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ATUAÇÃO E DESAFIOS NA PEDAGOGIA HOSPITALAR

Priscila Tavares Cezar de Araújo


RESUMO

Atualmente a preocupação com a educação em diversos segmentos são discutidas


pesquisadores da Educação, contando recentemente com a influência dos
estudiosos da Pedagogia que hoje atua em várias áreas, inclusive a área hospitalar.
Há inúmeras publicações acadêmicas referentes aos temas abordados, nos cursos
de Pedagogia e licenciaturas no Brasil, tais discussões ainda são discretas. O
presente trabalho de pesquisa objetiva realizar uma reflexão a respeito da inserção
da Pedagogia na área hospitalar, pois essa área apresenta especificidades, com
elementos agregando princípios, ideias e conceitos. A justificativa pela escolha da
temática ocorreu através do pelo fato do modo em que está sendo organizada a
Pedagogia Hospitalar em nosso país. Metodologicamente a pesquisa escolhida foi a
quantitativa, e o tipo de estudo escolhido foi o levantamento bibliográfico.

Palavras Chaves: Pedagogia, Pedagogia Hospitalar, Hospitalização.

INTRODUÇÃO

O pedagogo que é um profissional que reflete sobre a prática cotidiana


buscando a compreensão de características específicas dos processos e sobre o
contexto em que o ensino tem lugar para seja facilitado o desenvolvimento
autônomo e emancipador dos participantes do processo educativo,
independentemente do local onde ensina. Todo o processo de ensino aprendizagem
enquanto atividade articulada e conjunta entre aluno e professor, é uma atividade
construtivista de aprendizagem contínua, situa a atividade mental construtiva do
aluno baseada em processos de desenvolvimento pessoal que automaticamente
promove a educação escolar.
A problemática em que concerne o tema, vai de encontro de que atualmente
convivemos em um cenário marcado por inúmeras transformações sócio culturais,
epistemológicas, ideológicas, profissionais, que estruturam uma avalanche
revolucionária nos campos de conhecimento, da informação e da tecnologia, que
também é responsável pela educação das novas gerações, e quando essas
gerações encontram-se impossibilitadas de estarem no ambiente escolar, a escola
deve ir até elas. Justificando a importância do pedagogo estar atualizado diante da
sua prática docente, e diante da absoluta verdade que a formação profissional trata-
se de um processo contínuo de construção do interesse do aprendiz pelo processo
ensino aprendizagem muitas vezes baseados em ações cotidiana inesperadas como
uma internação, em que o afasta desse processo, deixando excluso.
O presente trabalho, busca esclarecer sobre a prática atual da pedagogia
docente, considerando a presença dos principais personagens que são o professor,
a criança e adolescente hospitalizados e o conhecimento, isto é diretamente atrelada
a componentes sociais, pedagógicos e psicológicos que caracterizam o ensino
viabilizado pela prática docente mesmo dentro de uma instituição fechada e repleta
de regras como um hospital.
Metodologicamente, a revisão de literatura exige uma postura do pesquisador
comprometida e engajada com a crítica sobre o estado atual do conhecimento de
sua área de interesse. Para isso, faz-se necessária a comparação e contraste de
abordagens teórico-metodológicas utilizadas, avaliação da confiabilidade dos
resultados de maneira que sejam identificados os pontos de consenso,
controvérsias, regiões e lacunas que precisam ser esclarecidos. Em função da
necessidade de compreensão destas áreas, a seguir, serão analisadas suas
especificidades.
A pesquisa escolhida foi a descritiva, de natureza quantitativa, que se
preocupa em entender a realidade de forma a ultrapassar os fenômenos percebidos
pelos sentidos, sendo capaz de trazer, para o interior da análise, o subjetivo e o
objetivo, os atores sociais e o meio em que estão inseridos de modo empírico. O tipo
de estudo escolhido foi o levantamento bibliográfico.

