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Sociologia da Educação

NÚCLEO COMUM
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
Núcleo de Ensino a Distância

Créditos e Copyright

MACEDO, Doroti de Oliveira Rosa; TREVIZAN, Anaide.


Sociologia da Educação. Doroti de O. Macedo; Anaide Trevizan.
Atualizado por Neuza Feitosa,2023. – Santos.
72 p.
Universidade Metropolitana de Santos. Núcleo Comum, 2015.
1. Educação a distância. 2. Educação. 3. Sociologia.

CDD 371.12

Vanessa Laurentina Maia


Crb8 71/97
Bibliotecária UNIMES

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publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários.

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curso oriundo da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em
qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos.

É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato.

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SUMÁRIO

Aula 01_A contribuição da Sociologia da Educação ................................................. 4


Aula 02_Conceitos básicos de Sociologia e Educação ............................................. 9
Aula 03_Educação e instituições sociais ................................................................. 13
Aula 04_Educação e cultura .................................................................................... 16
Aula 05_Educação, cultura e ideologia ................................................................... 29
Aula 06_A escola como instituição social ................................................................ 32
Aula 07_Análise sociológica da sociedade capitalista ............................................. 36
Aula 08_A dimensão social da liberdade................................................................. 39
Aula 09_Sociedade contratual e sociedade contextual ........................................... 42
Aula 10_Sociedade crítica e Educação ................................................................... 45
Resumo - Unidade II................................................................................................ 52
Aula 11_A educação escolar e a sociedade brasileira ............................................ 53
Aula 12_A escola e a questão cultural .................................................................... 56
Aula 13_A organização da escola ........................................................................... 58
Aula 14_O preconceito na escola ............................................................................ 62
Aula 15_A função da escola no contexto social ...................................................... 64
Aula 16_Sawabona!!! Shikoba!!! ............................................................................. 70
Resumo Unidade III ................................................................................................. 72

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Aula 01_A contribuição da Sociologia da Educação


Palavras-chave: Sociologia; educação; formação do educador.

Abordaremos nesta unidade curricular qual a contribuição da Sociologia para


a Educação. Os estudos sociológicos trazem conhecimentos fundamentais para
nossa compreensão sobre o homem e a sua realidade social e, consequentemente,
para o processo educacional. Segundo Rodrigues (2000), o sociólogo Florestan
Fernandes entende que:

A educação é o elemento da vida social responsável pela organização da


experiência dos indivíduos na vida cotidiana, pelo desenvolvimento de sua
personalidade e pela garantia da sobrevivência e do funcionamento das
próprias coletividades humanas. [...]. (RODRIGUES, 2000, p.09)

Para Florestan Fernandes apud Rodrigues (2000) as práticas que têm por
finalidade educar utilizam técnicas, seguem normas e valores compartilhados que
fazem parte de uma determinada sociedade, de uma determinada cultura e de um
determinado tempo histórico. Para a Sociologia, não há técnica pedagógica neutra:
todas são construídas e utilizadas em meio a valores e normas. Ao mencionar o
termo técnicas aplicadas à educação abrangia não só os recursos ou meios
utilizados para transmitir conteúdos, mas também a pedagogia, compreendida em
todos os aspectos filosóficos e sociológicos.
É neste sentido que as técnicas utilizadas em educação estão presentes nas
práticas educacionais que seguem as normas e os valores sociais. As normas são
as leis e regulamentos escritos e as regras, aquelas estabelecidas nos grupos
sociais. Os valores correspondem aos critérios de julgamento de si e dos outros, as
concordâncias e discordâncias; as aprovações e reprovações que nunca são
individuais, mas aceitas e compartilhadas na vida social.

Olhar a educação do ponto de vista da Sociologia é compreender que, se a


Pedagogia é o fundamento das práticas educacionais as crenças, os
valores e as normas sociais são os fundamentos da pedagogia”.
(RODRIGUES, 2000, p. 10)

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Neste sentido, a Sociologia é um instrumento importante no processo


educacional como reveladora de práticas sociais que auxiliam a compreender a
Pedagogia e o fazer do pedagogo. Como diz Rodrigues (2000, p. 10),

[...] a Sociologia da Educação é aquela disciplina acadêmica que se


preocupa em reconstruir sistematicamente as relações, que existem na
prática cotidiana, entre as ações que objetivam educar e as estruturas da
vida social, quer dizer: a economia, a cultura, o arcabouço jurídico, as
concepções de mundo, os conflitos políticos.

Portanto, toda análise e estudo a ser realizado devem ter como base os
fundamentos trazidos pelos seus iniciadores que analisaram a sociedade de sua
época - a sociedade capitalista, buscando compreendê-la em suas peculiaridades,
propondo caminhos teóricos interpretativos para os mais variados fenômenos
sociais.
Acompanharemos “o caminho trilhado” por alguns desses autores que
iniciaram os estudos no campo da Sociologia.
Para complementar seus conhecimentos, apresentamos a seguir breves
considerações sobre a História da Sociologia.

História da Sociologia

O estudo dos acontecimentos sociais é muito antigo. Pode-se dizer que,


desde o aparecimento dos primeiros agrupamentos humanos, houve a preocupação
de organizar-se da melhor forma para a sobrevivência do homem.
Somente no século XIX, a Sociologia passou a existir como ciência
independente. As transformações pelas quais passou a sociedade europeia nos
séculos XVIII e XIX contribuíram de maneira acentuada para o aparecimento da
Sociologia. A Revolução Industrial e a Revolução Francesa provocaram
transformações radicais na sociedade da época. Os estudiosos começaram a
estudar essas transformações e suas consequências para a vida humana: era início
da Sociologia como ciência.
O primeiro estudioso a registrar o termo “Sociologia” foi o filósofo francês
Augusto Comte (1798-1857), em sua obra “Filosofia Positiva”, publicada em 1838.
Para ele, a Sociologia deveria realizar seus estudos com base na observação e na

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classificação sistemática e não baseada na autoridade e na especulação, como


acontecia com a ciência antiga.
O sociólogo francês Emile Durkheim (1858-1917) contribuiu para que a
Sociologia analisasse a sociedade, os grupos sociais, os fatos sociais através do
método científico. Em seu livro “Regras do método sociológico” (1895), Durkheim
explicou como realizou sua pesquisa sobre o suicídio: primeiro planejou a pesquisa;
depois coletou grande número de dados sobre pessoas que se suicidaram; por fim,
chegou a uma conclusão elaborou a teoria do suicídio, em que apontou como fator
principal o isolamento social. Durkheim analisou também a educação como fato
social cujas teorias encontram-se no livro “Sociologia e Educação”; daí dizermos que
foi o primeiro sistematizador da Sociologia da Educação.
O que tem a ver a Sociologia com a educação? A escola não está isolada em
relação à comunidade, à sociedade em que está inserida. A escola é, até certo ponto,
reflexo das condições e das exigências estabelecidas pela sociedade, em seu
sentido mais amplo e, pela comunidade, no sentido mais restrito.
Por outro lado, mesmo no interior da escola, multiplicam-se os grupos sociais.
Esses grupos - alunos, professores, especialistas etc. têm enorme influência sobre
o comportamento dos alunos e sobre sua educação. Até dentro da sala de aula,
apesar do controle que pode ser exercido pelo professor, a influência das condições
sociais do aluno e dos grupos de que ele participa dentro e fora da sala, não pode
ser menosprezada.
A Sociologia da Educação nos possibilita compreender a realidade
educacional brasileira e a própria significação da educação nas sociedades.

Pensar a educação no contexto da nossa realidade é estar em contato, até


mesmo, com as sérias contradições que geram problemas, mas que, ao
mesmo tempo, solicitam mudanças, mudanças estruturais de caráter forte,
mudanças que nos possibilitem uma educação mais democrática
fortalecendo os direitos de cidadania para os indivíduos e grupos na
realidade social vivenciada. (NERY, 2013, p. 10)

A contribuição da Sociologia da Educação ao trabalho pedagógico abrange


pelo menos dois aspectos principais:
1. O estudo dos processos e das influências sociais envolvidos na
atividade educativa, em especial na escola. Incluem-se aqui os processos de

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interação dos indivíduos e de organização social e as influências exercidas pela


sociedade, pela comunidade e pelos grupos sobre a educação.
2. A aplicação dos conhecimentos e descobertas da Sociologia à
atividade educativa, ou seja, utilização dos princípios e teorias sociológicas para
tornar mais eficiente o processo educativo.
Assim, a Sociologia da Educação surge para investigar, interpretar e analisar
a escola como instituição social. Para isso necessita de ferramentas teórico-
metodológicas que possibilitem a compreensão dos elementos presentes no
contexto social, histórico, político, cultural e econômico que se assenta a educação.
Dando continuidade ao tema Sociologia na formação do educador, vamos
aprofundar um pouco mais a questão da Sociologia como instrumental necessário
na formação do professor para ajudar a prepará-lo para as diferentes realidades que
encontrará e que, como professor, possa preparar criticamente seus alunos.
Penteado (1982) em seu texto “A Sociologia na formação do professor de 1°
e 2° grau” (1º. Grau é o atual Ensino Fundamental e o 2º. Grau é o atual Ensino
Médio). Este autor diz que:
[...] quando falamos da Sociologia na formação do professor de primeiro e
segundo graus como instrumento de trabalho daquele profissional que o
professor precisa se transformar estamos pensando no que chamamos, no
início deste trabalho, de questões menores ou questões de sala de aula.
Estamos pensando num professor instrumentado para perceber problemas
do dia-a-dia da sala de aula, como faltas frequentes do aluno por perder a
hora (não tem quem o chame); falta de estudo do aluno porque não lhe
sobra tempo para tanto (trabalha) ou porque esquece (não tem quem o
oriente fora da escola) visando lidar com eles de maneira mais produtiva e
adequada.
Estamos pensando num professor instrumentado para perceber problemas
da relação com os pais como, por exemplo, não poder contar com eles para
um acompanhamento dos filhos; para perceber o autoritarismo ou mesmo o
passivismo dos pais em relação ao desempenho escolar dos filhos; para
enfrentar o insucesso das reuniões de pais montadas pelos professores e
buscar formas de superação.
Estamos pensando num professor instrumentado para viver os problemas
da relação professor-professor, professor-diretor, dentro da unidade
escolar.
Estamos pensando num professor que tome tudo isso como objeto de sua
ação de professor. [...] (PENTEADO, 1982, p.163-164).

Stoer (2008) complementa a discussão trazida por Penteado (1982) ao afirmar


que:

[...]A pedagogia da interação na sala de aula e na escola precisa de


sociologia da educação não tanto para reproduzir, mas antes para interrogar
e criar. (p.76)

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Analise a importância da Sociologia na formação do educador, a partir das


seguintes afirmativas:

• É indispensável conhecer conceitos e teorias sociológicas para a


compreensão da realidade social.
• O professor precisa compreender que atuará num grupo social (escola), onde
são encontrados outros grupos sociais de diferentes origens e culturas, o que
inclui trabalhar com a diversidade de questões que aparecem na sociedade
como desigualdades de riqueza, gênero e etnicidade.
• Os problemas e questões sociais são instrumentos para que o educador
perceba os problemas existentes numa escola e na comunidade escolar.
• Os educadores são constituídos por suas histórias pessoais e pela sociedade
sendo também construtores da história e da sociedade onde vivem. Precisam
colaborar na construção da sociedade democrática brasileira e na
emancipação das pessoas que nela atuam.

REFERÊNCIAS

NERY, Maria Clara Ramos. Sociologia da Educação. Curitiba: Intersaberes, 2013.


Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/9989 .Acessado
em 30/03/2023.

PENTEADO, Heloisa D. A Sociologia na formação do professor de 1° e 2° grau.


Revista da Faculdade de Educação da USP. São Paulo, v.8, n.2, p.157-164,
dez.1982.

RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. RJ, ED. DP&A, 2000.

STOER, Stephen R. Sociologia da educação e formação de


professores. Educação, Sociedade & Culturas, 26, 71-84, 2008. Disponível em
https://www.fpce.up.pt/ciie/revistaesc/ESC26/26-Sociologia.pdf . Acessado em
30/03/2023.

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Aula 02_Conceitos básicos de Sociologia e Educação

Palavras-chave: Educação; conceitos básicos da Sociologia; sociedade;


comunidade.

Nesta aula, trabalharemos com alguns conceitos importantes da Sociologia.

Figura 1 - Fonte: autor

• Fato social:
Fenômeno ou ocorrência social, com as seguintes características:
generalidade, exterioridade e coerção social.
• Ação social:
Ato individual de caráter social, com significado e valor ativo.
• Interação social:
Ação coletiva que pressupõe reciprocidade e interdependência entre agentes
sociais.
• Relação social:
Forma como ocorre a interação social.
• Estratificação social:
Processo que coloca os indivíduos de uma sociedade em camadas ou
estratos sociais diferentes, de acordo com suas condições econômicas, de
nascimento, étnicas, religiosas etc.
• Classe social:
Cada um dos estratos ou camadas que constituem a sociedade estratificada.

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• Status social:
Corresponde à posição que o indivíduo ocupa num grupo social ou na
sociedade.
• Papel social:
Função que cada indivíduo desempenha em consequência do status que
ocupa.
• Grupo social:
Conjunto de indivíduos que interagem uns com os outros durante um certo
período de tempo.
• Sociedade:
Conjunto de indivíduos, grupos e instituições, cujos relacionamentos são
impessoais, formais, utilitários.
• Comunidade:
Grupo ou grupos localizados, bastante integrados, com predominância de
contatos primários: pessoais, informais, tradicionais, sentimentais.

SOCIEDADE COMUNIDADE

Estratificada Não estratificada

Grande área geográfica Área geográfica limitada

Formada por muitos grupos Formada por um ou poucos grupos

Objetivos diversos Objetivos comuns

Nem todos se conhecem Todos ou quase todos se conhecem

Competição União de esforços

Complexa Simples

Todo Parte do todo.

Trabalharemos a seguir, alguns conceitos da Sociologia, a partir de uma


história que mostra uma trajetória de vida, com suas dificuldades. Esta é uma
história, como tantas outras, em que “qualquer semelhança é mera coincidência” e
foi extraída do livro: Sociologia da Educação de Nelson Piletti (2003, p. 243 e 244).

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Leia abaixo:
“Isabel é do signo de Leão. Completará dezessete anos no dia 10 de agosto.
Nasceu num pequeno povoado, de não mais de vinte famílias de pequenos
agricultores. Na escola local fez as três primeiras séries do ensino fundamental. Era
uma escola de apenas uma sala, na qual a professora procurava ensinar, ao mesmo
tempo, a vinte e duas crianças da primeira a quarta série.
Aos dez anos Isabel mudou-se para a cidade. Foi morar num apartamento.
Nem sabe quem são seus vizinhos do apartamento em frente. Apenas “bom dia”,
“boa tarde”, “tudo bem”? e nada mais. Atualmente, frequenta a segunda série do
curso de magistério. A tarde trabalha numa loja, para reforçar o orçamento familiar,
que anda apertado.
Hoje, Isabel acordou às sete horas, um pouco tarde para entrar na escola às
sete e meia. Lavou-se e vestiu-se rapidamente. Pôs o uniforme da escola, blusa
branca e saia azul, meias brancas e tênis. Tomou café e saiu. No caminho encontrou
Joana e Sandra, duas amigas inseparáveis. Foram conversando de tudo um pouco,
as matérias do dia, os namorados, etc.
Saindo da escola, Isabel vai correndo para casa, troca de roupa, almoça e vai
para o serviço, onde permanece das 13 às 19 horas. Sabe que não pode chegar
atrasada, pois as consequências são pesadas.
Seis horas mostrando tecidos, roupas, blusas, calças, meias! Preços,
descontos, notas! Isabel sai do serviço, vai para casa, toma banho, janta. E agora?
Novela das oito, trabalho de escola, cansaço, sono, namorado etc. O que fazer?
Isabel procura conciliar as coisas, fazer o que dá. “Quer ser professora e precisa
estudar”.

