Você está na página 1de 41

A PSICOPEDAGOGIA E A

EDUCAÇÃO ESPECIAL E
INCLUSIVA
2

A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NA ESCOLA INCLUSIVA

INTRODUÇÃO

A inclusão é um processo que visa trazer para dentro da sociedade pessoas que
foram marginalizadas historicamente. Como diz MANTOAN (1997, p.20) "enquanto a
pessoa está adequada às normas, no anonimato, ela é socialmente aceita. Basta, no
entanto, que ela cometa qualquer infração ou adquira qualquer traço de anormalidade
para que seja denunciada como desviante". Partindo da análise histórico-social do
indivíduo com deficiência, este trabalho perpassa por uma visão clínico-patológica
(quando se encarava o sujeito com deficiência como uma pessoa doente- Sacks, 1998),
acompanha as mudanças da própria sociedade, onde a priori se adota uma pedagogia
ortopédica (Skliar-2005) que visa “normalizar” tais indivíduos e esta pesquisa chega nos
dias de hoje à reflexão do processo de inclusão educacional à luz da psicopedagogia.

A inclusão escolar traz ao âmbito educacional novos desafios, tornando


fundamental um novo olhar, novas práticas e objetivos de ensino- aprendizagem. Que
desafios são esses? Como enfrentá-los e aprender com eles? Quando Mantoan afirma que
“o pensamento que norteia o atual sistema (educacional) é muito mecanicista, e
discrimina claramente os normais e os deficientes, o ensino regular e o especial, como
também cada uma das disciplinas estudadas na escola” percebe-se que tal fato é um
agravante para a transformação dos espaços escolares em ambientes inclusivistas. Tal
afirmação se complementa quando Relvas (2009) dizem que “novas posturas
educacionais precisam ser estruturadas para que os educandos despertem para o aprender
escolar” e saibam enfrentar os desafios da vida.

Hoje é sabido que a escola não pode ser um espaço neutro, é um espaço
democrático, político na vida de todos. Nesse sentido as ideias de Freire vão nortear este
trabalho, buscando desvincular a posição do deficiente como um sujeito oprimido para
um sujeito crítico, reflexivo. A partir da educação isso é possível. No entanto não basta
aceitar a matrícula dos alunos com deficiência, é preciso trabalhar em prol do
desenvolvimento de Todos os educandos.

Ao se referir às pessoas com deficiência, Vygotsky (1993) ressalta que, “muito


3

mais do que o defeito em si, o que decide o destino da personalidade da criança é sua
realização sócio-psicológica”. Assim, o trabalho psicopedagógico demonstra extrema
importância e o espaço social oferecido pela escola pode ser extremamente benéfico.
Afinal, as potencialidades não nascem prontas, é o meio social que vai ajudar o
indivíduo a encontrá-las, a fazê-las desabrochar.

Vale destacar que com o fomento da inclusão a psicopedagogia nasce para unir a
lacuna existente entre o atendimento clínico/psicológico do sujeito deficiente e o trabalho
educativo deste aluno com deficiência. Fez-se necessário então um campo de estudo que
fosse capaz de entender o sujeito- aprendiz, o que ampliou a área de atuação do
psicopedagogo que não limita- se ao trabalho com pessoas com déficits, mas também na
prevenção de possíveis dificuldades e ainda na orientação, suporte e desenvolvimento de
estratégias para o trabalho com o desenvolvimento integral de sujeitos aprendizes. Nesse
sentido Weiss afirma que “a Psicopedagogia busca a melhoria das relações do aprendiz
com a aprendizagem”. Partindo da compreensão desta premissa, e por ser um dos temas
mais discutidos na atualidade, acredito que o trabalho do Psicopedagogo nas instituições
escolares pode facilitar esse processo inclusivo, auxiliando todos os alunos no
desenvolvimento da aprendizagem e em outros aspectos relevantes. Torna-se necessário
“resgatar na escola desde a mais tenra idade aquelas atividades educativas que
enriquecem a interioridade dos alunos” ( Malheiro, 2010).

Tais práticas educativas podem nortear-se dos pressupostos pedagógicos e dos


ideais da psicopedagogia. Para tanto, os profissionais da psicopedagogia precisam estar
informados e cientes da importância do seu trabalho na escola como um agente
facilitador. Por isso, nesta pesquisa, prioriza-se a relação do psicopedagogo com os
profissionais da educação, como se dá a orientação, suporte e como diminuir as
dificuldades encontradas no percurso do trabalho pedagógico. Levanta-se alguns
questionamentos, como: O que é Educação Inclusiva e como chegamos até ela? Qual é
papel do psicopedagogo nas escolas inclusivas? Como o psicopedagogo pode facilitar a
inclusão das crianças com deficiência? Qual tipo de mediação psicopedagógica se faz
necessária para amenizar e/ou superar as alterações no processo de aprendizagem e como
desenvolver habilidades?

Para encontrar as respostas de tais questionamentos, haverá uma pesquisa


4

bibliográfica, baseando-se nas ideias de autores como: Fernandez, Freire, Mantoan, Paín,
Porto, Ramos, Relvas, Sacks, Sassaki, Vygotsky, Weiss, entre outros.
Através da pesquisa de livros relevantes e também de artigos atuais este trabalho
busca analisar as possíveis práticas psicopedagógicas que permeiam e facilitam processo
de inclusão educacional no Brasil baseando-se nas ideias de autores que já pensaram no
assunto e podem nos ajudar a chegar a uma conclusão, norteando nossa prática.

A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Desde o princípio da humanidade todo aquele que fosse considerado diferente, que
fugisse dos padrões de normalidade aceitos por determinada época, era visto com olhar de
desprezo, discriminação, superstição, medo, superproteção e/ou segregação.
Como Séneca (1986) afirmou:

“Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios; cortam-se
as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas;
matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem defeituosos e
monstruosos afogamo-los, não devido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as
coisas inúteis das saudáveis.”

A pessoa que tivesse uma deficiência, dependendo da sociedade e cultura em que


estava inserida, poderia ser considerada um fardo, um castigo ou até mesmo uma
maldição divina. Em outras épocas e costumes essas pessoas poderiam ser consideradas
seres especiais, até mesmo dotadas de poderes divinos. Assim, a forma como a sociedade
lidava com a pessoa com deficiência era cercada de mitos e “pré-conceito”.

Segundo Ramos (2010): “Vivendo em uma sociedade de resultados, podemos dizer


que a deficiência é exatamente o que não se quer, porque não combina com as leis
biológicas, sociais, políticas, econômicas e religiosas estabelecias pela humanidade,
o que se revela nos discursos que se fazem sobre a vida e sua função”.

Na Pré-História apenas os mais fortes sobreviviam e os deficientes provavelmente


não se enquadravam dentro dos grupos primitivos, pois o ambiente era desfavorável e
nos grupos cada qual contribuía e lutava pela sua própria sobrevivência através da caça e
de trabalhos pesados.
5

Na Antiguidade pessoas com deficiências eram entregues à própria sorte, muitas


foram mortas e tantas outras maltratadas. Aristóteles dizia que era necessário ''Tratar
igualmente o igual e desigualmente o desigual'' .

Com o advento do Cristianismo indivíduos com deficiências começaram a ser


vistos de forma mais piedosa: não eram mais eliminados (mortos), não sendo mais vistos
como um castigo, mas passaram a ser olhados como pessoas merecedoras de caridade,
passando a receber cuidados para sua sobrevivência em locais específicos, como asilos,
hospitais, igrejas, no entanto, sendo segregados. Ou seja, sobreviviam, mas retirados “das
vistas” da sociedade. Aqueles que permaneciam na casa da família poucas vezes saiam
de casa. Ainda assim, quando não fosse possível “esconder” comportamentos imorais
e/inadequados eram castigados.

A Inquisição também eliminou “desviantes” que apresentassem comportamentos


inadequados, “sobrenaturais” que não fossem “modificados”, “normalizados” através das
orações.De acordo com Bianchetti(2006), na Idade Médias “as deficiências passaram a
ser identificadas, mas não podiam ser tratadas por razões físicas”, porque advinham de
um “problema da alma”.

Após a Idade Média, com o início do Renascimento, a razão dá lugar à perspectiva


religiosa e a deficiência passa a ser analisada sob o ponto de vista médico.

Como afirma Pessotti (1984): “De todo modo, diversas vantagens se oferecem para o
deficiente ao passar as mãos do inquisidor às mãos do médico”.

Assim, o deficiente passa a ser visto como alguém que precisa de cura para a sua
“doença”. Muitas experiências médicas foram realizadas com deficientes “em prol da
cura”, não obtendo muito sucesso. Essa “visão ortopédica” enxergava apenas a
deficiência da pessoa e não conseguia perceber que ali havia uma pessoa com
determinada deficiência, como sendo um sujeito com possíveis habilidades a serem
encontradas. Acreditava-se que a pessoa com deficiência era incapaz e por isso não
precisam receber estímulos educacionais. A sociedade não percebia essa parcela da
população, embora pessoas com deficiências sempre existissem.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que foi liderada por Hitler,
6

muitas atrocidades foram cometidas. Acredita-se que o Holocausto eliminou por volta de
275 mil adultos e crianças com deficiências e outras 400 mil pessoas suspeitas de
portarem a hereditariedade de surdez, cegueira e deficiência mental. Essas pessoas foram
mortas em nome da crença de Hitler na existência de uma raça humana mais pura,
denominada Ariana, a qual essas pessoas, segundo ele, não poderiam fazer parte,
assim como os judeus e ciganos também não.
Pessoas com deficiências passaram a ser um pouco mais enxergadas pela
sociedade no Pós-Guerra, quando muitos soldados e combatentes que por voltarem
vivos aos seus países foram considerados heróis, no entanto, muitos desses “heróis”
trouxeram as marcas da guerra no corpo e na mente, pois era enorme o número de
pessoas que se tornaram deficientes físicos e doentes mentais por conseqüência da
guerra.