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DESENVOLVIMENTO

A Pedagogia Hospitalar e suas relações com a Pedagogia Social. As


transformações econômicas mundiais e especificamente do Brasil enfrenta que cada
vez mais tarefas de maneira que sejam atribuídas inovações e adaptações tanto
para o educador e para os educandos. (SOUZA, 2019)
Tradicionalmente a Pedagogia é caracterizada pela tradição de ser
constituída de modo unilateral entre educadores e alunos, enquanto que a
Pedagogia Nova, explicita o trabalho em conjunto de novas descobertas entre os
educadores e o educandos, buscando juntar inúmeras dimensões que fazem parte
do desenvolvimento humano. (TRIVINOS, 2006)
Nos anos 90 as discussões referente a escola, pelos pesquisadores, que de
vez em quando privilegiavam as críticas da escola como reprodutora das relações
sociais e outras vezes restringia-se na discussão das experiências entre as classes
populares buscando a possibilidade de aquisição da consciência crítica. (APPLE,
2017)
A Pedagogia que se volta somente para os conteúdos culturais entende que
há saberes universais, constituídos em domínios de conhecimento autônomos, que
acabam sendo incorporados pela sociedade e que devem ser reavaliados sempre
devido às realidades sociais, com a assimilação das transmissões das mensagens.
(ROLIM, 2015)
Nóvoa cita o livro "Sociedades sem Escolas" do pesquisador Illich, que na
década de 70, apregoava a ideia de que a escola não resistiria as crises que
enfrentava. No entanto, ressalta o fato que, apesar das críticas que foram
realizadas:
" Nos últimos trinta anos assistiu-se a um crescimento dos sistemas
escolares, que foram invadindo todos os espaços e tempos da vida. O apelo
recente à educação e formação ao longo da vida é o episódio mais recente
de um longo processo de escolarização da sociedade." (NÓVOA, 2002, p.
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Falando dos objetivos da instituição escolar, sempre será voltada para


garantir à todos, o saber, além os preparar para obterem capacidades necessárias a
um domínio de todos os campos, em função também da redução das desigualdades

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que se originam socialmente. As áreas de atuação da pedagogia são vastas
atualmente, e com a ampliação da educação e suas áreas de atuação, a educação
encontra-se presente nos meios de comunicação, nos movimentos ecológicos, nas
Organizações Não Governamentais (ONGs), em meios profissionais, sindicais,
políticos, em que se assiste a uma redescoberta do ramo pedagógico. (ARTIOLI
ROLIM, 2019)
A ação pedagógica deve ser extra muros da escola, temos a pedagogia
familiar, a pedagogia profissional, social, as ações pedagógicas realizadas nos
serviços de saúde são denominadas práticas educativas extra escolares; a crise da
escola em tempos modernos, tem criado espaços alternativos para proteger as
crianças; como não se tem uma unicidade nas ações, pois existe uma multiplicidade
de soluções e políticas, ainda não se tem elementos que permitam avaliar
rigorosamente o impacto acadêmico e social destas políticas. Todavia, está
ocorrendo uma renovação da educação como espaço público. (MOTA, 2000)
Repensar a educação como espaço público, implica em compreender as
razões que impediram a escola de cumprir muitas de suas promessas históricas.
Estas reflexões possibilitam reconciliar a escola com a sociedade e chamar a
sociedade para dentro das escolas, há profissionais que trabalham nestas
modalidades de ensino que se distingue em dois aspectos, como exercendo de
modo sistemática as atividades e os que ocupam parte de seu tempo nas mesmas
sendo classificados como formadores, animadores, instrutores, organizadores,
técnicos, consultores, orientadores, que desenvolviam atividades pedagógicas em
órgãos públicos, privados e públicos, empresas, à cultura, aos serviços de saúde,
promoção social, entre outros. (LIBÂNEO, 2016)
A educação, atualmente não está mais exclusa aos muros escolares, ocorre
através da mídia, em diferentes locais como empresas, hospitais, presídios, e até na
rua. Necessário considerar que, quando os educadores começam a educar em
ambientes diversificados, a educação assume características diferentes das
instituições educacionais formais, porém conservam elementos comuns, sendo
necessário lembrar que tais formas de educação assumem compromissos
significativos com a formação de quem se educa e quem é educado. (COSTA, 2014)

