos
mais leves e tidos como “domesticáveis” eram reintegrados à sociedade. Um
exemplo são pessoas com nanismo, que até hoje são usados como
entretenimento, colocados numa situação de comédia para fazer os outros
rirem; a característica do nanismo é mais considerada do que todo o aporte
que os constituem como indivíduos.

Quarto paradigma: Das instituições especiais – A escola começa a receber


casos considerados especiais, cabendo às instituições especiais os casos mais
graves. Porém, nesse processo, excluíam-se as meninas.
Outra característica desse paradigma era um tipo de exame que a criança tinha
que se submeter, já antes de entrar no primeiro ano, para entrar na escola
pública de ensino regular. Ou seja, a escola até acolhia pessoas com
deficiência intelectual, mas através da prova, a criança teria que mostrar que
“daria conta”.

No Brasil dentro do paradigma da segregação, o percursor foi d Pedro II.


Diversas escolas com casos de deficiências específicos (como surdez e
deficiência visual) foram criadas. No entanto, nesse período, as meninas eram
excluídas.

Década de 50, surgem instituições como Pestalozzi e as APAES.

Dentro da educação regular, surge a primeira LDB, de 1961.No início ela tem
um artigo que fala da importância da educação geral para pessoas
excepcionais, mas em caráter FACULTATIVO.

Em 1969, surgem mais de 800 instituições, as escolas especiais, segregando


pessoas com deficiências como se a própria sociedade fosse assim.

A LDB 5692/71 faz menção aos alunos com deficiência física, mental, com
atrasos, ou super dotados; contudo, também em caráter facultativo.

Em 1973, um decreto sobre educação especial faz com que essa questão
ganhe uma visibilidade maior. Então, começam a surgir, no meio acadêmico,
alguma pesquisa sobre o assunto.

Em 1988, a Constituição Federal traz a importância da educação especial


como modalidade de ensino dentro da rede regular e sendo garantia do
Estado.

A LDB 9394/96, inicialmente de teor segregacionista, foi em seguida


remodelada com um texto já na perspectiva inclusiva, onde diz que esse
público deve estar matriculado na instituição pública de ensino.
Entretanto, os professores da modalidade regular de ensino não tinham a
capacitação para lidar com esse público, assim como não contava com
recursos para apoiá-los na aprendizagem.

É nesse contexto que, em 2006, surge o A.E.E( Atendimento Educacional


Especializado), com sala de recursos específicos com professor especializado.
Cunho suplementar.
No ano de 2020 houve um retrocesso, onde um decreto retira a
responsabilidade do Estado e caberá aos pais optarem por manter esse filho
especial numa escola regular ou de volta para uma instituição.

Dentro desse pressuposto, surgem alguns dilemas: Que instituição é essa?


Quem fiscaliza? Concluiu-se, portanto, que por traz disso há falta de políticas
públicas e uma destinação de verbas suspeita. E então, o decreto caiu.

É muito importante ater-se de que existe três correntes que alienam o


conhecimento, no que tange a educação especial: o estereótipo, o estigma e o
preconceito.

Foi importante ouvir sobre a importância de o professor, mesmo não sendo


especializado na educação especial, sempre estar aberto para lançar um olhar
diferente sobre aquele aluno que faz parte do grupo dessa modalidade de
ensino e acolhê-lo; na maioria das vezes, o próprio aluno dá dica de como ele
aprende, e assim temos a possibilidade de ensinar e aprender.

Por fim, certamente pode-se dizer que tivemos importantes avanços dentro do
tema abordado na Mesa 2, porém há ainda um longo caminho, onde, como em
todo processo da História que ainda se encontra em curso, corremos riscos de
passar por retrocessos. Não obstante, História se inclina para um natural
progresso.

Texto 2 de 2:
Combate contra o racismo estrutural no Brasil
Uma das falas mais potentes da mesa 3 nos chama atenção para aquilo que é
óbvio: “No Brasil, o racismo deixou de ser velado a muito tempo”.