Ainda no século XX, a deficiência passa a ser vista de outras formas por grandes
pensadores, podendo se destacar: Piaget, Brunner e Vygotsky que contribuíram muito
com os seus estudos sobre as crianças com deficiência.

Vygotsky opunha-se veemente à avaliação das “crianças portadoras de


incapacidades” com base em seus defeitos ou deficiências, seu “menos”; ele as
avaliava, em vez disso, com base no que elas tinham de “mais”. Ele não as via como
deficientes, e sim pessoas com desenvolvimento diferentes. Segundo VYGOTSKY:
“Uma criança com uma incapacidade representa um tipo, qualitativamente diferente,
único, de desenvolvimento”.

Ou seja, todas as pessoas têm capacidade para aprender e se desenvolver,

“Se uma criança cega ou surda atinge o mesmo nível de desenvolvimento de uma
criança normal, então uma criança com uma deficiência atinge-o de outro modo,
por outro caminho, outro meio; para o pedagogo, é particularmente importante
conhecer a singularidade do caminho pelo qual deve conduzir a criança. Essa
singularidade transforma o menos da deficiência no mais da compensação”.
(SACKS, 1998)

Imediatamente após a guerra a sociedade civil organiza-se buscando soluções para


amenizar tal quadro, onde nasce a Organização das Nações Unidas (ONU- 1945) visando
encontrar soluções para os problemas sociais decorrentes da Guerra. Após a criação da
7

ONU a comunidade internacional se reúne na nova sede jurando nunca mais cometer
tamanha atrocidade. Tal “juramento” vira um documento onde se explicita todos os
direitos de um ser humano, em todo lugar e tempo. Esse documento confere suma
importância e passa a ser chamado de Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Com essa declaração garantindo os direitos humanos passa a ser inaceitável


abandonar, subjugar e maltratar qualquer pessoa, pois para o novo documento no seu
Artigo 1º: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.
Assim retorna a visão ortopédica em relação à pessoa com deficiência, pois nesse
tempo, mais do que nunca, acredita-se que pessoa com deficiência precisa de reabilitação
e a tentativa de “voltar à normalidade” torna-se o objetivo de muitos deficientes.
Dessa forma muitos Centros de Reabilitação são criados mundo a fora e novas
instituições voltadas para a reintegração da pessoa com deficiência surgem.

Nesse paradigma as escolas especiais começam a ganhar terreno. Afinal, para a


concepção daquela época, se eles são sujeitos passivos de reabilitação também podem ser
educáveis. Assim aquelas pessoas que não poderiam frequentar uma escola regular
porque possuíam uma deficiência passam a ser vistas como pessoas que podem receber
um ensino especial, onde a pessoa com deficiência torna-se o “aluno excepcional”.

Como a UNESCO afirma (1977, p.5-6), é possível dividir a história da


humanidade, de acordo com a forma como as pessoas com deficiência foram tratadas ao
longo da história:

Fase filantrópica: em que as pessoas com deficiência são consideradas doentes e


portadoras de incapacidades permanentes inerentes à sua natureza. Portanto, precisavam
ficar isoladas para tratamento e cuidados de saúde;
Fase da “assistência pública”: em que o mesmo estatuto de "doentes" e "inválidos" implica
a institucionalização da ajuda e da assistência social;

Fase dos direitos fundamentais: iguais para todas as pessoas quaisquer que sejam as
suas limitações ou incapacidades. É a época dos direitos e liberdades individuais e
universais de que ninguém pode ser privado, como é o caso do direito à educação;
8

Fase da igualdade de oportunidades: época em que o desenvolvimento econômico e


cultural acarreta a massificação da escola e, ao mesmo tempo, faz surgir o grande
contingente de crianças e jovens que, não tendo um rendimento escolar adequado aos
objetivos da instituição escolar, passam a engrossar o grupo das crianças e jovens
deficientes mentais ou com dificuldades de aprendizagem;

Fase do direito à integração: se na fase anterior se "promovia" o aumento das


"deficiências", uma vez que a ignorância das diferenças, o não respeito pelas diferenças
individuais mascarados como defesa dos direitos de "igualdade" agravava essas
diferenças, agora é o conceito de "norma" ou de "normalidade" que passa a ser posto
em questão.

Como relata a própria UNESCO, essas divisões históricas baseadas na forma como
a pessoa com deficiência foi encarada acontecem somente de forma cronológica, pois até
mesmo nos dias atuais há inúmeras concepções e crenças que permeiam as atitudes frente
as pessoas que possuem alguma deficiência. O que reflete nas escolas e instituições que
atendem alunos com deficiências.

Séculos e mais séculos passaram e as pessoa com alguma deficiência foram


discriminadas, tendo a sua condição como ser humano enfatizada pela sua deficiência e
não por aquilo que elas poderiam ser capazes. É incalculável o número de pessoas que
nasceram e morreram vítimas de “pré-conceito” (conceito julgado antes de ser
conhecido, dominado) e tiveram as suas vozes caladas e seus direitos, sentimentos,
pensamentos e singularidades legalmente ignorados. Tais marcas continuam em nossa
sociedade.

INCLUSÃO X EXCLUSÃO

De acordo com o dicionário Aurélio (1993) inclusão vem do latim includere - é o


ato ou efeito de incluir, que significa: inserir; trazer para dentro; abranger (perceber,
entender, apreender, alcançar, atingir); conter em si; compreender (entender alguém,
aceitar); introduzir; pertencer juntamente com outros. Em educação, Inclusão significa
aceitar (no sentido amplo da palavra) a diversidade humana, trazendo para dentro da
escola regular pessoas com deficiências na plena participação de todo o processo
9

educacional. Inclusão é a crença na diversidade como um valor, um bem comum.


Independente da cor, raça, religião, enfim, independente das diferenças que possuam as
pessoas, é princípio básico dos direitos humanos o acesso à educação. O que ficou
estabelecido por ocasião da Conferência Mundial sobre Igualdade de Oportunidade,
Acesso e Qualidade, realizada em 1994, na Espanha, em cooperação com a UNESCO,
que ficou conhecida como a Declaração de Salamanca. De acordo essa declaração:

O termo “necessidades educacionais especiais” refere-se a todas aquelas crianças


ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de
deficiências ou dificuldades de aprendizagem. Muitas crianças experimentam
dificuldades de aprendizagem e portanto
possuem necessidades especiais em algum ponto durante a sua escolarização”.

Até os dias de hoje existe uma grande batalha para que tal preceito seja vivenciado
por todos, porque as marcas da exclusão ainda estão enraizadas na sociedade.

No Brasil, a Lei Federal n° 7853, de 24 de outubro de 1989, assegura os direitos


básicos dos “portadores de deficiência”. Em seu artigo 8º constitui como crime
punível com reclusão (prisão) de 1 a 4 anos e multa, quem:
1. Recusar, suspender, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de
aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, porque é
portador de deficiência.

2. Impedir o acesso a qualquer cargo público porque é portador de deficiência.


3. Negar trabalho ou emprego, porque é portador de deficiência.
4. Recusar, retardar ou dificultar a internação hospitalar ou deixar de prestar
assistência médico-hospitalar ou ambulatória, quando possível, a pessoa portadora de
deficiência.

Quando pensamos na história da humanidade e falamos em inclusão percebemos


quanto tempo se passou e que há poucas décadas que os direitos das pessoas com
deficiência começaram a ser vistos e pensados. Como diz o ditado “antes tarde do que
nunca”, pois analisando positivamente em pouco tempo muitos passos foram dados.
Conforme ROBERT (1999): “Grande foi o caminho já percorrido no combate ao
preconceito que sofrem os portadores de necessidades especiais. No entanto, muito
ainda falta alcançar. Só se atinge a faixa de chegada se os primeiros passos forem dados.”
10

No entanto, percebe-se que só se fala de Inclusão porque a Exclusão existe. Ou


seja, consideramos uns sujeitos incluídos, porque outros estão excluídos. Sobre isso
declara Sawaia (1999):

“... ambas não constituem categorias em si, cujo significado é dado por qualidades
específicas, invariantes, contidas em cada um dos termos, mas são da mesma
substância e formam um par indissociável, que se constitui na própria relação. A
dinâmica entre elas demonstra a capacidade de uma sociedade existir como um
sistema.”

Muitas mudanças sociais só aconteceram após a criação de leis que garantissem os


direitos de igualdade para pessoas com deficiência, capazes de punir legalmente quem
não as cumprissem. Sendo que a própria lei muitas vezes não é cumprida em sua
plenitude, quando, falta a acessibilidade.

São muitas as forma de exclusão que uma pessoa pode vivenciar. A acessibilidade,
ou melhor, a sua falta, é um dos maiores exemplos de exclusão. Por exemplo: o
“direito de ir e vir” está garantido em lei, mas como um deficiente físico vai onde
quiser se são poucos os locais que possuem estrutura para recebê-los adequadamente?