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Analisando as implicações da educação na vida dos educandos, considera
que a educação, nos seus diversos â, familiar, religiosa, não formal, formal, tem a
possibilidade de mediar uma construção sadia da vida. Na medida em que grande
parte da população mundial passa por ela, é imenso o poder que tem a educação de
interferir numa direção sadia a ser dada à vida. Os diferentes cenários educativos
acabam por constituir a cultura da educação escolar atual que vem sendo
modificada devido as transformações sociais. (SOUZA, 2019)
A escola atualmente está enfrentando uma crise devido ao fim do "Estado
educador": E está em um momento de transição, uma zona intermediária,
que atende, tanto aos interesses do Estado, como do setor privado, que
estão oportunizando novos espaços públicos de educação. Ele propõe um
"novo" espaço público da educação, que não se limite a pequenos retoques
na escola pública estatal. Desta maneira, defende a ideia de que é preciso
renovar a escola como espaço público a partir do enfrentamento de três
dilemas que influenciam na profissão docente: a necessidade do professor
saber se relacionar com a comunidade; saber se organizar para ter
autonomia em seu trabalho e saber analisar os fenômenos educativos
através do conhecimento. Esses três aspectos redefinem a presença dos
professores no espaço público da educação. (NÓVOA, 2002.p.56)

A Realidade educacional no Brasil Dentro da nossa realidade social e


política, a educação é sempre colocada em risco, pois, há dois tipos de educação
em nosso país a pública e a privada, sendo necessário sempre discutir o papel e a
necessidade do Estado no âmbito das Políticas Públicas para educação e para o
cuidado integral com as crianças e adolescentes, por isso torna-se necessário
considerar que os movimentos de expansão da educação não formal que se
expande no Brasil, fornece viés das funções reais da escola, o Estado e a educação
formal, não vem cumprindo seu papel, além de representar a elaboração de uma
outra ordem no sistema escolar. (MATTOS, 2004)
No que chamam-se de escolas normais, que possui um modelo excludente,
uniformizador e segregacionista, modelo esse de educação que mostra dificuldades
de cumprir o seu papel em relação às minorias, em que estão inseridas as crianças
e os adolescentes que encontram-se em condições de internações hospitalares. Ao
internar uma criança ou adolescente e são escolarizados muitas vezes, não há por
parte da escola nem dos professores a preocupação do que está acontecendo com
eles. (BELANCIERI, 2018)
Pois muitos desses professores, unificado as complicadas condições de
trabalho associados ao desinteresse pela realidade dos alunos faz com que essas

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crianças e adolescentes sejam abandonadas educacionalmente. Os movimentos de
setores da sociedade civil voltada para a educação para essas minorias procura
mudar essa triste realidade e atender a essas demandas, com novas maneiras de
educação na sociedade brasileira, não somente os modelos de ensino tradicional.
Com os movimentos sociais nos anos90 e através das ações do poder
público, foram desenvolvidas leis como o Estatuto da Criança e do Adolescente ECA
(BRASIL, 1990). Ceccim e Carvalho (1997) também descrevem a lei dos Direitos
das Crianças e dos Adolescente Hospitalizados elaborada pela Sociedade Brasileira
de Pediatria (SBP) e pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA):
Essas leis visam a proteger a infância e juventude e servir como instrumento
para garantia de uma sociedade mais justa. De acordo com Ceccim e
Carvalho, na Resolução n.41, de 13 de Outubro de 1995 da lei dos Direitos
das Crianças e dos Adolescentes Hospitalizados, chancelada pelo Ministério
da Justiça, existem vinte itens em defesa da criança e jovens hospitalizados.
Dentre os artigos apresentados está previsto o direito à educação: "Artigo 9.
Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programa de educação
para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua
permanência hospitalar". (CECCIM e CARVALHO, 1997, p. 188)