Silvio almeida define o racismo estrutural como “uma decorrência da própria


estrutura social, ou seja, do modo “normal” com que se constituem as relações
políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia
social e nem um desarranjo institucional.”
Isso pode ser exemplificado no que foi dito na palestra, quando se afirma que o
racismo está normalizado em nossa sociedade, em forma de brincadeiras e da
minimização da necessidade desse debate.

A partir do momento que temos somente pessoas negras se especializando e


falando com legitimidade desse assunto, encontramos outra problemática: Para
nós, discorrer o racismo estrutural é doloroso, pois é preciso ter a cor da nossa
pele para senti-lo. Há um desinteresse, ou má fé eu diria, de uma parte da
população que desqualifica o problema, pois para eles, esse problema não
existe e de que estamos vivenciando uma democracia racial. Esse racismo não
está nos espaços onde eles circulam e seu fenótipo jamais irá expor essas
pessoas numa situação que confirme a existência desse racismo estruturado
em nossa sociedade.

Quando estamos vivendo num país onde cerca de 50 por cento da sua
população é negra, mas essa parcela também constitui uma maioria carcerária,
pobres, subempregados, desempregados e não ocupando grandes cargos
públicos, há de se concluir de que há algo muito errado. O racismo no Brasil
estrutura-se para que a sociedade seja constituída dessa forma. Os direitos
humanos deveriam contemplar todas as pessoas, então por que para algumas
pessoas o direito é garantido, e para os pretos e periféricos eles devem ser
exigidos, a ponto de termos um dia da consciência negra para falar o óbvio, de
que os direitos previsto na Constituição é para todos, sem distinção de origem
e raça?

Acredito que para os palestrantes que falaram na mesa 3, especializar-se e


falar nesse assunto deve ter sido doloroso, pois é como reviver e explicar um
sistema cruel que nos mata um pouco todo o santo dia e que desenvolver e
palestrar acerca dessas pautas é uma forma de resistir. É algo como tentar
subir uma escada rolante que está descendo.

O racismo é ambiental, uma vez que a maioria das pessoas que habitam áreas
de risco é afro-brasileira.

Esse mesmo racismo estrutura-se no mercado de trabalho, onde sempre


haverá o famoso estereótipo da empregada preta e o da juíza, empresária, o
da patroa da casa grande branca.
O não reconhecimento da nossa história, da nossa cultura, da nossa identidade
e a completa negação da existência desse problema é racismo estrutural, pois
o sistema fez isso: Nos levou a pensar dessa forma.

Não podemos negar que vemos como algo espantoso e inédito pessoas de cor
ocupando altos cargos públicos, numa posição de poder. Pois antes desse
racismo se estruturar por fora, ele começa se estruturando dentro de nós.
Fomos acostumados a ver o negro sempre numa condição onde ele está
sempre servindo a alguém.

Outro exemplo de como o racismo estrutural se manifesta é através do acesso


á cultura somente nas regiões centrais e a tentativa de marginalizar e
desmantelar o acesso á cultura nas periferias, como no caso dos CEUs,
exemplo citado por uma das palestrates.

A negação da existência do racismo vem de “cima para baixo”, como no


exemplo citado na palestra, onde o ex-vice-presidente da república, ao se
pronunciar sobre o caso George Floyd, ele diz não existir racismo no Brasil,
somente nos EUA. Essa negativa inviabiliza uma política pública afirmativa que
objetive a equidade de oportunidades.

Esse racismo estrutura-se na economia, onde as maiores taxações recaem


sobre mulheres pretas e periféricas.

Acredito e concordo que, para haver uma mudança mais significativa para uma
mudança efetiva desse paradigma, é preciso descolonizar a nossa visão de
sociedade, para que tiremos a venda do mito da democracia racial dos nossos
olhos.

Essa luta deve ser de todos, independente de classe social e cor, para que
avancemos de fato para uma sociedade democrática de direitos. Direitos
garantidos para todos, sem que seja preciso ficar a todo momento tendo que
brigar por cada um desses direitos, por conta de nossa cor.

Estamos avançado? Acredito que sim, mas o caminho é longo e a estrutura do


racismo estrutural é forte. E da mesma forma que esse racismo foi construído,
ele deve ser destruído: De dentro para fora.

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