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Da exclusão à inclusão: aspectos históricos

Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Reconhecer algumas fases históricas e o tratamento dado às pessoas com


deficiência ao longo da história.
• Identificar razões pelas quais, na sociedade atual, existem esforços para se
pensar em uma educação inclusiva.
• Descrever as diferentes nomenclaturas utilizadas para referir-se às pessoas com
deficiência ao longo da história.

Introdução
A construção de uma trajetória da exclusão para a inclusão é processual e se dá
principalmente por meio da educação — de uma educação para a inclusão. Desse modo,
é importante conhecer a deficiência ao longo do tempo e da história, especialmente no
que concerne ao desenvolvimento de práticas inclusivas. Neste capítulo, você vai
estudar diferentes momentos históricos do tratamento oportunizado às pessoas com
deficiência, bem como as origens da educação especial. Em seguida, identificará quais
motivos levam a sociedade atual a discutir os aspectos que circundam a educação
especial e que promovem uma busca pelo desenvolvimento da educação inclusiva. Por
fim, refletirá sobre os conceitos mais apropriados para referir-se à temática sobre
pessoas com deficiência.

As pessoas com deficiência e o tratamento dado a elas ao longo da história


Ao longo da história da humanidade, as pessoas com deficiência foram vistas das mais
variadas formas, acompanhando a evolução do pensamento humano característico de
cada época. Elas foram sujeitadas a situações que iam desde uma visão divina sobre as
suas condições até métodos de correção e cura por meio de torturas e sacrifícios. Dessa
maneira, as pessoas com deficiência ficaram à mercê das resoluções alheias,
discriminadas e pouco ou nada compreendidas ao longo da história. Já nos tempos mais
remotos, em civilizações arcaicas, é possível encontrar registros sobre os métodos
adotados para o manejo com as pessoas com deficiência, levando muitas vezes à sua
aniquilação. Como exemplo, podemos citar Esparta, onde, de acordo com a legislação
instaurada, as crianças nascidas com alguma deformidade ou diferença anatômica não
eram consideradas pessoas e, portanto, eram levadas ao alto de montes e atiradas de
lá. Imaginava-se que essas crianças deveriam ser imediatamente eliminadas por
representarem impedimentos para a procriação de sujeitos que se encaixavam em um
padrão de “normalidade” (LORENTZ, 2006). Métodos semelhantes são encontrados em
estudos antropológicos sobre tribos indígenas de diversas regiões do planeta,
demonstrando visivelmente um estigma criado em relação àqueles que possuíam
alguma diferença. Mesmo pessoas nascidas com um padrão anatômico aceitável ou não
muito discrepante dos demais, ao desenvolverem e demonstrarem qualquer
dificuldade, eram afastadas do grupo e deixadas à própria sorte em locais afastados, em
meio à florestas. Demonstra-se assim que as pessoas com deficiência carregam consigo,
ao longo de toda a história da civilização, marcas e estigmas engendrados para excluí-
las e segregá-las, sendo essas condutas justificadas por ideias hegemônicas e
preconceituosas (GOFFMAN, 1978). Tais métodos eram justificados por códigos e
escritos que relatavam os modos de viver da época, conforme os registros de Aristóteles
e Platão, sobre legislações ideais na Antiguidade Clássica. Nesses registros, fica claro que
os direitos individuais não eram reconhecidos e, portanto, eram colocados em segundo
plano em relação ao direito público coletivo. Dessa forma, o Estado tinha o direito de
não tolerar as deformidades ou monstruosidades de seus cidadãos (COULANGES, 2003).
As religiões contribuíram para o entendimento de que as pessoas com deficiência
deveriam ser vistas como pessoas em uma situação passível de cuidado e atenção, ainda
que essa perspectiva tenha seus aspectos excludentes, por meio da criação de
instituições como asilos e hospitais, onde as pessoas acabavam ficando confinadas sob
a alegação de que deveriam receber assistência. Tal perspectiva contribuiu para um
olhar mais orgânico sobre as deficiências, inserindo a ideia de que a pessoa com
deficiência poderia ser curada, tratada ou desenvolvida de alguma maneira que a
aproximasse de um padrão de normalidade, atribuindo funcionalidade e independência
aos sujeitos (PIOVESAN, 2012). No decorrer de todos os momentos históricos, da