É previsto em lei que as crianças devem ter o acompanhamento pedagógico


dentro do hospital devendo haver pedagogos ou professores para dar esse suporte
educacional. (ÕNA, 2005)
Todos os hospitais, públicos ou particulares, pouco tem realizado para
possibilitarem que a criança hospitalizada possua a continuidade com seus estudos;
obviamente há raras exceções que se preocupam em atender as necessidades
biopsicossociais dessa população. (BELANCIERI, 2018)
Os órgãos públicos, educadores e a sociedade em geral, não reconhecem
tais espaços educativos como uma modalidade oficial de ensino no Brasil, pois são
raras as Secretarias de Educação que implantam tais práticas educativas nos
hospitais, oferecendo o apoio e a assistência necessária; a questão da
escolarização das crianças e adolescentes hospitalizados, considera que ainda há
muito por se fazer nessa área devido ao descaso com que a própria sociedade trata
essa questão. Ao discutir o papel do professor no hospital, as condições dos alunos,
a diferença e da hospitalização, considera que existem um distanciamento muito

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grande entre o que denominamos de democracia política e democracia social, e
para ele:
Não basta democratizar o país na esfera política se não houver democracia
também nas instituições que regem o dia a dia. E essa é a tarefa principal
de nossa geração. Por que, por um lado, excedemos em compaixão quando
às crianças "diferentes" do padrão (e aí incluída a criança hospitalizada) e,
por outro lado, proporcionamos sua invisibilidade e seu silenciamento civil?
Em termos mais concretos, por que temos tido tanta dificuldade de garantir
espaços sociais de fato inclusivos, e, para todos? (AQUINO, 2000, P. 250)
A expansão das escolas nos hospitais no Brasil ocorrem com sua identidade
indefinida ainda, no que diz respeito ao seu caráter em que tipo de educação ela
pertence, não se define se faz parte da Educação Especial ou da Educação Geral,
havendo uma dicotomia nas classes hospitalares implementadas porque uma hora
pertencem a educação regular, outra hora pertencem a educação especial, como
não há identidade na formação do professor, se pedagogo ou formado nas
licenciaturas. Porém as escolas nos hospitais, mesmo ainda não tendo uma clareza
na sua identidade, estão em fase expansiva em nosso país, ganhando o seu
reconhecimento, assim como em vários países do mundo. (CASTRO, 2010)
Mota (2000), relata que:
Em Portugal, a Carta da Criança Hospitalizada (2000), inspirada nos
princípios da Carta Europeia da Criança Hospitalizada, aprovada pelo
Parlamento Europeu em 1986, também reflete as preocupações com
projetos de humanização nos hospitais, com o bem estar da criança
hospitalizada e os aspectos educativos. O princípio 7 da Carta de Portugal
propõe que: " O Hospital deve oferecer às crianças um ambiente que
corresponda às suas necessidades físicas, afetivas e educativas, quer no
aspecto do equipamento, quer no de pessoal e da segurança." (Mota, 2000,
p. 58)

A educação dentro dos hospitais, vai além da simples aprendizagem,


implicando a incidência sobre a pessoa que está internada para que aja melhora de
seu quadro, desse modo o educador não deve se limitar a ser um mero explicador
de algo simplesmente e a educação não pode ser identificada como uma simples
instrução, transmissão de conhecimentos formalizados, muito menos como um
adestramento de alunos que estão ali para aprimorar habilidades ou aprender novas
informações. (COSTA, 2014)
A Pedagogia Hospitalar não deve renunciar seus conteúdos específicos do
ensino formal, porém ela deve ir além de tais questões, já que se trata de flexibilizar
e agilizar os conteúdos para se adaptar ao estado biopsicológico e social nos quais

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as crianças e adolescentes se encontram. A atuação dos educadores sociais inclui
os hospitais como uma destas instituições, assim esses espaços, centros, entidades
e instituições de regime fechado, centros de acolhida, abrigos para crianças e
adolescentes, hospitais, asilos, regime semiaberto, educadores de rua, realização de
medidas judiciais, desenvolvimento comunitário, serviços sociais, droga e
dependências; equipes sócio pedagógicas municipais, Conselhos Tutelares,
programas de ajuda técnica ao voluntariado, colônias de férias, albergues, museus,
brinquedotecas, serviços de bairro, programas socioculturais. (ARROYO, 2008)