Procure identificar, nesta história, situações que caracterizem:


1. Fato social;
2. Interação social;
3. Grupo social;
4. Estratificação social;
5. Classe social.
O conceito de Fato Social também foi analisado no livro Abortion in United
States, organizado por Mary Steichen Calderone, New York: Hoeber-Harper and

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Row, 1958. Analise o conceito de fato social a partir da resenha elaborada por
Cristina Costa:
O aborto é uma velha prática, mas mesmo na Antiguidade provocava grandes
diferenças de opinião. Platão, na República, aprovava o aborto a fim de impedir o
nascimento de filhos concebidos em incesto; Aristóteles, sempre prático, pensava no
aborto como um útil regulador malthusiano. De outro lado, o juramento de Hipócrates
contém as palavras: “não darei a uma mulher o pessário para provocar aborto”;
Sêneca e Cícero condenaram o aborto a partir de princípios morais; o código
Justiniano proibia o aborto. No entanto, parece haver pouca dúvida de que, no
Império Romano e no mundo helenístico, o aborto era, nas palavras de um
especialista, “muito comum nas classes altas”. A Igreja Cristã opôs-se rigorosamente
a essa “atitude pagã” e considerou o aborto um pecado. Em muitos estados, a lei
seguiu a doutrina da Igreja e considerou o pecado um crime. Mas na lei anglo-
saxônica o aborto era considerado apenas “um delito eclesiástico”.
Hoje, o aborto é um problema mundial. Os levantamentos e estudos
realizados por pesquisadores isolados e pela Unesco mostram que essa prática é
muito difundida nos países escandinavos, na Finlândia, na Alemanha, na União
Soviética, no Japão, no México, em Porto Rico, na América Latina, nos Estados
Unidos, bem como em outras regiões. O livro de George Devereux, “A study of
abortion in primitive societies”, que abrange aproximadamente 400 sociedades pré-
industriais, bem como 20 nações históricas e modernas, conclui que o aborto “é um
fenômeno absolutamente universal”.

REFERÊNCIAS
COSTA, Cristina. Sociologia. Ed Moderna, SP, 1997. p.68.

DURKHEIM, E. O que é fato social? In: As Regras do Método Sociológico. Trad.


por Maria Isaura Pereira de Queiroz. 6.a ed. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1972. p. 1-4, 5, 8-11, disponível em
https://www.academia.edu/11975514/O_QUE_%C3%89_FATO_SOCIAL_%C3%89
mile_DURKHEIM, acessado em 30/03/2023.

PILETTI, Nelson. Sociologia da Educação, SP, Ed. Ática, 2003. p. 243 e 244.

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Aula 03_Educação e instituições sociais

Palavras-chave: Educação; ser social; ser individual; instituições sociais.

Nesta aula trabalharemos com o conceito de socialização. Para tanto,


escolhemos dois trechos da obra de Emile Durkheim, o fundador da
Sociologia. Segundo Durkheim (1978), pode-se afirmar que:

a) [...] Cada de nós, embora formando uma unidade, é constituído de dois


seres: um ser individual formado por todos os estados mentais que só se
relacionam conosco mesmos; e um ser social que é um sistema de ideias,
sentimentos e hábitos, que exprimem em nós, não a nossa individualidade,
mas o grupo ou os grupos diferentes de que fazemos parte, tais como as
crenças religiosas, as crenças e as práticas morais, as tradições nacionais
ou profissionais, as opiniões coletivas de toda espécie. (...) Constituir esse
ser em cada um de nós ---- tal é o fim da educação.

b) [...] Não nascemos com este ser social, nem ele se desenvolve em nós
espontaneamente. O ser humano, espontaneamente, não se submeteria à
autoridade, não respeitaria a disciplina, não se sacrificaria por objetivos
comuns. É a educação, como socialização, que o leva a tais condutas.

c) [...] Ao nascer o ser humano não é social. A cada geração, a sociedade


deve começar da estaca zero, pois a socialização não é hereditária e deve
processar-se sempre de novo, com cada nova geração. A educação cria um
ser novo, transforma cada ser não social que nasce num ser social.

Para complementar e esclarecer a socialização como conceito, veja a


definição de Kruppa (2008, p.24):

O processo educativo que procura tornar o indivíduo um membro da


sociedade é chamado de socialização. A socialização e, por decorrência, a
educação dependem da capacidade que os seres humanos têm de influírem
uns no comportamento dos outros, modificando-se mutuamente, no
processo de interação social. Em outras palavras, é a capacidade de
homens e mulheres reagirem, de serem capazes de atuar junto a outros
homens e mulheres, aprendendo e ensinando, que torna possível a
educação.

Para Kruppa (2008, p. 25), os indivíduos,

[...] organizam sua vida em sociedade formando instituições sociais. As


instituições sociais são formas de ação ou de vivência a que os homens
recorrem, sistematicamente, visando a satisfazer determinadas
necessidades. Essa recorrência sistemática vai organizando essas formas
de ação, de tal modo que as instituições se destacam do todo social por
terem uma função ou finalidade, um objetivo que satisfaça a determinadas
necessidades do homem, e uma estrutura, isto é, regras que organizam

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tanto as relações humanas dos que dela participam, como o espaço físico
onde acontecem estas relações [...].

Se definirmos a instituição social como sendo uma força que atua sobre a
conduta individual, logo perceberemos que qualquer outra instituição, sejam quais
forem suas características e finalidades depende dos padrões da linguagem.

É por meio da linguagem que atribuímos significados às relações que


estabelecemos com o ambiente ou com os outros seres humanos. É por
meio da linguagem que desenvolvemos o pensamento. O estudo da
linguagem serve, também, para mostrar a permanência e a mudança das
instituições sociais. (KRUPPA, 2008, p.26)

Perceba que qualquer forma de linguagem é primordial para a comunicação


e a interação entre os homens. Logo, é fundamental, no processo educacional. Para
completar a nossa aula, falaremos um pouco sobre a Educação Formal e a Educação
Informal.
A educação é um processo que envolve a aprendizagem com sentido amplo.
Portanto, a educação não ocorre apenas em instituições formais, mas ocorre
também por meio dos hábitos e costumes, que são normas sociais.
Então, você sabe quais as relações e as diferenças entre a educação escolar
(formal) e educação fora da escola (informal)?
Segundo Kruppa (2008, p. 34):
A educação escolar distingue-se, portanto, da educação informal (sem
forma, sem norma) que acontece fora da escola. A escola tem horários,
estabelece critérios para agrupamento dos alunos, tem profissionais
executando papéis diferenciados (o professor, o diretor, o servente etc.),
possui um sistema de avaliação e deve cumprir uma função: transmitir e
criar conhecimentos. Assim, a primeira diferença entre o conhecimento
escolar e aquele produzido no dia a dia está nas condições em que o
conhecimento escolar é produzido e transmitido.

A segunda diferença é dada pela própria função da escola, isto é, a


transmissão e criação continuada de conhecimento. Por essa função a escola é
obrigada a fazer uma organização do conhecimento transmitido. Tal organização é
feita a partir de critérios dos quais o mais usado é aquele decorrente das ciências,
cujo conhecimento é a base de onde são extraídos os conteúdos das disciplinas
escolares.
Agora, vamos fazer algumas reflexões?
Podemos afirmar que:

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a) A educação que ocorre na escola é uma educação formal (organizada,


sistematizada, possui normas). Ela seleciona os conhecimentos considerados
científicos.
b) A educação que acontece fora da escola é uma educação informal
(assistemática, sem normas específicas). O conhecimento que acontece, neste caso
é resultado das necessidades básicas do homem em seu ambiente social.
c) Propõe-se às escolas, atualmente, que não se “fechem” à transmissão de
conhecimentos que estão sendo modificados a todo momento, através de novas
descobertas, mas “abram-se” ao conhecimento e compreensão da cultura existente
em cada comunidade, sociedade ou grupos sociais, diminuindo o distanciamento
entre os diferentes conhecimentos (internos e externos à escola).

Até a próxima aula!

REFERÊNCIAS

DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. São Paulo, Melhoramentos, 1978. p.


33 a 56

KRUPPA, Sonia M. Portella. Sociologia da educação. [livro eletrônico] (pp. 34-


35). São Paulo: Cortez Editora, 2008.

KRUPPA, Sonia M. Portella. Sociologia da educação [livro eletrônico]. São Paulo:


Cortez, 2018

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Aula 04_Educação e cultura

Palavras-chave: Educação; cultura; pluralidade cultural; Parâmetros Curriculares


Nacionais.

Nesta aula, aprenderemos um pouco mais sobre pluralidade cultural.


Você sabe o que é pluralidade cultural?
Figura 2- Pluralidade Cultural

Fonte - https://pluralidadeculturalemfoco.wordpress.com/
2016/10/15/ o-que-e-a-pluralidade-cultural/, acessado em 09/06/2021

Para responder a esta pergunta, leia o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais,
conhecido como PCNs - Pluralidade Cultural que são fundamentais para a formação
do educador. Selecionei apenas a apresentação, a introdução, a justificativa de
Pluralidade Cultural nos PCNs.
No link, em nossa sala, pode ser encontrado o texto completo sobre
pluralidade cultural.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS


PLURALIDADE CULTURAL
APRESENTAÇÃO
Para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso respeitar os
diferentes grupos e culturas que a constituem. A sociedade brasileira é formada não
só por diferentes etnias, como também por imigrantes de diferentes países. Além

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disso, as migrações colocam em contato grupos diferenciados. Sabe-se que as


regiões brasileiras têm características culturais bastante diversas e que a
convivência entre grupos diferenciados nos planos social e cultural muitas vezes é
marcada pelo preconceito e pela discriminação.
O grande desafio da escola é reconhecer a diversidade como parte
inseparável da identidade nacional e dar a conhecer a riqueza representada por essa
diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, investindo
na superação de qualquer tipo de discriminação e valorizando a trajetória particular
dos grupos que compõem a sociedade.
Nesse sentido, a escola deve ser local de aprendizagem de que as regras do
espaço público permitem a coexistência, em igualdade, dos diferentes. O trabalho
com Pluralidade Cultural se dá a cada instante, exige que a escola alimente uma
“Cultura da Paz”, baseada na tolerância, no respeito aos direitos humanos e na
noção de cidadania compartilhada por todos os brasileiros. O aprendizado não
ocorrerá por discursos, e sim num cotidiano em que uns não sejam “mais diferentes”
do que os outros.
Secretaria de Educação Fundamental
1ª PARTE
PLURALIDADE CULTURAL
INTRODUÇÃO

A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à


valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que
convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às
relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira,
oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo,
multifacetado e algumas vezes paradoxal.
Este tema propõe uma concepção que busca explicitar a diversidade étnica e
cultural que compõe a sociedade brasileira, compreender suas relações, marcadas
por desigualdades socioeconômicas e apontar transformações necessárias,
oferecendo elementos para a compreensão de que valorizar as diferenças étnicas e
culturais não significa aderir aos valores do outro, mas respeitá-los como expressão
da diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por sua dignidade

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intrínseca, sem qualquer discriminação. A afirmação da diversidade é traço


fundamental na construção de uma identidade nacional que se põe e repõe
permanentemente, tendo a Ética como elemento definidor das relações sociais e
interpessoais. Ao tratar este assunto, é importante distinguir diversidade cultural, a
que o tema se refere, de desigualdade social.
As culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo das suas histórias,
na construção de suas formas de subsistência, na organização da vida social e
política, nas suas relações com o meio e com outros grupos, na produção de
conhecimentos etc. A diferença entre culturas é fruto da singularidade desses
processos em cada grupo social.
A desigualdade social é uma diferença de outra natureza: é produzida na
relação de dominação e exploração socioeconômica e política. Quando se propõe o
conhecimento e a valorização da pluralidade cultural brasileira, não se pretende
deixar de lado essa questão.
Ao contrário, principalmente no que se refere à discriminação, é impossível
compreendê-la sem recorrer ao contexto socioeconômico em que acontece e à
estrutura autoritária que marca a sociedade. As produções culturais não ocorrem
“fora” de relações de poder: são constituídas e marcadas por ele, envolvendo um
permanente processo de reformulação e resistência.
Ambas, desigualdade social e discriminação articulam-se no que se
convencionou denominar “exclusão social”: impossibilidade de acesso aos bens
materiais e culturais produzidos pela sociedade e de participação na gestão coletiva
do espaço público — pressuposto da democracia.
Entretanto, apesar da discriminação, da injustiça e do preconceito que
contradizem os princípios da dignidade, do respeito mútuo e da justiça,
paradoxalmente o Brasil tem produzido também experiências de convívio,
reelaboração das culturas de origem, constituindo algo intangível que se tem
chamado de brasilidade, que permite a cada um reconhecer-se como brasileiro.
Por isso, no cenário mundial, o Brasil representa uma esperança de
superação de fronteiras e de construção da relação de confiança na humanidade. A
singularidade que permite essa esperança é dada por sua constituição histórica
peculiar no campo cultural. O que se almeja, portanto, ao tratar de Pluralidade
Cultural, não é a divisão ou o esquadrinha mento da sociedade em grupos culturais

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fechados, mas o enriquecimento propiciado a cada um e a todos pela pluralidade de


formas de vida, pelo convívio e pelas opções pessoais, assim como o compromisso
ético de contribuir com as transformações necessárias à construção de uma
sociedade mais justa.
Reconhecer e valorizar a diversidade cultural é atuar sobre um dos
mecanismos de discriminação e exclusão, entraves à plenitude da cidadania para
todos e, portanto, para a própria nação.

Justificativa
É sabido que, apresentando heterogeneidade notável em sua composição
populacional, o Brasil desconhece a si mesmo. Na relação do país consigo mesmo,
é comum prevalecerem vários estereótipos, tanto regionais como em relação a
grupos étnicos, sociais e culturais.
Historicamente, registra-se dificuldade para se lidar com a temática do
preconceito e da discriminação racial/étnica. Na escola, muitas vezes, há
manifestações de racismo, discriminação social e étnica, por parte de professores,
de alunos, da equipe escolar, ainda que de maneira involuntária ou inconsciente.
Essas atitudes representam violação dos direitos dos alunos, professores e
funcionários discriminados, trazendo consigo obstáculos ao processo educacional
pelo sofrimento e constrangimento a que essas pessoas se veem expostas.
Movimentos sociais, vinculados a diferentes comunidades étnicas,
desenvolveram uma história de resistência a padrões culturais que estabeleciam e
sedimentavam injustiças.
Gradativamente conquistou-se uma legislação antidiscriminatória, culminando
com o estabelecimento, na Constituição Federal de 1988 [1], da discriminação racial
como crime.
Mais ainda, há mecanismos de proteção e de promoção de identidades
étnicas, como a garantia, a todos, do pleno exercício dos direitos culturais [2], assim
como apoio e incentivo à valorização e difusão das manifestações culturais.
A aplicação e o aperfeiçoamento da legislação são decisivos, mas
insuficientes. Para construir uma sociedade justa, livre e fraterna, o processo
educacional terá de tratar do campo ético, de como se desenvolvem no cotidiano

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atitudes e valores voltados para a formação de novos comportamentos, novos


vínculos em relação àqueles que historicamente foram alvo de injustiças.
_________________________________

[1] Art. 5o, parágrafo XLII: “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão, nos termos da lei”.