A desigualdade social é outro grande fator de exclusão, em especial quando se trata


de sujeitos com deficiências. Até os dias de hoje é comum encontrarmos mendigos
expondo suas deficiências para pedir esmolas pelas ruas. O que nos mostra que ainda
temos grandes falhas sociais que necessitam de transformações radicais.

A maior barreira que pode haver para uma pessoa com deficiência é a “barreira
humana” que persiste através do preconceito, discriminação e inabilidade de lidar com o
desconhecido, com a diversidade. Segundo Amaral (1995), o confronto com a diferença
causa uma hegemonia do emocional sobre o racional. Negar, não a diferença, mas o
diferente, é de certa forma, confortável, pois não nos obriga a qualquer transformação.

Não basta haver aceitação social e oportunidades IGUAIS se não existir a


oportunidade REAL, ou seja, oportunidades justas, que estejam de acordo com o
indivíduo, com as suas possibilidades e com os desafios que ele seja capaz de enfrentar.
Como afirmou Freire (1996) “... E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu
11

brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.” Incluir não é fazer
caridade, e sim, justiça.

INCLUSÃO ESCOLAR

A trajetória das pessoas com deficiência até a chegada dos bancos escolares é
carregada de estigmas, mitos e crendices, assim como sua trajetória na história da
sociedade. No entanto não foram apenas as pessoas com alguma deficiência que foram
historicamente excluídas da escola. Mulheres, pessoas negras e pobres também foram
mantidos distantes dos espaços escolares porque estudar era privilégio para poucos. No
século XIX e em boa parte do século XX havia escolas separadas para meninos e para
meninas.

À medida que a sociedade passou a “enxergar” os direitos dessas pessoas aos


poucos a escola foi abrindo as portas para elas. Hoje temos as escolas públicas, única
alternativa para as classes pobres, e as escolas privadas frequentadas preferencialmente
pelas classes média e alta.

No entanto, para chegar às escolas regulares as pessoas com deficiências passaram


pelas Escolas Especiais. González (2007) diz que “a escolarização (das crianças
deficientes) foi realizada, fundamentalmente, nas escolas especiais, sendo muito pequena
nas escolas regulares, pois se seguiu a tendência de realizar o ensino específico das
crianças normais e em separado o daquelas não consideradas como tal.” E muitas ainda
passam por elas. Sendo que atualmente a escola especial recebe outro papel, passando
de único espaço educacional para pessoas com deficiências, tornando-se um espaço que
complementa, que apóia a escola regular ajudando no desenvolvimento do aluno com
deficiência através de atendimento educacional especializado em contra turno.

A Inclusão Escolar não diz respeito apenas a inserção dos alunos com deficiência, e
sim algo mais amplo, uma verdadeira ruptura com o sistema educacional da atualidade,
como afirma Mantoan (2006) “ a Inclusão implica mudança desse atual paradigma
educacional, para que se encaixe no mapa da educação escolar que estamos traçando”.

Sabemos que a escola muda de acordo com as transformações que ocorrem na


12

própria sociedade. Assim, a escola não é um espaço sem contexto e se anteriormente


mostrava-se como um local para homogeneizar e era privilegiadamente um espaço único
para o ensino de poucos. Na sociedade moderna, na era da informação e do
conhecimento, é preciso reinventar esse paradigma educacional. Malheiro (2010) afirma
que “a escola do século XXI deve proporcionar a formação para a complexidade do
sistema do mundo atual, o que implica mudanças de atitudes no sentido de maior
abertura de horizontes, de tolerância, de solidariedade, de cooperação, de valorização da
dignidade humana, atitudes que a escola, deve ser a grande guardiã e mãe ensinadora.”

Gomes (1999) observa que “a escola é um espaço sociocultural em que as


diferentes presenças se encontram”. Para Fávero (2004) a escola “é o espaço privilegiado
da preparação para a cidadania para o pleno desenvolvimento humano”.

Como vimos anteriormente, longa foi a jornada percorrida pelas pessoas com
deficiências até que elas pudessem sentar nos bancos escolares. A visão da sociedade
em relação à pessoa com deficiência mudou, dessa forma o papel da educação escolar
em relação a essas pessoas também precisou de novos olhares e novas práticas. Tal
olhar amplia-se de dentro da escola para fora dela e vice-versa. Na verdade, possibilitar
as diferentes presenças é um desafio. A escola será um espaço sociocultural, em que as
diferentes presenças se encontram, assim como o espaço privilegiado de cidadania, se
criarmos condições para tanto.

Para isso mudanças precisam acontecer, a começar pelos profissionais da educação.


Ainda nos dias de hoje muitos professores do ensino regular consideram-se
incompetentes para trabalhar com alunos com deficiências (Mantoan-2006). Na verdade
o que assusta a muitos desses “educadores” é que a Inclusão implica na mudança
estrutural do sistema educacional, exigindo não apenas mudanças atitudinais, como
também mudanças da política educacional, nas metodologias de ensino- aprendizagem,
na organização curricular e na flexibilidade do mesmo. Sendo assim, a mudança
necessária não é somente do professor, como de todo o sistema.

“(...) a inclusão implica uma mudança de perspectiva educacional, porque não


atinge apenas os alunos com deficiência e os que apresentam dificuldades de
aprender, mas todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa
geral. Os alunos com deficiência constituem uma grande preocupação para os
educadores inclusivos. Todos sabem, porém, que a maioria dos que fracassam na
13

escola são alunos que não vem do ensino especial, mas que possivelmente
acabarão nele.”
(MONTOAN, 1999)

Para Bartalotti (2006) "falar em Inclusão Social implica falar em democratização


dos espaços sociais, em crença na diversidade como valor, na sociedade para todos.
Incluir não é apenas colocar junto, e, principalmente, não é negar a diferença, mas
respeitá-la como constitutiva do humano. O valor positivo ou negativo – que se atribui à
diferença é algo construído nas relações humanas. O vetor da exclusão/inclusão não está,
portanto, na diferença em si, mas no valor a ela atribuído”.

Para Relvas (2010) para se ter um bom rendimento e assim, uma boa acolhida, a escola
precisa de:

 Condições físicas de sala de aula, como higiene, boa iluminação, limite acessível de
número de alunos por turma.
 Condições pedagógicas, disponibilidade de material didático adequado à faixa etária e
método pedagógico de acordo com a realidade da criança.
 Condições de corpo docente, no qual se refere à motivação, à dedicação, à qualificação
e à remuneração adequada.

Como já bem explicitado por Marsha Forest (1987) cabe aqui a metáfora do
caleidoscópio descrita por ela: “O caleidoscópio precisa de todos os pedaços que o
compõe. Quando se retiram pedaços dele, o desenho se torna menos complexo, menos
rico. As crianças se desenvolvem, aprendem e evoluem melhor em um ambiente rico e
variado.”

ALTERAÇÕES NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Alunos com Deficiências

No Brasil, o Decreto n. 3.298 de 20 de dezembro de 1999 em seu Art. 4o


considera a pessoa “portadora” de deficiência a que se enquadra nas seguintes
categorias:
14

I- DEFICIÊNCIA FÍSICA

No Decreto nª 3.298 de 1999 da legislação brasileira, encontramos o conceito de


deficiência e de deficiência física, conforme segue: Art. 3…: - Para os efeitos deste
Decreto, considera-se:
I - Deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função
psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de
atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano;

Art. 4…: - Deficiência Física – alteração completa ou parcial de um ou mais


segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física,
apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia,
tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou
ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou
adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o
desempenho de funções.

O comprometimento da função física poderá acontecer quando existe a falta de


um membro (amputação), sua má-formação ou deformação (alterações que acometem o
sistema muscular e esquelético).

Ainda encontraremos alterações funcionais motoras decorrentes de lesão do


Sistema Nervoso e, nesses casos, observaremos principalmente a alteração do tônus
muscular (hipertonia, hipotonia, atividades tônicas reflexas, movimentos involuntários e
incoordenados). As terminologias “para, mono, tetra, tri e hemi”, diz respeito à
determinação da parte do corpo envolvida, significando respectivamente, “somente os
membros inferiores, somente um membro, os quatro membros, três membros ou um lado
do corpo”.

O documento “Salas de Recursos Multifuncionais. Espaço do Atendimento


Educacional Especializado” publicado pelo Ministério da Educação afirma que: A
deficiência física se refere ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende
o sistema Osteoarticular, o Sistema Muscular e o Sistema Nervoso. As doenças ou lesões
15

que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir


grande limitações físicas de grau e gravidades variáveis, segundo os segmentos corporais
afetados e o tipo de lesão ocorrida. (BRASIL, 2006, p. 28)

Deveremos distinguir lesões neurológicas não evolutivas, como a paralisia


cerebral ou traumas medulares, de outros quadros progressivos como distrofias
musculares ou tumores que agridem o Sistema Nervoso. Nos primeiros casos temos uma
lesão de característica não evolutiva e as limitações do aluno tendem a diminuir a partir
da introdução de recursos e estimulações específicas. Já no segundo caso, existe o
aumento progressivo de incapacidades funcionais e os problemas de saúde associados
poderão ser mais freqüentes.

Algumas vezes os alunos estarão impedidos de acompanhar as aulas com a


regularidade necessária, por motivo de internação hospitalar ou de cuidados de saúde que
deverão ser priorizados.

