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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

AULA 05 –
QUESTÕES
FILOSÓFICAS

Caro estudante,

Neste capítulo, você estudará algumas questões filosóficas que permeiam


o cotidiano das escolas. Com isso, perceberá o quanto a filosofia faz parte do
seu dia a dia, mesmo que não perceba. Além disso, verá o quanto a filosofia da
educação é necessária na formação de professores, bem como a importância
dessa reflexão em sua prática de ensino.
Mais adiante, o mito da caverna vai te convidar a refletir sobre as "prisões"
e o quanto uma única fonte de informação, um único ângulo da realidade, pode
te manter refém e te impedir de conhecer novas versões e pontos de vista
mundo.

Bons estudos!
 Identificar questões filosóficas da atualidade que fazem parte do cotidiano
das escolas;
 Reconhecer a importância da filosofia da educação para a formação e
para a prática do educador;
 Relacionar o Mito da Caverna com os desafios da educação.

Nesta aula, você vai conferir os contextos conceituais da psicologia entenderá


como ela alcançou o seu estatuto de cientificidade. Além disso, terá a oportunidade
de conhecer as três grandes doutrinas da psicologia, behaviorismo, psicanálise e
Gestalt, e as áreas de atuação do psicólogo.

 Compreender o conceito de psicologia


 Identificar as diferentes áreas de atuação da psicologia
 Conhecer as áreas de atuação do psicólogo.
5 SÉCULO XXI E O COTIDIANO DA ESCOLA: QUESTÕES FILOSÓFICAS

A humanidade vive e sobrevive cada vez mais em um mundo globalizado.


Acontecimentos de qualquer tipo que ocorrem no Oriente perturbam o Ocidente e vice-
versa. Assim, a escola não poderia escapar ilesa. Muitas questões filosóficas
atrapalham seu modo de ser e agir enquanto instituição de ensino. Além disso, as
relações entre alunos, professores e comunidade escolar são determinadas pelas
influências do ambiente em que estão inseridos.
Os aspectos filosóficos permeiam a vida escolar de diferentes formas, pois as
questões filosóficas estão mais inseridas no cotidiano do que se imagina. No entanto,
apenas tópicos relacionados a tecnologias digitais e redes sociais serão discutidos
aqui, pois estes representam um tema latente e muito presente no cotidiano escolar.
Atualmente, com os avanços tecnológicos e as redes sociais digitais, um
importante ponto de reflexão pode ser levantado. Esse ponto está ligado à questão da
autonomia dos indivíduos em relação ao uso das tecnologias. Jovens e adolescentes,
mas também crianças e adultos, se veem reféns das tecnologias e seus hábitos
passam a girar em torno delas. E você já se perguntou se exercita seu senso crítico e
sua autonomia dedicando muito tempo a essas tecnologias?
Outro problema diz respeito à perda de identidade dos indivíduos. Muitas vezes
levam uma vida transformada e buscam a tão sonhada “perfeição” e a “vida ideal”
para postar na rede. Ou, ainda, em busca do “melhor ângulo”, como se fosse possível,
na prática, escolher apenas os melhores momentos da vida. Portanto, outra questão
que se coloca e é debatida na escola diz respeito à exposição da vida privada: qual o
preço a ser pago em nome dessa exposição? Essa exposição ilimitada é em nome da
liberdade de expressão ou porque as pessoas não suportam o medo de cair no
anonimato e/ou no esquecimento?
Mesmo em questões filosóficas, é possível enfatizar o respeito às diferentes
culturas em um mundo cada vez mais miscigenado e globalizado. Independentemente
dos motivos, o movimento migratório entre as nações aumenta a necessidade de se
discutir a importância do respeito e, principalmente, do conhecimento sobre as
diferentes culturas do mundo. O que move esses hábitos, crenças e atitudes? É
melhor comer carne ou cultuar vaca?
Essas perguntas são feitas aqui para fazer você pensar sobre o quanto é
necessário discutir e conhecer culturas diferentes para respeitar as crenças de cada
povo, de cada indivíduo, quer você aceite ou não, goste ou não. Afinal, o fato
de gostar de carne vermelha não torna o brasileiro melhor do que o indiano; nem
dá ao primeiro o direito de não respeitar a crença do segundo e vice-versa.
Por isso, esses e outros aspectos devem ser discutidos em sala de aula
com alunos, colegas e direção da escola. Esses problemas já existem e, como você
acabou de ver, não é possível voltar no tempo ou ignorar tais fatos, pois eles levam
a uma mudança de hábitos, como é o caso das tecnologias digitais e das
redes sociais.
Como fechar os olhos para o fato de que um aluno publica toda a sua rotina nas
redes sociais digitais e sua vida íntima pode ser "invadida" e exposta a outros colegas
e até estranhos sem o seu consentimento? Ao invés de perguntar quem
é o responsável pelos jovens (incluindo crianças), a discussão deve se concentrar
no que precisa ser feito para evitar esses tipos de acontecimentos. Como as escolas
e os professores podem preparar os alunos para agir e reagir nessas e em muitas
outras situações cotidianas?
A Figura 1 refere-se a uma reflexão sobre esse novo comportamento
relacionado ao uso das redes sociais digitais e as questões filosóficas que surgem a
partir desses novos hábitos, já destacados acima.

