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FILOSOFIA DA

EDUCAÇÃO

Ângela Ribas dos Santos


Noções de filosofia da
educação: o Mito da Caverna
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar questões filosóficas da atualidade que fazem parte do


cotidiano das escolas.
„„ Reconhecer a importância da filosofia da educação para a formação
e para a prática do educador.
„„ Relacionar o Mito da Caverna com os desafios da educação.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar algumas questões filosóficas que per-
meiam o cotidiano das escolas. Com isso, você vai perceber o quanto
a filosofia faz parte do seu dia a dia, mesmo que você não se dê conta.
Além disso, você vai notar como a filosofia da educação é necessária para
a formação dos professores, bem como a importância dessa reflexão
na sua prática enquanto docente. Mais adiante, o Mito da Caverna vai
convidar você a refletir sobre as “prisões” e sobre o quanto uma única
fonte de informação, um único ângulo da realidade, pode torná-lo refém
e impedi-lo de conhecer novas versões e pontos de vista sobre o mundo.

Século XXI e o cotidiano da escola: questões


filosóficas
Cada vez mais a humanidade vive e sobrevive de forma globalizada. Aconte-
cimentos de qualquer espécie ocorridos no Oriente interferem no Ocidente e
vice-versa. Dessa forma, a escola não poderia passar ilesa. Muitas questões
filosóficas interferem em seu modo de ser e agir enquanto instituição de ensino.
Além disso, as relações entre os alunos, os professores e a comunidade escolar
são regidas por influências do meio no qual eles estão inseridos.
2 Noções de filosofia da educação: o Mito da Caverna

Aspectos relacionados à filosofia permeiam a vida escolar de diferentes


maneiras, uma vez que questões filosóficas estão mais inseridas no cotidiano
do que você pode imaginar. No entanto, a ideia aqui é focar apenas nas questões
pertinentes às tecnologias e às redes sociais digitais, por representarem um
tema latente e muito presente no dia a dia das escolas. Atualmente, com os
avanços tecnológicos e as redes sociais digitais, é possível destacar um ponto
importante para reflexão. Tal ponto está relacionado à questão da autonomia
dos indivíduos em relação ao uso das tecnologias. Os jovens e adolescentes,
e até mesmo as crianças e os adultos, acabam reféns das tecnologias e seus
hábitos passam a girar em torno delas. E você já parou para pensar se exerce
seu senso crítico e sua autonomia ao dedicar tempo excessivo a tais tecnologias?
Outra questão se refere à perda da identidade dos indivíduos. Muitas vezes,
eles vivem uma vida editada e em busca da tão sonhada “perfeição” e da
“vida ideal” para postar nas redes. Ou, ainda, em busca do “melhor ângulo”,
como se fosse possível, na prática, escolher apenas os melhores momentos
da vida. Com isso, outra questão que vem à tona e possibilita o debate na
escola se refere à exposição da vida privada: qual é o preço a pagar em nome
dessa exposição? Tal exposição sem limites seria em nome da liberdade de
expressão ou decorrente do fato de as pessoas não suportarem o medo de cair
no anonimato e/ou no esquecimento?
Ainda em relação a questões filosóficas, é possível destacar o respeito às
diferentes culturas, em um mundo cada vez mais miscigenado e globalizado.
Independentemente dos motivos, cada vez mais o movimento migratório entre
as nações aumenta a necessidade de se discutir a importância do respeito e,
principalmente, do conhecimento em relação às diferentes culturas do mundo. O
que motiva tais hábitos, crenças e atitudes? O melhor é comer carne de vaca ou
cultuar a vaca? Essas questões estão colocadas aqui propositalmente para você
refletir o quanto a discussão e o conhecimento sobre as diferentes culturas são
necessários para respeitar as crenças de cada povo, de cada indivíduo, indepen-
dentemente de você aceitá-las ou não, gostar delas ou não. Afinal, o fato de gostar
de carne vermelha não faz um brasileiro melhor do que um indiano; tampouco
dá ao primeiro o direito de desrespeitar a crença do segundo e vice-versa.

Vivemos um momento histórico conturbado em que não só a filosofia da


história, mas também a razão e a subjetividade, os fundamentos e os valores,
as identidades e as certezas se tornam ambíguos. O estremecimento desses
conceitos angulares, que orientam o pensamento e a ação do homem moder-
no, afeta a vida em todas as suas dimensões. Particularmente a educação se
vê diante de novos desafios que são cruciais para o estabelecimento de seus
objetivos e suas práticas. Não sendo possível voltar no tempo e recuperar os
Noções de filosofia da educação: o Mito da Caverna 3

fundamentos e valores do passado nem tolerável seguir vivendo na instabi-


lidade, torna-se premente encontrar novas formas de legitimação. Essa é a
tarefa que a Filosofia e, no contexto da educação, a Filosofia da Educação
pode e deve assumir (GOERGEN, 2006, p. 591).