[2] Art. 5o, parágrafos VI e IX: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença...; é livre a
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação”.

Mesmo em regiões onde não se apresente uma diversidade cultural tão


acentuada, o conhecimento dessa característica plural do Brasil é extremamente
relevante. Ao permitir o conhecimento mútuo entre regiões, grupos e indivíduos, ele
forma a criança, o adolescente e o jovem ³para a responsabilidade social de cidadão,
consolidando o espírito democrático.
Reconhecer essa complexidade que envolve a problemática social, cultural e
étnica é o primeiro passo. A escola tem um papel fundamental a desempenhar nesse
processo.
Em primeiro lugar, porque é um espaço em que pode se dar a convivência
entre estudantes de diferentes origens, com costumes e dogmas religiosos
diferentes daqueles que cada um conhece, com visões de mundo diversas daquela
que compartilha em família. Nesse contexto, ao analisar os fatos e as relações entre
eles, a presença do passado no presente, no que se refere às diversas fontes de que
se alimenta a identidade — ou as identidades, seria melhor dizer — é imprescindível
esse recurso ao Outro, a valorização da alteridade como elemento constitutivo do
Eu, com a qual experimentamos melhor quem somos e quem podemos ser. Em
segundo, porque é um dos lugares onde são ensinadas as regras do espaço público
para o convívio democrático com a diferença. Em terceiro lugar, porque a escola
apresenta à criança conhecimentos sistematizados sobre o país e o mundo, e aí a
realidade plural de um país como o Brasil fornece subsídios para debates e
discussões em torno de questões sociais.
A criança na escola convive com a diversidade e poderá aprender com ela.
Singularidades presentes nas características de cultura, de etnias, de regiões,
de famílias, são de fato percebidas com mais clareza quando colocadas junto a

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outras. A percepção de cada um, individualmente, elabora-se com maior precisão


graças ao Outro, que se coloca como limite e possibilidade. Limite, de quem
efetivamente cada um é. Possibilidade, de vínculos, realizações de “vir-a-ser”. Para
tanto, há necessidade de a escola instrumentalizar-se para fornecer informações
mais precisas a questões que vêm sendo indevidamente respondidas pelo senso
comum, quando não ignoradas por um silencioso constrangimento.
Esta proposta traz a necessidade imperiosa da formação de professores no
tema da Pluralidade Cultural. Provocar essa demanda específica na formação
docente é exercício de cidadania. É investimento importante e precisa ser um
compromisso político-pedagógico de qualquer planejamento educacional/escolar
para formação e/ou desenvolvimento profissional dos professores.

Agora, analisaremos como os conhecimentos sociológicos podem contribuir


com a questão da pluralidade cultural. Leia o texto abaixo:

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS


PLURALIDADE CULTURAL
CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DA PLURALIDADE CULTURAL NO
ÂMBITO DA ESCOLA

Para informar adequadamente a perspectiva de ensino e aprendizagem, é


importante esclarecer o caráter interdisciplinar que constitui o campo de estudos
teóricos da Pluralidade Cultural.
A fundamentação ética, o entendimento de preceitos jurídicos, incluindo o
campo internacional, conhecimentos acumulados no campo da História e da
Geografia, noções e conceitos originários da Antropologia, da Linguística, da
Sociologia, da Psicologia, aspectos referentes a Estudos Populacionais, além do
saber produzido no âmbito de movimentos sociais e de suas organizações
comunitárias, constituem uma base sobre a qual se opera tal reflexão que, ao voltar-
se para a atuação na escola, deve ter cunho eminentemente pedagógico.
A seguir são apresentadas algumas indicações das diferentes contribuições,
a título de subsídios-chave, a fim de balizar o trabalho pedagógico deste tema,
embora não o esgotem. São pistas que o professor poderá seguir aprofundando e

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ampliando conforme as necessidades de seu planejamento. Visam, sobretudo, a


explicitar que tratar do povo brasileiro, em seus desafios e conquistas do cotidiano e
no processo histórico exige estudo e preparo cuidadoso que não se confundem, em
hipótese alguma, com o senso comum.
Fundamentos éticos
Uma proposta curricular voltada para a cidadania deve preocupar-se
necessariamente com as diversidades existentes na sociedade, uma das bases
concretas em que se praticam os preceitos éticos. É a ética que norteia e exige de
todos — da escola e dos educadores em particular —, propostas e iniciativas que
visem à superação do preconceito e da discriminação. A contribuição da escola na
construção da democracia é a de promover os princípios éticos de liberdade,
dignidade, respeito mútuo, justiça e equidade, solidariedade, diálogo no cotidiano; é
a de encontrar formas de cumprir o princípio constitucional de igualdade, o que exige
sensibilidade para a questão da diversidade cultural e ações decididas em relação
aos problemas gerados pela injustiça social.

Conhecimentos Históricos e Geográficos


Os aspectos históricos e geográficos expõem uma diversidade regional
marcada pela desigualdade, do ponto de vista do atendimento pleno dos direitos de
cidadania. A formação histórica do Brasil mostra os mecanismos de resistência ao
processo de dominação desenvolvidos pelos grupos sociais em diferentes
momentos. Uma das formas de resistência refere-se ao fato de que cada grupo —
indígena, africano, europeu, asiático e do oriente médio — encontrou maneiras de
preservar sua identidade cultural, ainda que às vezes de forma clandestina e
precária.
Assim sendo, tratar da presença do índio pela inclusão nos currículos de
conteúdos que informem sobre a riqueza de suas culturas e a influência delas sobre
a sociedade, conforme disposto na Constituição de 1988 (art. 210, parágrafo 2º.) é
valorizar essa presença e reafirmar os direitos dos índios como povos nativos, de
forma que corrija uma visão deturpada que os homogeneíza como se fossem de um
único grupo, devido à justaposição aleatória de traços retirados de diversas etnias.
Compreender a formação das sociedades europeias e das relações entre sua
história, viagens de conquista, entrelaçamento de seus processos políticos com os

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do continente americano, em particular América do Sul e Brasil, auxiliará professores


e alunos a formarem referencial não só de conteúdos específicos, como também da
estruturação de processos de influenciação recíproca. Isso é especialmente
importante para o momento atual, quando o quadro internacional interfere no
cotidiano do cidadão de muitas e variadas formas.
O estudo histórico do continente africano compreende enorme complexidade
de temas do período pré-colonial, como arqueologia; grupos humanos; civilizações
antigas do Sudão, do sul e do norte da África; o Egito como processo de civilização
africana a partir das migrações internas. Essa complexidade milenar é de extrema
relevância como fator de informação e de formação voltada para a valorização dos
descendentes daqueles povos.
Significa resgatar a história mais ampla, na qual os processos de
mercantilização da escravidão foram um momento que não pode ser amplificado a
ponto que se perca a rica construção histórica da África. O conhecimento desse
processo pode significar o dimensionamento correto do absurdo, do ponto de vista
ético, da escravidão, de sua mercantilização e das repercussões que os povos
africanos enfrentam por isso.
Da mesma forma, uma visão histórica da Ásia contribui para a compreensão
da formação cultural brasileira, tanto no que se refere às tradições como aos
processos históricos que levaram seus habitantes a imigrarem para as Américas, e
em particular para o Brasil, em diferentes momentos. É relevante, também, o estudo
do Oriente Médio, sua história e suas influências na constituição da civilização
ocidental.
Cada um desses desenvolvimentos poderá estar presente conforme a
necessidade e a oportunidade do trabalho em sala de aula.

Conhecimentos Sociológicos
Toda seleção curricular é marcada por determinantes fatores culturais, sociais
e políticos, que podem ser analisados de forma isolada, para efeito de estudo, mas
que se encontram amalgamados no social. Conhecimentos sociológicos são
indispensáveis na discussão da Pluralidade Cultural, pelas possibilidades que abrem
de compreensão de processos complexos onde se dão interações entre fenômenos
de diferentes naturezas. A escola pode fortalecer sua atuação tanto mais quanto seja

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conhecedora dos problemas presentes na estrutura socioeconômica e como se dão


as relações de dominação, qual o papel desempenhado pelo universo cultural nesse
processo.
Além das diversas contribuições da Sociologia, aspectos particulares voltados
para a discussão curricular têm sido desenvolvidos por autores que se ocupam da
Sociologia da Educação e da Sociologia do Currículo. Nesses estudos são
analisados os vínculos entre escola e democracia; escola e cidadania; democracia e
currículo, permitindo uma reflexão voltada, especificamente, para o interior da escola
e da sala de aula.
Os conhecimentos sociológicos permitem uma discussão acurada de como
as diferenças étnicas, culturais e regionais não podem ser reduzidas à dimensão
socioeconômica de classes sociais.

Conhecimentos Antropológicos
A Antropologia caracteriza-se como o estudo das alteridades, no qual se
afirma o reconhecimento do valor inerente a cada cultura, por se tratar do que é
exclusivamente humano, como criação, e próprio de certo grupo, em certo momento,
em certo lugar. Cada cultura tem sua história, condicionantes, características, não
cabendo qualquer classificação que sobreleve uma em detrimento de outra. Alguns
temas, conceitos e termos da temática da Pluralidade Cultural dependem
intrinsecamente de conhecimentos antropológicos, por se referirem diretamente à
organização humana, na qual se coloca a diversidade. Entre eles destacamos os
conceitos de cultura, raça e etnia.
No sentido antropológico do termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo
nasce no contexto de uma cultura e, ao longo de sua vida, ajuda a produzi-la. Não
existe homem sem cultura, mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas. É
como se fosse possível dizer que o homem é biologicamente incompleto: não
sobreviveria sozinho sem a participação das pessoas e do grupo que o gerou. A
cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo a partir dos
quais se produz conhecimento: neles o indivíduo é formado desde o momento de
sua concepção nesses mesmos códigos e, durante a infância, aprende os valores
do grupo. Por intermédio deles é mais tarde introduzido nas obrigações da vida
adulta, da maneira como cada grupo social as concebe.

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A cultura, como código simbólico, apresenta-se como dinâmica viva. Todas


as culturas estão em constante processo de reelaboração, introduzindo novos
símbolos, atualizando valores, adaptando seu acervo tradicional às novas condições
historicamente construídas pela sociedade. A cultura pode assumir sentido de
sobrevivência, estímulo e resistência.
Quando valorizada, reconhecida como parte indispensável das identidades
individuais e sociais, apresenta-se como componente do pluralismo próprio da vida
democrática. Por isso, fortalecer a cultura de cada grupo social, cultural e étnico que
compõe a sociedade brasileira, promover seu reconhecimento, valorização e
conhecimento mútuo, é fortalecer a igualdade, a justiça, a liberdade, o diálogo e,
portanto, a democracia.
O termo “raça”, de uso corriqueiro e banal no cotidiano, vem sendo evitado
cada vez mais pelas ciências sociais pelos maus usos a que se prestou. Nas ciências
biológicas, raça é a subdivisão de uma espécie, cujos membros mostram com
frequência certo número de atributos hereditários. Refere-se ao conjunto de
indivíduos, cujos caracteres somáticos, tais como: a cor da pele, o formato do crânio
e do rosto, tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se transmite por hereditariedade.
O conceito de raça, portanto, assenta-se em conteúdo biológico, e foi utilizado na
tentativa de demonstrar uma pretensa relação de superioridade/inferioridade entre
grupos humanos. Convém lembrar que o uso do termo “raça” no senso comum é
ainda muito difundido, para reafirmação étnica, como é feito comumente por
movimentos sociais, ou nos contextos ostensivamente pejorativos que alimentam o
racismo e a discriminação.
Por sua vez, o conceito de etnia substitui com vantagens o termo “raça”, já
que tem base social e cultural. “Etnia” ou “grupo étnico” designa um grupo social que
se diferencia de outros por sua especificidade cultural. Atualmente o conceito de
etnia estende-se a todas as minorias que mantêm modos de ser distintos e
formações que se distinguem da cultura dominante. Assim, os pertencentes a uma
etnia partilham da mesma visão de mundo, de uma organização social própria,
apresentam manifestações culturais que lhe são características. “Etnicidade” é a
condição de pertencer a um grupo étnico. É o caráter ou a qualidade de um grupo
étnico que frequentemente se autodenomina comunidade. Já o “etnocentrismo” —
tendência de alguém tomar a própria cultura como centro exclusivo de tudo, e de

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pensar sobre o outro também apenas a partir de seus próprios valores e categorias
— muitas vezes dificulta um diálogo intercultural, impedindo o acesso ao inesgotável
aprendizado que as diversas culturas oferecem.
Por isso é errado, conceitual e eticamente sustentar argumentos de ordem
racial/étnica para justificar desigualdades socioeconômicas, dominação, abuso,
exploração de certos grupos humanos. Historicamente, no Brasil, tentou-se justificar,
por essa via, injustiças cometidas contra povos indígenas, contra africanos e seus
descendentes, desde a barbárie da escravidão a formas contemporâneas de
discriminação e exclusão destes e de outros grupos étnicos e culturais, em diferentes
graus e formas. A escola deve posicionar-se criticamente em relação a esses fatos,
mediante informações corretas, cooperando no esforço histórico de superação do
racismo e da discriminação.

O SER HUMANO COMO AGENTE SOCIAL E PRODUTOR DE CULTURA


Ao pressupormos o ser humano como agente social e produtor de cultura,
evocamos a emergência de suas histórias, delineadas no movimento do tempo em
interação com o movimento no espaço.
Esse movimento, por sua vez, é mediado por diferentes linguagens, cujas
expressões denotam traços de conhecimentos, valores e tradições de um povo, de
uma etnia ou de um determinado grupo social. Nesse contexto, as imagens
construídas pelos gestos, pelos sons, pela fala, pela plasticidade e pelo silêncio
implicam conteúdos relevantes para a construção da identidade, pois é nesse
universo plural de significados e sentidos que as pessoas se reconhecem na sua
singularidade.
É no interior desse amálgama que podemos articular os conceitos de agente
social e produtor cultural. Os conteúdos apresentam-se numa relação de igualdade,
na qual não cabem avaliações preconceituosas e/ou pejorativas às diferenças de
linguagens, tradições, crenças, valores e costumes, com o objetivo de valorizar os
seres humanos como instância primeira das histórias.

Conhecimento, respeito e valorização das diferentes linguagens pelas quais se


expressa a pluralidade cultural.

