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LIVRO TEXTO

Fundamentos Sociológicos e
Filosóficos da Educação

Manuela Löwenthal Ferreira

2019

SOBRE A AUTORA:

Manuela Löwenthal Ferreira possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual
Paulista (UNESP) e mestrado em Sociologia pela mesma universidade.

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Possui experiência com educação no ensino fundamental, médio e superior.


Já atuou como docente na Pós Graduação em disciplinas referentes à Sociologia da Educação e
Filosofia, assim como tutora em disciplinas EAD nesta mesma área.
Possui diversos artigos e trabalhos apresentados em congressos nacionais e internacionais.
Atualmente é docente na disciplina de Sociologia na Rede Estadual de Educação do Estado de
São Paulo.
Também elabora livros didáticos, é revisora e assessora acadêmica.

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO

Prezado aluno,

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Seja bem-vindo à disciplina de Fundamentos Sociológicos e Filosóficos da Educação!

É com muita alegria que trago um pouco da minha contribuição para esta jornada de vocês, que
escolheram um curso na modalidade à distância. Como vocês verão neste material didático, a
Sociologia e a Filosofia da educação tem se ocupado de problematizar as questões mais
prementes da educação na nossa sociedade. O livro está organizado da seguinte forma:

No Módulo I será feita uma Introdução sobre contexto histórico e o surgimento da Sociologia, as
principais correntes sociológicas, as concepções de educação a partir dos clássicos da Sociologia
e o pensamento social brasileiro.

No Módulo II você estudará: Sociologia da Educação no Brasil, globalização e educação, os


desafios da Sociologia da Educação, elementos sociológicos para a análise e intervenção nas
práticas educativas e o ensino da Sociologia.

No Módulo III você estudará a Filosofia e a sua caracterização, o nascimento da Filosofia, a


origem Geográfica da Filosofia, implicações Pedagógicas da filosofia Socrática, Platônica e
Aristotélica.

No Módulo IV você estudará: A Dialética. A Idade Média e o poder das religiões. O Renascimento.
A Modernidade. Influências do Empirismo e do Racionalismo na Pedagogia. A lógica. A Política e
a ética. Elementos filosóficos para a análise e intervenção nas práticas educativas. O ensino da
Filosofia

A partir de agora, você estará inserido na modalidade de ensino à distância, no que consiste a
nova forma de acessar conhecimento no mundo, sendo uma das principais tendências do futuro.
Essa modalidade requer atenção, comprometimento, autonomia, dedicação e a compreensão da
importância da tecnologia e comunicação dentro e fora de ambientes virtuais e a partir disto,
construir novas práticas que permitam estabelecer um novo patamar de ensino através da
proposição de novas ideias e ações.

Nesta disciplina você irá conhecer um pouco mais sobre os Fundamentos Sociológicos e
Filosóficos da Educação e também sobre os processos de aprendizagem.

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Espero que este curso possa então abrir novas perspectivas nos trajetos da sua formação, assim
como contribuir para aumentar o repertório de conhecimentos que cada um vem adquirindo ao
longo da vida.

Bons estudos!

INTRODUÇÃO

A Sociologia e a Filosofia da Educação são áreas indispensáveis no percurso de um


educador, pois são disciplinas que buscam compreender o universo social e existencial do
ambiente escolar, assim como auxiliam o educador a compreender as diversas facetas da
realidade da escola.

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Desde sua gênese, essa ciência irá buscar não só refletir, mas fazer desse conhecimento
sociológico e filosófico um instrumento de ação social.
Um curso dessa dimensão requer pensar em diversos pressupostos teóricos
indispensáveis à formação de professores capazes de compreenderem de fato a sociedade em
que estão inseridos e suas mudanças e, além disso, serem capazes de gerar mudanças,
elaborando um conjunto de ações que transformam de forma efetiva e crítica a sociedade em um
mundo melhor.
Ambas as disciplinas, tanto a Sociologia como a Filosofia, estão sendo cada vez mais
atualizadas com os temas do cotidiano presente. Muito além do que áreas das ciências humanas,
são ferramentas para se pensar o mundo atual. Por isso, temas como o impacto do mundo
globalização e das tecnologias, a internet, e as transformações na sociedade, são hoje debates
da sociologia e da filosofia. Por este e outros motivos são duas disciplinas indispensáveis para a
compreensão da realidade.
Tanto a Sociologia, como a Filosofia nasceram de transformações do mundo, seja em
relação à mudanças de paradigmas, como em relação à transformações econômicas. Por isso, o
mundo em transformação e a forma como essas transformações se dão são hoje os temas
centrais da Sociologia e da Filosofia.
O ritmo das mudanças mundiais está cada vez mais acelerado, e é possível que estejamos
no limiar de transformações tão fundamentais como aquelas que ocorreram no término do século
XVIII e XIX. Mudanças como essas só são observadas após já ocorrerem, porém, cabe a
disciplinas como a Sociologia e a Filosofia de mapear e analisar essas transformações,
delineando as características mais importantes do processo, assim como elaborar teorias das
possíveis consequências de determinados atos e direções na qual a sociedade percorre.
Com base nestas questões, é possível afirmar que ambas essas disciplinas são de
extrema importância na formação docente, uma vez que são ferramentas extremamente
importantes para compreender a realidade, o mundo em transformação, as novas tendências e
formas de pensar e existir no mundo, afinal, o trabalho docente envolve necessariamente uma
relação com o jovem, e estar atento ao mundo e a realidade deste jovem é parte do trabalho do
professor, uma vez que a escola perde seu sentido se não considerar também o modo como os
conteúdos estão sendo transmitidos e se estão sendo apreendidos.
Diante do aqui exposto, os conteúdos organizados neste livro seguem uma sequência
planejada para ajudar a alcançar o domínio progressivo da sociologia e da filosofia de forma clara,
sucinta e didática, pensando sempre na autonomia do aluno e a condição do ensino à distância.