Neste momento, o professor especializado poderá propor o atendimento


educacional hospitalar ou acompanhamento domiciliar, até que esse aluno retorne ao
grupo, tão logo os problemas de saúde se estabilizarem. Sabemos também que nem
sempre a deficiência física aparece isolada e em muitos casos encontraremos associações
com privações sensoriais (visuais ou auditivas), deficiência mental, autismo etc. e, por
isso, o conhecimento destas outras áreas também auxiliará o professor responsável pelo
atendimento desse aluno a entender melhor e propor o Atendimento Educacional
Especializado – AEE necessário.

Existe uma associação freqüente entre a deficiência física e os problemas de


comunicação, como nos caso de alunos com paralisia cerebral. A alteração do tônus
muscular, nessas crianças, prejudicará também as funções fonoarticulatórias, onde a fala
poderá se apresentar alterada ou ausente. O prejuízo na comunicação traz dificuldades na
avaliação cognitiva dessa criança, que comumente é percebida como deficiente mental.
Nesses casos, o conhecimento e a implementação da Comunicação Aumentativa e
Alternativa, no espaço do atendimento educacional, será extremamente importante para a
escolarização deste aluno.
16

II - DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por
audiograma nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz; (Redação dada pelo
Decreto nº 5.296, de 2004)

Tipos e Graus de Deficiência Auditiva

A deficiência auditiva pode ser classificada em graus, de acordo com a medida dos limiares


auditivos. Limiares auditivos são os sons mais baixos que cada pessoa consegue ouvir.
Aqueles que têm audição normal, possuem um limiar em torno de 20-25 decibéis em todas as
frequências. A medida que esses limiares vão aumentando, a audição piora. Assim,
classificamos o grau de perda segundo a tabela ao lado.

Também podemos classificar a deficiência auditiva em tipos: Condutiva, neurossensorial


ou mista.

A Deficiência Auditiva condutiva é causada por um problema mecânico nas transmissões


das ondas sonoras. Para chegar ao seu destino, as vibrações devem passar através do conduto
auditivo externo, tímpano e ossículos da orelha média. O acúmulo de cerúmen e as otites são
17

exemplos de causas de DA do tipo condutivo. A maior parte das deficiências desse tipo pode
ser corrigida com algum tratamento.

A Deficiência Auditiva neurossensorial acontece por lesão de estruturas neurais,


principalmente as células ciliadas presentes dentro da cóclea. Elas desempenham o papel de
receptores das ondas sonoras vibratórias, transformando-as em impulsos elétricos que são
enviados pelo nervo auditivo ao cérebro. As perdas auditivas desse tipo podem ter várias
causas (tabela abaixo) e quase sempre são irreversíveis.
Surdez Condutiva Surdez Neurossensorial
Acúmulo de cerúmen ou corpos
Genética
estranhos
Otites externas e médias Envelhecimento
Otosclerose Medicamentos tóxicos para o ouvido
Malformações da orelha média e
Exposição a sons muito altos
externa
Perfurações do tímpano Doença de Ménière
Traumatismos Malformações da orelha interna
Tumores Traumatismos
Alergias Autoimune
Tumores do sistema nervoso central
As Deficiências Auditivas mistas são uma soma dos dois mecanismos anteriormente
descritos.

Fala e Linguagem

Outra classificação tem a ver com o momento do aparecimento da deficiência


auditiva em relação à aquisição da fala e da linguagem. Nela, chamamos de surdez pré-
lingual as DA que surgem antes da criança aprender a falar e/ou ler. De forma oposta, a
DA que surge após a criança adquirir alguma habilidade linguística oral ou escrita é
chamada de pós-lingual. Essa classificação é da maior importância no tratamento e na
expectativa de resultado da reabilitação auditiva. Isso acontece pela falta de estímulos
sonoros e de fala durante os primeiros anos, impedindo a boa formação das conexões
neuronais da via auditiva e do processamento cerebral da fala.
18

Causas de Deficiência Auditiva

Embora não consigamos descobrir a origem da deficiência auditiva em todas as


pessoas que buscam tratamento, enumero abaixo suas principais causas conhecidas:

Consequências da Deficiência Auditiva

A consequência mais evidente das perdas de audição é a incapacidade de ouvir os


sons ambientes, especialmente a fala. Entretanto, muitos outros prejuízos menos óbvios
começam a se instalar na sequência da incapacidade de se engajar em conversas. A medida
em que a deficiência auditiva se instala, seus desdobramentos passam a afetar a vida
social, familiar, o trabalho, além da saúde mental e física.

Nesse sentido, vale destacar dois dos achados mais recentes, de consequências
cognitivas das perdas auditivas, um em idosos e outro em crianças. Nos mais velhos, já
está claro que a deficiência auditiva é um dos principais fatores de risco evitáveis para o
desenvolvimento de demências como o Alzheimer.

Já nas crianças, inúmeros estudos vêm demonstrando que aquelas com perdas
auditivas estão sujeitas a alterações nas funções executivas do cérebro, um conjunto muito
importante de mecanismos cerebrais responsáveis pelo planejamento e execução de
atividades.
As consequências da perda auditiva são listadas abaixo:

 Dificuldade de comunicação
 Vergonha, culpa, raiva
 Isolamento social
 Dificuldade de relacionamento
 Dificuldades acadêmicas
 Dificuldade familiar
 Dificuldades no trabalho
 Alterações do humor
 Alterações de memória
 Demências e Alzheimer
19

 Baixa auto-estima
 Pouca autonomia
 Disfunção sexual

Tratamentos da Deficiência Auditiva

Não existe um tratamento único para a deficiência auditiva. A escolha do método


terapêutico depende pelo menos dos seguintes fatores: idade, duração, tipo e grau de perda
auditiva, causa da perda.

Um grande número de pessoas com perdas auditivas condutivas pode ser tratada de
maneira curativa, através de medicamentos ou cirurgias. Como exemplo, existem
as timpanoplastias usadas para corrigir perfurações no tímpano ou a estapedectomia para
tratar a surdez decorrente da otosclerose. Os diferentes tipos de otites medias também
podem ser bem tratadas. Nessas inflamações, o uso de medicamentos ou de tubos de
ventilação pode tratar também a audição.

Já os casos de deficiências auditivas neurossensoriais quase sempre serão tratados com


auxílio de dispositivos tecnológicos desenvolvidos para a reabilitação auditiva. São eles:

 Aparelhos Auditivos
 Implantes Cocleares
 Implantes de orelha média
 Próteses Auditivas Ancoradas ao Osso (surdez unilateral)

Além dos tratamentos mencionados, grande parte dos pacientes podem ter benefício das
diferentes técnicas de terapia fonoaudiológica direcionadas a reabilitação e ao treinamento
auditivo.

III - DEFICIÊNCIA VISUAL

Cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a
melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no
melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do
campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60 o; ou a ocorrência simultânea de
20

quaisquer das condições anteriores; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004)

O que é deficiência visual?

Essencialmente, a deficiência visual é uma condição irreversível que causa  limitação


funcional de um ou de ambos os olhos ou outro componente do sistema da visão. Sendo que,
dependendo do grau de deficiência visual, atividades comuns do dia a dia, como dirigir e
assistir televisão, por exemplo, podem ser comprometidas ou impraticáveis. 

Deste modo, a deficiência visual é definida pela acuidade visual. Ou seja, a capacidade de
enxergar os detalhes, formas e cores com precisão. De modo que, a acuidade determinada
para uma pessoal normal é a escala 20/20 no teste de Snellen. Onde o primeiro 20 representa a
distância de 20 pés (aproximadamente 6 metros), que uma pessoa normal enxerga
perfeitamente e o segundo 20 é  relativo à aferição da pessoa examinada. Por exemplo, um
indivíduo com acuidade 20/40 enxerga um objeto como se estivesse a 40 pés quando
comparado a com alguém com visão perfeita. 

Deficiência visual na infância e os impactos na vida escolar

A visão é o sentido que mais usamos para perceber o mundo à nossa volta. Por isso,
a deficiência visual em crianças em idade escolar potencializa as chances de aprendizado
abaixo do nível adequado. Assim, resulta também em problemas de desenvolvimento
cognitivo, emocional, motor, social e de linguagem. Além disso, dois terços das crianças
com deficiência visual apresentam outro tipo de deficiência de desenvolvimento, como
perda auditiva, deficiência intelectual, paralisia cerebral e epilepsia, por exemplo.  

IV - DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação


antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades
adaptativas, tais como:

a) comunicação;
b) cuidado pessoal;
c) habilidades sócias
21

d) utilização dos recursos da comunidade


e) saúde e segurança;
f) habilidades acadêmicas;
g) lazer; e
h) trabalho; ; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004)

A deficiência intelectual ou transtorno do desenvolvimento intelectual é uma


condição que tem como característica a inteligência abaixo da média. Mas, ainda hoje há uma
imagem errada de as pessoas que sofrem dessa condição são completamente dependentes ou
sem qualquer discernimento. Isso é muito negativo e cria uma imagem cheia de preconceitos
que só tornam ainda mais difíceis os desafios que essas pessoas enfrentam.

Na verdade, a questão é bem mais complexa do que essa ideia errada sobre o que é
deficiência intelectual. Por isso, preparamos este post para você entender melhor e, assim,
aprender a lidar melhor com ele.

O que é deficiência intelectual?

É um distúrbio do neurodesenvolvimento. Ou seja, é um tipo de transtorno


neurológico que afeta a habilidade de interação social, comunicação, raciocínio lógico,
entre outras. Além disso, prejudica o aprendizado, a atenção, a memória e a linguagem da
criança.