Vem daí a necessidade de discutir esses e outros aspectos em sala de aula, com
os alunos, colegas professores, direção escolar. Tais questões já estão instauradas
e, como você acabou de ver, não é possível voltar no tempo e tampouco ignorar
tais fatos, já que eles provocam uma mudança nos hábitos, como ocorre no caso
das tecnologias e das redes sociais digitais. Como fechar os olhos para o fato de
que um aluno está postando toda a sua rotina nas redes sociais digitais e pode ter
sua vida íntima “invadida” e exposta, sem sua permissão, para outros colegas e
até mesmo para pessoas desconhecidas? Em vez de você questionar de quem é a
responsabilidade em relação aos jovens (até mesmo crianças), o debate deveria
girar em torno do que fazer para evitar esse tipo de acontecimento. E, ainda, de
que forma a escola e os professores podem preparar os alunos para agir e reagir
diante dessas e de tantas outras situações da vida cotidiana?
A Figura 1 remete a uma reflexão acerca desse novo comportamento rela-
cionado ao uso das redes sociais digitais e às questões filosóficas, já destacadas
anteriormente, resultantes desses novos hábitos. A partir da figura, você pode
refletir sobre o quanto está refém e prisioneiro dessa tecnologia que veio para
trazer benefícios, mas que abre o debate para novas questões importantes, que
envolvem toda a comunidade escolar.

Figura 1. O comportamento humano em relação às redes sociais.


Fonte: Iconic Bestiary/Shutterstock.com.
4 Noções de filosofia da educação: o Mito da Caverna

A ética é a arte da convivência: esse é o tema da


palestra do professor Clóvis de Barros Filho no
­TEDxSãoPaulo. Essa palestra é uma oportunidade
para você compreender um pouco mais sobre ética e
refletir acerca do assunto. Assista ao vídeo acessando
o link ou código a seguir.

https://goo.gl/NB9GeU

A filosofia da educação inspirando a formação e


a prática docente
Quando se pensa em filosofia, logo vêm à mente nomes como Platão, Sócrates,
Aristóteles e tantos outros pensadores importantes da área. Mas e a filosofia da
educação? Com qual objetivo surgiu e, nos dias atuais, como pode contribuir
para a formação dos professores? A filosofia da educação no Brasil surgiu com
a chegada dos jesuítas (MAURANO; HENNING, 2013) e, conforme aponta
Severino (2000, p. 273): “[...] a formação dos educadores bem como de seus
educandos confundia-se com sua formação religiosa”. Assim, a filosofia da
educação no Brasil assumiu um cunho muito mais ideológico, fugindo da
essência da filosofia e da educação que visam, juntas, promover uma análise
reflexiva em relação à vida e às suas diferentes situações.
Maurano e Henning (2013, p. 8.265) consideram que a filosofia da educação,
quando surgiu, não cumpria com seu principal papel, uma vez que:

[...] o seu surgimento não ocorreu sob o pensamento crítico, questionador,


exigente, mas sim sob um pensamento que só perpetuava a situação vigente,
o poder da Igreja. A disciplina era desenvolvida simplesmente como elemento
de ensino, não promovendo questionamentos sobre si mesma e sobre os fins
da Educação “brasileira”.

Nesse sentido, você pode considerar que a essência da filosofia não


estava sendo contemplada, tampouco a da filosofia da educação, pois esta
consiste em promover uma visão crítica da realidade. Por isso a filosofia
da educação é tão importante na formação dos professores: ela contribui
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em sua formação enquanto profissionais capazes de assumir uma postura


crítica e um pensamento autônomo diante de diferentes situações. Além
disso, essa formação possível com a filosofia da educação possibilita que
o aluno, ao partir para a sua prática enquanto professor, compartilhe essa
postura crítica com seus estudantes. Dessa forma, ele poderá fazer com que
eles sejam questionadores e curiosos em seu dia a dia. Afinal, como você
sabe, a escola e os ensinamentos promovidos por ela vão além de fórmulas
matemáticas e conjugações verbais.
O papel principal da escola, por meio de seus professores, é o de promover
a educação. Para Dewey (1979b, p. 10), “A educação é para a vida social aquilo
que a nutrição e a reprodução são para a vida fisiológica”. Assim, para aprender
fórmulas e verbos, o aluno (seu aluno e você enquanto aluno) não precisa sair
da sua casa, basta acessar a internet e tudo está disponível nela, com exemplos
práticos e reais. A escola tem um papel muito maior e, para desenvolver esse
papel, o professor é seu principal aliado. Ele está à frente dos alunos no dia a
dia, sendo capaz de auxiliá-los na busca pelo entendimento da prática, além
de aliar essa prática com a teoria dos livros didáticos, já que:

