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Autores: Alexandre Gandra e Marco Teixeira janeiro 2023

Docente: Rui Trindade

Reflexão crítica sobre o texto: “Pode a Escola portuguesa ser uma escola mais

inclusiva?"

No âmbito da Unidade Curricular (UC) de Desenvolvimento Curricular e


Avaliação, pertencente ao Mestrado em Ensino de Biologia e de Geologia no 3° ciclo do
Ensino Básico e no Ensino Secundário, expomos de seguida a nossa reflexão crítica
referente á possibilidade de a Escola poder ser mais inclusiva.

De forma a alcançar uma conclusão acerca do tema, o grupo analisou e explorou


artigos referentes á Escola e educação inclusiva e o relatório fornecido pelo professor Rui
Trindade. Ao longo desta reflexão, abordaremos as teorias desenvolvidas ao longo dos
anos acerca do tema e tentaremos responder á questão central, mas dando sempre um
cunho e opinião pessoal acerca dos assuntos, tendo por base experiências pessoais dos
alunos.

Pinar (2007) define currículo escolar como o que escolhemos lembrar do nosso
passado, o que acreditamos em relação ao presente, o que esperamos para o futuro. Esta
afirmação pode levar-nos a questionar o que deve ser ensinado nas escolas e a maneira de
como é transmitida a mensagem para os alunos. Do ponto de vista histórico, esta questão
começou a ser respondida em 1918, por John Franklin Bobbitt, na obra “The curriculum”
(Trindade, s.d.). Esta foi uma tentativa de responder aos desafios que sugiram devido à
massificação das escolas norte-americanas, e mostra a importância de um corpo de
profissionais especializado, que não fossem professores (Trindade, s.d.).

Mais tarde, Ralph Tyler, na sua obra “Princípios básicos de currículo e ensino”,
deu continuidade ao trabalho de Bobbitt, em que aprofunda a racionalidade técnica no
campo de gestão e desenvolvimento curricular, ao fazer perguntas que exploram a
necessidade de procurar finalidades para o sistema educativo da época. Assim, nasce a
Racionalidade Tecnocrática, sustentada numa racionalidade meritocrática que, ao
contrário do que era defendido anteriormente na racionalidade tradicional, procura
promover o desenvolvimento académico com base no mérito do aluno, através de
diferentes técnicas de ensino, procurando uma maior eficiência das ações educativas com
a finalidade de combater o insucesso escolar (Trindade, s.d.). Esta abordagem procura

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assim uma retórica de igualdade de oportunidades, recusando-se a fabricar o insucesso
escolar e sim formar diferentes e distintos tipos de sucessos quanto ao valor social e
educativo (Trindade, s.d.). Sustenta a ideia de que o professor tem um papel fundamental
no centro de atividade educativa na sala de aula, procurando promover novos modos de
pensar e agir dos alunos, tendo o poder de gerir os conteúdos e as suas sequências
relacionando com o tipo de interação com os mesmos, ou seja, é favorecida a execução
de projetos curricularmente mais flexíveis, estando esta racionalidade meritocrática
subjacente à ideia de escola inclusiva (Trindade, s.d.). A inclusão educativa pretende a
valorização e melhor apoio pedagógico ao aluno, principalmente aqueles com maiores
dificuldades de aprendizagem, organizando sessões tutoriais (Trindade, s.d.).

Contudo, na opinião do grupo, no caso do projeto meritocrático, estas propostas


apesar de estarem aqui subjacentes conceitos de educação inclusiva, elas não estimulam
o desenvolvimento das capacidades dos alunos, não havendo consideração acerca da
singularidade de cada educando e promovem a ignorância e subjugação dos mesmos
perante uma entidade central, neste caso o Professor, que tem controlo sobre o currículo
e os alunos.

As teorias curriculares reproducionistas dizem-nos que existe uma


correspondência nítida e incontestável entre sucesso escolar e classe social a que os alunos
pertencem (Trindade, s.d.). Ou seja, alunos de estratos sociais mais altos têm maior
sucesso académico, enquanto o contrário se verifica nos mais desfavorecidos. Estas
teorias evidenciam que é impossível negar isto, sendo até incontestável, e ainda clamam
que a Escola não pode ser inclusiva numa sociedade capitalista, sendo que, a sociedade
se baseia nas desigualdades e na reprodução das mesmas (Trindade, s.d.). Estas teorias
estão ligadas a um aumento da produtividade, num panorama de segunda guerra mundial,
o que veio apoiar a ideia da Racionalidade Tradicional, que defende que o insucesso
escolar e o abandono escolar não seria algo negativo em certos casos, ou seja, desde que
uma parte da população, mesmo que muito pequena, tenha um nível de escolarização
elevado (as elites), não será prejudicial para a economia que a restante percentagem seja
menos instruída. Aliás, no nosso entender, isto pode ter resultado pois sendo a classe
operária menos instruída, esta era menos capacitada para se revoltar e contestar certas
decisões das elites, que tinham altos cargos políticos e sociais.