civilização mais arcaica até bem recentemente, há registros de condutas excludentes e
exterminadoras de pessoas com deficiência. Esses indivíduos foram eliminados por meio
de assassinatos, abandonados sem qualquer cuidado, encarcerados e expostos a
experimentos e pesquisas desumanas — como visto em relatos da Segunda Guerra
Mundial (LORENTZ, 2006). O período entre guerras da primeira metade do século XX e
a escassez da mão de obra qualificada oportunizaram a necessidade de educar e
desenvolver, de maneira a construir a autonomia e as competências das pessoas com
deficiência. Além disso, também possibilitaram o surgimento de classes especiais de
educação dentro de escolas regulares, bem como o desenvolvimento de centros de
reabilitação para as mais variadas deficiências. De acordo com Canziani (1995), foi
somente a partir da segunda metade do século XX que as pessoas com deficiência
puderam escapar da concepção de invalidez e ser vistas como pessoas aptas ou inaptas
— ideia que coincidiu com a expansão do modelo econômico capitalista. Conforme
indica Lorentz (2006), a educação especial começou a ser delineada por meio do
assistencialismo de clínicas e locais para o desenvolvimento das pessoas com
deficiência. Nesses espaços, era priorizada a necessidade de ajustar, moldar,
condicionar e, ainda, almejar a cura das pessoas com deficiência, para somente depois
promover a sua inserção na sociedade. Nesse sentido, mesmo quando começaram a
surgir classes especiais dentro das escolas regulares, estas ainda tinham o intuito de
segregar, pois se compreendia, nessa época, que era preciso preparar a pessoa com
deficiência para o convívio social, para, numa fase posterior, permitir o seu convívio com
a sociedade. A década de 1980 foi um marco importante para as pessoas com
deficiência, em especial para a construção de considerações relacionadas à sua
educação. O ano de 1981 foi declarado como o Ano Internacional da Pessoa Deficiente
(como era denominada a pessoa com deficiência nessa época) e deu o primeiro pontapé
para as tessituras da efetivação dos direitos humanos das pessoas com deficiência. Esse
fato produziu nas pessoas com deficiência consciência de si e de suas condições e
potencialidades, possibilitando, a partir disso, uma organização política (FIGUEIRA,
2008). Somente em 1986, a expressão “alunos excepcionais” foi substituída por “alunos
portadores de necessidades especiais”, conforme Bueno (1993). Nesse sentido, a partir
dessa apropriação das pessoas com deficiência, a sociedade passou a desenvolver a sua
aceitação e respeito, buscando superar a ideia de que esses indivíduos deveriam ter
superado as suas diferenças, para somente depois se inserirem no convívio social. Aos
poucos, em meio ao crescente interesse de diversos estudiosos para a construção de
teorias da educação e a consciência de uma impossibilidade de cura para muitas
deficiências, foi se potencializando a necessidade de abertura de oportunidades para as
pessoas com deficiência, para a construção de seus direitos basilares a partir de seus
próprios discursos. Dessa maneira, a tolerância à pessoa com deficiência também foi
consubstanciada na proteção e no paternalismo da sociedade em relação esse grupo de
pessoas, por meio de declarações como a de Salamanca, em 1994, sobre princípios,
políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais, e as convenções
internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1996 e 1997. Em essência,
as lutas pelos direitos das pessoas com deficiência implicaram fortemente na construção
e no delineamento da educação especial. Contudo, apesar de todo o embasamento
legislativo e da conquista dos direitos das pessoas com deficiência, ainda se
contemplava a ideia de que era a pessoa com deficiência que precisava se adaptar à
sociedade, e não a sociedade que lhe propiciaria meios de acessibilidade (PIOVESAN,
2012). Assim, as pessoas com deficiência foram percebidas como pessoas somente na
história bem recente, ao fim do século XX e início do século XXI. Todavia, ainda são
pouco escutadas e contempladas de acordo com as suas singularidades, sendo muitas
vezes encaixadas em códigos que só visualizam a doença, beirando a negação da
existência de uma pessoa única e pluralizada em sua subjetividade (SAVIANI, 1992). O
Quadro 1 apresenta as diferenças entre os conceitos de inclusão, exclusão e segregação.

