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Resumo
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Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá – UEM – Pr.
Bolsista da Fundação Araucária. Orientadora Teresa Kazuko Teruya, PPE UEM. Professora do Colegiado de
Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná – Unespar/Campus de Campo Mourão.
ISSN 2176-1396
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Introdução
Essa foi a era do chamado desenvolvimento curricular, em que a intenção era fornecer
subsídios e sugestões para o trabalho prático desenvolvido pelos docentes nas salas de aula
das instituições educacionais. Goodson (1995, p. 22) esclarece que “o currículo é, por
conseguinte, formulado numa variedade de áreas e níveis. Entretanto, fundamental para esta
variedade é a distinção entre o currículo escrito e o currículo como atividade em sala de aula”.
A partir da constatação do poder do currículo para determinar o que devia se processar em
sala de aula descobriu-se outro: “o poder de diferenciar. Isto significa que até mesmo as
crianças que frequentavam a mesma escola podiam ter acesso ao que representava mundos
diferentes através do currículo a elas destinados”. (Idem, p. 33).
Ainda de acordo com Goodson (1995, p.33) as pedagogias de classe introduzidas na
Universidade de Glasgow influenciavam as pedagogias adotadas nas escolas elementares do
século XIX. A conexão comum entre a pedagogia de classe e “um currículo baseado na
sequência e prescrição é nítido, porém a passagem para a dualidade moderna – pedagogia e
currículo – envolve a transição do sistema de classe para o de sala de aula”. A mudança do
sistema de classe para o de sala de aula e a transição nos estágio iniciais da Revolução
Industrial, no final do século XVIII e início do século XIX, foi extremamente relevante para a
administração da escolarização tanto quanto a mudança da produção domestica para a
produção e administração industriais. O desenvolvimento escolar da Inglaterra, nesta fase,
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‘carreira’ para indicar uma entidade educativa que denotava uma totalidade estrutural e uma
integridade sequencial, que devia ser seguido.
O ensino passaria a seguir um plano rigoroso, abrangendo as áreas de estudo, a que
cada professor se dedicaria, e as normas de conduta do aluno da qual dependeria para passar
de um nível ao outro do curso. Os alunos deveriam cumprir as normas estabelecidas, e sua
vida estudantil ficaria sob a supervisão do professor. E representando todo este conjunto o
currículo era o nome dado ao certificado de conclusão de curso, após avaliação dos resultados
de cada estudante.
Na concepção de Silva (2011, p. 12), o currículo surgiu, nos anos vinte, nos Estados
Unidos, como tema particular, apenas como um objeto específico de estudo e de pesquisa. O
currículo surgiu
Nesta época, muitos acordos foram assinados, referentes a diversas áreas, e em meio a
este contexto surgiram novos debates acerca das questões educacionais, tais como: a
campanha de alfabetização de adultos, criação de cultura popular e organização do
movimento de educação de base. Então, a base institucional do campo do currículo deveria
ser ampliada, o que ocorreu logo em seguida, com a introdução de currículos e programas na
universidade brasileira. O surgimento desta disciplina foi favorecido pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (Lei 4024/1961). Nesta ocasião, houve avanços significativos
quanto às experiências pedagógico-administrativas, tais como as classes experimentais, os
ginásios pluricurriculares, os ginásios orientados para o trabalho e, foi também neste período,
que as discussões e os estudos sobre currículo se desenvolveram com maior rapidez.
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O pano de fundo era mais liberal que tecnicista e o trabalho pedagógico ainda não se
fragmentara muito. Assim, o especialista em educação não era visto como
indispensável e a disciplina não se revelou de grande utilidade. Além disso, não
havia professores que lecionassem. Como consequência, currículos e programas não
se difundiu, de fato, em nossas universidades.