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Os temas perpassam primeiramente pelo surgimento dessas disciplinas, seu


desenvolvimento e principais autores clássicos, e posteriormente trazendo debates atuais
relacionados ao processo de ensino aprendizagem e à educação.

MÓDULO I

FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS: UMA INTRODUÇÃO


A Sociologia surgiu como ciência que buscava compreender o funcionamento e a
organização das sociedades, assim como suas transformações e tendências de pensamento,
visões de mundo, comportamento e relações. O contexto deste surgimento são duas importantes
revoluções – a Francesa e a Industrial (HOBSBAWM, 1977, p.15).
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As condições geradas por essas revoluções, juntamente com a centralização da razão e


não mais da religião, despertaram a necessidade de explicar a realidade social, econômica e
política de forma racional e científica.

Nesse contexto, a Educação não poderia estar fora desses estudos, sendo a escola uma
das principais Instituições sociais de uma sociedade. Dessa forma, a educação sempre esteve
entre os principais objetos da Sociologia. É através da educação que o ser humano se constitui
enquanto ser social, transferindo seu conhecimento e aprendendo com as outras gerações a se
portar enquanto ser social. A educação é, portanto, o meio com que os indivíduos perpetuam uma
sociedade.

“A sociologia é fruto do mundo moderno. Surge no século XIX, “época em que já se


“A sociologia é fruto do mundo moderno. Surge no século XIX, “época em
revelam mais abertamente as forças sociais, as configurações de vida, as
que já se revelam mais abertamente as forças sociais, as configurações de
originalidades ee os
vida, as originalidades os impasses
impasses da da
sociedade civil, urbano-industrial,
sociedade burguesa ou
civil, urbano-industrial,
capitalista.” (IANNI,
burguesa ou capitalista.” 1989, p.1)
(IANNI, 1989, p.1)

Por ser uma área que investiga a origem dos fatos, é essencialmente uma área de
investigação questionadora e reflexiva. Seus temas variam bastante, porém estão sempre
perseguindo as injustiças e desmistificando o senso comum e seus preconceitos. Um dos
principais temas da sociologia se voltou para compreender como se desenvolvem as trocas
econômicas e simbólicas, como se estabelecem as relações que muitas vezes passam por
hierarquias de dominação e poder, e quais circunstâncias viabilizam essas dominações. É a partir
disto que essa ciência surgiu e se desenvolveu, buscando sempre um olhar questionador e crítico
acerca dos fatos.

A sociologia acima de tudo busca investigar e compreender a forma de vida do seu tempo,
sempre através de uma base histórica e com base no contexto. Essa área estabelece uma
estreita relação com os estudos da história, porém sua maior distinção e o fato de que aplica a
história em seu próprio tempo presente, compreendendo dessa forma que não há uma verdade
única e absoluta ou uma sociedade e cultura estática e imutável, mas há uma dinâmica social que
está constantemente se transformando e se refazendo.

A sociologia, portanto, é a disciplina que estuda e investiga essas transformações,


procurando sempre a raiz dos problemas, sua origem história e o que realmente há por trás de
cada fato social. Para se realizar esta investigação, a sociologia se utiliza do método científico.

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O método científico pode ser caracterizado como o modo ou o conjunto de regras básicas
empregadas em uma investigação científica com o objetivo de obter resultados os mais confiáveis
e próximos da realidade quanto for possível. Entretanto, o método científico pode variar muito de
acordo com a vertente que se deseja seguir, ou seja, varia de acordo com a forma de abordagem.

Geralmente o método científico envolve algumas etapas como:

 A observação, a formulação de uma hipótese, a experimentação,


 A interpretação dos resultados,
 A conclusão

Porém alguém que se proponha a investigar algo através do método científico não precisa,
necessariamente, cumprir todas as etapas e não existe um tempo pré-determinado para que se
faça cada uma delas. As pesquisas sociológicas geralmente se utilizam dessas etapas e se
baseiam em pesquisas que podem ser qualitativas ou quantitativas, ou mesmo ambas.
As vertentes metodológicas e as abordagens são diversas nessa área, porém, os principais
autores que influenciam com suas metodologias de pesquisa até os dias atuais são: Émile
Durkheim (1858-1917), Karl Marx (1818-83) e Max Weber (1864-1920), nos quais você irá estudar
neste primeiro módulo, uma vez que todos eles se debruçaram demoradamente aos temas da
educação.