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Conhecer e respeitar diferentes linguagens é decisivo para que o trabalho com


este tema possa desenvolver atitudes de diálogo e respeito para com culturas
distintas daquela que a criança conhece, do grupo do qual participa. Este bloco
oferece muitas oportunidades de transversalidade em Arte, quando por exemplo o
adolescente poderá aprender sobre a cerâmica artesanal de certa população, ou
músicas e danças de certos grupos étnicos, como formas de linguagem. É muito
importante que, ao propor a atividade, o professor contextualize seu significado para
o grupo étnico ou cultural de onde se originou a proposta, para que o assunto não
seja tratado como folclore, mas como elemento cheio de importância para a
estruturação e manifestação da vida simbólica daquele grupo.

Conhecimento dos instrumentos disponíveis para o fortalecimento da


cidadania.
Cidadania é prática, e a escola tem meios de desenvolver essa prática para
trabalhar com o aluno não só a busca e acesso à informação relativa a seus direitos
e deveres, como o seu exercício. Assim, consultas a documentos jurídicos nacionais
e tratados e declarações internacionais poderá ser feita em sala de aula, continuando
trabalho desenvolvido nos ciclos anteriores.
Da mesma forma, identificar e desenvolver alternativas de cooperação na
melhoria da vida cotidiana na escola, na comunidade, na família é uma forma de
prática de cidadania, no espaço imediato de vivência.
É importante, também, entrelaçando com o tratamento dado à importância da
imprensa, identificar situações na vida da comunidade, localidade, estado, país, que
exigem ação reivindicatória, assim como ação de cooperação, entendendo a
dinâmica de direitos e deveres.
Em diferentes situações que se apresentem na vida diária da escola, será
possível desenvolver uma atitude de responsabilidade do aluno pelo seu ser, como
adolescente, exigindo respeito para si, cuidado com sua saúde, seus estudos, seus
vínculos afetivos, sua capacidade de fazer escolhas e opções.
Da mesma forma, é importante enfatizar conteúdo já mencionado no primeiro
bloco, referente à valorização, pelo adolescente, das oportunidades educacionais de
que dispõe, como elemento de formação e consolidação de sua cidadania,
potencializando-as o máximo possível. Esse cuidado é particularmente importante,

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tanto para evitar o abandono dos estudos, como na percepção e atitude dos alunos
em relação à escola como instituição voltada para o bem comum, a qual cabe
valorizar, cuidar e proteger. Entrelaçando-se com Ética, é importante tratar da
cidadania a partir de atitude de valorização da solidariedade como princípio ético e
como fonte de fortalecimento recíproco.

Lido o texto, reflita sobre as seguintes questões:


• Qual a contribuição dos conhecimentos Sociológicos sobre pluralidade
cultural?
• Há diferença entre Pluralidade Cultural e Multiculturalismo?

Até a próxima aula!

REFERÊNCIAS

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares


nacionais: pluralidade cultural - terceiros e quarto ciclos do ensino fundamental.
Versão preliminar para discussão nacional, Brasília: MEC/SEF, 1997.

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Aula 05_Educação, cultura e ideologia

Palavras-chave: Educação; cultura; conhecimento; trabalho; ideologia.

Figura 3- Aprender e ensinar em rede.

Fonte: Imagem disponível no site https://informaticanaeducacao.uniriotec.br/2017/10/25/educacao-online-aprenderensinar-


em-rede/, acessado em 09/06/2021

Nesta aula, conversaremos sobre o conhecimento e a informação como


instrumentos para a vida. Podemos dizer que o homem é um acontecimento
cósmico, planetário, social e individual. O homem produz, organiza e difunde o
conhecimento para sobreviver e transcender.
No processo educacional, o homem deve ser pensado como aquele que vive
em busca de sobrevivência e transcendência. O homem observou a natureza e
produziu conhecimento: um bom exemplo é a chuva, pois na sua ausência, o homem
passou a regar a sua plantação. Além de produzir, ele organizou e transmitiu esse
conhecimento.
Conhecimento é o conjunto de meios para a sobrevivência e transcendência,
gerados por indivíduos coletivizados e acumulados no curso da história. O
conhecimento tem sido o maior instrumento para o exercício do poder e da
autonomia. D’Ambrosio (2000) sintetiza o ciclo do conhecimento como:

[...] a realidade [entorno natural e cultural] informa [estimula, impressiona]


indivíduos e povos que em consequência geram conhecimento para
explicar, entender, conviver com a realidade. O problema está na

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expropriação, institucionalização e filtragem, pela estrutura de poder, do
conhecimento gerado e, intelectual e socialmente, organizado, que é
devolvido ao povo, inclusive dificultando-lhe o acesso, para sua
sobrevivência e servidão ao poder. (p. 53).

O grande momento da espécie humana foi a descoberta do outro e a troca com o


outro por meio da comunicação, de informações e de modos de ações. Vivemos hoje
numa sociedade de conhecimentos. Pense nisso!
Figura 4- Paulo Freire- frases

Fonte:- https://www.pensador.com
/melhores_frases_paulo_freire_patrono_educacao_brasileira/

Cultura, Trabalho e Educação


A atividade animal é determinada por condições biológicas, caracterizada,
sobretudo, por reflexos e instintos. Trata-se de um tipo de inteligência concreta,
distinguindo-se da inteligência humana, que é abstrata.
O homem representa o mundo por meio do pensamento, expressando-o pela
linguagem simbólica. De fato, a linguagem substitui as coisas por símbolos, com
palavras, por exemplo. A transformação que o homem exerce sobre a natureza
chama-se cultura; entretanto, o mundo cultural é um sistema de significados já
estabelecidos por outros.
A noção de trabalho é fundamental para se compreender o que é cultura.
Aliás, o trabalho é condição de liberdade, mas não em situações de exploração em
que a maioria é obrigada a trabalhar em condições inadequadas à sua humanização.
Isto é, na sociedade dividida em classes, o trabalho se torna alienado. Alienar,
portanto, é tornar alheio, é transferir para outrem o que é seu.
Por meio do trabalho o homem instaura relações sociais, cria modelos de
comportamento, instituições e saberes. O aperfeiçoamento dessas atividades, no
entanto, só é possível pela transmissão dos conhecimentos adquiridos através das
gerações. É a educação que mantém viva a memória de um povo e dá condições
para a sua sobrevivência.

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Cultura Erudita e Cultura Popular


Não vivemos em uma sociedade homogênea, toda produção cultural está
sujeita à avaliação que depende da posição social do grupo a que ela pertence. Para
exemplificar, vamos estabelecer algumas distinções, considerando as seguintes
divisões:
- A Cultura Erudita é a produção acadêmica centrada no sistema educacional,
sobretudo na universidade, produzida por uma minoria de intelectuais.
- A Cultura Popular é identificada com folclore, conjunto das lendas, contos e
concepções transmitidas oralmente pela tradição. É produzida pelo homem do
campo, das cidades do interior ou pela população suburbana das grandes cidades.
- A Cultura de Massa é aquela resultante dos meios de comunicação de
massa. Produzida “de cima para baixo”, impondo padrões e homogeneizando o
gosto.
É preciso entender essas manifestações culturais como sendo expressões
diferentes de uma sociedade pluralista, sem considerações a respeito da
superioridade de uma ou outra.
Ideologia
A Ideologia é o conjunto de representações e ideias bem como de normas de
conduta, por meio das quais o homem é levado a pensar, sentir e agir de uma
determinada maneira que convém à classe dominante. Lidar com conceitos
abstratos, eternos e imutáveis, independentes da situação histórica em que se
inserem é um dos artifícios ideológicos pelos quais os valores dominantes são
impostos.
Os meios pelos quais a ideologia é, a nós imposta, variam, sendo utilizados
meios tais como: a escola, os livros didáticos, os meios de comunicação de massa.
As estruturas petrificadas que justificam as formas de dominação são ameaçadas
pela filosofia, devido a essa ciência exercer papel importante como crítica de
ideologia. Até a próxima aula!
REFERÊNCIAS
ARANHA, M.L.A. Temas de Filosofia. SP. ED Moderna, 1996.
D’AMBRÓSIO, U. Educação para uma sociedade em transição. SP, ED. Papirus,
2000.

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Aula 06_A escola como instituição social


Palavras-chave: escola; instituição social; comunidades tribais

Nesta aula abordaremos, de forma simplificada, alguns momentos e


tendências da escola e de sua relação com a sociedade.

As sociedades antes da escola


Desde o aparecimento da educação formal, sempre existiu uma relação
indissolúvel entre escola e sociedade. Vamos refletir sobre as condições do
aparecimento da educação formal, as transformações ao longo do tempo e também
as críticas que têm sido feitas às soluções educacionais encontradas. Iniciaremos
nossa reflexão abordando comunidades tribais, onde inexistiam escolas.

As comunidades tribais
Trata-se de sociedades que não têm Estado, classes sociais, escrita,
comércio e escola. Essa sociedade é essencialmente mítica. Nas comunidades
tribais, as crianças aprendem imitando os gestos dos adultos em suas atividades
diárias. A adaptação aos usos e valores da tribo, geralmente é levada a efeito sem
uso do castigo.

A escola tradicional burguesa


Nos séculos XVI e XVII são fundados colégios pelas ordens religiosas daquela
época. E para disciplinar a criança, submetiam-na aos rigores da hierarquia. Surge
o hábito dos castigos corporais. Com isso, surge o modelo da escola tradicional:
colégios existia uma rígida formação moral.
Tornam-se famosos os internatos dos jesuítas, que se espalham por toda a
Europa durante 200 anos (do século XVI ao XVIII). Essas escolas se destinavam à
nobreza e à burguesia ascendente.
Com a Revolução Industrial, passou-se a exigir que, ao lado da formação
humanística fossem também estudadas as ciências da natureza.

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A Escola Nova
No Brasil, o movimento da Escola Nova começou só no século XX, na década
de 1920. Na escola renovada, o aluno é o centro da educação e há uma preocupação
muito grande com a natureza psicológica da criança. A educação tradicional é
magistrocêntrica.

A escola tecnicista
A escola tradicional no século XX sofreu inúmeras críticas, de enfoques
diversificados. Entre essas críticas, a partir da década de 1960 surgem propostas de
inspiração tecnicista, baseadas na convicção de que a escola só se tornaria mais
eficaz caso adotasse o modelo empresarial. No modelo citado, há uma nítida
preocupação com a transmissão do saber científico exigido pela moderna tecnologia.
No Brasil, nunca houve de fato plena implantação de reformas de tendência
tecnicista, por estarem os professores imbuídos ou da tendência tradicional ou das
ideias escola-novistas.

A desescolarização da sociedade
A Escola Nova pretendeu revolucionar os métodos trazendo a vida para a
escola tradicional. No entanto, seu ideal de democratização não foi atingido, aliás,
ela continuou a reproduzir as formas de dominação social. Devido a esse fato, o
australiano Ivan Illich (2019) apresenta uma proposta radical, a desescolarização da
sociedade.
A principal crítica que pode ser feita a Illich refere-se à dimensão individualista
do seu projeto, que despreza uma análise mais profunda dos conflitos sociais. Na
verdade, ele propõe uma revolução moral, empenhada em conscientizar os
indivíduos para a mudança e converter cada um no seu íntimo.
Até a próxima aula!

REFERÊNCIAS

ARANHA, M.L.A. Temas de Filosofia. SP, Moderna, 1996.


ILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. Editora Vozes Limitada, 2019.

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Resumo: Unidade I

Apresentamos alguns conceitos básicos, pertinentes à literatura sociológica,


utilizados por sociólogos e educadores. Introduzimos o significado de educação e
socialização como processos interativos. Conhecemos as principais instituições
sociais e suas características, bem como o surgimento da escola, como instituição
social. Por intermédio da análise sociológica da sociedade desvelamos a realidade
social, compreendendo a sua historicidade.

REFERÊNCIAS

ARANHA, M.L.A. Temas de Filosofia. SP, Moderna, 1996.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares


nacionais: pluralidade cultural - terceiros e quarto ciclos do ensino fundamental.
Versão preliminar para discussão nacional, Brasília: MEC/SEF, 1997.

COSTA, Cristina. Sociologia. Ed Moderna, SP, 1997. p.68.

DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. São Paulo, Melhoramentos, 1978. p. 33-56.

DURKHEIM, E. O que é fato social? In: As Regras do Método Sociológico. Trad.


por Maria Isaura Pereira de Queiroz. 6.a ed. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1972. p. 1-4, 5, 8-11, disponível em
https://www.academia.edu/11975514/O_QUE_%C3%89_FATO_SOCIAL_%C3%89
mile_DURKHEIM, acessado em 30/03/2023.

ILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. Editora Vozes Limitada, 2019.

KRUPPA, Sonia M. Portella. Sociologia da educação. [livro eletrônico] (pp. 34-


35). São Paulo: Cortez Editora, 2008.

KRUPPA, Sonia M. Portella. Sociologia da educação [livro eletrônico]. São Paulo:


Cortez, 2018

NERY, Maria Clara Ramos. Sociologia da Educação. Curitiba: Intersaberes, 2013.


Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/9989 .Acessado
em 30/03/2023.

PENTEADO, Heloisa D. A Sociologia na formação do professor de 1° e 2° grau.


Revista da Faculdade de Educação da USP. São Paulo, v.8, n.2, p.157-164,
dez.1982.

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PILETTI, Nelson. Sociologia da Educação, SP, Ed. Ática, 2003. p. 243 e 244.

RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. RJ, ED. DP&A, 2000.

STOER, Stephen R. Sociologia da educação e formação de


professores. Educação, Sociedade & Culturas, 26, 71-84, 2008. Disponível em
https://www.fpce.up.pt/ciie/revistaesc/ESC26/26-Sociologia.pdf . Acessado em
30/03/2023.

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Aula 07_Análise sociológica da sociedade capitalista


Palavras-chave: Educação; Sociologia; política; sociedade capitalista.

Vamos, inicialmente, analisar e reconhecer a sociedade brasileira.


Figura 6- Retratos da sociedade brasileira

Fonte: https://policialbr.wordpress.com/2012/08/23/
retratos-da-sociedade-brasileira-a-seguranca-publica/, acessado em 09/06/2021

No início dos anos de 1970, Edmar Barra apud Kruppa (1994) usou o termo
Belíndia para falar da desigualdade social no Brasil. Segundo ele, havia uma
pequena parcela da sociedade brasileira que possuía grande poder aquisitivo,
comparando-a com a Bélgica, enquanto a maioria era pobre, comparada à Índia.
Sobre isso, Kruppa diz que:
A explicação usa o exemplo da “Bélgica” e da “Índia” como convivendo no
mesmo Brasil, impossibilita-nos de ver que, longe de se apresentarem como
realidades distintas, aqueles que se encaixam na Bélgica brasileira vivem
assim graças à miséria causada pela exploração daqueles que são
considerados como pertencentes à Índia brasileira. As razoes disso estão
na forma pela qual o capitalismo se estrutura, desde seu aparecimento: na
exploração do trabalho assalariado, que progressivamente foi separando os
trabalhadores, o proletariado, dos donos dos meios de produção, a
burguesia”. (1994, p. 48)

Questões que surgem a partir daí:


1- Por que o Brasil é um país de contrastes?
2- O que provoca a diferença social?
3- Qual é a classe social que tem maior acesso aos jornais, bibliotecas, teatros,
viagens etc.?

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4- O Estado brasileiro tem procurado mudar esta situação de desigualdade,


investindo em serviços públicos como educação, saúde e moradia?
5- O modelo econômico adotado e o sistema educacional atendem com qualidade a
maioria da população?