Por exemplo, uma criança que tem deficiência intelectual tem um nível cognitivo e
comportamental menor ao esperado para a idade. Por isso, muitas crianças e adultos nessa
condição são vistas como imaturas. Mas, a verdade é que esse problema compromete e
atrapalha a adaptação, tornando mais difícil fazer as coisas normais do dia a dia.

Deficiência intelectual: desequilíbrio no cérebro

A deficiência intelectual é causada por um desequilíbrio no cérebro. Como


resultado, as conexões neurológicas não funcionam muito bem, perdendo funções
intelectuais importantes. Ou seja, isso resulta em um quociente de inteligência (QI) menor
que a média.
22

Mas é preciso lembrar que isso não afeta todos da mesma forma. Por isso, podemos classificá-
lo em 4 níveis diferentes: o nível leve, moderado, grave ou profundo. A avaliação é feita de
acordo com a função intelectual e adaptativa da pessoa.

Quais são os sintomas da deficiência intelectual?

Os sintomas geralmente são bem claros, mas nem sempre o diagnóstico vem cedo.
Nos casos leves, os primeiros sinais costumam ser notados somente na idade escolar. Já
nos casos moderados ou acima, às vezes é possível perceber os sinais nos primeiros anos
de vida. Separamos alguns dos principais sintomas para que você aprenda a identificar:

Atraso no desenvolvimento

Um dos principais sintomas é o atraso no desenvolvimento. Como essas crianças


aprendem de forma mais lenta, elas têm dificuldade para usar as palavras ou construir
frases. Além disso, existe um atraso também nas atividades do dia a dia, como se vestir,
comer, e nas habilidades adaptativas.

Anomalias

A deficiência intelectual pode vir acompanhada de anomalias. Ou seja, é possível


perceber algumas características físicas nessas pessoas. Nessa situação, logo no parto ou
pouco depois, já é possível perceber algumas particularidades. As mais comuns são, por
exemplo, cabeça grande ou pequena demais, peculiaridades faciais e deformidades dos
membros. Mas é importante saber que tais manifestações podem variar bastante de criança
para criança.

Doenças

Algumas crianças demonstram a deficiência intelectual através de doenças como


crescimento anormal, convulsões e distúrbios alimentares. Em níveis mais graves, o
desenvolvimento motor do bebê é lento ou não corresponde à expectativa para a idade.
Assim, isso pode atrapalhar ou impedir as ações típicas do primeiro ano de vida como
rolar, sentar-se ou ficar em pé.
23

Como identificar a deficiência intelectual?

Em geral, a deficiência intelectual é mais perceptível na idade pré-escolar ou quando as


crianças ingressam nas salas de aula. Com isso, é possível identificar sinais como:

 Atraso no desenvolvimento da linguagem. Isso prejudica a fala, o reconhecimento das


letras, a comunicação e a interação social (com os colegas e com as professoras).

 Dificuldade no aprendizado, tanto em entender, como também na memória, em reter o


conhecimento e aplicá-lo. Pode se manifestar por incapacidade ou baixa eficiência em
resolver problemas ou concluir tarefas. A falta de interesse ou pouca concentração nas
atividades escolares também requerem atenção.

 Dificuldade de adaptação aos mais variados ambientes, que pode ocorrer tanto em
lugares novos, como familiares.

 Dependência ou pouca habilidade para realizar tarefas cotidianas.

 Evolução lenta ou insuficiente da coordenação motora.

Propensão a diagnóstico duplo e problemas comportamentais

A deficiência intelectual aumenta a propensão ao desenvolvimento de problemas


comportamentais. Indisciplina, agressividade, raiva, atitudes explosivas e impulsividade
podem acontecer devido à baixa capacidade cognitiva de autocontrole. Também é comum
que crianças com deficiência intelectual tenham outros distúrbios, como ansiedade e
depressão. Estudos explicam que a consciência de seu baixo nível cognitivo, maus tratos e
abusos são os principais fatores para a ocorrência desse diagnóstico duplo.

Como tratar a deficiência intelectual?

O tratamento da deficiência intelectual varia muito de acordo com a função


cognitiva do paciente e suas necessidades. Mas, geralmente, os cuidados envolvem uma
equipe multidisciplinar, com acompanhamento médico e o trabalho de psicólogos,
fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. Esse time é primordial para estimular o
desenvolvimento cognitivo dos pequenos, promover qualidade de vida e reduzir as
disfunções da criança.

Em alguns casos, é necessário ainda o apoio de neurologistas ou pediatras


especializados no assunto, ortopedistas e outras especialidades médicas. Pacientes com
24

deficiência intelectual podem precisar também de fisioterapia ou alternativas que


melhorem a coordenação motora. Os nutricionistas também podem auxiliar em transtornos
alimentares ou desnutrição.

Além de todo esse trabalho profissional, a criança com deficiência intelectual


requer ainda o suporte da família. Por isso, pode ser recomendado o apoio de uma
assistente social para aprender a lidar com as necessidades desse paciente. Além disso, a
escola também tem um papel fundamental. A inclusão desses meninos e meninas em
escolas comuns é indicada sempre que possível. O convívio com crianças diferentes
estimula e contribui positivamente no futuro delas.

Se tiver com dúvidas e quiser um aconselhamento especializado, agende uma


sessão de orientação com nossos especialistas. O Zenklub é a maior rede credenciada de
psicólogos online, onde você tem acesso a mais de 100 especialistas por vídeo-consulta.

V - DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA: associação de duas ou mais deficiências.

No outro extremo da escala das capacidades tidas como habilidades intelectuais


estão às pessoas consideradas superdotadas ou com altas habilidades.

Há ainda aquelas com condutas típicas ( síndromes, transtornos, comportamentos


diferenciados...).
Assim sendo, entende-se por alunos com deficiências aqueles estudantes que apresentam
impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial,
necessitando de condições favoráveis e estímulos adequados ao seu desenvolvimento.

“Se uma criança cega ou surda atinge o mesmo nível de desenvolvimento de


uma criança normal, então uma criança com uma deficiência atinge-o de
outro modo, por outro caminho, outro meio; para o pedagogo, é particularmente
importante conhecer a singularidade do caminho pelo qual deve conduzir a
criança. Essa singularidade transforma o menos da
deficiência no mais da compensação”. (SACKS, 1998, p. 63)

No Brasil, cerca de 45 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência.


Certamente uma parcela importante da população que ainda precisa de atenção e de mais
políticas públicas para atender suas necessidades. Dentro desse contexto ainda existem as
25

pessoas que convivem com dois ou mais tipos de deficiência ao mesmo tempo. Essas
pessoas possuem a deficiência múltipla.

Deficiência múltipla é a associação de duas ou mais deficiências primarias como


física, visual, mental ou auditiva na mesma pessoa. Frequentemente as pessoas com
deficiência múltipla possuem atrasos no desenvolvimento, na aprendizagem ou na
capacidade administrativa do cotidiano.

A Política Nacional de Educação Especial (PNEE) define a deficiência múltipla


como a “associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias
(mental/visual/auditiva/física) com comportamento que acarretam atrasos no
desenvolvimento global e na capacidade adaptativa (MEC, 1994).”

Já o programa TECNEP (Programa Educação, Tecnologia e Profissionalização para


Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais) descreve a deficiência múltipla como:
“deficiência auditiva ou visual associada a outras deficiências (mental e/ou física), como
também a distúrbios neurológicos, emocionais, linguagem e de desenvolvimento
educacional, vocacional, social e emocional, dificultando a sua autossuficiência”.

O que causa a deficiência múltipla?

As causas podem ser diversas, provenientes de fatores que ocorreram durante a


gestação, no nascimento ou até mesmo em decorrência de acidentes, intoxicações,
tumores, etc.

Entretanto, as más-formações congênitas e as infecções virais, como a rubéola,


sarampo e algumas doenças sexualmente transmissíveis, são as principais causadoras da
deficiência múltipla em adultos, quando não são tratadas.

Características gerais da criança com múltiplas deficiências 

As crianças com deficiência múltipla apresentam características que as diferenciam das


outras. De maneira geral elas apresentam:

 Dificuldade na abstração de rotinas diárias,


 Dificuldades na comunicação interpessoal
26

 Dificuldades no reconhecimento de pessoas da sua convivência


 Presença de movimentos corporais involuntários
 Respostas mínimas a estímulos causados por barulhos, toques, etc.
 Necessitam de instruções organizadas e sistematizadas

Tipos de múltipla deficiência

De acordo com pesquisadores, a deficiência múltipla pode ser separada da seguinte


forma:

Física e psíquica:

 Associa a deficiência física à deficiência intelectual;


 Associa a deficiência física aos transtornos mentais;

Sensorial e psíquica:

 Associa a deficiência auditiva associada à deficiência intelectual;


 Associa a deficiência visual à deficiência intelectual;
 Associa a deficiência auditiva aos transtornos mentais;
 Associa a perda visual ao transtorno mental;

Sensorial e física:

 Associa a deficiência auditiva à deficiência física;


 Associa a deficiência visual à deficiência física;

Física, psíquica e sensorial:

 Associa a deficiência física à deficiência visual e à deficiência intelectual;


 Associa a deficiência física à deficiência auditiva e à deficiência intelectual;
 Associa a deficiência física à deficiência auditiva e à deficiência visual;
27

Como lidar com as crianças com deficiência na escola?

A maneira como cada deficiência afetará o aprendizado de tarefas simples depende


do seu grau de comprometimento. Entretanto a quantidade de estímulos recebidos ao longo
da vida também influencia nesse aprendizado e no desenvolvimento da comunicação.