Quadro 1. Diferenças entre exclusão, inclusão e segregação


EXCLUSÃO: Não é possível o convívio entre pessoas com deficiência e pessoas sem
deficiência
SEGREGAÇÃO: Não é possível o convívio entre pessoas com deficiência e pessoas sem
deficiência
INCLUSÃO: Não é possível o convívio entre pessoas com deficiência e pessoas sem
deficiência
Fonte: Adaptado de Sassaki (1997)
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Da exclusão à inclusão
No Brasil, conforme Saviani (1992) a situação da educação ainda apresenta como
agravante o reflexo da carência das políticas públicas. Em outras palavras, a educação
das classes mais baixas era inexistente ou precária, pois as minorias eram usadas como
mão de obra em zonas rurais ou fábricas. Dessa forma, as pessoas com deficiência que
não tinham grande dificuldade de locomoção eram condicionadas ao trabalho desde
muito cedo, deixando passar despercebidas muitas das suas necessidades educacionais
especiais. A pessoa com deficiência passou (e ainda passa) por estigmas relacionados à
sua aparência ou apresentação, à sua maneira de se comportar e de pensar ou
reproduzir o seu pensamento por meio da comunicação. Pensando no sujeito em
integração com o meio, a pessoa com deficiência sofre de maneira mais significativa as
carências do contexto no qual está inserida. Ela é atingida de forma que impede ou limita
o seu desenvolvimento, conforme as vulnerabilidades às quais está exposta, sejam elas
econômicas (com situações de pobreza e miséria), culturais (acesso restrito à educação),
sociais (pelas violências), entre outras. As condutas excludentes infelizmente são reflexo
de uma formação carente de humanidade da nossa sociedade e das políticas públicas.
Ainda pouco tolerantes com as diferenças e diversidades, as instituições de ensino
equilibram-se entre o manejo com o público de pessoas com deficiência e das sem
deficiências. Embora essa realidade esteja aos poucos se transformando, ainda há
muitas pessoas com deficiência que se veem excluídas da sociedade. A educação
especial de desenvolveu de maneira a considerar as peculiaridades educacionais de cada
sujeito e teve seu início por meio de turmas de classe especial. Nessas classes, as pessoas
com deficiência conviviam entre si, de acordo com a sua idade e as fases do
desenvolvimento, em uma instituição de ensino regular com outras turmas de classes
regulares. Essa modalidade educacional ofertava espaço para que as turmas ocupassem
um mesmo território, mas sem que houvesse uma integração entre os alunos,
impossibilitando o convívio mais efetivo entre as pessoas com e as sem deficiência, salvo
em momentos de chegada ou partida — ainda que algumas instituições realizassem até
mesmo esses momentos em horários separados (BUENO, 1993). A educação especial
pretendia, dessa maneira, proteger a pessoa com deficiência e ainda oportunizar o seu
desenvolvimento. Todavia, essa proteção ficava à sombra de uma segregação ou
exclusão e, por esses motivos, essa modalidade de educação especial não é mais
mantida na atualidade.
Outra modalidade da educação especial foi a criação de escolas específicas e exclusivas
para as pessoas com deficiência. Hoje essas instituições ainda existem, mas são raras, e
visam o pleno desenvolvimento educacional das pessoas com deficiência, possibilitando
o convívio com os seus pares e estimulando a socialização. Por contarem com um espaço
mais amplo do que somente uma sala, como ocorria nas instituições com classes
especiais, as pessoas com deficiência podem ter acesso a uma estrutura com adaptações
arquitetônicas e acessibilidade plena, podendo exercer livre circulação, exploração e
apropriação dos espaços. Desde os anos 1990, como explica Sassaki (1997), existe um
esforço da sociedade para que se possibilite a efetiva inclusão das pessoas com
deficiência. A partir desse ideal, construiu-se a ideia da educação inclusiva, na qual
pessoas com deficiência convivem na mesma turma de educação regular, mas com
ensino adaptado às suas singularidades, mediante a consecução de projetos de
desenvolvimento específicos para cada sujeito. Essa acepção favoreceu transformações
na mentalidade social, não só com relação às famílias das pessoas com deficiência, como
também com todas as pessoas com deficiência (SASSAKI, 1997). No entanto, a trajetória
inclusiva da prática educativa encontrou alguns percalços. As pessoas com deficiência
precisam ser compreendidas em sua individualidade, e algumas necessitam de atenção
integral e exclusiva de um agente educador. O agente educador como mediador do
processo educacional pode atuar de múltiplas maneiras, podendo facilitar o processo e
estimular o desenvolvimento. No entanto, também pode causar prejuízos, como
pressupor condutas vitimizadoras e limitantes das pessoas com deficiência ou ainda
inibir o convívio entre os pares. A educação inclusiva em instituições regulares de ensino
precisa ser acompanhada caso a caso, com todas as considerações singulares e
subjetivas implicadas no processo educativo de cada sujeito (PIOVESAN, 2012). A
educação inclusiva estimula o olhar sobre a diversidade social, que passa a ser objeto de
aceitação e desejo em um novo modelo de inclusão social. Assim, para a construção de
uma sociedade mais justa e igualitária, deve haver a aceitação da diversidade social
como um aspecto do direito à igualdade, sobretudo nas atuais sociedades
multiculturais, nas quais a diversidade é a tônica social medular (ASSIS; POZZOLI, 2005).
Uma consideração bem importante para a educação da pessoa com deficiência é que
ela deve, necessariamente, ser agente condutor de sua autonomia, e não mero
recebedor passivo de prestações alheias (FIGUEIRA, 2008). E sumo, a pessoa com
deficiência deve ser protagonista e condutor de seu processo de inclusão. Assis e Pozzoli
(2005) inserem que a educação deve preferencialmente ser vista como um todo, entre
as pessoas com deficiência e as pessoas sem deficiência. Ela necessita de uma integração
verdadeira desde a sua base, na educação infantil, estimulando as virtudes, a tolerância,
a empatia e o apoio mútuo, assim como promovendo e desenvolvendo a coletividade e
a equidade. Conforme Lorentz (2006), a mera tolerância da pessoa com deficiência não
proporciona a dignidade humana. A verdadeira inclusão é proveniente do tratamento
de respeito pleno, da admiração e do sentimento de amor entre as pessoas, com base
na igualdade e na aceitação plena.
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SAIBA MAIS
Os Delegados da Conferência Mundial de Educação Especial, representando 88 governos
e 25 organizações internacionais, em assembleia realizada na cidade de Salamanca, na
Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994, reafirmaram o compromisso para com a
educação para todos. Assim, reconheceram a necessidade e a urgência do
providenciamento de educação para crianças, jovens e adultos com necessidades
educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino e reendossaram a estrutura
de ação em educação especial. É por ela que governos e organizações, com o espírito de
suas provisões e recomendações, devem se guiar. Assim, acreditam e proclamam que:

