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Inclusão nas instituições espíritas

Marcos Paterra

Muito se ouve sobre a inclusão nas escolas e nas instituições empresariais, isso porque
desde a década de noventa o governo tenta conscientizar e implementar a inclusão
principalmente nas redes de ensino.
Foram lembrados os grandes nomes da historia da pedagogia como Pestalozzi1,
Wallon2, Maria Montessori3, e finalmente houve a conscientização de que carinho, brincadeiras,
e atenção eram essenciais entre professores e crianças.
Baseando-se em princípios de Jean Piaget4, e Vygotsky5, muitos estudiosos abriram
uma visão inclisivista entre eles Adolphe Ferrière6 que com sua visão visionaria semeava a
"Escola Nova"7 que chegou ao Brasil em 1882, pelas mãos de do polímata8 brasileiro Rui
Barbosa9, e exerceu grande influência nas mudanças promovidas no ensino na década de 1920,
quando o país passava por uma série de transformações sociais, políticas e econômicas; com
métodos construtivistas, e com as portas abertas para todas as crianças fossem negras, brancas,
índias, pobres, ricas, deficientes físicas ou mentais... Iniciou-se a inclusão.

1
J. Heinrich Pestalozzi, Educador suíço. Grande inovador, estabeleceu as bases da pedagogia moderna com seu
sistema de ensino prático e flexível.
2
Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879 - 1962) foi filósofo, médico, psicólogo e político francês.
3
Maria Montessori (1870 —1952) foi médica, pedagoga e feminista italiana; Conhecida pelo método educativo que
desenvolveu e que ainda é usado hoje em dia em escolas públicas e privadas mundo afora.
4
Jean Piaget: foi um renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da
inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu
processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia.
5
Lev Semionovich Vygotsky (1896-1934), professor e pesquisador foi contemporâneo de Piaget, e nasceu e viveu
na Rússia; autor de dois livros básicos: Pensamento e Linguagem e A Formação Social da Mente se tornaram um
marco nos estudos do desenvolvimento humano.
6
Adolphe Ferrière (1879 1960) Pedagogo suíço cujo trabalho está estreitamente ligado ao movimento da Escola
Nova, como um dos seus fundadores e eventualmente o seu maior ideólogo.
77
Escola nova, também chamada de Escola Ativa ou Escola Progressiva, foi um movimento de renovação do
ensino, que surgiu no fim do século XIX e ganhou força na primeira metade do século XX.
8
Polímata (do grego πολυμαθής, transl. polymathēs, lit. "aquele que aprendeu muito") é uma pessoa cujo
conhecimento não está restrito a uma única área. Polímata: alguém que detém um grande conhecimento .
9
Ruy Barbosa de Oliveira (1849 —1923) foi destacou-se principalmente como jurista, político, diplomata, escritor,
filólogo, tradutor e orador. Um dos intelectuais mais brilhantes do seu tempo; foi um dos organizadores da República
e coautor da constituição da Primeira República
Todavia, ainda hoje as dificuldades são grandes principalmente devido ao fato de
professores e diretores das escolas, não terem ciência dos motivos e consequências desta
metodologia, os educadores ainda hoje em sua maioria usam o método tradicional, e as escolas
não tem estrutura para lidar com crianças deficientes ou o Bulliyng10 gerado pelo
preconceito/racismo.
Sob essa ótica, podemos questionar se as instituições espíritas são inclusivas, se estão
aptas em abrir as portas para o convívio com o “diferente”. Seria hipocrisia não comentar das
instituições espíritas que tem trabalhos sérios e destaque, alguns para inclusão social onde tem
creches e/ou escolas que atende crianças carentes, outros que tem atendimento médico ou
psicológico para deficientes físicos ou mentais, mas são poucos e parciais em atendimentos
específicos, a questão é, as crianças deficientes podem frequentar ou mesmo serem
evangelizados em qualquer instituição espírita?
Nos últimos anos esta clara a adaptação das estruturas físicas das instituições para que
possam receber cadeirantes, muitos livros já estão sendo adaptados para o Braile11 ou os
famosos “áudio-books”12, todavia não estaríamos caindo nos mesmos problemas que as
instituições escolares ? Nossos expositores, dirigentes, evangelizadores, voluntários ou
colaboradores, estão preparados?
Alguns podem indagar que o fato de recebermos pessoas com deficiência em nossas
evangelizações tornamo-nos inclusivistas, porem, são poucas as instituições que conseguem
manter essa criança com o olhar inclusivista, eles no máximo as integram em um mesmo
ambiente e muitas vezes não sabem lidar com as complexas situações que são geradas ou seja
em seu despreparo o centro espírita pode desencadear mais problemas ainda, e até mesmo
agravar os já existentes, reforçando nessa criança, o autoconceito negativo, a desmotivação, o
desinteresse e outros mecanismos de defesa, como a indisciplina, rebeldia ou agressão.
Ocorre que os dois vocábulos - integração e inclusão embora tenham significados
semelhantes, são empregados para expressar situações de inserção diferentes e têm por detrás
posicionamentos divergentes para a consecução de suas metas.
O processo de integração se traduz por uma estrutura educacional intitulada sistema de
cascata, que oferece ao aluno a oportunidade, em todas as etapas da integração, de transitar no
sistema escolar ou social. Trata-se de uma concepção de inserção parcial, porque a cascata prevê
serviços segregados.