Figura 1 - O comportamento humano em relação às redes sociais


Fonte: https://bityli.com/EEFdW

5.1 A filosofia da educação inspirando a formação e a prática docente

Quando se pensa em filosofia, logo vêm à mente nomes como


Platão, Sócrates, Aristóteles e muitos outros importantes pensadores da área, mas e
a filosofia da educação? Por que surgiu e como pode contribuir para a formação
de professores hoje? A filosofia da educação no Brasil surgiu com a chegada dos
jesuítas (MAURANO; HENNING, 2013) e, como aponta Severino (2000, p. 273): “[...]
a formação dos educadores bem como de seus educandos confundia-se com sua
formação religiosa”. Assim, a filosofia da educação no Brasil assume um caráter
muito mais ideológico, afastando-se da essência da filosofia e da educação,
que juntas buscam promover uma análise reflexiva da vida e suas
diferentes situações.
Maurano e Henning (2013, p. 8.265) defendem que a filosofia da educação,
quando surgiu, não desempenhou o seu papel principal, porque:

[...] o seu surgimento não ocorreu sob o pensamento crítico, questionador,


exigente, mas sim sob um pensamento que só perpetuava a situação vigente,
o poder da Igreja. A disciplina era desenvolvida simplesmente como elemento
de ensino, não promovendo questionamentos sobre si mesma e sobre os fins
da Educação “brasileira”.

Neste sentido, pode-se supor que nem a essência da filosofia, nem a da filosofia
da educação foram consideradas, uma vez que esta última consiste em promover uma
visão crítica da realidade. É por isso que a filosofia da educação é tão importante na
formação de professores: contribui para a sua formação enquanto profissionais
capazes de se posicionarem criticamente e pensarem com autonomia em diferentes
situações. Além disso, essa possível formação em filosofia da educação permite que
o professor, ao iniciar sua prática docente, compartilhe essa atitude crítica com seus
alunos. Desta forma, pode torná-los questionadores e curiosos em sua vida diária.
O principal papel da escola, através dos seus professores, é promover
a educação. Para Dewey (1979, p.10), “A educação é para a vida social o que a
nutrição e a reprodução são para a vida fisiológica”. Assim, para aprender as
fórmulas e os verbos, o aluno (seu aluno e você como aluno) não precisa sair
de casa, basta acessar a internet e tudo está disponível lá, com exemplos práticos e
reais. A escola tem um papel muito mais importante e, para desenvolver esse papel, o
professor é o seu principal aliado. Precede o aluno no dia a dia, podendo auxiliá-lo na
busca pelo entendimento da prática, bem como aliar essa prática à teoria dos livros
didáticos.
A virada prática no campo do conhecimento moderno não significa o
esquecimento da teoria, esvaziada de seus fundamentos em favor de metodologias e
técnicas. Antes disso, significa que há uma nova interdependência entre o teórico e o
prático, e não a simples diluição de um dos polos opostos no outro. Em suma, de certo
ponto de vista, se a teoria não for prática, ou seja, se não levar à ação, torna-se
inofensiva, vazia e sem sentido para o mundo em que vivemos. E, por outro lado, a
prática nesse contexto não pode mais ser concebida como um ato empírico sem
princípios, pois é justamente guiada por uma teoria (TREVISAN, 2011).
Por isso, o professor é fundamental para criar o elo entre o aluno, a teoria e a
prática. Esse vínculo será significativo para ambos, pois não é só o aluno que aprende:
quando o aluno e o professor adotam essa atitude de questionamento diante da
realidade apresentada, quando vão além do que é dito e exposto e buscam um
questionamento atitude na origem da filosofia, a escola terá cumprido seu papel de
missão de transformar os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
Isso mesmo que, depois dessas perguntas, percebam que, como Sócrates, nada
sabem.
A filosofia da educação, nas palavras de Antônio Severino (1994, p. 28), “É uma
reflexão filosófica sobre a educação”. Ou seja, é o olhar da filosofia sobre a educação.
A educação é apresentada como uma questão, como um problema. Por isso é
tratada como uma questão filosófica. Deste ponto de vista, surgem várias questões,
por exemplo, as pessoas podem ser educadas? À primeira vista, sua resposta é
imediatamente sim, pois essa pergunta parece óbvia. Mas o óbvio não existe na
filosofia. Com isso em mente, você deve procurar uma resposta. Se você responder
sim, então você está afirmando que o ser humano é, sim passível de ser educado.
Portanto, quando o homem é considerado educável, descobre-se que ele não está
pronto de nascença, ele precisa ser desenvolvido, e a educação que pode
proporcionar isso é através do professor.

