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Reflexão crítica sobre o texto: “Pode a Escola portuguesa ser uma escola mais
inclusiva?"
Pinar (2007) define currículo escolar como o que escolhemos lembrar do nosso
passado, o que acreditamos em relação ao presente, o que esperamos para o futuro. Esta
afirmação pode levar-nos a questionar o que deve ser ensinado nas escolas e a maneira de
como é transmitida a mensagem para os alunos. Do ponto de vista histórico, esta questão
começou a ser respondida em 1918, por John Franklin Bobbitt, na obra “The curriculum”
(Trindade, s.d.). Esta foi uma tentativa de responder aos desafios que sugiram devido à
massificação das escolas norte-americanas, e mostra a importância de um corpo de
profissionais especializado, que não fossem professores (Trindade, s.d.).
Mais tarde, Ralph Tyler, na sua obra “Princípios básicos de currículo e ensino”,
deu continuidade ao trabalho de Bobbitt, em que aprofunda a racionalidade técnica no
campo de gestão e desenvolvimento curricular, ao fazer perguntas que exploram a
necessidade de procurar finalidades para o sistema educativo da época. Assim, nasce a
Racionalidade Tecnocrática, sustentada numa racionalidade meritocrática que, ao
contrário do que era defendido anteriormente na racionalidade tradicional, procura
promover o desenvolvimento académico com base no mérito do aluno, através de
diferentes técnicas de ensino, procurando uma maior eficiência das ações educativas com
a finalidade de combater o insucesso escolar (Trindade, s.d.). Esta abordagem procura
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assim uma retórica de igualdade de oportunidades, recusando-se a fabricar o insucesso
escolar e sim formar diferentes e distintos tipos de sucessos quanto ao valor social e
educativo (Trindade, s.d.). Sustenta a ideia de que o professor tem um papel fundamental
no centro de atividade educativa na sala de aula, procurando promover novos modos de
pensar e agir dos alunos, tendo o poder de gerir os conteúdos e as suas sequências
relacionando com o tipo de interação com os mesmos, ou seja, é favorecida a execução
de projetos curricularmente mais flexíveis, estando esta racionalidade meritocrática
subjacente à ideia de escola inclusiva (Trindade, s.d.). A inclusão educativa pretende a
valorização e melhor apoio pedagógico ao aluno, principalmente aqueles com maiores
dificuldades de aprendizagem, organizando sessões tutoriais (Trindade, s.d.).
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As teorias críticas tentam abordar a dimensão sociológica da Escola. O que
distancia as teorias críticas das reproducionistas, é que ignoram ou subestimam a reflexão
sobre o currículo, põe em segundo plano a inteligência e valorizam as competências gerais
dos intervenientes, tanto alunos como professores (Trindade, s.d.). Neste caso, a inclusão
educativa passa a ser uma possibilidade que depende apenas da rutura com o paradigma
pedagógico da instrução. Esta perspetiva inclusiva das teorias críticas visam a apropriação
de conhecimentos, e não a sua reprodução. Respeitam-se as singularidades dos alunos,
sendo a sua relação com o conhecimento mais arbitrária, e não determinada pela vontade
do professor.
Uma outra abordagem que se afasta das teorias reproducionistas são as teorias pós-
-críticas. Estas concentram a sua atenção em questões e preocupações políticas e sociais,
que historicamente foram sendo sujeitos a processos de discriminação, como temáticas
referentes a identidade de género, estudos feministas, identidade ética e racial. As
preocupações com a multiculturalidade estão na base destas teorias, com reconhecimento
e aplicação no currículo de temáticas anteriormente elencadas, como género, raça ou
sexualidade, e não se circunscreverem apenas a categorias como a classe social. Nas
teorias pós-críticas a inclusão educativa salienta a falta de visibilidade dos alunos nos
assuntos escolares e a necessidade de incluir assuntos que lhes sejam mais apelativos. É
também importante adaptar o currículo às necessidades e interesses dos alunos e não o
contrário. Estes têm de ser ouvidos, não só para se sentirem parte integrantes nos assuntos
escolares, mas também para que estejam mais motivados e familiarizados com o que está
a ser estudado. Caso contrário, como poderemos defender que temos ou queremos uma
escola inclusiva, se os intervenientes principais não se sentem ouvidos e tidos em conta
nas decisões escolares?
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Em termos práticos, podemos observar a evolução das escolas em diversos
momentos. Inicialmente separava-se meninos e meninas, depois começou a haver
necessidade de lecionar educação sexual e cidadania e nos dias de hoje começa-se a ouvir
o debate sobre as casas de banho inclusivas para todas as identidades de género não
binárias, sendo comprovado que a evolução vai aparecendo conforme a necessidade e
evolução da sociedade. Sabendo disto e em contrapartida, temos por outro lado uma classe
docente bastante envelhecida, com uma difícil aceitação às novas realidades que a
sociedade mais jovem apresenta, uma sociedade capitalista com ideias de “família
tradicional” e de identidades de género bastante raizadas, fazendo com que a tarefa de
uma maior inclusão nas escolas portuguesas seja algo muito mais complicado de
concretizar do que seria esperado na teoria. Para além disso, as classificações a nível
escolar têm um grande peso na vida de todos nós, sendo essas as únicas experiências que
contam para o acesso à educação superior ou aos trabalhos com melhores renumerações,
por isto, numa perspetiva de escola inclusiva, não é possível colocar em segundo plano o
desempenho académico tendo por isso que existir um equilíbrio entre os mesmos e
competências sociais e de comunicação.
Referências bibliográficas
Trindade, R. (s.d.). Pode a Escola portuguesa ser uma escola mais inclusiva?