Vamos rever alguns pontos importantes?

1. Segundo Émile Durkheim (1978):


1.1. A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as novas,
que ainda não se encontram preparadas para a vida social.
1.2. A educação é, ao mesmo tempo, múltipla e una:
a) Múltipla: varia segundo o grupo social, no tempo e no espaço;
b) Una: procura inculcar os valores dominantes na sociedade e preservar
a identidade nacional e os avanços da humanidade.
1.3. Como socialização, a educação vai construindo, em cada ser humano, o
ser social.
1.4. Embora cada indivíduo eduque a si mesmo é a sociedade que estabelece
os meios e os objetivos do processo educativo.
2. Segundo outros autores:
2.1. A educação pode ser:
a) Intencional: em condições previamente estabelecidas e programadas;
b) Não intencional: sem programação, através da convivência social.
2.2. Os primeiros adultos que convivem com a criança, geralmente os pais
são os primeiros agentes educadores. São os veículos através dos quais a
sociedade inculca nas crianças os padrões sociais vigentes, abrangendo a totalidade
do indivíduo, desde o seu organismo até o seu psiquismo.
2.3. Através de métodos impositivos (horários de refeições, educação
sanitária etc.) ou não impositivos (o exemplo dos pais), a criança vai internalizando
os padrões sociais e sendo socializada.
2.4. A escola é a agência especializada na educação das novas gerações,
tendo por finalidade específica levar os alunos a conhecerem o patrimônio cultural
da humanidade.

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2.5. A escola nem sempre existiu. Em sua evolução, podemos identificar


várias fases:
a) A época em que não havia escola, em que todo adulto era professor;
b) A escola da nobreza, na época medieval, em que predominavam os
estudos literários;
c) A escola da burguesia, na época moderna, em que se começou a dar
importância aos estudos científicos;
d) A época posterior à revolução industrial, em que havia uma escola para os
ricos, chegando aos estudos superiores, e uma escola para os trabalhadores,
limitada ao primário.

REFERÊNCIAS

DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. São Paulo, Melhoramentos, 1978. p. 33-56.

KRUPPA, Sonia M. P. Sociologia da Educação. São Paulo, Cortez, 1994.

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Aula 08_A dimensão social da liberdade

Palavras-chave: sociedade; política; dimensão social da liberdade.

Nesta aula, abordaremos o conceito de política e sua relação com a educação.

O QUE É POLÍTICA?
De acordo com o Dicionário de Sociologia de Allan G. Johnson (1997): Política
é o processo social através do qual o poder coletivo é gerado, organizado, distribuído
e usado nos sistemas sociais.
A maioria das sociedades é organizada, sobretudo, em torno da instituição do
Estado, embora este fenômeno seja relativamente recente. Nas sociedades feudais,
por exemplo, o Estado era muito fraco e subdesenvolvido e o poder político cabia
principalmente aos nobres, vassalos e clero, cujas esferas de influência eram bem
definidas pela extensão de suas terras.
Embora seja associado com mais frequência às instituições de governo nos
níveis: internacional, nacional, regional e comunitário, o conceito de política pode ser
aplicado a, virtualmente, todos os sistemas sociais nos quais o poder representa
papel importante. Podemos, por conseguinte, fazer perguntas sobre a política da
vida familiar e da sexualidade, a política de escritório, a política universitária ou
mesmo a política da arte e da música. Este último argumento tem importância
especial, porque chama a atenção para o fato de que todos os sistemas sociais têm
uma estrutura de poder e não apenas aqueles cujas funções sociais são formalmente
definidas em termos de poder.
Para Giddens (2012, p.697), política diz respeito aos meios pelos quais o
poder é usado para afetar o alcance e o conteúdo das atividades governamentais.
Contudo, a política é um conceito questionado, e a esfera do político pode ir muito
além do governo em si.
Já para Hannah Arendt (2002, p. 9), as ideias da liberdade e da
espontaneidade humanas, para as quais deve haver um espaço para o
desenvolvimento, quer dizer, um espaço para a política está muito acima da
compreensão usual e mais burocrática da coisa política, que realça apenas a
organização e a garantia da vida dos homens. Sua ideia do político nasceu, é

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verdade, da lembrança da antiga polis grega, mas que, não obstante, sempre pode
ser realizada de novo. A política nesse verdadeiro sentido aparece raras vezes na
História. Ela se manifesta "em poucos grandes acasos felizes da História", mas que
por isso, são decisivos, porque neles se manifesta por completo o sentido da política,
que continua atuando na História. A política de hoje também não pode prescindir
dessa lembrança e presentificação de seu verdadeiro sentido, a fim de poder
permanecer livre e humana.

A DIMENSÃO SOCIAL DA LIBERDADE: CRÍTICA AO CONCEITO LIBERAL


BURGUÊS DE LIBERDADE

O discurso de liberdade e a necessidade de conceituá-la acompanharam


vários pensadores ou correntes filosóficas ao longo da história ocidental. Quando
nos referimos ao caráter social da moral queremos significar duas maneiras do social
agir sobre o homem. Num primeiro momento, o social é resultado de uma herança
cultural e, como tal, condição da imanência ou facticidade, mas ao considerarmos o
aspecto social que aí encontramos é justamente condição da transcendência e
expressão da nossa liberdade. Isso significa ser impossível a liberdade fora da
comunidade dos homens.
As relações entre os homens não são de contiguidade, mas de
engendramento, isto é, os homens não estão simplesmente uns ao lado dos outros,
mas são feitos uns pelos outros: o homem se humaniza pelo trabalho e esta ação é
social. Daí não podermos falar propriamente do homem como uma “ilha”.
Para explicar melhor, vamos examinar o conceito burguês de liberdade, tal
como foi teorizado a partir dos séculos XVII e XVIII. O pensamento liberal é
essencialmente individualista. Parte do pressuposto do contrato social, legitima todo
poder para garantir a propriedade e a segurança dos cidadãos. O Estado não deve
intervir, em princípio, senão para garantir a liberdade individual opondo-se ao
mercantilismo, o liberalismo defende o “laissez faire”. A liberdade individual surge
como ponto de partida onde se alicerçam as relações possíveis entre as pessoas. A
expressão clássica dessa concepção é: “A liberdade de cada um é limitada
unicamente pela liberdade dos demais”.

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A escravidão é condenada e o contrato de trabalho se apresenta como uma


forma legal de acordo livre entre iguais: o dono do capital paga o salário ao operário;
este, por sua vez, vende sua força de trabalho. Mas também já vimos que a
democracia liberal é uma democracia de direito, e não de fato, pois o que ocorre é a
elitização do poder: apenas as pessoas que têm propriedade têm poder político. A
decorrência é que os homens não são tão iguais assim e, portanto, a “liberdade de
escolha” não é tão “livre” quanto se poderia se imaginar. Na verdade, as condições
de escolha já estão predeterminadas.
Explicando melhor: ao tentar exercer sua liberdade, o proletário verifica que a
livre escolha dos indivíduos privilegiados acaba por delimitar cada vez mais o seu
próprio espaço de ação. Na selva do salve-se-quem-puder, onde cada uma luta por
si mesmo e não deve obrigações a ninguém, a liberdade é uma ilusão. Além de que,
se os pobres quiserem expressar seus desejos, isso assume imediatamente um
caráter de desordem. O princípio do liberalismo é: “A raposa livre no galinheiro livre”.
Quando nos referimos ao caráter social da liberdade, queríamos justamente
nos contrapor a essa ideia individualista de liberdade. O ponto de partida não deve
ser a liberdade individual, mas o interesse coletivo. É a partir dele que o
comportamento individual se regula. Só assim será possível a efetiva liberdade de
cada um, como processo final de uma ação calcada na cooperação, na reciprocidade
e no desenvolvimento da noção de responsabilidade e compromisso. Nesse sentido,
o outro não é o limite da nossa liberdade, mas a condição para atingi-la.

Até a próxima aula!

REFERÊNCIAS

ARENDT, Hannah. O que é política? [editoria, Ursula Ludz]; 3. ed. tradução de


Reinaldo Guarany. - 3. ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. 240 p.

ARANHA, M.L.A. e outros. Filosofando. SP, Ed. Moderna, 1991. p. 321-322.

GIDDENS, Anthony. Sociologia. Tradução: Ronaldo Cataldo Costa. - 6..


Ed. - Porto Alegre: Penso, 2012.

JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia - Guia Prático da Linguagem


Sociológica. RJ, Jorge Zahar Editor, 1997.

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Aula 09_Sociedade contratual e sociedade contextual

Palavras-chave: sociedade contratual; sociedade contextual; sociedades distintas.

Nesta aula, escolhemos uma crônica para trabalhar com as diferentes formas
de “acatar as leis” em sociedades distintas. É importante percebermos que a cultura
de cada povo e a sua organização social é responsável pelo modo como entende e
respeita as leis.
Leiam a crônica escrita, na revista Emoção, de fevereiro de 2000, pelo
jornalista americano Matthew Shirts, colunista do jornal “O Estado de São Paulo” e
redator-chefe da revista “Nacional Geographic Brasil”. Ele nasceu em São Diego,
nos Estados Unidos, e fez pós-graduação em História na Universidade Stanford.

SOCIEDADE CONTRATUAL E SOCIEDADE CONTEXTUAL


No Brasil, passar o sinal vermelho é tido como normal, em certos casos. Já
os americanos param até quando não há ninguém na rua. Entenda esta diferença.
Você já deve ter reparado em alguma regra que é sistematicamente desobedecida
no seu local de trabalho. Gente que fuma onde é proibido ou que ouve rádio quando
outros estão tentando escrever.
Por que existem as regras, perguntamos, se ninguém obedece? São “coisas
do Brasil” é comum ouvir, a título de explicação. Pior é a situação do trânsito. Somos
obrigados a assistir a barbaridades sem trégua. Já vi motoristas andando
alegremente na contramão e coisas do gênero.
Mas o que mais chama a atenção de um estrangeiro, como eu, é a reação dos
brasileiros ajuizados, que costumam pôr em questão a viabilidade política do país,
sempre que alguém passa por um sinal vermelho.
“Este país não tem jeito” é uma das frases mais ouvidas. Considerações desse
tipo soam surpreendentes aos ouvidos de um americano, uma vez que, nos Estados
Unidos, muito dificilmente alguém ousaria questionar as bases políticas do país a
partir de delitos individuais - menos ainda a partir de infrações do Código de Trânsito.
Mesmo quando acontecem fatos graves, como massacres em escolas, não se
duvida da viabilidade dos Estados Unidos.

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Com o tempo, vim a perceber que o hábito de questionar a viabilidade do


Brasil, a partir de acontecimentos cotidianos é apenas a ponta mais visível de uma
discussão complexa. O que irrita os brasileiros, na verdade, é a relação dos seus
compatriotas com as leis e as regras vigentes no país. Estas tendem a ser vistas
com arbitrárias e, portanto, são desrespeitadas. O maior, talvez único, motivo para
obedecê-las é a ameaça de punição. Já em outros países, como os Estados Unidos
e a Alemanha, os cidadãos cumprem os regulamentos automaticamente e até com
gosto. As regras de comportamento são interiorizadas. Fazem parte da identidade
dos indivíduos.
Alguns antropólogos atribuem essa diferença a uma oposição entre culturas
“contratuais”, de um lado e “contextuais”, do outro. Nas sociedades contratuais, o
comportamento é baseado num sistema de regras aceitas por todos. Nas sociedades
contextuais, como a brasileira ou a italiana, o comportamento varia de acordo com a
avaliação que o indivíduo faz de cada situação. Quando um brasileiro chega a um
sinal de trânsito fechado em uma avenida deserta às três horas da madrugada, ele
não para. Dá uma desacelerada, olha para os lados para se garantir de que não vem
vindo ninguém - e segue em frente. O americano é diferente. Ele breca com
convicção, sem nem olhar (já que vai parar mesmo), e espera até o sinal abrir.
Nas sociedades contextuais, as regras são apenas uma referência. O
comportamento depende de cada situação, do momento. É por isso que as leis “não
pegam” muitas vezes. Ninguém crê, no íntimo, que devam ser obedecidas
cegamente. Vale o juízo individual e, quando necessário, o famoso jeitinho - uma
maneira de driblar as regras, no fim das contas. As sociedades contextuais são mais
libertárias nesse sentido. Ninguém vai deixar de fumar se não há alguém para se
incomodar com o cigarro aceso. Tampouco alguém vai parar num semáforo no meio
do deserto - afinal, ninguém é bobo. Os integrantes das sociedades contextuais
acreditam menos no valor das regras. “Para os amigos tudo; para os inimigos, a lei”
é uma frase tipicamente contextual.
Já nas sociedades contratuais a lei serve para resolver todos ou quase todos
os conflitos, do assédio sexual aos latidos do cachorro do vizinho. É por isso que
existem mais advogados nos EUA do que em todos os outros países do mundo
juntos. O caso Mônica Lewinsky, por exemplo, foi até a Suprema Corte, o que não é
pouca coisa. Era preciso saber se o presidente Bill Clinton violara as regras ou não.

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As sociedades erguidas sobre um contrato são assim. Por aqui, no entanto, ninguém
entendeu o motivo de tanto escândalo. Na visão brasileira, Clinton era culpado de
uma pulada de cerca. Devia explicações para a mulher dele, sim, jamais para
instância mais alta do sistema legal do país. Era uma questão pessoal. Se havia
violado uma lei qualquer não vinha ao caso.
Explicar por que algumas sociedades são contratuais e outras contextuais é
uma tarefa complexa. Os motivos têm a ver com a formação cultural de cada nação.
Alguns analistas destacam a relativa fraqueza de certas burguesias nacionais e a
consequente dificuldade para impor às sociedades contextuais o que o filósofo
italiano Antonio Gramsci (1891-1937) chamou de hegemonia cultural. Também é
possível chamar a atenção para o papel da escravidão e do colonialismo na falta de
legitimidade dos sistemas legal e político.
Se um tipo de cultura - seja contratual, seja contextual - é melhor que o outro,
não está claro e depende um pouco do gosto de cada um. Quando os brasileiros
reclamam, diante de uma contravenção no trânsito, que o país não tem jeito, estão
dizendo que só quando o comportamento dos patriotas mudar é que o país poderá
dar certo. Ou seja, só quando a americanização do brasileiro for completa. Já os
partidários da cultura contextual tendem a destacar a capacidade do brasileiro para
lidar com situações de improviso. A vida por estas bandas é mais divertida. Ao menos
é o que dizem.

Até a próxima aula!

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Aula 10_Sociedade crítica e Educação

Palavras-chave: Sociologia crítica; análise marxista; escola.

Iniciamos, a partir dessa aula com um pensamento social diferente daquele


positivista, baseado numa teoria da harmonia social - a sociologia crítica. A
Sociologia Crítica possui uma análise que percebe desigualdade na sociedade,
lançando seus esforços para entender a raiz dessa diferença. Um dos mais
importantes pensadores dessa corrente foi o alemão Karl Marx.
- Karl Marx

Fonte: https://www.escritas.org/pt/l/karl-marx
Karl Marx foi criado num ambiente cultural de classe média. Como o pai de
Marx era advogado, ele teve a oportunidade e acesso aos estudos. Formado numa
sociedade alemã regida por um governo autoritário que para se manter no poder
político eliminava seus adversários. Marx era portador de ideias novas e críticas com
relação ao estado alemão, governado por Frederico IV. Não conseguiu ser professor
universitário, e sua carreira passou a ser o jornalismo, dirigindo uma agência
jornalística.
Marx considerava que a sociedade capitalista sempre seria imperfeita, sendo
que o único caminho para a superação dos problemas sociais seria a luta política
para a construção de uma nova sociedade: o socialismo. Para entender melhor a
diferença entre o capitalismo e socialismo, é necessário se aprofundar na teoria de
Marx.