A Pedagogia e a educação social no Brasil

A Pedagogia Social em nosso país acontece em vários espaços


educacionais por meio de práticas educativas de educadores sociais, porém
recentemente é que os centros universitários vem mostrando preocupação na
sistematização, estudando teoricamente tais práticas e novos saberes. (APPLE,
2017)
A educação social precisa de perspectiva dupla, sendo por um lado, ter a
estratégia de inserção do cidadão no meio social e, por outro, através de um
programa político transformador de toda sociedade, ou seja o educador deve
aprender com o educando as características, história e os processos psicossociais
ao qual está envolvido. (SOUZA, 2019)
Percebe-se que na Pedagogia Hospitalar e na Pedagogia Social são
necessários avanços e discussões que envolvem a formação de educadores
brasileiros e a fundamentação das práticas já existentes. Tais discussões envolvem
uma nova discussão do modelo dos cursos de Pedagogia brasileiros e a
necessidade de formar e capacitar constantemente para os educadores dentro
destes diferentes contextos, novas discussões sobre a construção dos currículos e
condição de trabalho dos professores. (SOUZA, 2016)
Uma ferramenta que dispôs uma noção de como é para a família ver seu
filho internado estar estudando no hospital, foi a pesquisa qualitativa que objetivou a
percepção da família de crianças hospitalizadas com doença crônica envolto ao
afastamento do processo de ensino aprendizagem. (TRIVINOS, 2006)

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Obviamente foi revelada a ausência de ações pedagógicas sistematizadas,
no hospital em que as atividades educacionais devem ser desenvolvidas como um
momento recreativo. A classe hospitalar se constitui como uma importante
tecnologia de cuidado na assistência às crianças hospitalizadas, por isso necessita
de apoio, principalmente, das Secretarias de Educação, pois é de onde vem à
provisão dos recursos humanos, financeiros e materiais, sendo esse um trabalho
inovador e extremamente sério além de importante, capaz de auxiliar a criança ou o
adolescente hospitalizado a ter uma melhoria na qualidade de vida. (ARTIOLI
ROLIM, 2019)

A Hospitalização e a Educação

A hospitalização é uma realidade na vida de inúmeras crianças, e aceitar e


cuidar da criança hospitalizada é uma experiência complicada e dolorosa para a
família, pior se houver um prognóstico fechado ou uma baixa expectativa de vida,
isso ocorre devido, a falta de opção de proporcionar o controle da situação,
causando grande ansiedade sobre as perspectivas de futuro da criança. (NÓVOA,
2002)
Envolvendo o quadro da doença, há a rotina clínica, curativo e com
tecnologia intervencionista, na assistência à criança hospitalizada, com regras pré
estabelecidas e pautadas na disciplina, eficiência e hierarquização de saberes
gerando rotinas que, deixam pouco aos usuários para expressarem sua autonomia.
(LIBÂNEO, 2016)
Em meio a organização do processo de trabalho das unidades pediátricas
que seguem esses padrões, os profissionais de saúde estão preparados para tratar
a doença, deixando de lado suas emoções, sendo objetivos e fugindo da
peculiaridade que pede o binômio criança-família. Obviamente tal modelo vem se
mostrando insuficiente e com isso vem sendo modificado, com uma perspectiva
mais atual, devendo buscar a integralidade da criança, atendendo às prerrogativas
de diagnósticos e terapêutica a partir de suas necessidades, mas sem fazer com a
mesma perca sua identidade e seja simplesmente um número de leito do quarto.
(BELANCIERI, 2018)

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O intuito de evitar a interrupção da escolarização dessas crianças em função
das internações, a partir da década de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) e a Resolução 41/95 dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes
Hospitalizados, iniciaram a conceber as crianças e adolescentes hospitalizados
como sujeitos de direitos, iniciando um processo de debate de políticas públicas em
prol dos mesmos. (MOTA, 2000)