A EDUCAÇÃO COMO FATO SOCIAL: UMA ANÁLISE SOBRE O


PENSAMENTO PEDAGÓGICO DE ÉMILE DURKHEIM

Émile Durkheim nasceu na cidade de Épinal (região de Lorena, França) no dia 15 de abril
de 1858. Faleceu em Paris, capital francesa, em 15 de novembro de 1917. É considerado um dos
fundadores da sociologia moderna e pai da sociologia da educação, suas obras influenciam
estudos de diversas áreas até os dias atuais.

A análise das obras “Educação e Sociologia” e “Educação Moral”, ambas publicadas após
sua morte, nos ajudará a compreender a visão deste grande sociólogo francês acerca da função
social da educação e a importância desta para sua teoria sociológica.

Para Durkheim, educação é socialização e a principal função do professor é formar


cidadãos capazes de contribuir para a harmonia social. A escola, nesse sentido, tem o papel de

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ensinar a criança/adolescente a viver em sociedade: elementos como a moral, as regras de


convivências, as formas de se comportar, o que é aceito e o que não é aceito, entre outros
fatores, são ensinados nas escolas.

Durkheim descontrói através de diversos argumentos a idealização da Educação: Para ele,


não existe uma educação ideal e universal, é necessário levar em consideração sempre o
contexto histórico-social de cada local e adaptar os métodos para cada realidade.

Educação como fato social

Para Durkheim, a educação é um “fato social” e como tal deve ser estudado. Fato social é
um conceito elaborado pelo autor e trata-se de um fenômeno produzido pela vida coletiva, ou
seja, de uma realidade social organizada ao longo dos séculos, caracterizada por um conjunto de
práticas e instituições. O fato social é algo maior que o indivíduo e exerce uma determinada
coerção sobre ele, transcendendo a sua escolha individual. Exemplo: casamento, batismo,
religião, tradições, formas de se vestir e se comportar, entre outros.

Caberia aos sistemas educativos, em cada época, transmitir certos aspectos culturais e
sociais sem os quais a vida social se extinguiria e dessa forma, preparar os indivíduos
subjetivamente para viverem dentro dos padrões sociais vigentes, desenvolvendo as “múltiplas
aptidões que a vida social supõe”, já que toda sociedade, independente do grau de complexidade,
exige certa “homogeneidade” e harmonia entre seus membros e certa “diversidade” que
assegurem a sobrevivência da cultura.

Educação como elemento socializador

A educação é apresentada como elemento mediador que “prepara” as gerações mais


jovens para a vida social, garantindo a continuidade da vida coletiva. É a educação a responsável
por transmitir o legado cultural construído ao longo dos séculos e inserir as novas gerações no
seio da vida coletiva.

Durkheim parte da concepção de dualidade do ser humano. No ponto de vista


durkheimiano, em cada um de nós há dois seres inseparáveis, porém distintos. Um é o ser
individual e se relaciona apenas com nós mesmos. O outro é a expressão de ideias, hábitos e

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sentimentos coletivos, é o ser social e se relaciona com o mundo. Se aquele é natural, este só
pode se desenvolver em sociedade, sendo a educação responsável por edificar esse novo ser, o
ser coletivo Entretanto, a educação não se reduz ao mero condicionamento, pois não se trata
simplesmente do “desenvolvimento de certos instintos adormecidos”, mas de um processo de
criação e transformação, cujo objetivo é originar um ser inteiramente novo e capaz de viver de
forma harmônica em sociedade.

É a sociedade que nos lança fora de nós mesmos, que nos obriga a
É a sociedade
considerar que nos lançaque
outros interesses fora não
de nós
osmesmos,
nossos, quequenosnos
obriga a considerar
ensina a
outros interesses que não os nossos, que nos ensina a dominar as paixões, os
dominar as paixões, os instintos, e dar-lhes lei, ensinando-nos o
instintos, e dar-lhes lei, ensinando-nos o sacrifício, a privação, a subordinação dos
sacrifício, a privação,
nossos a subordinação
fins individuais dos nossos
a outros mais elevados. (DURKHEIM, fins1978:
individuais
45). a
outros mais elevados. (DURKHEIM, 1978: 45).

Durkheim afirmava que é equivocado acreditar que podemos educar nossos filhos como
queremos. Há costumes com relação aos quais somos obrigados a aderir; se os desrespeitarmos,
muito gravemente, é possível ocorrer o que Durkheim chama de “morte social”, que consiste no
fato de que se um indivíduo não se comportar de acordo com as estipulações e normas sociais, é
excluído da sociedade e passa a não ser considerado pertencente ao grupo (DURKHEIM, 1978:
36-37).

(...) o ser novo


“o serque
novoaque
ação coletiva,
a ação coletiva, por intermédio
por intermédio da educação,
da educação, assim
assim edifica, em
edifica, emcada
cadaumumde de
nós,nós, representa
representa o que há o que há denomelhor
de melhor homem, no homem,
o que há de
o que há de propriamente humano. (DURKHEIM, 1978: 45).
propriamente humano” (DURKHEIM, 1978: 45).

