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EDUCAÇÃO
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar algumas questões filosóficas que per-
meiam o cotidiano das escolas. Com isso, você vai perceber o quanto
a filosofia faz parte do seu dia a dia, mesmo que você não se dê conta.
Além disso, você vai notar como a filosofia da educação é necessária para
a formação dos professores, bem como a importância dessa reflexão
na sua prática enquanto docente. Mais adiante, o Mito da Caverna vai
convidar você a refletir sobre as “prisões” e sobre o quanto uma única
fonte de informação, um único ângulo da realidade, pode torná-lo refém
e impedi-lo de conhecer novas versões e pontos de vista sobre o mundo.
Vem daí a necessidade de discutir esses e outros aspectos em sala de aula, com
os alunos, colegas professores, direção escolar. Tais questões já estão instauradas
e, como você acabou de ver, não é possível voltar no tempo e tampouco ignorar
tais fatos, já que eles provocam uma mudança nos hábitos, como ocorre no caso
das tecnologias e das redes sociais digitais. Como fechar os olhos para o fato de
que um aluno está postando toda a sua rotina nas redes sociais digitais e pode ter
sua vida íntima “invadida” e exposta, sem sua permissão, para outros colegas e
até mesmo para pessoas desconhecidas? Em vez de você questionar de quem é a
responsabilidade em relação aos jovens (até mesmo crianças), o debate deveria
girar em torno do que fazer para evitar esse tipo de acontecimento. E, ainda, de
que forma a escola e os professores podem preparar os alunos para agir e reagir
diante dessas e de tantas outras situações da vida cotidiana?
A Figura 1 remete a uma reflexão acerca desse novo comportamento rela-
cionado ao uso das redes sociais digitais e às questões filosóficas, já destacadas
anteriormente, resultantes desses novos hábitos. A partir da figura, você pode
refletir sobre o quanto está refém e prisioneiro dessa tecnologia que veio para
trazer benefícios, mas que abre o debate para novas questões importantes, que
envolvem toda a comunidade escolar.
https://goo.gl/NB9GeU
Por esse motivo, o professor é fundamental para fazer o elo entre o aluno, a
teoria e a prática. Essa ligação será significativa para ambos, pois não é apenas
o aluno que aprende: quando aluno e professor assumirem essa postura indaga-
dora diante da realidade apresentada, quando forem além do que está posto e
exposto e buscarem na origem da filosofia uma atitude questionadora, a escola
terá cumprido seu papel de transformar os sujeitos envolvidos no processo de
ensino-aprendizagem. Isso mesmo que ao fim desses questionamentos eles se
deem conta de que, assim como Sócrates, nada sabem.
A filosofia da educação, nas palavras de Antônio Severino (1994, p. 28),
“É uma reflexão filosófica sobre a educação”. Ou seja, é o olhar da filosofia
sobre a educação. A educação é posta como uma questão, como um problema.
6 Noções de filosofia da educação: o Mito da Caverna
Por esse motivo, ela passa a ser tratada como uma questão filosófica. Assim,
alguns questionamentos resultam desse olhar, por exemplo, o ser humano é
educável? Num primeiro momento, sua resposta será imediatamente sim, pois
essa questão soa como obviedade. Mas obviedade não existe na filosofia. Nesse
sentido, então, você deve ir em busca de uma resposta. Se responder que sim,
então afirma que o ser humano é, sim, passível de ser educado. Assim, ao
conceber o ser humano como educável, você pode perceber que ele não nasce
pronto, que precisa ser desenvolvido e que o que pode proporcionar isso é a
educação, por meio dos professores.
“Só sei que nada sei”: essa é uma frase célebre de um grande nome da filosofia. Ela foi
dita por Sócrates. O pensamento do filósofo grego Sócrates, que viveu entre 469 e
399 a.C., marca uma reviravolta na história humana. Antes de Sócrates, a filosofia tentava
explicar o mundo baseada na observação das forças da natureza. A partir dele, o ser
humano voltou-se para si mesmo, concentrando a filosofia no homem e em sua alma.