No ano de 1994, o Ministério da Educação e Cultura (MEC), através da


Secretaria Nacional de Educação Especial, definiu responsabilidades quanto à
execução do direito das crianças e adolescentes hospitalizados à educação, por
meio da formulação da Política Nacional de Educação Especial, que instituiu
legalmente o serviço de classes hospitalares. Então a classe hospitalar surgiu com
uma modalidade de ensino da Educação Especial, que é regulamentada por
legislação específica, objetivando o atendimento pedagógico com foco na educação
das crianças e adolescentes hospitalizados. (SOUZA, 2019)
Logicamente que esses jovens pacientes, uma vez afastados da rotina
acadêmica e privados da convivência social, sofrem o risco do fracasso escolar e de
possíveis transtornos irreversíveis ao seu desenvolvimento, então os professores
buscam a adequação da programação do conteúdo em andamento nas classes
originais dos alunos, contando em auxiliá-los na reintegração escolar após
receberem a alta hospitalar. (SOUZA, 2016)
Em casos de doenças crônicas, essas crianças e adolescentes passam
meses, quem ou até anos, longe do ambiente escolar, a parte de todo o processo de
escolarização, e fatalmente o mesmo irá abandonar a escola e a escola abandona o
aluno. (CASTRO, 2010)
O pedagogo deve orientar suas práticas em um contexto do que está
acontecendo na realidade escolar, adaptando as atividades aos níveis de
conhecimento da criança acompanhada de acordo com a realidade que vive; o
paciente necessita desenvolver e adquirir habilidades, informações e conceitos
científicos para sua inserção social e ao mesmo tempo estabelecer relações entre os
conteúdos escolares e a realidade vivida no momento e, para que isto ocorra, deve

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mediar esse aprendizado de forma que a criança consiga compreender seus direitos
e deveres para a futura inserção na sociedade. Os cuidados paliativos são uma
abordagem que visa melhorar a qualidade de vida dos doentes e famílias
confrontadas com uma doença com risco de vida, através da prevenção e
sofrimento, através do rastreio da avaliação precoce e sem falhas tratamento da dor
e outras questões, psicossociais e espirituais. Os cuidados educativos em regime de
internamento têm lugar em estabelecimentos de cuidados, em clínicas ou serviços
de ambulatório ou em hospitais para crianças e jovens frequentarem
temporariamente ou permanentemente a escola. (TUFFI, 2011)
Os objetivos do atendimento educacional de crianças e jovens
hospitalizados são: impedir a interrupção do processo de aprendizagem da criança
internada para no futuro ser integrada à sala de aula; contribuir para diminuir o
trauma hospitalar ao trazer para o hospital uma parte de sua vida que é a escola;
ampliar o serviço hospitalar ao fazer a junção da educação com a saúde; contribuir
para a recuperação da criança ao atribuir-lhe responsabilidades educacionais;
orientar o aluno, o professor da escola de origem e a família quanto à necessidade
da continuação dos estudos após hospitalização nos casos possíveis; proporcionar
condições para a continuidade e alcance da terminalidade escolar, adequadas às
características individuais. (MOURA, 2014)
Assim se pode ter uma educação inclusiva do qual não se limitará somente
no ambiente escolar e, sim, no ambiente em que o aluno esteja necessitado deste
atendimento escolar. O pedagogo atua com práticas que devem atrair os pacientes,
deixá-los à vontade e com prazer em realizar as atividades propostas. Dessa forma
o pedagogo atinge os objetivos mais efetivamente, valorizando e respeitando os
educandos como seres humanos em sua integridade. Sendo assim, o professor está
atento a todo o momento, observando as relações que vem sendo estabelecidas e
suas consequências, a fim de intervir de acordo com a necessidade, alterando o
modo de se relacionar devido à demanda necessária no momento; necessita pautar
suas práticas em um contexto diferente do que acontece na realidade escolar,
adequando as atividades aos níveis de conhecimento da criança a ser atendida de
acordo com a realidade que está vivendo. (MORAIS, 2012)