A virada da prática no campo do conhecimento moderno não significa, en-


tretanto, um esquecimento da teoria, esvaziada dos seus fundamentos em
benefício de metodologias e técnicas. Antes disso, significa que há uma
nova interdependência entre o teórico e o prático, e não a simples diluição
de um dos polos contrastantes no outro. Em síntese, de certo ponto de vista,
se a teoria não for prática, isto é, se ela não impelir à ação, torna-se inócua,
vazia e sem sentido para o mundo em que vivemos. E, de outro, a prática
nesse contexto não pode mais ser concebida como um agir empírico e sem
princípios, uma vez que ela surge impulsionada justamente por uma teoria
(TREVISAN, 2011, p. 204).

Por esse motivo, o professor é fundamental para fazer o elo entre o aluno, a
teoria e a prática. Essa ligação será significativa para ambos, pois não é apenas
o aluno que aprende: quando aluno e professor assumirem essa postura indaga-
dora diante da realidade apresentada, quando forem além do que está posto e
exposto e buscarem na origem da filosofia uma atitude questionadora, a escola
terá cumprido seu papel de transformar os sujeitos envolvidos no processo de
ensino-aprendizagem. Isso mesmo que ao fim desses questionamentos eles se
deem conta de que, assim como Sócrates, nada sabem.
A filosofia da educação, nas palavras de Antônio Severino (1994, p. 28),
“É uma reflexão filosófica sobre a educação”. Ou seja, é o olhar da filosofia
sobre a educação. A educação é posta como uma questão, como um problema.
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Por esse motivo, ela passa a ser tratada como uma questão filosófica. Assim,
alguns questionamentos resultam desse olhar, por exemplo, o ser humano é
educável? Num primeiro momento, sua resposta será imediatamente sim, pois
essa questão soa como obviedade. Mas obviedade não existe na filosofia. Nesse
sentido, então, você deve ir em busca de uma resposta. Se responder que sim,
então afirma que o ser humano é, sim, passível de ser educado. Assim, ao
conceber o ser humano como educável, você pode perceber que ele não nasce
pronto, que precisa ser desenvolvido e que o que pode proporcionar isso é a
educação, por meio dos professores.

“Só sei que nada sei”: essa é uma frase célebre de um grande nome da filosofia. Ela foi
dita por Sócrates. O pensamento do filósofo grego Sócrates, que viveu entre 469 e
399 a.C., marca uma reviravolta na história humana. Antes de Sócrates, a filosofia tentava
explicar o mundo baseada na observação das forças da natureza. A partir dele, o ser
humano voltou-se para si mesmo, concentrando a filosofia no homem e em sua alma.
Sócrates tinha a preocupação de levar as pessoas, por meio do autoconhecimento,
à sabedoria e à prática do bem. Vem daí a importância de você conhecer mais sobre
esse grande pensador. Assim, pode compreender como melhorar seu entendimento
da prática docente.
A frase “Só sei que nada sei” tem muito significado para os professores. Afinal, eles
têm o papel de atuar como mediadores em sala de aula, na posição daquele que não
sabe tudo e que está disposto a dividir o pouco que sabe com seus alunos.
Saiba mais sobre quem foi Sócrates e conheça a origem dessa e de outras frases
no link a seguir.

https://goo.gl/h1UBhS

Desafios da educação: do Mito da Caverna à


atualidade
Ao estudar filosofia, mesmo em uma disciplina isolada, o Mito da Caverna de
Platão estará presente, pois se trata de um clássico da filosofia. Além disso,
Platão geralmente é um dos primeiros filósofos a ser estudado, uma vez que é
indiscutivelmente reconhecido como um dos maiores pensadores da filosofia.
Você pode considerar o Mito da Caverna uma importante passagem para o
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surgimento da filosofia. Ele também é chamado de “alegoria da caverna” e é