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As teorias críticas tentam abordar a dimensão sociológica da Escola. O que
distancia as teorias críticas das reproducionistas, é que ignoram ou subestimam a reflexão
sobre o currículo, põe em segundo plano a inteligência e valorizam as competências gerais
dos intervenientes, tanto alunos como professores (Trindade, s.d.). Neste caso, a inclusão
educativa passa a ser uma possibilidade que depende apenas da rutura com o paradigma
pedagógico da instrução. Esta perspetiva inclusiva das teorias críticas visam a apropriação
de conhecimentos, e não a sua reprodução. Respeitam-se as singularidades dos alunos,
sendo a sua relação com o conhecimento mais arbitrária, e não determinada pela vontade
do professor.

Uma outra abordagem que se afasta das teorias reproducionistas são as teorias pós-
-críticas. Estas concentram a sua atenção em questões e preocupações políticas e sociais,
que historicamente foram sendo sujeitos a processos de discriminação, como temáticas
referentes a identidade de género, estudos feministas, identidade ética e racial. As
preocupações com a multiculturalidade estão na base destas teorias, com reconhecimento
e aplicação no currículo de temáticas anteriormente elencadas, como género, raça ou
sexualidade, e não se circunscreverem apenas a categorias como a classe social. Nas
teorias pós-críticas a inclusão educativa salienta a falta de visibilidade dos alunos nos
assuntos escolares e a necessidade de incluir assuntos que lhes sejam mais apelativos. É
também importante adaptar o currículo às necessidades e interesses dos alunos e não o
contrário. Estes têm de ser ouvidos, não só para se sentirem parte integrantes nos assuntos
escolares, mas também para que estejam mais motivados e familiarizados com o que está
a ser estudado. Caso contrário, como poderemos defender que temos ou queremos uma
escola inclusiva, se os intervenientes principais não se sentem ouvidos e tidos em conta
nas decisões escolares?

Sendo urgente esta mudança de paradigma, não a conseguimos dissociar com o


facto de a classe docente estar envelhecida, provavelmente muito enraizada em costumes
e metodologias de ensino tradicionais, com aulas intensamente expositivas e baseadas no
manual. Nós vivemos isto e sabemos a necessidade de mudança nos métodos de ensino,
estimulando o pensamento critico, criando debates, saídas de campo, roll play, tentando
alcançar o maior número de alunos e estimular a interação entre o número máximo de
intervenientes (como defende o socioconstrutivismo com a interação professor-aluno e
aluno-aluno, que coadjuva no desenvolvimento cognitivo e a adquirir conhecimento).

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Em termos práticos, podemos observar a evolução das escolas em diversos
momentos. Inicialmente separava-se meninos e meninas, depois começou a haver
necessidade de lecionar educação sexual e cidadania e nos dias de hoje começa-se a ouvir
o debate sobre as casas de banho inclusivas para todas as identidades de género não
binárias, sendo comprovado que a evolução vai aparecendo conforme a necessidade e
evolução da sociedade. Sabendo disto e em contrapartida, temos por outro lado uma classe
docente bastante envelhecida, com uma difícil aceitação às novas realidades que a
sociedade mais jovem apresenta, uma sociedade capitalista com ideias de “família
tradicional” e de identidades de género bastante raizadas, fazendo com que a tarefa de
uma maior inclusão nas escolas portuguesas seja algo muito mais complicado de
concretizar do que seria esperado na teoria. Para além disso, as classificações a nível
escolar têm um grande peso na vida de todos nós, sendo essas as únicas experiências que
contam para o acesso à educação superior ou aos trabalhos com melhores renumerações,
por isto, numa perspetiva de escola inclusiva, não é possível colocar em segundo plano o
desempenho académico tendo por isso que existir um equilíbrio entre os mesmos e
competências sociais e de comunicação.

Em suma, como mostra a história, a sociedade está sempre a evoluir sendo


necessária uma constante adaptação por parte das escolas às novas necessidades, por mais
difícil que seja a sua realização. Assim sendo, sabemos que é sempre possível uma Escola
Portuguesa mais inclusiva, considerando desde já que este será um processo gradual que
necessita uma consciencialização aprofundada por parte da classe docente e da própria
sociedade. Os alunos necessitam de ser ouvidos e tidos em consideração nas decisões
escolares e adaptações do currículo, bem como de serem estimulados por via de uma
maior interação entre os intervenientes dentro de uma sala de aula, através de materiais,
matérias e metodologias de ensino que cativem e promovam o desenvolvimento cognitivo
dos alunos.

Referências bibliográficas

Pinar, W. F. (2007). O que é a teoria curricular? Porto: Porto Editora

Trindade, R. (s.d.). Pode a Escola portuguesa ser uma escola mais inclusiva?

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