Sócrates tinha a preocupação de levar as pessoas, por meio do autoconhecimento,
à sabedoria e à prática do bem. Vem daí a importância de você conhecer mais sobre
esse grande pensador. Assim, pode compreender como melhorar seu entendimento
da prática docente.
A frase “Só sei que nada sei” tem muito significado para os professores. Afinal, eles
têm o papel de atuar como mediadores em sala de aula, na posição daquele que não
sabe tudo e que está disposto a dividir o pouco que sabe com seus alunos.
Saiba mais sobre quem foi Sócrates e conheça a origem dessa e de outras frases
no link a seguir.
https://goo.gl/h1UBhS
Agora, voltando aos dias de hoje, você pode se questionar o seguinte: quanto
o Mito da Caverna, descrito por Platão, tem relação com a contemporaneidade?
uma prisão, mas não necessariamente uma prisão formal, como as que você
conhece. Enquanto professor, você pode considerar que na caverna podem
estar aprisionados os desejos que os professores têm de uma educação de
qualidade, com condições melhores para todos os envolvidos no contexto
educacional. O prisioneiro que fugiu pode ser um professor que iniciou sua
prática docente decidido a fazer a diferença e, ao tentar pequenas mudanças,
percebe que é possível. Imediatamente quer compartilhar com seus colegas,
mas eles, já cansados dos desafios e da árdua caminhada, o consideram louco.
O sistema educacional brasileiro, suas condições de trabalho e remuneração
podem ser a caverna. Mesmo que muitos professores tenham o desejo de
tentar o novo, assim como o prisioneiro que conseguiu sair, ao voltarem para
contar que é possível, são mortos por esse sistema, que é mais forte do que o
desejo de mudança.
Além disso, a televisão e as redes sociais digitais também podem ser uma
caverna e aprisionar as pessoas, mostrando apenas um ângulo das situações.
Quem não consegue se desprender das amarras passa a considerar esse único
ângulo que conhece como uma verdade absoluta, e o que for diferente dessa
sombra projetada passa a ser visto como loucura ou devaneio. Porém, seu papel
enquanto professor é o de lutar contra as amarras, sejam elas representadas
por seus medos, seus preconceitos em relação ao próximo ou a conceitos que
você forma da realidade. Essas amarras também podem ser representadas
pelas incertezas da trajetória profissional e pelas dificuldades relacionadas
à infraestrutura e à remuneração da carreira docente. Você precisa se des-
prender e, ao encarar esse novo, a luz que ofusca seu olhar, enfrentá-lo e
descobrir um novo mundo, de grandes descobertas e diferentes ângulos, capaz
de transformar vidas.
O Mito da Caverna de Platão propõe (de forma provocativa) uma reflexão
acerca da libertação. As correntes, as sombras, a prisão e a falta de luz podem
ser vistas como a comodidade, a preguiça ou o medo que as pessoas têm de
sair da zona de conforto e tentar algo novo, seja na área que for das suas vidas.
Esses sentimentos, de forma metafórica, estão presentes no Mito da Caverna.
Além deles, você também pode se deparar com a enganação, que impossibilita
os prisioneiros de saírem daquela falta de movimento. Mas, de repente, um
deles consegue soltar-se, sair da caverna e ver como o mundo é, sem desvios
e de forma consciente, livre e racional. A partir daí, pode comparar as di-
ferentes realidades e fazer suas escolhas. Dessa forma, você pode perceber
que o Mito da Caverna possibilita diversas interpretações muito atuais para
o mundo contemporâneo.
10 Noções de filosofia da educação: o Mito da Caverna
Leituras recomendadas
BARROS FILHO, C. A ética é a arte da convivência. Youtube, 3 jan. 2018. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=6JLIXd6db-4> Acesso em: 9 maio 2018.
DEMO, P. Ironias da educação: mudanças e contos sobre mudança. Rio de Janeiro:
DP&A, 2000.
SUPER INTERESSANTE. “Só sei que nada sei”, Sócrates. 2016. Disponível em: <https://
super.abril.com.br/ideias/so-sei-que-nada-sei-socrates/>. Acesso em: 9 maio 2018.