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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - CCSO


CURSO CIÊNCIAS SOCIAIS
METODOLOGIA CIENTÍFICA
PROF DR. MARCO ANTONIO NOGUEIRA GOMES
ALUNA: ANA MARIA SOUSA SILVA

Reimaginando a Educação: Explorando as Contribuições da Didática para uma


Poética Decolonial no Ensino Superior

São Luís
2024
Resumo

O artigo revisa a literatura sobre as contribuições da didática na formação de


professores, destacando sua relevância na desconstrução dos legados coloniais na
educação, especialmente em países africanos. Inspirado em Paulo Freire,
enfatiza-se a necessidade de ruptura com a burocracia colonial e a valorização das
identidades culturais. Apesar da independência há séculos, o Brasil ainda sofre
influência europeia na educação, enquanto países como Angola enfrentam desafios
pós-coloniais.

Palavras-chave: Didática, formação docente, colonialismo, Paulo Freire.

INTRODUÇÃO

O presente artigo propõe uma revisão da literatura em discussão acerca das


relevantes contribuições da didática no contexto da formação docente, destacando
sua importância fundamental na desconstrução dos legados coloniais ainda
presentes em sistemas educacionais, especialmente nos países africanos. A autora
inicia sua argumentação evocando as ideias de Paulo Freire, cuja obra ressalta a
necessidade de uma ruptura radical com a burocracia colonial, resquício evidente
em diversos aspectos da educação, tais como a persistência do modelo de escola
colonial, a reformulação educacional e a desvalorização das línguas maternas e das
identidades culturais dos povos africanos. Freire também enfatiza a importância do
resgate do sentimento nacionalista em populações historicamente oprimidas.
Nesse sentido, é crucial observar que, embora o Brasil tenha conquistado sua
independência há mais de dois séculos, ainda persistem influências europeias em
sua estrutura educacional. Por outro lado, países como Angola, que obtiveram sua
independência mais recentemente, enfrentam desafios particulares decorrentes do
legado colonial. O neocolonialismo e o colonialismo deixaram profundas marcas
nessas nações, o que justifica a busca por uma abordagem descolonial no ensino
superior.
A autora também relembra o Seminário “A Didática em Questão”, realizado
em 1982 na PUC-RIO, que teve como objetivo analisar criticamente o percurso
teórico da didática, bem como suas aplicações práticas. O evento contou com a
apresentação de quatro trabalhos principais, abordando temas como o papel da
didática na formação de educadores, os pressupostos teóricos do ensino da
didática, abordagens alternativas para o seu ensino e a pesquisa em didática.
Destaca-se, ainda, a discussão promovida por Vera Candau sobre a
dicotomia entre Didática instrumental e Didática fundamental, argumentando que a
última deve prevalecer por sua abordagem mais holística e multidimensional dos
processos de ensino e aprendizagem, considerando aspectos técnicos, humanos e
políticos. Além disso, o seminário levantou questões cruciais sobre a relação entre
teoria e prática no ensino, bem como propostas inovadoras para o desenvolvimento
de práticas pedagógicas mais eficazes.
Ao finalizar a introdução, a autora lança uma provocação instigante: quais
são as perspectivas possíveis para enfrentar os desafios contemporâneos impostos
à didática pela sociedade atual? Essa indagação reflete a necessidade contínua de
reflexão e ação para promover uma educação verdadeiramente emancipadora e
descolonizada.

Por uma didática crítica

Paulo Freire, em suas reflexões sobre a universidade, destaca a dualidade


de conhecimentos presentes nesse contexto. Por um lado, temos o conhecimento
existente, adquirido através do estudo e ensino, transmitido de forma pronta e
consolidada. Por outro lado, há o conhecimento produzido, resultado da pesquisa
acadêmica e da busca constante por novas descobertas e compreensões. Para
Freire, essas duas formas de conhecimento estão intrinsecamente ligadas, pois
"toda pesquisa envolve docência e toda docência envolve pesquisa".
Nesse sentido, os autores defendem que a educação deve assumir o papel
de investigar as potencialidades e as adversidades humanas no contexto atual,
buscando oferecer caminhos para a criação e a inovação em prol de um projeto
social progressista e emancipatório. Isso implica questionar os valores do mundo do
trabalho ensinados nas escolas, considerando seus objetivos, conceitos e o
público-alvo a que se destinam, especialmente em um contexto de capitalismo onde
muitos são marginalizados em prol da maximização do capital.
Diante dessa realidade, a didática nos cursos de licenciatura emerge como
uma esperança, uma vez que oferece a possibilidade de reflexão sobre as relações
de poder, colonialidade e alienação presentes na educação. A abordagem crítica da
didática propõe que o processo de ensino não se limite ao "como fazer", mas
também questiona o "o que ensinar?", "como?" e "a quem?".
Além disso, é fundamental considerar o contexto social, político e econômico
em que o ensino ocorre, problematizando as situações vivenciadas pelos alunos.
Essa nova postura pedagógica visa não apenas transmitir conhecimento, mas
também promover o sentimento de pertencimento e identidade entre os professores,
incentivando a colaboração mútua e a busca por um futuro melhor através da
educação.
Assim, a formação de professores não se resume apenas à transmissão de
técnicas de ensino, mas implica uma profunda reflexão sobre o papel da educação
na transformação social e na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Projeto decolonial no meio da didática