Desta forma, foi criado outro espaço institucional para o desenvolvimento do campo
do currículo, uma vez que a LDB 4024/61 abriu espaço para a organização de cursos de
formação de professores para o ensino normal nos institutos de educação. No Rio de Janeiro,
a estrutura do curso foi regulamentada pela legislação posterior, bem como foram definidas as
matérias e disciplinas a serem estudadas. E currículos e programas constituiu-se em matéria
de caracterização do curso, o qual tinha por finalidade analisar os currículos e programas do
curso elementar e do curso normal, além de integrar todos os aspectos da educação em um
único conjunto. E, nos anos 1970, surgiram os primeiros mestrados em currículo. Em 1973,
de acordo com Moreira (2011, p. 21)
Nos anos 1980, o campo educacional brasileiro buscou uma orientação mais
autônoma, a superação do vocabulário curricular especializado “importado” dos EUA, e a
desvalorização dos modelos educacionais tecnicistas associados ao governo militar. Os
autores americanos não causavam mais tanta influência. Neste período, o campo do currículo
ampliou-se bastante, e a maior parte das propostas curriculares estabelecidas nesta época
permaneceu em vigor até metade dos anos 90, influenciando ainda nas formulações
curriculares das instituições de ensino.
Por volta de 1990, as articulações curriculares advindas do governo federal eram
muito simples. Não incidiam de vastas diretrizes, as mesmas apenas definiam uma base
prosaica e uma parte diferenciada do currículo, intencionando que fossem analisadas a
diversidade regional, as características locais e as particularidades do público alvo. Assim,
após meados de 1990, as diretrizes curriculares, elaboradas pelo MEC, passaram a organizar
os referenciais que abrangem os conteúdos para todo o ensino básico. No entanto, todo esse
movimento institucional foi criticado por toda comunidade acadêmica, uma vez que os
parâmetros curriculares nacionais, não passaram de meras discussões até o período de
aprovação de uma nova LDB (Lei nº 9.394/1996). (MOREIRA, 2011)
Atualmente, o currículo recebe atenção de autoridades, políticos, professores e
especialistas da área da educação. Sua posição central no cenário educacional brasileiro
contemporâneo pode ser percebida pelas constantes reformulações dos currículos nos diversos
níveis de ensino, assim como pelo desenvolvimento da produção teórica do campo curricular.
As teorias do currículo
existentes. Ou mais ainda, as distintas culturas não deveriam ser apenas toleradas e
respeitadas, haja vista que um currículo fundamentado nesta teoria não se limitaria, pois, a
ensinar tolerância e respeito, mas insistiria numa análise dos processos pelos quais as
diferenças são produzidas por meio de relações de assimetria e desigualdade. Esta teoria
clarifica que o poder não pode ser centralizado.
Nas teorias pós-críticas, entretanto, o poder torna-se descentrado. O poder não tem
mais um único centro, como o Estado, por exemplo. O poder está espalhado por toda
a rede social. [...] O mapa do poder é ampliado para incluir os processos de
dominação centrados na raça, na etnia, no gênero e na sexualidade. (SILVA, 2011,
p.148).
Em suma, depois das teorias críticas e pós-críticas, não podemos mais olhar para o
currículo com a mesma inocência de antes. O currículo tem significados que vão
muito além daqueles aos quais as teorias tradicionais nos confinaram. O currículo é
lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória,
viagem, percurso. O currículo e autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no
currículo se forja nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O
currículo é documento de identidade.
raças e etnias distintas. Durante a década de 1960, tiveram muitas manifestações em prol da
igualdade dos negros perante aos brancos, eles reivindicavam direitos e participação iguais na
sociedade, independentemente de raça, sexo, crenças e religião. O multiculturalismo enfim, se
apresenta de muitas formas, as quais não se limitam a uma única tendência. Por isso, sua
abordagem educacional é muito ampla, fazendo uma reforma drástica no currículo para uma
perspectiva de diversidades.
trajetória, estará se constituindo. O autor afirma que o docente é aquele que “deve habitar e
construir seu próprio espaço pedagógico de trabalho de acordo com limitações complexas que
só ele pode assumir e resolver de maneira cotidiana, apoiando necessariamente em visão de
mundo, de homem e de sociedade”.