• toda criança tem direito fundamental à educação, a quem deve ser dada a
oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem;
• toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de
aprendizagem que são únicas;
• sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais
deveriam ser implementados, no sentido de se levar em conta a vasta
diversidade de tais características e necessidades.
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As pessoas com deficiência e as diferentes nomenclaturas utilizadas ao longo da história

A inclusão social se refere a um processo no qual a sociedade se adapta para poder


incluir em seus sistemas sociais as diferenças e diversidades apresentadas pelos sujeitos,
entre os quais estão as pessoas com deficiência, ao mesmo tempo em que estes se
preparam para assumir os seus papéis sociais. Para Sassaki (1997), a inclusão social se
configura a partir de uma cooperação entre pessoa com deficiência e sociedade, com o
objetivo de buscar soluções viáveis para problemas mútuos e estabelecer equidade de
oportunidades e relações. Assim, para se estabelecer meios em que sejam
oportunizadas trocas íntegras e equânimes entre os membros da sociedade, faz-se
necessária a problematização de estigmas e do engessamento de ideias que limitem a
compreensão do outro em sua singularidade. Nesse sentido, o modo como as pessoas
são vistas e nomeadas reflete a sua integridade, o respeito, a atuação e apropriação de
uma efetiva inclusão social. As terminologias designadas para nomear as pessoas com
deficiência acompanharam o desenvolvimento de sua compreensão e respeito ao longo
da trajetória histórica da sociedade. Assim, esses indivíduos já foram apontados como
aleijados, retardados, mongoloides excepcionais, entre outros. Excepcional, por
exemplo, foi o termo utilizado nas décadas de 1950, 1960 e 1970 para se referir às
pessoas com deficiência — especificamente a deficiência intelectual. No entanto, com o
desenvolvimento de estudos e práticas educacionais referentes às altas habilidades, nas
décadas de 1980 e 1990, esse termo passou a se referir a pessoas com inteligência
lógico-matemática abaixo da média, ou excepcionais negativos, assim como a pessoas
com inteligências múltiplas acima da média, ou excepcionais positivos (SASSAKI, 2003).
Por fazer inferências pejorativas e discriminatórias, tais termos são raramente usados e
não são recomendados. “Deficiente” é outro termo pejorativo reconhecidamente
associado à incapacidade e ineficiência, que não deve ser utilizado. Já o termo “pessoa
com necessidades especiais” engloba um conceito muito amplo, pois compreende
idosos, gestantes, obesos e outras pessoas que possam ter dificuldade para realizar
alguma atividade. Por contemplar um grupo muito vasto, considerando que todas as
pessoas possuem alguma necessidade especial em algum nível, não é recomendado
para se referir especificamente às pessoas com deficiência (SASSAKI, 2003). Outra
terminologia bastante utilizada entre 1986 e 1996, como refere Sassaki (2003), foi a
expressão “portador de deficiência”. Todavia, não é adequado o uso desse termo, já que
a deficiência não é algo que possa ser portado, pois portar algo implica a possibilidade
de não portar, se assim se desejar, como uma bolsa ou outro objeto. O termo mais
adequado é, portanto, “pessoa com deficiência”. Sassaki (2003) orienta que, ao proferir
o termo “pessoa com deficiência”, a pessoa se posiciona antes da deficiência. Essa
simples inferência destaca que o sujeito, com as suas características singulares, é mais
importante do que a deficiência. Assim, é correto afirmar que existem pessoas com
deficiência auditiva, pessoas com deficiência visual, pessoas com deficiência física,
pessoas com deficiência intelectual.