A reflexão sobre a necessidade de intervenção na didática emerge como


parte essencial do projeto utópico decolonial. A percepção de que a didática
reproduzia moldes coloniais, excluindo os colonizados de sua representatividade,
levou à busca por uma abordagem pedagógica mais inclusiva e crítica. Foi a partir
do movimento de interação entre os colonizados que começou a se esboçar a
didática decolonial.
Um dos principais desafios desse projeto reside na criação de espaços de
diálogo contrários ao modelo colonial, nos quais os indivíduos possam reconhecer e
questionar esse paradigma. Além disso, é crucial ir além do mero ensino técnico,
promovendo uma compreensão profunda dos temas abordados, explorando não
apenas o "como fazer", mas também o "porquê fazer" e o significado das práticas.
Isso remete à estrutura pedagógica proposta por Paulo Freire, na qual o aluno é
incentivado não apenas a absorver informações, mas também a questionar e refletir
sobre elas.
Para garantir a relevância dos conteúdos ensinados, é necessário
apresentá-los de maneira que façam sentido para os alunos, relacionando-os com
suas vivências e experiências de vida. Muitas vezes, os conteúdos são vistos como
irrelevantes porque não são percebidos como úteis para o cotidiano dos estudantes.
Nesse contexto, o papel do docente, por meio de sua didática, é demonstrar a
importância desses conteúdos para a formação integral dos alunos e sua
aplicabilidade no contexto social.
A visão freiriana ressalta a importância da leitura crítica, que envolve a
compreensão das relações entre texto e contexto. Essa abordagem destaca a
necessidade de uma educação que vá além da mera transmissão de conhecimento,
buscando instigar o senso crítico dos alunos e promover uma análise mais profunda
das questões abordadas.
O trabalho pedagógico no ensino superior deve enfatizar a relação entre o
texto e as pessoas, tanto individualmente quanto em seu contexto social e coletivo.
Isso implica reconhecer o protagonismo do sujeito na busca pelo conhecimento, ao
mesmo tempo em que o docente desempenha seu papel social em sala de aula,
incentivando o pensamento crítico e a reflexão.
Na poética decolonial, o saber pelo saber não é suficiente. A didática se torna
a ferramenta para propagar o saber filosófico, estimulando os alunos a pensar de
forma mais profunda e crítica. A linguagem se revela como um espaço de criação de
conceitos e afetos, tornando o aprendizado não apenas um processo de
acumulação de informações, mas também de desenvolvimento do pensamento
autônomo e reflexivo.

Tomada de consciência: somos seres em relação a outros seres

No segmento intitulado "Diante das discussões e resultados parciais: as


utopias", o artigo explora a necessidade premente de uma abordagem mais
humanizada. O chamado método científico, tradicionalmente utilizado nas ciências
naturais, revela-se inadequado quando aplicado a estudos que lidam
primordialmente com interações humanas. Essas interações, seja no ambiente
escolar ou fora dele, são profundamente influenciadas por uma infinidade de
variáveis incalculáveis, como classe social, raça, localização geográfica, religião e
até mesmo outras dinâmicas interpessoais.
Ademais, o método científico demanda resultados inquestionáveis e
conclusivos, algo que não se alinha às nuances e à complexidade das ciências
sociais, cujo propósito é sempre expandir os horizontes do conhecimento e explorar
novas perspectivas. Diante disso, optou-se por uma abordagem que o artigo
denomina de "opção teórica e metodológica compreensivo-interpretativa", que se
revela mais empática, socialmente sensível e adequada para o campo de estudo em
questão.
O texto também aborda a urgência de uma educação decolonial, intercultural
e antirracista, com foco no Sul global. Este conceito geopolítico engloba um
conjunto de nações consideradas em desenvolvimento, marcadas por profunda
desigualdade social e restrições no acesso a direitos humanos fundamentais, como
saúde e segurança, frequentemente relacionados ao legado do colonialismo e
neocolonialismo.

As premissas para este tipo de educação, conforme delineadas no texto, são três:

1. Conhecer a realidade do Sul: compreender a realidade e os recursos disponíveis.


2. Imbuir-se da realidade do Sul: mergulhar profundamente nessa realidade,
entendendo-a de dentro para fora.
3. Engajar-se com o Sul e a partir dele: estudar os sistemas epistemológicos,
métodos e tecnologias oferecidos pelo Sul, analisando-os e utilizando-os de maneira
crítica.

Portanto, torna-se imperativo uma nova visão e abordagem tanto da didática


quanto da cultura brasileira. Como nação inserida no Sul global, as contribuições do
Brasil, especialmente as oriundas de comunidades oprimidas, são frequentemente
negligenciadas ou subestimadas em detrimento dos padrões estabelecidos pelo
Norte global. No entanto, é paradoxal que as produções locais, destinadas ao
próprio contexto brasileiro, não sejam priorizadas nem consideradas referência
dentro do cenário acadêmico nacional.
Referências

DOS SANTOS BAZZO, Jilvania Lima. Por uma poética decolonial no ensino
superior: contribuições da didática na formação de professores (as). Revista
Pedagógica, v. 21, p. 115-130, 2019

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