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O paciente necessita desenvolver e adquirir habilidades, informações e
conceitos científicos para sua inserção social e ao mesmo tempo estabelecer
relações entre os conteúdos escolares e a realidade vivida no momento. E para que
isto ocorra, deve mediar esse aprendizado de forma que a criança consiga
compreender seus direitos e deveres para a futura inserção na sociedade. (SÁ,
2016)

O Pedagogo Hospitalar é o profissional que interconecta os saberes


acadêmicos e experienciados, numa dinâmica dialética da teoria e prática constrói
uma práxis hospitalar educativa; no trabalho multi/inter/transdisciplinares, devendo
colocar seus esforços pedagógicos em três eixos: a) Tempo de escolarização; b)
Equipe interdisciplinar; c) Valores e humanização. A interligação entre educação e
saúde exige trabalho, troca de saberes e sobretudo planejamento e avaliação.
(TUFFI, 2011)
Nesse sentido, a ação pedagógica no contexto hospitalar contribui para que
a criança e ao adolescente não se sintam tão tristes por não estarem na escola ou
em sua casa, possibilita que a aprendizagem escolar tenha continuidade e ajuda nos
aspectos emocionais, fazendo-os centrar forças no “esquecimento” da situação
vivenciada de enfermidade, a partir de trabalhos pedagógicos que contagiam com a
esperança, a alegria, os sonhos e os projetos. (MOURA, 2014)
O convênio entre o hospital e as escolas deve ser firmado através das
Secretarias de Educação, Municipal ou Estadual, e a de Saúde, apesar de serem
previstos por lei que as crianças e adolescentes hospitalizados tem o direito de ter o
acompanhamento pedagógico, os órgãos públicos, os educadores, os hospitais e a
sociedade, ainda pouco tem noção sobre esses espaços educativos como uma
modalidade oficial de ensino em nosso país, há pouca divulgação sobre o assunto.
(APPLE, 2017)
Raras as Secretarias de Educação que implantam tais práticas educativas
dentro dos hospitais, garantindo-lhes apoio e assistência, fatidicamente, o projeto de
extensão, não possui incentivo do poder político e nem das instituições locais, tendo
que trabalhar sem financiamento ou parcerias, material didático doado, muito menos

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possui reconhecimento formal como classe hospitalar por parte das Secretarias de
Educação, vergonhosamente. (COSTA, 2014)
Lutar pela inteligência, cognição das crianças e adolescentes internados,
melhorando sua qualidade de vida e saúde são traços associados ao papel do
trabalho pedagógico em hospitais, isso representa uma iniciativa única para a
humanização e integralidade do atendimento doado as crianças e adolescentes
hospitalizados. A estratégia não deve ser restrita às demandas de acompanhamento
do currículo acadêmico visando a aprovação do ano letivo, que sofreu concorrência
com a internação hospitalar, esse objetivo, vai além e adquire uma dimensão
terapêutica pois ao estudar a criança acaba desvinculando as questões relativas à
doença, tendo assim também um foco terapêutico. (SOUZA, 2019)

A pedagogia Hospitalar e a Educação Intra Hospitalar

Essa é uma área nova no Brasil, a Pedagogia Hospitalar, pois anteriormente


as crianças e adolescentes hospitalizados eram abandonado pelo sistema
educacional, uma vez que estavam internados, eram considerados inadequados
para terem a continuidade dos estudos. Essas ideias fizeram com que muitas
crianças e adolescentes sofressem uma dupla exclusão social, porque além de
serem penalizados por estarem doentes e internadas, foram excluídas do acesso à
educação. (ARTIOLI ROLIM, 2019)
Essas concepções de crianças e adolescentes estão sendo modificadas em
tempos modernos em função dos avanços nas leis e garantias de proteção social a
esta população, todavia durante vários anos, a invisibilidade destas crianças e
adolescentes foram predominantes. (COSTA, 2014)
Arroyo (2008) considera que:
Por várias décadas a Pedagogia construiu seu pensar e fazer educativos
através de imagens e verdades lineares e abstratas sobre infância e
juventude. Estas categorias eram concebidas como dados naturalizados,
tempo biológicos com etapas universais e pré-fixadas, assim as crianças
concretas não foram nem são sujeitos da gestação de seus lugares, de suas
imagens e de suas verdades. Com esta visão da infância foram construídas
verdades históricas e imaginários sociais sobre elas. Foram construídos
saberes, instituições, pedagogias, pedagogos e estratégias de gestão da
infância. (ARROYO, 2008, p.125)