É por meio da educação, afirma Durkheim, que se aprende uma língua e todo um sistema
de idéias organizadas que permite ao indivíduo ascender às sensações. Esse sistema de idéias,
do qual o ser social é dependente, foi construído ao longo dos séculos, sendo acumulado e
revisto dia a dia.

Definição clássica da Educação

A educação é a ação desempenhada pelas gerações adultas sobre as gerações que não
se encontram ainda aptas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança,
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certo número de estados físicos, intelectuais e morais, exigidos pela sociedade no seu conjunto e
pelo meio particular a que a criança, particularmente, se destina (DURKHEIM, 1978: 41).

Tal definição nos leva à conclusão de que Durkheim entende a educação como um
instrumento de socialização. Essa é certamente a posição assumida pelo sociólogo francês, que
afirma ser a educação uma “socialização metódica das novas gerações”.

O processo de socialização

A socialização representa um contrato social. Mesmo carregado de certo conteúdo moral


responsável por orientar a conduta social segundo padrões morais estabelecidos, esse processo
de socialização tem como objetivo a humanização do ser associal e não o seu condicionamento.

Nesse sentido, socializar para Durkheim é humanizar. Ela pressupõe a aquisição de


conhecimentos, valores e sentimentos construídos pela vida coletiva ao longo da história, mas
que, uma vez adquiridos, permitem ao indivíduo refletir e agir de maneira autônoma, pois são
características necessárias ao exercício da autonomia.

Autonomia

Para atingir o estágio de reflexão, escolha e decisão, faz-se necessário desenvolver o


autocontrole e deter certos pressupostos culturais que só a disciplina e o pertencimento a um
grupo social podem fornecer.

Sociologia como instrumento de compreensão do processo educativo

Segundo afirma Durkheim, a estratégia é focar na dimensão social da educação e, por este
motivo, considera a sociologia como a ciência mais adequada e eficaz aos estudos dos processos
pedagógicos e educacionais e ao estabelecimento dos fins educativos, consideradas as
necessidades do meio social. Para Durkheim, a educação é um processo essencialmente social,
pois existe justamente para preparar os indivíduos para viverem em sociedade e executarem suas
funções enquanto cidadãos. Se o ser humano não vivesse em conjunto, não haveria a
necessidade de educa-lo para a convivência com outras pessoas.

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Papel do professor

Se a educação é um elemento social de fundamental importância para a consolidação de


valores comuns, cabe ao professor preencher alguns requisitos sem os quais a ação educativa
perderia sua essência, a saber: (a) deve ser neutro quanto aos assuntos políticos, não devendo
utilizar a autoridade do qual está investido para impor aos alunos seus preceitos pessoais; (b)
deve ainda trabalhar no sentido de oferecer uma educação que não seja hostil à própria vida
coletiva, respeitando sempre os direitos e deveres de cada ser humano em sociedade, assim
como sua religião, assim como sua integridade e a integridade do grupo.

Isso não quer dizer que a educação não deve instigar o questionamento, afinal, este é o
elemento que a distingue do AUTOMOTISMO. Cabe o professor estimular no aluno a reflexão e o
senso crítico sempre, proporcionando a ele elementos para pensar de forma autônoma.

Concluindo
Concluindo

 O
O sistema
sistema educativo
educativo para
para Durkheim
Durkheim tem tem umum único
únicoobjetivo:
objetivo:produzir
produzirindivíduos
indivíduosaltamente
altamente
integrados na sociedade.
integrados na sociedade.
 •Para
•Para Durkheim a
Durkheim a educação
educação diz
diz respeito
respeito aa um
um fenômeno
fenômeno histórico-social.
histórico-social.
 •É
•É um elemento mediador que “prepara” as gerações mais
um elemento mediador que “prepara” as gerações mais jovens
jovens para
para aavida
vidasocial,
social,
garantindo
garantindo aa continuidade
continuidade da
da vida coletiva.
vida coletiva.
 •À educação cabe
•À educação cabeconstruir
construiresse
essenovonovo ser,
ser, “agregando
“agregando ao ser
ao ser egoísta
egoísta e associal,
e associal, que
que acaba
acaba de nascer,
de nascer, uma natureza
uma natureza capaz decapaz
vidade vida emoral
moral e social”.
social”.

MAX WEBER E A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Max Weber foi um teórico alemão que influenciou profundamente os estudos sociológicos
recentes. Nascido em Efurt, na Alemanha, Max Weber (1864-1920) é um dos principais
pensadores que colaboraram para a construção da Sociologia. Weber dedicou-se por uma gama
gigantesca de assuntos, entre eles o tema educação.

Weber inaugura, assim, o chamado “individualismo metodológico” que parte da ideia de


que as estruturas sociais são explicadas a partir do sentido atribuído pelos indivíduos ao seu
comportamento. Por isso, a sociologia parte da análise da “ação social” que Weber divide em
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quatro tipos principais: ação racional com relação a fins, ação racional com relação a valores,
ação afetiva e ação tradicional. E a educação, por sua vez, está relacionada à estas ações.

Para Weber, estão entre as principais finalidades educacionais os seguintes elementos:

•Despertar o carisma, isto é, qualidades heroicas ou dons;

•Transmitir o conhecimento especializado.

•Preparar o aluno para uma conduta de vida.