parte integrante do Livro VII de A República, de Platão. Aranha e Martins
(1997) contam que o mito é um diálogo apresentado por Platão, com falas de
Sócrates na primeira pessoa e dois interlocutores, Glauco e Adimanto, irmãos
mais novos de Platão.
A descrição feita por Platão (1993) apresenta uma imagem (veja a Figura 2)
de muitos homens em uma caverna. Esses homens, na verdade, se encontram
aprisionados na caverna. Desde seu nascimento eles foram acorrentados no
interior dela, podendo olhar apenas para uma parede iluminada por uma
fogueira. A fogueira, conforme a descrição, é utilizada para iluminar uma
espécie de cenário. Esse cenário representa o cotidiano, com alguns seres vivos
(homens, plantas, animais, etc.) que estão dispostos de forma a representar
uma espécie de rotina, o dia a dia de uma vida corriqueira.
Aos prisioneiros é permitido ver apenas a imagem projetada na parede por
meio da luz da fogueira que reflete o cenário. Ao visualizarem as sombras,
eles pensam que essas sombras são os seres vivos, pois desconhecem o cenário
existente na caverna. O tempo vai passando e esses homens vão dando nomes
a essas sombras (assim como se faz nos dias de hoje com os objetos e seres
novos que são descobertos). Além disso, eles vão registrando a regularidade
das aparições dessas sombras. Os prisioneiros criam inclusive campeonatos
para ver quem acerta os nomes e a regularidade das aparições, como uma
forma de se divertirem.
Ainda na descrição de Platão (1993), um dos prisioneiros, certo dia, é
forçado a sair das amarras e vasculhar o interior da caverna. Assim que
se depara com a fogueira e o cenário, ele percebe que o que permitia a
visão era a fogueira. Também se dá conta de que as imagens, que para os
prisioneiros pareciam seres reais, não passavam das sombras que o fogo
criava ao ser projetado no cenário. O que era real eram as estátuas, e não
as sombras.
O prisioneiro se dá conta de que passou a vida inteira julgando apenas
sombras e ilusões, desconhecendo a verdade, isto é, estando afastado da
verdadeira realidade. Assim, ele é arrastado para fora da caverna e, quando
sai, a luz do sol ofusca sua visão imediatamente. Por isso, é necessário
certo tempo para que ele se habitue a essa nova realidade, podendo assim
voltar a enxergar as maravilhas fora da caverna. Ele percebe então que
os seres que eles consideravam vivos possuíam outras características e
qualidades que as sombras não mostravam. Além disso, percebe que o Sol
é a fonte da luz que o faz ver o real, bem como é dessa fonte que provém
toda existência.
8 Noções de filosofia da educação: o Mito da Caverna

O ex-prisioneiro fica entusiasmado com o novo mundo e com todas as


suas possibilidades, então ele se lembra dos seus antigos amigos no interior da
caverna e da vida que lá levavam. De imediato, sente pena deles, da escuridão
que os cercava. Então decide voltar à caverna para compartilhar com os amigos
o novo mundo que descobriu. Porém, seus amigos continuam prisioneiros e
apenas com a visão da caverna, assim debocham do amigo e dizem que ele
está louco e que, se não parar com suas maluquices, irão matá-lo.

Figura 2. O Mito da Caverna.


Fonte: Oliveira ([2018?]).

Agora, voltando aos dias de hoje, você pode se questionar o seguinte: quanto
o Mito da Caverna, descrito por Platão, tem relação com a contemporaneidade?

O que é a caverna? O mundo de aparência em que vivemos. Que são as som-


bras projetadas no fundo? As coisas que percebemos. Que são os grilhões
e as correntes? Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que o que
estamos percebendo é realidade. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da
caverna? O filósofo. O que é a luz do Sol? A luz da verdade. O que é o mundo
iluminado pelo sol da verdade? A realidade. Qual o instrumento que liberta
o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros?
A Filosofia (CHAUÍ, 2004, p. 12).

De forma bem sucinta e direta, a filósofa Chauí relaciona a transcrição de


Platão com os dias atuais. Indo além, você pode considerar que a caverna é
Noções de filosofia da educação: o Mito da Caverna 9