5.2 Desafios da educação: do Mito da Caverna à atualidade

No estudo da filosofia, mesmo em uma disciplina isolada, o Mito da Caverna de


Platão estará presente por ser um clássico da filosofia. Além disso, Platão costuma
ser um dos primeiros filósofos a ser estudado, já que é sem dúvida reconhecido
como um dos maiores pensadores da filosofia. O mito da caverna pode ser
considerado um passo importante no surgimento da filosofia. Também é conhecida
como a “alegoria da caverna” e parte integrante do Livro VII de A República, de
Platão. Aranha e Martins (1997) indicam que o mito é um diálogo apresentado por
Platão, com falas de Sócrates na primeira pessoa e dois interlocutores, Glauco e
Adimanto, irmãos mais novos de Platão.
A descrição de Platão (1993) apresenta uma imagem (veja a Figura 2) de
vários homens em uma caverna. Esses homens, de fato, estão presos na caverna.

Figura 2 - O Mito da Caverna


Fonte: Oliveira ([2018?])

Desde o nascimento, eles estão acorrentados, só podendo olhar para uma


parede iluminada por uma fogueira. A fogueira, conforme descrita, serve para iluminar
uma espécie de cenografia. Este cenário representa a vida cotidiana, com certos seres
vivos (homens, plantas, animais, etc.) organizados para representar uma espécie de
rotina, o cotidiano de uma vida comum.
Os reclusos só conseguem ver a imagem projetada na parede através da luz
da fogueira que reflete o cenário. Ao verem as sombras, pensam que essas
sombras são seres vivos, pois desconhecem o cenário da caverna. O tempo passa e
esses homens chamam essas sombras (como fazem hoje com os novos objetos e
seres que descobrem). Além disso, registram a regularidade das aparições dessas
sombras. Os presos até criam campeonatos para ver quem acerta os nomes e a
regularidade de atendimento, para se divertir.
Ainda na descrição de Platão (1993), um dia um dos prisioneiros é
obrigado a abandonar as correntes e vasculhar o interior da caverna. Assim que
se depara com o fogo e a decoração, percebe que o que permitiu a visão é o fogo. Ele
também percebe que as imagens, que pareciam aos presos seres reais, nada mais
eram do que as sombras que o fogo criava ao ser projetado na cena. O que era real
eram as estátuas, não as sombras.
O prisioneiro percebe que passou toda a sua vida julgando apenas sombras e
ilusões, ignorando a verdade, ou seja, estando longe da verdadeira realidade. Então
eles o arrastam para fora da caverna e, quando ele sai, a luz do sol imediatamente
cega sua visão. Então ele demora um pouco para se ajustar a essa nova realidade,
para poder ver as maravilhas fora da caverna novamente. Ele percebe que os seres
que eles acreditavam estar vivos tinham outros traços e qualidades que as sombras
não mostravam. Acredita-se que o sol é a fonte de luz que lhe permite avistar a
realidade e que toda a existência vem dessa fonte.
O ex-prisioneiro está animado com o novo mundo e todas as
suas possibilidades, então ele se lembra de seus velhos amigos na caverna e da vida
que eles levavam lá. Eles imediatamente sentem pena deles, da escuridão que os
cercava. Então ele decide voltar para a caverna para compartilhar o novo mundo
que descobriu com seus amigos. No entanto, seus amigos ainda estão trancados e
apenas olhando para a caverna, então eles zombam de seu amigo e dizem que ele
é louco e que o matarão se ele não parar com sua loucura.
Agora, voltando aos dias de hoje, você pode se perguntar: que relação o Mito
da Caverna, descrito por Platão, tem com o contemporâneo?