Um dos principais conceitos de Max Weber é o de “Tipos Ideais”, na qual se refere o


modelo ideal colocado pela sociedade. A partir deste conceito, Weber desenvolveu os “Três tipos
ideais de educação”, na qual envolvem:

a) Educação carismática.

b) Educação especializada.

c) Educação humanística.

Educação e racionalização social

A evolução sócio histórica da educação ocidental envolve alguns momentos específicos,


segundo Weber, na qual são:

•Educação helênica: caráter racionalista.

•Educação medieval: preocupações práticas.

•Educação moderna: caráter técnico.

•O processo histórico de desenvolvimento da educação no Ocidente é pensado por Weber em


termos de um “processo de racionalização”.

•A força avassaladora do processo de “desencantamento” e “secularização do mundo” atinge


todas as esferas da vida social, inclusive a educação.

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Este último momento é o mais importante para Weber. Para o autor, a evolução histórica
das formas de educação é caracterizada como um progressivo processo de racionalização, na
qual a educação assume cada vez mais um aspecto técnico.

Racionalizações tem existido tem


Racionalizações em todas
existidoasemculturas,
todas as nos maisnos
culturas, diversos setoressetores
mais diversos e dosetipos
dos
mais diferentes.
tipos mais diferentes. Para caracterizar sua diferença do ponto de vista da
Para caracterizar sua diferença do ponto de vista da história cultura,
da história
deve-se primeiro
da ver em que
cultura, esfera
deve-se e direção
primeiro ver elas ocorrem.
em que esfera(1996, p. 11).
e direção elas ocorrem. (1996, p.
11).

Weber nos mostra como a educação ocidental vai sendo cada vez mais racionalizada e
secularizada, perdendo aos poucos seus fundamentos humanos e éticos. O autor aponta para o
fato de que se ganha em especialização e produtividade, mas perde-se o conteúdo moral e
valorativo da educação.

As escolas acompanham o ritmo industrial da sociedade, tornando a educação um produto


a ser vendido e consumido de forma utilitarista e técnica. As instituições do mundo pré-moderno
que se baseavam na tradição, deram lugar a uma complexa rede organizacional que se estrutura
pela burocracia e pela hierarquia.

A escola, como uma das mais importantes instituições sociais, acompanhou este processo.
Os impactos desse processo estão indicados na impessoalidade e apatia do processo
burocrático, que exacerba o crescente sentimento de abandono e apatia do sujeito moderno em
função do desolamento causado pelo fatalismo de um mundo ultrarracionalizado.

Concluindo
Concluindo

 A educação moderna apresenta um caráter estritamente técnico.


 A educação moderna apresenta um caráter estritamente técnico.
 A educação ocidental vai sendo cada vez mais racionalizada
 A educação ocidental vai sendo cada vez mais racionalizada
 Com a extrema racionalização e secularização da educação, se ganha em especialização
 Com a extrema racionalização e secularização da educação, se ganha em especialização e
e produtividade, mas perde-se o conteúdo moral e valorativo da educação.
produtividade, mas perde-se o conteúdo moral e valorativo da educação.
 Uma das principais consequências desse processo de racionalização da educação é o
 Uma das principais consequências desse processo de racionalização da educação é o
crescente sentimento de desamparo e apatia do indivíduo moderno frente a um mundo que
crescente sentimento de desamparo e apatia do indivíduo moderno frente a um mundo que
valoriza a produtividade e a competição.
valoriza a produtividade e a competição.
 Cabe à educação desconstruir esta tendência e recuperar os elementos humanos e
 Cabe à educação desconstruir esta tendência e recuperar os elementos humanos e subjetivos
subjetivos que existem no processo educativo.
que existem no processo educativo.
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EDUCAÇÃO EM KARL MARX


Karl Marx é um dos principais pensadores de todos os séculos, é considerado não somente
um sociólogo, mas também filósofo e economista. Seus estudos repercutiram fortemente as
ciências sociais e diversas outras áreas. Marx nasceu em 1818, na cidade de Trier, Remânia,
província da Prússia e suas obras dizem respeito principalmente ao modo de produção capitalista
que estava nascendo e transformando todas as formas de relações humanas.

Em relação à educação, Marx fala da formação do homem “onilateral”, em negação ao


homem unilateral. O principal não seria formar o homem que desempenhasse diversas tarefas e
servisse ao desenvolvimento da grande indústria, mas sim que tivesse conhecimentos acerca dos
procedimentos tecnológicos da totalidade da produção e da vida como um todo.

•1) educação mental (ensino intelectual),

•2) educação corporal, tal qual é produzida pelos exercícios ginásticos e militares;

•3) educação tecnológica, compreendendo os princípios gerais e científicos de todos os


processos de produção e, ao mesmo tempo, iniciando as crianças e os adolescentes no manejo
dos instrumentos elementares de todos os ramos industriais”.

A teoria principal de Marx diz respeito à luta de classes e à produção e reprodução desta,
ou seja, o modo como ela foi construída, a forma como é mantida, seus mecanismos e as
estratégias de falsificação da realidade. Ou seja, para Marx, o sistema capitalista é todo
construído em torno de exploração, onde alguns poucos detêm o poder e os modos de produção,
podendo assim controlar a outra parcela da população, que se tornam submetidos e dependentes
dessas circunstâncias desiguais.

