Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
diversidade político-ideológica
Ediovani A. Gaboardi
Jociéli J. Gaboardi
Introdução
1 A escola doutrina?
2 Isso não significa, obviamente, que não existem mais pessoas racistas e nem mesmo
que não existem pessoas que defendem o racismo publicamente. Como em toda
sociedade democrática, o ponto de vista “oficial”, expresso pelo Estado e mesmo o da
opinião pública não coincidem necessariamente com o de cada cidadão.
32 | AS DIFERENÇAS NO ENSINO DE FILOSOFIA: REFLEXÕES SOBRE FILOSOFIA E/DA EDUCAÇÃO
3 Mas é importante observar que, do ponto de vista atual, embora as religiões devam ser
simplesmente toleradas, sem que haja a pretensão de chegar à verdade, algumas práticas
religiosas podem ser rejeitadas pela sociedade e, consequentemente, excluídas do ensino
escolar. Como dissemos antes, uma religião que exigisse sacrifícios humanos entraria
em choque com valores mais fundamentais de nossa sociedade atual. Ela não poderia
ser tratada com indiferença pela escola, ou seja, não poderia ser tolerada. Obviamente o
problema está naquela região cinzenta, em que aspectos da religião chocam-se com
valores não tão claros ou não tão consolidados socialmente. Atualmente isso acontece
em questões como o lugar da mulher na sociedade, sexualidade humana, drogas, dentre
outras. Elementos desse tipo se encaixam na próxima categoria.
MARCUS V. X. DE OLIVEIRA; LENO F. DANNER; FERNANDO DANNER; JULIE DORRICO (ORGS.) | 33
4Essa avaliação, feita pelas sociedades, não é estanque. Sempre é possível o surgimento
de “terceiras vias” ou outras concepções político-ideológicas que reduzam a oposição
entre as alternativas ou que tornem possível conviver com elas tornando-as
particularistas. Basta lembrar das disputas entre católicos e protestantes em diversas
partes da Europa desde o século XVI. Essas religiões eram concepções universalistas
naquela época. Mas, ao longo do tempo, foram reduzidas ao particularismo, permitindo
que convivessem sob o princípio da tolerância. A princípio, o mesmo pode ocorrer
com qualquer concepção político-ideológica. Basta que os grupos aceitem reduzir suas
pretensões de universalistas para particularistas, e que isso seja viável na prática.
34 | AS DIFERENÇAS NO ENSINO DE FILOSOFIA: REFLEXÕES SOBRE FILOSOFIA E/DA EDUCAÇÃO
Isso evidentemente não significa que não se possa falar sobre isso
em sala de aula. Numa aula de astronomia, obviamente pode-se
falar em geocentrismo. Mas apenas como uma heresia, isto é,
como uma teoria falsa. Da mesma forma, será necessário falar
sobre racismo, mas apenas para refutá-lo. A “mordaça” está posta
sobre a defesa desses pontos de vista considerados heresias pela
sociedade na qual a escola está inserida.
Em relação às concepções particularistas, também há uma
“mordaça”. O professor não pode mudar seu status, ou seja,
torná-las universais. Mas é preciso falar sobre o assunto para que
o seu particularismo possa ser ensinado. É preciso que os alunos
tenham a liberdade de assumir que são da religião A ou B, ou que
preferem o estilo musical X ao invés do Y. O professor deve ser
indiferente a essas opções, no sentido de não qualificá-las como
melhores ou piores, já que essa diferença não é reconhecida pela
sociedade.
Mas, e ele mesmo pode expressar suas concepções
particularistas? Na escola tradicional, da forma como a estamos
considerando aqui, essa questão não deve ser tratada
politicamente, mas pedagogicamente. O objetivo é garantir a
diversidade e ensinar o caráter particular dessas concepções. Por
isso, é preciso avaliar pedagogicamente se a manifestação do
professor ajuda ou atrapalha na realização desse objetivo. Se
atrapalhar, impõe-se uma “mordaça pedagógica”. Isso
evidentemente passa por uma avaliação do perfil de cada turma
de alunos e da natureza da questão. De maneira geral, vale uma
regra prudencial: o professor deve preferir a indiferença, para não
ameaçar sua neutralidade e a da escola.
Sobre as concepções universalistas, na escola tradicional
vale basicamente o mesmo argumento, com uma diferença.
Como cada concepção alimenta a pretensão, reconhecida
socialmente, de ser universal, é importante que a escola ensine
aos alunos os pontos de vista em disputa, para que eles possam
lidar com isso na vida adulta (não na própria escola). É possível
até mesmo promover debates, desde que a escola se mantenha
indiferente frente aos pontos de vista colocados. Os professores
não podem prestigiar esta ou aquela concepção, já que essa
MARCUS V. X. DE OLIVEIRA; LENO F. DANNER; FERNANDO DANNER; JULIE DORRICO (ORGS.) | 35
Conclusões e propostas
Referências bibliográficas