O que é a caverna? O mundo de aparência em que vivemos. Que são as


sombras projetadas no fundo? As coisas que percebemos. Que são os
grilhões e as correntes? Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de
que o que estamos percebendo é realidade. Quem é o prisioneiro que se
liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz do Sol? A luz da verdade.
O que é o mundo iluminado pelo sol da verdade? A realidade. Qual o
instrumento que liberta o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja libertar
os outros prisioneiros? A Filosofia (CHAUÍ, 2004, p. 12).

De forma muito sucinta e direta, a filósofa Chauí vincula a transcrição de


Platão aos dias atuais. Indo além, você pode considerar a caverna como uma prisão,
mas não necessariamente como uma prisão formal como as que você conhece.
Pode-se supor que o desejo dos professores por uma educação de qualidade
e com melhores condições para todos os envolvidos no contexto educacional esteja
trancado na caverna. O prisioneiro fugitivo pode ser um professor que entrou em sua
prática docente determinado a fazer a diferença e, tentando pequenas mudanças,
percebe que é possível. Ele quer compartilhar com os colegas imediatamente, mas
eles o acham louco, já cansado dos desafios e da árdua caminhada: o sistema
educacional brasileiro, suas condições de trabalho e salários podem virar
uma caverna. Embora muitos professores tenham vontade de experimentar o novo,
assim como o prisioneiro que o fez, quando voltam para dizer que é possível, são
mortos por esse sistema, os quais são mais forte que o desejo de mudança.
Além disso, a televisão e as redes sociais digitais também podem ser uma
caverna e prender as pessoas, mostrando apenas um ponto de vista sobre as
situações. Qualquer coisa que não seja essa sombra projetada é considerada loucura
ou devaneio. Esses vínculos também podem ser representados pelas incertezas
da carreira profissional e pelas dificuldades relacionadas à infraestrutura e à
remuneração da carreira docente. É preciso se soltar e, diante dessa nova luz
que deslumbra seus olhos, enfrentá-la e descobrir um novo mundo, grandes
descobertas e sob diversos ângulos, capaz de transformar vidas.
O Mito da Caverna de Platão propõe (provocativamente) uma reflexão sobre a
libertação. As correntes, as sombras, a prisão e a falta de luz podem ser vistas como
conforto, preguiça ou medo de que as pessoas precisem sair de sua zona de conforto
e tentar algo novo, não importa em que área de suas vidas. Esses sentimentos estão
metaforicamente presentes no Mito da Caverna, além deles também pode-se
encontrar o engano que impossibilita que os prisioneiros saiam dessa imobilidade.
Mas de repente um deles consegue se libertar, sair da caverna e ver como é o mundo
sem se desviar conscientemente, livre e racional. A partir daí você pode comparar as
diferentes realidades e fazer sua escolha. Desta forma, pode-se ver que o Mito da
Caverna permite várias interpretações muito contemporâneas para o mundo de hoje.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, M. L. A. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São


Paulo: Moderna, 1997.

CHAUÍ, M. S. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2004.

DEWEY, J. Democracia e educação: introdução à filosofia da educação. 4. ed. São


Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979. (Atualidades Pedagógicas, v. 21).

GOERGEN, P. Questões impertinentes para a filosofia da educação. Educação e


Pesquisa, v. 32, n. 3, p. 589-606, 2006.

MAURANO, L. M. S.; HENNING, L. M. P. A origem da filosofia da educação brasileira


está atrelada à preocupação com a formação de professores? In: SEMINÁRIO
INTERNACIONAL DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, SUBJETIVIDADE E
EDUCAÇÃO, 2., 2013, Curitiba. Anais... Curitiba: PUCPR, 2013. p. 8252-8268.
PLATÃO. A República. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993

SEVERINO, A. J. Filosofia da educação: construindo a cidadania. São Paulo: FTD,


1994.

TREVISAN, A. L. Filosofia da educação e formação de professores no velho dilema


entre teoria e prática. Educar em Revista, n. 42, p. 195-212, 2011.

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