Educação e reprodução social

A compreensão da dinâmica da estrutura das relações sociais de classe pode ser


viabilizada pela sociologia das instituições de ensino. O problema da transmissão do poder e dos

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privilégios é, perfeitamente, dissimulado pelo sistema de ensino que contribui para a reprodução
das estruturas sociais.

Ao mesmo tempo o sistema educacional se encarrega de cumprir essa função social e o


faz sob a aparência da neutralidade. A cultura escolar é um dos elementos que determina a
posição que o indivíduo pode ocupar na estrutura social.

O sistema escolar é um dos fatores mais eficazes de conservação social, à medida que ele
não só legitima as desigualdades sociais frente à cultura, mas também sanciona a herança
cultural, quando a considera como um dom natural.

As oportunidades de acesso ao ensino superior é o resultado de um processo de seleção,


direta ou indireta, que possui um peso desigual sobre os indivíduos de diferentes classes sociais.

A influência da família sobre o êxito escolar da criança é especialmente cultural. O êxito


escolar está muito relacionado com a aptidão para a utilização da língua escolar. Na verdade, a
língua materna das crianças das classes cultas é muito próxima da língua escolar.

Esse modelo de sistema econômico é mantido pelo modo de produção, ou seja, a forma
como a riqueza é produzida e reproduzida, e como são mantidas nas mãos de poucos. As
relações sociais, as relações pessoais, a vida das pessoas, a forma com que sentem e vivem,
seus sonhos, suas expectativas, seus planos, suas potencialidades, e todas as outras esferas
humanas e sociais se reduzem à esta lógica de sistema econômico. Tudo se torna mão de obra
e/ou moeda de troca, inclusive a própria educação e a própria vida.

É possível, portanto, utilizar Marx para abordar o modelo de educação atual principalmente
como uma introdução, no sentido de utilizá-lo como modelo teórico de abordagem e método de
análise e visão de mundo.

A partir da teoria de Marx acerca da lógica do sistema capitalista, na qual reduz toda e
qualquer relação à mero produto/ mercadoria com o objetivo de gerar lucro, assim como todas as
relação sociais produzidas a partir desta lógica são desiguais e trabalham para manter e
reproduzir essa sociedade desigual.

A escola por ser uma das mais importantes instituições sociais, no modo de produção
capitalista, atua como produtora e reprodutora das desigualdades existentes nessa sociedade,
neste determinado contexto, uma vez que a classe trabalhadora permanece em seu patamar e as
classes altas conservam sua condição de opressores.
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Marx afirma que a escola pública ensina o indivíduo a ser um “funcionário” e a escola da
elite ensina o indivíduo a ser “patrão”, promovendo a manutenção da luta de classes. A escola não
ensina o aluno a produzir, a criar, e dessa forma mudar a sua condição social, mas sim para
aprender o básico para ser um bom funcionário.

Com isso posto, pode-se ter ideia da complexidade da união da educação e do trabalho no
capitalismo para Marx. Não se trata de formar trabalhadores no sentido do capital condicionados a
trabalhar como ele deseja.

Trata-se de trabalhar com a negatividade do que está posto; no caso, o trabalhador


alienado da totalidade de sua própria atividade e mais ainda, expropriado do conhecimento e da
ciência que o capital se apropriou e empregou nos meios de produção como forma para aumentar
o sobre-trabalho (processo em desenvolvimento desde a subsunção do trabalho formal na
manufatura, que chega ao ápice, na subsunção real na grande indústria).

Portanto, para Marx, a Ciência e a tecnologia, também são produzidas para a manutenção
do capitalismo, ou seja, voltadas para o lucro. Por este motivo, a ciência e a tecnologia são
detenção das classes dominantes, e a própria escola reproduz esse fato.

A escola para Marx, nesse sentido, deveria ser emancipadora, desenvolvendo no aluno a
consciência crítica e totalitária das estruturas de dominação existentes.

As crianças e os adolescentes devem ser preservados dos efeitos destruidores do sistema


atual. E isto só pode se realizar tornando a razão social uma força social; o que nas
circunstâncias presentes, só pode ser feito através de leis gerais impostas pelo poder do Estado.
(Marx, apud Nogueira, 1990).

Concluindo
Concluindo

  AAcultura
culturaescolar é um
escolar dos dos
é um elementos que determina
elementos a posição
que determina que o indivíduo
a posição pode ocupar
que o indivíduo podena
estrutura
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estrutura social.
  OO sistema
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desigualdades
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fossemérito
méritoindividual.
individual.
 As oportunidades de acesso ao ensino superior são resultados de um processo de seleção,
direta ou indireta, que possui um peso desigual sobre os indivíduos de diferentes classes
sociais.
 A influência da família sobre o êxito escolar da criança é especialmente cultural. O 17
êxito
escolar está muito relacionado com a aptidão para a utilização da língua escolar. Na verdade,
a língua materna das crianças das classes cultas é muito próxima da língua escolar.
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 As oportunidades de acesso ao ensino superior são resultados de um processo de seleção,


direta ou indireta, que possui um peso desigual sobre os indivíduos de diferentes classes
sociais.
 A influência da família sobre o êxito escolar da criança é especialmente cultural. O êxito
escolar está muito relacionado com a aptidão para a utilização da língua escolar. Na
verdade, a língua materna das crianças das classes cultas é muito próxima da língua
escolar.