Na escola cada criança precisa ser avaliada sobre suas dificuldades e sobre suas
potencialidades. É preciso ficar atento às competências do aluno com deficiência múltipla
e utilizar a estimulação sensorial. Dessa forma é possível encontrar diferentes maneiras de
se comunicar e interagir com a criança.

É essencial que haja acompanhamento multidisciplinar que inclua ações integradas


entre a escola, a saúde e a família. Esse trabalho ajuda, portanto, a avaliar as necessidades
específicas e a sugerir adaptações e recursos que facilitam o processo de aprendizado.

Mas para que haja desenvolvimento adequado e aprendizado das crianças com
múltiplas deficiências, não é suficiente apenas adaptar o currículo. É preciso observar as
necessidades do aluno como:

 Atenção ao posicionamento postural adequado para evitar dores


 Dar à criança oportunidade de escolha
 Estimulação constante da comunicação
 Interação com ambientes naturais, com pessoas e objetos
 Aprendizagem centrada em experiências da vida real
 Organização e estruturação dos ambientes

A deficiência múltipla traz consequências para o desenvolvimento da criança, mas que


podem ser amenizadas com atenção e cuidados. O ambiente lúdico, as atividades
adaptativas e funcionais certamente favorecem o desenvolvimento da comunicação e das
interações sociais.  

Educandos com Dificuldades de Aprendizagem


Aprender é um processo complexo e dinâmico que resulta na mudança de
comportamento após determinada experiência, estando relacionadas aos fatores
comportamentais, afetivos, psicológicos, sociais e orgânicos de cada individuo. São
várias as possíveis causas que podem levar um aluno a apresentar dificuldades ou falhas
28

que prejudicam esse processo. Fernández (1991) considera as dificuldades de


aprendizagem como sintomas ou “fraturas” no processo de aprendizagem, onde
necessariamente estão em jogo quatro níveis: o organismo, o corpo, a inteligência e o
desejo.
Nesse sentido o “querer aprender” vai ser fundamental para que aprendizagem
ocorra. Dificuldades de aprendizagem não estão ligadas apenas aos sistemas biológicos,
mas podem ser causadas por problemas passageiros e devem ser observadas, podendo ser
prevenidas, minimizadas e até excluídas. Algumas vezes a dificuldade de aprendizagem
pode ser um alerta sobre um processo de ensino-aprendizagem ineficaz. Conforme Scoz
(1994):

“(...) os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas


físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso
compreendê-los a partir de um enfoque multidimensal, que amalgame
fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos
dentro das articulações sociais. Tanto quanto a análise, as ações sobre os
problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo
de luta pela transformação da sociedade.”

Distúrbios e Transtornos na Aprendizagem

De acordo com o CID - 10, os Transtornos específicos do desenvolvimento das


habilidades escolares são compostos por grupos de transtornos manifestados por
comprometimentos específicos e significativos no aprendizado de habilidades escolares.
Não são necessariamente decorrentes de deficiências, embora eles possam ocorrer
simultaneamente com essas condições. Assim, podemos entender como Transtorno o
conjunto de sintomas comportamentais que provocam uma série de perturbações na
aprendizagem do sujeito, interferindo no decorrer desse processo.
Os transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares
geralmente ocorrem junto com outras síndromes clínicas, como por exemplo, o
transtorno de déficit de atenção ou o transtorno de conduta, ou outros transtornos do
desenvolvimento, tais como o transtorno específico do desenvolvimento da função
motora ou os transtornos específicos do desenvolvimento da fala e linguagem. Para Paín
(1992), “o tratamento Psicopedagógico é o mais indicado no caso de tratar-se um
transtorno de aprendizagem”.
29

A definição estabelecida em 1981 pelo National Joint Comittee for Learning


Disabilities (Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem), nos Estados Unidos da
América,descreve que “Distúrbios de aprendizagem é um termo genérico que se refere a
um grupo heterogêneo de alterações manifestas por dificuldades significativas na
aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas.
Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do
sistema nervoso central.”

Distúrbios ligados à Linguagem:

Na LEITURA: Alexia (impossibilidade absoluta de ler); Dislexia (domínio insuficiente


de leitura).
Na ESCRITA: Agrafia (impossibilidade de comunicar algo por escrito,
independente do nível mental); Disgrafia (dificuldade acentuada de escrita);
Disortografia (dificuldade de escrita relacionada à ortografia); Discaligrafia (reprodução
inadequada da letra manuscrita).
Na ARITMÉTICA: Acalculia (perda total da capacidade de operar
matematicamente); Discalculia (dificuldade parcial de operar matematicamente).

Segundo Olivier(2011) “dependendo do grau de dificuldade que o individuo


apresente, é necessário um tratamento multidisciplinar”, onde além do psicopedagogo
ele poderá ter acompanhamento com profissionais da medicina, fonoaudiologia,
pedagogia, psicologia, arteterapia, psicomotricidade (...) dependendo das necessidades
individuais.

A psicopedagogia na escola inclusiva

A Psicopedagogia

A própria nomenclatura Psicopedagogia nos remete a pensar na “fusão” entre a


Pedagogia e Psicologia. Em resumo a Pedagogia preocupa-se com as questões voltadas
às metodologias de ensino-aprendizagem do aluno e a questão educacional em sua
amplitude. Enquanto a Psicologia foca na análise do sujeito, no comportamento humano
30

e seus processos mentais.


Assim sendo, cabe à Psicopedagogia a lacuna existente entre o Ser aluno e o Ser
sujeito. A psicopedagogia nasceu da fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia. “O termo
Psicopedagogia distingue-se em três conotações: como uma prática, como um campo de
investigação do ato de aprender e como (pretende-se) um saber científico. (BOSSA,
2000)
Segundo a Associação Brasileira de Psicopedagogia “a Psicopedagogia é um campo
de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana: seus
padrões normais e patológicos considerando a influência do meio - família, escola e
sociedade - no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da
Psicopedagogia.” Esta surgiu da fronteira existente entre a Psicologia e a Pedagogia,
apoiando-se no tripé:

 Psicologia Social
 Psicanálise
 Psicologia Genética

Porto (2011) destaca que os conhecimentos específicos de Psicologia e a Pedagogia


não foram suficientes para formar o corpo teórico da Psicopedagogia, por isso
recorre a outras áreas como a Linguística, a Psicanálise, a Filosofia, a Neurologia, que
segundo ela “embasam e dão forma teórica e prática psicopedagógica e temos então
várias faces e múltiplos olhares”. Tal olhar multidimensional é essencial para o
psicopedagogo. É fundamental que ele seja capaz de enxergar o que está por trás do
sintoma. O papel do psicopedagogo escolar não se difere quanto a essa questão.

Do ponto de vista de Jorge Visca a Psicopedagogia tem em seu perfil um caráter


independente e complementar, possuindo o processo de aprendizagem como seu objeto
de estudo, adotando recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios, acreditando
que nesse processo há participação dos aspectos biológicos com disposições afetivas e
intelectuais que interferem o desenvolvimento do sujeito, a sua relação com o outro, com
o meio e com o desejo de aprender. O desenvolvimento da aprendizagem vai decorrer
influenciado pelas relações sociais e familiares, condições orgânicas, culturais, estímulos
e vivências de cada sujeito. Para Rubinstein (1996), “a Psicopedagogia tem como meta
31

compreender a complexidade dos múltiplos fatores envolvidos nesse processo (de


aprender)”.

Dessa forma, aquele que trabalha com a Psicopedagogia, o Psicopedagogo, tem


em sua formação o conhecimento e habilidade para analisar como acontece o processo de
aprendizagem de determinado sujeito e se existe algo que pode estar afetando esse
percurso.
Porto (2011) afirma que “o psicopedagogo sendo um profissional
multiespecialista em aprendizagem humana que congrega conhecimento de diversas
áreas a fim de intervir nesse processo, com sua intervenção psicopedagógica, pode
assumir uma feição preventiva ou terapêutica, relacionando-se com equipes ligadas ao
campo da saúde e educação, terapêutica e institucional, respectivamente.”

Na escola o psicopedagogo vai adotar esse olhar, lembrando-se que o foco da sua
atenção não são as dificuldades de aprendizagem em si, mas o processo de aprendizagem
em sua totalidade, e consequentemente se houver algo atrapalhando ele saberá
identificar para intervir, como diz Bossa (1994): “ cabe ao psicopedagogo perceber
eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade
educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo
com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos
de orientação”.

Práticas Psicopedagógicas que facilitam a Inclusão Escolar

Segundo Malheiro (2010) a escola Ideal é aquela que sabe conjugar duas forças
complementares: as características temperamentais, psicológicas e físicas da criança com
o ideal de educação que a família pretende dar à criança. É onde seja possível conjugar
ensino-lúdico com exigência, buscando cada vez mais a individualização no ensino-
aprendizagem, isto é, buscar a riqueza e a individualidade do aluno. Percebe-se que a
escola inclusiva aproxima-se desse parâmetro por proporcionar o encontro com a
Diversidade, levando tanto o professor quanto o aluno a “abrirem os olhos” para as
diferenças.
Com o advento da Inclusão faz-se necessária uma “visão” mais aguçada mediante as
32

necessidades educativas dos alunos, pois agora a escola não é somente daqueles que se
enquadram num determinado padrão, a escola precisa ser de todos, crianças com e sem
deficiências, com dificuldades ou facilidades, com desempenho cognitivo baixo, na
média ou superior. Assim, o psicopedagogo institucional vai trabalhar na escola para dar
assistência e orientações aos professores, prevenir as dificuldades de aprendizagem,
desenvolver um trabalho de cunho psicopedagógico educacional (não clínico) com os
estudantes, dessa forma contribuindo com a melhoria das condições do processo de
ensino aprendizagem.