10
Bullying (anglicismo, bullying, pronuncia-se AFI: [ˈbʊljɪŋ]) é um termo utilizado para descrever atos de violência
física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bully, tiranete ou valentão) ou
grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.
11
Braille ou braile: sistema de leitura com o tato para cegos inventado pelo francês Louis Braille no ano de 1827 em
Paris.
12
Áudio-book, áudio-livro ou livro falado é uma gravação do conteúdo de um livro lido em voz alta.
A inclusão se baseia em vários conceitos, dentre eles podemos frisar três em que é
necessário que a criança :
1. Seja uma pessoa que se encontra dentro de um grupo, no sentido de fazer
parte.
2. Ou que tenha amigos e relações sociais significativas com iguais, ou sinta-se
que participa na vida social , contribuindo com alguma coisa;
3. Por fim que seja tratada com igualdade, carinho e respeito como a pessoa única
que é.
Resumindo, ela tem que ser inserida de modo a sentir “Bem‑estar pessoal e social”.
Fica evidente que a inclusão sem esses conceitos não assegura inclusão social, se as instituições
não pensarem e agirem baseados nesses conceitos, as mudanças estruturais para deficientes não
terão usuários com deficiência.
Enfrentamos uma paradigma cultural que vem dos conceitos Eugenistas13., onde o que é
diferente ou deficiente deve ser “excluído”, Kardec em “A Gênese”i nos ensina: “[...] na
reencarnação desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode
tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo,
homem ou mulher. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da
fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por
conseguinte, o da liberdade”(Kardec, Allan. A Gênese, pág. 31).
O planejamento de políticas sócio educacionais na estrutura doutrinária e práticas
pedagógicas inclusivas nas evangelizações, tendo como priori garantir à permanência, a
formação de qualidade, a igualdade de oportunidades e o reconhecimento das diversas e
complexas deficiências assim como orientações sexuais e identidades de gênero [e étnico-
raciais], contribuem para a melhoria do contexto dentro das instituições espíritas.
Adenauer de Novais em sua obra “Mito Pessoal e Destino Humano”ii nos brinda com
essa frase:
“Ser espírita não significa apenas adotar uma postura cordata diante da vida, acomodando-se
a pequenas conquistas, muito embora importantes, no campo da educação doméstica. A
insatisfação quanto à injustiça, a ignorância e a miséria humanas devem permanecer na
consciência de todos que adentrem o Espiritismo. O processo de transformação assinalado pelo
Espiritismo como fundamental a todo espírita, inclui, além de seu próprio mundo interno, sua
participação na construção de uma sociedade mais equilibrada e harmônica. Não basta ele
sozinho se transformar interiormente, sem uma efetiva participação nas mudanças que a
sociedade requer. Sua consciência de cidadão, pertencente ao mundo, deve alertá-lo quanto ao
seu papel social” ( NOVAES. 2005. P. 14414)

13
Eugenia - é um termo cunhado em 1883 por Francis Galton, significando "bem nascido". A eugenia é a filha dileta
de Darwin: se as espécies se transformam por "seleção natural", há raças inferiores e raças superiores.
14
Cap. O Espiritismo e o sentido da vida
Referencias:
i
KARDEC, Allan. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. Ed. FEB.
Rio de Janeiro. 2007.
ii
NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz. Mito Pessoal e Destino Humano. Ed. Fundação
Harmonia. Salvador/BA 1999.

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