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Há uma enorme diferença entre Durkheim e Marx: para o primeiro a sociologia


era a ciência que contribuiria para levar a sociedade capitalista à perfeição e analisou
a sociedade, a partir da organização da moral social. Já Marx se interessou pela
relação existente entre a consciência das pessoas e a forma de se organizarem para
transformar a natureza através do trabalho. Concluiu que o modo pelo qual as
pessoas trabalham em determinada sociedade influi no modo como pensam e se
definem como seres sociais.
No capitalismo, o trabalho se organiza para dar origem à produção quase
infinita de mercadorias. Essa é a aparência de nossa sociedade: imenso depósito de
mercadorias. O que pode haver por trás dessas mercadorias? Que relações sociais
elas escondem?
Marx concluiu que, para além das mercadorias e das relações de troca está a
produção dessas mercadorias. Estudando o modo de produção das mercadorias,
concluiu que existem duas classes sociais básicas: de um lado, os proprietários dos
meios de produção, e de outro, os proprietários da força de trabalho. Essa segunda
classe não tem outro recurso que não seja vender por salário a sua força de trabalho,
que acaba por ser considerada, ela também, como mercadoria. Com o capitalismo,
a força de trabalho passa a ser considerada uma mercadoria que produz lucro para
a classe empresarial.
A classe trabalhadora sempre produz mais do que recebe. Seu salário é
sempre muito menor que a soma do valor dos bens que produziu. Todo o excedente
que a classe trabalhadora produz fica nas mãos do capitalista que, com isso,
enriquece sempre mais.
Ao analisar a organização do trabalho no capitalismo, descobriu uma
contradição básica: que a riqueza de alguns era devida a uma situação de
exploração e pobreza a que uma imensa maioria está submetida. É esta contradição
entre capital e trabalho que origina os problemas sociais: lucro excessivo de um lado,
salário baixo de outro; mansão de um lado, cortiço de outro; saúde de um lado e
subnutrição de outro, etc.
Uma sociedade com tais distorções, organizada a partir da exploração de uma
classe por outra é necessariamente uma sociedade de violência. Propõe resolver
tais distorções atacando a raiz do problema, ou seja, a contradição entre capital e
trabalho. Para eliminar esta contradição não poderia haver distinção entre

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proprietários e não proprietários. A construção da nova sociedade, com novas


relações e instituições sociais, só se daria a partir do momento em que a classe
trabalhadora se organizasse e lutasse pelos seus direitos.
Enquanto Durkheim acreditava que a ciência sociológica e a educação
poderiam reformar o capitalismo para melhor, eliminando seus problemas, Marx
pregava que através da organização e luta da classe trabalhadora dentro de todas
as instituições, a sociedade capitalista seria superada com a criação de uma
sociedade nova e mais humana.

A Educação e a Sociologia Crítica


A Sociologia Crítica entende que a educação é um processo importante na
formação da consciência social dos indivíduos. Marx tem preocupação com a
educação, mas não desenvolve uma teoria da educação. Ele se propôs a analisar a
ligação entre a organização do trabalho e as classes sociais, o Estado, a ideologia.
Não há nenhum livro de Marx que trate especificamente de educação. A concepção
de Marx sobre a sociedade capitalista permite pensar criticamente a educação e a
escola. É possível analisar seus textos procurando ressaltar aquilo que se refere a
educação.

Ideologia e Educação
A Sociologia Crítica parte do princípio de que o elemento básico é o trabalho.
Para sobreviver, o ser humano transforma a natureza que o cerca e cria os bens
materiais de que necessita. Assim, ao realizar um trabalho, as pessoas passam a
pensar e a desenvolver suas consciências para, em seguida, se comunicar, trocar
ideias através de uma linguagem. Nesse processo, passam a interpretar não só a
sociedade em que vivem, como também as suas atividades práticas. É assim que as
pessoas estabelecem relações sociais.
No desenrolar da história, não ocorreu que primeiro os seres humanos
estabelecessem formas de comunicação entre si para depois transformar a natureza,
mas, como já vimos, só foi possível desenvolver uma consciência e uma linguagem
tentando resolver problemas práticos que surgem ao enfrentar a natureza. É a luta
do ser humano pela sobrevivência que o faz desenvolver pensamento e linguagem.

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Em resumo, para Marx, não é a consciência das pessoas que explica a


sociedade, mas determinada maneira de se apropriar da natureza e agir cria
determinada consciência, determinada maneira de pensar.
A consciência das pessoas, suas ideias, seus valores resultam de relações
sociais que os indivíduos estabelecem entre si no processo de apropriação material
da natureza. Entretanto é importante saber que a ligação entre as relações sociais e
a consciência é algo contraditório; nem sempre a realidade social corresponde àquilo
que pensamos sobre essa realidade. Por quê?
Para Marx, a sociedade capitalista se fundamenta numa organização do
trabalho que dá origem a classes sociais e onde os proprietários dos meios de
produção exploram os trabalhadores. Essa visão de exploração nem sempre está
presente na consciência das pessoas, porque aparecem certas ideias e valores que
tentam esconder essa realidade. O que foi afirmado nos sugere uma pergunta: qual
a origem dessas ideias e valores que em certos momentos parecem ocultar as
relações sociais de exploração?
Para responder tal questão, devemos ter em mente que as experiências
práticas das pessoas no trabalho e na vida cotidiana são diferentes. Isso dá origem
a interpretações diferentes dos fatos, a visões diferentes do mundo. A visão que a
classe empresarial tem do trabalho e de sua vida cotidiana é diferente da visão que
tem a classe trabalhadora. Para a primeira classe social (proprietária) o trabalho é
fonte de lucro; sua tendência é reforçar os aspectos que acha positivos no
capitalismo: sociedade boa, de riquezas, de progresso, liberdade para empreender
e tornar-se rico etc. Por outro lado, para os trabalhadores, o trabalho é fonte de
pobreza. Sua tendência é reforçar os aspectos negativos do capitalismo: sociedade
desigual, de privações, de salários baixos, falta de liberdade para se viver
dignamente etc.
Entretanto, essa segunda visão de mundo, nem sempre está presente na
consciência das pessoas. A visão da classe empresarial predomina, aparece como
única visão verdadeira. Isso ocorre pelo simples fato de que a classe empresarial,
tendo maior poder econômico, político e de comunicação, consegue impor com mais
facilidade os seus interesses, convencer o conjunto da sociedade da “verdade” e da
“validade” prática de sua visão do mundo.

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Podemos afirmar que na sociedade capitalista existe ideologia: uma


imposição dos valores e ideias da classe empresarial (classe dominante) como
sendo a única visão correta da sociedade e a consequente tentativa de fazer com
que a classe trabalhadora pense com os valores da classe dominante.
A ideologia beneficia enormemente a classe empresarial, pois a partir do
momento em que ela consegue impor suas ideias e valores como sendo os corretos
e os trabalhadores aceitam isso, fica bem mais fácil para os grupos dominadores
manter sua exploração sobre o restante dos indivíduos da sociedade. Sabendo,
agora, um pouco do significado da ideologia para Marx, podemos perceber o que ela
transmite.
Nos dias de hoje, para impor a sua visão de mundo, a classe dominante utiliza
os meios de comunicação de massa, os jornais, as leis e, finalmente, a educação.
Nesse sentido, dentro da concepção teórica de Marx, podemos afirmar que a
educação escolar desempenha o papel de transmissora da ideologia dominante. É
o elemento responsável por inculcar, em todos os indivíduos, os valores e as ideias
da classe empresarial como a única visão correta do mundo. Assim, as regras de
funcionamento da escola, os seus conteúdos de aprendizado dão meios para
reproduzir a desigualdade da sociedade capitalista.
O Pensamento de Marx ganhou muitos adeptos em vários campos do
conhecimento por desenvolver uma análise de questões postas ainda nos dias de
hoje.
Na educação isso não foi diferente, onde muitos educadores, a partir do
referencial marxista, lançam pressupostos para os problemas encontrados, como é
o caso da escola.
Figura 7- escola de autoria

Fonte: http://www.ms.gov.br/
escola-de-autoria-abre-caminho-para-jovens-nas-universidades/, acessado em 09/06/2021

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A análise marxista no estudo da escola


Marx possui uma visão de sociedade onde a escola, transmitindo ideologia,
seria elemento de reprodução dos interesses da classe empresarial para ajudá-la a
manter seu poder e domínio sobre a classe trabalhadora. Numa sociedade dividida
por classes sociais em contradição e conflito, temos uma educação e uma escola
que reproduzem a divisão e o conflito.
Para Marx, a educação não é una, com o pensava Durkheim. Ao contrário,
toda educação é de classe, pois a educação que a classe empresarial recebe é
diferente daquela da classe trabalhadora. Enquanto os membros da primeira são
educados para dirigir a sociedade de acordo com os seus interesses, os membros
da segunda são disciplinados e adestrados para o trabalho, para aceitarem a
sociedade capitalista como ela se apresenta, sendo submissos. Para Marx, a
educação é de classe e, nesse sentido, a escolaridade para a classe trabalhadora
tem dois objetivos:
• Preparar a consciência do indivíduo para perceber apenas a visão de mundo da
classe empresarial como correto, isto é, transmissão de ideologia;
• Preparar o indivíduo para o trabalho, fazendo com que aprenda o necessário e
suficiente para lidar com seus instrumentos de trabalho, disciplinando e treinando
o corpo/mente do jovem da classe trabalhadora para que possa desempenhar
adequadamente suas tarefas de trabalho.
Por outro lado, a classe empresarial recebe outro tipo de escolarização muito
mais aperfeiçoado e completo, com acesso às melhores escolas, aos melhores
professores e materiais didáticos para assim, com bom nível de conhecimentos,
poder se aperfeiçoar e se perpetuar na função de classe dirigente.
O conhecimento é fonte de poder. A partir do conhecimento, é possível
dominar mais facilmente outra pessoa; faz sentido que em nossa sociedade a classe
empresarial tenha acesso às melhores escolas enquanto os trabalhadores apenas o
acesso àquele conhecimento parcial que lhe garanta a condição de dominado
“eficiente”.
Marx admite a escola, em nossa sociedade, como instituição sob controle da
classe empresarial para transmitir a ideologia e treinar os trabalhadores para uma
atividade produtiva em que serão explorados.

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Entretanto, diante desse fato, Marx parece mostrar à classe trabalhadora que
ela não deve negar a escola ou abandoná-la. Pelo contrário, deve exigir, com mais
força, seu direito à educação e, ao mesmo tempo, atuar dentro e fora da escola para
que ela se transforme numa instituição que possa representar também os interesses
da classe trabalhadora.
Estudos da escola, com base nos conceitos marxistas, têm necessariamente
uma análise da sociedade em que se encontra essa escola: estudo das condições
de trabalho e das relações sociais existentes entre as classes sociais;
• das implicações das contradições presentes nessa sociedade;
• das condições de produção de conhecimento;
• das consequências da divisão do trabalho presentes em todas as
instituições;
• da forma de reprodução da sociedade capitalista.

Até a próxima aula!

REFERÊNCIAS

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. 6. ed. São Paulo: Hucitec,
1987.

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Resumo - Unidade II

Nesta unidade trouxemos para reflexão, o caráter político da educação e a


liberdade em sua dimensão social. Vimos as contribuições de Karl Marx e Emile
Durkheim, clássicos da Sociologia, para compreensão das diferentes análises da
sociedade capitalista e a reflexão para superação das desigualdades sociais. A
educação escolar como uma criação dos homens e a necessidade e possibilidades
de reinventá-la.

REFERÊNCIAS

ARENDT, Hannah. O que é política? [editoria, Ursula Ludz]; 3. ed. tradução de


Reinaldo Guarany. - 3. ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. 240 p.

ARANHA, M.L.A. e outros. Filosofando. SP, Ed. Moderna, 1991. p. 321-322.

DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. São Paulo, Melhoramentos, 1978. p. 33-56.

GIDDENS, Anthony. Sociologia. Tradução: Ronaldo Cataldo Costa. - 6..


Ed. - Porto Alegre: Penso, 2012.

JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia - Guia Prático da Linguagem


Sociológica. RJ, Jorge Zahar Editor, 1997.

KRUPPA, Sonia M. P. Sociologia da Educação. São Paulo, Cortez, 1994.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. 6. ed. São Paulo: Hucitec,
1987.

TOMAZI, N. D. Sociologia da Educação. São Paulo. Ed. Atual, 2003.

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Aula 11_A educação escolar e a sociedade brasileira

Palavras-chave: educação escolar; sociedade; intervenção; invenção.

Nesta aula, estudaremos a escola na sociedade brasileira apresentando um


quadro social que relaciona a escolaridade e a ascensão social na sociedade
brasileira.

A escola é um meio de ascensão social?


A população em geral acredita que a escola é um meio de ascensão social e
demonstra essa crença na luta pela escola.
No Brasil, só conclui os estudos uma minoria. A maioria com menor poder
aquisitivo não termina o processo de escolarização básica. Logo, aos de maior
renda, maior número de estudos e de cursos concluídos; aos de baixa renda, a
repetência e a evasão juntam-se ao trabalho precoce. Isto leva a uma sociedade
dividida em indivíduos que servem para pensar e outros para trabalhar.

A escola é para todos?


Vemos essa afirmação nos discursos e na legislação. Entretanto, isso não
acontece, pois as informações estatísticas mostram uma outra realidade.
Percebemos a desigualdade social quando a concentração de renda se encontra nas
mãos de poucos e aos de baixa renda, pouco ou nenhum estudo.
Logo, ao contrário da aspiração da população, a escola não tem servido como
meio de ascensão social. A análise sobre renda e escolaridade mostra os motivos
sociais e econômicos da evasão e da repetência, desmascarando o conceito feito
pela escola ao afirmar que o aluno é incapaz de segui-la por ser uma falha pessoal
e não um problema de natureza social e da forma de organização da escola.
A população que luta pela escola não recebe dela as informações necessárias
para o reconhecimento de sua situação, participando de suas mudanças. A escola,
com sua prática, muitas vezes, contribui para a deformação da análise a ser feita
sobre o fracasso escolar. A população termina por expressar essa avaliação de
modo conformista: “o menino é fraco da cabeça, não dá para o estudo” ou “ a escola
não foi feita para mim. ”

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• A escola é um meio de obter-se melhores condições de vida?


• A escola tem proporcionado melhores condições de vida para você?