Nesse contexto, o psicopedagogo pode ajudar ao proporcionar uma visão mais atenta
e sensível às individualidades, tornando o professor mais apto a perceber quando alguma
criança apresenta determinada dificuldade, mesmo que o educador não saiba
identificar com exatidão do que se trata. Então, entra o papel do Psicopedagogo
Escolar para trabalhar também com o educando.

Caberá ao psicopedagogo escolar avaliar quais fatores “facilitaram” a construção


dessa dificuldade, dentre as opções enquadram-se:

Aqueles relacionados à escola: inadequação da metodologia de ensino-


aprendizagem; planejamento ineficaz; profissional desqualificado para a função; muitos
alunos na turma; atividades inadequadas para a faixa etária e etc.

Aqueles relacionados ao desenvolvimento do sujeito: problemas emocionais e


familiares, problemas orgânicos, distúrbios de aprendizagem e transtornos
comportamentais.
No entanto, não se trata de descobrir se a “culpa” é do aluno ou da escola. O
importante é identificar o que favoreceu a aparição da dificuldade para que possa se
trabalhar de maneira objetiva.

Inicialmente o psicopedagogo deverá realizar uma avaliação simples, onde deverá


conhecer o aluno, observando como ele está em relação à aprendizagem, identificando a
dificuldade e buscando meios para amenizá-la e ajudando-o na sua superação. Caso seja
necessário deve-se encaminhar o aprendiz através de um relatório para o atendimento
adequado com o psicopedagogo clínico, pedagogo, professor particular ou profissionais
33

de outras áreas (psicologia, psicomotricidade, médico especialista...) e fazer parceria com


tais profissionais que realizam um diagnóstico especializado mais abrangente, visando
potencializar essa pessoa em desenvolvimento.

Em se tratando de práxis escolar é bom lembrar que é importante dar uma visão do
nível pedagógico do aluno de forma global e da especificidade nos diferentes campos,
como leitura escrita e cálculo (Weiss-2008).

“A prática psicopedagógica vem colocando questões ainda pouco discutidas, de


manejo difícil e geradoras de conflito, isto porque seu “paciente”(...) apresenta,
quase sempre, um quadro de comprometimentos que extrapola o campo de ação
específico de diferentes profissionais, envolvendo dificuldades cognitivas,
instrumentais e afetivas”. (BARONE apud BOSSA, 2000)

A prática psicopedagógica fomenta questões que ainda são tabus, porque ainda nos
dias de hoje existe a idéia de que o aluno com dificuldades precisa de
acompanhamento clínico para “normalizar” o que está “errado” e a escola não revê o que
está fazendo pelo aluno. Então, mais uma vez, o psicopedagogo, ao realizar a parceria
com os profissionais envolvidos com o aluno, inclusive os professores, deve esclarecer e
pontuar o que precisa ser modificado e onde é preciso intervir mais, sem “inter-ferir”.

Contudo, algumas vezes não há necessidade de fazer encaminhamentos, apenas


mudanças na própria maneira de ensinar; mudança de estratégias; planejamento de
atividades de acordo com objetivos específicos; metas individuais; orientações aos
professores do aluno e pais e etc.

Se “a psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim


como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e
educadores” (Weiss-1991) ela não favorece apenas aqueles sujeitos que já apresentam
dificuldades, distúrbios e transtornos que prejudicam a aprendizagem, mas também
ajudam na prevenção, atuando antes que as dificuldades possam surgir ou se agravarem
na escola.

Trabalho psicopedagógico preventivo:

 Envolver os professores, preparando-os para lidar com a Diversidade e as


34

necessidades de aprendizagem e estímulos específicos.


 Detectar possíveis alterações no processo de aprendizagem.
 Promover orientações metodológicas e atitudinais.
 Proporcionar estímulos adequados, complementares e suplementares caso seja
necessário.
 Auxiliar na construção do Projeto Político Pedagógico, no Planejamento e nos
Projetos.
 Estimular no professor o uso do lúdico e a construção do conhecimento através
do gosto pelo saber.

Atendimento psicopedagógico institucional (escolar):

 Realizar atendimento pedagógico individualizado.


 Realizar atendimento pedagógico em grupos pequenos.
 Conversar com o aluno quando precisar de orientação.
 Encontrar a melhor forma de estudo, organizando o modelo de aprendizagem
com o aluno.
 Olhar os cadernos, observando e auxiliando quanto a sua organização, revendo
erros para ajudar o aluno a compreendê-los.
 Escutar atentamente o aluno.
 Fazer a avaliação diagnóstica.
 Fazer encaminhamentos se necessário.

Recursos e Estratégias para o trabalho psicopedgógico

Na psicopedagogia os recursos utilizados tem o objetivo de proporcionar


momentos de construção, criação e apropriação de saberes, onde o sujeito- aprendiz
revela onde e como encontra-se no processo de aprendizagem. Cabe ao psicopedagogo
avaliar para além do que é concreto. Visto que a criança muitas vezes não fala sobre seus
problemas, ou não sabe reconhecê- los, ela utiliza-se de outros meios para expressar-se.

Alguns recursos utilizados são:

Brincadeiras, diversos jogos, materiais diversificados para criação, ilustrações,


35

brinquedos, livros, histórias, computador, músicas, registros escritos (bilhetes, cartas,


histórias, poesias) e etc.
Orientações da psicopedagogia - Orientações aos professores

Certa vez Freire disse “... aprender não é um ato findo. Aprender é um exercício
constante de renovação..." Então, ajudar um sujeito a (re) encontrar a vontade de aprender e a
superar o que limitava/bloqueava esse desejo é abrir portas e janelas para uma nova vida.
Partindo desse pressuposto a tarefa principal do professor é promover o gosto pela
aprendizagem. Então o trabalho do psicopedagogo vai de acordo com esta lógica, porque
ele vai propiciar um reencontro com essa aprendizagem, ajudando a derrubar as barreiras
que foram construídas pelos sintomas.

A formação do professor deve ocorrer na ótica da educação inclusiva, como


formação de especialistas, mas também como parte integrante da formação geral
dos profissionais da educação, a quem cabe atuar a fim de reestruturar suas
práticas pedagógicas para o processo de inclusão educacional.
(FREITAS, 2006)

Importante também é o professor conhecer as etapas do desenvolvimento do ser


humano; atualizar-se constantemente; pesquisar novas formas de conhecimento e de
construção, de didática e de avaliação, sabendo também usar as novas tecnologias como
grandes aliadas que podem beneficiar a atuação docente. No entanto isto não é o
suficiente. Para Malheiro (2010) “o verdadeiro professor é aquele que sabe querer
realmente a todos os seus alunos. Que tem a capacidade para conhecer muito bem a
todos...”.

Finalizando, o bom professor é aquele que inclui todos os alunos no processo


educacional.

Orientações aos pais:

Segundo Vygotsky a criança nasce inserida num meio social, pertencendo a uma
família, estabelecendo com ela as primeiras relações com a linguagem. Nas interações
cotidianas, a mediação com o adulto acontece espontaneamente. Nessa interação com
outros sujeitos que formas de pensar são construídas por meio da apropriação do saber da
comunidade em que está inserido.
36

Partindo dessa visão os pais tem papel extremamente importante na aprendizagem


do sujeito e muitas vezes não se dão conta disso, acreditando que “a vida ensina”. O
psicopedagogo deve orientá-los quanto à importância da função da família; as atitudes a
serem tomadas com relação às dificuldades apresentadas pelos filhos (muitas vezes
pensam que é para irritar que a criança demonstra determinada atitude); ensinar como se
envolverem positivamente com a vida escolar do filho e a importância do afeto.

Friedberg e McChure (2004) listam algumas atitudes importantes que os pais


precisam adotar para com os filhos:
 Reforçar o bom comportamento com elogios, abraços, uma brincadeira ou folga
de alguma tarefa doméstica.
 Dar atenção aos filhos com sorrisos, abraços, elogio verbal, comentando uma fala
do filho, olhando para ele enquanto conversa ou comenta algo que faz, prestando
atenção a uma tarefa que ele está realizando.
 Estabelecer uma rotina para os comportamentos que devem ser repetidos
diariamente, como: tomar banho, arrumar a cama ou estudar.
 Reservar um tempo diário para brincar com a criança, de preferência, uma
brincadeira no chão dirigida pela própria criança, pelo menos por dez minutos.
 Passar um tempo, juntos, em algo que o filho escolha. Por exemplo: jogos de
computador, jogos de tabuleiro, jogos de cartas, projetos de arte, brincar na
piscina, brincar de bonecas, cozinhar, praticar esportes, entre outros.
 Orientá-los adequadamente ao invés de dar lições de moral.
 Dar comandos específicos. Dizer o que deve ser feito ou como deve ser feito de
maneira clara. Mostrar o caminho.
 Permitir escolhas, como forma de valorizar os comportamentos. Por exemplo: já
que você completou as tarefas da escola, pode escolher um brinquedo para
brincar ou uma história para eu lhe contar.