O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO

O “pensamento social brasileiro” vem tomado forma nos últimos trinta anos, a partir de
pesquisas sobre as tradições intelectual, cultural, social e política brasileiras. Observa-se, assim,
o próprio alargamento da noção de "pensamento social", operado, em parte, pelo caráter
multidisciplinar da área de pesquisa, que compreende não apenas as três disciplinas básicas das
ciências sociais – a antropologia, a ciência política e a sociologia –, como ainda a história, a teoria
literária e a filosofia política, entre outras disciplinas.

Nas décadas de 1920 e 1930, estudiosos se debruçaram em busca do entendimento da


formação da sociedade brasileira, analisando temas como abolição da escravatura, êxodos e
estudos sobre índios e negros. Dentre os autores mais significativos, temos: Sérgio Buarque de
Holanda (Raízes do Brasil-1936), Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala-1933) e Caio Prado
Júnior (Formação do Brasil Contemporâneo-1942).

Posteriormente, a Sociologia brasileira passou a se preocupar com os estudos de temas


relacionados às classes trabalhadoras, tais como salários e jornadas de trabalho, além dos
estudos acerca das comunidades rurais. Na década de 1960, a Sociologia passou a se voltar para
o processo da industrialização do país, em debates sobre a reforma agrária e movimentos sociais
na cidade e no campo. Foi em 1964 que o trabalho dos sociólogos se concentrou principalmente
nos problemas socioeconômicos e políticos brasileiros advindos da ditadura militar (de 1964 a
1985), nesse período a Sociologia foi banida do ensino nas escolas.

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Na década de 1980, a Sociologia voltou a ser disciplina no ensino médio, sendo opcional
na grade curricular. Foi neste mesmo período que a Sociologia no Brasil se profissionalizou. Além
das reflexões com a economia, política e mudanças sociais implantadas com a instalação da nova
república (1985), os sociólogos mudaram seus horizontes e expandiram seus repertórios de
estudos, voltando-se para o estudo da mulher, do trabalhador rural e principalmente acerca da
educação, escola e processos de aprendizagem.

Foi recentemente, em 2009, que a Sociologia tornou-se disciplina obrigatória na grade


curricular no ensino médio no Brasil. A presença da Sociologia nas salas de aula é de extrema
importância para a formação do senso crítico e reflexivo do aluno, e não por acaso foi retirada no
período mais repressor da história do país. A disciplina de Sociologia questiona, desnaturaliza,
desconstrói e analisa a realidade social e suas percepções, desmistificando o que há por trás dos
fatos impostos e consolidados.

Texto complementar:

Uma análise sociológica do pensamento social brasileiro está diretamente relacionada com o
aspecto político, cultural e histórico uma vez que “a dinâmica da formação brasileira implica a
compreensão dialética das realidades culturais e políticas” (ALMEIDA, 2011, p. 164). Tal análise
pode ser feita a partir da obra de autores como Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Caio
Prado Júnior (que marcaram a década de 1930).

A obra Raízes do Brasil (1984), marca a década de 30 no que concerne à formação da identidade
brasileira. Publicada em 1936, o autor, Sergio Buarque de Holanda, propõe severas críticas a
formação oligárquica do país a partir de reflexões sociológicas pautadas na metodologia
weberiana (ALMEIDA, 2011, p. 165).

Costa (1987, p. 152) também analisa a publicação de Raízes do Brasil como um “ensaio
sociológico de crítica à formação oligárquica e autoritária das elites culturais e políticas brasileiras”
e pondera que “Sérgio Buarque de Hollanda iniciou sua produção intelectual voltada para a crítica
literária e para a crítica cultural”.

Sérgio Buarque de Holanda procurou compreender as estruturas sociais e econômicas do Brasil,


denunciando um certo conservadorismo sustentado pela elite brasileira que pouco se importava
com a população excluída e às margens da sociedade. “Além de outras coisas, Holanda cunhou
críticas ao liberalismo e propôs uma maior participação das massas no processo político como
forma de expansão da democracia e o fortalecimento da mesma, numa perspectiva de romper
com a tradição colonial” (ALMEIDA, 2011, p. 165).

É preciso ressaltar que no Brasil, até fins do século XIX, ainda se mantinham práticas
escravocratas para fazer gerar a economia de uma civilização rural, que permeou por muito
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tempo a nossa sociedade. Desse modo, as organizações urbanas dependiam da estrutura vigente
das organizações rurais e, mesmo após a abolição, a organização política da sociedade era
sustentada por fazendeiros, grandes latifundiários, e aos seus filhos, sucessores diretos das
terras familiares, que tinham o poder de dominar e manipular o cenário político, fazendo com que
se perpetuasse o domínio dos grandes latifundiários nas esferas públicas. Dominação que excluía
e dificultava o acesso da maioria da população à política, pois a elite rural tinha seus pilares
solidificados na formação tradicionalista e conservadora, que se estenderam, posteriormente, às
organizações urbanas. Essa análise da estrutura social brasileira é o que levou Holanda (2006, p.
76) a afirmar que a grande dificuldade neste caso foi “vestir um país ainda preso à economia
escravocrata com os trajes modernos de uma grande democracia burguesa”. Além disso, os
traços do patriarcalismo (autoridade patriarcal), tradicionalismo e conservadorismo ajudam a
compreender as condições da fragilidade da democracia brasileira.