Figura 8 - Crianças Irantxe dançando, aldeia Cravari, Terra Indígena Irantxe, Mato Grosso

Foto: Ana Cecilia Venci Bueno, disponível em


https://mirim.org/pt-br/como-vivem/aprender,
acessado em 09/06/2021

Recomendamos a leitura do último capítulo, intitulado: A esperança na


educação, do livro O que é Educação? de Carlos Rodrigues Brandão. Reflita sobre
essas questões:
1) A educação é determinada por quem?
2) A educação é poder?
3) A educação que existe, atualmente, no sistema escolar é criada e
controlada por um sistema político dominante?
4) A sociedade é desigual? Ela separa os filhos de operários ou a classe
trabalhadora dos filhos de não operários?
5) Quando Paulo Freire cita que temos de “Reinventar a educação”, o que ele
quis dizer?
6) Onde existe educação? A quem ela pertence?

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Analise as afirmativas abaixo e compare com as suas conclusões após a


leitura:
• a) A educação é determinada fora do poder de quem a pratica, tanto
os educadores como os educandos.
• b) A educação que existe no sistema escolar é criada e controlada por
um sistema político dominante.
• c) A sociedade em que vivemos é desigual, pois reproduz a
desigualdade social.
• d) Temos que acreditar na educação, porque, queiramos ou não ela
existe; os sistemas educacionais podem mudar, saindo da reprodução
da desigualdade e criando um outro onde haja igualdade e liberdade
entre os homens; a educação é uma criação e podemos construir um
outro tipo de mundo.
• e) Paulo Freire usa a expressão: “Reinventar a educação”, para
mostrar que a educação foi inventada pelos homens. Ela é sempre
realizada pelos seres humanos e poderá ser reinventada de outra
maneira.
• f) “A educação existe em toda parte e faz parte dela existir entre os
opostos”. Ela pertence a todos nós, entretanto, há educações desiguais
onde há classes sociais desiguais.

Até a próxima aula!

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2003.


Brandão, Carlos Rodrigues. Educação Popular na Escola Cidadã. Vozes,
Petrópolis, 2000

PILETTI, N. Sociologia da Educação. São Paulo, ED. Ática, 2003.

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Aula 12_A escola e a questão cultural

Palavras-chave: Sociologia; escola; cultura; educação; saber.

Nesta aula, continuaremos a discussão sobre o saber, a Educação e


Sociologia.
Figura 9- Escola primária na província central da Zambézia, Moçambique

Fonte: https://www.dw.com/pt-002/mo%C3%A7ambique-promessas-do-governo-para-sa%C3%BAde-e-
educa%C3%A7%C3%A3o-caem-em-saco-roto/a-38848541, acessado em 09/06/2021.

Releia o último capítulo: A esperança na educação do livro O que é educação,


de Carlos Rodrigues Brandão e reflita sobre essas questões:

1). Por que a educação aparece como propriedade, como sistema e como
escola?
2) O que os pesquisadores descobriram ao estudar as classes subalternas,
em relação às formas próprias de educação do povo?
3) Por que os esforços dos professores e diretores, para que haja um maior
intercâmbio entre a escola e a comunidade, resultam, quase sempre, em fracasso?
4). Qual é a esperança que se pode ter na educação?

Compare as suas respostas com as seguintes considerações:

a) O controle sobre o saber se faz em boa medida, através do controle sobre


o que se ensina e a quem se ensina; de modo que, através da educação erudita, da
educação das elites ou da educação oficial, o saber oficial transforma-se em

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instrumento político de poder. A educação sai da comunidade de que fez parte um


dia e ingressa na estrutura dos aparatos de controle, ou seja, a “educação-de-
educar” (numa aprendizagem coletiva, onde todos compartilham do conhecimento)
desaparece, dando espaço para a “educação-de-instruir” (aprendizagem escolar
sobre o controle do Estado e da sociedade civil).
b) As classes subalternas aprenderam a criar e a recriar uma cultura de
classe - mesmo quando aproveitaram muitos elementos dominantes que lhes foram
impostos como ideias ou como políticas e também formas próprias de educação do
povo. Souberam criar, dentro dos limites estreitos em que lhes foi permitido criar
alguma coisa sua, os seus modos próprios de saber, de viver. Criaram o que
chamamos de “cultura popular”.
c) O intercâmbio entre a escola e comunidade, quase sempre, acaba
fracassando, porque a comunidade vê a escola como um posto invasor, que tenta
dominá-la, impondo a sua cultura. Para que haja a participação popular, há a
necessidade de criação de escolas comunitárias com experiências inovadoras (como
vem ocorrendo em algumas partes do Brasil). Elas devem ser mantidas pelo poder
público, mas controlada pelas comunidades.
d) Podemos ter esperança na educação, desde que não pensemos que as
melhoras nesse setor só dependem do desenvolvimento tecnológico. Temos que
acreditar que o ato humano de educar existe tanto no trabalho pedagógico, existente
na escola, quanto no ato político que luta na rua por um outro tipo de escola, para
um outro tipo de mundo. Mesmo que, nesse tipo de mundo, a educação continue a
ser movimento e ordem, sistema e contestação.

Comparando com suas respostas, reflita se houve ampliação de


conhecimento. Até a próxima aula!

REFERÊNCIA

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2003.

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Aula 13_A organização da escola

Palavras-chave: escola; organização administrativa; organização pedagógica.

Nesta aula, abordaremos a questão da organização da escola como parte da


sociedade, mas que possui suas próprias regras.

A escola como organização


Como uma organização, a escola constitui uma coletividade que busca atingir
certos objetivos exigindo determinadas condutas sociais para realizar tais objetivos.
Nela há conflitos entre as necessidades das demais pessoas e suas próprias
necessidades; entre relações formais e informais; entre racionalidade e
irracionalidade; entre direção e corpo docente, entre corpo discente e corpo de
funcionários.
Como em qualquer organização há na escola formalidade e informalidade.
As relações formais da organização expressam-se principalmente, em seu
organograma, que mostra as relações entre as unidades da organização, fixando as
atribuições de cada uma delas. As relações formais são, normalmente, visíveis e
oficiais da organização. As informais apresentam-se ocultas, naturais.
As relações formais da organização baseiam-se em normas e em
regulamentos que estabelecem a autoridade no seu interior. Essas normas e
regulamentos com frequência restringem a realização dos objetivos da organização.
Assim, certas normas e regulamentos vindos fora dela são erradamente atribuídos a
ela. Outros baixados dentro dela são erradamente vistos como manifestação
exclusiva de seus objetivos. Nesse caso, as relações informais são ainda
erradamente vistas como auxílio ou empecilho.
Os objetivos da escola, como em todas as organizações, não podem excluir
outros objetivos da sociedade como um todo. A respeito dos objetivos, a melhor
pergunta é a quem eles servem. Os objetivos não são explicados por eles mesmos,
separados dos conflitos e das contradições da sociedade capitalista. Na escola, os
objetivos precisam ser considerados pela perspectiva da escola, política
educacional, dos fins da educação, das classes sociais, a quem eles servem.

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Os objetivos escolares, como os das demais organizações procuram sempre


legitimação, justificando-se com algum ou alguns interesses e valores sociais. Vale
a pena analisar com carinho esses interesses ou valores sociais. Corre-se o risco de
descobrir que, muitas vezes, os objetivos propostos à escola são objetivos impostos
a ela.

Teste a sua compreensão refletindo sobre essas questões:


• A escola é uma instituição social?
• Como a escola está organizada?
• As regras existentes na escola são coerentes com os objetivos de
formar cidadãos críticos?

Figura 10- Gestão escolar

Fonte:https://gestaoescolar.org.br/conteudo/2280/o
-que-aprendi-sendo-gestora, acessado em
09/06/2021

O administrativo e o pedagógico na escola.


Falar sobre o administrativo e o pedagógico na escola se constitui assunto
importantíssimo quando tratamos de educação formal e de escola. O administrativo
de uma escola está à mercê do pedagógico.
O que isto quer dizer?
Que o pedagógico da escola está relacionado ao processo ensino e
aprendizagem. E este é o ponto marcante e primordial da organização da escola.
A gestão administrativa e pedagógica, com o acompanhamento do
desenvolvimento do trabalho pedagógico dos docentes, pode ser considerada
como um trabalho essencialmente humano-social, voltado para os valores, para a
ética, para o contexto histórico dos alunos, fazendo com que tanto os docentes,
como os educandos, produzam e transformem o meio em que vivem de modo que

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possam conquistar realmente seus objetivos com potencial inteiramente favorável
à realidade do processo histórico em todas as dimensões. (BANKERSEN e
STOCKMANNS, 2013)

O gestor precisa integrar o saber e o saber fazer, criando espaços coletivos e


solidários, possibilitando o entrosamento entre as pessoas e as diversas áreas de
ensino. (BANKERSEN E STOCKMANNS, 2013). E esse movimento de integração
acontece quando o gestor e toda a equipe gestora (diretores, coordenadores,
supervisores...) garante na escola espaços de:

[...] participação através das relações de cooperação, diálogo, liberdade de


expressão, respeito às diferenças, o gestor afirma princípios democráticos
em busca da construção de projetos coletivos. (BANKERSEN E
STOCKMANNS, 2013, p. 04))

Entretanto, vemos frequentemente que o administrativo é mais valorizado que o


pedagógico. Isto porque há uma pressão pelos “dados”, pelos “números” e pela
“papelada”. Em torno do controle dos números de evasão, repetência, da quantidade
de alfabetizados, entre outros dados, ainda se instala o mito da eficiência da escola.

No que tange à democratização da educação, portanto, são componentes


imprescindíveis para sua efetivação iniciativas − no âmbito das
unidades escolares − de professores e equipes de gestão, tais como:
critérios coerentes de admissão e alocação de alunos, assim como de
atribuição de turmas aos professores, para que todos tenham a mesma
atenção nas relações de ensino e aprendizagem; redução das taxas de
abstenção, abandono e reprovação, por meio de atividades de reforço
escolar e incentivo à permanência na escolaridade obrigatória; projetos
voltados para a mediação de situações de conflito, indisciplina e
violência, com repercussões na melhoria nas relações de convivência e no
clima escolar. (CADERNOS DE PESQUISA v.48 n.1710 p.1038-1061
out./dez. 2018)

A administração da escola pode e deve ser feita de maneira mais simples,


porém funcional, liberando os docentes para exercerem a sua função, ou seja, o
intermediário do processo ensino-aprendizagem.

Até a próxima aula!

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REFERÊNCIAS

BANKERSEN, Iranice Helena; STOCKMANNS, Jussara Isabel. O papel do gestor


escolar no processo pedagógico e administrativo em escola do campo.
Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_p
de/2013/2013_unicentro_gestao_artigo_iranice_helena_bankersen.pdf, acessado
em 31/03/2023.

KRUPPA, Sonia Maria Portella. Sociologia da Educação. São Paulo, Cortez,


1994.

MARTINS, Angela Maria, et al. Cenários de gestão de Escolas municipais no


Brasil: CADERNOS DE PESQUISA v.48 n.170 p.1038-1061 out./dez. 2018.
Disponível em http://publicacoes.fcc.org.br/index.php/cp/article/view/5511/pdf
acessado em 31/03/2023.

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Aula 14_O preconceito na escola

Palavras-chave: escola; preconceito; discriminação; fracasso escolar.

Nossa aula é sobre preconceito na escola e como é tratado pelos professores.


Os preconceitos circulam livremente na escola, favorecendo situações de
dominação. São percebidos nas falas, nas atitudes em geral de professores e outros
profissionais nela presentes, e até mesmo entre os alunos.
Há preconceitos, claramente expressos, contra o pobre, o favelado, o negro,
o homossexual, o portador de necessidade especial etc. As famílias são
normalmente responsabilizadas pelo fracasso dos filhos. “Seja por defeitos morais e
psíquicos, seja pela separação dos pais, por sua ausência que lhes são
frequentemente atribuídos” (PATTO, 1999:14).
Geralmente, são tidos como sexualmente promíscuos, primitivos, vadios,
pouco inteligentes, violentos, com vocação para a marginalidade e delinquência.
Assim, os professores classificam os alunos por categorias formadas à base de cor,
sexo e classe social.
Patto (1999) apud JESUS (2015) indica como as explicações para o fracasso
escolar estavam diretamente ligadas ao modo capitalista de compreender a
realidade, e como esse discurso preservava a situação de dominação sofrida pelas
famílias mais pobres. Esclarece sobre as questões políticas que envolvem a
abordagem dos problemas escolares e fica evidente o interesse e a manipulação das
classes dominantes.
Através de classificação e competição, os professores contribuem para o
fracasso escolar. Alguns fatores favorecem essa atitude:
a. O trabalho dividido separa o planejar do executar e a sobrecarga dos
professores, com uma jornada interminável, que torna o trabalho um peso.
O trabalho passa a ser alienado, ocorrem afastamentos e faltas frequentes.
Os professores não têm tempo para refletir sobre seu trabalho. Fechados
assim em sua particularidade, os professores se tornam alienados.

[...] o professor cumpre com sua obrigação, realizando diariamente um


ritual, sempre o mesmo, destituído de vida e de significado que o mortifica:
obediente, mas descrente, coloca conteúdos na lousa passa

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mecanicamente pelas carteiras, constata sempre os mesmos erros que
aponta com maior ou menor irritação, para começar de novo tudo no dia
seguinte, no mês seguinte, no semestre seguinte. Os dias são todos iguais.
(PATTO, 1987)

b) Os preconceitos são sustentados por teorias científicas que correm soltas


na escola. Dentre elas, a da carência cultural e alimentar: “a criança não
aprende porque é desnutrida” ou “não aprende porque é culturalmente
pobre”. Mesmo conhecendo a teoria da diversidade cultural, o professor
acaba tendo uma ação discriminatória.

De nada adiantam cursos e treinamentos, se não forem dadas, aos


professores, condições efetivas para trabalhar, tempo para reuniões de pequenos
grupos, pautas de reuniões que enfoquem as problemáticas enfrentadas, espaço
para falar e ouvir sobre os desafios da sala de aula, parcerias com psicólogos e
outros profissionais, para que estes revejam suas práticas na unidade escolar, com
autonomia.
A escola precisa discutir a sociedade na qual está inserida. Os educadores
precisam repensar esta sociedade que é vista por eles, no contexto do pensamento
positivista e dentro dos princípios do liberalismo. Enfim, é preciso mudar o
paradigma, a visão de mundo e pensar dialeticamente.

Até a próxima aula!

REFERÊNCIAS

JESUS, Tatiane Dantas Silva de. A produção do fracasso escolar:


apontamentos acerca do erro e resiliência no contexto educacional. Disponível em
http://www.uel.br/eventos/semanaeducacao/pages/arquivos/ANAIS/ARTIGO/APRENDIZ
AGEM%20E%20DESENVOLVIMENTO%20HUMANO/A%20PRODUCAO%20DO%20F
RACASSO%20ESCOLAR%20APONTAMENTOS%20ACERCA%20DO%20ERRO%20E
%20RESILIENCIA%20NO%20CONTEXTO%20EDUCACIONAL.pdf, acessado em
31/03/2023.

PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e


rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz, 1999.

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Aula 15_A função da escola no contexto social

Palavras-chave: escola; instituição escolar; contexto social.

Nesta aula, trabalharemos a inserção da escola na sociedade, como uma


instituição que faz parte do corpus social, com as desigualdades e diferenças que
possui. Acompanhem!

A escola é uma peça de uma engrenagem maior.