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Há a necessidade do diálogo em estudar profundamente o período infantil
com várias ciências que auxiliem para desvendar o pensar e agir de modos
educativos, não sendo possível entender o ofício da docência e da educação, suas
identidades, pensamento, sem estar a par das verdades históricas. (AQUINO, 2000)
Estudos não deixam de mostrar-nos que há infâncias que ao longo da
história não couberam, nem na atualidade cabem, nesse estatuto e perfil universais
de infância; que há outras infâncias que não foram atingidas pelas estratégias e
instituições civilizatórias e pedagógicas. Infâncias que não foram objeto dos mesmos
saberes legitimados. Para essas outras infâncias foram pensados outros estatutos e
outros saberes pedagógicos. Os estudos mostram que outros coletivos de adultos e
crianças nem sequer foram imaginados como civilizáveis nem como educáveis. Se
os estudos nos revelam que há outros adultos e outras crianças, como esses
"outros" interrogam o pensar e fazer educativos? Como interrogam os estatutos e
ideários, as instituições, estratégias e verdades e os saberes tidos como universais?
A pedagogia que por oficio convive com esses "outros" adultos e jovens e com essas
"outras" crianças sairá enriquecida se prestar atenção à diversidade de estudos que
se voltam para a reconstrução histórica, sociológica e antropológica das outras
infâncias" (CASTRO, 2010)
Não é possível vários estudiosos brasileiros terem procurado defender os
direitos das crianças e adolescentes para que tenham uma educação de qualidade e
com dignidade a todas as pessoas, de maneira indistinta, as aproximações entre a
Pedagogia Hospitalar e a Pedagogia Social brasileira estão interligadas ao fato de
serem áreas que intencionam a garantia de direitos educacionais e dos segmentos
que foram historicamente excluídos. (BELANCIERI, 2018)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pedagogia social e a pedagogia hospitalar se auxiliam sendo uma


complemento da outra, estando voltadas para intervir em espaços sociais e
comunitários. Sendo áreas nas quais existem extensas reflexões entre teoria e
prática, já que a teoria nasce da prática e uma alimenta a outra, de cunho linear e

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não se estruturam de forma homogênea como a educação formal. Surgiram através
de contextos sociais conflitantes e de uma consciência de responsabilidade social
com as populações carentes, além de serem pedagogias pensadas para serem
permanentes, abertas aos segmentos historicamente excluídos e tratadas como
direito constitucional.
Porém para o sucesso dessa área são necessários debates e encontros
constantes para que se fortaleçam as identidades e marcos teóricos. O que custaria
para um hospital montar uma pequena sala de aula para complementar essa perda
de aula que as crianças internadas sofrem? Com pinturas, e que juntasse a pintura
com aula normal, entendeu, um dia seria o dia de pintura, e dois dias na semana
fossem dias de aula, sobre português, matemática, e outras disciplinas, caso a
criança esteja impossibilitada de escrever, ela pode participar verbalmente da aula
dando suas respostas através da fala.
Com boa vontade, de setores como os hospitais, as Secretarias de
Educação, e setores envolvidos a pedagogia hospitalar seria um sucesso tanto
academicamente quanto na vida de crianças e adolescentes que pouco tem o que
esperar da vida.

REFERÊNICIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Primeiro Encontro de Atendimento Escolar Hospitalar. Rio de Janeiro: Ed. UERJ,
2000, p. 25-28.

APPLE, Michael W. (2017). A educação pode mudar a sociedade. Rio de Janeiro:


Vozes.

ARROYO, Miguel. A infância interroga a Pedagogia. In: SARMENTO, Manuel J.;


GOUVEA, Maria Cristina. Estudos da Infância: Estudos e Práticas Sociais.
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