É importante destacar que, para haver inclusão, as pessoas e a sociedade como um todo
— e o reflexo de seu espírito coletivo — devem preferencialmente se propor à mudança,
a ponto de compreender que, para aceitar as diferenças e oportunizar a expansão da
diversidade, faz-se imprescindível estar atento às formas de comunicação. Dessa forma,
elas se colocam a favor de construções e trocas permanentemente mútuas. Por meio
dessa relação plena entre as pessoas — as suas diferenças e diversidades, os seus modos
de ser e existir singulares — e a sociedade, a criação de oportunidades torna-se a base
para se estabelecer o equilíbrio social. É por meio dela que se asseguram os princípios
da igualdade e da dignidade da pessoa enquanto sujeito individual e coletivo, como está
previsto na Constituição.
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EXEMPLO
João é um menino de 10 anos e tem deficiência. Ele frequentou diversos ambientes
educacionais; entretanto, por possuir dificuldades com relação à sensibilidade sensorial,
alguns deles se apresentaram demasiadamente hostis. O primeiro movimento da família
sempre circulou em torno de proteger a integridade física de João, nem que para isso
fosse necessário excluí-lo de alguns convívios. No entanto, a família sempre
compreendeu que João precisava se adaptar ao ambiente, tanto quanto o ambiente
precisava se adaptar a ele. A família mediou, então, o processo de inclusão de João em
um ambiente educacional onde fosse possível incluí-lo de maneira suave, com tempos
e recursos individualizados, pensando em cada momento como único e promissor para
o próximo momento da inclusão social.
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REFERÊNCIAS
ASSIS, O. Q.; POZZOLI, L. Pessoa com deficiência: direitos e garantias. 2. ed. São Paulo:
Damásio de Jesus, 2005.
BUENO, J. G. S. Educação especial brasileira: integração/segregação do aluno diferente.
São Paulo: EDUC, 1993.
CANZIANI, M. L. Crianças deficientes, psicodiagnóstico. Educação, 1995. COULANGES, F.
de. A cidade antiga. São Paulo: Martin Claret, 2003.
FIGUEIRA, E. Caminhando no silêncio: uma introdução à trajetória das pessoas com
deficiência na história do Brasil. São Paulo: Giz, 2008
GOFFMAN, E. Estigma, notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1978.
LORENTZ, L. N. A norma da igualdade e o trabalho das pessoas com deficiência. São
Paulo: LTr, 2006.
PIOVESAN, F. Direitos humanos e o direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva,
2012.
SASSAKI, R. K. Como chamar as pessoas que têm deficiência. In: SASSAKI, R. K. Vida
independente: história, movimento, liderança, conceito, filosofia e fundamentos. São
Paulo: RNR, 2003.
SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA,
1997.
SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 3. ed. São Paulo:
Cortez, 1992.
Leituras recomendadas
ARAUJO, L. A. D. (Coord.). Direito da pessoa com deficiência: uma tarefa a ser comple-
tada. Bauru: EDITE, 2003.
ARAUJO, L. A. D. Direitos das pessoas com deficiência: garantia de igualdade na diver-
sidade. São Paulo: WVA, 2004.
ARAUJO, L. A. D. Proteção constitucional das pessoas com deficiência. Brasília: CORDE,
1994.
NAÇÕES UNIDAS. Declaração de Salamanca e enquadramento da acção na área das
necessidades educativas especiais. Salamanca: UNESCO, 1994. Disponível em: <http://
redeinclusao.pt/media/fl_9.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2018.
SASSAKI, R. K. Terminologia sobre deficiência na era da inclusão. Revista Nacional de
Reabilitação, v. 5, n. 25, mar./abr. 2002. Disponível em: <https://acessibilidade.ufg.br/
up/211/o/TERMINOLOGIA_SOBRE_DEFICIENCIA_NA_ERA_DA.pdf?1473203540>.
Acesso em: 24 jul. 2018

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