As instituições educacionais, em sua maioria, comportam profissionais e estruturas
que não correspondem às demandas educativas da sociedade. Os educandos da
contemporaneidade, os quais possuem culturas e realidades diferentes, necessitam de
ambiente favorável que proporcione aporte suficiente para ampliarem suas habilidades
intelectuais e, sobretudo, de educadores com formação adequada ao atendimento às
diferenças, às desigualdades sociais e culturais existentes entre os indivíduos. Não há uma
educação que atenda a todos igualmente, visto que cada indivíduo aprende em seu tempo e
espaço e de forma diversa. É esse justamente um dos maiores obstáculos a ser vencido:
trabalhar com a diversidade dentro da sala de aula.
O mundo globalizado, as informações chegando de modo acelerado, o avanço de
novas e complexas tecnologias exige uma nova forma de pensar e agir que, muitas vezes,
requer rompimento de padrões anteriormente formados. Padrões esses que, em se tratando do
espaço educacional, generalizava os docentes, não atendendo a individualidade de cada um.
Modelos que tolhem do indivíduo a sua singularidade, tão essencial ao seu desenvolvimento e
construção de sua história a partir de seu próprio eu e, após isso, ser capaz de oferecer sua
contribuição na constituição do mundo ao redor.
O caráter de professor está além das paredes da escola, das abordagens técnicas e
metodológicas das práticas educativas, e exige saberes amplos que estão além do saber
ensinar. Portanto, é indispensável que o docente esteja atento quanto as suas percepções no
seu trabalho diário. Nóvoa (1995, p.14), enfatiza que a “maneira de ensinar evolui com o
tempo e com as mudanças sociais”. Conhecer o aluno e ter consciência do que idealiza com
sua ação é imprescindível na atividade docente.
A educação, por conseguinte, é um fenômeno social inseparável da constituição dos
sujeitos e da sociedade, integrante da vida social, econômica, política, cultural. Neste enfoque,
trata-se, pois, de um processo global interligado à prática social, compreendendo processos
formativos que ocorrem numa variedade de constituições e atividades, nas quais os sujeitos
estão envolvidos de modo imprescindível e inevitável, pelo simples fato de existirem
socialmente.
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Considerações
Por meio da proposição de ensino é que se torna possível definir currículo, delineando
com ele a consolidação dos desempenhos da instituição escolar e a sua própria maneira de
enfocá-las no tempo e no espaço. É importante que se tenha um profundo conhecimento de
suas estruturas as quais estão ligadas à adaptação política, à categoria de decisões, ao
planejamento, ao desenvolvimento das atividades relacionadas à aprendizagem e à avaliação
dos resultados. Só assim compreender-se-á o real significado de currículo.
O currículo é o foco fundamental da educação, visto como um instrumento que sustém
o funcionamento da escola, estando ligado fortemente à sociedade, à profissionalização dos
sujeitos, dos profissionais da educação, educadores, docentes e às alterações dos conteúdos.
Essa ferramenta é cultural, econômica, social e política, haja vista que o lugar que a educação
ocupa na sociedade quanto a esses aspectos é imprescindível.
No mundo contemporâneo, cabe à escola ofertar um currículo que consiga
acompanhar as transformações, a fim de não se tornar ultrapassado, fora do contexto do
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REFERÊNCIAS
GOODSON, Ivor F. Currículo: teoria e história. Trad. Attílio Brunetta. 5ª ed. Petrópolis: RJ:
Vozes, 2002.
MOREIRA, Antonio. Flávio Barbosa. SILVA, Tomaz Tadeu da (Org). Currículo, cultura e
sociedade. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
SACRISTAN, José Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Trad Ernani da Rosa.
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MOREIRA, Antonio Flávio (Orgs). Territórios Contestados: o currículo e os novos mapas
políticos e culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
SILVA, Tomaz Tadeu da. O currículo como fetiche: a poética e a política do texto
curricular. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2010.
TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. 11º ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2010.