Sérgio Buarque também analisa a formação do Brasil a partir da influência ibérica, portuguesa e
dos próprios brasileiros, como resultado daqueles com os povos indígenas, deixando uma lacuna
no que tange ao papel dos negros na formação do Brasil.

Gilberto Freyre é outro representante do pensamento social brasileiro dessa época. Nascido em
Pernambuco, sua formação intelectual esteve ligada a uma pós-graduação em ciências políticas,
jurídicas e sócias, na Universidade de Colúmbia, nos EUA, onde esteve sob a influência de Franz
Boas. Sua tese de mestrado A vida social do Brasil no século XIX redundou em obra de grande
repercussão, Casa-grande & senzala, publicada em 1933. Deu continuidade a essa obra com
mais dois livros, Sobrados e mocambos e Ordem e progresso. Entendia o nacionalismo como a
fusão de raças, regiões e culturas e grupos sociais possibilitada pelas características do
colonialismo no Brasil. Destacava, em especial, o papel do negro e do mestiço na adaptação da
cultura européia aos trópicos e na formação da identidade cultural brasileira. Freyre acreditava
ainda que a Sociologia e a antropologia podiam auxiliar a administração do país, possibilitando a
articulação social e da cultura (COSTA, 1987, p. 152 e 153).

Uma investigação sobre a sociabilidade e cultura do povo brasileiro é encontrada na sua obra
Casa Grande & Senzala.

A metáfora da Casa-Grande configura-se enquanto espaço de um país em desenvolvimento, mas


com diversos problemas sociais, políticos e até econômicos, pois a atividade preponderante e que
impulsiona o autor durante as reflexões desse novo espaço de análise é justamente a
monocultura da cana-de-açúcar. Ademais, de posse da análise de um Brasil agrário, a reflexão de
Gilberto Freyre resulta na apresentação de uma sociedade patriarcal, escravista e mestiça
(ALMEIDA, 2011, p. 168).

Esta discussão remete-nos à compreensão histórica e cultural do processo de colonização aliado


ao processo de miscigenação entre brancos, índios e negros em torno de uma identidade
brasileira que gerou opiniões antagônicas entre as várias correntes de pensamento e alimentou o
debate em torno de questões como “raça”, “miscigenação” e “cultura”.

Se por um lado alguns autores consideravam positivas as relações inter-raciais para a formação
social do povo brasileiro, buscando revelar os verdadeiros valores desses grupos, separados dos
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traços de raça e identificados aos efeitos do meio social e da experiência cultural, por outro lado,
havia os que consideravam a miscigenação como fator de atraso e subdesenvolvimento e
consideravam que todos os problemas do país estavam relacionados não tanto às diferenças
sociais e culturais, mas aos próprios atributos de (im)pureza das “raças”. O mestiço era visto
como um elemento nocivo à sociedade e a ideia de “superioridade” racial do branco era muito
forte entre as elites brasileiras e considerada por muitos intelectuais como princípio “cientifico”.

Por fim, temos Darcy Ribeiro, romancista, etnólogo e político, se envolveu com a questão
indígena, condenando toda ortodoxia a partir de uma linha marxista, buscando as raízes históricas
da população indígena. Foi o criador e primeiro reitor da UnB (Universidade de Brasília) e Ministro
da Educação no Brasil, realizando profundas reformas no sistema educacional brasileiro.
Obrigado a deixar o Brasil em razão da ditadura militar de 1964, foi convidado a participar de
reformas universitárias em países como o Chile, Peru, Venezuela, México e Uruguai.

A ditadura militar promoveu uma estagnação no desenvolvimento do pensamento social brasileiro.

A ditadura militar arrogou-se a missão de prosseguir a modernização capitalista a qualquer custo,


através do lema ‘desenvolvimento e segurança’. Nos interesses da ‘segurança’, foram expurgados
todos os intelectuais que não compactuassem com o regime. Foi a época da aposentadoria
compulsória para uns, e o exílio, para outros, entre eles Florestan Fernandes, Octavio Ianni,
Darcy Ribeiro, Fernando Henrique Cardoso, Celso Furtado (COSTA, 1987, p. 158).

Fonte: https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/pensamento-social-brasileiro

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Fantástico”.

A sugestão
A sugestão de de atividade
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consiste em
em assistir
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um olhar
olhar sociológico
sociológico acerca
acerca das
das
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questões estudas neste
neste módulo.
módulo. Após
Após ver
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filme, faça
faça uma
uma resenha
resenha do
do mesmo,
mesmo, pois
pois isso
isso irá
irá
contribuir para
contribuir para que
que os
os seus
seus conhecimentos
conhecimentos se
se consolidem.
consolidem.

Bons estudos!
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