Aos alunos:

Ao trabalhar com o Ser humano é necessário pensar a sua subjetividade. Na escola


não é diferente. O psicopedagogo deve trabalhar não com a dificuldade do aluno, mas
37

com o Ser em sua totalidade, reconhecendo o seu contexto social, familiar, psicológico o
seu momento histórico, suas individualidades, seu grau de desenvolvimento e
características pessoais.

Portanto para pensar o aluno como sujeito é preciso conhecê-lo, e isso se faz
quando o psicopedagogo utiliza-se de ferramentas fundamentais:

 Diálogo
 Escuta atenta
 Observação
 Descoberta das habilidades

A relação aluno- psicopedagogo deve baseada no respeito, na confiança e na


capacidade mútua de acreditar no outro, tendo a afetividade como mola propulsora.
Quando esses “ingredientes” estão presentes nessa relação a possibilidade de crescimento
de ambos é enorme. Mesmo sabendo que o sucesso do desenvolvimento do aluno e a
superação e exclusão das “muletas” não dependa somente desse fator, é sabido que essa
relação quando positiva vai facilitar o próprio desenvolvimento do educando e a
disposição para atenuar as dificuldades apresentadas.

CONCLUSÃO

Vivemos numa sociedade capitalista, no século XXI, cuja base da sua construção
social e cultural está pautada nos ideais de minorias que detinham o poder ao longo da
história. Embora as crenças e valores dessa minoria tenham permanecido enraizados na
contemporaneidade, muitas mudanças aconteceram nesse âmbito. Corrêa (2005) analisou
historicamente as mudanças referentes à pessoa com deficiência, levando-nos a perceber
que muitas transformações foram acontecendo ao longo da história, refletindo nas escolas
e no processo educacional.
Analisando a nossa história, nunca fomos capazes de aceitar as diferenças (sociais,
culturais, étnicas, religiosas...), fato que começa a ser modificado nos dias de hoje. À
medida que a sociedade foi se modificando, as práticas educacionais também, assim
como a visão do próprio homem.
38

O homem passou a adotar diferentes visões sobre si mesmo: ser primitivo, ser
pecador ou puro, ser iluminado, ser racional (...) e enfim começa a se enxergar e ser
enxergado como ser humano. Através da Psicologia ele passa a ser visto como sujeito e
pela Pedagogia como um aprendiz. No entanto, a quem pertence o conhecimento
referente ao sujeito-aprendiz? Quem estuda o processo de aprendizagem desse sujeito?
Buscando preencher essa lacuna nasce a Psicopedagogia, cujo objeto central de estudo
está se estruturando em torno da aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais
e patológicos, conforme Bossa (2000).
O que o psicopedagogo deve buscar na escola é a realização de uma práxis
psicopedagógica capaz de fomentar no educando o seu potencial para aprender,
desenvolvendo no professor a compreensão da importância de educar para o desejo de
aprender. Segundo Ramos (2010) o primeiro passo para a inclusão na escola é
realmente desfazer a idéia de homogeneidade e ter consciência das diferenças,
reconhecendo que a aprendizagem é algo individual. A convivência com outras crianças
é fundamental, porque isso permite o confronto com o “outro”. Se ela convive apenas
com crianças que possuem as mesmas necessidades, não terá outros parâmetros.
Respeitar as diferenças é também respeitar o ritmo de aprendizagem de cada um,
considerando-se que aprender é para a vida toda, como nos lembra Freire“... aprender
não é um ato findo. Aprender é um exercício constante de renovação..." Então, ajudar um
sujeito a (re)encontrar a vontade de aprender e a superar o que limitava/bloqueava esse
desejo é abrir portas e janelas para uma nova vida.

Na atualidade a educação é um direito de todos, e como a escola pode ser


entendida como o reflexo desta sociedade composta por diferentes personagens, é nela
que fica enfatizado esse direito de ser diferente em alguns aspectos e iguais em outros,
sem que isso seja considerado uma anormalidade que cause perturbações. Conforme a
Declaração de Salamanca “As escolas devem ajustar-se a todas as crianças,
independentemente das suas condições físicas, sociais, lingüísticas ou outras”.
De acordo com essa Declaração, a Educação Inclusiva “não é só uma questão de
acesso, mais sim de qualidade. E no qual a demanda que os Estados assegurem que a
educação de pessoas com deficiências seja parte integrante do sistema educacional.”
Bartalotti (2006) detectou que a exclusão não se resolve, portanto, pela simples inclusão
do sujeito em determinado espaço social. Não se incluem por decretos, eles supõem o
direito civil, mas a inclusão efetiva passa por caminhos mais complexos.
39

Por meio deste trabalho nota-se que com o advento da Inclusão a escola torna-se
um ambiente mais rico em diversidade, onde fica mais claro que o desenvolvimento das
pessoas não ocorre de igual para igual, afinal, cada um tem a sua história, suas
potencialidades, dificuldades, personalidade e trajetória de vida (familiar, escolar...).
Como vimos a inclusão exige que o professor perceba essas singularidades e conheça
seu alunado. Então, muitos professores mostram-se contrários à inclusão, porque ela
demanda um novo olhar, novas práticas e mudanças de atitude. Relvas (2009) diz que
“novas posturas educacionais precisam ser estruturadas para que os educandos despertem
para o aprender escolar” e saibam enfrentar os desafios da vida.

O psicopedagogo na escola poderá avaliar o aluno, não no sentido de rotular, mas


de encontrar o que dificulta o processo de aprender no caso dos alunos com dificuldades
de aprendizagem. No caso dos alunos com deficiência o psicopedagogo poderá orientar
os professores quanto às necessidades específicas, adaptações curriculares, metodologias
adequadas, habilidades e dificuldades do sujeito e também ajudar esse aluno com
deficiência em seu processo de aprendizagem, criando estratégias que possibilitem e
favoreçam o desejo de aprender.

O que fazer quando as estratégias utilizadas para ensinar são eficazes para alguns,
mas não para outros? O que fazer com as famílias que não sabem como lidar com a
dificuldade de aprendizagem do filho? Para Rubinstein (1996), “a Psicopedagogia tem
como meta compreender a complexidade dos múltiplos fatores envolvidos nesse processo
(de aprender)”.

Assim, questões como as citadas acima podem ser trabalhadas pelo psicopedagogo,
que deverá mediar as relações do aluno com a aprendizagem, orientar os pais, ajudar a
preparar o professor para a aceitação e a diversidade, sendo uma peça muito importante
na escola inclusiva.

Compreendemos através deste estudo que o psicopedagogo contribui diretamente


para a inclusão na escola e tem muito trabalho a fazer, onde pode- se destacar na sua
função o papel de:
40

 Conhecer a clientela escolar e a escola em si


 Descobrir o que o sintoma está camuflando
 Estimular a vontade de aprender
 Desafiar a construção de novas práticas docentes

Pode ser notado que a sua atuação em ambiente escolar não deve ser solitária, pois
o psicopedagogo poderá realizar um trabalho integrado, auxiliando tanto no
desenvolvimento do aluno, quanto à capacitação da escola, orientando os pais e
realizando parcerias com outros profissionais que atendam esse educando, favorecendo
um elo que irá beneficiar o processo ensino-aprendizagem. “O trabalho psicopedagógico
atua não no interior do aluno ao sensibilizar para a construção do conhecimento, levando
em consideração os desejos do aluno, mas requer também uma transformação interna do
professor” (Fagali-1992).

Enfim, a escola da atualidade não pode mais favorecer a exclusão, é necessário


romper as barreiras do preconceito e buscar o desenvolvimento de cada aluno. Pois a
educação é fundamental para o desenvolvimento do sujeito e a oportunidade para que a
pessoa se desenvolva de forma plena, autônoma, justa, humana e feliz deve começar na
escola. A psicopedagogia dentro da escola torna a inclusão mais eficaz e possível,
partindo da perspectiva que todo sujeito é capaz de aprender.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, Lígia. Conhecendo a deficiência em companhia de Hércules. São Paulo: Robe,


1995.
AURÉLIO, Dicionário. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
A Educação Especial no Contexto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Brasília:
MEC/SEF, 1997.
BARTALOTTI, Celina C. Inclusão das pessoas com deficiência: utopia ou possibilidades?
São Paulo: Paulus, 2006. 57f.
BIANCHETTI, Lucídio & FREIRE, Ida Mara (ORGS): Um olhar sobre a diferença
interação, trabalho e cidadania. 7ª edição SÃO PAULO: PAPIRUS, 2006, 227 p
BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2° Ed.
Revista e Aumentada – Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000 CORRÊA, Maria Ângela M.
41

Evolução histórica da educação especial. In: educação especial v.1. Rio de Janeiro:
Fundação CECIERJ, 2005. 207p.
FAGALI, Eloísa. A construção do curso de Psicopedagogia Clínica e Institucional. Porto
Alegre: Artes Médicas. 1992
FERNÁNDEZ. A. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da
criança e da família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991
FERREIRA, Windyz B. Inclusão x exclusão no Brasil: reflexões sobre a formação
docente dez anos após Salamanca. In: Inclusão e Educação: doze olhares sobre a
educação inclusiva. David Rodrigues (Org.). São Paulo: Summus, 2006. p. 212-236.
FRIEDBERG, Robert D. e MCCLURE , Jéssica M.. (2004). A prática clínica de Terapia
Cognitiva com crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed.
FOREST, Marsha, PEARPOINT, Jack. Inclusão: um panorama maior. In:
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. A integração de pessoas com deficiência:
contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo:
Memnon, 1997.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática


educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

Você também pode gostar