A maneira como a escola está organizada é o resultado da organização da
sociedade em seu conjunto. Os mais pobres são marginalizados pela escola do
mesmo jeito que são explorados no plano das relações de trabalho e impedidos de
participar da vida política.
A escola não é democrática porque a sociedade em que vivemos ainda não é
verdadeiramente democrática. Os donos do poder são também os donos do saber e
os pobres são excluídos tanto da escola quanto da participação nas decisões.
A escola, portanto, é parte integrante dessa sociedade injusta e desigual, em
que a regra de comportamento é “cada um por si e salve-se quem puder”.
Há quem pense que, enquanto as relações de poder na sociedade não
mudarem, a escola continuará funcionando do mesmo jeito. Esse pessoal acha que
não adianta tentar mudar a escola.
Ora, os que pensam assim esquecem que, justamente porque a escola está
dentro da sociedade, quando mexemos na escola estamos mexendo na sociedade.
E a sociedade, por sua vez, também não é fixa, parada, que não muda. A sociedade
não é só os donos do poder. A sociedade também é todos aqueles que, até agora,
não tiveram vez nem voz. A sociedade somos todos nós.
A sociedade pode e deve mudar, mas somos nós que temos que provocar
essas mudanças. Nós que achamos, por exemplo, que a escola é uma coisa muito
importante e que ela está funcionando muito mal.
As mudanças só virão se os principais interessados se mexerem. As
mudanças não vêm de cima para baixo, nem são dadas de presente. As mudanças
são sempre resultados da ação dos que protestam contra o tratamento injusto que
vem recebendo a escola e exigem uma escola diferente que atenda realmente os

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interesses da maioria. Como a escola é peça dessa engrenagem maior, mudando a


escola estaremos também ajudando a mudar a sociedade. A educação não começa
na escola. Ela começa muito antes e é influenciada por muitos fatores.
Ao longo do seu desenvolvimento físico e intelectual, a criança passa por
várias fases nas quais a escola da vida, isto é, o ambiente familiar, as condições
socioeconômicas da família, o lugar onde se mora, o acesso a meios de informação,
têm uma importância muito grande. Os primeiros anos são decisivos: estudos
demonstram que a criança tem sua estrutura básica de personalidade definida até
os dois anos de idade, muito antes, portanto, do período da escola obrigatória.
A consciência de que a fase decisiva é a que antecede a escola obrigatória
tem levado um número crescente de estudiosos a propor que a criança seja atendida
mais cedo, como única solução para poder compensar as desvantagens que atingem
as crianças mais pobres, dando-lhes melhores chances de sucesso, quando mais
tarde entrarem na escola. É preciso adaptar a escola às condições reais vividas pela
grande maioria de seus alunos que vem dos lares mais desfavorecidos.
No entanto, é preciso ter cuidado com a solução de facilidade que consistiria
em “baratear” o ensino para os pobres. Muita gente acha que se deveria exigir menos
dos pobres já que, de qualquer jeito, eles são menos capazes e não conseguem
aprender como as crianças de classe média. Aceitar isso significa aceitar a existência
de duas escolas: uma escola boa e exigente para os mais ricos e uma escola de
segunda mão, mais fácil para os pobres.
Uma solução dessas só faria agravar a divisão e a desigualdade entre ricos e
pobres, entre quem tem acesso a uma escola de qualidade e quem não tem. A
questão é como encontrar a maneira de dar a todos, indistintamente, os
conhecimentos básicos indispensáveis para viver, dignamente, em nossa sociedade.
É preciso, portanto, garantir que todos os alunos possam aprender coisas
indispensáveis para sua emancipação como ser humano: saber ler e escrever bem
a língua materna; desenvolver o raciocínio matemático; adquirir conhecimentos
básicos de história, geografia e do meio social.
O caminho a ser seguido para a mudança da escola é o mesmo caminho que
o povo já vem trilhando em busca da solução para tantos outros problemas da vida
cotidiana.

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Ao invés de esperar que as soluções venham de cima - das autoridades, do


Governo, dos especialistas - o povo mesmo resolveu agir. Discutindo juntos, em
pequenos grupos e comunidades começou a tomar consciência de sua própria força
e de sua capacidade de descobrir soluções novas. É descobrindo juntos soluções
novas e ajudando uns aos outros, ao invés de cada um ficar quieto e calado em seu
canto, que o povo foi aprendendo a se organizar para defender seus direitos.
Nessa luta diária pela sobrevivência e por uma vida melhor o povo aprende e
ensina. Aprende na medida em que vai entendendo como funciona a sociedade,
desmontando, pouco a pouco essa engrenagem complicada da qual a escola é
apenas uma peça. O povo aprende quando procura entender o motivo por que os
filhos vão mal na escola e descobre que o problema não é individual, mas coletivo.
E que sua solução depende de toda a união e esforço da comunidade.
O povo aprende na medida em que consegue enxergar, nitidamente, onde
está a raiz de cada um dos problemas que enfrenta e, percebe que, sem união e
participação, as coisas não mudam.
Vendo, julgando e agindo junto, num todo coletivo, o povo se educa e mostra
que a educação não acontece só na escola. A gente se educa cada dia, durante a
vida inteira, das experiências que vive e aprende, ainda mais, se elas são vividas e
discutidas em comum.
Quando o povo se une para procurar novas soluções para seus problemas,
ele também ensina. Ao longo de toda sua caminhada, o povo ensina a lição da
esperança e da solidariedade.
Ensina como é possível descobrir saídas em situações em que,
aparentemente, não há saída. Ensina como sobreviver quando o desemprego e a
pobreza poderiam levar ao desespero. Ensina como é possível inventar soluções a
partir de si mesmo, sem confiar em promessas ou esperar que as coisas caiam do
céu.
É nesse processo de organização de baixo para cima, temperado nas lutas
de cada dia, nas vitórias e derrotas, nas reivindicações, no coletivo organizado, que
tanto tem a ensinar, que está a semente de uma nova atitude e de uma nova maneira
de agir: não esperar por soluções prontas vindas de cima, mas confiar nas próprias
forças e na união para encontrar as respostas e colocá-las em prática.

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Essa criatividade e solidariedade não se aprendem na vida da escola tal como


ela é hoje, mas na escola da vida. O desafio consiste em enfrentar o problema da
escola do mesmo jeito que o povo tem enfrentado problemas bem mais complicados.
É preciso levar para dentro da escola as lições que o povo tem aprendido e ensinado
na escola da vida. É preciso exigir uma escola pública de qualidade!

Reflita sobre essas questões:


1- Vale a pena tentar mudar a escola?
2- É possível mudar a escola? De que modo?
3- O que o povo aprende e ensina em sua luta pela mudança da escola?
4- Você encontrou, neste texto, citações sobre educação que seguem a
mesma linha de pensamento contida no livro O que é educação?, de Carlos
Rodrigues Brandão? Em caso positivo, qual ou quais?

A reflexão sobre o papel social da escola e a quem ela serve parece ganhar
relevância no atual cenário brasileiro.
Figura11- Conselho escolar

Fonte: -http://conselhoescolarsemed.blogspot.com/2013/05/
publicacoes-dos-conselhos-escolares_3155.html, acessado em 09/06/2021

As funções da escola, segundo alguns sociólogos:


a) Kar Mannheim (sociólogo húngaro, 1893-1947).
A escola seria o exercício da sociedade de transição, um agente socializador
e dinamizador de mudanças que envolveriam o homem com o debate público, não
mais a partir do 'pensar o outro', mas, em razão inversa, 'pensar no outro'
(MANNHEIM, 1972; 1982). É uma proposta conversadora.
b) Émile Durkheim (sociólogo francês, 1858-1917): “[...] a educação é, acima
de tudo, o meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as condições de sua
própria existência.” (DURKHEIM, 1973a, p. 45).

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Esta afirmação de Durkheim (1973), do século passado nos parece atual, e


contemporânea, uma vez que vai ao encontro das aspirações de muitos educadores
e pais que vislumbram na educação a real possibilidade de modificar/melhorar o
futuro das crianças. Observamos que a família vem abandonando suas funções,
atribuindo somente à escola a função de educar e cuidar de seus filhos, eximindo-se
de suas reais tarefas.
Por vezes, vemos “[...] crianças contemporâneas ingressarem cada vez mais
cedo na escola, promovendo um desalinho nas funções/atribuições da escola e da
família, gerando prejuízos às crianças. (ESTÁCIO, 2019). É uma proposta
conservadora.
c) Karl Marx (sociólogo alemão, 1818-1883)
Talvez a escola seja uma das instituições sociais que mais dá para aplicar os
estudos de Marx, muito embora ele não tenha se debruçado sobre o ensino e a
educação. Analisando a função da escola sob a ótica marxista, Kruppa (2018, p.74 -
76), destaca que há a necessidade de analisar os seguintes aspectos:
• A sociedade em que a escola se encontra e as condições de trabalho e
compreender as relações sociais existentes entre as classes que compõem
essa sociedade ou seja, a clareza de que sociedade é formada por ricos e
pobres.
• As contradições de classes sociais presentes na escola; das condições de
produção do conhecimento, ou seja, as contradições estão presentes na
sociedade capitalista e, por conseguinte, presentes na escola. Quem tem
mais poder aquisitivo tem melhores ferramentas disponíveis.
• A relação escola versus trabalho e produção de conhecimento versus
tecnologia precisa ser aprofundada ou seja, a escola reflete as questões de
trabalho presentes na sociedade. E a sociedade da informação e do
conhecimento exige, cada vez mais, saberes generalizados e tecnológicos. A
função da escola, neste interim, é trabalhar para a conscientização das
pessoas e o que se espera delas, para não ficarem alienadas na produção e
esquecer que seu papel é transformador desse modus utilizado até agora.

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A função da escola é formar cidadãos que participem ativamente da vida


econômica e social do país, contribuindo para a transformação de uma sociedade
mais justa, com melhores condições de vida para todos. É uma proposta
transformadora.

Considerações finais
A função da escola é transmitir conhecimentos e habilidades que possibilitem
às pessoas situarem-se e inserirem-se no mundo de hoje, ler e interpretar a grande
quantidade de informações existentes, conhecer e compreender tecnologias
disponíveis, bem como continuar seu processo de aprendizagem de forma
autônoma.
Por meio de seu trabalho específico, a escola deve levar o aluno a
compreender a realidade de que faz parte, situar-se nela, interpretá-la e contribuir
para a sua transformação.
A escola é fundamental para a formação da cidadania, por isso, nenhuma
criança pode ficar excluída de seus benefícios. Todas têm o direito a uma sólida
formação escolar. Todas têm o direito de sonhar e perseguir seus sonhos, realizando
projetos individuais e coletivos.

Até a próxima aula!

REFERÊNCIAS
ESTÁCIO, Mércia Maria De Santi. A visão de Durkheim sobre a escola e a
família na transformação da criança em um ser social. XXVII Congreso de la
Asociación Latinoamericana de Sociología. VIII Jornadas de Sociología de la
Universidad de Buenos Aires. Asociación Latinoamericana de Sociología, Buenos
Aires, 2019.

Kruppa, Sonia M. Portella. Sociologia da educação. Cortez Editora. Edição do


Kindle, 2018.

PEREIRA, L.; FORACCHI, M. (org). Educação e Sociedade. SP, 1996.

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Núcleo de Ensino a Distância

Aula 16_Sawabona!!! Shikoba!!!

Palavras-chave: tribo africana; sawabona; shikoba.

Figura 12- Sawabona- Shikoba

Fonte-- https://amenteemaravilhosa.com.br/
voce-conhece-significado-das-palavras-sawabona-shikoba/, acessado em 09/06/2021

Este é um texto maravilhoso que chegou a mim, já há algum tempo e que,


infelizmente, desconheço a autoria. Repasso a você, para análise, reflexão e
possível aplicação em sua sala de aula! Leia com muita atenção:

SAWABONA!!! SHIKOBA!!!
Há uma "tribo" africana que tem um costume muito bonito.
Quando alguém faz algo prejudicial e errado, eles levam a pessoa para o centro da
aldeia, e toda a tribo vem e o rodeia. Durante dois dias, eles vão dizer ao homem
todas as coisas boas que ele já fez. A tribo acredita que cada ser humano vem ao
mundo como um ser bom.
Cada um de nós desejando segurança, amor, paz, felicidade.
Mas às vezes, na busca dessas coisas, as pessoas cometem erros. A comunidade
enxerga aqueles erros como um grito de socorro.
Eles se unem então para erguê-lo, para reconectá-lo com sua verdadeira natureza,
para lembrá-lo quem ele realmente é, até que ele se lembre totalmente da verdade
da qual ele tinha se desconectado temporariamente: "Eu sou bom".
Sawabona!!! Shikoba!!!

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Núcleo de Ensino a Distância

Sawabona significa “eu respeito você, valorizo você e você é importante para
mim!”
E a pessoa responde Shikoba, que quer dizer “então… eu sou bom e eu existo
para você”.
Este ato de reconhecimento reconstrói o interior maculado da pessoa que errou,
fazendo com que ele se sinta querido e valorizado.

As competências socioemocionais estão em alta nas discussões em


todos os setores da sociedade. Contudo, a comunicação emocional ainda está
doente em nossa sociedade, pois não somos cuidadosos na hora de nos
comunicar com as outras pessoas e vice-versa.
O belo comportamento desta tribo nos mostra a importância do valor,
do respeito e da valorização pelos demais e, assim, devemos educar os nossos
alunos. Sempre será possível influenciá-los, haja vista que estão carentes de
valores morais, motivações e autoestima para sair pela vida e enfrentar ao
mundo.

Agora, reflita:
• Seria interessante esta prática em sala de aula?
• Na escola, conseguimos olhar nossos alunos sob esta ótica?
• Em quais situações propomos práticas para que nossos alunos acreditem em
sua verdadeira natureza: a bondade, a honestidade, o interesse pelos estudos
e pelo trabalho, a sabedoria inata em cada um deles?

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Resumo Unidade III

Nesta unidade vimos como a escola foi criada e organizada, no contexto


social, bem como a produção da cultura escolar e suas consequências. Analisamos
e questionamos para reflexão e intervenção o papel da escola na atualidade.

REFERÊNCIAS

CECCON, Claudius e outros. A vida na escola e a escola da vida, Petrópolis,


Vozes, 1982, p.80-93.

ESTÁCIO, Mércia Maria De Santi. A visão de Durkheim sobre a escola e a


família na transformação da criança em um ser social. XXVII Congreso de la
Asociación Latinoamericana de Sociología. VIII Jornadas de Sociología de la
Universidad de Buenos Aires. Asociación Latinoamericana de Sociología, Buenos
Aires, 2019.

JESUS, Tatiane Dantas Silva de. A produção do fracasso escolar: apontamentos


acerca do erro e resiliência no contexto educacional. Disponível em
http://www.uel.br/eventos/semanaeducacao/pages/arquivos/ANAIS/ARTIGO/APRENDIZA
GEM%20E%20DESENVOLVIMENTO%20HUMANO/A%20PRODUCAO%20DO%20FRAC
ASSO%20ESCOLAR%20APONTAMENTOS%20ACERCA%20DO%20ERRO%20E%20RE
SILIENCIA%20NO%20CONTEXTO%20EDUCACIONAL.pdf, acessado em 31/03/2023.

PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e


rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz, 1999.

PEREIRA, L.; FORACCHI, M. (Org). Educação e Sociedade. SP, 1996.

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