uma prisão, mas não necessariamente uma prisão formal, como as que você
conhece. Enquanto professor, você pode considerar que na caverna podem
estar aprisionados os desejos que os professores têm de uma educação de
qualidade, com condições melhores para todos os envolvidos no contexto
educacional. O prisioneiro que fugiu pode ser um professor que iniciou sua
prática docente decidido a fazer a diferença e, ao tentar pequenas mudanças,
percebe que é possível. Imediatamente quer compartilhar com seus colegas,
mas eles, já cansados dos desafios e da árdua caminhada, o consideram louco.
O sistema educacional brasileiro, suas condições de trabalho e remuneração
podem ser a caverna. Mesmo que muitos professores tenham o desejo de
tentar o novo, assim como o prisioneiro que conseguiu sair, ao voltarem para
contar que é possível, são mortos por esse sistema, que é mais forte do que o
desejo de mudança.
Além disso, a televisão e as redes sociais digitais também podem ser uma
caverna e aprisionar as pessoas, mostrando apenas um ângulo das situações.
Quem não consegue se desprender das amarras passa a considerar esse único
ângulo que conhece como uma verdade absoluta, e o que for diferente dessa
sombra projetada passa a ser visto como loucura ou devaneio. Porém, seu papel
enquanto professor é o de lutar contra as amarras, sejam elas representadas
por seus medos, seus preconceitos em relação ao próximo ou a conceitos que
você forma da realidade. Essas amarras também podem ser representadas
pelas incertezas da trajetória profissional e pelas dificuldades relacionadas
à infraestrutura e à remuneração da carreira docente. Você precisa se des-
prender e, ao encarar esse novo, a luz que ofusca seu olhar, enfrentá-lo e
descobrir um novo mundo, de grandes descobertas e diferentes ângulos, capaz
de transformar vidas.
O Mito da Caverna de Platão propõe (de forma provocativa) uma reflexão
acerca da libertação. As correntes, as sombras, a prisão e a falta de luz podem
ser vistas como a comodidade, a preguiça ou o medo que as pessoas têm de
sair da zona de conforto e tentar algo novo, seja na área que for das suas vidas.
Esses sentimentos, de forma metafórica, estão presentes no Mito da Caverna.
Além deles, você também pode se deparar com a enganação, que impossibilita
os prisioneiros de saírem daquela falta de movimento. Mas, de repente, um
deles consegue soltar-se, sair da caverna e ver como o mundo é, sem desvios
e de forma consciente, livre e racional. A partir daí, pode comparar as di-
ferentes realidades e fazer suas escolhas. Dessa forma, você pode perceber
que o Mito da Caverna possibilita diversas interpretações muito atuais para
o mundo contemporâneo.
10 Noções de filosofia da educação: o Mito da Caverna

ARANHA, M. L. A. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo:


Moderna, 1997.
CHAUÍ, M. S. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2004.
DEWEY, J. Democracia e educação: introdução à filosofia da educação. 4. ed. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1979. (Atualidades Pedagógicas, v. 21).
GOERGEN, P. Questões im-pertinentes para a filosofia da educação. Educação e Pes-
quisa, v. 32, n. 3, p. 589-606, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/
ep/v32n3/a11v32n3.pdf>. Acesso em: 9 maio 2018.
MAURANO, L. M. S.; HENNING, L. M. P. A origem da filosofia da educação brasileira
está atrelada à preocupação com a formação de professores? In: SEMINÁRIO INTER-
NACIONAL DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, SUBJETIVIDADE E EDUCAÇÃO, 2., 2013,
Curitiba. Anais... Curitiba: PUCPR, 2013. p. 8252-8268. Disponível em: <http://educere.
bruc.com.br/arquivo/pdf2013/8687_6486.pdf> Acesso em: 9 maio 2018.
OLIVEIRA, C. Prisioneiros da caverna. [2018?]. Disponível em: <http://www.astropt.
org/2018/03/05/prisioneiros-da-caverna/>. Acesso em: 9 maio 2018.
PLATÃO. A República. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993
SEVERINO, A. J. Filosofia da educação: construindo a cidadania. São Paulo: FTD, 1994.
TREVISAN, A. L. Filosofia da educação e formação de professores no velho dilema
entre teoria e prática. Educar em Revista, n. 42, p. 195-212, 2011. Disponível em: <http://
www.redalyc.org/articulo.oa?id=155022262013>. Acesso em: 9 maio 2018.

Leituras recomendadas
BARROS FILHO, C. A ética é a arte da convivência. Youtube, 3 jan. 2018. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=6JLIXd6db-4> Acesso em: 9 maio 2018.
DEMO, P. Ironias da educação: mudanças e contos sobre mudança. Rio de Janeiro:
DP&A, 2000.
SUPER INTERESSANTE. “Só sei que nada sei”, Sócrates. 2016. Disponível em: <https://
super.abril.com.br/ideias/so-sei-que-nada-sei-socrates/>. Acesso em: 9 maio 2018.

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